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Potencial explicativo dos estudos de recepção no contexto do Big Data1 1 Algumas ideias desenvolvidas neste artigo foram apresentadas no Encontro Nacional da Compós 2019.

El potencial explicativo de los estudios de recepción en el contexto del Big Data

Resumo

Discutimos as relações de comunicação, circulação e produção de sentidos no cenário de manipulação, controle e poder da informação. Procuramos responder à questão: como os estudos de recepção tratam os desafios colocados pelo Big Data na extração, mineração e análise de dados com vistas à manipulação de comportamentos? A metodologia adotada é a pesquisa bibliográfica para a análise crítica e comparativa das perspectivas autorais. Trabalha-se o conceito de sistema, para contestar sua produtividade nas pesquisas de recepção. Como resultado da discussão, os mapas barberianos são retomados em perspectiva, para recolocarmos a história e os conflitos sociais no centro das disputas por hegemonia de sentidos, os quais devem ser problematizados pelos estudos de recepção no contexto social atual.

Palavras chave
Estudos de Recepção; Big Data; Sistema; Mapas Barberianos; Hegemonia

Resumen

Discutimos las relaciones de comunicación, circulación y producción de sentidos en el escenario de manipulación, control y poder de la información. Se busca responder a la pregunta: ¿Cómo los estudios de recepción tratan los desafíos planteados por el Big Data en la extracción, minería y análisis de datos con miras a la manipulación de comportamientos? La metodología adoptada es la investigación bibliográfica para el análisis crítico y comparativo de las perspectivas autoriais. Se trabaja el concepto de sistema, para cuestionar su productividad en los estudios de recepción. Como resultado de la discusión, los mapas nocturnos barberianos son retomados en perspectiva, para recolocar la historia y los conflictos sociales en el centro de las disputas por hegemonía de sentidos, los cuales deben ser problematizados por los estudios de recepción en el contexto social actual.

Palabras-clave
Estudios de Recepción; Big Data; Sistema; Mapas Barberianos; Hegemonía

Abstract

We aim to discuss communication relations, circulation and production of meanings in the scenario of manipulation, control and power of information. We try to answer the following question: how do the reception studies respond to Big Data’s challenges in extracting, mining, and analysing data to manipulate digital media users’ behaviors? The method is the bibliographical research for the critical and comparative analysis of the author’s perspectives. The concept of the system is used to challenge its productivity in reception studies. As a result of the discussion, the Barberian maps are taken up in perspective, to put history and social conflicts at the center of disputes over hegemony of meanings, which must be problematized by reception studies in the current social context.

Keywords
Reception Studies; Big Data; System; Barberian maps; Hegemony

Introdução

As discussões sobre os efeitos dos meios de comunicação nas audiências e o papel desses meios na alienação das populações foram temas acalorados desde o advento do cinema. As teorias funcionalistas, vinculadas à visão sistêmica da comunicação, antes ainda, a teoria hipodérmica, que advoga a influência direta da mensagem na mudança do comportamento do receptor, e as teorias críticas deram vasão, cada qual com seu conjunto conceitual, à ideia dos efeitos da comunicação. Nos anos de 1980, essas teorias foram amplamente contestadas pelos estudos de recepção latino americanos, inspirados nas obras de Jesús Martín-Barbero. As mediações culturais na comunicação e, depois, as mediações comunicativas na cultura, materializadas em lógicas de produção, formatos industriais, competências de recepção e matrizes culturais foram se colocando como alternativa teórico-metodológica para inúmeras pesquisas. O objetivo dos pesquisadores era o de compreender o processo de comunicação em sua diversidade e complexidade, sem reduzi-lo à linearidade da ação reação, emissor, mensagem, receptor.

A partir dessas posições, buscamos dimensionar, nos mais de 30 anos de “Dos meios às mediações”, livro já clássico que muito inspirou e ainda inspira os estudos de recepção na América Latina, as contribuições suscitadas pela obra barberiana para pensar a comunicação na era do big data. Lopes (2018, p. 42)LOPES, M. I. A teoria barberiana da comunicação. Matrizes, v. 2, n. 1, 2018, p. 39-64. fala de uma “epistemologia da comunicação barberiana” que pretende “cartografar o conhecimento das práticas comunicacionais e culturais Latino Americana”. Uma epistemologia cujo método cartografa os rastros, ação nunca finalizada e, como mapas noturnos, seus agentes registram a importância das periferias por meio dos discursos de resistência e da diversidade. Temas como culturas populares, resistência, periferias, diversidades são tratados pelo olhar das mediações comunicativas na cultura e suas intersecções com as estruturas de poder.

Por outro lado, os meios de comunicação mudaram muito nesses 30 anos e as interações entre humano e máquina ganharam outras dimensões. Para além das mediações comunicativas da cultura, a lógica dos novos meios é a de controle e extração de mais valor (por meio de captação das informações pessoais) das trocas comunicativas. A computação, baseada no rastreamento de dados, implica, ao mesmo tempo, tudo que é diverso e ainda não captado, para tudo homogeneizar em bancos de dados que servem para a produção de modelos a serem aplicados para medir e alterar ações e comportamentos humanos. O rastreamento de dados alimenta o big data como grande repositório de todas as informações, de qualquer natureza, tudo o que possa ser marcado como um sinal, um signo ou um símbolo produzido e veiculado na Internet. O big data é um “ente” dinâmico que abastece algoritmos que nutrem e operam os aplicativos e a funcionalidade dos dados organizados com direção objetiva. “As populações são as fontes das quais a extração de dados procede e os alvos finais das ações que esses dados produzem” (ZUBOFF, 2018ZUBOFF, S. Big Other: Capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação (Trad. de Cruz e Cardoso). In: BRUNO, F. et al (Orgs.) Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018, p. 17-67., p. 34). Os algoritmos são, nesse sentido, sentenças de prescrição, normativas que analisam e organizam os dados para operar sua funcionalidade. São eles os propiciadores da maior parte de nossas atividades na Internet. Qualquer aplicativo atua a partir dessas sentenças organizadas de prescrições a que chamamos de algoritmos. Como prescrições, atuam antevendo nossas ações, são como antecipadores de nossos comportamentos. Bruno (2018, p. 247)BRUNO, F. Visões maquínicas da cidade maravilhosa: do centro de operações do Rio à Vila Autódromo. In: BRUNO F. et al (Orgs.) Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018. p. 239-256. fala de “visão algorítmica” como “lógica de controle que deseja intervir diretamente sobre a própria ação, ou mesmo, antes da ação”. Couldry e Mejias (2018)COULDRY, N.; MEJIAS, U. A. Data Colonialism: Rethinking Big Data’s Relation to the Contemporary Subject. Television & New Media. Sage, 2018, p. 1-14. reportam-se à lógica do big data como “Colonialismo de dados”. Os autores pretendem explicar que o capitalismo opera como colonizador: tudo extrai e usa para sua finalidade lucrativa monopolizando todos os recursos disponíveis.

