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Onde estão as pesquisas sobre gênero na Comunicação? Uma análise da produção em língua portuguesa

¿Dónde están las investigaciones sobre género en Comunicación? Un análisis de la producción en lengua portuguesa

Resumo

O artigo apresenta a análise de publicações científicas com as temáticas de gênero e comunicação do início da quarta onda feminista (2013) até o ano de 2019. Dessa maneira, este trabalho se encontra dividido em duas etapas metodológicas. Na primeira etapa, inspirada nos protocolos da revisão sistemática, fizemos a coleta de dados na base SciELO e encontramos 71 textos de diversas áreas. Refinamos os resultados e selecionamos 15 artigos para a segunda fase de Análise de Conteúdo qualitativa. Os resultados obtidos na classificação demonstram que, embora os textos tratem de questões de gênero e mencionem várias temáticas da quarta onda – tais como assédio, violência de gênero e interseccionalidade –, apenas quatro têm uma abordagem feminista. As referências do corpus mostram que as autoras mais citadas e com maior representatividade são Joan Scott e Judith Butler, e que existe uma pequena interação dentro de algumas áreas (Esporte, Comunicação e Saúde). Contudo, evidenciam a falta de diálogo que prevalece no conjunto das pesquisas das temáticas em língua portuguesa.

Palavras-chave
Gênero; Comunicação; Feminismos; Análise de conteúdo; Referenciais teóricos

Resumen

El artículo presenta el análisis de publicaciones científicas que tratan temáticas de género y comunicación desde el inicio de la cuarta ola feminista (2013) hasta el año 2019. En una primera etapa, inspirada en los protocolos de la revisión sistemática, recolectamos datos de la base SciELO y encontramos 71 textos de diferentes áreas. Luego afinamos los resultados y seleccionamos 15 artículos para la segunda fase del Análisis de Contenido cualitativo. Los resultados obtenidos en la clasificación demuestran que, aunque los textos aborden cuestiones de género y mencionen varios temas de la cuarta ola como, por ejemplo, acoso, violencia de género y la interseccionalidad –, sólo cuatro de ellos tienen un enfoque feminista. Las referencias del corpus muestran que las autoras más citadas y con mayor representativas son Joan Scott y Judith Butler, y que existe una pequeña interacción dentro de algunas áreas (Deportes, Comunicación y Salud). Sin embargo, evidencian la falta de diálogo que prevalece en el conjunto de investigaciones sobre las temáticas citadas en lengua portuguesa.

Palabras clave
Género; Comunicación; Feminismos; Análisis de contenido; Marco teórico

Abstract

This article presents the analysis of scientific publications on the themes of gender and communication from the beginning of the fourth feminist wave (2013) until 2019. Therefore, this text is divided into two methodological phases. In the first one, inspired by Systematic Review Protocols, we collected data in the SciELO database and found 71 texts from different areas. We refined the results and selected 15 articles for the second phase, the qualitative Content Analysis. The results obtained in the classification demonstrate that, although the texts deal with gender issues and mention several fourth-wave themes – such as harassment, gender violence, and intersectionality –, only four have a feminist approach. The corpus references show that the authors with more representativeness and citations are Joan Scott and Judith Butler, and they make it possible to affirm that there are little interactions within some areas (Sports, Communication, and Health). Nevertheless, they show the lack of dialogue that prevails in the set of research on these themes in Portuguese.

Keywords
Gender; Communication; Feminisms; Content analysis; Theoretical frameworks

Introdução

Por séculos, as mulheres foram proibidas de fazer ciência e contribuir para a produção de conhecimento, uma opressão inicialmente religiosa e posteriormente das próprias organizações científicas (MATOS, 2014MATOS, M. A quarta onda feminista e o campo crítico-emancipatório das diferenças no Brasil: entre a destradicionalização social e o neoconservadorismo político. In: 38º ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS. Caxambu, 2014. Paper apresentado...). O conhecimento histórico tem como referência os homens, entretanto, a História e as Ciências Humanas, ao se debruçarem sobre temáticas e grupos sociais até então excluídos do seu interesse, abrem espaço para o desenvolvimento de investigações sobre as mulheres que dão origem aos estudos de gênero. A história cultural, ao se interessar pelos operários, camponeses, pessoas comuns, pluraliza seu objeto de estudo chegando às mulheres (SOIHET, 1997SOIHET, R. História, mulheres, gênero: contribuições para um debate. In: AGUIAR, N. (org.). Gênero e ciências humanas: desafio às ciências desde a perspectiva das mulheres. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1997. p. 95-114.).

Na área da Comunicação Social, até o início dos anos 2000, eram raras as pesquisas sobre gênero e feminismos, mesmo havendo um gradativo aumento no número de publicações sobre o tema no Brasil desde a década de 1970 (SOARES, 1994SOARES, V. Movimento de mulheres e feminismo: evolução e novas tendências. Revista Estudos Feministas, p. 11-24, 1994.; TOMAZETTI, 2019TOMAZETTI, T. Genealogias dissidentes: os estudos de gênero nas teses e dissertações em comunicação do Brasil (1972-2015). 2019. Tese (Doutorado em Comunicação e Informação) –Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2019.; ESCOSTEGUY, 2019ESCOSTEGUY, A. C. D. Mídia e questões de Gênero no Brasil: pesquisa, categorias e feminismos. In: XXVII ENCONTRO ANUAL DA COMPÓS. Porto Alegre, 2019. Anais...). As primeiras publicações sob essa ótica são realizadas ainda no período da segunda onda feminista1 1 Utilizamos a denominação de ondas para os períodos do movimento feminista como uma forma didática de tentar manter uma cronologia convencionada pela historiografia oficial que ainda se mantém prevalente. Entretanto, reconhecemos que essa classificação tenta periodizar os acontecimentos, mas apresenta lacunas, já que considera esse processo histórico como linear quando na verdade não é, além de destacar a dificuldade em tratar o movimento feminista como plural, em como contar as histórias dos feminismos, valorizando suas narrativas, suas vozes e a luta pelos processos de direitos e acessos que são diferentes de acordo com as questões interseccionais como raça, etnia, classe social, entre outros aspectos. Em resumo, esta classificação entende a primeira onda entre o final do século XIX até a metade do século XX, tendo como característica a luta por direito ao voto, condições de trabalho e educação; a segunda de 1960 a 1980, com o slogan “O pessoal é político”, que representa a luta contra a organização social que reserva às pessoas, papéis e lugares naturalizados e hierarquizados de acordo com seu sexo (público x privado); a terceira inicia-se no final dos anos 1980 e aborda as teorias de gênero e o pós-feminismo questionando o conceito de mulher como homogêneo e tratando as mulheres como indivíduos com experiências de vida distintas, que sofrem diferentes tipos de opressão relacionados às questões de classe, raça, diversidade sexual entre outras (interseccionalidade). , marcado pela luta por direitos civis e inspirado na obra O segundo sexo, de Simone de Beauvoir (2009)BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009., publicado em 1949. Com o aumento dos cursos de pós-graduação e de trabalhos científicos publicados nos últimos anos, há um crescimento da área de investigação. Porém, o campo ainda carece de estudos que analisem a bibliografia, métodos, técnicas e abordagens epistemológicas nas quais se ancoram as questões de gênero na Comunicação Social (TOMAZETTI, 2019TOMAZETTI, T. Genealogias dissidentes: os estudos de gênero nas teses e dissertações em comunicação do Brasil (1972-2015). 2019. Tese (Doutorado em Comunicação e Informação) –Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2019.; ESCOSTEGUY, 2019ESCOSTEGUY, A. C. D. Mídia e questões de Gênero no Brasil: pesquisa, categorias e feminismos. In: XXVII ENCONTRO ANUAL DA COMPÓS. Porto Alegre, 2019. Anais...; MASSUCHIN; TAVARES; SILVA, 2020MASSUCHIN, M. G.; TAVARES, C. Q.; SILVA, G. A. O que a produção científica tem a nos dizer? Avanços, lacunas e novas perspectivas para as pesquisas sobre Jornalismo e Gênero. Pauta Geral - Estudos em Jornalismo, v. 7, p. 1-19, 2020.).

