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SITUAÇÃO PÓS-ADOÇÃO DOS ANIMAIS ADOTADOS JUNTO A UMA ONG DE PROTEÇÃO ANIMAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

THE CURRENT SITUATION OF PETS ADOPTED FROM AN ANIMAL PROTECTION NGO IN THE STATE OF RIO DE JANEIRO

Resumo

Este trabalho objetivou analisar a situação dos animais adotados junto a uma ONG fluminense. Foi selecionada uma amostra de conveniência de 50 animais e os adotantes responderam a questionário cujos dados obtidos foram analisados com técnicas de estatística descritiva. De modo geral os adotantes eram casados, sexo feminino, idade variável, nível superior, renda alta, não se guiaram pela raça dos animais e adotaram principalmente mais jovens. As adoções não se deram em função da interação dos animais com idosos e crianças, os adotantes já dispunham de outro animal, os adotados passaram a residir em imóveis residenciais e o principal motivo para a adoção foi a pena. Princípios de guarda responsável eram seguidos, com alta proporção de animais castrados, predomínio de alimentação com ração, boa cobertura vacinal e desverminação periódica. Como pontos negativos temos o predomínio de animais com acesso livre às ruas, deficiência no acompanhamento veterinário e ausência de dispositivo de identificação. Houve grande vínculo dos adotantes com os animais, com alto índice de permanência, pouca dificuldade na lida e alto grau de satisfação. Esse quadro demonstra que a estratégia da adoção foi eficiente e pode trazer bons resultados no controle da densidade populacional de animais, especialmente se aliada a outras estratégias.

Palavras-chave:
animal não domiciliado; adoção; controle populacional

Abstract

This essay aims at analyzing the situation of pets after adoption from an NGO in the State of Rio de Janeiro. A sample of 50 pets was selected, and adopters answered a questionnaire whose data was analyzed by using descriptive statistical techniques. In general, adopters were comprised of married women of different ages, with university degree and high income. They were not lead by the pets’ breed and adopted particularly the youngest ones. Adoptions did not take place aiming an interaction between pets and the elderly or children. Adopters already had another pet, and the adopted pets started to live at residential properties. We realized that compassion was the key reason for adoption. Responsible guardianship principles were followed and a high percentage of pets had been neutered. They were feed predominantly with pet food. Good vaccination and frequent deworming practices were in place. As prevailing negative aspects we noticed that animals had free access to the streets, did not receive adequate veterinary care and were not wearing identification tags. Adopters were very attached to their pets. There was a high rate of stay, little difficulty in dealing with the pets and high satisfaction level. This scenario shows us that the adoption strategy has been effective and may bring good results to the control of animal population density, especially if combined with other strategies.

Keywords:
stray animal; adoption; population control

Introdução

A relação de proximidade dos humanos com os cães data do Neolítico e, atualmente, a sociedade vem passando por mudanças drásticas em sua conformação, fazendo com que haja redução do tamanho das famílias e, consequentemente, o aumento da aquisição de cães e gatos em busca de afetividade(11 Silva MHS, Silva JA, Magalhães DF, Silva MX, Meneses JNC, Moreira EC. Caracterização demográfica e epidemiológica de cães e gatos domiciliados em Barbacena, MG. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia. 2010;62(4):1001-1006.). Ao mesmo tempo, a maioria dos municípios brasileiros vêm enfrentando problemas relacionados à proliferação de animais não domiciliados(22 Vieira AML, Almeida AB, MagnaboscoC,Ferreira JCP, Luna SLP, Carvalho JLB, Gomes LH, Paranhos NT, Reichmann ML, Garcia RC, Nunes VFP, Cabral VB. Programa de controle de cães e gatos do Estado de São Paulo. BEPA [periódico na Internet]. 2006;3(25). [cited 2012 Fev 22]. Disponível em http://www.cve.saude.sp.gov.br/agencia/bepa25_rg7caes.htm.
http://www.cve.saude.sp.gov.br/agencia/b...
) ocasionados pelos baixos níveis educacionais e a carência de saneamento.

Na atualidade, o controle populacional se faz necessário por questões relacionadas à saúde coletiva, ao bem-estar animal e à ordem urbana. A grande quantidade de cães soltos nas ruas pode provocar acidentes de trânsito, destruição dos patrimônios público e privado, maus-tratos contra estes animais, doenças transmissíveis e agressões a pessoas(33 Reichmann MLAB, Figueiredo ACC, Pinto HBF, Nunes VFP. Controle de populações de animais de estimação. São Paulo: Instituo Pasteur, 2000. 2009 [cited 2014 Jun 05]. Disponível em http://www.saude.sp.gov.br/resources/instituto-pasteur/pdf/manuais/manual_06.pdf.
http://www.saude.sp.gov.br/resources/ins...
).

A utilização da eutanásia como estratégia de controle populacional de cães e gatos é proibida no Estado do Rio de Janeiro, sendo previstos os programas de esterilização permanentes(44 Rio de Janeiro. Lei nº 4.808 de 04 de julho de 2006. Dispõe sobre a criação, a propriedade, a posse, a guarda, o uso, o transporte e a presença temporária ou permanente de cães e gatos no âmbito do estado do Rio de Janeiro. [cited 2010 Jul 24]. Disponível em http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/contLei.nsf/c8aa0900025feef6032564ec0060dfff/6628191723549496832571a8005e8896?opendocument.
http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/contLei....
). Diversos municípios brasileiros já adotaram a esterilização como estratégia de controle, em estados como São Paulo(55 Bortoloti R; D’agostino RG. Ações pelo controle reprodutivo e posse responsável de animais domésticos interpretadas à luz do conceito de metacontingência. Revista brasileira de análise do comportamento. 2007;3(1):17-28.), Rio de Janeiro(55 Bortoloti R; D’agostino RG. Ações pelo controle reprodutivo e posse responsável de animais domésticos interpretadas à luz do conceito de metacontingência. Revista brasileira de análise do comportamento. 2007;3(1):17-28.,66 Dilly BLG; Costa Júnior NB; Freitas RB; Frasceschini EM. Tratamento dado ao problema de abandono de cães na UNICAMP. Revista Ciências do Ambiente On-line, v. 5, n. 1, ago, 2005. Disponível em http://sistemas.ib.unicamp.br/be310/viewarticle.php?id=27. Acesso: 13 de outubro de 2009.
http://sistemas.ib.unicamp.br/be310/view...
) e Minas Gerais(77 Gomes NSC. Uma perspectiva da construção dos direitos da fauna doméstica do município de Belo Horizonte - MG. Revista Brasileira de Direito Animal. 2010; 5(7):285-305.).

A adoção de animais abandonados também é uma estratégia de controle populacional, mas muitas vezes a adoção alcança um quantitativo muito aquém da necessidade real, como em Ibiúna-SP, em que num período de oito meses somente 10,2% dos animais postos para adoção pelo centro de controle de zoonoses foram adotados(88 Soto FRM; de Souza AJ, Risseto MR; Lima BFMS. Adoção de cães no município de Ibiúna - SP - Brasil: análise crítica. Revista Ciência em Extensão. 2006;3(1):26.).