Essas duas vertentes teóricas, dispostas paralelamente, fazem emergir as seguintes questões: os estudos de recepção têm potencial explicativo para as transformações que ocorrem nos meios de comunicação digitais online? Como os estudos de recepção respondem aos desafios colocados pelo big data na extração, mineração e análise de dados com vistas à manipulação de comportamentos dos usuários das mídias digitais?

A metodologia adotada é a pesquisa bibliográfica para a análise crítica das perspectivas autorais. Discute-se o conceito de sistemas (SHANNON, 1948 apud LALLEMENT, 2012LALLEMENT, M. História das ideias sociológicas. De Parsons aos contemporâneos. v. II. Petrópolis: Vozes, 2012., BERTALANFFY, 2008BERTALANFFY, L. V. A teoria geral dos sistemas. Petrópolis: Vozes, 2008., PARSONS apud LALLEMENT, 2012LALLEMENT, M. História das ideias sociológicas. De Parsons aos contemporâneos. v. II. Petrópolis: Vozes, 2012.) e de big data (ZUBOFF, 2018ZUBOFF, S. Big Other: Capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação (Trad. de Cruz e Cardoso). In: BRUNO, F. et al (Orgs.) Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018, p. 17-67., BRUNO, 2018BRUNO, F. Visões maquínicas da cidade maravilhosa: do centro de operações do Rio à Vila Autódromo. In: BRUNO F. et al (Orgs.) Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018. p. 239-256., COULDRY; MEJÍAS, 2018COULDRY, N.; MEJIAS, U. A. Data Colonialism: Rethinking Big Data’s Relation to the Contemporary Subject. Television & New Media. Sage, 2018, p. 1-14.), aplicados à comunicação. Trata-se do conceito de sistemas em contraposição às perspectivas dos estudos de recepção latino-americanos (MARTÍN-BARBERO, 1998MARTÍN-BARBERO, J. Dos meios às mediações. Comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998., 2002MARTÍN-BARBERO, J. Ofício de cartógrafo. Travessias latino-americanas da comunicação na cultura. São Paulo: Loyola, 2002., WILLIAMS, 2011WILLIAMS, R. Cultura e materialismo. São Paulo. EdUnesp, 2011., RONSINI, 2007RONSINI, V. Mercadores de Sentido - Consumo de Mídia e Identidades Juvenis. Porto Alegre: Sulina, 2007., 2012RONSINI, V. A Crença no Mérito e a Desigualdade - a recepção da Telenovela no horário nobre. Porto Alegre: Sulina, 2012., 2018RONSINI, V. Trajetos com Jesús (e para além): autoanálise da pesquisa dos usos sociais da mídia. Intexto, Porto Alegre, n. 43, p. 107-118, set./dez. 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.19132/1807-8583201843.107-118. Acesso em: 18 ago. 2019.
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). Como resultado, esperamos esboçar uma discussão que poderá trazer pistas para os aprofundamentos mais do que necessários a serem feitos por nós, pesquisadores da área da Comunicação.

O conceito de sistema e big data

Os conceitos são palavras sínteses de significados em contextos específicos. Nas ciências, os conceitos são resultados de trabalho de reflexão e ação teórico-prática que organizam o conhecimento sobre algum fenômeno. Essa organização dá-se em contexto teórico também específico. Por exemplo: a palavra sistema recobre um extenso campo de sentidos. Tem apropriação na biologia, ao tratar dos sistemas vivos; na economia, ao tratar dos sistemas econômicos; na matemática para reportar o relacionamento entre equações. Na comunicação também adquire sentido próprio a partir da Teoria Matemática da Informação (SHANNON, 1948 apud LALLEMENT, 2012LALLEMENT, M. História das ideias sociológicas. De Parsons aos contemporâneos. v. II. Petrópolis: Vozes, 2012.)2 2 “Os aspectos materialistas de seu pensamento podem ajudar a explicar seu afastamento em relação à Teoria da Informação. Para alguns, o afastamento teria se dado pelo descontentamento com os rumos que a Teoria havia tomado: a distorção de seus conceitos quando aplicados noutras disciplinas o incomodava” (PINEDA, 2006, p. 19). . Mas, o importante é identificar que, embora haja usos particulares em cada área da ciência, o mesmo conceito (sistema, no caso) recobre um campo de sentidos matriz. Falar de sistema significa tratar de algo, um conjunto, um todo que se relaciona dentro de uma mesma ordem, ou seja, há uma lógica de relação, cuja lei sintetiza o funcionamento. Trata-se da ordenação das partes em função do todo. A forma do funcionamento em qualquer tipo de sistema é a entropia, ou seja, o grau de desordem operado por mais ou menos elementos do sistema. Na Teoria Matemática da Informação, maior entropia depende de maior quantidade de informação; menor entropia se dá devido à menor quantidade de informação. Para essa Teoria, o importante é o sinal, o significado não concorre para o cálculo da eficácia da transmissão da informação. Sua aplicação dá-se, sobretudo, por interesses bélicos geopolíticos, no desenvolvimento e aperfeiçoamento dos sistemas de criptografia da informação.

O conceito de sistema é um conceito forte e central no pensamento moderno e contemporâneo. Alguns nomes se destacam no desenvolvimento de uma teoria geral dos sistemas: Ludwig Von Bertalanffy (1901-1972), Talcott Parsons3 3 Para Parsons (MOTTA, 1971, p. 20), “todo sistema social enfrenta quatro imperativos funcionais aos quais não pode deixar de satisfazer. Tais imperativos são o da manutenção, satisfeito pelos valores sociais e subsistemas culturais, o da integração, satisfeito pelas normas sociais e subsistemas sociais, o do atingimento de metas, satisfeito pelas coletividades sociais e subsistemas políticos e o da adaptabilidade, satisfeito pelos papéis sociais e subsistema econômico. A manutenção se refere à estabilidade do sistema de valores institucionalizados; o atingimento de metas refere-se à relação entre o ator e um ou mais objetos da situação, relação esta que maximiza a estabilidade do sistema, já que este precisa atingir metas através do controle dos elementos da situação; a adaptabilidade refere-se ao controle, ele próprio, do ambiente para o atingimento de metas e, finalmente, a integração refere-se à manutenção de solidariedade entre as unidades para o funcionamento eficiente do sistema”. (1902-1979) e Niklas Luhmann (1927-1998). Na comunicação e nas denominadas áreas de computação e inteligência artificial, o conceito se faz presente e é eixo central do constructo teórico. A esse conceito alinham-se outros, como de transmissão, efeito, controle, função, modelo, equilíbrio, matéria, energia, volume, ator-rede, entre outros.

