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Histórias de vida como método: estudo da narrativa biográfica do jornalista Lira Neto1 1 Este artigo é uma visão revista e ampliada do trabalho apresentado no 2º Painel de Jornalismo Literário da International Association for Literary Jornalism Study (IALJS)/Rede de Narrativas Midiáticas (Renami), da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor). Foi apresentado em 8 de novembro de 2018 durante o 16º. Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, evento organizado anualmente pela SBPJor. Este estudo é resultado da pesquisa de Iniciação Científica “Jornalismo Literário: Reflexões sobre história, epistemologias, teorias, metodologias e práxis”, desenvolvido na Universidade de Sorocaba (UNISO). Suas autoras agradecem os particpantes do painel, que permitiram o aperfeiçoamento aqui apresentado.

Historias de vida como método: estudio de la narrativa biográfica del periodista Lira Neto

Resumo

Este artigo propõe o uso do método da história de vida, muito usado nas Ciências Sociais, como uma forma de apuração, compreensão dos fatos e fio condutor na redação no campo da pesquisa em Comunicação e, sobretudo, Jornalismo. Como objeto, emprega a vida e obra do jornalista cearense João de Lira Cavalcante Neto. Mais conhecido como Lira Neto, o profissional atualmente é considerado um dos mais bem-sucedidos biógrafos brasileiros. Além da revisão de literatura, empregou-se a técnica da entrevista em profundidade para levantamento de dados. No plano epistemológico, a experimentação textual deste artigo parte da premissa que é possível unir à fluência narrativa estudada em Jornalismo Literário a densidade da reflexão teórica sobre o método biográfico, sugerindo que um texto acadêmico pode ser ao mesmo tempo consistente e envolvente.

Palavras-chave
Jornalismo Literário; Métodos em jornalismo; História de vida; Narrativas Biográficas; Lira Neto

Resumen

Este artículo propone el uso del método de la historia de vida, muy usado en las Ciencias Sociales, como una forma de investigación de noticias, comprensión de los hechos e hilo conductor en la redacción en el campo de la investigación en Comunicación y, sobre todo, el Periodismo. Como objeto, emplea la vida y obra del periodista brasileño João de Lira Cavalcante Neto. Más conocido como Lira Neto, el profesional actualmente es considerado uno de los más exitosos biógrafos de este país. Además de la revisión de literatura, se empleó la técnica de la entrevista en profundidad para el levantamiento de datos. En el plano epistemológico, la expe ri mentación textual de este artículo parte de la premisa que es posible unir a la fluencia narrativa estudiada en Periodismo Literario a la densidad de la reflexión teórica sobre el método biográfico, sugiriendo que un texto académico puede ser al mismo tiempo consistente y envolvente.

Palabras clave
Periodismo Literario; Métodos en periodismo; Historia de vida; Narrativas Biográficas; Lira Neto

Abstract

The topic of this paper is the application of the life history method, widely used in the social sciences, as a means of gathering news, understanding facts and guiding writing in the field of Communication research and, above all, Journalism. As an object, it employs the life and work of the Brazilian journalist João de Lira Cavalcante Neto. Better known by his family name, Lira Neto is currently considered one of the most successful Brazilian biographers. Data was collected through the technique of the in-depth interview as well as the literature review. On a epistemological level, the textual experimentation of this article starts from the premise that it is possible to merge the density of the theoretical approach on the biographical method with the narrative fluency studied in Literary Journalism, suggesting that an academic text can be both consistent and engaging.

Keywords
Literary Journalism; Methods in journalism.; Life history; Biographical Narratives; Lira Neto

Das decisões à trajetória – A escolha da profissional e a vocação

Vinte e seis de abril de 2018, quinze horas. Tarde quente e dourada de final de verão paulistano. No bairro universitário das Perdizes, zona oeste da capital paulista, na sala de estar ampla do apartamento com vista para a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), dezenas de estatuetas de Padre Cícero, simplesmente “Padinho Ciço” para conterrâneos ou devotos (LIRA NETO, 2018LIRA CAVALCANTE NETO, J. DE. Da roda ao auditório: uma transformação do samba pela Rádio Nacional. 2018. 114 f. Dissertação (mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018.). Entre uma categoria e outra, João de Lira Cavalcante Neto, ou simplesmente Lira Neto, talvez penda mais para a primeira. Mas, neste momento, isso ainda não passa de uma conjectura a ser investigada nas horas que o encontro que quase não houve durará.

A entrevista de mais de três horas passará, contudo, num estalar de dedos. Lira Neto diz já não mais ter mais paciência com jornalistas, ele mesmo um gato escaldado entre os pares. Mas é impecável neste quesito com estudantes de jornalismo, como o encontro mostrará. E se no início era o verbo, ele não hesita e começa pelo princípio: veio de família grande, um dos cinco filhos da casa. No dia do encontro, está abalado com a notícia de que a mãe de 89 anos não passa bem de saúde. Mostra o dedo com curativo que, nervoso, em suas próprias palavras havia “tirado um bife” ao preparar o almoço naquele dia para a família. Embarcaria no dia seguinte para a terra natal e a esposa, a também jornalista Adriana Negreiros – que escreve para a revista piaui!, entre outras publicações, logo a seguir se lançaria no campo da biografia –, zelosa, havia sugerido que ele cancelasse a entrevista. Para sorte deste artigo, Lira Neto decidiu ir em frente com o compromisso. Pouco depois, três acontecimentos marcariam a vida do autor que virariam posts na rede social Facebook, na qual ele é bem ativo (embora adiante que odeia telefones em geral, incluindo o celular) e em cuja foto da capa o usuário podia naquele dia contemplar os “Padinhos” que decoram seu apartamento.