As Organizações Não Governamentais (ONG) de proteção animal têm grande destaque ao pressionarem o governo e desenvolverem ações como a manutenção de abrigos de animais e campanhas de adoção de animais abandonados(99 Soares, P. O papel da informação em entidades de proteção animal. Estudo de caso: Instituto Nina Rosa. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Biblioteconomia e Documentação). Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: USP, 2006. 93 p.). Pesquisa realizada por Moutinho et al.(1010 Moutinho FFB; Nascimento ER; Paixão RL. Percepção da sociedade sobre a qualidade de vida e o controle populacional de cães não domiciliados. Revista Ciência Animal Brasileira. 2015;16(4):574-588.) demonstrou que boa parte dos gestores de serviços municipais de controle de zoonoses do Estado do Rio de Janeiro afirmavam que as ONG eram importantes para o controle populacional dos animais. Historicamente, nos municípios que têm ações de controle populacional, as ONG são importantes, atuando isoladamente ou em parceira com o Poder Público(1111 Castro MS. A evolução dos direitos animais em Florianópolis. Revista Santa Catarina em História. 2011;5(2):103-116.,1212 Lui JF, Toniollo GH, Savi PAP, Voorwald FA, Silva MAM, Tosta PA. Esterilização cirúrgica de caninos e felinos em Jaboticabal. Interação entre o benefício social e a pesquisa científica. Revista Ciência em Extensão. 2011;7(2):33.,1313 Souza MFA. Controle de populações caninas: considerações técnicas e éticas. Revista Brasileira de Direito Animal. 2011;8(6):115-133.).

No Estado do Rio de Janeiro, a Lei nº 4.808/2006 define responsabilidades aos proprietários destes animais que envolvem questões de saúde e bem-estar4. Mas diversos estudos vêm demonstrando que os proprietários de animais de companhia não desenvolvem a guarda responsável de seus animais(1414 Carvalho AAB, Grisólio APR, Bueno GM, Testi AJP, Martins MC, Portela LC, Servidone JS, Nunes JOR. Caracterização da população de cães e gatos e avaliação do nível de conhecimento dos moradores sobre zoonoses e posse responsável de animais de estimação em bairros do município de Jaboticabal / SP. Revista Ciência em Extensão. 2011;7(2):158-159.,1515 Langoni H, Troncarelli MZ, Rodrigues EC, Nunes HRC, Harumi V, Henriques MV, Silva KM, Shimono JY. Conhecimento da população de Botucatu - SP sobre Guarda Responsável de cães e gatos. Veterinária e Zootecnia. 2011;18(2):297-305.,1616 Netto LC; de Faria Lima F; Perri SHV; de Koivisto MB; Bresciani KDS. Programa de conscientização de idosos sobre posse responsável de animais de estimação em bairro periférico do município de Araçatuba, SP. Revista Ciência em Extensão. 2011;7(2):102-109.).

Garcia et al.(1717 Garcia RCM, Maldonado NAC, Lombardi A. Controle populacional de cães e gatos. Ciências veterinárias nos trópicos; 2008;11(1):106-110.) consideram o destino dos animais não domiciliados um ponto de estrangulamento do controle populacional e destacam ser fundamental a educação dos novos proprietários de animais. A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) recomenda a adoção de animais com fomento da guarda responsável por parte dos adotantes, e a adoção de animais castrados(1818 Organização Internacional de Saúde Animal - OIE. Control de laspoblaciones de perros vagabundos. In: OIE. Código Sanitario para losAnimales Terrestres - 2016. 2016 [cited 2016 Set 27]. Disponível em:http://www.oie.int/es/normas-internacionales/codigo-terrestre/acceso-en-linea/.
http://www.oie.int/es/normas-internacion...
). Diversos estudos já vêm demonstrando o sucesso da adoção de animais domésticos(1919 Canatto BD, Silva EA, Bernardi F, Mendes MCNC, Paranhos NT, Dias RA. Caracterização demográfica das populações de cães e gatos supervisionados do município de São Paulo. Arquivos Brasileiros Medicina Veterinária e Zootecnia. 2012;64(6):1515-1523.,2020 Catapan DC; Junior JAV; Weber SH; Mangrich RMV; Szczypkovski AD; Catapan A; Pimpão CT. Percepção e atitudes do ser humano sobre guarda responsável, zoonoses, controle populacional e cães em vias públicas. Revista Brasileira de Ciência Veterinária. 2015;22(2)92-98.). Mais importante do que conhecer o quantitativo de animais adotados anualmente é conhecer a realidade desses animais adotados após o processo de adoção, prospectivamente. O presente trabalho objetivou fazer uma análise pós-adoção da situação dos animais adotados junto a uma organização não governamental de proteção animal para determinar se o processo de adoção tem sido eficiente, a médio e longo prazos e se são seguidos pelos adotantes os princípios de guarda responsável.

Material e Métodos

A pesquisa foi realizada com apoio de uma Organização Não Governamental (ONG) de proteção animal, atuante e localizada no município de Cachoeiras de Macacu-RJ. A partir da relação de adotantes de animais do período 2011 a 2015, fornecida pela ONG, foi levantado o quantitativo de caninos e felinos adotados, que foi de 171 animais. Destes foi selecionada uma amostra não probabilística por conveniência totalizando 50 animais, o que equivale a 29% do total de animais adotados.

Após a seleção, os adotantes foram contatados e responderam a um questionário estruturado, previamente testado, abordando os seguintes temas: perfil do animal adotado, perfil da família adotante, situação atual dos animais adotados, adoção de práticas de guarda responsável pelo adotante, grau de satisfação com o animal adotado e motivação que levou à adoção do animal. Antes da aplicação do questionário os respondentes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Os dados obtidos nestes questionários foram codificados, tabulados em planilhas do software Excel® e analisados com técnicas de estatística descritiva.

A pesquisa foi devidamente aprovada pelo Comitê de Ética na Pesquisa do Hospital Universitário Antônio Pedro (UFF), conforme parecer nº 1.210.160.

Resultados e Discussão

Na amostra selecionada havia 31 felinos e 19 caninos. No caso dos felinos houve leve predomínio de machos (54,8%) e no caso dos caninos houve um forte predomínio de fêmeas adotadas (79%). Apesar de diversos estudos apontarem para uma maior presença de machos nos lares brasileiros(2121 Alves MCGP, Matos MR, Reichmann ML, Dominguéz MH. Dimensionamento da população de cães e gatos do interior do Estado de São Paulo. Revista de Saúde Pública. 2005; 39(6):891-897.,88 Soto FRM; de Souza AJ, Risseto MR; Lima BFMS. Adoção de cães no município de Ibiúna - SP - Brasil: análise crítica. Revista Ciência em Extensão. 2006;3(1):26.,2222 Silvano D, Bendas AJR, Miranda MGN, Pinhão R, Mendes de Almeida F, Labarthe NV, Paiva JP. Divulgação dos princípios de guarda responsável: uma vertente possível no trabalho de pesquisa a campo. Revista Eletrônica Novo Enfoque. 2010;9(9):64-86.,2323 Weiss E; Miller K; Mohan-Gibbons H; Vela C. Why Did You Choose This Pet?: Adopters and Pet Selection Preferences in Five Animal Shelters in the United States.Animals. 2012;2(2):144-159.,2424 Azevedo CF; Costa Neto BM; Bezerra AC; Lima Júnior AR. Avaliação do bem estar de animais de companhia na comunidade da vila florestal em lagoa seca/PB. Archives of Veterinary Science. 2015;20(2):06-15.), tal resultado na presente pesquisa pode ser somente um reflexo do gênero dos animais disponibilizados para adoção.

