Acessibilidade / Reportar erro

Biomarcadores sanguíneos e no líquido peritoneal de bovinos acometidos com enfermidades intestinais e reticulites traumáticas

Biomarkers blood and peritoneal fluid of bovines with intestinal diseases and traumatic reticulitis

Resumo

O objetivo deste estudo foi avaliar simultaneamente biomarcadores no sangue e no líquido peritoneal (LP) de bovinos com enfermidades intestinais (GI n=14) e reticulites traumáticas (GII n=13). O exame clínico e a coleta de sangue e de LP foram realizadas e, posteriormente, análise física e citológica do LP, bem como as determinações bioquímicas no sangue e no LP. Empregou-se a análise de variância ao nível de 5% de probabilidade comparando os grupos e comparando o sangue e o LP. Em ambos os grupos foram evidenciados sinais de apatia, desidratação e hipomotilidade reticuloruminal, porém os animais do GI apresentaram alterações clínicas mais expressivas. À análise citológica do LP No sangue as concentrações de PT, globulina, colesterol e GGT foram superiores no GII (P<0,05), e a relação A/G foi maior no GI (P<0,05). No LP a albumina e a CK foram superiores no GI (P<0,05). Na comparação entre o sangue e LP, destacou-se o aumento significativo do lactato L no LP de ambos os grupos (P<0,05), caracterizando a gravidade das alterações presentes na cavidade abdominal. Recomendase a avaliação simultânea no sangue e no LP do lactato L como informação de auxílio diagnóstico e prognóstico das enfermidades digestivas dos bovinos.

Palavras-chave:
Bioquímica clínica; lactato L; peritonite; sistema digestivo; vacas

Abstract

The objective of this study was to simultaneously evaluate biomarkers in the blood and peritoneal fluid (PF) of cattle with intestinal diseases (GI n=14) and traumatic reticulitis (GII n=13). A clinical examination and blood collection and PF were performed and subsequently, physical and cytological analysis of PF, as well as biochemical determinations in blood and PF. The analysis of variance was used at a 5% probability level comparing the groups and comparing blood and PF. In both groups, signs of apathy, dehydration and reticuloruminal hypomotility were evidenced, but the GI animals presented more expressive clinical alterations. In the cytological analysis of PF, a predominance of polymorfhonuclear was observed in both groups. Blood TP, globulin, cholesterol and GGT concentrations were higher in GII (P<0.05), and the A/G ratio was higher in GI (P <0.05). In PF, albumin and CK were higher in GI (P<0.05). In the comparison between blood and PF, the significant increase of L-lactate in the PF of both groups (P<0.05) was observed, characterizing the severity of the alterations present in the abdominal cavity. It is recommended the simultaneous evaluation of L-lactate in the blood and PF, as a tool for diagnosis and prognosis of bovine digestive diseases.

Keywords:
Digestive system; cattle; peritonitis; clinic biochemical; L-lactate

Introdução

O aumento da produtividade na pecuária trouxe grandes benefícios econômicos, no entanto, concomitante a este avanço, aumentaram-se os fatores de risco e a vulnerabilidade dos animais à ocorrência de enfermidades digestivas, devido principalmente ao intenso incremento nutritivo com dietas pobres em fibras e ricas em concentrados. Aliado a essa situação, na região semiárida do país observa-se o agravo da introdução de alimentação alternativa de baixa qualidade nos períodos de estiagem prolongada(11 Coutinho LT, Afonso JAB, Costa NA, Soares PC, & Mendonça CL. Fatores de risco relacionados à ocorrência do timpanismo espumoso em bovinos criados na região do agreste meridional do estado de Pernambuco, Brasil. Ciênc. Anim. Bras., 2012, 13(3): 368-376.,22 Afonso JAB. Afecções intestinais em bovinos. Rev. Acad. Ciênc. Anim., 2017, 15 suppl 2: 15-20.). As enfermidades digestivas estão entre as doenças que mais acometem os bovinos em todo o mundo(33 Radostits OM, Gay CC, Hinchcliff KW, Constable PD. Veterinary medicine. A textbook of the diseases of cattle, horses, sheep, pigs, and goats. 10th. Saunders Elsevier, Rio de Janeiro. 2007. 2065p.). Recente estudo na região nordeste do Brasil relata que a média de atendimento de bovinos com enfermidades desse tipo em rotina clínica hospitalar chega a 18%(22 Afonso JAB. Afecções intestinais em bovinos. Rev. Acad. Ciênc. Anim., 2017, 15 suppl 2: 15-20.). Estudos vêm sendo desenvolvidos na busca de marcadores bioquímicos menos onerosos, de fácil execução, rápidos e precisos para serem utilizados nos diferentes fluidos corpóreos, entre os quais o líquido peritoneal, aumentando a confiabilidade e fornecendo informações adicionais específicas de conclusão diagnóstica(44 Borkowski J, Gmyrek GB, Madej JP, Nowacki W, Goluda M, Gabrys MS, STefaniak T, & Chelmonska-Soyta A. Serum and peritoneal evaluation of vitamin D-binding protein in women with endometriosis. Postepy Higieny I Medycyny Doswiadczalnej. 2008, 62: 103-109.

5 Di Filippo PA, Nogueira AFS, Anai LA, Alves AE, Santana AE, & Pereira GT. Perfil eletroforético das proteínas séricas e do líquido peritoneal de equinos submetidos à obstrução experimental do duodeno, íleo e cólon maior. Ciên. Anim. Bras., 2010, 11 (4): 938-946.

6 Maden M, Ozturk AS, Bulbul A, Avci GE, & Yazar E. Acute-phase proteins, oxidative stress and enzyme activities of blood serum and peritoneal fluid in cattle with abomasal displacement. Jou. of Vet. Int. Med. 2012, 26: 1470-1475.
-77 Tharwat M, Ali A, Al-Sobayila F, & Buczinskib S. Ultrasound-guided collection of peritoneal fluid in healthy camels (Camelus dromedarius) and its biochemical analysis. Sma. Rumin. Res., 2013, 113: 307-311.).

Nos bovinos acometidos com enfermidades digestivas, diferentemente de outras espécies animais(88 Van Hoogmoed L, Rodger LD, Spier SJ, Gardner IA, Yarbrough TB, & Snyder JR. Evaluation of peritoneal fluid pH, glucose concentration, and lactate dehydrogenase activity for detection of septic peritonitis in horses. J. Am. Vet. Med. Assoc. 1999, 214: 1032-1036.

9 Bonczynski JJ, Ludwig LL, Barton LJ, Loar A, & Peterson ME. Comparison of peritoneal fluid and peripheral blood pH, bicarbonate, glucose, and lactate concentration as a diagnostic tool for septic peritonitis in dogs and cats. Veterinary Surgery. 2003, 32: 161-166.
-1010 Di Filippo PA, Alves AE, Hermeto LC, & Santana AE. Indicadores bioquímicos séricos e do líquido peritoneal de equinos submetidos à obstrução intestinal. Ciênc. Anim. Bras., 2012, 13 (4): 504-511.), ainda são escassas as informações, qualitativas e quantitativas, referentes aos principais componentes bioquímicos mensurados simultaneamente no sangue e no LP. Grande parte dos estudos existentes sobre marcadores bioquímicos no sangue de bovinos com enfermidades digestivas é relacionada às abomasopatias(1111 Zadnik T. A comparative study of the hemato-biochemical parameters between clinically healthy cows and cows with displacement of the abomasum. Ac. Vet., 2003, 53 (5-6): 297-309.,66 Maden M, Ozturk AS, Bulbul A, Avci GE, & Yazar E. Acute-phase proteins, oxidative stress and enzyme activities of blood serum and peritoneal fluid in cattle with abomasal displacement. Jou. of Vet. Int. Med. 2012, 26: 1470-1475.,1212 Dezfouli MM, Efthekari Z, Sadeghian S, Bahounar A, & Jeloudari M. 2013. Evaluation of hematological and biochemical profiles in dairy cows with left displacement of the abomasum. Comp. Clin. Path., 2013, 22: 175-179.), reticuloperitonite traumática e pericardite traumática(1313 Gokce HI, Gokce G, & Cihan M. Alterations in coagulation profiles and biochemical and haematological parameters in cattle with traumatic reticuloperitonitis. Vet. Res. Com., 2007, 31: 529-537.

14 Athar H, Mohindroo J, Singh K, Kumar A, & Randhawa CS. Clinical, haematobichemical, radiographic and ultrasonographic features of traumatic reticuloperitonitis in bovines. Indian J. of Anim. Sci., 2010, 80 (7): 608-612.
-1515 Ghanem MM. A comparitive study on traumatic reticuloperitonitis and traumatic pericarditis in Egyptian cattle. Turk. J. of Vet. and Anim. Sci., 2010, 34 (2): 143-153.), existindo ainda poucos relatos relacionados às enfermidades intestinais e às diferentes reticulites traumáticas. Quando se trata da avaliação bioquímica do LP de bovinos portadores dessas enfermidades, a literatura se torna ainda mais escassa.

Diante do exposto, este estudo teve por objetivo avaliar simultaneamente as variáveis sanguíneas e do LP de bovinos, comparando as alterações resultantes das enfermidades intestinais e das reticulites traumáticas, visando a identificar biomarcadores que possam ser empregados na rotina clínica buiátrica.

Material e métodos

O estudo obteve parecer favorável da Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA), da Universidade Federal Rural de Pernambuco com a licença nº 044/2015 CEPE/ UFRPE, de acordo com as normas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA) e National Institute of Health Guide for Care and Use of Laboratory Animals.

Foram avaliados 27 bovinos de leite acometidos com enfermidades digestivas, distribuídos em dois grupos: GI (n=14) portadores de enfermidades intestinais e GII (n=13) portadores de reticulites traumáticas. Ambos os grupos foram compostos por animais mestiços, em sua maioria fêmea, adulta e submetida ao sistema de criação semi-intensivo. Os animais foram submetidos ao exame clínico(1616 Dirksen G, Gründer HD, & Stober M. Rosenberger Exame Clínico dos Bovinos. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 1993. 419p.), de acordo com o protocolo estabelecido pela unidade hospitalar onde os animais se encontravam internados.