O primeiro seria o falecimento da mãe, compartilhado em 3 de maio: “A dor da perda é enorme. A saudade, imensa. Maior do que tudo, porém, era sua capacidade sublime de inundar nossas vidas de sorrisos, levezas e afetos. Dona Darcy. 30-12-1928/01-05-2018” (Lira Neto, 2018aNETO, João de Lira Cavalcante (Lira Neto). “A dor da perda é enorme. A saudade, imensa...”. 3 mai 2018a. Post do Facebook. Disponível em: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1780877078600726&set=a.419399701415144.91313.100000353530082&type=3&theater. Acesso em: 18 jul. 2018a.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=...
). O segundo post, em 30 de maio, festejaria o lançamento da primeira biografia de Adriana – na verdade sua segunda esposa, com a qual tem duas filhas. “Vem aí, pela editora Objetiva, em agosto, a biografia de Maria Bonita, escrita por Adriana Negreiros. Sim, sou suspeito, mas garanto que o papel da “Rainha do Cangaço” nunca foi abordado sob essa perspectiva feminista e sem a chave do romantismo machista que naturaliza a violência contra as mulheres no banditismo sertanejo da época” (Lira Neto, 2018bNETO, João de Lira Cavalcante (Lira Neto). “É sempre muito bom estar de volta...”. 13 jul 2018b. Post do Facebook. Disponível em: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1868306829857750&set=a.419399701415144.91313.100000353530082&type=3&theater. Acesso em: 18 jul. 2018b.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=...
). Finalmente, o terceiro que se destaca aqui, de 13 de julho, seria o retorno como escritor residente aos Estados Unidos: “É sempre muito bom estar de volta – pelo terceiro ano, como writer-in-residence e professor de cultura brasileira – ao Middlebury College, uma das mais antigas instituições de ensino superior na área das ciências humanas dos Estados Unidos, no estado de Vermont” (Lira Neto, 2018cNETO, João de Lira Cavalcante (Lira Neto). !Vem aí, pela editora Objetiva, em agosto, a biografia de Maria Bonita, escrita por Adriana Negreiros”. 3 mai 2018c. Post do Facebook. Disponível em: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1808958139125953&set=a.419399701415144.91313.100000353530082&type=3&theater. Acesso em: 18 jul. 2018c.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=...
). Entre os três posts, registros de duas grandes perdas para o jornalismo brasileiro: a do carioca Alberto Dines (1932-2018), em 22 de maio, e, oito dias depois, o alagoano Audálio Dantas (1929-2018), em 30 de maio.

A morte de Dines durante o processo de desenvolvimento desta pesquisa pode ter sido o que em psicologia junguiana se chamaria de sincronicidade, uma coincidência significativa (JUNG, 2012JUNG, C. G. Sincronicidade (OC 8/3). 18. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.). Isso porque o biografismo, como defende Galvão, tomou impulso nos anos de 1970, quando os autores se basearam em pesquisa para iluminar “celebridades da terra”, como políticos, cantores, artistas e ídolos do futebol (GALVÃO, 2005GALVÃO, W. N. A voga do biografismo nativo. Estudos Avançados (USP. Impresso), v. 19, p. 349–366, 2005., p. 1). Contudo, Dines é considerado o primeiro jornalista brasileiro a escrever uma biografia, com Morte no Paraíso, de 1981 (VILAS-BOAS, 2008VILAS-BOAS, S. Biografismo: reflexões sobre as escritas da vida. São Paulo: Unesp, 2008.). A obra, que ganhou uma quarta edição ampliada em 2013, relata a vida do escritor austríaco Stefan Zweig (1881-1942), que se suicidou em Petrópolis, Rio de Janeiro (ZWEIG, 2013ZWEIG, S. Morte no paraíso. 4. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2013.). Quando Dines foi escrevê-la, buscou conselho no crítico literário e enciclopedista Antonio Houaiss (1915-1999), que o aconselhou: “ô Dines, você é um jornalista, seja jornalista” (VIEIRA, 2018VIEIRA, K. M. SUJEITOS DO BIOGRÁFICO: jornalistas e a construção do status de autoria na produção da biografia como reportagem. Revista Observatório, v. 4, n. 1, p. 418, 1 jan. 2018. Disponível em: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/observatorio/article/view/4602. Acesso em: 17 jun. 2020.
https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/i...
, p. 4).

Cearense como as imagens do Padim Ciço que povoam sua sala de estar em São Paulo – no momento da publicação deste artigo ele está fazendo doutorado na Universidade do Porto e mudou-se com a família para Portugal –, Lira Neto é jornalista dos bons como Dines. E se vê assim. “Eu prefiro me identificar sempre como jornalista (...). E como jornalista, estou cada vez mais repórter (...). Então esse gênero jornalístico da reportagem é o que cada vez mais me mobiliza, é o que cada vez mais eu me identifico, me sinto confortável na nomenclatura de repórter do que em qualquer outra (VIEIRA, 2018VIEIRA, K. M. SUJEITOS DO BIOGRÁFICO: jornalistas e a construção do status de autoria na produção da biografia como reportagem. Revista Observatório, v. 4, n. 1, p. 418, 1 jan. 2018. Disponível em: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/observatorio/article/view/4602. Acesso em: 17 jun. 2020.
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, p. 10-11).

Dos anos 1980, muitas biografias foram lançadas no país e, sobretudo a partir dos anos 1990, muitas pesquisas conduzidas sobre o tema (MARTINEZ, 2004MARTINEZ, M. Biografia: do estado de arte à prática da escrita da vida. Contracampo (UFF), v. 19, p. 78–96, 2004. Disponível em: https://periodicos.uff.br/contracampo/article/view/17477. Acesso em: 17 jun. 2020.
https://periodicos.uff.br/contracampo/ar...
, 2014aMARTINEZ, M. Do letramento digital à biografia humana: os desafios e as oportunidades de comunicação com os maiores de 60 anos. Rumores (USP), v. 8, n. 15, p. 171–19, 2014a. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/Rumores/article/view/83572. Acesso em: 17 jun. 2020.
https://www.revistas.usp.br/Rumores/arti...
, PENA, 2006PENA, F. Jornalismo literário. São Paulo: Contexto, 2006., VILAS-BOAS, 2008VILAS-BOAS, S. Biografismo: reflexões sobre as escritas da vida. São Paulo: Unesp, 2008., entre outros). E Lira Neto, natural de Fortaleza, nascido no dia de natal de 1963 (portanto com 54 anos no momento da entrevista), se tornou uma das grandes referências quando se trata da escrita de biografias por jornalistas. Estamos, como sugerem muitos estudiosos, no campo do Jornalismo Literário, que utiliza formatos distintos, como o perfil, “apropriando-se às vezes de gêneros oriundos de outras fontes literárias (...) como podem ser, às vezes, a própria biografia e o texto de memória” (LIMA, 2016LIMA, E. P. O jornalismo literário e a academia no Brasil: fragmentos de uma história. Famecos, v. 23, n. 1, p. 1–19, 2016., p. 3).