A teoria sistêmica da sociedade tem como pressuposto que o todo e as partes se coadunam na medida em que as partes, os indivíduos, são peças isoladas que devem ser incorporadas para exercer uma função no sistema econômico, social e político. A ordem sistêmica emana de um ‘ente’ maior e é capitaneada pela onipresença das tecnologias. Essa concepção sistêmica atualiza-se na ordem econômica e tecnológica contemporânea. Nessa perspectiva, não há possibilidade de outras relações e outros processos. A norma é a adaptação. Essa teoria, que também se tornou uma ideologia, é operada para criar e explicar as relações sociais e, sobretudo, a comunicação. Tem larga utilização também na administração e na gestão de empresas e pessoas.

Como exemplo do emprego dessa lógica sistêmica, podemos citar o funcionamento da recolha de dados pelo Google e por outras grandes empresas. Elas operam com dados dos consumidores, extraem deles informações isoladas, fragmentadas, particularizadas e, de forma sistêmica, organizam-nas para fins comerciais e até mesmo políticos. Agem assim com naturalidade e autonomia dada pela falta de regulação legal4 4 Vale citar os esforços para aprovar e fazer valer a lei de proteção da privacidade na Internet (DE LUCA, 2018). . Querem nos fazer crer, afirma Zuboff (2018)ZUBOFF, S. Big Other: Capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação (Trad. de Cruz e Cardoso). In: BRUNO, F. et al (Orgs.) Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018, p. 17-67., que a tecnologia do big data é autônoma, um sistema que opera por si mesmo, “um efeito tecnológico inevitável”. Mas, continua a autora, “o big data tem origem no social, e é ali que devemos encontrá-lo e estudá-lo (...) é acima de tudo o componente fundamental de uma nova lógica de acumulação, profundamente intencional e com importantes consequências, que chamo de capitalismo de vigilância” (ZUBOFF, 2018ZUBOFF, S. Big Other: Capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação (Trad. de Cruz e Cardoso). In: BRUNO, F. et al (Orgs.) Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018, p. 17-67., p. 18).

Para Couldry e Mejías (2018)COULDRY, N.; MEJIAS, U. A. Data Colonialism: Rethinking Big Data’s Relation to the Contemporary Subject. Television & New Media. Sage, 2018, p. 1-14., vivemos a era do “colonialismo de dados”. A concepção sistêmica empregada no big data aproxima-nos, segundo os autores, do período colonialista. Não há nada de inocente e natural na organização de mecanismos de captura de dados com fins econômicos. Ou seja, as formas atuais de relacionamento com os meios de comunicação extrapolam em muito os mecanismos da atuação comercial dos meios analógicos. Ter os dados dos movimentos de sua residência captados pelo SmartTV5 5 Matéria do jornal O Globo de 2015 afirma que a Samsung alertou em seus documentos o perigo da colheita de dados via smart tv: “Por favor, esteja ciente que se suas palavras incluírem dados pessoais ou outras informações sensíveis, essa informação estará entre os dados capturados e transmitidos para terceiros pelo uso do reconhecimento de voz”, diz a Samsung (O GLOBO, 2015). Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/samsung-adverte-cuidado-com-que-voce-diz-em-frente-sua-tv-inteligente-15286181. Acesso: 3 fev. 2019. é uma realidade pouco discutida no cenário dos direitos dos cidadãos, por exemplo. Essa captura indiscriminada de tudo que está no meio social fere a privacidade e a liberdade de expressão. A lógica do colonialismo é a da extração e do domínio, estabelecendo, para o cidadão, relação de dependência.

A esses elementos da lógica sistêmica da extração de dados, somam-se as aplicações das ciências cognitivas para conhecer, influenciar e manipular o comportamento das pessoas. Estudos cognitivos para uso na formulação de propostas publicitárias, propaganda política e gestão estão se popularizando no meio acadêmico, político, publicitário e da saúde e baseiam-se em grande medida nas lógicas sistêmicas (BATISTA; MARLET, 2018BATISTA, L. L.; MARLET, R. Q. Comunicação, Neurociência e a Recepção Não-Declarada. Revista Famecos (online), v. 25, p. 27.225-27.245, 2018., SILVA, s/dSILVA, M. J. L. Processos cognitivos na comunicação social. Biblioteca on-line de Ciências da Comunicação. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/silva-lopes-procscognitvnacs.pdf. Acesso em: 10 maio 2019.
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). A combinação da extração, mineração e análise de dados com técnicas de apreensão dos reflexos cognitivos da mente são a “nova ordem” do pensamento sistêmico aplicado ao controle social. A sofisticação dessas iniciativas extrapola o setor mercantil e publicitário para se aventurar com sucesso no âmbito da política, como exemplificam os resultados das eleições nos EUA e no Brasil (MOTA, 2017MOTA, C. V. Robôs e ‘big data’: as armas do marketing político para as eleições de 2018. BBC Brasil. 26 set. 2017. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/09/1921831-robos-e-big-data-as-armas-do-marketing-politico-para-as-eleicoes-de-2018.shtml. Acesso: 10 maio 2019.
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2017...
, FLORES, 2017FLORES, P. O que a Cambridge Analytica, que ajudou a eleger Trump, quer fazer no Brasil? Nexo Jornal, 8 dez. 2017. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/12/08/O-que-a-Cambridge-Analytica-que-ajudou-a-eleger-Trump-quer-fazer-no-Brasil. Acesso em: 10 maio 2019.
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2...
). Ambos processos eleitorais foram marcados pelas estratégias de mineração de dados para compor grupos de perfis emocionais e comportamentais específicos para o envio de mensagens que confundem e fecham possibilidades de perspectivas a outros tipos de discursos. A direcionalidade permitida pelas redes sociais, bolhas de opiniões e pontos de vistas fechados (PARISER, 2011PARISER, E. O filtro invisível: O que a internet está escondendo de você. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.), somada à tática da simulação de situações de medo, ódio e restrições que se alinharam ao contexto econômico recessivo mais geral e permitiram sucesso eleitoral tanto nos EUA quanto no Brasil.