As amostras de sangue total foram colhidas por punção jugular externa com o auxílio de agulhas 25x8 mm em tubos siliconizados estéreis do tipo vacutainer (Vacutainer®, Becton Dickinson, Franklin Lakes, NJ, USA.) contendo anticoagulante K3EDTA e fluoreto de sódio para a mensuração de glicose (Glicose Liquiform - Labtest Diagnostica S.A.) e de lactato L (Lactato enzimático - Labtest Diagnóstica S.A.). Uma segunda alíquota foi colocada em tubos sem anticoagulante para posterior obtenção do soro.

O LP foi obtido por abdominocentese em dois locais seguindo as recomendações da literatura(1717 Dirksen G. Sistema Digestivo. In: Dirksen G, Gründer HD, & Stober M. Rosenberger Exame Clínico dos Bovinos. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 1993, p.166-228.,1818 Divers TJ, & Peek FS.Therapeutics and routine procedures. In: Divers TJ, & Peek FS. Rebhun's diseases of dairy cattle. St. Louis: Elsevier, Part I, Chapt.2; 2008, p.28-30.). A colheita foi realizada empregando-se agulha 40x12 mm, sempre que necessário guiado por ultrassom (Ultrassom GE, modelo Logic 100 PRO, Av. Mario Coelho Aguiar, 215, São Luiz, São Paulo, SP, 05804-900.) e o LP acondicionado em tubos estéreis (Vacutainer®, Becton Dickinson, Franklin Lakes, NJ, USA.) sem e com anticoagulante (K3EDTA). Na impossibilidade de colheita de LP in vivo, o material foi obtido imediatamente após o óbito.

Para a obtenção do plasma e soro, respectivamente, as amostras de sangue bem como as amostras de LP foram centrifugadas (Centrífuga Fanem Ltda Baby I, Mod. 206. Av. General Ataliba Leonel 1790, São Paulo, SP, Brasil.) a 1.000 x g, durante 10 minutos, e o soro sanguíneo e o sobrenadante do LP foram armazenados sob a forma de alíquotas em tubos tipo eppendorf em ultrafreezer (Ultralow freezer NuAire Inc., 2100 Fernbrook Lane N. Plymouth, MN 55447, USA.) a -80 ºC, para posteriores análises bioquímicas.

As análises física, química e citológica do LP foram realizadas imediatamente após a colheita. A contagem total de células nucleadas (CTCN) e a análise citológica foi realizada conforme preconizado pela literatura(1919 Zadnik T. A retrospective study of peritoneal fluids in cows with peritoneal disorders. Vet. Glas. 2010, 64 (3-4): 187-195.,2020 Valenciano AC, Arndt TP, & Rizzi TE. Effusions: Peritoneal, Thoracic, and Pericardial. In: Valenciano AC, & Cowell RL. Diagnostic and Hematology of the dog and cat. 4º ed., St. Louis: Elsevier, 2014, p.244-265.). Quando a CTCN era inferior a 5.000 céls/μL, a amostra era submetida a citocentrifugação (Centrífuga citológica Fanem Ltda, Mod. 248C. Av. General Ataliba Leonel 1790, São Paulo, SP, Brasil). A concentração da proteína total foi determinada por refratometria (Refratômetro portátil Mod. rTp-20 ATC.)(1919 Zadnik T. A retrospective study of peritoneal fluids in cows with peritoneal disorders. Vet. Glas. 2010, 64 (3-4): 187-195.,2020 Valenciano AC, Arndt TP, & Rizzi TE. Effusions: Peritoneal, Thoracic, and Pericardial. In: Valenciano AC, & Cowell RL. Diagnostic and Hematology of the dog and cat. 4º ed., St. Louis: Elsevier, 2014, p.244-265.) e por prova bioquímica empregando o método do biureto (Proteína Total, Labtest Diagnóstica S.A., Av. Paulo Ferreira da Costa 600, Lagoa Santa, MG 33400-000, Brasil). As amostras do LP em que a concentração proteica era inferior à linearidade do teste (≤1,0 g/dL) foram submetidas ao método do vermelho de pirogalol (Sensiprot, Labtest Diagnóstica S.A., Av. Paulo Ferreira da Costa 600, Lagoa Santa, MG 33400-000, Brasil).

No soro sanguíneo e no LP foram mensuradas as variáveis albumina (Albumina - Labtest Diagnóstica S.A.), globulina, ureia (Ureia CE - Labtest Diagnóstica S.A.), creatinina (Creatinina - Labtest Diagnóstica S.A.), colesterol (Colesterol Liquiform-Labtest Diagnóstica S.A.), triglicérides (Triglicérides Liquiform - Labtest Diagnóstica S.A.), cloretos (Cloreto - Labtest Diagnóstica S.A.), as atividades séricas das enzimas aspartato aminotransferase (AST) (AST/GOT Liquiform - Labtest Diagnóstica S.A.), gama glutamiltransferase (GGT) (Gama GTLiquiform - LabtestDiagnóstica S.A.), creatinoquinase (CK) (CK-NAC Liquiform - Labtest Diagnóstica S.A.) e lactato desidrogenase (LDH) (LDH Liquiform - Labtest Diagnóstica S.A.) e os íons cálcio, sódio e potássio (Analisador de eletrólitos 9180, Roche Diagnostica do Brasil). No plasma e no LP foram determinadas a glicose (Glicose Liquiform - Labtest Diagnóstica S.A.) e o lactato L (Lactato enzimático -Labtest Diagnóstica S.A.). Todas as leituras foram efetuadas em analisador bioquímico semiautomático (Labquest Bio 2000, Labtest Diagnóstica S.A, Lagoa Santa, MG).

Foi realizada a comparação das variáveis bioquímicas mensuradas no sangue e no líquido peritoneal em cada grupo e, também, foi realizada a comparação entre os grupos. Inicialmente os dados foram testados quanto à distribuição normal pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. Os dados que não atenderam às premissas de normalidade e homogeneidade foram submetidos à transformação logarítmica (LogX+1) ou pela raiz quadrada [RQ (X+1/2)]. Em seguida, foram submetidos à análise de variância (Teste F). Os dados foram analisados utilizando-se o procedimento General Lineares Model (GLM) do programa computacional Statistical Analysis System(2121 SAS, Statistical Analyses Sistem Institute, Inc.SAS user's guide: Statics Version. SAS, Cary, N.C., 2009.). Foi adotado para todas as análises estatísticas o nível de 5% de probabilidade.

Resultados e discussão

No grupo composto pelos animais acometidos com enfermidades intestinais (GI), foram diagnosticadas as seguintes enfermidades: enterites (4/14), intussuscepção (3/14), obstrução por fitobezoário (2/14) sendo um no intestino delgado (jejuno) e outro no intestino grosso (colón); torção de intestino delgado (2/14), colite ulcerativa (2/14) e abscesso mesentérico (1/14). No grupo dos animais com reticulites traumáticas (GII), observou-se: reticulopericardite traumática (5/13), reticuloperitonite traumática (4/13), reticulite traumática (2/13), reticulohepatite traumática (1/13) e reticulomiocardite traumática (1/13). As enfermidades intestinais e as reticulites traumáticas são graves enfermidades que, na maioria das vezes resultam em peritonite, focal ou difusa, conforme também observado neste estudo, sendo responsáveis por inúmeros prejuízos econômicos à bovinocultura(2222 Silva Filho AP, Afonso JAB, Souza JCA, Costa NA, & Mendonça CL. Análise clínica e patológica em 20 casos de intussuscepção em bovinos. Vet. e Zootec., 2010, 17 (30): 421-430.

23 Wittek T, Grosche A, Locher LF, & Furll M. Diagnostic Accuracy of D-Dimer and Other Peritoneal Fluid Analysis Measurements in Dairy Cows with Peritonitis. J. of Vet. Int. Med., 2010a, 24: 1211-1217.

24 Habasha FG, & Yassein SN. Advance techniques in traumatic reticuloperitonitis diagnosis: reviews. Al-Qadi. J. of Vet. Med. Sci., 2014, 13 (2): 50-57.

25 Hussain SA, Uppal SK, Randhawa CS, & Sood NK. Bovine intestinal obstrution: blood gas analysis, serum C-reactive protein and clinical, haematological and biochemical alterations. J. of Ap. Anim. Res., 2015, 43 (2): 224-230.
-2626 Miesner MD, & Reppert EJ. Diagnosis and treatment of hardware disease. Vet. Clin. f. anim., 2017: 1-11.).

De maneira geral, os animais do GI apresentaram alterações clínicas mais expressivas, o que poderia estar associado à evolução clínica mais aguda das enfermidades intestinais, quando comparado às reticulites traumáticas(2727 Afonso JAB, Pereira ALL, Vieira ACS, Mendonça CL, Costa NA, & Souza MI. Alterações clínicas e laboratoriais na obstrução gastrointestinal por fitobezoários em bovinos. Rev. Bras. Saú. Prod. Anim., 2008, 9: 91-102.,22 Afonso JAB. Afecções intestinais em bovinos. Rev. Acad. Ciênc. Anim., 2017, 15 suppl 2: 15-20.). Dentre as alterações, destacaram-se a apatia e a inapetência que, apesar de estarem presentes em ambos os grupos, apresentou maior frequência no grupo das enfermidades intestinais. A desidratação também foi mais intensa no GI, no qual os animais apresentaram em sua maioria entre 8 a 12%, o que pode ser atribuído ao sequestro de líquidos para o interior do trato digestório, como ocorre em casos de obstruções intestinais(2828 Murray MJ, & Smith BP. 2006. Enfermidades do trato alimentar. In: Smith BP. Medicina interna de grandes animais. 3º ed. Manole: São Paulo. 2006, p.766.). Achados semelhantes foram também descritos em bovinos acometidos com intussuscepção, obstrução por fitobezoário e outras obstruções intestinais(2727 Afonso JAB, Pereira ALL, Vieira ACS, Mendonça CL, Costa NA, & Souza MI. Alterações clínicas e laboratoriais na obstrução gastrointestinal por fitobezoários em bovinos. Rev. Bras. Saú. Prod. Anim., 2008, 9: 91-102.,2222 Silva Filho AP, Afonso JAB, Souza JCA, Costa NA, & Mendonça CL. Análise clínica e patológica em 20 casos de intussuscepção em bovinos. Vet. e Zootec., 2010, 17 (30): 421-430.,2929 Braun U, Beckmann C, Gerspach C, Hassig M, Muggli E, Knubben-SChweizer G, & Nuss K. 2012. Clinical findings and treatment in cattle with caecal dilatation. Veterinary Research, 2012, 8 (75): 1-9.,3030 Dezfouli MRM, Lotfollahzadeh S, Sadeghian S, Kojouri GA, Eftekhari Z, Khadivar F, & Bashiri A. Blood electrolytes changes in peritonitis of cattle. Comp. Clin. Pat., 2012, 21: 1445-1449.,2525 Hussain SA, Uppal SK, Randhawa CS, & Sood NK. Bovine intestinal obstrution: blood gas analysis, serum C-reactive protein and clinical, haematological and biochemical alterations. J. of Ap. Anim. Res., 2015, 43 (2): 224-230.).