Os últimos 19 anos do autor foram dedicados à produção das narrativas biográficas, começando pela do escritor, farmacêutico e pioneiro da saúde pública cearense Rodolfo Teófilo (1863-1932), que na virada para o século XX lutou contra a epidemia de varíola que vitimou um quinto da população de Fortaleza (LIRA NETO, 1999LIRA NETO. O poder e a peste: a vida de Rodolfo Teófilo. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 1999.). O autor não cogita lançar nova versão do livro, hoje esgotado, cujos exemplares em sites como Estante Virtual chegam a valer R$ 220. Esse marco inicial, como a biografia de Padim Ciço (LIRA NETO, 2009LIRA NETO. Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.), revela uma das linhas de trabalho do autor: resgatar personagens históricos cearenses, caso do ex-presidente Humberto de Alencar Castelo Branco (1900-1967), cujo livro foi lançado pela Editora Contexto (LIRA NETO, 2004LIRA NETO. Castello: a marcha para a ditadura. São Paulo: Contexto, 2004.) e do escritor José de Alencar (LIRA NETO, 2006LIRA NETO. O inimigo do rei: uma biografia de José de Alencar. Rio de Janeiro: Globo, 2006.).

Cearensidade é algo que evidentemente o toca. Refastelado no sofá confortável, nesse dia 26 de abril de 2018, entre as muitas imagens de Padim Ciço, Lira Neto mergulha em suas próprias memórias. É tocante ver um especialista treinado na arte de narrar a vida alheia abrir espaço na disputada agenda para falar de si. O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) diz que “a chamada vida é um curto episódio entre dois grandes mistérios que, na verdade, são um só” (JUNG, 2018JUNG, C. G. Cartas de C. G. Jung: volume II, 1946-1955. 1. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018., p. 89): o nascimento e a morte. Às vésperas da morte da mãe, mas talvez já a intuindo, Lira diz que ela queria que seguisse a carreira militar. Mas no ensino médio optou pelo curso de topografia, que durou “quatro longos anos” (LIRA NETO, 2018LIRA CAVALCANTE NETO, J. DE. Da roda ao auditório: uma transformação do samba pela Rádio Nacional. 2018. 114 f. Dissertação (mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018.). Talvez a descrição de terrenos e regiões de fato não estivesse em seu destino. Tanto que, depois de formado, sua tentativa de seguir a carreira de topógrafo foi breve: durou dois dias, para ser preciso, o período em que ficou no primeiro e único emprego que tolerou na área. Contudo, ainda não intuía que, no futuro, delinearia, descrevendo com pormenores, a geografia mais complexa de todas: a de seres humanos.

A escolha seguinte o distanciou por completo do mundo dos cálculos e dos acidentes geográficos, quando prestou o vestibular para Filosofia, em 1981. “Cursei alguns semestres na Faculdade de Filosofia de Fortaleza, a Fafifo” – capricha no acento no fó –, uma universidade mantida pela arquidiocese” (LIRA NETO, 2018LIRA NETO. LIRA NETO 26 abr. São Paulo, Entrevista concedida a Monica Martinez e Aline Albuquerque, 2018.), que atualmente não se encontra mais em atividade.

A princípio, a remuneração do então técnico em raios-X era suficiente para pagar a faculdade. No entanto, as coisas não caminharam como ele esperava. A mensalidade da graduação ficou pesada e a instituição era confessional, o que não o agradava por completo. Em 1983, acabou deixando a filosofia para embarcar no curso de Letras, da Universidade do Estado do Ceará (UECE). “Desde muito jovem tive intimidade com o mundo dos livros. Imaginava que de alguma forma não eram os números, mas as palavras que me atrairiam para alguma coisa” (LIRA NETO, 2018LIRA NETO. LIRA NETO 26 abr. São Paulo, Entrevista concedida a Monica Martinez e Aline Albuquerque, 2018.). A espera pela Literatura acabou se tornando uma frustração. Depois de cursar as disciplinas básicas, finalmente a “cadeira” de Teoria Literária surgiu na grade, mas estava longe de ser o que ele esperava – era voltada à gramática e não supriu sua ânsia pela Literatura. Como antes havia deixado a topografia e a filosofia, abandonou sem olhar para trás a faculdade de Letras. Aos 21 anos, pulava de um ônibus ao outro para chegar às quatro escolas onde ministrava as disciplinas de Redação, Literatura e História para se manter.

De revisor a ombudsman

Do lado de fora do apartamento, a tarde começa suavemente a cair. Do lado de dentro, a verve narrativa de Lira Neto lembra o método do cineasta Eduardo Coutinho (1933-2014), que dizia que todas as histórias são boas para serem narradas, o segredo é achar um(a) bom(boa) narrador(a) (LINS, 2004LINS, C. O documentário de Eduardo Coutinho: televisão, cinema e vídeo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004., SILVA; MARTINEZ; AZOUBEL, 2016SILVA, M. C. C.; MARTINEZ, M.; AZOUBEL, D. Eduardo Coutinho em narrativas. Votorantim: Provocare, 2016.). Nem é preciso sacar uma das perguntas da pauta que a estudante de iniciação científica Aline Albuquerque havia feito com tanto esmero, mas que mantinha nas mãos, sentada toda ouvidos ao lado do biógrafo, para qualquer emergência.

A trajetória como jornalista começou, de certo modo, de maneira tardia, quase que ao acaso. O conselho de um amigo o levou à vaga de revisor no jornal O Diário do Nordeste, inicialmente como um complemento da renda. Após prestar uma prova, a contratação resultou na correção diária dos textos produzidos pelos jornalistas do jornal, em 1988. Aos 25 anos, Lira já havia casado pela primeira vez e era pai do primeiro filho, Ícaro. Um dia, precisou ir até a redação do jornal para fazer uma ligação, pois a sala onde os revisores trabalhavam não tinha telefone. Ele não sabia ainda, mas a campainha destes aparelhos seria um fio condutor de grandes mudanças em sua vida. Ao abrir a porta, o barulho de telefones a tocar constantemente, o som das máquinas de escrever, a fumaça dos cigarros dos jornalistas e o ritmo frenético o conquistaram a ponto de querer fazer parte daquele meio definitivamente.