Enquanto o debate sobre gênero e feminismos se popularizou nos Estados Unidos e em países da Europa, principalmente a partir da década de 1960, nesse período, o Brasil viveu um regime ditatorial e nesse ambiente apareceram as primeiras manifestações feministas, seguidas dos primeiros estudos sobre as mulheres e sobre gênero (PINTO, 2010PINTO, C. R. J. Feminismo, História e Poder. Revista de Sociologia e Política, v. 18, n. 36, p. 15-23, 2010.). Na academia, após a redemocratização do país, houve uma maior liberdade de pensamento e produção científica. Mesmo assim, ainda são marginais os estudos que interseccionam gênero e comunicação (ESCOSTEGUY; MESSA, 2006ESCOSTEGUY, A. C. D.; MESSA, M. R. Os estudos de gênero na pesquisa em comunicação no Brasil. Contemporânea, v. 4, n. 2, p. 65-82, 2006.; TAVARES; MASSUCHIN; SOUZA, 2021TAVARES, C.; MASSUCHIN, M.; SOUZA, L. L. À quem recorremos quando falamos sobre gênero na Comunicação? Aspectos de colonialidade e decolonialidade a partir da bibliografia utilizada nas pesquisas da área. Comunicação, Mídia e Consumo, v. 18, n. 51, p. 36-59, 2021.).

Nesse sentido, este artigo pretende contribuir para preencher parcialmente a lacuna de poucos levantamentos da produção científica sobre gênero e comunicação. O objetivo é fazer uma revisão da literatura em língua portuguesa na base de dados da Scientific Electronic Library Online (SciELO) sobre as temáticas, para analisar as suas características em relação aos marcos teóricos, objetos e/ou sujeitos de análise e perspectivas metodológicas. O marco temporal definido foi o de 2013 a 2019, considerando parte do período da quarta onda feminista, marcada pela utilização de plataformas digitais, diversidade de feminismos, interseccionalidade, mobilização em forma de coletivos e por pautas transnacionais, mas também locais, adaptadas à realidade de cada grupo. As questões do corpo feminino, a consubstancialidade das opressões (CURIEL, 2020CURIEL, O. Construindo metodologias feministas a partir do feminismo decolonial. In: HOLLANDA, H. (org.). Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020, p. 120-139.), as formas de violência de gênero e a participação política das mulheres são alguns dos temas enfatizados (HOLLANDA, 2018HOLLANDA, H. B. Explosão feminista: arte, cultura, política e universidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.; CHAMBERLAIN, 2017CHAMBERLAIN, P. The feminist fourth wave: Affective temporality. London: Springer, 2017.; PEREZ; RICOLDI, 2018PEREZ, O. C.; RICOLDI, A. A quarta onda do feminismo? Reflexões sobre movimentos feministas contemporâneos. In: 42º ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS. Caxambu, 2018. Paper apresentado...; DRUMMOND, 2020DRUMMOND, D. A quarta onda do movimento feminista no jornalismo brasileiro e português: Um estudo sobre as coberturas jornalísticas da Folha de S.Paulo e do Público (2013-2018). 2020. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Universidade Federal do Paraná, 2020.).

Em nossa busca, obtivemos 71 resultados que foram refinados para as áreas de pesquisa de Comunicação, Estudos de Mulheres e Estudos Culturais, chegando a 33 artigos, dos quais foram selecionados 15 para a Análise de Conteúdo qualitativa apresentada neste artigo.

Breve estado da arte da pesquisa sobre gênero na Comunicação no Brasil

Os primeiros estudos de gênero na área de Comunicação Social no Brasil são sobre o audiovisual e a mídia impressa. São pesquisas que têm como foco a mensagem, com auge nos anos 1970, na América Latina, estudando a produção de conteúdo para e por mulheres (ESCOSTEGUY; MESSA, 2006ESCOSTEGUY, A. C. D.; MESSA, M. R. Os estudos de gênero na pesquisa em comunicação no Brasil. Contemporânea, v. 4, n. 2, p. 65-82, 2006.). A partir da década de 1980, o foco passa a ser a recepção e o público (infantil e feminino) que era julgado como passivo e vítima da manipulação dos meios (CREEL, 1996CREEL, M. C. Espejo de Venus: una mirada a la investigación sobre mujeres y medios de comunicacion. Signo y Pensamiento, n. 28, p. 37-50, 1996.). Essa relação entre o corpo e a mídia permanece em temas de teses e dissertações até o final da década de 1990. É só a partir dos anos 2000 que as diversas representações do feminino na mídia se tornam alvo das publicações (ESCOSTEGUY; MESSA, 2006ESCOSTEGUY, A. C. D.; MESSA, M. R. Os estudos de gênero na pesquisa em comunicação no Brasil. Contemporânea, v. 4, n. 2, p. 65-82, 2006.).

Destacamos duas análises sobre os estudos de gênero nas teses e dissertações: a pesquisa feita por Escosteguy e Messa (2006)ESCOSTEGUY, A. C. D.; MESSA, M. R. Os estudos de gênero na pesquisa em comunicação no Brasil. Contemporânea, v. 4, n. 2, p. 65-82, 2006., realizada no período de 1992 a 2002, que encontrou 65 produções; e a de Tomazetti (2019)TOMAZETTI, T. Genealogias dissidentes: os estudos de gênero nas teses e dissertações em comunicação do Brasil (1972-2015). 2019. Tese (Doutorado em Comunicação e Informação) –Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2019., que mapeou as interfaces entre os estudos de gênero e as teses e dissertações defendidas de 1972 a 2015. Como nos mostra Tomazetti (2019)TOMAZETTI, T. Genealogias dissidentes: os estudos de gênero nas teses e dissertações em comunicação do Brasil (1972-2015). 2019. Tese (Doutorado em Comunicação e Informação) –Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2019., no período analisado, foram produzidas 13.265 investigações de mestrado e doutorado em Comunicação. Desse número total, 316 pesquisas apresentam interface com os estudos de gênero, ou seja, apenas 2,38% da produção na pós-graduação de Comunicação trata das questões de gênero (TOMAZETTI, 2020TOMAZETTI, T. Por um mapa das dissidências: os estudos de gênero nas teses e dissertações em comunicação do Brasil (1972-2015). Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 43, n. 3, p. 57-81, 2020.). Dentro deste universo, como exemplo, as investigações sobre o jornalismo apresentam análises sobre os discursos, enquadramentos e como as notícias são construídas, sendo a questão de gênero foco em pesquisas sobre mulheres e/ou de viés feminista. As investigações de gênero, telenovela e ficção seriada estão relacionadas aos aspectos identitários das narrativas, do enredo e seu contexto social. Raros também são os estudos sobre masculinidades (TOMAZETTI, 2020TOMAZETTI, T. Por um mapa das dissidências: os estudos de gênero nas teses e dissertações em comunicação do Brasil (1972-2015). Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 43, n. 3, p. 57-81, 2020.; CASADEI, 2022CASADEI, E. Os estudos das masculinidades nas pesquisas em Comunicação no Brasil. Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 45, e2022101, 2022.).