Dos caninos adotados, 47,4% eram de porte grande (a partir de 50cm/ a partir de 25 kg), enquanto 26,3% eram de porte médio (de 36 até 49 cm/ entre 15 a 25kg exclusive) e 26,3% de porte pequeno (até 35 cm/ até 15 kg exclusive). Esses dados diferem dos obtidos por Posage et al.(2525 Posage, JM; Bartlett PC; Thomas DK..Determining factors for successful adoption of dogs from an animal shelter.J. Am. Vet. Med. Assoc. 1998;213(4):478-482.), que detectaram que cães de pequeno porte foram mais propensos à adoção em abrigo nos EUA, enquanto estudo conduzido por Paploski et al.(2626 Paploski IAD, Babboni SD, González GK, Giarola RM, Rodrigues SA, Cerqueira ATAR, Padovani CR, Victória C, Modolo JR. Características dos adotantes de cães na área urbana de Botucatu. Veterinária e Zootecnia. 2012;19(4):584-592.) mostrou que o porte não foi característica decisiva para a adoção, em Botucatu-SP. Cabe ressaltar mais uma vez que os resultados obtidos podem ser consequência dos animais disponíveis para adoção na ONG no período estudado e não somente resultado da preferência dos adotantes.

Dos animais adotados, a grande maioria, tanto no caso dos caninos quanto no de felinos, era de filhotes e jovens com menos de um ano de idade e o menor percentual envolveu os animais idosos, acima de cinco anos (Figura 1). Esses dados diferem daqueles encontrados em pesquisa conduzida por Weiss et al.(2323 Weiss E; Miller K; Mohan-Gibbons H; Vela C. Why Did You Choose This Pet?: Adopters and Pet Selection Preferences in Five Animal Shelters in the United States.Animals. 2012;2(2):144-159.) nos EUA, cujos adotantes demonstraram preferência por adoção de animais idosos nos abrigos.

Figura 1
Idade dos animais (caninos e felinos) adotados no período 2011-2015. Cachoeiras de Macacu-RJ.

Apenas dois felinos (6,4%) e três caninos (15,8%) eram portadores de necessidades especiais. Ainda que não tenham sido encontrados artigos que comprovem isso, acredita-se que animais portadores de necessidades especiais, tenham mais dificuldade para serem adotados.

Do total de animais adotados analisados, 84% eram castrados, sendo 79% dos caninos e 87,1% dos felinos, com a castração ocorrendo logo após o processo de adoção na maior parte em ambas as espécies. Somente 28% já foram adotados castrados (31,6% dos caninos e 25,8% dos felinos). Ao contrário do encontrado no presente estudo, diversas pesquisas vêm mostrando pequena proporção de animais domésticos castrados(1515 Langoni H, Troncarelli MZ, Rodrigues EC, Nunes HRC, Harumi V, Henriques MV, Silva KM, Shimono JY. Conhecimento da população de Botucatu - SP sobre Guarda Responsável de cães e gatos. Veterinária e Zootecnia. 2011;18(2):297-305.,2727 Loss LD; Mussi JMS; Mello INK;Leão MS;Franque MP. Posse responsável e conduta de proprietários de cães no município de Alegre-ES. Acta VeterinariaBrasilica. 2012;6(2):105-111.,2828 De Carli CB; Novais AA. Guarda responsável de cães e gatos do Município de Sinop / MT: estudo descritivo. Sci. Elec. Arch. 2015;8(1):26-30.,2929 Domingues LR; Cesar JÁ; Fassa AG; Domingues MR.Guarda responsável de animais de estimação na área urbana do município de Pelotas, RS, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva. 2015;20(1):185-192.,3030 Cardoso DP; Oliveira RP; Sousa Estrela D; Saraiva LA; Farias MPO; Silva PO. Perfil dos tutores de cão e gato no município de Bom Jesus - PI. Pubvet. 2016;10(8):580-586.). Apesar disso, e concordando com os resultados encontrados, diversos estudos vêm demonstrando uma maior preocupação dos proprietários de gatos em relação à castração de seus animais(3131 Patronek GJ; Beck AM; Glickman LT. Dynamics of dog and cat populations in a community. J. Am. Vet. Med. Assoc. 1997;210(5):637-642.,1515 Langoni H, Troncarelli MZ, Rodrigues EC, Nunes HRC, Harumi V, Henriques MV, Silva KM, Shimono JY. Conhecimento da população de Botucatu - SP sobre Guarda Responsável de cães e gatos. Veterinária e Zootecnia. 2011;18(2):297-305.,2020 Catapan DC; Junior JAV; Weber SH; Mangrich RMV; Szczypkovski AD; Catapan A; Pimpão CT. Percepção e atitudes do ser humano sobre guarda responsável, zoonoses, controle populacional e cães em vias públicas. Revista Brasileira de Ciência Veterinária. 2015;22(2)92-98.). A esterilização dos animais é uma das principais estratégias para evitar o abandono e consequente superpopulação de animais não domiciliados. Em não havendo importação de animais de outras áreas, a esterilização contínua permitiria, a longo prazo, a estabilidade e posterior redução da densidade populacional(3232 Amaku M; Dias RA; Ferreira F. Dinâmica populacional canina: potenciais efeitos de campanhas de esterilização. Rev Panam Salud Publica. 2009;25(4):300-4.). De acordo com Patronek et al.(3131 Patronek GJ; Beck AM; Glickman LT. Dynamics of dog and cat populations in a community. J. Am. Vet. Med. Assoc. 1997;210(5):637-642.) o principal fator para a não castração dos animais era o custo da cirurgia, daí a importância dos projetos de castração gratuita ou subsidiada.

Houve predomínio de casados como adotantes (62,4%). No caso dos caninos estes representaram 70%, enquanto que felinos foram 50%. O maior percentual de adotantes foi de indivíduos do sexo feminino (75%), com 70% no caso de caninos e 83,3% no caso dos felinos (Tabela 1). Esses resultados estão de acordo com os encontrados com Paploski et al.(2626 Paploski IAD, Babboni SD, González GK, Giarola RM, Rodrigues SA, Cerqueira ATAR, Padovani CR, Victória C, Modolo JR. Características dos adotantes de cães na área urbana de Botucatu. Veterinária e Zootecnia. 2012;19(4):584-592.) no qual 55% dos adotantes entrevistados eram do sexo feminino e 79,3% residia com o companheiro. Ambas as pesquisas refutam o paradigma de predomínio de adotantes solitários em busca de companhia.