Para integrar a redação do jornal era necessário ter cursado a habilitação em Jornalismo. Lira Neto prestou novamente o vestibular, dessa vez para Comunicação Social na Universidade Federal do Ceará. Ao ingressar, tentou uma vaga no O Diário do Nordeste, que naquele momento não estava contratando. Ainda no segundo semestre da graduação, bateu na porta do tradicional jornal O Povo em busca de uma oportunidade. Mais uma vez, o telefone entrou em cena. Dias depois, o editor chefe do jornal O Povo ligou na redação de O Diário do Nordeste para perguntar ao então graduando se ele tinha interesse em uma vaga que havia surgido no caderno de Economia. Na primeira matéria produzida para a editoria, Lira se encarregou de entrevistar um renomado professor da Fundação Getúlio Vargas. “Fiz a entrevista, levei para a redação, mas não sabia bater a máquina, não tinha feito datilografia. Voltei para a redação e fiquei catando milho” (LIRA NETO, 2018LIRA CAVALCANTE NETO, J. DE. Da roda ao auditório: uma transformação do samba pela Rádio Nacional. 2018. 114 f. Dissertação (mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018.).

Depois de seis meses na economia, Lira Neto conseguiu transferência para o segundo caderno de variedades, o Vida e Arte. Descobriu sua vocação. Logo ganhou uma página semanal sobre literatura, onde fazia resenhas, reportagens do mercado editorial e entrevistava escritores. Foi ali que conheceu o biógrafo Fernando Morais, numa primeira entrevista que rendeu uma página inteira do jornal. Na falta de formação superior em biografia, Alberto Dines pontua a existência de uma escola informal de aprendizado, por meio da qual as gerações mais novas iam aprendendo o ofício de biógrafo com os mestres do campo, caso de Mário Magalhães que trabalhou com Fernando Morais (VIEIRA, 2018VIEIRA, K. M. SUJEITOS DO BIOGRÁFICO: jornalistas e a construção do status de autoria na produção da biografia como reportagem. Revista Observatório, v. 4, n. 1, p. 418, 1 jan. 2018. Disponível em: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/observatorio/article/view/4602. Acesso em: 17 jun. 2020.
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, p. 6). E o telefone tocou mais uma vez na redação:

Quando, um belo dia, o Fernando Morais liga para a redação do jornal, ele estava precisando de um pesquisador para fazer uma pesquisa sobre o Floro Bartolomeu, que ia ser um dos personagens de um livro que ele nunca fez, o Século Inacabado e o Personagem do Lado B do Brasil e tal. E quando ele ligou para a redação procurando um jornalista que tivesse perfil de pesquisador, o pessoal me indicou. [...] Fernando me contratou, trabalhei para ele um bom período, pagava mal para caramba, e gostei, e aprendi muito com ele. Aí tudo aquilo que eu tinha feito de maneira intuitiva, eu tinha agora um Fernando me dando algumas dicas, me tirando, inclusive, me roubando um pouco daquela linguagem literária para uma linguagem mais jornalística. E aí eu vi que era possível fazer jornalismo mesmo ali no livro. Foi quando eu comecei a planejar o Castelo

(VIEIRA, 2018VIEIRA, K. M. SUJEITOS DO BIOGRÁFICO: jornalistas e a construção do status de autoria na produção da biografia como reportagem. Revista Observatório, v. 4, n. 1, p. 418, 1 jan. 2018. Disponível em: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/observatorio/article/view/4602. Acesso em: 17 jun. 2020.
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, p. 7).

O destaque de Lira Neto fez com que ele galgasse um posto na edição de O Povo. Fenômeno que repórteres como José Hamilton Ribeiro (RIBEIRO, 2006RIBEIRO, J. H. O repórter do século. São Paulo: Geração Editorial, 2006.) e Eliane Brum (MARTINEZ, 2014bMARTINEZ, M. O jornalista-autor em ambientes digitais: a produção da jornalista Eliane Brum para o portal da Revista Época. Comunicação Midiática, v. 9, n. 1, p. 56–77, 2014b. Disponível em: https://www2.faac.unesp.br/comunicacaomidiatica/index.php/CM/article/view/197. Acesso em: 17 jun. 2020.
https://www2.faac.unesp.br/comunicacaomi...
) lamentam, pois representava a perda de um bom repórter, que assumia o outro posto em geral devido ao salário melhor de editor. Mesmo assim Lira Neto continuou a produzir reportagens, embora a cada quinze dias. A vocação pela escrita o fez pedir ao editor chefe do jornal para voltar a ser repórter. Passou a ocupar o cargo de repórter especial, onde tinha uma semana para entregar cada reportagem, publicada aos domingos em duas páginas do jornal. Quando o jornal criou um caderno de cultura, o jornalista editou por dois anos os textos da editoria.