Ainda em outros exemplos, podemos identificar elevados investimentos feitos nos estudos da mente, cujos objetivos estão diretamente relacionados com o desenvolvimento da denominada “inteligência artificial”. A relação de corporações que se apropriam dessa tecnologia é extensa, pode-se afirmar que todas as grandes corporações adotam algum componente dessa tecnologia, sobretudo, para otimizar recursos, baratear e precarizar o trabalho6 6 Sobre esse assunto, ver Amazon Turk, exploração do chamado microtrabalho – pessoas que dão o clique no reconhecimento das informações - que faz a vez da inteligência artificial (HARA, 2018). . Esse discurso sobre as benesses da inteligência artificial aparece como facilidade da vida moderna para o consumo e o bem-estar7 7 No artigo de Esdras Moreira, no blog Transformação Digital (30 jan. 2019), o autor salienta os benefícios dos meios digitais e anuncia o que nos aguarda muito proximamente: telepresença. Robôs de telepresença, como o Beam, representam a futura geração de comunicação face a face, permitindo a sua participação e movimentação como se você estivesse presente fisicamente; Mundos virtuais: permitirá que você esteja com uma ou mais pessoas, não de forma presente, mas num mundo virtual de alta resolução, no que seria uma réplica muito semelhante, dialogando e compartilhando como se fosse real; Interface cérebro-computador: essa modalidade diz respeito à capacidade de conectar nossa mente ao computador e vice-versa, permitindo uma ligação mais íntima de comunicação. E esse potencial não se restringe a manipular máquinas com nossos pensamentos, mas abrir possibilidades para estabelecer uma direta comunicação com o cérebro de outra pessoa — comunicação mente-mente ou BBI. Disponível em: https://transformacaodigital.com/novas-tecnologias-de-comunicacao-e-o-futuro-das-nossas-relacoes/ Acesso em 30/01/2019. Acesso em: 13 maio 2019. , criando visões sobre a comunicação direta entre as mentes (BBI) e a telepresença etc.

As maravilhas da comunicação direta com a mente de outra pessoa são afirmadas sem quaisquer indícios de problematização sobre o que significaria isso em termos de controle das informações sociais e biológicas dos receptores. A naturalização oblitera o fato de que a tecnologia opera a partir de ordens, de sistemas comandados por grupos econômicos e políticos. Eles investem para dominar conhecimentos, instrumentalizando a ciência para fins próprios.

Desse modo, podemos afirmar a existência de um eixo comum entre todos esses exemplos, do Google, da Amazon às eleições e aos aplicativos da comunicação com a mente. Esse eixo é a perspectiva sistêmica do funcionamento do social e a centralidade da tecnologia como determinante histórica. É a produção de uma tecnociência à serviço de estruturas econômicas e políticas de poder. Não há questionamento sobre se os usos das tecnologias possam ser outros. Nenhuma perspectiva para usos alternativos aos da lógica do controle geopolítico e da concentração de riquezas.

De qualquer modo, em nosso campo de atuação, o que se coloca é a questão da pertinência de falarmos em estudos de recepção na era em que a tecnociência almeja o controle da mente e, inclusive, o “melhoramento” genético com o objetivo de um ser humano perfeito8 8 A revista Nature publicou em nov. 2018 o artigo: Genome-edited baby claim provokes international outcry. The startling announcement by a Chinese scientist represents a controversial leap in the use of genome editing. Disponível em: https://www.nature.com/articles/d41586-018-07545-0. Acesso 31 jan. 2019. . Qual o instrumental teórico dos estudos de recepção que nos permite enfrentar a discussão com o setor hegemônico das ciências que pensa a realidade a partir da lógica do big data, da funcionalidade dos sistemas e da centralidade tecnológica?

Podem os estudos de recepção explicar a manipulação do big data?

Como afirmamos na Introdução, os estudos de recepção latino-americanos desenvolvem-se a partir da recusa do conceito de comunicação em massa (massa são sempre os outros, afirmou Williams [1969]), da recusa dos conceitos de indústria cultural, de manipulação e de alienação, em benefício de se estudar a cultura das camadas populares, as chamadas classes subalternas, sobrelevando as formas tradicionais, as permanências, as reapropriações e as resistências nos discursos das expressões e manifestações populares. Então, o que dizer em favor desses conceitos a partir do avanço do big data como sistema comercial de controle político e comportamental?

As teorias que elegem sistema como conceito matriz obliteram de sua análise as relações de poder, os diferentes interesses das classes sociais, naturalizam a desigualdade econômica como se fosse parte do jogo da seleção natural – os mais fortes vencem. A visão sistêmica dá a entender que o poder político e econômico emana naturalmente dos mais preparados que mandam e dirigem, bem como usufruem dos bens e riquezas produzidos socialmente. Tudo que se apresenta como diferente, diverso e crítico à ordem sistêmica é entendido como disfunção, abjeto a ser exterminado. Das teorias da propaganda ao controle e antecipação das ações dos consumidores por meio da coleta e análise de dados, o princípio teórico é o mesmo: entropia e controle são as regras.

Nos estudos de recepção, o conceito de poder é a imanência a ser contestada; e o que é matéria para o pesquisador apresenta-se na forma de resíduos, rastros, brechas, resistências, contraposições, reapropriações, negociações, reformulações, ressignificações. Esse ambiente teórico que identifica o poder e busca o popular9 9 Há que se registrar que o conceito de popular é disputado por campos teóricos que o entendem por diferentes perspectivas: o popular como espaço/tempo da manifestação das disputas ideológicas que se dão no cotidiano das populações subalternas, de onde pode emergir a contraposição e um potencial transformador; o popular como reminiscência do tradicional, do puro e ingênuo; e o popular como expansão massificada da cultura e seu rebaixamento de qualidade. como contraposição ao anseio das hegemonias (GRAMSCI, 1978GRAMSCI, A. Obras escolhidas. São Paulo: Martins Fontes, 1978.) em controlar as opiniões, mentes e comportamentos, é, portanto, uma matriz que se choca com os sistêmicos desejos de interferir diretamente na ação e na reação das pessoas.