Tabela 1
Perfil socioeconômico dos adotantes de caninos e felinos no período 2011-2015 em Cachoeiras de Macacu-RJ

A idade dos adotantes foi muito variável e as faixas etárias que se destacaram foram de 30 a 34 e 75 a 79 anos, com 18,8% cada. No caso dos caninos destacou-se a faixa etária de 35 a 39 anos, com 30% dos adotantes, e no caso de felinos destacou-se a faixa etária de 75 a 79 anos. Importante destacar que não houve adotantes com menos de 24 anos, entre 40 e 49 anos, 55 a 59 anos, 65 a 69 anos e maiores de 80 anos (Tabela 1). Os resultados se aproximam dos encontrados na pesquisa desenvolvida por Paploski et al.(2626 Paploski IAD, Babboni SD, González GK, Giarola RM, Rodrigues SA, Cerqueira ATAR, Padovani CR, Victória C, Modolo JR. Características dos adotantes de cães na área urbana de Botucatu. Veterinária e Zootecnia. 2012;19(4):584-592.) em que a idade média foi de 39 anos (±14,4).

Houve predomínio de adotantes com nível superior, seguido de nível médio e com renda alta (acima de cinco salários mínimos mensais) (Tabela 1). Esses resultados de renda não coadunam com os encontrados por Paploski et al.(2626 Paploski IAD, Babboni SD, González GK, Giarola RM, Rodrigues SA, Cerqueira ATAR, Padovani CR, Victória C, Modolo JR. Características dos adotantes de cães na área urbana de Botucatu. Veterinária e Zootecnia. 2012;19(4):584-592.), que encontraram renda média mensal menor entre os adotantes. Frank(3333 Frank AC. Semelhanças e diferenças entre adotar, comprar ou ganhar um cão de companhia na cidade de São Paulo. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015, 106 p. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/10/10134/tde-28012016-143527/publico/ALICE_DE_CARVALHO_FRANK_Corrigida.pdf
http://www.teses.usp.br/teses/disponivei...
) encontrou associação da adoção de animais com menor renda e com menor escolaridade quando comparado com a compra de animais. Estudo de Domingues et al.(2929 Domingues LR; Cesar JÁ; Fassa AG; Domingues MR.Guarda responsável de animais de estimação na área urbana do município de Pelotas, RS, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva. 2015;20(1):185-192.) mostrou que a guarda responsável melhora com o aumento da escolaridade e, segundo Reichmann et al.(33 Reichmann MLAB, Figueiredo ACC, Pinto HBF, Nunes VFP. Controle de populações de animais de estimação. São Paulo: Instituo Pasteur, 2000. 2009 [cited 2014 Jun 05]. Disponível em http://www.saude.sp.gov.br/resources/instituto-pasteur/pdf/manuais/manual_06.pdf.
http://www.saude.sp.gov.br/resources/ins...
) a densidade populacional de animais domésticos é mais baixa nas classes sociais mais abastadas, que são exatamente aquelas com melhores condições econômicas para manter esses animais.

Na maior parte dos imóveis onde houve adoção de animais não havia idosos residindo (66%) e nem crianças (92%). Em nenhum imóvel onde houve adoção de felinos havia criança residindo. Esses dados mostram que os animais, de modo geral, não foram adotados no intuito de socializar e fazer companhia especificamente a crianças e idosos. Azevedo et al.(2424 Azevedo CF; Costa Neto BM; Bezerra AC; Lima Júnior AR. Avaliação do bem estar de animais de companhia na comunidade da vila florestal em lagoa seca/PB. Archives of Veterinary Science. 2015;20(2):06-15.) também constataram que somente 1,5% dos animais de companhia foram adquiridos para socializarem com crianças.

Houve predomínio de imóveis com quintal, terraço ou área externa (78%), tanto para caninos (89,5%) quanto para felinos (71%) (Tabela 2). Os resultados coadunam com os encontrados por Canatto et al.(1919 Canatto BD, Silva EA, Bernardi F, Mendes MCNC, Paranhos NT, Dias RA. Caracterização demográfica das populações de cães e gatos supervisionados do município de São Paulo. Arquivos Brasileiros Medicina Veterinária e Zootecnia. 2012;64(6):1515-1523.), nos quais houve forte predomínio de animais nas residências (mais de 96%) e pouquíssimos em empresas (menos de 3%).

Tabela 2
Perfil dos imóveis onde houve adoção de caninos e felinos no período 2011-2015 em Cachoeiras de Macacu-RJ

No caso dos caninos, o principal motivo da adoção foi a pena do animal, em todos os níveis educacionais, exceto para os pós-graduados, onde foi a companhia. Já no caso dos felinos também predominou a pena do animal em todos os níveis educacionais. (Figuras 2 e 3). Diversas pesquisas vêm demonstrando predomínio da companhia e da segurança como motivações para se ter um animal de estimação(3434 Silva FAN; Carvalho RL; Klein RP; Quessada AM. Posse responsável de cães no bairro Buenos Aires na cidade de Teresina (PI). ARS Veterinária. 2009;25(1):14-17.,2020 Catapan DC; Junior JAV; Weber SH; Mangrich RMV; Szczypkovski AD; Catapan A; Pimpão CT. Percepção e atitudes do ser humano sobre guarda responsável, zoonoses, controle populacional e cães em vias públicas. Revista Brasileira de Ciência Veterinária. 2015;22(2)92-98.,2828 De Carli CB; Novais AA. Guarda responsável de cães e gatos do Município de Sinop / MT: estudo descritivo. Sci. Elec. Arch. 2015;8(1):26-30.,3030 Cardoso DP; Oliveira RP; Sousa Estrela D; Saraiva LA; Farias MPO; Silva PO. Perfil dos tutores de cão e gato no município de Bom Jesus - PI. Pubvet. 2016;10(8):580-586.). Já diversos estudos vêm mostrando que o principal motivo para adoção de animais foi o fato dos adotantes gostarem de animais(88 Soto FRM; de Souza AJ, Risseto MR; Lima BFMS. Adoção de cães no município de Ibiúna - SP - Brasil: análise crítica. Revista Ciência em Extensão. 2006;3(1):26.,1919 Canatto BD, Silva EA, Bernardi F, Mendes MCNC, Paranhos NT, Dias RA. Caracterização demográfica das populações de cães e gatos supervisionados do município de São Paulo. Arquivos Brasileiros Medicina Veterinária e Zootecnia. 2012;64(6):1515-1523.,2424 Azevedo CF; Costa Neto BM; Bezerra AC; Lima Júnior AR. Avaliação do bem estar de animais de companhia na comunidade da vila florestal em lagoa seca/PB. Archives of Veterinary Science. 2015;20(2):06-15.). De modo geral, a afeição pelos animais, seja pelo fato de gostar deles e ter pena, seja pelo fato de querê-los como companhia são fatores que preponderam na opção por ter um animal de estimação.

Figura 2
Motivo de adoção de caninos no período 2011-2015, por nível educacional em Cachoeiras de Macacu-RJ

Figura 3
Motivo de adoção de felinos no período 2011-2015, por nível educacional em Cachoeiras de Macacu-RJ.

