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Arranjo domiciliar de idosos no Brasil: análises a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (2009)

Resumos

Introdução

O aumento da longevidade e, consequentemente, do número de idosos no Brasil, exerce influência em diversos setores, sendo um deles os arranjos domiciliares.

Objetivo

Analisar o perfil socioeconômico dos diferentes arranjos domiciliares de idosos no Brasil com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2009.

Método

Estudo quantitativo, descritivo, com corte transversal, que utilizou os microdados da PNAD (2009), realizada pelo IBGE. O universo de análise foram os arranjos domiciliares de idosos que constituíam unidades domésticas e que viviam em todas as regiões brasileiras.

Resultados

Os resultados indicaram que o arranjo mais representativo foi o casal que mora com filhos e outros parentes, seguido pelo monoparental e pelo casal com filhos. A maioria dos arranjos casal com filhos e outros parentes é chefiada por homens, já nos arranjos unipessoal, monoparental e composto a chefia é feminina.

Conclusão

A decisão quanto ao tipo de arranjo domiciliar formado pelo idoso é uma decisão não só do idoso e de sua família, mas reflexo de uma série de fatores histórico, sociocultural, político, econômico e demográfico, podendo interferir positiva ou negativamente em sua qualidade de vida.

Idosos; Características da Família; Envelhecimento da População


Introduction

Increased longevity and, consequently, a rise in the number of elderly persons in Brazil, has an effect on different sectors, especially family living arrangements.

Objective

To analyze the socioeconomic profile of the family living arrangements of the elderly using PNAD micro-data (2009).

Method

A quantitative, descriptive, cross-sectional study using PNAD micro-data (2009) was performed. The elderly family living arrangements that constituted households in Brazil were analyzed. Results: The results indicated that the most representative arrangement was a couple who lived with their children and other relatives, followed by single parent units and couples with children. The head of household in most of the arrangements featuring a couple with children and other relatives was a man, while in one-person, single parent and mixed arrangements the head of household was more likely to be a woman.

Conclusion

Decisions regarding the type of family arrangement are attributed not only to the elderly individual and his or her family, but are the result of historical, sociocultural, political, economic and demographic factors, which may positive or negatively interfere with the quality of life of elderly persons.

Elderly; Family Characteristics; Demografic Aging


INTRODUÇÃO

O aumento da população idosa é um fenômeno mundial, cada vez mais abordado, tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento.11. Pereira RS, Curioni CC, Veras R. Perfil demográfico da população idosa no Brasil e no Rio de Janeiro em 2002. Textos Envelhecimento 2003;6(1):43-59.

A população brasileira vem passando por um processo de envelhecimento acentuado. Nas décadas de 1940 e 1960, o país contava com um declínio na taxa de mortalidade, com a taxa de fecundidade permanecendo constante. Após a segunda metade dos anos 1960, houve uma significativa redução na taxa de fecundidade, ocasionando, assim, grandes diferenças na distribuição etária da população brasileira. Tal fenômeno aconteceu, também, na maioria dos países da América Latina e do Terceiro Mundo.22. Wong LLR, Carvalho JA. O rápido processo de envelhecimento populacional do Brasil: sérios desafios para as políticas públicas. Rev Bras Est Popul 2006;23(1):5-26.

O crescimento da população idosa ocorre de forma diferente em várias partes do mundo. Enquanto nos países desenvolvidos esse processo se dá de forma mais lenta e gradual, nos em desenvolvimento, acontece de maneira rápida e, muitas vezes, sem o preparo da sociedade para vivenciá-lo. Por isso, apesar de ser um fenômeno mundial, existe diferença entre países, estados, regiões e cidades, pois a maneira como acontecerá depende da situação socioeconômica, histórica e política de cada local.33. Baldoni AO, Pereira LRL. O impacto do envelhecimento populacional brasileiro para o sistema de saúde sob a óptica da farmacoepidemiologia: uma revisão narrativa. Rev Cienc Farm Básica Apl 2011;32(3):313-21.

As projeções indicam que em 2020 o Brasil terá 30 milhões de pessoas idosas, ocupando a sexta colocação.44. Veras R. Envelhecimento populacional contemporâneo: demandas, desafios e inovações. Rev Saúde Pública 2009;43(3):548-54. A cada ano são acrescentados à população brasileira cerca de 650 mil idosos, sendo as mulheres idosas em número maior que os homens. No ano 2000, 55,1% da população idosa era composta por mulheres, e para cada 100 mulheres idosas, havia 81,6 homens idosos.55. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Perfil dos idosos responsáveis pelos domicílios no Brasil 2000. Rio de Janeiro: IBGE; 2002. No ano de 2010, essa realidade não mudou: as mulheres continuaram sendo maioria, correspondendo a 55,8% da população idosa do Brasil.66. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores sociais municipais: uma análise dos resultados do universo do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE; 2010. Tal realidade pode ser explicada pelo fato de as mulheres viverem, em média, oito anos a mais que os homens.66. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores sociais municipais: uma análise dos resultados do universo do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE; 2010.