A taquicardia, observada em ambos os grupos, também foi relatada previamente em outros trabalhos com bovinos obstruídos por fitobezoários e bovinos acometidos com reticulopericardite traumática(2727 Afonso JAB, Pereira ALL, Vieira ACS, Mendonça CL, Costa NA, & Souza MI. Alterações clínicas e laboratoriais na obstrução gastrointestinal por fitobezoários em bovinos. Rev. Bras. Saú. Prod. Anim., 2008, 9: 91-102.,3131 Silva NAA. Achados epidemiológicos, clínicos e ultrassonográficos em bovinos acometidos com reticulopericardite traumática. Dissertação (Mestrado em sanidade e reprodução de ruminantes). Universidade Federal Rural de Pernambuco. Garanhuns, 2011, p.64. http://www.tede2.ufrpe.br:8080/tede/bitstream/tede2/6275/2/Nivan%20Antonio%20Alves%20da%20Silva.pdf
http://www.tede2.ufrpe.br:8080/tede/bits...
). No GII, mais da metade dos animais se apresentaram taquipneicos. Este achado é observado nas enfermidades que cursam com distensões dos pré-estômagos e nos casos de ascite(1616 Dirksen G, Gründer HD, & Stober M. Rosenberger Exame Clínico dos Bovinos. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 1993. 419p.). A dor visceral(3232 Lascelles BDX. Advances in the control of pain in animals. Vet. Ann, 1996, 36: 1-15.), dentre outros sinais clínicos, pode ser demonstrada pela taquicardia e taquipneia, sinais estes também observados em bovinos com peritonite(3030 Dezfouli MRM, Lotfollahzadeh S, Sadeghian S, Kojouri GA, Eftekhari Z, Khadivar F, & Bashiri A. Blood electrolytes changes in peritonitis of cattle. Comp. Clin. Pat., 2012, 21: 1445-1449.). No entanto, frequência respiratória normal foi relatada na maioria dos animais com reticulites traumáticas(1414 Athar H, Mohindroo J, Singh K, Kumar A, & Randhawa CS. Clinical, haematobichemical, radiographic and ultrasonographic features of traumatic reticuloperitonitis in bovines. Indian J. of Anim. Sci., 2010, 80 (7): 608-612.,3131 Silva NAA. Achados epidemiológicos, clínicos e ultrassonográficos em bovinos acometidos com reticulopericardite traumática. Dissertação (Mestrado em sanidade e reprodução de ruminantes). Universidade Federal Rural de Pernambuco. Garanhuns, 2011, p.64. http://www.tede2.ufrpe.br:8080/tede/bitstream/tede2/6275/2/Nivan%20Antonio%20Alves%20da%20Silva.pdf
http://www.tede2.ufrpe.br:8080/tede/bits...
).

A hipomotilidade ruminal e intestinal foram observadas em ambos os grupos, em grande parte dos animais, chamando atenção para o aumento da tensão abdominal e presença de som de líquido ao balotamento no antímero direito do abdômen, mais evidente nos animais com enfermidades intestinais (GI). Estudos associaram essa hipomotilidade à inflamação peritoneal(1414 Athar H, Mohindroo J, Singh K, Kumar A, & Randhawa CS. Clinical, haematobichemical, radiographic and ultrasonographic features of traumatic reticuloperitonitis in bovines. Indian J. of Anim. Sci., 2010, 80 (7): 608-612.,2525 Hussain SA, Uppal SK, Randhawa CS, & Sood NK. Bovine intestinal obstrution: blood gas analysis, serum C-reactive protein and clinical, haematological and biochemical alterations. J. of Ap. Anim. Res., 2015, 43 (2): 224-230.). O som de líquido ao balotamento estava presente em maior frequência nos animais do GI estando de acordo com autores que observaram esse achado em 82,6% dos bovinos acometidos com enfermidade intestinal(2929 Braun U, Beckmann C, Gerspach C, Hassig M, Muggli E, Knubben-SChweizer G, & Nuss K. 2012. Clinical findings and treatment in cattle with caecal dilatation. Veterinary Research, 2012, 8 (75): 1-9.). Quanto às características das fezes, ressalta-se a presença de muco, coloração escura e mínima produção a ausência de fezes na ampola retal dos animais do GI. Observações semelhantes foram evidenciadas em casos de intussuscepção, e os pesquisadores relataram que a passagem de fezes nas primeiras 12 horas após a ocorrência deste evento pode ser normal, no entanto, a produção de fezes é mínima e que, após 24 horas, a presença de sangue e muco no reto são achados comuns nestes casos(2222 Silva Filho AP, Afonso JAB, Souza JCA, Costa NA, & Mendonça CL. Análise clínica e patológica em 20 casos de intussuscepção em bovinos. Vet. e Zootec., 2010, 17 (30): 421-430.).

Quanto à análise física do LP, foi observado em ambos os grupos um líquido de coloração amarelada, variando de intensidade com leve turvação. Esta alteração também foi relatada por outros autores ao analisarem o LP de vacas com peritonite e bezerros com hérnia umbilical(3333 Peiró JR, Lucato B, Mendes LCN, Ciarlini PC, Feitosa FLF, Bonelho FL, Maemura SM, Soares GT, Santana AE, & Perri SHV. Evaluation of cytologic and biochemical variables in blood, plasma, and peritoneal fluid from calves before and after umbilical herniorraphy. AJVR. 2009, 70 (3): 423-432.,3030 Dezfouli MRM, Lotfollahzadeh S, Sadeghian S, Kojouri GA, Eftekhari Z, Khadivar F, & Bashiri A. Blood electrolytes changes in peritonitis of cattle. Comp. Clin. Pat., 2012, 21: 1445-1449.). Alterações na coloração do LP são sugestivas de comprometimento abdominal(2323 Wittek T, Grosche A, Locher LF, & Furll M. Diagnostic Accuracy of D-Dimer and Other Peritoneal Fluid Analysis Measurements in Dairy Cows with Peritonitis. J. of Vet. Int. Med., 2010a, 24: 1211-1217.,3737 Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.,1919 Zadnik T. A retrospective study of peritoneal fluids in cows with peritoneal disorders. Vet. Glas. 2010, 64 (3-4): 187-195.). Observou-se volume de LP superior ao considerado normal(1717 Dirksen G. Sistema Digestivo. In: Dirksen G, Gründer HD, & Stober M. Rosenberger Exame Clínico dos Bovinos. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 1993, p.166-228.) na maioria dos animais de ambos os grupos. O volume de LP acima do normal é resultante da diminuição da pressão oncótica e ao aumento da permeabilidade vascular(3434 Dewhurst E. & Papasouliotis K. Body cavity effusions. In Villiers, E & Blackwood L . BSAVA Manual of Canine and Feline Clinical Pathology. British Small Animal Veterinary Association. Inglaterra, 2º ed., 2005, p.340-363.) que podem vir a ocorrer nas doenças crônicas e/ou nos processos digestórios obstrutivos(3737 Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.). Em estudo sobre constituintes bioquímicos no LP de bovinos, pesquisadores encontraram volume de LP inferior a dez mililitros em bovinos adultos sadios, enquanto, em bovinos com peritonite, encontraram volume superior a 200 mL, semelhante ao relatado em bovinos com enfermidades abdominais(1919 Zadnik T. A retrospective study of peritoneal fluids in cows with peritoneal disorders. Vet. Glas. 2010, 64 (3-4): 187-195.). Vale ressaltar que nos bovinos sadios o volume de LP é bastante escasso, somente o necessário para a lubrificação e proteção das vísceras abdominais(1717 Dirksen G. Sistema Digestivo. In: Dirksen G, Gründer HD, & Stober M. Rosenberger Exame Clínico dos Bovinos. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 1993, p.166-228.).

A densidade do LP em ambos os grupos apresentou valores superiores a 1,015 que é o valor limite para a normalidade do LP de bovinos sadios(1717 Dirksen G. Sistema Digestivo. In: Dirksen G, Gründer HD, & Stober M. Rosenberger Exame Clínico dos Bovinos. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 1993, p.166-228.). Em vacas com peritonite(3030 Dezfouli MRM, Lotfollahzadeh S, Sadeghian S, Kojouri GA, Eftekhari Z, Khadivar F, & Bashiri A. Blood electrolytes changes in peritonitis of cattle. Comp. Clin. Pat., 2012, 21: 1445-1449.), pesquisadores encontraram média de 1,027 para a densidade no LP. A densidade do LP é decorrente do aumento da concentração proteica e da celularidade(3535 Mendes LNC, Marques LC, Schocken-iturrino RP, & Ávila FA. Clinical aspects of experimental peritonitis in horses. Ciênc. Rur., 1999, 29 (3): 493-497.) e este aumento está relacionado ao processo inflamatório local na cavidade peritoneal, podendo refletir que, quanto maior a densidade do LP, mais grave é a enfermidade digestória(3333 Peiró JR, Lucato B, Mendes LCN, Ciarlini PC, Feitosa FLF, Bonelho FL, Maemura SM, Soares GT, Santana AE, & Perri SHV. Evaluation of cytologic and biochemical variables in blood, plasma, and peritoneal fluid from calves before and after umbilical herniorraphy. AJVR. 2009, 70 (3): 423-432.,1919 Zadnik T. A retrospective study of peritoneal fluids in cows with peritoneal disorders. Vet. Glas. 2010, 64 (3-4): 187-195.).