A semelhança com alguma raça só foi importante para um adotante de canino. Esse dado coaduna com os encontrados por Paploski et al.(2626 Paploski IAD, Babboni SD, González GK, Giarola RM, Rodrigues SA, Cerqueira ATAR, Padovani CR, Victória C, Modolo JR. Características dos adotantes de cães na área urbana de Botucatu. Veterinária e Zootecnia. 2012;19(4):584-592.), que constatou que 72,4% dos adotantes buscavam animais sem raça definida. Wiess et al.(2323 Weiss E; Miller K; Mohan-Gibbons H; Vela C. Why Did You Choose This Pet?: Adopters and Pet Selection Preferences in Five Animal Shelters in the United States.Animals. 2012;2(2):144-159.) também encontrara associação entre adoção e animais sem raça definida. Apesar disso, estudo desenvolvido por Posage et al.(2525 Posage, JM; Bartlett PC; Thomas DK..Determining factors for successful adoption of dogs from an animal shelter.J. Am. Vet. Med. Assoc. 1998;213(4):478-482.) demonstrou o animal ser de raça era um fator importante na opção pela adoção do animal em abrigo nos EUA.

Em 93,5 % (n=29) dos casos em que houve adoção de felinos o adotante já dispunha de animal em casa, sendo em 72,4% (n=21) canino e felino, em 17,2% (n=5) felino e em 10,4% (n=3) canino. Em 94,8% (n=18) dos casos em que houve adoção de canino o adotante já dispunha de animal em casa, sendo 50%(n=9) caninos e felinos e 50%(n=9) caninos. Os resultados mostram predomínio evidente da opção por mais um animal entre os adotantes. Ainda que numa proporção expressivamente maior, esses resultados estão de acordo com aqueles encontrados por Paploski et al.(2626 Paploski IAD, Babboni SD, González GK, Giarola RM, Rodrigues SA, Cerqueira ATAR, Padovani CR, Victória C, Modolo JR. Características dos adotantes de cães na área urbana de Botucatu. Veterinária e Zootecnia. 2012;19(4):584-592.), em que 58,6% dos adotantes já dispunham de outro animal em casa.

No que diz respeito ao local onde o animal ficava a maior parte do tempo, 48%(n=24) ficavam tanto no interior do imóvel como no quintal terraço ou área externa. No caso dos caninos havia forte predomínio de animais que ficavam fora de casa (63,1%/ n=12) e no caso dos felinos havia predominância de animais que ficavam nos ambientes interno e externo (67,8%/ n=21) (Tabela 3).

Tabela 3
Manejo de caninos e felinos adotados no período 2011-2015 em Cachoeiras de Macacu-RJ

Apesar da maior parte (52%/ n=26) ter relatado que os animais adotados não tinham acesso à rua sozinhos, um percentual relevante de 38% (n=19) tinha esse acesso. No caso dos caninos, 73,7% (n=14) não tinham acesso sozinhos à rua, mas no caso dos felinos 58,1%(n=18) o tinham (Tabela 3). Alves et al.(2121 Alves MCGP, Matos MR, Reichmann ML, Dominguéz MH. Dimensionamento da população de cães e gatos do interior do Estado de São Paulo. Revista de Saúde Pública. 2005; 39(6):891-897.) demonstram que a situação de restrição territorial dos animais é proporcional ao tamanho das cidades, sendo menor nas cidades de menor porte, como é o caso do município onde a pesquisa foi desenvolvida. Pesquisa desenvolvida por Silvano et al.(2222 Silvano D, Bendas AJR, Miranda MGN, Pinhão R, Mendes de Almeida F, Labarthe NV, Paiva JP. Divulgação dos princípios de guarda responsável: uma vertente possível no trabalho de pesquisa a campo. Revista Eletrônica Novo Enfoque. 2010;9(9):64-86.) detectou que a maioria dos animais tinham livre acesso à rua desacompanhados. Canatto et al.(1919 Canatto BD, Silva EA, Bernardi F, Mendes MCNC, Paranhos NT, Dias RA. Caracterização demográfica das populações de cães e gatos supervisionados do município de São Paulo. Arquivos Brasileiros Medicina Veterinária e Zootecnia. 2012;64(6):1515-1523.) demonstraram que 64,4% dos cães tinham livre acesso à rua, contra 42,5% dos gatos. Outro estudo demonstrou que 19,5% dos animais tinham livre acesso à rua e 26,9% dos gatos eram criados totalmente soltos, com total acesso à rua. De Carli & Morais(2828 De Carli CB; Novais AA. Guarda responsável de cães e gatos do Município de Sinop / MT: estudo descritivo. Sci. Elec. Arch. 2015;8(1):26-30.) encontraram 9,2% dos cães e 50% dos gatos com livre acesso à rua. Catapan et al.(2020 Catapan DC; Junior JAV; Weber SH; Mangrich RMV; Szczypkovski AD; Catapan A; Pimpão CT. Percepção e atitudes do ser humano sobre guarda responsável, zoonoses, controle populacional e cães em vias públicas. Revista Brasileira de Ciência Veterinária. 2015;22(2)92-98.) encontraram 6,3% dos cães e 36% dos gatos com livre acesso à rua. Percebe-se que a restrição territorial de felinos é mais negligenciada do que a de caninos, o que é um grande risco para a transmissão de zoonoses, especialmente a esporotricose, que vem se apresentando como uma importante epidemia zoonótica associada aos gatos no estado do Rio de Janeiro(3535 Barros MBDL; Schubach TP; Coll JO; Gremião ID; Wanke B; Schubach A.Esporotricose: a evolução e os desafios de uma epidemia. Rev Panam Salud Publica. 2010;27(6):4554-60.,3636 Silva MBTD; Costa MMDM; Torres CCDS; Galhardo MCG; Valle ACFD; Magalhães MDAF; Sabroza PC; Oliveira RMD.Esporotricose urbana:epidemia negligenciada no Rio de Janeiro, Brasil. Cadernos de Saúde Pública. 2012;28(10):1867-1880.).

No que diz respeito à alimentação, 98% (n=49) dos animais eram alimentados somente com ração comercial e apenas um canino era alimentado com comida de panela (preparada em casa) (Tabela 3). Diversos estudos vêm demonstrando o predomínio da alimentação industrializada dos animais domésticos(1515 Langoni H, Troncarelli MZ, Rodrigues EC, Nunes HRC, Harumi V, Henriques MV, Silva KM, Shimono JY. Conhecimento da população de Botucatu - SP sobre Guarda Responsável de cães e gatos. Veterinária e Zootecnia. 2011;18(2):297-305.,2727 Loss LD; Mussi JMS; Mello INK;Leão MS;Franque MP. Posse responsável e conduta de proprietários de cães no município de Alegre-ES. Acta VeterinariaBrasilica. 2012;6(2):105-111.,2828 De Carli CB; Novais AA. Guarda responsável de cães e gatos do Município de Sinop / MT: estudo descritivo. Sci. Elec. Arch. 2015;8(1):26-30.). Mas, estudo conduzido por Azevedo et al.(2424 Azevedo CF; Costa Neto BM; Bezerra AC; Lima Júnior AR. Avaliação do bem estar de animais de companhia na comunidade da vila florestal em lagoa seca/PB. Archives of Veterinary Science. 2015;20(2):06-15.) demonstrou predomínio da alimentação caseira em detrimento da industrializada. Além do fato das rações comerciais apresentarem formulação balanceada e apropriada aos animais(33 Reichmann MLAB, Figueiredo ACC, Pinto HBF, Nunes VFP. Controle de populações de animais de estimação. São Paulo: Instituo Pasteur, 2000. 2009 [cited 2014 Jun 05]. Disponível em http://www.saude.sp.gov.br/resources/instituto-pasteur/pdf/manuais/manual_06.pdf.
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), seu uso facilita o dia a dia dos proprietários de animais, tendo em vista a praticidade.