Desde os anos 1950 que a população idosa vem se concentrando nas áreas urbanas do país, principalmente o contingente feminino, mas foi entre os anos 1950 e 1970 que houve um acentuado número de idosos, de ambos os sexos, residindo no meio urbano, em comparação à proporção total da população.77. Berquó E, Baeninger R. Os idosos no Brasil: considerações demográficas [Internet]. Campinas: UNICAMP; 2000 [acesso em 10 FEV.2014]. Disponível em: http://www.nepo.unicamp.br/textos/publicacoes/textos_ nepo/textos_nepo_37.pdf
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Alguns estudos88. Camargos MCS. Enfim só: um olhar sobre o universo de pessoas idosas que moram sozinhas no município de Belo Horizonte (MG), 2007 [tese]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Ciências Econômicas; 2008. consideram que o local de residência pode influenciar na formação dos arranjos domiciliares de idosos, uma vez que o meio urbano, devido aos processos de modernização e de urbanização, pode gerar um sentimento de individualismo nas pessoas, acarretando transformações de alguns costumes e valores. Sendo assim, para os idosos que residem em áreas urbanas se torna mais aceitável a escolha de morar sozinho, configurando novos arranjos familiares.

No Brasil, os arranjos familiares dos idosos vêm mudando ao longo dos anos devido a alterações sociodemográficas, estruturais e de valores que as famílias brasileiras vêm vivenciando. A decisão quanto ao tipo de arranjo familiar formado pelo idoso não é somente do idoso e de sua família, mas reflexo de uma série de fatores histórico, sociocultural, político, econômico e demográfico, podendo interferir positiva ou negativamente em sua vida.

A análise dos dados do Censo Demográfico de 201099. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores Sociais Municipais: uma análise dos resultados do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE; 2011. (Estudos e Pesquisas); ( Informação Demográfica e Socioeconômica, n. 28). mostra que entre 2000 e 2010 houve um aumento crescente do número de pessoas morando sozinhas no Brasil, a média passou de 8,6% para 12,1%, sendo uma tendência urbana. Além disso, mudanças de comportamento cultural, e o aumento das separações conjugais e da esperança de vida também têm contribuído para essa estatística, fazendo com que os idosos optem por residir sozinhos.

Alguns estudos77. Berquó E, Baeninger R. Os idosos no Brasil: considerações demográficas [Internet]. Campinas: UNICAMP; 2000 [acesso em 10 FEV.2014]. Disponível em: http://www.nepo.unicamp.br/textos/publicacoes/textos_ nepo/textos_nepo_37.pdf
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afirmam que uma explicação para isso é que, diante da viuvez ou da separação, as mulheres preferem assumir a chefia de famílias monoparentais, a viver na casa dos filhos, a morar sozinhas ou com parentes. Já no caso dos homens, eles parecem preferir reconstruir sua própria família por meio de novas uniões, e quando não conseguem, preferem viver com filhos ou parentes a morar sozinhos, apresentando, assim, maior grau de dependência.

Quanto aos arranjos familiares, a proporção de domicílios chefiados por idosos vem crescendo desde 1980. Já o número de domicílios com idosos na condição de pais/sogros e, ou, outros parentes, reduziu, passando de 4,5% para 3,3% desde então. As famílias que têm idosos possuem uma estrutura diferente, sendo, geralmente, famílias mais envelhecidas, num ciclo de vida mais avançado, e apresentam mais mulheres chefes de domicílio do que naquelas sem a presença de idosos.1010. Camarano AA, Kanso S, Mello JL. Como vive o idoso brasileiro? In: Camarano AA, organizadora. Os novos idosos brasileiros, muito além dos 60? Rio de Janeiro: IPEA; 2004. p. 25-73.

No que se refere à renda, houve uma redução drástica na população de idosos de baixa renda. Comparando os anos de 1993 e 2003, o número de idosos com renda familiar de até meio salário era de 21,5% e, em 2003, passou para 12,5%.1111. Parahyba MI, Veras R. Diferenciais sociodemográficos no declínio funcional em mobilidade física entre os idosos no Brasil. Ciênc Saúde Coletiva 2008;13(4):1257-64.

Nesse contexto, a principal questão investigativa que este artigo se propôs a responder foi: quais são os diferentes arranjos domiciliares nos quais os idosos estão inseridos, e quais são suas características socioeconômicas?

Dessa forma, este estudo objetivou analisar o perfil socioeconômico dos diferentes arranjos domiciliares de idosos no Brasil com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2009.

MÉTODO

A presente pesquisa teve caráter quantitativo, descritivo, com corte transversal e utilizou-se de dados secundários.

Os dados secundários foram extraídos dos microdados da PNAD de 2009, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa base de dados foi escolhida devido à sua grande quantidade de informações sobre domicílios da população em geral, o que possibilitou a identificação e análise do perfil dos diferentes arranjos domiciliares nos quais os idosos estavam inseridos.

A PNAD tem como objetivo investigar, anualmente, características gerais da população, tais como: educação, trabalho, rendimento, habitação, além de características sobre migração, fecundidade, nupcialidade, saúde, segurança alimentar, entre outros. Ela possui periodicidade variável, de acordo com as necessidades de informação para o país. Essas estatísticas constituem, ao longo dos 44 anos de realização da pesquisa, um importante instrumento tanto para formulação, como validação e avaliação de políticas orientadas para o desenvolvimento socioeconômico e para a melhoria das condições de vida da população brasileira.1212. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: Síntese de Indicadores 2012. Rio de Janeiro: IBGE; 2013.