Os questionamentos sobre as questões de gênero nas pesquisas da Comunicação são mais frequentes nos estudos de recepção (JACKS; MENEZES; PIEDRAS, 2008JACKS, N.; MENEZES, D.; PIEDRAS, E. (org.). Meios e audiências: a emergência dos estudos de recepção no Brasil. Porto Alegre: Sulina, 2008.; JACKS et al., 2014JACKS, N. et al. (org.). Meios e audiências II: a consolidação dos estudos de recepção no Brasil. Porto Alegre: Sulina, 2014.; JACKS et al., 2017JACKS, N. et al. (org.). Meios e audiências III: reconfigurações dos estudos de recepção e consumo midiático no Brasil. Porto Alegre: Sulina, 2017.; ESCOSTEGUY, 2008ESCOSTEGUY, A. C. D. Circuitos de cultura/circuitos de comunicación - Un protocolo analítico de la integración de la producción y de la recepción. Estudios sobre las Culturas Contemporáneas, v. XIV, p. 149-167, 2008.). Entretanto, mais raro ainda são os levantamentos sobre as publicações nas revistas científicas da área da Comunicação que tratam de gênero e feminismos. Um dos poucos trabalhos é o de Tavares, Massuchin e Souza (2021)TAVARES, C.; MASSUCHIN, M.; SOUZA, L. L. À quem recorremos quando falamos sobre gênero na Comunicação? Aspectos de colonialidade e decolonialidade a partir da bibliografia utilizada nas pesquisas da área. Comunicação, Mídia e Consumo, v. 18, n. 51, p. 36-59, 2021., que analisa a temática de 155 artigos publicados em periódicos Qualis A1 e A2 da área de Comunicação e Informação, a partir das referências bibliográficas.

Metodologia

Para cumprir com o objetivo de fazer um levantamento das produções científicas em língua portuguesa sobre as temáticas de gênero e comunicação durante a quarta onda feminista para analisar suas características, nos inspiramos nos protocolos utilizados em uma revisão sistemática da literatura. Fizemos essa escolha por ser uma forma de pesquisa da bibliografia que permite evitar vieses através de parâmetros de busca específicos em uma base de dados, gerando transparência e a possibilidade de replicabilidade da pesquisa (EDUARDO; SOUZA; ANGELI, 2019EDUARDO, M. C.; SOUZA, J. I. L.; ANGELI, A. E. Cotas eleitorais para mulheres: análise bibliográfica da pesquisa científica nas Ciências Sociais. BIB, n. 90, p. 1-22, 2019.). Além disso, ela integra e sintetiza informações sobre a temática selecionada presente em vários estudos, cotejando diferenças e similaridades de abordagens. Descrevemos abaixo as etapas do caminho metodológico.

Para a coleta de material, selecionamos a base de dados SciELO por meio da busca na plataforma Web of Science. O motivo da escolha foi por esta base ter acesso aberto e permitir obter produções do Sul global (África do Sul, Argentina, Bolívia, Brasil2 2 Além dos países africanos como Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné Bissau, Guiné Equatorial e São Tomé e Príncipe, o Brasil é o maior país que fala a língua portuguesa, herança da colonização de Portugal,. , Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela) e de língua portuguesa (Portugal). Nossa proposta de trabalho objetiva visibilizar a produção dos países emergentes, contrapondo a lógica de ênfase dada pelas maiores bases de dados ao Norte global, os trabalhos em língua inglesa e os países considerados hegemônicos na produção de ciência.

Inicialmente, fizemos a busca na Web of Science pelos termos gender e communication em todas as bases de dados selecionando como filtro os tópicos (título, resumo e palavras-chave das produções). É interessante ressaltar, neste primeiro resultado, o vertiginoso crescimento das pesquisas sobre gênero e comunicação no mundo, principalmente após os anos 2000 (Gráfico 1).

Gráfico 1
Produções científicas com os termos gender e communication publicadas entre 1975 e 2019 localizadas na Web of Science

Muitos são os acontecimentos políticos e sociais que envolvem as questões feministas no Brasil, principalmente desde 2013, e esse contexto passa a ser abordado também na academia (DRUMMOND, 2020DRUMMOND, D. A quarta onda do movimento feminista no jornalismo brasileiro e português: Um estudo sobre as coberturas jornalísticas da Folha de S.Paulo e do Público (2013-2018). 2020. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Universidade Federal do Paraná, 2020.). As áreas de pesquisa com mais publicações são a Psicologia e a Ciência do Comportamento (em torno de 45% cada um), estando a Comunicação na terceira posição (em torno de 26%).

Devido ao grande volume de resultados encontrados na primeira busca e para nos aproximarmos de nosso objetivo, fizemos o primeiro refino para o intervalo temporal dos anos de 2013 a 2019. Também delimitamos os resultados para a base de dados da SciELO, para o domínio de pesquisa das Ciências Sociais e apenas para artigos escritos em língua portuguesa, obtendo 71 resultados de diversas áreas. Em seguida, nosso recorte foi para as áreas de pesquisa de Comunicação, Estudos de Mulheres e Estudos Culturais, o que resultou em 33 artigos3 3 String de busca: Tópico: (gender AND communication). Refinos: Anos de publicação: (2019 OR 2018 OR 2017 OR 2016 OR 2015 OR 2014 OR 2013) AND Bases de dados: (SciELO) AND Domínios de pesquisa: (Social Sciences) AND Tipos de documento: (Article) AND Idiomas: (Portuguese) AND Áreas de pesquisa: (Communication AND Women’s Studies AND Cultural Studies). Resultados: Tópico, 20.714. Anos de publicação, 11.256; Bases de dados, 334; Domínios de pesquisa, 246; Tipos de documento, 243; Idioma, 71; Áreas de pesquisa, 33. .

Dos 33 artigos, a maioria foi escrita por mais de um autor/a (75,76%) e as produções com autor/a único/a somam 24,24% do total. As publicações com cinco ou mais autores/as são, em sua maioria, da área da Saúde (Ciência & Saúde Coletiva, CoDAS, Cuadernos de Psicología del Deporte, Investigación y Educación en Enfermería, Revista de Nutrição e Revista de Saúde Pública), sendo apenas uma de Estudos Educacionais (Da Investigação às Práticas). As publicações com um/uma até quatro autores/as têm uma diversidade maior de áreas com representações de revistas da Administração (Alcance), Saúde (Ciência & Saúde Coletiva, Motricidade, Revista Brasileira de Enfermagem e Revista Brasileira de Epidemiologia), Estudos de Gênero (Exaequo e Revista Estudos Feministas), Comunicação (Galáxia e Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação), Ciência Política (Opinião Pública) e de Educação Física (Revista Brasileira de Educação Física e Esporte) (Gráfico 2).