Na avaliação da concentração proteica de ambos os grupos, foi possível observar um aumento na concentração média (3,0 g/dL). Tais valores são considerados anormais para a espécie(1717 Dirksen G. Sistema Digestivo. In: Dirksen G, Gründer HD, & Stober M. Rosenberger Exame Clínico dos Bovinos. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 1993, p.166-228.,1919 Zadnik T. A retrospective study of peritoneal fluids in cows with peritoneal disorders. Vet. Glas. 2010, 64 (3-4): 187-195.). Em bovinos com peritonite e em bezerros submetidos à herniorrafia, foi observado aumento na concentração proteica no LP e os achados foram atribuídos ao processo inflamatório local por aumento da permeabilidade vascular(3434 Dewhurst E. & Papasouliotis K. Body cavity effusions. In Villiers, E & Blackwood L . BSAVA Manual of Canine and Feline Clinical Pathology. British Small Animal Veterinary Association. Inglaterra, 2º ed., 2005, p.340-363.,3333 Peiró JR, Lucato B, Mendes LCN, Ciarlini PC, Feitosa FLF, Bonelho FL, Maemura SM, Soares GT, Santana AE, & Perri SHV. Evaluation of cytologic and biochemical variables in blood, plasma, and peritoneal fluid from calves before and after umbilical herniorraphy. AJVR. 2009, 70 (3): 423-432.,3030 Dezfouli MRM, Lotfollahzadeh S, Sadeghian S, Kojouri GA, Eftekhari Z, Khadivar F, & Bashiri A. Blood electrolytes changes in peritonitis of cattle. Comp. Clin. Pat., 2012, 21: 1445-1449.).

Na análise citológica do LP, observou-se valor médio da CTCN (Tabela 01) no limite superior para a espécie bovina(1717 Dirksen G. Sistema Digestivo. In: Dirksen G, Gründer HD, & Stober M. Rosenberger Exame Clínico dos Bovinos. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 1993, p.166-228.), não se mostrando representativo do quadro clínico, tendo em vista o processo inflamatório presente em ambos os grupos. Esta observação também foi relatada em outros estudos com vacas com e sem peritonite(2323 Wittek T, Grosche A, Locher LF, & Furll M. Diagnostic Accuracy of D-Dimer and Other Peritoneal Fluid Analysis Measurements in Dairy Cows with Peritonitis. J. of Vet. Int. Med., 2010a, 24: 1211-1217.,3737 Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.,3636 Safarchi R, Badiei A, Nadalian MG, & Seifi HA. Peritoneal fluid analysis in dairy cows suffering from peritonitis. Res. Opin. in Anim. Vet. Sci. 2015, 5 (8): 353-359.) que também verificaram variabilidade na CTCN no LP dos animais avaliados em seus estudos, destacando-se observações já realizadas por outros pesquisadores(3636 Safarchi R, Badiei A, Nadalian MG, & Seifi HA. Peritoneal fluid analysis in dairy cows suffering from peritonitis. Res. Opin. in Anim. Vet. Sci. 2015, 5 (8): 353-359.) que relataram que só a CTCN não é confiável para a determinação da real situação de gravidade do LP. No que diz respeito à celularidade presente no LP, destaca-se o maior percentual de PMN em ambos os grupos (Tabela 1), semelhantemente ao que já foi observado em outra pesquisa com LP de vacas com enfermidades digestivas(1919 Zadnik T. A retrospective study of peritoneal fluids in cows with peritoneal disorders. Vet. Glas. 2010, 64 (3-4): 187-195.). Diante do quadro clínico que os animais de ambos os grupos apresentavam, a avaliação qualitativa da celularidade foi mais confiável, ratificando a recomendação de aliar a informação da CTCN à contagem diferencial nos casos suspeitos de peritonite(3636 Safarchi R, Badiei A, Nadalian MG, & Seifi HA. Peritoneal fluid analysis in dairy cows suffering from peritonitis. Res. Opin. in Anim. Vet. Sci. 2015, 5 (8): 353-359.).

Tabela 1
Valores médios, desvios padrão (x±s) e nível de significância (P) da Contagem Total de Células Nucleadas e percentual de polimorfonucleares presentes no líquido peritoneal dos bovinos acometidos com enfermidades intestinais (GI) e reticulites traumáticas (GII)

Os resultados da análise bioquímica realizada no sangue e no LP dos animais do GI) e do GII estão descritos nas Tabelas 2 e 3, respectivamente. Nas Tabelas 4 e 5 encontram-se os resultados das variáveis mensuradas no sangue e no LP, respectivamente, comparando-se os grupos GI e GII.

Tabela 2
Valores médios, desvios padrão (x±s) e nível de significância (P) das variáveis bioquímicas mensuradas simultaneamente no sangue e no líquido peritoneal (LP) de bovinos acometidos com enfermidades intestinais (GI)
Tabela 3
Valores médios, desvios padrão (x±s) e nível de significância (P) das variáveis bioquímicas mensuradas simultaneamente no sangue e no líquido peritoneal (LP) de bovinos acometidos com reticulites traumáticas (GII)
Tabela 4
Valores médios, desvios padrão (x±s) e nível de significância (P) das variáveis bioquímicas mensuradas no sangue de bovinos acometidos com enfermidades intestinais (GI) e reticulites traumáticas (GII)
Tabela 5
Valores médios, desvios padrão (x±s) e nível de significância (P) das variáveis bioquímicas mensuradas no líquido peritoneal (LP) de bovinos acometidos com enfermidades intestinais (GI) e reticulites traumáticas (GII)

No soro sanguíneo, as concentrações de PT e globulina foram superiores no GII em relação ao GI, consequentemente menor a relação A/G nos animais do grupo GII (Tabela 4). A concentração proteica sérica no GII situou-se pouco acima do considerado normal para a espécie(3737 Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.). Esta elevação da PT se deve à hiperglobulinemia observada em ambos os grupos, no entanto em maior magnitude nos animais do GII (Tabela 4). Tal achado está relacionado ao caráter crônico das reticulites traumáticas(2626 Miesner MD, & Reppert EJ. Diagnosis and treatment of hardware disease. Vet. Clin. f. anim., 2017: 1-11.), quando comparado às enfermidades intestinais, o que consequentemente causou maior estímulo antigênico(3838 Matheus N, Ramirez F, Salazar C, Leonardi F, & Bravo H. Relación albumina: globulina plasmáticas em tres épocas del año em vacas de la raza Carora del estado Lara. Gac. de Ciênc. Vet., 2001, 7 (1): 4-10.

39 Meyer DJ, & Harvey JW. Veterinary laboratory medicine: interpretation & diagnosis. 2º ed. Saunders, Philadelphia. 2004, 351p.
-4040 Russell KE, & Roussel AJ. Evaluation of the Ruminant Serum Chemistry Profile. Vet. Clin. of Nor. Amer. F. Anim. Pract., 2007, 23 (3): 403-426.). A hipoalbuminemia observada em ambos os grupos (Tabela 4) pode estar relacionada à diminuição da capacidade de síntese hepática, seja pelo comprometimento funcional, seja pelo fato de a albumina ser uma proteína de fase aguda negativa e nestes casos se encontrar diminuída(3939 Meyer DJ, & Harvey JW. Veterinary laboratory medicine: interpretation & diagnosis. 2º ed. Saunders, Philadelphia. 2004, 351p.,3737 Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.). Resultados semelhantes para essas variáveis foram observados em estudos com bovinos e bubalinos acometidos por reticuloperitonite traumática e pericardite traumática(1313 Gokce HI, Gokce G, & Cihan M. Alterations in coagulation profiles and biochemical and haematological parameters in cattle with traumatic reticuloperitonitis. Vet. Res. Com., 2007, 31: 529-537.,1414 Athar H, Mohindroo J, Singh K, Kumar A, & Randhawa CS. Clinical, haematobichemical, radiographic and ultrasonographic features of traumatic reticuloperitonitis in bovines. Indian J. of Anim. Sci., 2010, 80 (7): 608-612.,4141 Hussein HA, & Staufenbiel R. Clinical presentation and ultrasonographic findings in buffaloes with congestive heart failure. Turk. J. of Vet. and Anim. Sci., 2014, 38: 534-545.) e por obstruções intestinais(2525 Hussain SA, Uppal SK, Randhawa CS, & Sood NK. Bovine intestinal obstrution: blood gas analysis, serum C-reactive protein and clinical, haematological and biochemical alterations. J. of Ap. Anim. Res., 2015, 43 (2): 224-230.).

No LP, a concentração proteica estava elevada em ambos os grupos, apresentando valores médios próximos a 4,0g/dL (Tabela 5). Observa-se em ambos os grupos que a elevação proteica foi decorrente, em grande parte, da elevação da globulina. Apesar da concentração da albumina ser maior no GI, não foi observada diferença estatística no valor da relação A/G entre os grupos. Em estudos com bovinos com graves enfermidades digestivas e com peritonite, foram observadas médias de PT no LP acima de 3,0 g/ dL(2323 Wittek T, Grosche A, Locher LF, & Furll M. Diagnostic Accuracy of D-Dimer and Other Peritoneal Fluid Analysis Measurements in Dairy Cows with Peritonitis. J. of Vet. Int. Med., 2010a, 24: 1211-1217.,3030 Dezfouli MRM, Lotfollahzadeh S, Sadeghian S, Kojouri GA, Eftekhari Z, Khadivar F, & Bashiri A. Blood electrolytes changes in peritonitis of cattle. Comp. Clin. Pat., 2012, 21: 1445-1449.,4242 Grosche A, Furll M, & Wittek T. Peritoneal fluid analysis in dairy cows with left displaced abomasum and abomasal volvulus. Vet. Rec., 2012, 170: 413.,3636 Safarchi R, Badiei A, Nadalian MG, & Seifi HA. Peritoneal fluid analysis in dairy cows suffering from peritonitis. Res. Opin. in Anim. Vet. Sci. 2015, 5 (8): 353-359.,3737 Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.), assim como a concentração da globulina e albumina superior nas vacas com peritonite, quando comparadas às vacas saudáveis(2323 Wittek T, Grosche A, Locher LF, & Furll M. Diagnostic Accuracy of D-Dimer and Other Peritoneal Fluid Analysis Measurements in Dairy Cows with Peritonitis. J. of Vet. Int. Med., 2010a, 24: 1211-1217.,3737 Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.), semelhante ao observado neste estudo. O aumento da concentração proteica no LP pode ser associado aos processos inflamatórios locais ocasionados pelas enfermidades digestivas observadas na cavidade abdominal dos animais estudados, causando o aumento da permeabilidade vascular e consequentemente extravasamento e aumento da concentração proteica no LP(3535 Mendes LNC, Marques LC, Schocken-iturrino RP, & Ávila FA. Clinical aspects of experimental peritonitis in horses. Ciênc. Rur., 1999, 29 (3): 493-497.,3434 Dewhurst E. & Papasouliotis K. Body cavity effusions. In Villiers, E & Blackwood L . BSAVA Manual of Canine and Feline Clinical Pathology. British Small Animal Veterinary Association. Inglaterra, 2º ed., 2005, p.340-363.,3333 Peiró JR, Lucato B, Mendes LCN, Ciarlini PC, Feitosa FLF, Bonelho FL, Maemura SM, Soares GT, Santana AE, & Perri SHV. Evaluation of cytologic and biochemical variables in blood, plasma, and peritoneal fluid from calves before and after umbilical herniorraphy. AJVR. 2009, 70 (3): 423-432.).