O universo de análise foram os arranjos domiciliares de idosos que constituíam unidades domésticas e que viviam em todas as regiões brasileiras.

Para este estudo foram selecionados os microdados da PNAD de 2009, que foram extraídos e analisados estatisticamente, utilizando o software STATA 12.0 (Data Analysis and Statistical Software).

Para delinear o perfil socioeconômico dos diferentes arranjos domiciliares nos quais os idosos estavam inseridos, foi realizada uma análise exploratória dos dados que consiste em caracterizar com clareza e precisão a população em estudo, de modo que as características grupais possam ser descobertas.1313. Medri W. Análise exploratória de dados. Londrina: Universidade Estadual de Londrina; 2011.

Com o intuito de fornecer um panorama da renda dos idosos no Brasil, fez-se o cálculo do índice de Gini,1414. Nishi LF. Coeficiente de Gini: uma medida de distribuição de renda. Florianópolis: Universidade do Estado de Santa Catarina; 2010. que consiste em medir o grau de concentração de renda em determinado grupo, apontando a diferença dos rendimentos entre as pessoas mais pobres e mais ricas. Geralmente o coeficiente de Gini varia de zero a um, em que o valor zero representa uma situação de igualdade, ou seja, todos teriam uma mesma renda; já o valor um estaria no outro extremo, ou seja, uma só pessoa possuiria toda a riqueza.

Os resultados obtidos da renda do idoso foram demonstrados pela curva de Lorenz, que é um instrumento gráfico e analítico que permite descrever e analisar a distribuição da renda, além de permitir o ordenamento das distribuições de renda de acordo com o bem-estar. A curva de Lorenz demonstra a relação entre a proporção de pessoas que possuem uma renda elevada a um determinado valor e a proporção de renda recebida por essas pessoas.1515. Neri M. Curva de Lorenz [Internet]. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas; 2010 [acesso em 10 fev. 2014]. Disponível em: http://www.cps.fgv.br/cps/pesquisas/Politicas_sociais_alunos/2010/BES_raiz_aanew/pdf/sbst/BES_CurvadeLorenz.pdf
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Para complementar essa caracterização dos arranjos familiares foi realizada uma regressão por mínimos quadrados, para os determinantes da renda mensal das famílias em estudo. Logo, o modelo de regressão linear da renda familiar mensal é dado pela seguinte equação:

Yi = β0 + β1sexo + β2ocup + β3raça + β4educ + β5urbano + β6membros + β7idade + εi, sendo o sexo uma variável categórica com valor de 1 para chefes de família do sexo masculino e 0 para chefes mulheres; ocupado é 1 quando o chefe de família possuía trabalho na semana de referência e 2 quando não possuía emprego; educ representa os anos de educação formal do chefe da família; urbano é igual a 1 se o domicílio pertence à zona urbana e equivalente a 0 se tem residência rural; membros representa o número máximo de familiares que moravam na casa; e ε o termo de erro da regressão.

Por fim, para comparar os possíveis fatores que influenciavam na renda dos arranjos familiares, utilizou-se o modelo de regressão linear, uma técnica estatística, descritiva e inferencial, que consiste em analisar a relação entre uma variável dependente e um conjunto de variáveis independentes.1616. Fávero LP. Métodos quantitativos com Stata. Rio de Janeiro: Elsevier; 2014.

De acordo com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Viçosa, uma vez que os dados, embora relativos a seres humanos, eram procedentes de banco de dados de uso e acesso público, não houve necessidade de o projeto ser submetido a sua aprovação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Perfil socioeconômico dos idosos

Das 191,8 milhões de pessoas que a PNAD (2009) pesquisou, 20,2 possuíam 60 anos de idade ou mais, representando 10,54% da população total. A média de idade dos idosos foi de 70,7 anos (±7,7), com mínimo de 61 e máximo de 112 anos, sendo que 75% possuíam 76 anos ou menos e 10%, 82 anos ou mais. Houve predominância do sexo feminino, correspondendo a 11,3 milhões (55,87%), o que pode ser explicado pelo fato de a expectativa de vida para as mulheres ser maior e pela alta sobremortalidade dos homens no Brasil em todas as faixas etárias, o que acarreta um número menor de homens na velhice.44. Veras R. Envelhecimento populacional contemporâneo: demandas, desafios e inovações. Rev Saúde Pública 2009;43(3):548-54.

O nível de escolaridade dos idosos ainda é baixo, uma vez que 61,01% (n=12,3 milhões) possuíam apenas o ensino fundamental; 9,55% (n=1,9 milhões), ensino médio; 6,12% (n=1,2 milhões), ensino superior; e apenas 0,42% (n=0,08 milhões), pós-graduação.

Em relação à raça dos idosos, observou-se que a maioria era branca (55,60%; n=11,2 milhões); 35,97% (n=7,2 milhões), pardos; 7,17% (n=1,4 milhões), pretos; 0,93% (n=0,188 milhões), amarelos; e 0,29% (n=0,059 milhões), indígenas.