Gráfico 2
Produções com os termos gender e communication por ano e autoria

Sobre a quantidade de publicações por ano, 2016 e 2017 têm oito publicações cada, somando aproximadamente metade da produção científica do período. Conforme relata Drummond (2020)DRUMMOND, D. A quarta onda do movimento feminista no jornalismo brasileiro e português: Um estudo sobre as coberturas jornalísticas da Folha de S.Paulo e do Público (2013-2018). 2020. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Universidade Federal do Paraná, 2020., há mudanças políticas e acontecimentos sociais que são trazidos à tona no debate de gênero e feminismo no Brasil e em Portugal. A partir de junho de 2013, as manifestações se ampliam e diversificam, abrangendo temas muito diversos (MENDONÇA, 2018MENDONÇA, R. F. Dimensões democráticas nas jornadas de julho: reflexões sobre a compreensão de democracia entre os manifestantes de 2013. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 33, p. 1-23, 2018.). Em 2014, foi reeleita a presidente Dilma Rousseff, mas esta é alvo de impeachment em 2016. No Brasil, também acontecem, em 2015, as manifestações contra o projeto de Lei nº 5.069/2013, apresentado por Eduardo Cunha, que dificultava o acesso das vítimas de estupro a cuidados médicos essenciais e ao aborto legal (HOLLANDA, 2018HOLLANDA, H. B. Explosão feminista: arte, cultura, política e universidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.); se repetem as manifestações da Marcha das Vadias; e entra em vigor a Lei do Feminicídio (nº 13.104/2015), que inclui o feminicídio como crime hediondo.

Nas ruas e nas redes sociais (uma das marcas da quarta onda, a militância online), as pautas de gênero são diversas, como as não hegemônicas das causas LGBTQIAP+4 4 Decidimos reproduzir a sigla utilizada em cada artigo e não definir um padrão para se referir às pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexuais, queer e demais identidades de gênero, orientações sexuais e entendimentos de sexualidade existentes. (GOMES; SORJ, 2014GOMES, C.; SORJ, B. Corpo, geração e identidade: a Marcha das vadias no Brasil. Sociedade e Estado, v. 29, n. 2, p. 433-447, 2014.). Em 2017, as denúncias de assédio sexual em Hollywood, do movimento #metoo, também movimentaram manifestações em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil e em Portugal. Os outros anos somam a outra metade das produções, em ordem decrescente: 2015 (18,18%), 2018 (12,12%), 2019 (9,09%), 2013 e 2014 (ambos com 6,06%).

A etapa seguinte correspondeu à definição dos artigos para a Análise de Conteúdo qualitativa (SAMPAIO; LYCARIÃO, 2021SAMPAIO, R. C.; LYCARIÃO, D. B. S. Análise de Conteúdo Categorial: Manual de Aplicação. Brasília: ENAP, 2021.). Para isto, lemos os artigos para identificar se abordavam as temáticas de gênero e comunicação, e para averiguar qual era sua relevância e validade em responder nosso objetivo. A classificação feita individualmente foi checada e debatida coletivamente. Nesta etapa, excluímos 18 artigos em que as palavras-chave selecionadas na busca aparecem nos textos, mas eram tratadas apenas como variáveis de análise. Um exemplo é o artigo “Participação política online e offline nas eleições presidenciais de 2014 em Salvador” (SANTANA, 2017SANTANA, R. S. Participação política online e offline nas eleições presidenciais de 2014 em Salvador. Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 40, n. 3, p. 189-207, 2017.), em que ‘gênero’ é tratado como sexo, e ‘comunicação’ como os tipos de tecnologias ou plataformas digitais utilizadas pelas pessoas eleitoras. Por fim, elegemos 15 artigos como nosso corpus (Tabela 1) para a Análise de Conteúdo qualitativa, que foi feita com base no livro de códigos disponibilizado como material suplementar.

Quadro 1
Dados dos artigos que integram o corpus

Resultados

Dos 15 artigos analisados qualitativamente, a primeira categoria do livro de códigos se refere à perspectiva teórica. Os textos foram classificados por meio da leitura e identificações de referências a autorias das perspectivas de gênero ou feministas. Nesse sentido, 11 deles (73,3%) fazem menção ao conceito de gênero, aos estudos de gênero e/ou pautas relacionadas, e um deles assume textualmente que adotou “na análise uma perspectiva de gênero” (ESCOSTEGUY; SIFUENTES; BIANCHINI, 2017ESCOSTEGUY, A. C. D.; SIFUENTES, L.; BIANCHINI, A. Mulheres rurais e seus usos mediados das TICs: tensionamentos e permanências nas relações de gênero. Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 40, n. 1, p. 195-211, 2017., p. 197). Apenas quatro (26,7%) foram classificados com uma abordagem feminista, tendo o tipo de feminismo detalhado (segunda categoria). Dois foram enquadrados com uma perspectiva pós-estruturalista/pós-moderna e dois com a perspectiva pós-colonial. Neste último grupo, o artigo de Joana Passos (2019)PASSOS, J. O racismo, a moda, e a diversificação dos padrões de beleza: o exemplo de Iman, top model Somali dos anos 70/80. Revista Estudos Feministas, v. 27, n. 1, e58981, 2019. pode ainda ser classificado como uma abordagem feminista pós-colonial negra e política.

Ao analisar o racismo no mundo da moda, a autora, que se autodenomina uma “pensadora feminista portuguesa” (PASSOS, 2019PASSOS, J. O racismo, a moda, e a diversificação dos padrões de beleza: o exemplo de Iman, top model Somali dos anos 70/80. Revista Estudos Feministas, v. 27, n. 1, e58981, 2019., p. 2), destaca a importância de não apenas se desconstruir mitos sexistas, mas também de criar “novos mitos ou figuras que materializem as novas ideias e novas utopias propostas pelos estudos feministas e pelos estudos de género [...] para se pensar novas intervenções políticas e novas formas de ativismo no século XXI” (PASSOS, 2019PASSOS, J. O racismo, a moda, e a diversificação dos padrões de beleza: o exemplo de Iman, top model Somali dos anos 70/80. Revista Estudos Feministas, v. 27, n. 1, e58981, 2019., p. 4-5). Intervenção necessária na moda e na publicidade que, em conjunto com os padrões de beleza dominantes de branquitude, “constituem (micro) mecanismos de discriminação” (PASSOS, 2019PASSOS, J. O racismo, a moda, e a diversificação dos padrões de beleza: o exemplo de Iman, top model Somali dos anos 70/80. Revista Estudos Feministas, v. 27, n. 1, e58981, 2019., p. 3).