Quando se comparam os valores das concentrações proteicas simultaneamente no LP e no soro sanguíneo em ambos os grupos (Tabelas 2 e 3), verifica-se no GI maior magnitude da concentração de PT, de albumina e de globulina no LP, em torno de 70% da concentração sanguínea. Em seres humanos, a relação entre [PT] do LP / [PT] do soro sanguíneo > 0,5 é indicativa de alteração(4343 Light RW, Macgregor MI, Luchsinger PC, & Ball WCJR. Pleural effusions: the diagnostic separation of transudates and exudates. Ann Intern Med. 1972, 77 (4): 507-513.

44 Bender MD. Diseases of the peritoneum, mesentery and omentum. In: Wyngaarden JB, Smith LH, Bennett JC. Cecil Textbook of Medicine 19th ed., W.B. Saunders Company: Philadelphia, 1992, p.737-742.
-4545 Paramothayan NS, & Barron J. New criteria for the differentiation between transudates and exsudates. J. Clin. Pathol., 2002, 55: 69-71.). Resultados semelhantes também foram verificados em vacas com peritonites(3737 Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.). Geralmente em bovinos hígidos a concentração proteica do LP corresponde a algo em torno de 30% da concentração proteica sanguínea(2323 Wittek T, Grosche A, Locher LF, & Furll M. Diagnostic Accuracy of D-Dimer and Other Peritoneal Fluid Analysis Measurements in Dairy Cows with Peritonitis. J. of Vet. Int. Med., 2010a, 24: 1211-1217.,3737 Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.,66 Maden M, Ozturk AS, Bulbul A, Avci GE, & Yazar E. Acute-phase proteins, oxidative stress and enzyme activities of blood serum and peritoneal fluid in cattle with abomasal displacement. Jou. of Vet. Int. Med. 2012, 26: 1470-1475.). A realização da avaliação simultânea da concentração proteica do LP e do soro sanguíneo ratifica sua utilidade como informação auxiliar de diagnóstico e prognóstico dos casos de peritonite nos bovinos.

Não foi observada diferença estatística na concentração sanguínea e do LP na de ureia e creatinina nos animais de ambos os grupos (Tabelas 2 e 3), assim como entre as diferentes enfermidades (Tabelas 4 e 5).

Os valores médios das variáveis permaneceram dentro da normalidade(4646 Kaneko JJ, Harvey JW, & Bruss ML. Clinical biochemistry of domestic animals. 6 th. Academic Press, New York. 2008, 904p.), não desencadeando alteração da funcionalidade renal. A desidratação observada em diferentes graus não acarretou quadro de azotemia pré-renal, conforme verificado em bovinos com RPT e pericardite traumática(1515 Ghanem MM. A comparitive study on traumatic reticuloperitonitis and traumatic pericarditis in Egyptian cattle. Turk. J. of Vet. and Anim. Sci., 2010, 34 (2): 143-153.). Nos casos de enfermidades abdominais em que há suspeita de uroperitônio, é de grande importância a avaliação da ureia e da creatinina tanto sérica quanto peritoneal para a confirmação do diagnóstico(4747 Braun U, & Nuss K. Uroperitoneum in cattle: Ultrassonographic findings, diagnosis and treatment. Ac. Vet. Scand., 2015, 57 (36): 1-9.), alteração esta não observada neste estudo.

Não foi observada diferença significativa entre a concentração da glicose sanguínea e do LP (Tabelas 2 e 3), assim como entre os grupos (Tabelas 4 e 5). O valor médio da glicemia dos animais estudados foi de 71,58 mg/dL (Tabela 4), semelhante ao observado em vacas sadias(3737 Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.). Houve aumento da glicose plasmática em bovinos e bubalinos com obstrução intestinal e tais achados foram atribuídos ao estresse causado pela enfermidade intestinal(2525 Hussain SA, Uppal SK, Randhawa CS, & Sood NK. Bovine intestinal obstrution: blood gas analysis, serum C-reactive protein and clinical, haematological and biochemical alterations. J. of Ap. Anim. Res., 2015, 43 (2): 224-230.), alteração esta não observada nos animais deste estudo.

A concentração da glicose mensurada no LP de ambos os grupos (Tabela 5) não apresentou diferenças significativas em ambos os grupos, e corroborou com um estudo com enfermidades do abomaso, onde não foram verificadas alterações na concentração da glicose no LP(4242 Grosche A, Furll M, & Wittek T. Peritoneal fluid analysis in dairy cows with left displaced abomasum and abomasal volvulus. Vet. Rec., 2012, 170: 413.). No entanto, em outro estudo houve a diminuição da concentração da glicose no LP de vacas com peritonite séptica em relação ao grupo de vacas com peritonite não séptica e estes pesquisadores ainda observaram diminuição significativa em relação a concentração da glicose no LP de vacas sadias em seu estudo(3737 Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.).

Foi observado, em ambos os grupos, valores superiores de lactato L no LP quando comparado aos níveis sanguíneos (Tabelas 2 e 3). O valor da média geral da concentração do lactato L no LP foi de 73,52 mg/dL (Tabela 5), ou seja, mais de dez vezes superior ao encontrado em vacas sadias(3737 Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.). Na espécie bovina, numa condição fisiológica, observam-se valores semelhantes, ou mesmo inferiores, no LP quando comparados à concentração sanguínea(3737 Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.). Em equinos hígidos, a concentração de lactato L no LP corresponde a aproximadamente metade da concentração plasmática(4848 Moore JN, Traver DS, Turner MF, White FJ, Huesgen JG, & Butera TS. Lactic acid concentration in peritoneal fluid of normal and diseased horses. Research in Veterinary Science 1977, 23: 117-118.). Avaliando a relação [lactato L] LP/[lactato L] plasma sanguíneo dos bovinos deste estudo, percebe-se a magnitude da concentração desta variável no LP, pois em ambos os grupos os valores médios da relação foram superiores a 2,5, podendo este achado ser resultante das lesões isquêmicas devido à gravidade das enfermidades digestivas envolvidas(3737 Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.). Outros pesquisadores observaram valor de relação de 0,61 em bovinos sadios e 1,01 nos animais com peritonite, ainda assim inferior à relação observada neste estudo. O lactato L é produto do metabolismo anaeróbico dos tecidos durante episódios isquêmicos, entre os quais intestinais, resultando no aumento da concentração de lactato L no LP(3737 Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.), semelhante também ao descrito na espécie equina(4848 Moore JN, Traver DS, Turner MF, White FJ, Huesgen JG, & Butera TS. Lactic acid concentration in peritoneal fluid of normal and diseased horses. Research in Veterinary Science 1977, 23: 117-118.).

Não foi observada diferença nos níveis sanguíneo e no LP de lactato L entre os grupos, estando, em ambos os espécimes clínicos, elevados para a espécie bovina, com médias de 27,78 mg/dL e 73,52 mg/dL, respectivamente(2323 Wittek T, Grosche A, Locher LF, & Furll M. Diagnostic Accuracy of D-Dimer and Other Peritoneal Fluid Analysis Measurements in Dairy Cows with Peritonitis. J. of Vet. Int. Med., 2010a, 24: 1211-1217.). A elevação do lactato L no sangue e no LP foi descrita em bovinos com peritonite(3737 Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.) e com abomasopatias(4242 Grosche A, Furll M, & Wittek T. Peritoneal fluid analysis in dairy cows with left displaced abomasum and abomasal volvulus. Vet. Rec., 2012, 170: 413.). Autores citaram que a concentração plasmática do lactato L foi o melhor marcador na avaliação da gravidade da isquemia mesentérica em humanos(4949 Lange H, & Jackel R. Usefulness of plasma lactate concentrations in the diagnosis of acute abdominal disease. Europ. J. Surg., 1994, 160: 381-384.).

Quando comparada à atividade enzimática da AST, GGT, LDH e CK no sangue com a atividade no LP, observa-se não haver diferença nos animais do GI (Tabela 2). No entanto, nos animais acometidos com reticulites (GII), os valores séricos foram superiores aos do LP para as enzimas avaliadas, com exceção da CK (Tabela 3).

Ao comparar a atividade sérica enzimática entre os grupos avaliados, verifica-se não haver diferença entre eles, com exceção da GGT que apresentou valores superiores no GII (Tabela 4). No que diz respeito ao LP, apenas a CK diferiu estatisticamente, sendo superior nos animais portadores de enfermidades intestinais (GI) (Tabela 5).