A figura 1 mostra a distribuição geográfica das pessoas de 60 anos ou mais de acordo com a residência e segundo o Estado da Federação. Encontrou-se uma maior concentração de pessoas idosas na região Sudeste, concentrando 47,2% (n=9,5 milhões) da população desse grupo etário. Por outro lado, os estados com menor presença de pessoas idosas em ordem de importância foram: Amazonas, Distrito Federal, Sergipe, Tocantins, Rondônia, Acre, Amapá, e Roraima. Em conjunto, esses estados possuíam menos de 5% da população idosa em nível nacional.

Figura 1.
Pessoas idosas segundo residência federativa. Brasil, 2009.

Além disso, foi possível verificar que 83,16% (n=16,8 milhões) dos idosos residiam na zona urbana do país, caracterizando esse segmento populacional como urbanizada, o que pode ser explicado pelo fato de ser a região com maior densidade populacional, bem como a que oferece melhores condições e atendimento às necessidades desse grupo etário. Dados do Censo Demográfico de 200055. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Perfil dos idosos responsáveis pelos domicílios no Brasil 2000. Rio de Janeiro: IBGE; 2002. já mostravam que morar na cidade pode ser uma boa escolha para os idosos, visto que, assim, eles podem ficar mais perto dos filhos e de outros serviços que possam precisar.

Caracterização dos arranjos familiares de idosos

A PNAD de 2009 traz uma classificação dos arranjos familiares, porém é restrita para o estudo em pauta, não trazendo, por exemplo, o arranjo unipessoal. Sendo assim, optou-se por realizar uma nova classificação para os arranjos familiares. Essa classificação empírica, que corresponde principalmente às possibilidades/ limitações fornecidas pela base de dados, foi a seguinte: Unipessoal*; Composto**; Casal sem Filhos***; Casal que Mora com Filhos****; Casal sem Filhos e Parentes*****; Casal que Mora com Filhos e Parentes******; e Monoparental*******.

É importante ressaltar que a amostra foi cortada em função da renda mensal familiar per capita, uma vez que os valores extremos dessa variável alteravam significativamente as suas medidas de tendência central, e, por conseguinte, os resultados da análise. Para o recorte, tomamos como critério mínimo uma renda mensal per capita de R$0,00 e uma máxima de R$65.000,00.

De acordo com a classificação dos arranjos familiares utilizada neste estudo, em 2009, 41,38 milhões de pessoas conviviam com idosos, integrando 14,16 milhões de famílias.

Na distribuição apresentada na figura 2, o arranjo mais representativo foi o casal que mora com filhos e outros parentes, seguido, por ordem de frequência, pelos arranjos monoparental e casal com filhos. Vale notar que o arranjo unipessoal foi o penúltimo em ordem de importância na distribuição de moradia. Embora, no caso dos idosos, o número de domicílios unipessoais não seja expressivo em relação aos demais arranjos domiciliares, o número de idosos morando sozinhos vem aumentando.1717. Ramos JLC, Menezes MR, Meira EC. Idosos que moram sozinhos: desafios e potencialidades do cotidiano. Rev Baiana Enferm 2010;24(1):43-54.

Das famílias analisadas, 84,21% (n=11,93 milhões) eram chefiadas por idosos e, dessas, 57,24% (n=6,82 milhões) tinham como chefes, homens. Essa distribuição pode ser devida a estereótipos sociais de gênero, uma vez que este se configura em papeis diferenciados e hierárquicos na família,1818. Santos TS. Gênero e políticas sociais: novos condicionamentos sobre a estrutura familiar. SER Soc 2008;10(22):97-128. o que pode influenciar na percepção do idoso e de outros membros familiares sobre a chefia familiar.

Para o arranjo unipessoal, essa distribuição muda em favor das mulheres, sendo 66,8% (n=1,70 milhões) das famílias chefiadas por elas. Nos arranjos composto e monoparental também prevalece uma maior chefia feminina (84,7%; n=676 mil e 82,6%; n=2,16 milhões, respectivamente), já que, muitas vezes, diante da viuvez, as mulheres preferem viver só a recasarem ou serem chefes dos domicílios. Alguns estudos1919. Camarano AA. Mulher idosa: suporte familiar ou agente de mudança? Estud Av 2003;17(49):35-63. consideram que "a viuvez é o estado conjugal predominante entre as mulheres idosas". Esses dados também vêm ao encontro dos trazidos por outras pesquisas,2020. Goldani AM. As famílias brasileiras: mudanças e perspectivas. Cad Pesqui 1994;91:7-22.,2121. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Síntese de indicadores sociais: Uma análise das condições de vida da população brasileira - 2012. Rio de Janeiro: IBGE; 2012. (Estudos e Pesquisas) ; (Informação Demográfica e Socioeconômica, n. 29),2222. Melo NCV, Teixeira KMD, Ferreira MAM, Silva NM. Perfil socioeconômico do consumidor idoso nos arranjos familiares unipessoal e residindo com o cônjuge: uma análise de dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (2008/2009). Soc Debate 2014;20(2):216-37.que afirmam que o aumento da expectativa de vida para as mulheres gera mais viuvez feminina e, consequentemente, o aumento de domicílios unipessoais femininos.

Figura 2.
Distribuição dos arranjos familiares com pessoas idosas. Brasil, 2009.