O outro artigo classificado como pós-colonial é de Cogo (2017)COGO, D. Comunicação, migrações e gênero: famílias transnacionais, ativismos e usos de TICs. Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 40, n. 1, p. 177-193, 2017., e tem como foco o cruzamento dos estudos de gênero e migrações que, impactados pelos feminismos de fronteira, são considerados pela autora como “uma versão latina e latino-americana dos feminismos pós-coloniais” (COGO, 2017COGO, D. Comunicação, migrações e gênero: famílias transnacionais, ativismos e usos de TICs. Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 40, n. 1, p. 177-193, 2017., p. 182). Um destaque do texto é o apontamento da necessidade de que as pesquisas efetivamente incorporem o conceito de gênero e de interseccionalidade, deslocando,

das perspectivas essencialistas de gênero e como uma crítica ao caráter ‘somatório’ de algumas propostas conceituais e metodológicas que agregam ao gênero outras categorias de desigualdades como classe, raça, geração, sem realmente vislumbrarem sua articulação. [...] a categoria gênero não como mera variável sexo-gênero ou oposição homem versus mulher, mas como um princípio de organização social, de produção de desigualdade e de relações de poder

(COGO, 2017COGO, D. Comunicação, migrações e gênero: famílias transnacionais, ativismos e usos de TICs. Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 40, n. 1, p. 177-193, 2017., p. 182).

Os artigos classificados como pós-estruturalistas / pós-modernos, são de Tomaz (2015)TOMAZ, R. Feminismo, maternidade e mídia: relações historicamente estreitas em revisão. Galáxia, n. 29, p. 155-166, 2015. e de Melo e Ribeiro (2015)MELO, C. O.; RIBEIRO, R. A performance arte que virou polvo: flutuando nas águas das artes em corporalidades híbridas e ininteligíveis. Revista Estudos Feministas, v. 23, n. 1, p. 239-248, 2015.. O primeiro analisa produções acadêmicas com as expressões “mídia” e “maternidade” e destaca que “embora cada temática esteja associada a um aporte teórico específico, os estudos culturais, de gênero, feministas e pós-estruturalistas estão presentes de uma forma ampla nos textos [analisados]” (TOMAZ, 2015TOMAZ, R. Feminismo, maternidade e mídia: relações historicamente estreitas em revisão. Galáxia, n. 29, p. 155-166, 2015., p. 161). O segundo artigo debate o conceito de performance com base nos Estudos Queer e, com uma abordagem feminista política, ressalta como maior conclusão da pesquisa que a performance arte, como espaço de comunicação em que o corpo produz mensagens e expressa subjetividades,

tem-se mostrado uma potente ferramenta político-artística para visibilizar corporalidades em desacordo com o imperativo heterossexual [...] pode atingir potência crítica cotidiana, biográfica e artística ao mesmo tempo [...] [como] mescla do palco e da vida, uma aquarela em que a arte acontece ao mesmo tempo no palco, no asfalto e na carne

(MELO; RIBEIRO, 2015MELO, C. O.; RIBEIRO, R. A performance arte que virou polvo: flutuando nas águas das artes em corporalidades híbridas e ininteligíveis. Revista Estudos Feministas, v. 23, n. 1, p. 239-248, 2015., p. 239-240).

Quanto à metodologia utilizada (terceira categoria), todos os textos dão enfoque em apresentar a análise qualitativa dos resultados. Dos artigos, 14 mencionam textualmente ter utilizado uma metodologia qualitativa e apenas um cita que utilizou uma abordagem mista, o de Gabriel e Freitas Júnior (2016)GABRIEL, B. J.; FREITAS JUNIOR, M. A. O discurso acerca da seleção brasileira presente na Folha de S.Paulo durante o ano de realização da “Germany World Cup”. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 30, n. 2, p. 371-383, jun. 2016., ao descrever a Análise de Conteúdo feita. Os autores fizeram uma busca pelas produções da editoria esportiva da Folha de S.Paulo com a palavra-chave “seleção”, em que constava a menção à seleção brasileira no ano de 2011 (ano da 6ª Germany World Cup), o que “permitiu a verificação e a análise quanti/qualitativa em diferentes momentos (anterior, durante e posterior à competição), possibilitando perceber a visibilidade que o jornal destinou em sua editoria esportiva ao futebol feminino” (GABRIEL; FREITAS JÚNIOR, 2016GABRIEL, B. J.; FREITAS JUNIOR, M. A. O discurso acerca da seleção brasileira presente na Folha de S.Paulo durante o ano de realização da “Germany World Cup”. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 30, n. 2, p. 371-383, jun. 2016., p. 376).

Relativo aos procedimentos empregados nas pesquisas (quarta categoria), três artigos utilizaram análise de documentos, seja ela bibliográfica, documental ou uma revisão da literatura (LELO, 2019LELO, T. V. A feminização do jornalismo sob a ótica das desigualdades de gênero. Revista Estudos Feministas, v. 27, n. 2, e54225, 2019.; MORETTI-PIRES; TESSER JÚNIOR; KOVALESKI, 2018MORETTI-PIRES, R. O.; TESSER JUNIOR, Z. C.; KOVALESKI, D. F. Homofobia e os socialistas brasileiros em “O Lampião da Esquina” (1978-1981). Revista Estudos Feministas, v. 26, n. 3, e45989, 2018.; TOMAZ, 2015TOMAZ, R. Feminismo, maternidade e mídia: relações historicamente estreitas em revisão. Galáxia, n. 29, p. 155-166, 2015.); e três a Análise de Conteúdo (PANKE; IASULAITIS, 2016PANKE, L.; IASULAITIS, S. Mulheres no poder: aspectos sobre o discurso feminino nas campanhas eleitorais. Opinião Pública, v. 22, n. 2, p. 385-417, 2016.; GABRIEL; FREITAS JÚNIOR, 2016; OLIVEIRA et al., 2016OLIVEIRA, R. N. G. et al. Limites e possibilidades de um jogo online para a construção de conhecimento de adolescentes sobre a sexualidade. Revista Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 8, p. 2383-2392, 2016.). Destacamos que a pesquisa de Cavalcante et al. (2016)CAVALCANTE, F. G. et al. Impactos de um documentário sobre o cotidiano de mães e filhos com deficiência: uma análise de cinedebates. Revista Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 10, p. 3071-3080, 2016. teve como base a Oficina de Trabalho Crítico-emancipatória (OTC). Esta atividade, em que participaram 23 adolescentes, foi filmada, teve as falas gravadas, transcritas e seu conteúdo final decodificado com a Análise de Conteúdo.

A pesquisa de Cogo (2017)COGO, D. Comunicação, migrações e gênero: famílias transnacionais, ativismos e usos de TICs. Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 40, n. 1, p. 177-193, 2017. mescla procedimentos para debater as inter-relações entre comunicação, gênero e migrações transnacionais – principalmente as latino-americanas. Ela usa o levantamento bibliográfico, pesquisas, o documentário Angel e entrevistas para

discutir dois eixos de estudos que focalizam o consumo e usos das Tecnologias da Comunicação e Informação (TICs) no marco das experiências migratórias e das relações de gênero (...) dinâmicas de gênero vinculadas ao consumo e usos de tecnologias nos processos de constituição e interação das chamadas famílias transnacionais (...) [e] apropriação das tecnologias em experiências de mobilização e ativismos em que se articulam gênero e migração

(COGO, 2017COGO, D. Comunicação, migrações e gênero: famílias transnacionais, ativismos e usos de TICs. Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 40, n. 1, p. 177-193, 2017., p. 178).