A vacinação contra raiva e com a vacina múltipla era realizada em 87,5% (n=42) dos animais em idade apropriada. O mesmo acontecia com caninos (94,8%/ n=18) e felinos (82,8%/ n=24) (Tabela 3). Apesar da obrigatoriedade da vacinação antirrábica de animais domésticos no estado do Rio de Janeiro(44 Rio de Janeiro. Lei nº 4.808 de 04 de julho de 2006. Dispõe sobre a criação, a propriedade, a posse, a guarda, o uso, o transporte e a presença temporária ou permanente de cães e gatos no âmbito do estado do Rio de Janeiro. [cited 2010 Jul 24]. Disponível em http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/contLei.nsf/c8aa0900025feef6032564ec0060dfff/6628191723549496832571a8005e8896?opendocument.
http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/contLei....
) e da recomendação para que os cães sejam vacinados, além da raiva, com a vacina múltipla, minimamente contra hepatite canina, parvovirose, coronavirose e leptospirose(33 Reichmann MLAB, Figueiredo ACC, Pinto HBF, Nunes VFP. Controle de populações de animais de estimação. São Paulo: Instituo Pasteur, 2000. 2009 [cited 2014 Jun 05]. Disponível em http://www.saude.sp.gov.br/resources/instituto-pasteur/pdf/manuais/manual_06.pdf.
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), os resultados encontrados se opõem fortemente aos encontrados em outros estudos, que apresentaram percentuais bem mais baixos de vacinação(2727 Loss LD; Mussi JMS; Mello INK;Leão MS;Franque MP. Posse responsável e conduta de proprietários de cães no município de Alegre-ES. Acta VeterinariaBrasilica. 2012;6(2):105-111.,2929 Domingues LR; Cesar JÁ; Fassa AG; Domingues MR.Guarda responsável de animais de estimação na área urbana do município de Pelotas, RS, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva. 2015;20(1):185-192.). Os resultados encontrados se aproximam mais daqueles encontrados por Langoni et al.(1515 Langoni H, Troncarelli MZ, Rodrigues EC, Nunes HRC, Harumi V, Henriques MV, Silva KM, Shimono JY. Conhecimento da população de Botucatu - SP sobre Guarda Responsável de cães e gatos. Veterinária e Zootecnia. 2011;18(2):297-305.), sobre a vacinação contra raiva, os quais 97,1% vacinavam contra raiva, apesar de somente 46,9% fazerem a vacinação múltipla, Carvalho et al.(1414 Carvalho AAB, Grisólio APR, Bueno GM, Testi AJP, Martins MC, Portela LC, Servidone JS, Nunes JOR. Caracterização da população de cães e gatos e avaliação do nível de conhecimento dos moradores sobre zoonoses e posse responsável de animais de estimação em bairros do município de Jaboticabal / SP. Revista Ciência em Extensão. 2011;7(2):158-159.) em que 80% dos cães e 93% dos gatos recebiam a vacina antirrábica, Cardoso et al.(3030 Cardoso DP; Oliveira RP; Sousa Estrela D; Saraiva LA; Farias MPO; Silva PO. Perfil dos tutores de cão e gato no município de Bom Jesus - PI. Pubvet. 2016;10(8):580-586.) em que 91,2% vacinavam contra raiva e 49,1% desses também com a múltipla, De Carli & Novais(2828 De Carli CB; Novais AA. Guarda responsável de cães e gatos do Município de Sinop / MT: estudo descritivo. Sci. Elec. Arch. 2015;8(1):26-30.), que encontraram 91,7% dos gatos vacinados contra raiva, contra somente 53,8% dos cães, e Catapan et al.(2020 Catapan DC; Junior JAV; Weber SH; Mangrich RMV; Szczypkovski AD; Catapan A; Pimpão CT. Percepção e atitudes do ser humano sobre guarda responsável, zoonoses, controle populacional e cães em vias públicas. Revista Brasileira de Ciência Veterinária. 2015;22(2)92-98.) em que 84,8% dos cães e 70,8% dos gatos vacinados com a antirrábica e a múltipla.

A maioria dos animais (79,2%/ n=38) era vacinada em estabelecimentos privados, sendo 57,8% (n=11) em caninos e 93,1% (n=27) em felinos (Tabela 3). Esses resultados diferem daqueles encontrados por Langoni et al.(1515 Langoni H, Troncarelli MZ, Rodrigues EC, Nunes HRC, Harumi V, Henriques MV, Silva KM, Shimono JY. Conhecimento da população de Botucatu - SP sobre Guarda Responsável de cães e gatos. Veterinária e Zootecnia. 2011;18(2):297-305.), os quais 100% dos animais eram vacinados contra raiva em campanhas públicas e por De Carli & Novais(2828 De Carli CB; Novais AA. Guarda responsável de cães e gatos do Município de Sinop / MT: estudo descritivo. Sci. Elec. Arch. 2015;8(1):26-30.), que encontraram 60% dos cães e 100% dos gatos vacinados contra raiva na campanha pública. Também, Carvalho et al.(1414 Carvalho AAB, Grisólio APR, Bueno GM, Testi AJP, Martins MC, Portela LC, Servidone JS, Nunes JOR. Caracterização da população de cães e gatos e avaliação do nível de conhecimento dos moradores sobre zoonoses e posse responsável de animais de estimação em bairros do município de Jaboticabal / SP. Revista Ciência em Extensão. 2011;7(2):158-159.) encontraram predomínio de vacinação na campanha pública, com 67% dos cães e 73% dos gatos.