No que se refere à distribuição geográfica dos arranjos familiares, constatou-se uma maior concentração na região Sudeste (46,72%; n=6,61 milhões), vindo em seguida a Nordeste (26,61%; n=3,7 milhões), Sul (15,38%; n=2,17 milhões), Norte (5,59%; n=0,80 milhões) e Centro-Oeste (5,59%; n=0,79 milhões), conforme pode ser visualizado na figura 3.

Figura 3.
Distribuição percentual dos arranjos familiares segundo a região. Brasil, 2009.

Dos arranjos estudados, a maioria, 83,53% (n=11,83 milhões), residia na área urbana do país.

Em relação ao estado civil, observou-se uma maioria de pessoas casadas (53,80%; n=9.995.157), seguido por idosos viúvos (29,89%; n=5.553.077), solteiros (10,05%; n=1.867.524), divorciados (3,16%; n=586.476) e separados (3,10%; n=586.476).

De acordo com a participação nas atividades econômicas, somente 27,6% (n=5,11 milhões) dos idosos eram pessoas ocupadas e, desses, 64,3% (n=3,29 milhões) eram homens. Mesmo tendo direito à aposentadoria, muitos idosos preferem continuar ativos em suas atividades. Segundo alguns estudos,2323. Queiroz VS, Ramalho HMB, Monte PA. A inserção do idoso no mercado de trabalho: evidências a partir da duração do desemprego no Brasil. In: 17º Encontro Regional de Economia; 2012; Fortaleza. Fortaleza: BNB/ANPEC; 2012. no Brasil, a capacidade produtiva dos idosos vem crescendo cada vez mais e tem colaborado para o aumento do envelhecimento ativo. Essa mudança é reflexo da melhoria na qualidade de vida da população, principalmente da população mais velha, visto que nas últimas décadas houve um aumento significativo na sobrevida do idoso e ampliação do acesso a serviços de saúde.

A distribuição da renda dos idosos ocupados se apresentou desigual, o que está congruente com as estimativas de desigualdade nacional na distribuição da renda. Nesse sentido, calculou-se um coeficiente de Gini da renda salarial mensal de 0,63 (figura 4), sendo esse coeficiente para a distribuição da renda salarial das mulheres levemente inferior (0,61).

Figura 4.
Curva de Lorenz da renda salarial dos idosos ocupados. Brasil, 2009.

Além disso, observou-se uma média de renda salarial significativamente superior para os idosos homens (R$1.319,00) em relação à renda salarial das idosas (R$801,00), o que se traduz numa participação desigual na renda total. As mulheres captam somente 20% da planilha salarial em estudo.

Tabela 1.
Fatores que influenciam na renda mensal dos arranjos familiares. Brasil, 2009.

Com um coeficiente de determinação (R2) de 15,89% (tabela 1), os arranjos familiares em estudo chefiados por homens possuíam, em 2009, uma renda média superior em R$420,00 da renda mensal daqueles chefiados por mulheres, ou seja, ainda existe uma desigualdade de renda entre os sexos. Por outro lado, os resultados da regressão mostram que os idosos desocupados recebiam em média R$673,00 a menos que os idosos que tinham emprego na semana de referência. Essa desigualdade na distribuição da renda tem influência direta sobre o consumo de bens e serviços, já que idosos com maior renda possuem maior poder de compra,2424. Melo NCV, Teixeira KMD, Ferreira MAM, Silva, NM. Consumo por idosos nos arranjos familiares "unipessoal" e "residindo com o cônjuge": uma análise por regiões do país a partir dos dados da POF (2008/2009). Rev Bras Geriatr Gerontol 2014;17(4):841-52. o que pode influenciar em sua qualidade de vida.

Em função da raça, observa-se que, com exceção da raça "amarela", a renda mensal dos arranjos familiares com chefia de raça "branca" foi significativamente maior do que os da renda de raça preta (R$1.032,00), parda (R$922,00) e indígena (R$709,00).

Constatou-se, também, que cada ano adicional de escolaridade acrescentava R$399,00 na renda mensal dos arranjos familiares. O fato de os idosos morarem em zonas urbanas também foi um determinante importante da renda, uma vez que o coeficiente dessa variável independente apresentou R$1.067,00 a mais por residirem nessa área. Por outro lado, o número de membros no domicílio e a idade influíram pouco no nível de renda mensal, com uma renda extra de R$172,00 por cada membro a mais no domicílio e R$28,00 por cada ano de idade a mais.

Dessa maneira, de importância para o estudo foi conhecer cada arranjo familiar no qual os idosos estavam inseridos. A seguir, a descrição do perfil de todos os membros constituintes dos arranjos familiares.

Casal sem filhos

A média de idade dos chefes do arranjo familiar casal sem filhos foi de 69,3 anos (±8,13), sendo a mínima, 19 e a máxima, 102 anos. A maioria dos chefes eram homens (87,24%; n=2.256.123). Em relação à raça, 62,35% (n=1.612.452) dos chefes se consideravam brancos; 30,87% (n=798.314), pardos; 5,64% (n=145.818), pretos; 0,90% (n=23.299), amarelos; e 0,24% (n=6.225), indígenas. Já o nível de escolaridade da maioria dos chefes era baixo, 77% (n=1.659.113) apresentavam apenas o ensino fundamental.