Por outro lado, em grande parte dos estudos de recepção o tema do poder (econômico, político) permanece como sombra, que assombra, mas não é enfrentado como questão que emerge da pesquisa. Dissimula-se essa discussão no conceito de ‘popular’. O ‘popular’ é um conceito omnibus no qual se apagam as formas políticas de resistência, os embates entre as classes e também se encobrem o conformismo e a adesão à ideologia dominante. A origem do problema está nos conceitos com os quais se erigiu o edifício teórico dos estudos de recepção. As mediações tornaram-se conceito guarda-chuva para cartografar modos de relação dos sujeitos com os meios de comunicação, aprofundando a colheita de narrativas pessoais sem a análise crítica dessas mesmas narrativas e a devida inserção delas na corrente de discursos que lhes permite efeitos de sentidos, historicidade e entendimento no contexto mais amplo das relações sociais.

Uma das exceções pode ser ressaltada nos trabalhos de Ronsini (2007RONSINI, V. Mercadores de Sentido - Consumo de Mídia e Identidades Juvenis. Porto Alegre: Sulina, 2007., 2012RONSINI, V. A Crença no Mérito e a Desigualdade - a recepção da Telenovela no horário nobre. Porto Alegre: Sulina, 2012., 2018)RONSINI, V. Trajetos com Jesús (e para além): autoanálise da pesquisa dos usos sociais da mídia. Intexto, Porto Alegre, n. 43, p. 107-118, set./dez. 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.19132/1807-8583201843.107-118. Acesso em: 18 ago. 2019.
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. A pesquisadora dedica-se ao “estudo das mediações na recepção televisiva, no campo e na cidade, visando entender a relação entre classes populares, etnia e gênero (melodrama)”. Também investiga os usos sociais dos meios de comunicação no cotidiano, destacando habitus de classe, práticas culturais e socialização e imaginário (texto do Lattes, 2018). É uma das poucas estudiosas que, a partir de Bourdieu, problematiza a questão das classes sociais e, portanto, do poder como parte da reprodução. Em seus trabalhos Ronsini (2007RONSINI, V. Mercadores de Sentido - Consumo de Mídia e Identidades Juvenis. Porto Alegre: Sulina, 2007., 2012)RONSINI, V. A Crença no Mérito e a Desigualdade - a recepção da Telenovela no horário nobre. Porto Alegre: Sulina, 2012. reflete sobre os aspectos conservadores do discurso hegemônico presentes nas narrativas de jovens, de trabalhadores (do campo e da cidade) e de mulheres das camadas populares. Ronsini (2007RONSINI, V. Mercadores de Sentido - Consumo de Mídia e Identidades Juvenis. Porto Alegre: Sulina, 2007., 2012)RONSINI, V. A Crença no Mérito e a Desigualdade - a recepção da Telenovela no horário nobre. Porto Alegre: Sulina, 2012. sempre chamou nossa atenção para a lógica do que emergia dos discursos das camadas populares. Muito mais do que processos de resistência e de emancipação, os discursos dos homens e mulheres no cotidiano traziam à tona aspirações, projeções dos lugares sociais dominantes. Os trabalhos de Ronsini (2007RONSINI, V. Mercadores de Sentido - Consumo de Mídia e Identidades Juvenis. Porto Alegre: Sulina, 2007., 2012)RONSINI, V. A Crença no Mérito e a Desigualdade - a recepção da Telenovela no horário nobre. Porto Alegre: Sulina, 2012. nos permitem compreender que há um descompasso entre os distintos tempos de consumo midiático e das memórias e trajetórias de classes, familiares e de gênero, nem sempre trazidos à tona pelas pesquisas, mas podem ser observados na potencialidade dos conflitos que se dão entre eles (tempos dissonantes). Conflitos, muitas vezes, manifestados como expressão das posições de classe social.

Em recente artigo na revista InTexto, Ronsini (2018)RONSINI, V. Trajetos com Jesús (e para além): autoanálise da pesquisa dos usos sociais da mídia. Intexto, Porto Alegre, n. 43, p. 107-118, set./dez. 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.19132/1807-8583201843.107-118. Acesso em: 18 ago. 2019.
http://dx.doi.org/10.19132/1807-85832018...
retoma Williams (2011)WILLIAMS, R. Cultura e materialismo. São Paulo. EdUnesp, 2011. para lembrar a predominância do econômico na esfera das relações sociais e culturais. Faz isso sem esquecer de marcar a posição de Williams (2011)WILLIAMS, R. Cultura e materialismo. São Paulo. EdUnesp, 2011. em sua releitura marxiana, a partir de Gramsci. Na abordagem de Williams (1969)WILLIAMS, R. Cultura e sociedade. 1780-1950. São Paulo: Nacional, 1969., o social e o cultural libertam-se da interpretação simplista e positivista, em que a sociedade e a cultura são meros reflexos da base material.

Ao assim se manifestar, Ronsini (2018)RONSINI, V. Trajetos com Jesús (e para além): autoanálise da pesquisa dos usos sociais da mídia. Intexto, Porto Alegre, n. 43, p. 107-118, set./dez. 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.19132/1807-8583201843.107-118. Acesso em: 18 ago. 2019.
http://dx.doi.org/10.19132/1807-85832018...
nos permite compreender que as mediações culturais são reveladoras dos conflitos sociais, das disputas entre as classes, da submissão e de subalternidade, bem como da figuração do que o hegemônico pode conter de contra hegemônico. Nessa acepção, o poder deixa de ser sombra para ser o centro das revelações do processo de investigação, muito mais do que revelar como usam os meios de comunicação agora digitais, os rastros dos usos revelam ou podem revelar como as pessoas se relacionam com as estruturas de poder. Ou seja, os estudos da autora revelam como se produzem as ideologias e como elas circulam e se estabelecem no cotidiano.

Desta feita, as perguntas que nos desafiam dizem respeito a como os estudos de recepção podem, diante da onipresença das tecnologias digitais e do big data, reivindicar seu potencial explicativo como teoria social crítica dos meios de comunicação.