Em 1998, na função de ombudsman do jornal, teve a oportunidade de refletir sobre a profissão do jornalismo diário e o fazer jornalístico (LIRA NETO, 2000LIRA NETO. A herança de Sísifo: da arte de carregar pedras como ombudsman na imprensa. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 2000.). “O exercício do cargo de ombudsman me fez perceber a existência de uma entidade chamada leitor. Como ombudsman eu era inquirido e procurado a todo momento pelos leitores” (LIRA NETO, 2018LIRA NETO. LIRA NETO 26 abr. São Paulo, Entrevista concedida a Monica Martinez e Aline Albuquerque, 2018.). O contrato para o trabalho, que já durara um ano, poderia ser prorrogado por mais um, mas por opção do jornal não o foi. Como outro ombudsman mais tarde, Carlos Eduardo Lins da Silva, falaria do primeiro ombudsman de imprensa no Brasil, Caio Túlio Costa, que exerceu a função na Folha de S.Paulo de setembro de 1989 a agosto de 1991 (COSTA, 2009COSTA, C. T. Ombudsman: o relógio de Pascal. São Paulo: Geração Editorial, 2009.), a ousadia, independência, enfim, a opinião em relação ao fazer jornalístico mercadológico, não agradaram ao veículo cearense. Afinal, o trabalho consiste na tarefa de, por meio da análise das queixas dos leitores, ouvintes, telespectadores, internautas, confrontar e expor as fragilidades das produções dos repórteres e editores (OLIVEIRA; PAULINO, 2012OLIVEIRA, M.; PAULINO, F. O ombudsman nos meios públicos de comunicação em Portugal e no Brasil: da promessa de uma ética participada aos desafios cotidianos. In: Anuário Internacional de Comunicação Lusófona. Braga: Universidade do Minho, 2012. p. 75–84., p. 78). Naquele momento, Lira Neto já apresentava indícios de desencanto com o jornalismo diário. “A partir dali percebi que precisava dar uma virada em minha vida e que a redação já não me seduzia tanto quanto antes” (LIRA NETO, 2018LIRA NETO. LIRA NETO 26 abr. São Paulo, Entrevista concedida a Monica Martinez e Aline Albuquerque, 2018.).

De jornalista de redação a escritor de biografias

“Eu quero outro tempo, quero respirar outro tempo” (LIRA NETO, 2018LIRA CAVALCANTE NETO, J. DE. Da roda ao auditório: uma transformação do samba pela Rádio Nacional. 2018. 114 f. Dissertação (mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018.). Naquele momento, em 1998, Lira toma a decisão de deixar o ritmo acelerado das redações para traçar a sua história escrevendo a dos outros, dessa vez em livros. A primeira obra foi apurada durante o trabalho como repórter especial, quando coletou material para O Poder e a Peste, a biografia do sanitarista Rodolfo Teófilo, que atuou na epidemia de varíola na virada do século XX (LIRA NETO, 1999LIRA NETO. O poder e a peste: a vida de Rodolfo Teófilo. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 1999.). Começava a fazer biografias como forma de “contar toda a vida de uma pessoa, viva ou morta (...), às vezes empregando elementos típicos do jornalismo literário” (LIMA, 2009LIMA, E. P. Páginas ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. 4. ed. São Paul: Manole, 2009., p. 425).

Seu novo trabalho, desta vez como editor de livros, seria na Fundação Demócrito Rocha – que também publicaria dois de seus livros (LIRA NETO, 1999LIRA NETO. O poder e a peste: a vida de Rodolfo Teófilo. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 1999., 2000LIRA NETO. A herança de Sísifo: da arte de carregar pedras como ombudsman na imprensa. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 2000.). Trata-se de uma instituição cearense privada sem fins lucrativos criada em 1985 pelo Grupo de Comunicação O Povo, sua mantenedora até hoje, com a missão de contribuir para a promoção do desenvolvimento humano por meio da educação, da cidadania e da produção cultural. “Minha vida é feita de reinícios, de reinvenções. Eu nunca tive medo disso, nunca estive preocupado em manter determinadas zonas de conforto, é que ali eu disse ‘não é mais a redação’, por mais que ela tenha me apaixonado e mobilizado por tanto tempo” (LIRA NETO, 2018LIRA CAVALCANTE NETO, J. DE. Da roda ao auditório: uma transformação do samba pela Rádio Nacional. 2018. 114 f. Dissertação (mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018.).

A atitude de deixar a editora de livros para se tornar escritor foi considerada insanidade pelos amigos. O fato é que Lira percebeu que naquele início dos anos 2000 havia um movimento de renovação do segmento biográfico no Brasil. O que se deveu, em parte, a uma conjugação favorável de fatores, incluindo a emergência de novos autores e também a configuração de um novo quadro político e mercadológico, que incluiu as casas editoriais:

[...] é a Companhia das Letras no Brasil que detém o maior know-how de biografias. Então, muito da redescoberta do gênero no Brasil se deve à Companhia das Letras e se deve ao Fernando e ao Ruy, ali que nos anos 80 escreveram obras primas. Fernando com Chatô, principalmente, e o Rui com Chega de Saudade, Garrincha, Nelson, Carmen. [...] Então eles ali redescobriram um gênero que rapidamente foi de fácil aceitação pública, eu acho que por uma série de motivos, primeiro porque eles escrevem muito bem, segundo porque souberam escolher bons temas, terceiro porque, naquele momento, havia um momento de emergência da nossa sociedade, tinha acabado de sair de uma ditadura, as histórias eram muito mal contadas ou não contadas, e o Fernando e o Ruy chegaram a um público grande contando a história do Brasil. Então as pessoas começaram a compreender a história do Brasil a partir dos livros do Fernando e do Ruy. Tem um componente inevitável da boa biografia que é uma pitada de voyeurismo que também chama atenção das pessoas, essa arqueologia da vida privada do indivíduo e de que forma essa vida privada impactou as trajetórias públicas, eu acho que tudo isso são ingredientes que explicam um pouco o sucesso da biografia

(VIEIRA, 2018VIEIRA, K. M. SUJEITOS DO BIOGRÁFICO: jornalistas e a construção do status de autoria na produção da biografia como reportagem. Revista Observatório, v. 4, n. 1, p. 418, 1 jan. 2018. Disponível em: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/observatorio/article/view/4602. Acesso em: 17 jun. 2020.
https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/i...
, p. 7).

Ainda não havia ocorrido, durante a entrevista, os pedidos de recuperação judicial de duas grandes redes de livrarias do país que levaria o número um da Companhia das Letras a lançar um apelo dramático que destacava a incerteza deste segmento no dia 27 de novembro de 2018 (SCHWARCZ, 2018SCHWARCZ, L. Cartas de amor aos livros. Disponível em: https://www.blogdacompanhia.com.br/conteudos/visualizar/Cartas-de-amor-aos-livros. Acesso em: 17 jun. 2020.
https://www.blogdacompanhia.com.br/conte...
). Nesse momento ainda calmo, vindas da escola, as duas filhas do casal, Alice de 9 anos e Emília de 14, irrompem no apartamento, com ares de não quererem incomodar. Beijam o pai no canto do sofá, brincam com o labrador dourado bonachão que está no chão da sala e, como adolescentes contemporâneas que são, logo correm para os respectivos quartos ficar com seus tablets. Não estariam ali, talvez, não fosse a separação do primeiro casamento, oficializada pela necessidade de Lira de se reinventar mais uma vez. O que o levou a conhecer a atual esposa, Adriana Negreiros (NEGREIROS, 2018NEGREIROS, A. Maria Bonita: sexo, violência e mulheres no Cangaço. 1. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2018.). Naquela época, a jornalista iria para Salvador trabalhar na revista Veja. Lira fez, então, um acerto de contas na Fundação Demócrito Rocha para se desligar da empresa, se casou e viajou com a esposa, que em breve seria convidada para atuar na sede da revista em São Paulo.