Os outros artigos fizeram uso de outras técnicas como: cinedebates (CAVALCANTE et al., 2016CAVALCANTE, F. G. et al. Impactos de um documentário sobre o cotidiano de mães e filhos com deficiência: uma análise de cinedebates. Revista Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 10, p. 3071-3080, 2016.), entrevista (HAMANN et al., 2013HAMANN, C. et al. Entre o público e o privado: discurso de mulheres em movimentos de grafite. Ex aequo, n. 28, p. 45-58, 2013.), entrevista semiestruturada e Análise de Discurso (PEREIRA; PONTES; RIBEIRO, 2015PEREIRA, E. G. B.; PONTES, V. S.; RIBEIRO, C. H. V. Revelações dos fotógrafos esportivos brasileiros sobre relações de gênero. Motricidade, v. 11, n. 1, p. 126-134, 2015.), estudo de caso (PASSOS, 2019PASSOS, J. O racismo, a moda, e a diversificação dos padrões de beleza: o exemplo de Iman, top model Somali dos anos 70/80. Revista Estudos Feministas, v. 27, n. 1, e58981, 2019.), etnografia (MELO; RIBEIRO, 2015MELO, C. O.; RIBEIRO, R. A performance arte que virou polvo: flutuando nas águas das artes em corporalidades híbridas e ininteligíveis. Revista Estudos Feministas, v. 23, n. 1, p. 239-248, 2015.), análise dos contratos comunicacionais de Charaudeau (RIZZOTTO, 2014RIZZOTTO, C. C. Discursa, Lola, discursa: estratégias discursivas de um blog feminista. Galáxia, v. 14, n. 28, p. 248-261, 2014.), classificação de vídeos com o software WebQDA (SO et al., 2016SO, K. N. S. et al. Vídeos institucionais podem contribuir ao debate para o enfrentamento da violência doméstica infantil? Revista Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 8, p. 2347-2356, 2016.), Mapa das Mediações Comunicativas da Cultura de Martín-Barbero (ESCOSTEGUY; SIFUENTES; BIANCHINI, 2017ESCOSTEGUY, A. C. D.; SIFUENTES, L.; BIANCHINI, A. Mulheres rurais e seus usos mediados das TICs: tensionamentos e permanências nas relações de gênero. Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 40, n. 1, p. 195-211, 2017.).

Quanto aos objetos analisados (quinta categoria) (Gráfico 3), apenas três tipos apareceram em mais de um artigo. É o caso do jornal impresso presente nas pesquisas de Moretti-Pires, Tesser Júnior e Kovaleski (2018)MORETTI-PIRES, R. O.; TESSER JUNIOR, Z. C.; KOVALESKI, D. F. Homofobia e os socialistas brasileiros em “O Lampião da Esquina” (1978-1981). Revista Estudos Feministas, v. 26, n. 3, e45989, 2018. e Gabriel e Freitas Júnior (2016)GABRIEL, B. J.; FREITAS JUNIOR, M. A. O discurso acerca da seleção brasileira presente na Folha de S.Paulo durante o ano de realização da “Germany World Cup”. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 30, n. 2, p. 371-383, jun. 2016.; de produções visuais (vídeos institucionais e um documentário, respectivamente) em Cavalcante et al. (2016)CAVALCANTE, F. G. et al. Impactos de um documentário sobre o cotidiano de mães e filhos com deficiência: uma análise de cinedebates. Revista Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 10, p. 3071-3080, 2016. e So et al. (2016)SO, K. N. S. et al. Vídeos institucionais podem contribuir ao debate para o enfrentamento da violência doméstica infantil? Revista Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 8, p. 2347-2356, 2016., ambas publicadas na Ciência & Saúde Coletiva; e das Tecnologias da Comunicação e Informação (TICs) em Cogo (2017)COGO, D. Comunicação, migrações e gênero: famílias transnacionais, ativismos e usos de TICs. Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 40, n. 1, p. 177-193, 2017. e Escosteguy, Sifuentes e Bianchini (2017)ESCOSTEGUY, A. C. D.; SIFUENTES, L.; BIANCHINI, A. Mulheres rurais e seus usos mediados das TICs: tensionamentos e permanências nas relações de gênero. Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 40, n. 1, p. 195-211, 2017., ambas publicadas na Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação.

Gráfico 3
Temática e objetos analisados nos artigos do corpus

Os outros artigos analisam o jogo Papo Reto (OLIVEIRA et al., 2016OLIVEIRA, R. N. G. et al. Limites e possibilidades de um jogo online para a construção de conhecimento de adolescentes sobre a sexualidade. Revista Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 8, p. 2383-2392, 2016.); o livro autobiográfico da modelo Iman (PASSOS, 2019PASSOS, J. O racismo, a moda, e a diversificação dos padrões de beleza: o exemplo de Iman, top model Somali dos anos 70/80. Revista Estudos Feministas, v. 27, n. 1, e58981, 2019.); spots eleitorais na propaganda de televisão (PANKE; IASULAITIS, 2016PANKE, L.; IASULAITIS, S. Mulheres no poder: aspectos sobre o discurso feminino nas campanhas eleitorais. Opinião Pública, v. 22, n. 2, p. 385-417, 2016.); empresas de jornalismo (LELO, 2019LELO, T. V. A feminização do jornalismo sob a ótica das desigualdades de gênero. Revista Estudos Feministas, v. 27, n. 2, e54225, 2019.); produções acadêmicas no Portal de Periódicos da Capes, no Google Acadêmico e no Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal com as palavras “mídia” e “maternidade” (TOMAZ, 2015TOMAZ, R. Feminismo, maternidade e mídia: relações historicamente estreitas em revisão. Galáxia, n. 29, p. 155-166, 2015.); a performance arte (MELO; RIBEIRO, 2015MELO, C. O.; RIBEIRO, R. A performance arte que virou polvo: flutuando nas águas das artes em corporalidades híbridas e ininteligíveis. Revista Estudos Feministas, v. 23, n. 1, p. 239-248, 2015.); os critérios adotados por fotógrafos no registro esportivo de homens e mulheres (PEREIRA; PONTES; RIBEIRO, 2015PEREIRA, E. G. B.; PONTES, V. S.; RIBEIRO, C. H. V. Revelações dos fotógrafos esportivos brasileiros sobre relações de gênero. Motricidade, v. 11, n. 1, p. 126-134, 2015.); as postagens do blog feminista Escreva Lola Escreva (RIZZOTTO, 2014RIZZOTTO, C. C. Discursa, Lola, discursa: estratégias discursivas de um blog feminista. Galáxia, v. 14, n. 28, p. 248-261, 2014.) e as ocupações de Street Art (HAMANN et al., 2013HAMANN, C. et al. Entre o público e o privado: discurso de mulheres em movimentos de grafite. Ex aequo, n. 28, p. 45-58, 2013.).

Quanto às temáticas de análise dos artigos, a maioria deles aborda a questão da discriminação de gênero (26,7%). Em segundo lugar, estão os tópicos de trabalho e sexualidade (20% cada). O tema da maternidade e cuidados com a infância aparece em terceiro lugar (13,3%). E, por último, estão as temáticas de migração, raça e etnia, e violência que não de gênero (6,7% cada).