Recolocar a dimensão histórica e das relações de produção nos mapas barberianos

Essa tarefa pode ser facilitada ao retomarmos os mapas noturnos de Martín-Barbeiro (LOPES, 2018LOPES, M. I. A teoria barberiana da comunicação. Matrizes, v. 2, n. 1, 2018, p. 39-64.). Eles foram iniciados com as dimensões diacrônica (história) e sincrônica (cotidiano), manifestas nas lógicas de produção e de circulação e nas lógicas dos formatos industriais e das matrizes culturais, eixos em que poder/história se manifestam com mais clareza. Mas, ao longo de seus detalhamentos, essas dimensões foram sendo perdidas. O mapa de 201010 10 Terceiro Mapa Metodológico das Mediações, 2010, “Mutações Comunicativas e Culturais Contemporâneas” (LOPES, 2018). desloca a diacronia e a sincronia como aspectos gerais da cultura da comunicação e da política, para especificar separadamente o cotidiano nos eixos da temporalidade e da espacialidade, formando um cronotopo cuja dimensão cognitiva e tecnológica é voltada para o cotidiano em detrimento das condições de produção e circulação, aspectos mais gerais que contextualizam os processos comunicacionais. Ao abdicar da noção de cronotopo como dimensão de totalidade, corre-se o risco da perda da noção da história e, portanto, da dialogia (BAKHTIN, 1992BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.), fundamental em todos os discursos e a produção de sentidos. Avaliamos, desse modo, que o mapa de 2010, desconectado dos demais mapas, dá relevância às lógicas sistêmicas dos fluxos e da mobilidade, aspecto que ressalta a tecnicidade como o observável privilegiado no micro das relações sociais. Os usos sociais da tecnologia no cotidiano do receptor exacerbam o que o sujeito faz com os meios, sem considerar que os atuais meios deixaram de ser analógicos para serem meios, mais do que produtores de conteúdo, captadores de informações diretas de seus usuários, nos quais as relações de poder assumem outra dimensão. As pesquisas de recepção correm, assim, o risco de deixar de problematizar o contexto de produção mais geral e as mudanças da forma e da expressão da cultura em relação ao poder.

A solução para esse problema conceitual e metodológico é redimensionar os mapas barberianos. Não os individualizar, processando-os como avanços de um mapa em relação ao outro. Propomos que eles devem ser revistos em perspectiva. Tomar os três mapas superpostos como um único para dar dimensão de profundidade à análise conceitual na pesquisa.

Na Figura 1, que segue, os mapas de Martín-Barbero (publicados nos anos 1987, 1998 e 2010)MARTÍN-BARBERO, J. Dos meios às mediações. Comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998. não são três. A figura forma um único mapa em três camadas, no qual não se pode perder as noções de historicidade e de poder.

Figura 1

Os mapas metodológicos das mediações não são excludentes. Eles devem ser entendidos em perspectiva. O primeiro demarca as lógicas de produção e as competências de recepção no eixo sincrônico; as matrizes culturais e os formatos industriais compõem o eixo diacrônico e nos dão dimensão histórica ampla. Em perspectiva de camadas e profundidade, os demais mapas especificam a investigação e direcionam o olhar do investigador para atentar como os eixos do cotidiano e da história têm adentramentos específicos, no entanto, se relacionam. Ou seja, as lógicas de produção precisam ser observadas no cronotopo (tempo-espaço), em termos de fluxos e mobilidade; assim se deve proceder para com as matrizes culturais e os formatos industriais.

Dessa forma, pode-se retomar o fundamento dos estudos de recepção nos termos dos resíduos, rastros, brechas, reapropriações, resistências, contraposições, negociações, reformulações, ressignificações, de onde emerge necessariamente o conceito de hegemonia11 11 Sobre a influência de Gramsci no pensamento de Martín-Barbero (1998, 2002), ler Moraes (2018). (GRAMSCI, 1978GRAMSCI, A. Obras escolhidas. São Paulo: Martins Fontes, 1978.). Esse conceito permite apreender o movimento dialético, a contradição permanente da história, no contexto das estratégias e das táticas políticas. Ou seja, hegemonia se constitui no movimento de constante negociação que se dá na vida social entre as ideologias constituídas, as ideologias do cotidiano (valores do senso comum) e a contra hegemonia. Esse movimento político abarca toda a estrutura social, perpassa a cultura, a educação, a arte, os meios de comunicação e se materializa institucionalmente na política partidária e em outras instituições do Estado e nos conglomerados econômicos que controlam as informações dos cidadãos. A hegemonia é expressão da luta de classes, atualizada na disputa pelo controle do conhecimento tecno-científico e na forma de seu uso.

Sair do popular e chegar ao sujeito histórico

Ao assim reposicionar os mapas barberianos, precisamos também retomar a ideia de “receptor” como indivíduo/social. O conceito de indivíduo/social histórico é produtivo para os estudos de recepção porque atualiza nossa compreensão de práxis social como fundamento do humano, afastando-nos da concepção sistêmica da inteligência artificial e da humanização da máquina.

O ser humano é vital, natural, histórico e social (SCHAFF, 1967SCHAFF, A. O marxismo e o indivíduo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.). Isso significa que o ser humano é um indivíduo/social. Sua existência real vital realiza-se no social e cultural: nas relações objetivas de lutas e contradições sociais. Logo, afirma Baccega (1998, p. 36)BACCEGA, M. A. Comunicação e linguagem. Discursos e ciência. São Paulo: Moderna, 1998., “o indivíduo/sujeito não é independente: tem suas amarras nos condicionamentos da sociedade em que vive. É, porém, autônomo, ou seja, capaz de reelaborar essa carga, produzindo o novo”. O sujeito é indivíduo (particular) e, ao mesmo tempo, é social, fruto do processo histórico. É ser histórico, responsável por seus atos.

Se esse movimento de afirmação e negação é intrínseco à existência objetiva do sujeito, assim também esse movimento se repete para compreendermos os processos de produção e circulação dos sentidos. As contradições são matérias para o pesquisador dos processos de recepção. Lembremos que as matrizes culturais estão eivadas pelas ideologias dominantes; e as lógicas de produção são racionalizações dos processos de trabalho que viabilizam os produtos culturais na forma de mercadoria.

Nesse desenho teórico, o conceito de sistema é recolocado sob as leis da dialética. Nessa acepção, o sistema é aberto e subordinado ao metabolismo do movimento social e histórico. Mesmo na natureza, a lógica sistêmica não pode ser funcional, as contradições inerentes à transformação da matéria fazem dialogar natureza e sociedade12 12 Marx utilizou o conceito de “falha na relação metabólica” entre os seres humanos e a terra para captar a alienação material dos seres humanos dentro da sociedade capitalista das condições naturais que formaram a base de sua existência, as quais denomina: “a[s] perpétua[s] condição[ões] da existência humana imposta[s] pela natureza” (AUGUSTIN; ALMEIDA, 2006, p. 83-84). . O ineditismo e a causalidade são aspectos do movimento dialético. No que diz respeito aos algoritmos e ao controle da máquina sobre a sociedade, é necessário voltar a ideia de poder e de política. Zuboff (2018)ZUBOFF, S. Big Other: Capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação (Trad. de Cruz e Cardoso). In: BRUNO, F. et al (Orgs.) Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018, p. 17-67. bem o esclareceu ao cunhar o termo “capitalismo de vigilância”. Os interesses de grupos hegemônicos se sobrepõem ao bem-estar da maioria e à emancipação das pessoas. Essas lógicas não são inerentes ao movimento da história, elas dependem da regulação pela vigilância e pelo controle.