Um novo telefonema lançou-o numa trajetória diferente. Era o então governador do Ceará, Lucio Alcântara, convidando-o para montar a equipe de imprensa do governo dele. A experiência no campo político durou apenas seis meses, uma vez que a esposa já estava na capital paulista – para onde Lira foi e começou a trabalhar na editora Contexto, especializada em livros acadêmicos. Por essa casa lançaria, em 2004, a próxima biografia, Castello: a marcha para a ditadura, na efeméride dos 40 anos da ditadura militar (LIRA NETO, 2004LIRA NETO. Castello: a marcha para a ditadura. São Paulo: Contexto, 2004.). O livro teve boa tiragem, cerca de 8 mil exemplares, mas para o autor o trabalho não foi primoroso o suficiente devido ao fator tempo. O que o fez se decidir a deixar o cargo na editora Contexto para se dedicar aos livros, mantendo-se a partir daí com trabalhos de freelancer – numa época em que o mercado jornalístico não estava tão precarizado (PAULINO; NONATO; GROHMANN, 2013PAULINO, R. A. F.; NONATO, C.; GROHMANN, R. As mudanças no mundo do trabalho do jornalista. São Paulo: Salta/Atlas, 2013.) e tal iniciativa era, ainda, possível.

José de Alencar entra em cena para ser o biografado de sua próxima obra: O Inimigo do Rei: uma biografia de José de Alencar, ou, a Mirabolante aventura de um romancista que colecionava desafetos, azucrinava D. Pedro II e acabou inventando o Brasil, foi lançada em 2005 pela Editora Globo. Aqui se destaca outra característica do método de produção de Lira Neto. Enquanto alguns autores, como a jornalista estadunidense Lilian Ross (1926-2017), só se dedicavam a perfilar personagens pelos quais tinham simpatia, como o escritor estadunidense Ernest Hemingway (1899-1961) (ROSS, 2005ROSS, L. Filme. São Paulo: Companhia das Letras, 2005., SUZUKI JÚNIOR, 2005SUZUKI JÚNIOR, M. Reportariar, segundo Miss Ross. In: Filme. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 9–15.), Lira Neto parte da ideia de não ser necessário gostar do biografado – abordagem que, aliás, já havia utilizado para perfilar o general Castelo Branco. Antes, o diferente o intriga e o move para compreender o mundo a partir da perspectiva do outro. O que pode ser transformador. Ele, que detestava o escritor cearense na infância e adolescência, mudou de opinião quando teve contato com a obra de Alencar. Este livro propiciou seu primeiro Prêmio Jabuti.

A noção de alteridade na esfera produtiva sugere que a biografia constitui um acontecimento jornalístico porque se trata de uma construção de sentido no âmbito do mundo a comentar (FONSECA; VIEIRA, 2010FONSECA, V. P. S.; VIEIRA, K. M. Crítica genética, um método para o estudo da produção do acontecimento jornalístico. Famecos, v. 17, n. 3, p. 228–236, 2010.). Estudos sugerem que na construção das biografias de natureza jornalísticas, bem como dos livros-reportagem, podem ser observados, “de um lado, jornalismo, mas, no entanto, suas lógicas discursivas são substancialmente distintas dos demais veículos” (SOSTER, 2015SOSTER, D. A. A reconfiguração das vozes narrativas no jornalismo midiatizado. Rizoma, v. 3, n. 1, p. 23–35, 2015. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/rizoma/article/view/6254. Acesso em: 17 jun. 2020.
https://online.unisc.br/seer/index.php/r...
, p. 29). Estamos, portanto, no campo das subjetividades, uma vez que “quando o jornalista esclarece suas contradições e limites, está admitindo, também, que a biografia é construída por opções e seleções e que a subjetividade permeia toda a obra produzida” (MAIA; LELO, 2013MAIA, M. R.; LELO, T. V. Subjetividades em cena no jornalismo biográfico de José Castello. Revista Mediação, v. 15, p. 122-136, 2013. Disponível em: http://www.fumec.br/revistas/mediacao/article/view/1468. Acesso em: 17 jun. 2020.
http://www.fumec.br/revistas/mediacao/ar...
, p. 16).

Dizem que livro é como filho. Quando se tem um, logo perguntam quando virá o próximo. Logo depois da entrega dos primeiros manuscritos do livro sobre Alencar, o editor questionou Lira sobre seu próximo personagem. Um café na casa do agora amigo Fernando Morais foi o que emplacou a decisão de biografar uma mulher. Nas palavras do autor “uma mulher da pá virada”: Maysa Figueira Monjardim, mais conhecida como Maysa Matarazzo ou simplesmente como a cantora Maysa (1936-1977). Fernando sacou o telefone e fez contato com uma fonte fundamental para a construção desta nova personagem: Jaime Monjardim, o filho único da cantora tragicamente falecida, no auge dos 40 anos, num acidente automobilístico na Ponte Rio-Niterói. O diretor brasileiro de televisão, que estreou no cinema dirigindo o filme Olga, baseado no livro de Fernando Moraes, de início não aprovou a ideia da biografia. Mas Fernando insistiu.