A média de idade dos cônjuges desse arranjo familiar foi de 65,4 anos (±9,09), sendo a mínima, 17 e a máxima, 95 anos. Desses, 87,12% (n=2.235.558) eram mulheres. Em relação à raça, 62,70% (n=1.621.421) se consideravam brancos; 31,02% (n=802.335), pardos; 5,25% (n=134.381), pretos; 0,94% (n=24.296), amarelos; e 0,14% (n=3.712), indígenas. A maioria dos cônjuges também apresentava nível de escolaridade baixo, 77,54% (n=1.636.413) possuíam apenas o ensino fundamental.

Composto

No arranjo composto, a média de idade do chefe foi de 62,6 anos (±15,5), com mínima de 15 e a máxima de 102 anos, sendo 73,26% de mulheres (n=885.281). Em relação à raça dos chefes, 52,37% se consideravam brancos (n=632.839); 37,30%, pardos (n=450.701); 8,91% (n=107.718), pretos; 1,16% (n=14.067), amarelos; 0,18% (n=2.124), indígenas; e 0,08% (n=968) não declararam. A maioria dos chefes possuía apenas ensino fundamental (58,63%; n=573.609); 22,82% (n=223.263), ensino médio; 17,66% (n=172.747), ensino superior; e 0,90% (n=8.780) pós-graduação.

A média de idade dos outros parentes foi de 43,2 (±28,05), com mínima de 0 e máxima de 106 anos, sendo 58,80% (n=1.109.812) dos outros parentes do sexo feminino. Em relação à raça dos outros parentes, 48,67% se consideravam brancos (n=918.623); 42,40% (n=800.233), pardos; 7,51% (n=141.661), pretos; 1,23% (n=23.134), amarelos; 0,16% (n=3.102), indígenas; e 0,04% (n=665) não informaram. A maioria possuía apenas o ensino fundamental (61,07%; n=660.491); 28,49% (n=308.160), ensino médio; 10,11% (n=109.343), ensino superior; e 0,33% (n=3.547), pós-graduação.

Casal com filhos

No arranjo casal com filhos, a idade média dos chefes foi de 66,7 anos (±7,55), com mínima de 29 e máxima de 106 anos, sendo 87,75% (n=1.908.995) de homens. Em relação à raça, 52,44% (n=1.140.869) se consideravam brancos; 40,15% (n=873.544), pardos; 6,33% (n=137.633), pretos; 0,91% (n=19.690), amarelos; e 0,17% (n=3.793), indígenas. No que se refere ao nível de escolaridade, 73,92% (n=1.324.493) possuíam ensino fundamental; 15,63% (n=280.120), ensino médio; 9,60% (n=172.079), ensino superior; e apenas 0,84% (n=15.002), pós-graduação.

A média de idade dos cônjuges foi de 60,5 anos (±10,34), sendo a mínima de 21 e a máxima de 93 anos. As mulheres representavam 87,75% (n=1.908.985) dos cônjuges. Em relação à raça, 53,19% (n=1.157.172) dos cônjuges se consideravam brancos; 39,99% (n=869.991), pardos; 5,67% (n=123.382), pretos; 0,88% (n=19.137), amarelos; e 0,27% (n=5.825), indígenas. E no que se refere ao nível de escolaridade, a maioria dos cônjuges possuía apenas o ensino fundamental (73,93%; n=1.322.744).

A média de idade dos filhos no arranjo casal com filhos foi de 26,5 anos (±10,81), com mínima de 0 e máxima de 62 anos, sendo 59,79% (n=2.068.957) de homens. Em relação à raça, 50,78% (n=1.757.236) se consideravam brancos; 43,80% (n=1.515.848), pardos; 4,49% (n=155.250), pretos; 0,74% (n=25.719), amarelos; 0,16% (n=5.502), indígenas; e 0,03% (n=968), não declararam. Já quanto ao nível de escolaridade, esse pode ser considerado mais elevado que de seus pais: 41,95% (n=915.005) possuíam ensino médio; 34,95% (n=762.291), ensino fundamental; 22,38% (n=488.248), ensino superior; e 0,72% (n=15.597), pós-graduação.

Casal sem filhos e parentes

No arranjo casal sem filhos e parentes, a idade média dos chefes foi de 63,3 anos (±12,93), com mínima de 20 e máxima de 102 anos, sendo 83,52% de homens (n=619.360). Em relação à raça, 48,59% (n=360.325) se autodeclararam brancos; 42,34% (n=313.988), pardos; 8,09% (n=60.023), pretos; 0,72% (n=5.339), amarelos; e 0,26% (n=1.928), indígenas. O nível de escolaridade dos chefes era baixo, 75,21% (n=444.292) possuíam apenas o ensino fundamental.

Ainda nesse arranjo familiar, a média de idade dos cônjuges foi de 59,9 anos (±13,31), com mínima de 16 e máxima de 100 anos, sendo 83,70% (n=620.733) de mulheres. Em relação à raça, 49,43% (n=366.586) se consideravam brancos; 42,39% (n=314.372), pardos; 6,79% (n=50.388), pretos; 0,87% (n=6.448), amarelos; e 0,52% (n=3,835), indígenas. O nível de escolaridade dos cônjuges também era baixo, 72,60% (n=434.610) possuíam apenas o ensino fundamental.