Nesse sentido, é necessário retomar o pensamento social crítico e dotar os estudos de recepção de elementos que permitam entender o movimento das contradições e dos embates do hegemônico, do senso comum e do contra hegemônico. Pautar a interrelação do particular ao geral (micro/macrossocial) e desenhar as relações entre comunicação, cultura e poder podem fazer os estudos de recepção alcançarem um outro patamar. A pertinência dos estudos de recepção é destacar o enfoque político das relações de comunicação, para sobrelevar a ação do indivíduo/social e suas condições em se colocar no mundo; bem como de identificar, no processo de comunicação, como as relações de produção intensificam as disputas pela hegemonia.

Assim, intensificar as pesquisas empíricas nas redes digitais, cartografar os caminhos percorridos pelos receptores na circulação das mensagens e as ações e interações nos meios digitais têm a finalidade de compreender as relações de comunicação e em o que, nesse contexto, elas confluem em termos de hegemonia e contra hegemonia, maior ou menor controle.

À cartografia barberiana (aos eixos sincrônicos e diacrônicos, as temporalidades e as espacialidades), acrescente-se a compreensão de que operar com cada aspecto das mediações requer entender o movimento dialético, cujo motor é a contradição. O metabolismo do Capital está presente em todos os eixos, espaços e tempos, mas também está presente o seu contrário. As pesquisas de recepção têm um potencial de pesquisa-ação (PERUZZO, 2005PERUZZO, C. M. K. Observação participante e pesquisa-ação. In: DUARTE, J., BARROS, A. Métodos e técnicas de pesquisa em Comunicação. São Paulo: Atlas, 2005.), aquela que também atua como parte do processo e o transforma.

A título de conclusão

Iniciamos este artigo fazendo perguntas sobre o potencial explicativo dos estudos de recepção frente às transformações nos meios de comunicação digitais online. Para argumentar afirmativamente sobre a potencialidade dessas pesquisas, fizemos um caminho que tomou como eixo o conceito de sistema. Essa escolha permitiu sintetizar, nessas poucas páginas, a trajetória do pensamento hegemônico, sobretudo como se estabeleceu o conceito de sistema desde o final do século XIX até os dias atuais. A teoria geral dos sistemas, em suas diferentes ramificações pelas áreas científicas, propõe entender o objeto em estudo como um sistema, cuja retroalimentação se dá pelo jogo entre as partes em função do todo. Entender, assim, o sistema circulatório, por exemplo, ou o sistema de refrigeração de computadores traz ganhos. Mas, aplicado a outras situações, traz prejuízos por suas limitações. Imagine-se, então, querer entender as relações sociais como um sistema em que as funções estão pré-estabelecidas e as contradições serviriam apenas para retroalimentar o próprio sistema. Como ficam as relações de poder? Como tratar a materialidade da ação dos sujeitos, a historicidade, o acaso e mesmo o ineditismo da ação humana?

Se o conceito de sistema é produtivo para pensarmos alternativas a ele no campo científico, serve também para compreendermos os sistemas eletrônicos digitais como artefatos da cultura (FOLCHER; RABARDEL, 2007FOLCHER, V.; RABARDEL, P. Homens, artefatos, atividades. In: FALZON, P. (Ed.) Ergonomia. São Paulo: Blucher, 2007.). Pois, trazem em si as lógicas de sua concepção, lógicas que estão alinhadas aos interesses econômicos e de poder político hegemônicos que os criaram. Os sistemas tecnológicos não escapam à ordem social e política de seu tempo. Os sistemas digitais representam, sem dúvida, grande avanço do conhecimento humano, mas na ordem da exploração e da concentração de recursos, servem, em primeira instância, ao aprofundamento das desigualdades, ao controle, à banalização da vida. Nesse sentido, os estudiosos da recepção, ao realinharem os mapas noturnos de Martín-Barbero (2018)MARTÍN-BARBERO, J. Dos meios às mediações: três introduções. Matrizes, v. 12, n. 1, 2018, p. 9-31., não devem se esquecer de tomá-los em dimensão perspectiva e de unidade, para rastrear como o poder político e econômico se revelam em sinais, signos e símbolos no contraditório movimento por hegemonia.

No cenário de desafios manifestos pela nova lógica de acumulação e exploração, estruturada no big data, seja como Capitalismo de vigilância (ZUBOFF, 2018ZUBOFF, S. Big Other: Capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação (Trad. de Cruz e Cardoso). In: BRUNO, F. et al (Orgs.) Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018, p. 17-67.) seja como Colonialismo (COULDRY; MEJIAS, 2018COULDRY, N.; MEJIAS, U. A. Data Colonialism: Rethinking Big Data’s Relation to the Contemporary Subject. Television & New Media. Sage, 2018, p. 1-14.), os cientistas da comunicação voltam seu olhar para a civilização humanista. A ciência não se faz pela ciência. O conhecimento está a serviço da vida e da humanização da humanidade. Arte e Ciência, como muitos já disseram, são expressões da capacidade do ser humano humanizar-se, são frutos do trabalho humano. Os estudos de recepção, ao buscarem a compreensão da circulação e dos usos e práticas culturais, podem prestar contribuição efetiva para que possamos compreender os conflitos e os dilemas da sociedade, bem como os enfrentamentos ao big data.