Mais uma vez a traçar rumos na vida de Lira Neto, o telefone da casa de Lira tocou. Do outro lado da linha, Jaime Monjardim informava que viria do Rio de Janeiro à São Paulo para entregar “uma coisa” para ele. O biógrafo pensou que se tratava de um disco ou foto da cantora. Quando foi receber o filho da cantora no desembarque do aeroporto de Congonhas, no centro de São Paulo, viu-o chegar com uma mochila nas costas empurrando um carrinho de bagagens com uma enorme caixa de televisão de tubo. “O que tem aí dentro?”, perguntou Lira Neto. Recebeu uma resposta inesperada: “É a minha mãe que está aqui”. A caixa continha todo o acervo da família sobre a cantora, como fotos, diários e cartas, material vital para a composição da obra Maysa: Só numa multidão de amores (LIRA NETO, 2007LIRA NETO. Maysa: só numa multidão de amores. Rio de Janeiro: Globo, 2007.). Lira Neto aceitou o acervo, mas impôs uma condição: Jaime Monjardim só veria a obra impressa, como os demais leitores. Monjardim aceitou, mas não aprovou o que leu. Dois anos depois, quando a minissérie Maysa: quando fala o coração foi produzida pela Rede Globo, ao custo de 9 milhões, sem pagar um centavo de direitos autorais ao escritor, este só não pode processá-lo porque havia nos créditos finais a menção à biografia por ele escrita como material de consulta de pesquisa. O que aparentemente reforça a regra número um do biógrafo Ruy Castro de só escrever sobre biografado morto há mais de dez anos e sem família (CASTRO, 2006CASTRO, R. O biografado dos sonhos precisa ser... Revista Brasileiros, dez. 2006.).

O imbróglio com os diretores Manuel Carlos e Jaime Monjardim, responsáveis pela minissérie da cantora Maysa, foi tão grande que fez com que o autor rompesse o contrato com a Editora Globo para o próximo livro, Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão, e o publicasse pela editora Companhia das Letras. Contando sobre a produção da obra de padre Cicero, Lira Neto desvia o olhar das duas interlocutoras para as estatuetas onipresentes na sala. A tarde caiu e a sala está mergulhada na penumbra, mas ainda é possível ver os olhos do escritor brilhando quando diz: “Posso não acreditar nele, mas acho que ele acredita muito em mim” (LIRA NETO, 2018LIRA CAVALCANTE NETO, J. DE. Da roda ao auditório: uma transformação do samba pela Rádio Nacional. 2018. 114 f. Dissertação (mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018.).

Se com Maysa o biógrafo perdeu a máquina da Rede Globo, por outro lado ganhou um notável editor. A parceria com Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, assumiu desde então um papel fundamental na sua obra, o que remete ao caso de William Shawn na revista The New Yorker (MEHTA, 1998MEHTA, V. Remembering Mr. Shawn´s New Yorker. New York: Overlook, 1998., ROSS, 1998ROSS, L. Here, but not here: my life with William Shawn and The New Yorker. 1. ed. New York: Random House, 1998.). Lira Neto sabia do desejo de Schwarcz de publicar uma biografia sobre Getúlio Vargas (1882-1954), e que vários biógrafos haviam rejeitado o projeto anteriormente. Disse, para Schwarcz, que não produziria um livro sobre Getúlio, mas... três. E traçou o projeto, que narraria não só a trajetória do ex-presidente, mas a história do século XX no Brasil. O trabalho minucioso levou cerca de cinco anos e envolveu, além das entrevistas, a catalogação de um acervo de livros com mais de 500 títulos. O primeiro volume Getúlio (1882-1930): dos anos de formação à conquista do poder, foi lançado em 2012 (LIRA NETO, 2012LIRA NETO. Getúlio (1882-1930): dos anos de formação à conquista do poder. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.). A seguir, vieram Getúlio (1930-1945): do governo provisório à ditadura do Estado Novo (LIRA NETO, 2013LIRA NETO. Getúlio (1930-1945): do governo provisório à ditadura do Estado Novo. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.) e Getúlio: da volta pela consagração popular ao suicídio, 1945-1954 (LIRA NETO, 2014LIRA NETO. Getúlio: da volta pela consagração popular ao suicídio (1945-1954). São Paulo: Companhia das Letras, 2014.). O resultado foi a venda de 100 mil exemplares até o fechamento deste artigo, num claro sucesso editorial baseado num tripé que consiste na escolha de um bom tema, na aproximação com o campo da história brasileira e na rigorosa apuração jornalística, claramente evidenciada nas fontes que sustentam a obra. Toca-se, portanto, uma questão cara aos estudos do Jornalismo Literário: a importância do olhar do jornalista-escritor, no caso estilo e voz autoral (ASSIS, 2016ASSIS, F. O “ser autor” na prática do jornalismo diversional. Alceu (PUCRJ), v. 16, p. 90–106, 2016., CHRISTOFOLETTI, 2004CHRISTOFOLETTI, R. A medida do olhar: objetividade e autoria na reportagem. 2004. 274 f. Tese (doutorado) - Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004., CONNERY, 1992CONNERY, T. B. A sourcebook of American literary journalism: representative writers in an emerging genre. New York: Greenwood, 1992., 2011CONNERY, T. B. Journalism and realism: rendering American life. Evanston, Illinois: Northwestern University Press, 2011., LIMA, 1993LIMA, E. P. Páginas ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. 1. ed. Campinas, SP: Unicamp, 1993., MARTINEZ, 2014bMARTINEZ, M. O jornalista-autor em ambientes digitais: a produção da jornalista Eliane Brum para o portal da Revista Época. Comunicação Midiática, v. 9, n. 1, p. 56–77, 2014b. Disponível em: https://www2.faac.unesp.br/comunicacaomidiatica/index.php/CM/article/view/197. Acesso em: 17 jun. 2020.
https://www2.faac.unesp.br/comunicacaomi...
, MARTINS, 2016MARTINS, J. L. O autor e o narrador nas tessituras da reportagem. 2016. 202 f. Tese (doutorado) - Escola de Comunicações e Artes. Universidade de São Paulo, 2016. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27152/tde-22092016-151924/pt-br.php. Acesso em: 17 jun. 2020.
https://www.teses.usp.br/teses/disponive...
, MEDINA, 2014MEDINA, C. Narrativas da Contemporaneidade: Epistemologia do Diálogo Social. Tríade, v. 2, n. 4, p. 8–22, 2014., SILVA; SILVA; FERNANDES, 2014SILVA, G.; SILVA, M. P.; FERNANDES, M. L. (EDS.). Critérios de noticiabilidade: problemas conceituais e aplicações. Florianópolis: Insular, 2014., SIMS, 1995SIMS, N. The art of literary journalism. In: SIMS, N.; KRAMER, M. (Eds.). Literary journalism: a new collection of the best American nonfiction. New York: Ballantine Books, 1995, p. 467.).