Para a análise das autorias citadas nas referências dos artigos, decidimos utilizar os dados bibliométricos e o software Gephi. Para isso, transformamos cada nome de autor/a e co-autor/a das referências em uma variável (nó) e geramos a rede de autorias citadas (Gráfico 4). Escolhemos este caminho, pois ele proporciona identificar visualmente as autorias mais citadas, mas também a relação de citações dentro do campo estudado.

Gráfico 4
Rede de autorias citadas nas referências do corpus

A autora mais citada nas referências dos trabalhos foi Joan Scott, seguida de Judith Butler. O texto de Scott (1991)SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Revista Educação e realidade, v. 20, n. 2, p. 71-99, 1991. referenciado nos quatro artigos é “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”, em diferentes versões, uma em inglês e duas traduções diferentes. Nele, Scott propõe que o gênero seja uma categoria analítica, a partir das práticas feministas e sua obra se torna referência para estudos seguintes. A partir de sua obra, passou-se a implementar em pesquisas acadêmicas a compreensão do gênero como uma forma inicial das relações sociais de poder e de dominação, que se baseia nas diferenças percebidas entre os sexos.

J. Butler (2012)BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. é mencionada em três artigos, todos citam seu livro “Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade”, a versão em inglês e duas edições da tradução feita pela editora Civilização Brasileira. Na obra, a autora problematiza a ideia de que o sexo é natural e o gênero é socialmente constituído, desmontando a dualidade sexo/gênero. Melo e Ribeiro (2015)MELO, C. O.; RIBEIRO, R. A performance arte que virou polvo: flutuando nas águas das artes em corporalidades híbridas e ininteligíveis. Revista Estudos Feministas, v. 23, n. 1, p. 239-248, 2015. também citam o capítulo de Butler (2000)BUTLER, J. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: LOURO, G. L. (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 153-172., “Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do ‘sexo’”, no livro de Guacira Lopes Louro, intitulado “O corpo educado: pedagogias da sexualidade”.

As outras autorias presentes no gráfico aparecem em dois artigos: Ana Escosteguy, Jorge Knijnik, Katia Rubio, Maria Minayo, Mauro Betti, Rosa Fonseca e Sivana Goellner. É válido ressaltar que destas autoras e autores, quatro encontram-se nos dois artigos que abordam a área do esporte (PEREIRA; PONTES; RIBEIRO, 2015PEREIRA, E. G. B.; PONTES, V. S.; RIBEIRO, C. H. V. Revelações dos fotógrafos esportivos brasileiros sobre relações de gênero. Motricidade, v. 11, n. 1, p. 126-134, 2015.; GABRIEL; FREITAS JÚNIOR, 2016GABRIEL, B. J.; FREITAS JUNIOR, M. A. O discurso acerca da seleção brasileira presente na Folha de S.Paulo durante o ano de realização da “Germany World Cup”. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 30, n. 2, p. 371-383, jun. 2016.). Mauro Betti escreve sobre a relação da mídia com o esporte, políticas, televisão e entretenimento, não tendo como foco a questão de gênero. Já os trabalhos de Jorge Knijnik, Katia Rubio e Silvana Goellner têm como foco a relação do esporte com gênero, a participação de mulheres, masculinidades, feminilidades, e a cobertura da mídia sobre essas temáticas. Ana Escosteguy aparece nos artigos de Cogo (2017)COGO, D. Comunicação, migrações e gênero: famílias transnacionais, ativismos e usos de TICs. Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 40, n. 1, p. 177-193, 2017. e Tomaz (2015)TOMAZ, R. Feminismo, maternidade e mídia: relações historicamente estreitas em revisão. Galáxia, n. 29, p. 155-166, 2015. com trabalhos sobre comunicação e sua relação com gênero, maternidade e o uso de tecnologias por famílias de agricultores.

As autoras Maria Minayo e Rosa Fonseca são citadas nos artigos de So et al. (2016)SO, K. N. S. et al. Vídeos institucionais podem contribuir ao debate para o enfrentamento da violência doméstica infantil? Revista Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 8, p. 2347-2356, 2016. e Oliveira et al. (2016)OLIVEIRA, R. N. G. et al. Limites e possibilidades de um jogo online para a construção de conhecimento de adolescentes sobre a sexualidade. Revista Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 8, p. 2383-2392, 2016.. O primeiro analisa a contribuição de vídeos institucionais no enfrentamento da violência doméstica infantil e o segundo um jogo online para trabalhar a temática da sexualidade com adolescentes. Maria Minayo tem dois artigos citados, “Violência e saúde como campo interdisciplinar e de ação coletiva” e “O desafio do conhecimento. Pesquisa qualitativa em saúde”. Rosa Fonseca soma sete produções citadas como autora ou coautora. Sua maior parceria acontece em quatro artigos com Emiko Y. Egry e em três artigos com Maíra R. Apostólico. Estes artigos debatem sob a ótica do gênero a violência contra crianças e/ou adolescentes, sexualidade e contribuições da técnica de OTC.

A análise qualitativa e os dados apresentados aqui mostram que há uma diversidade de áreas e assuntos abordados pelos artigos que estão no escopo dos temas da quarta onda feminista, mas que também trazem questões anteriores do movimento feminista relativas às assimetrias de gênero na sociedade. Caso dos debates sobre as mulheres nos espaços de poder institucionalizados (primeira onda), a relação entre o público e o privado (segunda onda) e a interseccionalidade (terceira onda).

Os temas das ondas feministas anteriores permanecem na quarta onda, principalmente de forma interseccional, como vemos nos textos analisados que apresentam as diversas formas de violência de gênero (assédio sexual, stalking e tráfico de pessoas); as relações entre gênero, raça e etnia (racismo e padrões de beleza, fluxos de migrações transnacionais e a hipersexualização das mulheres migrantes); questões relativas à população LGBT+ (representação do gênero não binário e LGBTQ nas migrações); maternidade (mães de crianças com deficiência); preconceito religioso; e as assimetrias e a desigualdade salarial no mercado de trabalho.

Mesmo que alguns artigos não tratem especificamente do feminismo, os assuntos que abordam fazem parte das pautas feministas contemporâneas. Embora a quarta onda feminista seja marcada por uma pluralidade de temas em suas pautas e se assuma interseccional, ela dá ênfase nas questões das violências de gênero, dentre elas a questão do feminicídio e do assédio sexual (DRUMMOND, 2020DRUMMOND, D. A quarta onda do movimento feminista no jornalismo brasileiro e português: Um estudo sobre as coberturas jornalísticas da Folha de S.Paulo e do Público (2013-2018). 2020. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Universidade Federal do Paraná, 2020.). Dos textos analisados, alguns mesclam gênero e deficiência, ou gênero e estatuto migratório, ou racismos no mundo da moda e embora não utilizem o termo, tratam de questões interseccionais.

Considerações finais

De maneira geral, os dados da Web of Science demonstram que houve um aumento significativo da produção acadêmica no que toca às temáticas de gênero e comunicação de 1975 a 2019. Neste artigo, em específico, observamos as publicações da base de dados da SciELO de 2013 a 2019, escritos em língua portuguesa, do campo das Ciências Sociais, das áreas de Comunicação, Estudos de Mulheres e Estudos Culturais.