Em ambos os grupos, no sangue e no LP, obtiveram-se valores médios de AST, GGT, LDH e CK superiores aos observados em bovinos sadios(4646 Kaneko JJ, Harvey JW, & Bruss ML. Clinical biochemistry of domestic animals. 6 th. Academic Press, New York. 2008, 904p.,2323 Wittek T, Grosche A, Locher LF, & Furll M. Diagnostic Accuracy of D-Dimer and Other Peritoneal Fluid Analysis Measurements in Dairy Cows with Peritonitis. J. of Vet. Int. Med., 2010a, 24: 1211-1217.,5050 Cozzi G, Ravarotto L, Gottardo F, Stefani AL, Contiero B, Moro L, Brscic M, & Dalvit P. Short communication: Reference values for blood parameters in Holstein dairy cows: Effects of parity, stage of lactation, and season of production. J. Dai. Sci., 2011, 94: 3895-3901.,66 Maden M, Ozturk AS, Bulbul A, Avci GE, & Yazar E. Acute-phase proteins, oxidative stress and enzyme activities of blood serum and peritoneal fluid in cattle with abomasal displacement. Jou. of Vet. Int. Med. 2012, 26: 1470-1475.). Resultados semelhantes foram relatados em bovinos acometidos com graves distúrbios digestórios e peritonite(2323 Wittek T, Grosche A, Locher LF, & Furll M. Diagnostic Accuracy of D-Dimer and Other Peritoneal Fluid Analysis Measurements in Dairy Cows with Peritonitis. J. of Vet. Int. Med., 2010a, 24: 1211-1217.,66 Maden M, Ozturk AS, Bulbul A, Avci GE, & Yazar E. Acute-phase proteins, oxidative stress and enzyme activities of blood serum and peritoneal fluid in cattle with abomasal displacement. Jou. of Vet. Int. Med. 2012, 26: 1470-1475.).

Os resultados elevados de AST, GGT e LDH em ambos os grupos são indicativos de comprometimento da funcionalidade hepática, ratificado pela hipoalbuminemia e pela concentração do colesterol no limite inferior(5151 Moore F. Interpreting serum chemistry profiles in dairy cows. Vet. Med., 1997, 92: 903-912.,1515 Ghanem MM. A comparitive study on traumatic reticuloperitonitis and traumatic pericarditis in Egyptian cattle. Turk. J. of Vet. and Anim. Sci., 2010, 34 (2): 143-153.,5252 Moreira CN, Souza SN, Barini AC, Araújo EG, & Fioravanti MCS. Serum y-glutamyltransferase activity as an indicator of chronic liver injury in cattle with no clinical signs. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., 2012, 64 (6): 1403-1410.). Vale salientar a concentração elevada da GGT sérica nos animais acometidos com reticulites traumáticas, comparado aos animais com enfermidades intestinais. Os diferentes tipos de reticulites traumáticas observadas no presente estudo têm caráter evolutivo crônico(2626 Miesner MD, & Reppert EJ. Diagnosis and treatment of hardware disease. Vet. Clin. f. anim., 2017: 1-11.). Como a GGT tem alta especificidade para lesões hepáticas e maior persistência durante os processos crônicos, comparada às outras enzimas avaliadas(5252 Moreira CN, Souza SN, Barini AC, Araújo EG, & Fioravanti MCS. Serum y-glutamyltransferase activity as an indicator of chronic liver injury in cattle with no clinical signs. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., 2012, 64 (6): 1403-1410.), essa observação de aumento significativo no grupo das reticulites traumáticas reflete o dano hepático crônico sofrido pelos animais deste grupo.

A CK foi a única enzima que teve o valor médio mais elevado no LP dos bovinos acometidos com enfermidades intestinais comparado ao grupo das reticulites traumáticas (Tabela 5). Em outros estudos com enfermidades digestivas (abomasopatias e peritonite) em bovinos também foram observados aumentos da atividade da CK no LP(2323 Wittek T, Grosche A, Locher LF, & Furll M. Diagnostic Accuracy of D-Dimer and Other Peritoneal Fluid Analysis Measurements in Dairy Cows with Peritonitis. J. of Vet. Int. Med., 2010a, 24: 1211-1217.,66 Maden M, Ozturk AS, Bulbul A, Avci GE, & Yazar E. Acute-phase proteins, oxidative stress and enzyme activities of blood serum and peritoneal fluid in cattle with abomasal displacement. Jou. of Vet. Int. Med. 2012, 26: 1470-1475.). Esse aumento pode estar relacionado às lesões da musculatura intestinal, já que esta enzima pode aumentar sua atividade na ocorrência de lesões intestinais, conforme observado em cães(5353 Aktas M, Auguste D, Lefebvre HP, Toutain PL, & Braun JP. Creatine Kinase in the dog: a review. Vet. Res. Com., 1993, 17 (5): 353-369.).

A concentração do colesterol no LP foi inferior à concentração sanguínea em ambos os grupos, sendo mais expressiva no GII (Tabelas 2 e 3). Não foi observada diferença no comportamento dessa variável, tanto no sangue (Tabela 4) como no LP (Tabela 5) entre os grupos estudados.

Quanto aos níveis do colesterol sérico nos animais de ambos os grupos (Tabela 4), observa-se valor médio pouco abaixo da normalidade para espécie bovina(5454 Pogliani FC, & Birgel Junior E. Valores de referência do lipidograma de bovinos da raça holandesa, criados no Estado de São Paulo. Braz. J. of Vet. Res. and Anim. Sci., 2007, 44 (5): 373-383.). Essa diminuição pode estar associada à ocorrência de hepatopatias nesses animais, pois o fígado é o principal local de síntese do colesterol, consequentemente estará limitada a sua produção(5555 Ashmawy NA. Changes in peripheral plasma hormone concentrations and metabolites during the last trimester of pregnancy and around parturition in the Egyptian buffalo and baladi cows. Intern. J. of Adv. Res., 2015, 3 (11): 1377-1390.). A hipocolesterolemia pode ser observada em doenças hepáticas crônicas e graves, pois, além da diminuição da síntese do colesterol sua absorção intestinal, também pode estar comprometida, aliado ao aumento da conversão do colesterol em ácidos biliares(3939 Meyer DJ, & Harvey JW. Veterinary laboratory medicine: interpretation & diagnosis. 2º ed. Saunders, Philadelphia. 2004, 351p.). A observação da hipoalbuminemia e elevação da atividade sérica da GGT nesses animais ratifica o dano hepático sofrido por eles(5656 González FHD, & Scheffer JFS. Perfil sanguíneo: ferramenta de análise clínica, metabólica e nutricional. In Gonzáles FHD, Campos R. (Eds). Anais do I Simpósio de Patologia Clínica Veterinária da Região Sul do Brasil. Porto Alegre: Gráfica da UFRGS., 2003, p.73-89.,5252 Moreira CN, Souza SN, Barini AC, Araújo EG, & Fioravanti MCS. Serum y-glutamyltransferase activity as an indicator of chronic liver injury in cattle with no clinical signs. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., 2012, 64 (6): 1403-1410.).

Em relação ao colesterol no LP, a média geral observada (Tabela 5) estava dentro dos limites fisiológicos para a espécie(3737 Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.), não sendo observada diferença entre os grupos. Como observado em outro estudo, a mensuração do colesterol no LP não foi útil para o diagnóstico da peritonite em vacas leiteiras(2323 Wittek T, Grosche A, Locher LF, & Furll M. Diagnostic Accuracy of D-Dimer and Other Peritoneal Fluid Analysis Measurements in Dairy Cows with Peritonitis. J. of Vet. Int. Med., 2010a, 24: 1211-1217.).

As concentrações sanguínea e do LP dos triglicérides foram semelhantes, não havendo diferença entre elas (Tabelas 2 e 3), bem como não havendo diferença entre os grupos no comportamento dessa variável tanto no sangue quanto no LP (Tabelas 4 e 5).

Os valores médios observados no sangue em ambos os grupos se encontravam dentro do intervalo considerado normal para a espécie bovina(5454 Pogliani FC, & Birgel Junior E. Valores de referência do lipidograma de bovinos da raça holandesa, criados no Estado de São Paulo. Braz. J. of Vet. Res. and Anim. Sci., 2007, 44 (5): 373-383.,4646 Kaneko JJ, Harvey JW, & Bruss ML. Clinical biochemistry of domestic animals. 6 th. Academic Press, New York. 2008, 904p.). A mensuração dos triglicérides no LP é empregada nos casos suspeitos de quiloperitôneo, o que não foi evidenciado nos animais do presente estudo, ratificado pela ausência das características físicas de um fluido rico em quilomícrons, ou seja, de aspecto leitoso e com concentração de triglicérides maior do que 1000 mg/dL ou de duas a oito vezes maior que a concentração plasmática(5757 Sultan S, Pauwels A, Poupon R, & Levy VG. Chylous ascites in adults: etiological, therapeutic and prognostic aspects. Apropos of 35 cases. An. Gast. Hepatol., 1990, 26: 187-191.).

Quanto aos íons cálcio, sódio, potássio e cloretos, não foram observadas diferenças entre os níveis sanguíneos e no LP (Tabelas 2 e 3) dos animais estudados; com exceção do potássio. Não foi observada diferença entre os grupos estudados, apresentando em ambos o mesmo comportamento, tanto no sangue como no LP (Tabelas 4 e 5).

Os bovinos de ambos os grupos se apresentavam levemente hipoclorêmicos (Tabela 4) comparados aos níveis de cloretos (Cl-) séricos em bovinos saudáveis(5050 Cozzi G, Ravarotto L, Gottardo F, Stefani AL, Contiero B, Moro L, Brscic M, & Dalvit P. Short communication: Reference values for blood parameters in Holstein dairy cows: Effects of parity, stage of lactation, and season of production. J. Dai. Sci., 2011, 94: 3895-3901.,1212 Dezfouli MM, Efthekari Z, Sadeghian S, Bahounar A, & Jeloudari M. 2013. Evaluation of hematological and biochemical profiles in dairy cows with left displacement of the abomasum. Comp. Clin. Path., 2013, 22: 175-179.). A hipocloremia observada pode estar relacionada à concomitante hiponatremia existente nesses animais, ambas causadas pela diminuição da ingestão de alimentos, hipomotilidade gastrointestinal e, consequentemente, diminuição da absorção desses componentes(66 Maden M, Ozturk AS, Bulbul A, Avci GE, & Yazar E. Acute-phase proteins, oxidative stress and enzyme activities of blood serum and peritoneal fluid in cattle with abomasal displacement. Jou. of Vet. Int. Med. 2012, 26: 1470-1475.,1212 Dezfouli MM, Efthekari Z, Sadeghian S, Bahounar A, & Jeloudari M. 2013. Evaluation of hematological and biochemical profiles in dairy cows with left displacement of the abomasum. Comp. Clin. Path., 2013, 22: 175-179.,5858 Thrall MA, Weiser G, Allison RW, & Campbell TW. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan., 2015, p.678.).