  • 1
    Algumas ideias desenvolvidas neste artigo foram apresentadas no Encontro Nacional da Compós 2019.
  • 2
    “Os aspectos materialistas de seu pensamento podem ajudar a explicar seu afastamento em relação à Teoria da Informação. Para alguns, o afastamento teria se dado pelo descontentamento com os rumos que a Teoria havia tomado: a distorção de seus conceitos quando aplicados noutras disciplinas o incomodava” (PINEDA, 2006PINEDA, J.O.C. A entropia segundo Claude Shannon: o desenvolvimento do conceito fundamental da teoria da informação. Dissertação (Mestrado em História da Ciência). PUC-SP, 2006., p. 19).
  • 3
    Para Parsons (MOTTA, 1971MOTTA, F. C. P. A teoria geral dos sistemas na teoria das organizações. Revista Administração de Empresas. São Paulo, v. 11, n. 1, p. 17-33, mar. 1971. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901971000100003&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 31 jan. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-75901971000100003.
    http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
    , p. 20), “todo sistema social enfrenta quatro imperativos funcionais aos quais não pode deixar de satisfazer. Tais imperativos são o da manutenção, satisfeito pelos valores sociais e subsistemas culturais, o da integração, satisfeito pelas normas sociais e subsistemas sociais, o do atingimento de metas, satisfeito pelas coletividades sociais e subsistemas políticos e o da adaptabilidade, satisfeito pelos papéis sociais e subsistema econômico. A manutenção se refere à estabilidade do sistema de valores institucionalizados; o atingimento de metas refere-se à relação entre o ator e um ou mais objetos da situação, relação esta que maximiza a estabilidade do sistema, já que este precisa atingir metas através do controle dos elementos da situação; a adaptabilidade refere-se ao controle, ele próprio, do ambiente para o atingimento de metas e, finalmente, a integração refere-se à manutenção de solidariedade entre as unidades para o funcionamento eficiente do sistema”.
  • 4
    Vale citar os esforços para aprovar e fazer valer a lei de proteção da privacidade na Internet (DE LUCA, 2018DE LUCA, C. Teles e gigantes da Internet querem anular lei de privacidade. Blog Porta23, 2018. Disponível em: https://porta23.blogosfera.uol.com.br/2018/09/29/teles-e-gigantes-da-internet-querem-anular-lei-de-privacidade-da-california/. Acesso em: 13 maio 2019.
    https://porta23.blogosfera.uol.com.br/20...
    ).
  • 5
    Matéria do jornal O Globo de 2015 afirma que a Samsung alertou em seus documentos o perigo da colheita de dados via smart tv: “Por favor, esteja ciente que se suas palavras incluírem dados pessoais ou outras informações sensíveis, essa informação estará entre os dados capturados e transmitidos para terceiros pelo uso do reconhecimento de voz”, diz a Samsung (O GLOBO, 2015). Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/samsung-adverte-cuidado-com-que-voce-diz-em-frente-sua-tv-inteligente-15286181. Acesso: 3 fev. 2019.
  • 6
    Sobre esse assunto, ver Amazon Turk, exploração do chamado microtrabalho – pessoas que dão o clique no reconhecimento das informações - que faz a vez da inteligência artificial (HARA, 2018HARA, K. et al. A Data-Driven Analysis of Workers’ Earnings on Amazon Mechanical Turk. CHI, April, p. 21–26, 2018, Montreal, QC, Canada. Disponível em: https://arxiv.org/ftp/arxiv/papers/1712/1712.05796.pdf Acesso em: 13 maio 2019.
    https://arxiv.org/ftp/arxiv/papers/1712/...
    ).
  • 7
    No artigo de Esdras Moreira, no blog Transformação Digital (30 jan. 2019), o autor salienta os benefícios dos meios digitais e anuncia o que nos aguarda muito proximamente: telepresença. Robôs de telepresença, como o Beam, representam a futura geração de comunicação face a face, permitindo a sua participação e movimentação como se você estivesse presente fisicamente; Mundos virtuais: permitirá que você esteja com uma ou mais pessoas, não de forma presente, mas num mundo virtual de alta resolução, no que seria uma réplica muito semelhante, dialogando e compartilhando como se fosse real; Interface cérebro-computador: essa modalidade diz respeito à capacidade de conectar nossa mente ao computador e vice-versa, permitindo uma ligação mais íntima de comunicação. E esse potencial não se restringe a manipular máquinas com nossos pensamentos, mas abrir possibilidades para estabelecer uma direta comunicação com o cérebro de outra pessoa — comunicação mente-mente ou BBI. Disponível em: https://transformacaodigital.com/novas-tecnologias-de-comunicacao-e-o-futuro-das-nossas-relacoes/ Acesso em 30/01/2019. Acesso em: 13 maio 2019.
  • 8
    A revista Nature publicou em nov. 2018 o artigo: Genome-edited baby claim provokes international outcry. The startling announcement by a Chinese scientist represents a controversial leap in the use of genome editing. Disponível em: https://www.nature.com/articles/d41586-018-07545-0. Acesso 31 jan. 2019.
  • 9
    Há que se registrar que o conceito de popular é disputado por campos teóricos que o entendem por diferentes perspectivas: o popular como espaço/tempo da manifestação das disputas ideológicas que se dão no cotidiano das populações subalternas, de onde pode emergir a contraposição e um potencial transformador; o popular como reminiscência do tradicional, do puro e ingênuo; e o popular como expansão massificada da cultura e seu rebaixamento de qualidade.
  • 10
    Terceiro Mapa Metodológico das Mediações, 2010, “Mutações Comunicativas e Culturais Contemporâneas” (LOPES, 2018LOPES, M. I. A teoria barberiana da comunicação. Matrizes, v. 2, n. 1, 2018, p. 39-64.).
  • 11
    Sobre a influência de Gramsci no pensamento de Martín-Barbero (1998MARTÍN-BARBERO, J. Dos meios às mediações. Comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998., 2002)MARTÍN-BARBERO, J. Ofício de cartógrafo. Travessias latino-americanas da comunicação na cultura. São Paulo: Loyola, 2002., ler Moraes (2018)MORAES, G. S. M. O conceito de hegemonia no percurso dos meios às mediações. Matrizes, v. 12, n. 1, 2018..
  • 12
    Marx utilizou o conceito de “falha na relação metabólica” entre os seres humanos e a terra para captar a alienação material dos seres humanos dentro da sociedade capitalista das condições naturais que formaram a base de sua existência, as quais denomina: “a[s] perpétua[s] condição[ões] da existência humana imposta[s] pela natureza” (AUGUSTIN; ALMEIDA, 2006AUGUSTIN, S.; ALMEIDA, A. Da Compreensão Materialista e Dialética das Relações Ecológicas ao Conceito de Desenvolvimento Sustentável. Revista Desenvolvimento em Questão, v. 4, n. 7, jan./jun., 2006, p. 73-94., p. 83-84).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2 Dez 2019
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2019

Histórico

  • Recebido
    18 Maio 2019
  • Aceito
    23 Ago 2019
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