A desverminação periódica era realizada em 82% (n=41) dos animais adotados, sendo em 90,3% (n=28) dos felinos e 68,5% (n=13) dos caninos (Tabela 3). Apesar da desverminação periódica ser recomendada desde a mais tenra idade(33 Reichmann MLAB, Figueiredo ACC, Pinto HBF, Nunes VFP. Controle de populações de animais de estimação. São Paulo: Instituo Pasteur, 2000. 2009 [cited 2014 Jun 05]. Disponível em http://www.saude.sp.gov.br/resources/instituto-pasteur/pdf/manuais/manual_06.pdf.
http://www.saude.sp.gov.br/resources/ins...
), diversos estudos vêm demonstrando, ao contrário do encontrado no presente estudo, baixos índices de desverminação periódica nos animais domésticos(2727 Loss LD; Mussi JMS; Mello INK;Leão MS;Franque MP. Posse responsável e conduta de proprietários de cães no município de Alegre-ES. Acta VeterinariaBrasilica. 2012;6(2):105-111.,2424 Azevedo CF; Costa Neto BM; Bezerra AC; Lima Júnior AR. Avaliação do bem estar de animais de companhia na comunidade da vila florestal em lagoa seca/PB. Archives of Veterinary Science. 2015;20(2):06-15.,3030 Cardoso DP; Oliveira RP; Sousa Estrela D; Saraiva LA; Farias MPO; Silva PO. Perfil dos tutores de cão e gato no município de Bom Jesus - PI. Pubvet. 2016;10(8):580-586.). Somente Domingues et al.(2929 Domingues LR; Cesar JÁ; Fassa AG; Domingues MR.Guarda responsável de animais de estimação na área urbana do município de Pelotas, RS, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva. 2015;20(1):185-192.) e Catapan et al.(2020 Catapan DC; Junior JAV; Weber SH; Mangrich RMV; Szczypkovski AD; Catapan A; Pimpão CT. Percepção e atitudes do ser humano sobre guarda responsável, zoonoses, controle populacional e cães em vias públicas. Revista Brasileira de Ciência Veterinária. 2015;22(2)92-98.) encontraram resultados mais próximos, com 72% e 84% dos animais desverminados, respectivamente. Estudo desenvolvido por Brener et al.(3737 Brener B; Mattos DPBG; Millar PR; Arashiro EKN; Duque-Ferreira V; Sudré AP. Estudo da contaminaçãode praças públicas de três municípiosdo estado do Rio de Janeiro, Brasil,por ovos e larvas de helmintos. Revista de Patologia Tropical. 2008;37(3):247-254.) mostrou a viabilidade da transmissão de helmintoses zoonóticas em praças públicas do Estado do Rio de Janeiro em função da contaminação destas por ovos e larvas oriundos das fezes de animais.

Metade dos animais adotados (n=25) só eram levados ao veterinário em emergências. No caso de caninos, isso ocorria em 63,1% (n=12), mas no caso dos felinos 48,4% (n=15) dos animais eram levados semestralmente para consulta veterinária (Tabela 3). Diversos estudos vêm demonstrando baixa adesão ao acompanhamento veterinário e que os animais somente são levados para consulta veterinária em casos emergenciais ou nunca são levados ao veterinário(3434 Silva FAN; Carvalho RL; Klein RP; Quessada AM. Posse responsável de cães no bairro Buenos Aires na cidade de Teresina (PI). ARS Veterinária. 2009;25(1):14-17.,2222 Silvano D, Bendas AJR, Miranda MGN, Pinhão R, Mendes de Almeida F, Labarthe NV, Paiva JP. Divulgação dos princípios de guarda responsável: uma vertente possível no trabalho de pesquisa a campo. Revista Eletrônica Novo Enfoque. 2010;9(9):64-86.,1414 Carvalho AAB, Grisólio APR, Bueno GM, Testi AJP, Martins MC, Portela LC, Servidone JS, Nunes JOR. Caracterização da população de cães e gatos e avaliação do nível de conhecimento dos moradores sobre zoonoses e posse responsável de animais de estimação em bairros do município de Jaboticabal / SP. Revista Ciência em Extensão. 2011;7(2):158-159.,1515 Langoni H, Troncarelli MZ, Rodrigues EC, Nunes HRC, Harumi V, Henriques MV, Silva KM, Shimono JY. Conhecimento da população de Botucatu - SP sobre Guarda Responsável de cães e gatos. Veterinária e Zootecnia. 2011;18(2):297-305.,2424 Azevedo CF; Costa Neto BM; Bezerra AC; Lima Júnior AR. Avaliação do bem estar de animais de companhia na comunidade da vila florestal em lagoa seca/PB. Archives of Veterinary Science. 2015;20(2):06-15.,2828 De Carli CB; Novais AA. Guarda responsável de cães e gatos do Município de Sinop / MT: estudo descritivo. Sci. Elec. Arch. 2015;8(1):26-30.,3030 Cardoso DP; Oliveira RP; Sousa Estrela D; Saraiva LA; Farias MPO; Silva PO. Perfil dos tutores de cão e gato no município de Bom Jesus - PI. Pubvet. 2016;10(8):580-586.). Somente Catapan et al.(2020 Catapan DC; Junior JAV; Weber SH; Mangrich RMV; Szczypkovski AD; Catapan A; Pimpão CT. Percepção e atitudes do ser humano sobre guarda responsável, zoonoses, controle populacional e cães em vias públicas. Revista Brasileira de Ciência Veterinária. 2015;22(2)92-98.) encontraram resultados melhores que os da presente pesquisa, com 54,6% tendo acompanhamento veterinário periódico.

Considerando o quadro preocupante no que tange ao acompanhamento médico sanitários dos animais, é importante salientar que quando uma pessoa opta por adquirir um animal doméstico, ela deve assumir a responsabilidade pela sua saúde e seu bem-estar enquanto o animal com ela permanecer(1818 Organização Internacional de Saúde Animal - OIE. Control de laspoblaciones de perros vagabundos. In: OIE. Código Sanitario para losAnimales Terrestres - 2016. 2016 [cited 2016 Set 27]. Disponível em:http://www.oie.int/es/normas-internacionales/codigo-terrestre/acceso-en-linea/.
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).

Na amostra pesquisada, 94% (n=47) dos animais não apresentavam nenhum tipo de dispositivo de identificação, sendo que essa identificação só ocorria em 15,8% (n=3) dos caninos, com uso de plaquinha (Tabela 3). Recomenda-se, apesar de não ser uma prática comum no Brasil, que os animais domésticos sejam dotados de um dispositivo de identificação, preferencialmente permanente, como tatuagem ou microchip(1818 Organização Internacional de Saúde Animal - OIE. Control de laspoblaciones de perros vagabundos. In: OIE. Código Sanitario para losAnimales Terrestres - 2016. 2016 [cited 2016 Set 27]. Disponível em:http://www.oie.int/es/normas-internacionales/codigo-terrestre/acceso-en-linea/.
http://www.oie.int/es/normas-internacion...
). A adoção de métodos permanentes de identificação auxilia no combate ao abandono já que há rastreabilidade do tutor e, assim, possibilidade de aplicar as sanções previstas na legislação(3838 D’ANDRETTA, J. P. M. Análise de fatores que contribuíram para a guarda responsável ou abandono de cães e gatos em área de São Paulo / SP. Dissertação (Mestrado) - Universidade de Saõ Paulo. Faculdade de Veterinária e Zootecnia, São Paulo, 2012, 107 p. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/10/10134/tde-24042013-141324/publico/JOAO_PAULO_MARQUES_D_ANDRETTA_Corrigida.pdf
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).