O cálcio ionizável sérico (Ca2+) em ambos os grupos (Tabela 4) se apresentou com médias gerais no limite inferior para a normalidade da espécie(5959 Goff JP. The monitoring, prevention and treatment of milk fever and subclinical hypocalcemia in dairy cows. Vet. J., 2008, 176: 50-57.). Nos distúrbios digestórios, frequentemente ocorre hipomotilidade ou mesmo estase gastrointestinal, sinais clínicos observados em ambos os grupos estudados e que comprometem a absorção do cálcio bem como de outros minerais(1515 Ghanem MM. A comparitive study on traumatic reticuloperitonitis and traumatic pericarditis in Egyptian cattle. Turk. J. of Vet. and Anim. Sci., 2010, 34 (2): 143-153.).

Com relação ao sódio (Na+) sérico, o resultado observado em ambos os grupos (Tabela 4) está abaixo do encontrado em bovinos sadios(1212 Dezfouli MM, Efthekari Z, Sadeghian S, Bahounar A, & Jeloudari M. 2013. Evaluation of hematological and biochemical profiles in dairy cows with left displacement of the abomasum. Comp. Clin. Path., 2013, 22: 175-179.). A maioria dos animais do presente estudo apresentava aumento de volume do líquido abdominal e, possivelmente, esse evento contribuiu para a hiponatremia observada, pois o acúmulo de líquidos cavitários ocasiona perda do Na+ e de outros eletrólitos plasmáticos(5858 Thrall MA, Weiser G, Allison RW, & Campbell TW. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan., 2015, p.678.). No LP, o comportamento do Na+ foi semelhante ao do sangue em ambos os grupos (Tabela 5). As concentrações de Na+ frequentemente presentes nos derrames peritoneais são semelhantes ou levemente mais baixas do que as concentrações no plasma(6060 Wang T, Waniewski J, Heimburger O, Werynski A, & Lindholm A. A quantitative analysis of sodium transport and removal during peritoneal dialysis. Kid. Intern., 1997, 52: 1609-1616.).

Quanto ao potássio (K+) sérico, ambos os grupos (Tabela 4) apresentaram valores médios dessa variável pouco inferior ao relatado na literatura para animais sadios(5050 Cozzi G, Ravarotto L, Gottardo F, Stefani AL, Contiero B, Moro L, Brscic M, & Dalvit P. Short communication: Reference values for blood parameters in Holstein dairy cows: Effects of parity, stage of lactation, and season of production. J. Dai. Sci., 2011, 94: 3895-3901.,1212 Dezfouli MM, Efthekari Z, Sadeghian S, Bahounar A, & Jeloudari M. 2013. Evaluation of hematological and biochemical profiles in dairy cows with left displacement of the abomasum. Comp. Clin. Path., 2013, 22: 175-179.). A hipocalemia é um dos principais distúrbios eletrolíticos em pacientes graves na medicina veterinária, no entanto, sua causa nem sempre é identificada, tendo como principais fatores predisponentes a diminuição da ingestão de alimentos e perda gastrintestinal(5858 Thrall MA, Weiser G, Allison RW, & Campbell TW. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan., 2015, p.678.).

No LP, o K+ apresentou valores médios significativamente superiores aos do sangue em ambos os grupos(6161 Adamu SS, Egwu GO, & Malgwi JT. 1991. Biochemical changes in the peritoneal fluid following rumenotomy in goats. Vet. Res. Com., 1991, 15 (S): 363-367.). Pesquisadores relataram que esse eletrólito sofre influência quando há alterações na cavidade abdominal, pois os valores de K+ no LP de caprinos submetidos a ruminotomia também aumentaram significativamente após o procedimento, sugerindo que as alterações na cavidade modificam as concentrações bioquímicas, celulares e físicas no local, como também já foi observado e relatado em outro estudo com líquido peritoneal de bezerros submetidos a herniorrafia umbilical(3333 Peiró JR, Lucato B, Mendes LCN, Ciarlini PC, Feitosa FLF, Bonelho FL, Maemura SM, Soares GT, Santana AE, & Perri SHV. Evaluation of cytologic and biochemical variables in blood, plasma, and peritoneal fluid from calves before and after umbilical herniorraphy. AJVR. 2009, 70 (3): 423-432.). Em camelos saudáveis, valores superiores de K+ no LP também foram encontrados quando comparados aos valores sanguíneos destes animais(5656 González FHD, & Scheffer JFS. Perfil sanguíneo: ferramenta de análise clínica, metabólica e nutricional. In Gonzáles FHD, Campos R. (Eds). Anais do I Simpósio de Patologia Clínica Veterinária da Região Sul do Brasil. Porto Alegre: Gráfica da UFRGS., 2003, p.73-89.). Vale ressaltar a escassez de informações sobre os componentes eletrolíticos no LP de bovinos.

Conclusão

Bovinos com enfermidades intestinais apresentaram concentração da albumina e atividade da creatinoquinase no líquido peritoneal superiores a animais com reticulites.

A magnitude da concentração do lactato L no líquido peritoneal demonstrou estar relacionada à gravidade das alterações presentes na cavidade abdominal.

Recomenda-se a avaliação simultânea no sangue e no líquido peritoneal da concentração proteica e do lactato L, assim como a citologia do líquido peritoneal como informação de auxílio diagnóstico e prognóstico das enfermidades digestivas dos bovinos.

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) pela concessão da bolsa de doutorado (IBPG nº 0586-5.05/13/1).