A média de idade dos outros parentes foi de 33,3 anos (±28,81), com mínima de 0 e máxima de 112 anos, sendo 52,44% (n= 544.483) de mulheres. Em relação à raça, 47,83% (n=496.558) se consideravam brancos; 44,77% (n=464.874), pardos; 6,77% (n=70.304), pretos; 0,50% (n=5.206), amarelos; e 0,13% (n=1.328), indígenas. Já no que se refere ao nível de escolaridade, 64,90% (n=248.995) apresentavam apenas o ensino fundamental.

Casal com filhos e parentes

No arranjo casal com filhos e parentes, a idade média dos chefes foi de 58,5 anos (±14,44), com mínima de 18 e máxima de 102 anos, sendo 83,93% (n=1.638.340) de homens. Em relação à raça, 46,01% (n=898.159) se consideravam brancos; 43,58% (n=850.695), pardos; 9,31% (n=181.682), pretos; 0,82% (n=15.958), amarelos; e 0,28% (n=5.550), indígenas. No que se refere ao nível de escolaridade, 69,45% (n=1.129.579) possuíam o ensino fundamental; 20,97% (n=341.016), ensino médio; 9,15% (n=148.802), ensino superior; e apenas 0,44% (n=7.175), pós-graduação.

Os cônjuges desse arranjo apresentaram, em média, 54,8 anos (±14,17), com mínima de 17 e máxima de 94 anos, sendo 83,92% (n=1.637.385) de mulheres. Em relação à raça, 48,13% (n=939.035) se consideravam brancos; 44,05% (n=859.436), pardos; 6,66% (n=129.991), pretos; 0,87% (n=16.960), amarelos; e 0,29% (n=5.673), indígenas. No que se refere ao nível de escolaridade, 70,27% (n=1.154.457) possuíam ensino fundamental; 20,31% (n=333.725), ensino médio; 9% (n=147.835), ensino superior; e apenas 0,42% (n=6.828), pós-graduação.

Já os filhos desse arranjo apresentaram, em média, 23,1 anos (±12,29), com mínima de 0 e máxima de 67 anos, sendo 51,14% (n=1.719.907) de homens. Em relação à raça, 48,13% (n=939.035) se consideravam brancos; 44,05% (n=859.436), pardos; 6,66% (n=129.991), pretos; 0,87% (n=16.960), amarelos; e 0,29% (n=5.673), indígenas. Quanto ao nível de escolaridade, esse pode ser considerado mais elevado que de seus pais: 46,65% (n=849.168) possuíam ensino médio; 38,71% (n=704.493), ensino fundamental; 14,35% (n=261.107), ensino superior; e 0,29% (n=5.346), pós-graduação.

A média de idade dos outros parentes foi de 33,2 anos (±29,81), com mínima de 0 e máxima de 109 anos, sendo 54,43% (n=1.623.264) de mulheres. Em relação à raça, 47,08% (n=1.415.974) se consideravam brancos; 45,45% (n=1.355.559), pardos; 5,90% (n=175.846), pretos; 0,89% (n=26.610), amarelos; 0,21% (n=6.145), indígenas; e 0,08% (n=2.289), não declararam. No que se refere ao nível de escolaridade, 66,91% (n=757.793) possuíam ensino fundamental; 27,69% (n=313.568), ensino médio; 5,38% (n=60.971), ensino superior; e apenas 0,02% (n=221), pós-graduação.

Monoparental

No arranjo monoparental, a idade média dos chefes foi de 68,44 anos (±11,47), com mínima de 16 e máxima de 107 anos, sendo 83,56% (n=2.465.021) de mulheres. Em relação à raça, 47,81% (n=1.410.403) se consideravam brancos; 41,68% (n=1.229.686), pardos; 9,62% (n=283.731), pretos; 0,51% (n=14.964), amarelos; e 0,38% (n=11.240), indígenas. Já no que se refere ao nível de escolaridade, esse pode ser considerado baixo, uma vez que 78,68% (n=1.757.058) possuíam apenas o ensino fundamental.

A média de idade dos filhos desse arranjo foi de 34,8 anos (±12,85), com mínima de 0 e máxima de 80 anos, sendo 53,33% (n=2.289.438) de homens. Em relação à raça, 46,26% (n=1.985.881) se consideravam pardos; 44,60% (n=1.914.411), brancos; 8,42% (n=361.593), pretos; 0,54% (n=22.982), amarelos; 0,17% (n=7.245), indígenas; e 0,01% (n=562), não declararam. Quanto ao nível de escolaridade, 47,09% (n=1.542.849) possuíam ensino fundamental; 37,47% (n=1.227.572), ensino médio; 15,07% (n=493.611), ensino superior; e 0,38% (n=12.454), pós-graduação.