Dos 50 animais adotados, 46 (92%) permaneciam com o adotante no momento da entrevista, num período que variou de dois meses a três anos após a adoção. Nenhum animal havia sido devolvido para a ONG. Dos 31 felinos adotados, 87,1% (n=27) permaneciam com o adotante, 9,7% (n=3) haviam fugido e 3,2%(n=1) havia morrido. Já em relação aos caninos, 100% (n=19) permaneciam com o adotante. Em pesquisa realizada com adotantes de animais, Soto et al.(88 Soto FRM; de Souza AJ, Risseto MR; Lima BFMS. Adoção de cães no município de Ibiúna - SP - Brasil: análise crítica. Revista Ciência em Extensão. 2006;3(1):26.) identificaram que 65,7% dos animais ainda permaneciam com os adotantes, 15,7% morreram, 10,5% foram doados para terceiros e 7,8% haviam fugido. Ainda que segundo indicadores indiretos, Frank(3333 Frank AC. Semelhanças e diferenças entre adotar, comprar ou ganhar um cão de companhia na cidade de São Paulo. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015, 106 p. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/10/10134/tde-28012016-143527/publico/ALICE_DE_CARVALHO_FRANK_Corrigida.pdf
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) detectou um vínculo maior do proprietário com o animal quando esse é adotado.

Em relação a possíveis dificuldades do adotante em relação ao animal adotado, 70% (n=35) informaram não terem tido dificuldades. Dos 31 felinos adotados, 74,2% (n=23) dos adotantes informaram não terem tido dificuldades com o animal adotado. Dos 25,8% (n=8) que informaram terem tido dificuldades, 25% (n=2) alegaram o temperamento difícil, 37,5% (n=3) ferocidade, 25% (n=2) enfermidade e 12,5% (n=1) outro motivo. Dos 19 caninos adotados, 63,2% (n=12) dos adotantes informaram não terem tido dificuldades com o animal adotado. Dos 36,8% (n=7) que informaram terem tido dificuldades, 42,8% (n=3) alegaram enfermidade, 28,6% (n=2) temperamento difícil, 14,3% (n=1) comportamento de fuga e 14,3% (n=1) excesso de latidos. Em pesquisa realizada com adotantes de animais Soto et al.(88 Soto FRM; de Souza AJ, Risseto MR; Lima BFMS. Adoção de cães no município de Ibiúna - SP - Brasil: análise crítica. Revista Ciência em Extensão. 2006;3(1):26.) identificaram que a doença foi a maior dificuldade enfrentada pelos adotantes. Já Alves et al.(3939 Alves AJS; Guilloux AGA; Zetun CB; Polo G; Braga GB;Panachão LI; Santos O; Dias RA. Abandono de cães na America Latina: revisão de literatura. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV. 2013;11(2):34-41.) listam como as principais possíveis causas de abandono dos animais os problemas comportamentais, a falta de espaço, o estilo de vida dos proprietários, a falta de informação sobre as responsabilidades em relação à guarda de um animal e os custos envolvidos. Os problemas que levam à devolução de animais adotados muitas vezes são difíceis de serem identificados no momento da adoção, como a interação com outros animais ou crianças, por exemplo. Outras vezes estão relacionados com a falta de preparo ou informação dos adotantes, envolvendo o tamanho do animal quando crescido e a falta de tempo para dedicar ao animal(4040 Mondelli F; Prato Previde E; Verga M; Levi D; Magistrelli S; Valsecchi P. The bond that never developed: adoption and relinquishment of dogs in a rescue shelter. J Appl AnimWelf Sci. 2004;7(4):253-66.,4141 Shore ER. Returning a recently adopted companion animal: adopters' reasons for and reactions to the failed adoption experience. J Appl AnimWelf Sci. 2005;8(3):187-98.). Por isso é fundamental que, no momento da aquisição de um animal de estimação, o adquirente receba informações relevantes em relação aos custos, ao comportamento normal dos animais, as vantagens da castração, as consequências do abandono, etc.(3838 D’ANDRETTA, J. P. M. Análise de fatores que contribuíram para a guarda responsável ou abandono de cães e gatos em área de São Paulo / SP. Dissertação (Mestrado) - Universidade de Saõ Paulo. Faculdade de Veterinária e Zootecnia, São Paulo, 2012, 107 p. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/10/10134/tde-24042013-141324/publico/JOAO_PAULO_MARQUES_D_ANDRETTA_Corrigida.pdf
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). Em relação ao nível de satisfação dos adotantes com os animais adotados, 96% (n=48) demonstraram estar muito satisfeitos e 4% (n=2) demonstraram estar satisfeitos. Nenhum adotante afirmou estar totalmente insatisfeito ou indiferente em relação à adoção. No caso dos caninos, 100% (n=19) estavam muito satisfeitos e no caso dos felinos, 93,5% (n=29) demonstraram estar muito satisfeitos, enquanto 6,5% (n=2) demonstraram estar satisfeitos com a adoção. Esses resultados são animadores e bem próximos dos encontrados por Soto et al.(88 Soto FRM; de Souza AJ, Risseto MR; Lima BFMS. Adoção de cães no município de Ibiúna - SP - Brasil: análise crítica. Revista Ciência em Extensão. 2006;3(1):26.), que mostraram que a adaptação dos novos proprietários aos animais adotados em Ibiúna (SP) era boa ou ótima para 96,1% dos adotantes.

Conclusões

A adoção de animais é uma das estratégias utilizadas para diminuir a densidade populacional de animais não domiciliados. A semelhança com alguma raça não foi um critério utilizado pela maioria dos adotantes e, inclusive, houve adoção de animais portadores de necessidades especiais. Foram adotados principalmente animais mais jovens e o perfil dos adotantes era de indivíduos casados, do sexo feminino, de idade variável, envolvendo de adultos jovens a idosos, com escolaridade em nível superior e renda alta. De modo geral, as adoções não se deram em função da interação dos animais com idosos e crianças, os adotantes já dispunham de outro animal e os animais adotados passaram a residir principalmente em imóveis residenciais, com quintal, terraço ou área externa. A maior parte dos animais tinha acesso às áreas interna e externa desses imóveis. No que tange à motivação da adoção predominou o sentimento de pena em relação aos animais.

Importante notar que o estudo demonstrou que os princípios de guarda responsável estavam sendo parcialmente seguidos, o que pode ser comprovado pela proporção de animais castrados encontrados, predomínio de alimentação com ração balanceada, boa cobertura vacinal contra a raiva e com a vacina múltipla e predomínio de animais que recebiam desverminação periódica.

Ainda assim, foram encontradas situações que desviam da guarda responsável, como o predomínio de animais com acesso livre às ruas, predomínio da deficiência no acompanhamento veterinário preventivo e ausência de dispositivo de identificação permanente.

De modo geral, houve grande vínculo dos adotantes com os animais, o que pode ser comprovado pelo alto índice de permanência dos adotantes com os animais, pela baixa proporção de dificuldades na lida com os animais e pelo alto grau de satisfação dos adotantes em relação aos animais.

O quadro encontrado no presente estudo, ainda que não deva ser extrapolado para outras populações de animais adotados, por se tratar de uma amostra selecionada por conveniência em apenas um município do estado do Rio de Janeiro, é consideravelmente animador e demonstra que a estratégia da adoção foi eficiente e pode trazer bons resultados no controle da densidade populacional de animais não domiciliados.

Por fim, é fundamental salientar que o enfrentamento de tal problema deve envolver diferentes estratégias simultaneamente, já que nenhuma estratégia isolada trará resultados satisfatórios, pois se trata de problema com causa multifatorial.

Referências

  • 1
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Fev 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    19 Out 2016
  • Aceito
    23 Out 2018
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