Referências

  • 1
    Coutinho LT, Afonso JAB, Costa NA, Soares PC, & Mendonça CL. Fatores de risco relacionados à ocorrência do timpanismo espumoso em bovinos criados na região do agreste meridional do estado de Pernambuco, Brasil. Ciênc. Anim. Bras., 2012, 13(3): 368-376.
  • 2
    Afonso JAB. Afecções intestinais em bovinos. Rev. Acad. Ciênc. Anim., 2017, 15 suppl 2: 15-20.
  • 3
    Radostits OM, Gay CC, Hinchcliff KW, Constable PD. Veterinary medicine. A textbook of the diseases of cattle, horses, sheep, pigs, and goats. 10th. Saunders Elsevier, Rio de Janeiro. 2007. 2065p.
  • 4
    Borkowski J, Gmyrek GB, Madej JP, Nowacki W, Goluda M, Gabrys MS, STefaniak T, & Chelmonska-Soyta A. Serum and peritoneal evaluation of vitamin D-binding protein in women with endometriosis. Postepy Higieny I Medycyny Doswiadczalnej. 2008, 62: 103-109.
  • 5
    Di Filippo PA, Nogueira AFS, Anai LA, Alves AE, Santana AE, & Pereira GT. Perfil eletroforético das proteínas séricas e do líquido peritoneal de equinos submetidos à obstrução experimental do duodeno, íleo e cólon maior. Ciên. Anim. Bras., 2010, 11 (4): 938-946.
  • 6
    Maden M, Ozturk AS, Bulbul A, Avci GE, & Yazar E. Acute-phase proteins, oxidative stress and enzyme activities of blood serum and peritoneal fluid in cattle with abomasal displacement. Jou. of Vet. Int. Med. 2012, 26: 1470-1475.
  • 7
    Tharwat M, Ali A, Al-Sobayila F, & Buczinskib S. Ultrasound-guided collection of peritoneal fluid in healthy camels (Camelus dromedarius) and its biochemical analysis. Sma. Rumin. Res., 2013, 113: 307-311.
  • 8
    Van Hoogmoed L, Rodger LD, Spier SJ, Gardner IA, Yarbrough TB, & Snyder JR. Evaluation of peritoneal fluid pH, glucose concentration, and lactate dehydrogenase activity for detection of septic peritonitis in horses. J. Am. Vet. Med. Assoc. 1999, 214: 1032-1036.
  • 9
    Bonczynski JJ, Ludwig LL, Barton LJ, Loar A, & Peterson ME. Comparison of peritoneal fluid and peripheral blood pH, bicarbonate, glucose, and lactate concentration as a diagnostic tool for septic peritonitis in dogs and cats. Veterinary Surgery. 2003, 32: 161-166.
  • 10
    Di Filippo PA, Alves AE, Hermeto LC, & Santana AE. Indicadores bioquímicos séricos e do líquido peritoneal de equinos submetidos à obstrução intestinal. Ciênc. Anim. Bras., 2012, 13 (4): 504-511.
  • 11
    Zadnik T. A comparative study of the hemato-biochemical parameters between clinically healthy cows and cows with displacement of the abomasum. Ac. Vet., 2003, 53 (5-6): 297-309.
  • 12
    Dezfouli MM, Efthekari Z, Sadeghian S, Bahounar A, & Jeloudari M. 2013. Evaluation of hematological and biochemical profiles in dairy cows with left displacement of the abomasum. Comp. Clin. Path., 2013, 22: 175-179.
  • 13
    Gokce HI, Gokce G, & Cihan M. Alterations in coagulation profiles and biochemical and haematological parameters in cattle with traumatic reticuloperitonitis. Vet. Res. Com., 2007, 31: 529-537.
  • 14
    Athar H, Mohindroo J, Singh K, Kumar A, & Randhawa CS. Clinical, haematobichemical, radiographic and ultrasonographic features of traumatic reticuloperitonitis in bovines. Indian J. of Anim. Sci., 2010, 80 (7): 608-612.
  • 15
    Ghanem MM. A comparitive study on traumatic reticuloperitonitis and traumatic pericarditis in Egyptian cattle. Turk. J. of Vet. and Anim. Sci., 2010, 34 (2): 143-153.
  • 16
    Dirksen G, Gründer HD, & Stober M. Rosenberger Exame Clínico dos Bovinos. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 1993. 419p.
  • 17
    Dirksen G. Sistema Digestivo. In: Dirksen G, Gründer HD, & Stober M. Rosenberger Exame Clínico dos Bovinos. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 1993, p.166-228.
  • 18
    Divers TJ, & Peek FS.Therapeutics and routine procedures. In: Divers TJ, & Peek FS. Rebhun's diseases of dairy cattle. St. Louis: Elsevier, Part I, Chapt.2; 2008, p.28-30.
  • 19
    Zadnik T. A retrospective study of peritoneal fluids in cows with peritoneal disorders. Vet. Glas. 2010, 64 (3-4): 187-195.
  • 20
    Valenciano AC, Arndt TP, & Rizzi TE. Effusions: Peritoneal, Thoracic, and Pericardial. In: Valenciano AC, & Cowell RL. Diagnostic and Hematology of the dog and cat. 4º ed., St. Louis: Elsevier, 2014, p.244-265.
  • 21
    SAS, Statistical Analyses Sistem Institute, Inc.SAS user's guide: Statics Version. SAS, Cary, N.C., 2009.
  • 22
    Silva Filho AP, Afonso JAB, Souza JCA, Costa NA, & Mendonça CL. Análise clínica e patológica em 20 casos de intussuscepção em bovinos. Vet. e Zootec., 2010, 17 (30): 421-430.
  • 23
    Wittek T, Grosche A, Locher LF, & Furll M. Diagnostic Accuracy of D-Dimer and Other Peritoneal Fluid Analysis Measurements in Dairy Cows with Peritonitis. J. of Vet. Int. Med., 2010a, 24: 1211-1217.
  • 24
    Habasha FG, & Yassein SN. Advance techniques in traumatic reticuloperitonitis diagnosis: reviews. Al-Qadi. J. of Vet. Med. Sci., 2014, 13 (2): 50-57.
  • 25
    Hussain SA, Uppal SK, Randhawa CS, & Sood NK. Bovine intestinal obstrution: blood gas analysis, serum C-reactive protein and clinical, haematological and biochemical alterations. J. of Ap. Anim. Res., 2015, 43 (2): 224-230.
  • 26
    Miesner MD, & Reppert EJ. Diagnosis and treatment of hardware disease. Vet. Clin. f. anim., 2017: 1-11.
  • 27
    Afonso JAB, Pereira ALL, Vieira ACS, Mendonça CL, Costa NA, & Souza MI. Alterações clínicas e laboratoriais na obstrução gastrointestinal por fitobezoários em bovinos. Rev. Bras. Saú. Prod. Anim., 2008, 9: 91-102.
  • 28
    Murray MJ, & Smith BP. 2006. Enfermidades do trato alimentar. In: Smith BP. Medicina interna de grandes animais. 3º ed. Manole: São Paulo. 2006, p.766.
  • 29
    Braun U, Beckmann C, Gerspach C, Hassig M, Muggli E, Knubben-SChweizer G, & Nuss K. 2012. Clinical findings and treatment in cattle with caecal dilatation. Veterinary Research, 2012, 8 (75): 1-9.
  • 30
    Dezfouli MRM, Lotfollahzadeh S, Sadeghian S, Kojouri GA, Eftekhari Z, Khadivar F, & Bashiri A. Blood electrolytes changes in peritonitis of cattle. Comp. Clin. Pat., 2012, 21: 1445-1449.
  • 31
    Silva NAA. Achados epidemiológicos, clínicos e ultrassonográficos em bovinos acometidos com reticulopericardite traumática. Dissertação (Mestrado em sanidade e reprodução de ruminantes). Universidade Federal Rural de Pernambuco. Garanhuns, 2011, p.64. http://www.tede2.ufrpe.br:8080/tede/bitstream/tede2/6275/2/Nivan%20Antonio%20Alves%20da%20Silva.pdf
    » http://www.tede2.ufrpe.br:8080/tede/bitstream/tede2/6275/2/Nivan%20Antonio%20Alves%20da%20Silva.pdf
  • 32
    Lascelles BDX. Advances in the control of pain in animals. Vet. Ann, 1996, 36: 1-15.
  • 33
    Peiró JR, Lucato B, Mendes LCN, Ciarlini PC, Feitosa FLF, Bonelho FL, Maemura SM, Soares GT, Santana AE, & Perri SHV. Evaluation of cytologic and biochemical variables in blood, plasma, and peritoneal fluid from calves before and after umbilical herniorraphy. AJVR. 2009, 70 (3): 423-432.
  • 34
    Dewhurst E. & Papasouliotis K. Body cavity effusions. In Villiers, E & Blackwood L . BSAVA Manual of Canine and Feline Clinical Pathology. British Small Animal Veterinary Association. Inglaterra, 2º ed., 2005, p.340-363.
  • 35
    Mendes LNC, Marques LC, Schocken-iturrino RP, & Ávila FA. Clinical aspects of experimental peritonitis in horses. Ciênc. Rur., 1999, 29 (3): 493-497.
  • 36
    Safarchi R, Badiei A, Nadalian MG, & Seifi HA. Peritoneal fluid analysis in dairy cows suffering from peritonitis. Res. Opin. in Anim. Vet. Sci. 2015, 5 (8): 353-359.
  • 37
    Wittek T, Grosche A, Locher LF, Alkaassem A, & Furll M. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. Vet. Rec., 2010b, 166 (1): 15-19.
  • 38
    Matheus N, Ramirez F, Salazar C, Leonardi F, & Bravo H. Relación albumina: globulina plasmáticas em tres épocas del año em vacas de la raza Carora del estado Lara. Gac. de Ciênc. Vet., 2001, 7 (1): 4-10.
  • 39
    Meyer DJ, & Harvey JW. Veterinary laboratory medicine: interpretation & diagnosis. 2º ed. Saunders, Philadelphia. 2004, 351p.
  • 40
    Russell KE, & Roussel AJ. Evaluation of the Ruminant Serum Chemistry Profile. Vet. Clin. of Nor. Amer. F. Anim. Pract., 2007, 23 (3): 403-426.
  • 41
    Hussein HA, & Staufenbiel R. Clinical presentation and ultrasonographic findings in buffaloes with congestive heart failure. Turk. J. of Vet. and Anim. Sci., 2014, 38: 534-545.
  • 42
    Grosche A, Furll M, & Wittek T. Peritoneal fluid analysis in dairy cows with left displaced abomasum and abomasal volvulus. Vet. Rec., 2012, 170: 413.
  • 43
    Light RW, Macgregor MI, Luchsinger PC, & Ball WCJR. Pleural effusions: the diagnostic separation of transudates and exudates. Ann Intern Med. 1972, 77 (4): 507-513.
  • 44
    Bender MD. Diseases of the peritoneum, mesentery and omentum. In: Wyngaarden JB, Smith LH, Bennett JC. Cecil Textbook of Medicine 19th ed., W.B. Saunders Company: Philadelphia, 1992, p.737-742.
  • 45
    Paramothayan NS, & Barron J. New criteria for the differentiation between transudates and exsudates. J. Clin. Pathol., 2002, 55: 69-71.
  • 46
    Kaneko JJ, Harvey JW, & Bruss ML. Clinical biochemistry of domestic animals. 6 th. Academic Press, New York. 2008, 904p.
  • 47
    Braun U, & Nuss K. Uroperitoneum in cattle: Ultrassonographic findings, diagnosis and treatment. Ac. Vet. Scand., 2015, 57 (36): 1-9.
  • 48
    Moore JN, Traver DS, Turner MF, White FJ, Huesgen JG, & Butera TS. Lactic acid concentration in peritoneal fluid of normal and diseased horses. Research in Veterinary Science 1977, 23: 117-118.
  • 49
    Lange H, & Jackel R. Usefulness of plasma lactate concentrations in the diagnosis of acute abdominal disease. Europ. J. Surg., 1994, 160: 381-384.
  • 50
    Cozzi G, Ravarotto L, Gottardo F, Stefani AL, Contiero B, Moro L, Brscic M, & Dalvit P. Short communication: Reference values for blood parameters in Holstein dairy cows: Effects of parity, stage of lactation, and season of production. J. Dai. Sci., 2011, 94: 3895-3901.
  • 51
    Moore F. Interpreting serum chemistry profiles in dairy cows. Vet. Med., 1997, 92: 903-912.
  • 52
    Moreira CN, Souza SN, Barini AC, Araújo EG, & Fioravanti MCS. Serum y-glutamyltransferase activity as an indicator of chronic liver injury in cattle with no clinical signs. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., 2012, 64 (6): 1403-1410.
  • 53
    Aktas M, Auguste D, Lefebvre HP, Toutain PL, & Braun JP. Creatine Kinase in the dog: a review. Vet. Res. Com., 1993, 17 (5): 353-369.
  • 54
    Pogliani FC, & Birgel Junior E. Valores de referência do lipidograma de bovinos da raça holandesa, criados no Estado de São Paulo. Braz. J. of Vet. Res. and Anim. Sci., 2007, 44 (5): 373-383.
  • 55
    Ashmawy NA. Changes in peripheral plasma hormone concentrations and metabolites during the last trimester of pregnancy and around parturition in the Egyptian buffalo and baladi cows. Intern. J. of Adv. Res., 2015, 3 (11): 1377-1390.
  • 56
    González FHD, & Scheffer JFS. Perfil sanguíneo: ferramenta de análise clínica, metabólica e nutricional. In Gonzáles FHD, Campos R. (Eds). Anais do I Simpósio de Patologia Clínica Veterinária da Região Sul do Brasil. Porto Alegre: Gráfica da UFRGS., 2003, p.73-89.
  • 57
    Sultan S, Pauwels A, Poupon R, & Levy VG. Chylous ascites in adults: etiological, therapeutic and prognostic aspects. Apropos of 35 cases. An. Gast. Hepatol., 1990, 26: 187-191.
  • 58
    Thrall MA, Weiser G, Allison RW, & Campbell TW. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan., 2015, p.678.
  • 59
    Goff JP. The monitoring, prevention and treatment of milk fever and subclinical hypocalcemia in dairy cows. Vet. J., 2008, 176: 50-57.
  • 60
    Wang T, Waniewski J, Heimburger O, Werynski A, & Lindholm A. A quantitative analysis of sodium transport and removal during peritoneal dialysis. Kid. Intern., 1997, 52: 1609-1616.
  • 61
    Adamu SS, Egwu GO, & Malgwi JT. 1991. Biochemical changes in the peritoneal fluid following rumenotomy in goats. Vet. Res. Com., 1991, 15 (S): 363-367.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Jun 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    31 Dez 2017
  • Aceito
    25 Set 2019
  • Publicado
    13 Mar 2020
Universidade Federal de Goiás Universidade Federal de Goiás, Escola de Veterinária e Zootecnia, Campus II, Caixa Postal 131, CEP: 74001-970, Tel.: (55 62) 3521-1568, Fax: (55 62) 3521-1566 - Goiânia - GO - Brazil
E-mail: revistacab@gmail.com