A idade média dos outros parentes foi de 25,8 anos (±24,06), com mínima de 0 e máxima de 109 anos, sendo 51,74% (n=1.417.300) de homens. Em relação à raça, 48,41% (n=1.326.106) se consideravam pardos; 42,51% (n=1.164.490), brancos; 8,49% (n=232.554), pretos; 0,32% (n=8.734), amarelos; 0,23% (n=6.390), indígenas; e 0,03% (n=920), não declararam. No que se refere ao nível de escolaridade, 58,41% (n=596.940) possuíam ensino fundamental; 34,63% (n=353.948), ensino médio; 6,74% (n=68.830), ensino superior; e 0,22% (n=2.242), pós-graduação.

O casal com filhos e parentes apresentava chefes mais jovens (58,8 anos), enquanto o casal sem filho, mais velhos (69,3 anos), o que pode ser explicado pelo estágio do ciclo de vida em que se encontravam. Apenas nos arranjos unipessoal, composto e monoparental, a chefia era exercida por mulheres. Para todos os arranjos, a raça do chefe era branca e o nível de escolaridade apresentado, o ensino fundamental. Dos arranjos que apresentavam a figura do cônjuge, os cônjuges mais novos estavam presentes no arranjo casal com filho e parentes (54,8 anos), e os mais velhos, no arranjo casal sem filho (65,4 anos). Assim como os chefes, os cônjuges também se autodeclarabram brancos e com ensino fundamental.

Por seu fim descritivo, este estudo apresenta importantes contribuições para a caracterização dos arranjos familiares em que os idosos brasileiros encontram-se inseridos. Porém, faz-se necessário entender se há relação entre o arranjo familiar ao qual o idoso pertence e sua qualidade de vida.

CONCLUSÃO

Constata-se a predominância da raça branca e a feminização da velhice, com um maior número de mulheres idosas em relação aos homens. O nível de escolaridade dos idosos ainda é baixo, apresentando, em sua maioria, apenas o ensino fundamental.

A região Sudeste concentra a maioria dos idosos, principalmente os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A maior parte deles reside na área urbana do país, tendência que pode ser explicada por buscarem, nessa área, serviços necessários ao atendimento de suas necessidades.

A taxa de ocupação dos idosos ainda é baixa e, dentre os ocupados, há a predominância do sexo masculino. A raça e o local de residência são as variáveis que mais influenciam no aumento da renda dos idosos.

O arranjo mais representativo é o casal que mora com filhos e outros parentes, seguido pelos arranjos monoparental e casal com filhos. Dos arranjos estudados, a maioria é chefiada por homens idosos, mas isso muda para os arranjos unipessoal, monoparental e composto, nos quais a maioria dos chefes é de mulheres idosas. Essa situação pode ser explicada pelo fato de as mulheres viúvas ou separadas preferirem morar com os filhos, sozinhas ou com outros parentes a escolherem um recasamento, ao contrário dos homens.

Contudo, acredita-se que a decisão quanto ao tipo de arranjo domiciliar formado pelo idoso é uma decisão não só do idoso e de sua família, mas reflexo de uma série de fatores histórico, sociocultural, político, econômico e demográfico, podendo interferir positiva ou negativamente em sua qualidade de vida.

As famílias estão sofrendo mudanças em sua constituição, tamanho, arranjos e valores, para citar algumas, e dentre estas, uma importante alteração diz respeito à situação dos membros idosos, que, em muitos casos, são arrimo de família, assumindo o papel de cuidadores em vez de serem cuidados. Nesse contexto, é preciso considerar, em estudos futuros, análises histórica e comparativa da realidade vivenciada por idosos residentes em um país em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Estudos dessa natureza podem fornecer informações úteis sobre como os indivíduos (idosos) e as famílias nesse país se ajustam ao processo de envelhecimento.

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  • Os dados analisados neste artigo são parte do projeto "Arranjos domiciliares de idosos no Brasil: Análises a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (1989, 1999 e 2009)", financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
  • * Unidade de consumo na qual o idoso mora sozinho. ** Unidade de consumo constituída pela pessoa de referência do domicílio e outros parentes.
  • *** Unidade de consumo em que a pessoa de referência reside apenas com o cônjuge.
  • **** Unidade de consumo onde residem pessoa de referência, cônjuge e filho.
  • ***** Unidade de consumo onde moram pessoa de referência, cônjuge e outros parentes.
  • ****** Unidade de consumo onde residem pessoa de referência, cônjuge, filho e outros parentes.
  • ******* Unidade de consumo onde moram pessoa de referência, filho e/ou outros parentes.
  • Em todos os arranjos familiares pelo menos um dos membros que o constituía era idoso. A pessoa de referência foi considerada aquela que era responsável pela unidade domiciliar. O cônjuge era o morador que vivia conjugalmente com a pessoa de referência. O filho era aquele que era filho, enteado, filho adotivo ou de criação da pessoa de referência e/ou do seu cônjuge. Outros parentes foi(ram) considerado(s) o(s) indivíduo(s) que tivesse(m) ou não qualquer grau de parentesco com a pessoa de referência ou com o seu cônjuge. Essa classificação foi feita a partir da agregação das categorias "outro parente", "agregado", "pensionista", "empregado doméstico" e "parente de empregado doméstico" que a PNAD (2009) utiliza para classificar os moradores das unidades de consumo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2016

Histórico

  • Recebido
    23 Jan 2015
  • Revisado
    21 Set 2015
  • Aceito
    12 Out 2015
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