Na sala, agora em penumbra, Lira Neto segue conversando sobre a trilogia de Getúlio, apontando as semelhanças entre o período de escrita do livro, momento em que começava o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Roussef no Brasil e as semelhanças do período histórico de Getúlio Vargas com a atualidade. Depois de Getúlio, contudo, mais uma vez ele “não sabia para onde ir”. Quando disse ao editor da Companhia das Letras que queria simplesmente se divertir, dançar e sambar, Schwarcz sugeriu que biografasse o samba, gênero tipicamente brasileiro. O resultado foi Uma história do samba (LIRA NETO, 2017LIRA NETO. Uma história do samba: as origens. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.). Arquivos de ocorrências policiais foram umas das fontes de pesquisa, já que na época o samba era um gênero marginalizado e muitos dos sambistas haviam sido presos (LIRA NETO, 2018LIRA CAVALCANTE NETO, J. DE. Da roda ao auditório: uma transformação do samba pela Rádio Nacional. 2018. 114 f. Dissertação (mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018.). Novamente, no plano do estudo dos métodos de produção de biografias, a relevância das fontes documentais e a interface com outras áreas do conhecimento, como a história.

De volta aos estudos

Neste fim de verão paulistano de 2018, a noite entra suavemente pela janela do apartamento com vistas para a Pontifícia Universidade Católica (PUC), no bairro de Perdizes, na zona oeste de São Paulo, tingindo de negro o interior da sala. Agora não se distingue mais que o vulto do biógrafo no canto do sofá e das dezenas imagens de Padre Cícero. Lira Neto parece não perceber ou se incomodar com o escuro, como se a ponto de transição da luz para a sombra tivesse o poder de aquietar seu desassossego desaguado em livros. O Lira Neto que volta e meia sente a necessidade de se reinventar narra agora a volta para um lado seu até então adormecido, o da academia.

Em 2016, um de seus ex-professores da graduação da habilitação em jornalismo no Ceará, Gilmar de Carvalho, doutor em semiótica, recomendou que Lira conversasse com Jerusa Pires Ferreira, coordenadora do Centro de Estudos da Oralidade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que viria a ser sua orientadora de mestrado em Comunicação e Semiótica, trajeto que foi concluído em um ano e meio. Como seu livro de 2017, o objeto de pesquisa de Lira foi o samba, abordando, na perspectiva da semiótica, as transformações da linguagem do samba proporcionadas pela rádio nacional (LIRA CAVALCANTE NETO, 2018LIRA CAVALCANTE NETO, J. DE. Da roda ao auditório: uma transformação do samba pela Rádio Nacional. 2018. 114 f. Dissertação (mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018.). A dedicatória da obra, quase um haicai: “Para Adriana, Emília e Alice: chão e sementes”. Outro projeto acadêmico administrado em paralelo por Lira é o curso de História e Cultura Brasileira, que ministra há três anos no Middlebury College, em Vermont, Estados Unidos, onde se encontrava no fechamento deste artigo. Aliás, manter as referências ao longo da produção desta história de vida foi menos uma forma de observar os cânones acadêmicos (uma obrigação, se diria) e mais para ilustrar o rigor metodológico que o biógrafo atualmente imprime em suas produções – algo que o distingue de seus pares. Talvez, até um reflexo de seu mestrado recentemente defendido. Ou não, uma vez que sua orientadora, como só as decanas podem, sabem e ousam fazer, o encorajou a prestar menos atenção nas normas da ABNT e mais ao texto, isto é, o incentivou Lira Neto a ser mais ele mesmo.

Mais de três horas depois de começar a narrar sua história, Lira Neto se levanta do sofá e toca o interruptor ao seu lado. A luz inunda a sala, ofuscando três pares de olhos. O biógrafo e as imagens de Padim Ciço voltam a se fazer visíveis. Com doze livros publicados, a pergunta final não poderia, talvez, deixar de ser qual será o próximo livro. Mesmo que seja dos poucos jornalistas-biógrafos a receber direitos autorais prévios para se dedicar a uma obra, Lira Neto tem, como qualquer mortal, contas mensais a pagar e o show – no caso os livros – evidentemente precisa continuar. É a única questão que ele, sem jeito, deixa sem responder, pois, restrições contratuais o impedem de falar sobre projetos futuros [quando da publicação deste artigo, ele já divulgava na imprensa que se trata da história dos judeus sefarditas perseguidos pela Inquisição na Península Ibérica que, refugiados em Amsterdã, chegam ao Brasil à bordo das naus holandesas]. No momento da despedida no elevador, pisca na cabeça a frase que Lira Neto citou em algum momento da entrevista sobre a escritora cearense Rachel de Queiroz (1910-2003): “Ela dizia que não gostava de escrever, ela gostava de ter escrito” (LIRA NETO, 2018LIRA CAVALCANTE NETO, J. DE. Da roda ao auditório: uma transformação do samba pela Rádio Nacional. 2018. 114 f. Dissertação (mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018.). A reflexão certamente é válida para artigos também.

  • 1
    Este artigo é uma visão revista e ampliada do trabalho apresentado no 2º Painel de Jornalismo Literário da International Association for Literary Jornalism Study (IALJS)/Rede de Narrativas Midiáticas (Renami), da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor). Foi apresentado em 8 de novembro de 2018 durante o 16º. Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, evento organizado anualmente pela SBPJor. Este estudo é resultado da pesquisa de Iniciação Científica “Jornalismo Literário: Reflexões sobre história, epistemologias, teorias, metodologias e práxis”, desenvolvido na Universidade de Sorocaba (UNISO). Suas autoras agradecem os particpantes do painel, que permitiram o aperfeiçoamento aqui apresentado.

Referências

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Mídias sociais

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Dez 2020
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2020

Histórico

  • Recebido
    09 Jan 2019
  • Aceito
    19 Jun 2020
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