Os dados apresentados da análise feita a partir das variáveis definidas pela nossa Análise de Conteúdo qualitativa (perspectivas teóricas e metodológicas; objetos e/ou sujeitos de análise, etc.) apresentaram um panorama interessante. Verificamos nos 15 artigos elegidos para a análise qualitativa que 11 fazem menção aos estudos de gênero e/ou pautas relacionadas e somente quatro foram classificados com uma abordagem feminista, sendo que metade adotou uma perspectiva pós-colonial e a outra metade pós-estruturalista/pós-moderna.

Percebemos que embora a maioria dos textos não mencione a palavra “feminista” e suas derivações, todos tratam de temas das pautas que podemos classificar como do feminismo da quarta onda. Principalmente pelo enfoque dado à interseccionalidade, às questões do corpo das mulheres ou à violência de gênero. Também verificamos uma maior publicação dos textos a partir de 2013, período que marca o início da chamada nova onda feminista e do início das manifestações das Jornadas de Junho do Brasil. Isso reflete a preocupação maior com as questões de gênero a partir desse momento, inflamadas pelas medidas conservadoras que estavam acontecendo no país.

Observamos que esses estudos utilizam como referência especialmente a perspectiva de Scott (1991)SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Revista Educação e realidade, v. 20, n. 2, p. 71-99, 1991., seguida de Butler (2012)BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012., o que mostra a relevância dada a esses estudos como marcos para os estudos de gênero. Mas aqui, enfatizamos que mesmo com todo o histórico do feminismo e seu avanço, muitos textos com uma abordagem feminista não mencionam o termo “feminismo” ou uma de suas variações, tratando apenas como questões de gênero – o que pode demonstrar ainda um estigma com o uso da palavra na academia.

Quanto às citações de uma mesma referência em mais de um trabalho, destacamos que por um lado isto mostra que existe um diálogo pequeno dentro de algumas áreas (Esporte, Comunicação e Saúde) e, por outro, evidencia a falta de diálogo que prevalece no conjunto do nosso corpus, mesmo todos apresentando pesquisas sobre as temáticas de gênero e comunicação. Isso nos faz questionar se este padrão se estende para todo o campo dos estudos de gênero e comunicação e mostra a necessidade de mais pesquisas que incorporem outras bases de dados e outros tipos de produção científica.

Nesse sentido, ressaltamos as possibilidades e limitações que a técnica de coleta de dados inspirada na revisão sistemática apresenta. Referente às potencialidades, esta forma de realizar a pesquisa não só permite agregar um número maior de resultados relevantes, como também viabiliza uma síntese dos estudos sobre o tema, auxiliando no processo de atualização sobre a temática para pesquisadoras/es e na percepção das temáticas dentro de uma cultura científica específica. Ela pode produzir panoramas dos estudos de uma área ou temática em âmbito global, ou então a comparação entre a produção mundial e outros recortes, como é o caso da SciELO, que permite acesso livre às produções do Sul global e de língua portuguesa. Quanto aos limites, destacamos às relativas aos filtros estabelecidos nas etapas de elegibilidade do corpus. Não apenas relacionados às palavras-chave ou ao campo onde serão pesquisadas que podem excluir trabalhos importantes, mas também na definição por uma base de dados específica. Exemplo da nossa pesquisa, de que algumas revistas da área de Comunicação Social do Brasil e de áreas correlatas não estão indexadas na SciELO.

Por fim, enfatizamos que esta pesquisa não se encerra aqui. Outras variáveis podem ser definidas, como por exemplo, conceitos mais usados no que tange a pesquisa de gênero; gênero e origem da autoria dos artigos para definir quem pesquisa sobre esse assunto. E, ainda, é possível também explorar a produção na América Latina utilizando para além do português, a língua espanhola.

  • 1
    Utilizamos a denominação de ondas para os períodos do movimento feminista como uma forma didática de tentar manter uma cronologia convencionada pela historiografia oficial que ainda se mantém prevalente. Entretanto, reconhecemos que essa classificação tenta periodizar os acontecimentos, mas apresenta lacunas, já que considera esse processo histórico como linear quando na verdade não é, além de destacar a dificuldade em tratar o movimento feminista como plural, em como contar as histórias dos feminismos, valorizando suas narrativas, suas vozes e a luta pelos processos de direitos e acessos que são diferentes de acordo com as questões interseccionais como raça, etnia, classe social, entre outros aspectos. Em resumo, esta classificação entende a primeira onda entre o final do século XIX até a metade do século XX, tendo como característica a luta por direito ao voto, condições de trabalho e educação; a segunda de 1960 a 1980, com o slogan “O pessoal é político”, que representa a luta contra a organização social que reserva às pessoas, papéis e lugares naturalizados e hierarquizados de acordo com seu sexo (público x privado); a terceira inicia-se no final dos anos 1980 e aborda as teorias de gênero e o pós-feminismo questionando o conceito de mulher como homogêneo e tratando as mulheres como indivíduos com experiências de vida distintas, que sofrem diferentes tipos de opressão relacionados às questões de classe, raça, diversidade sexual entre outras (interseccionalidade).
  • 2
    Além dos países africanos como Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné Bissau, Guiné Equatorial e São Tomé e Príncipe, o Brasil é o maior país que fala a língua portuguesa, herança da colonização de Portugal,.
  • 3
    String de busca: Tópico: (gender AND communication). Refinos: Anos de publicação: (2019 OR 2018 OR 2017 OR 2016 OR 2015 OR 2014 OR 2013) AND Bases de dados: (SciELO) AND Domínios de pesquisa: (Social Sciences) AND Tipos de documento: (Article) AND Idiomas: (Portuguese) AND Áreas de pesquisa: (Communication AND Women’s Studies AND Cultural Studies). Resultados: Tópico, 20.714. Anos de publicação, 11.256; Bases de dados, 334; Domínios de pesquisa, 246; Tipos de documento, 243; Idioma, 71; Áreas de pesquisa, 33.
  • 4
    Decidimos reproduzir a sigla utilizada em cada artigo e não definir um padrão para se referir às pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexuais, queer e demais identidades de gênero, orientações sexuais e entendimentos de sexualidade existentes.

Financiamento

  • Pesquisa financiada com auxílio do Edital Universal do CNPq (CNPq/MCTI/FNDCT Nº 18/2021 e Finance Cod. 0001) e Bolsa Pós-Doc Nota 10 da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa no Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), processo E-26/204.330/2021-BOLSA.

Disponibilidade de dados

Os dados que suportam a pesquisa estão contidos no artigo e/ou material suplementar. O seguinte material suplementar está disponível online: Livro de códigos.

https://minio.scielo.br/documentstore/1980-3508/fbSbvrvvfJQgbCpHrZDhKGf/c17f88b05a0af3303527eaa7045569be82d28c2c.pdf

Referências

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  • BUTLER, J. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: LOURO, G. L. (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 153-172.
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Editado por

Editora responsável: Maria Ataide Malcher
Assistente editorial: Weverton Raiol

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Out 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    30 Set 2021
  • Aceito
    08 Jun 2023
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