Acessibilidade / Reportar erro

Influência do índice de massa corporal e da idade na função pulmonar de mulheres obesas

Resumo

Introdução:

A obesidade e o envelhecimento podem promover alterações na função pulmonar.

Objetivo:

avaliar se a massa corporal, o índice de massa corporal (IMC) e a idade têm influência sobre a capacidade vital (CV) e o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) em mulheres.

Métodos:

Participaram do estudo 81 mulheres, com idade entre 30 e 75 anos, obesas e obesas mórbidas, não fumantes, sedentárias e sem alterações pulmonares crônicas. Foram realizadas anamnese, avaliação antropométrica e espirométrica. A análise estatística dos dados foi realizada através dos testes de correlação de Pearson e Spearman, adotando um nível de significância de 5%.

Resultados:

Pode-se observar que a idade apresentou correlações significativas e negativas com a CV e seus componentes: volume de reserva inspiratório (VRI), volume de reserva expiratório (VRE) e volume corrente (VC) e também com o VEF1. Houve correlação significativa e positiva da massa corporal com a CV e com o VRI, e correlação significativa e negativa entre o IMC e o VRE.

Conclusão:

Com o passar dos anos ocorre declínio da função pulmonar. A massa corporal parece exercer maior influência no VRI, ao passo que com o aumento do IMC ocorre declínio do VRE.

Palavras- chave:
Envelhecimento; Obesidade; Espirometria; Fisioterapia

Abstract

Introduction:

Obesity and aging may cause changes in lung function.

Objective:

to assess whether body mass, body mass index (BMI) and age influences vital capacity (VC) and forced expiratory volume in the first second (FEV1) in women.

Methods:

81 women aged between 30 and 75 years participated in the study. The sample included obese and morbidly obese, non-smoking, sedentary individuals without chronic lung disorders. Anamnesis, anthropometric and spirometric evaluations were performed. Statistical analysis was carried out using the Pearson correlation and Spearman tests, adopting a significance level of 5%.

Results:

It was observed that age had significant and negative correlations with VC and its components: inspiratory reserve volume (IRV), expiratory reserve volume (ERV) and tidal volume (TV), and with FEV1. There was also a significant positive correlation between body mass and VC and IRV and a significant negative correlation between BMI and ERV.

Conclusion:

Pulmonary function declines over time. Body mass appears to exert a greater influence on IRV, whereas a greater BMI is associated with a decline in ERV.

Key words:
Aging; Obesity; Spirometry; Physiotherapy

INTRODUÇÃO

A obesidade é uma doença crônica que vem crescendo demasiadamente nos últimos anos e está relacionada a diversos fatores como hereditariedade, má alimentação, sedentarismo e aspectos hormonais.11. Chen Y, Rennie D, Cormier YF, Dosman J. Waist circumference is associated with pulmonary function in normal-weight, overweight, and obese subjects. Am J Clin Nutr 2007;85(1):35-9. No Brasil, 56,9% da população adulta sofre com excesso de peso, o que representa 82 milhões de pessoas, sendo 13% classificadas como obesa.22. Portal Brasil. Mais da metade dos adultos está acima do peso [Internet]. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2015 [acesso em 26/02/2016]. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/saude/2015/08/mais-da-metade-dos-adultos-estao-acima-do-peso#acontent Está associada a diversas comorbidades crônicas e/ou degenerativas como o diabetes tipo II, a hipertensão arterial sistêmica, as coronariopatias e o acidente vascular encefálico.33. Yurcisin BM, Gaddor MM, DeMaria EJ. Obesity and Bariatric Surgery. Clin Chest Med 2009;30(3):539-53.

Também promove alterações na função pulmonar como a diminuição da capacidade residual funcional (CRF), do volume corrente (VC), da complacência pulmonar e expansibilidade torácica44. Costa TR, Lima TP, Gontijo PL, De Carvalho HA, Cardoso FPF, Faria OP, et al. Correlação da força muscular respiratória com variáveis antropométricas de mulheres eutróficas e obesas. Rev Assoc Med Bras 2010;56(4):403-8. e ainda, diminuição do volume de reserva expiratório (VRE) que é descrito como o principal achado relacionado à alteração da função pulmonar na obesidade,55. Littleton SW. Impact of obesity on respiratory function. Respirology 2012; 17(1):43-9. isto porque a gordura abdominal exerce um efeito mecânico sobre o tórax e o diafragma reduzindo os volumes pulmonares mesmo em um indivíduo sem alterações da função pulmonar.66. Costa D, Forti EMP, Barabalho-Moulim MC, Rasera-Junior I. Estudo dos volumes pulmonares e da mobilidade toracoabdominal de portadoras de obesidade mórbida, submetidas à cirurgia bariátrica, tratadas com duas diferentes técnicas de fisioterapia. Rev Bras Fisioter 2009;13(4):294-300.

O envelhecimento também pode influenciar a função pulmonar devido às alterações corporais inerentes ao processo de envelhecimento como a diminuição da estatura, da massa corporal e a substituição dos músculos por tecido adiposo, desencadeando fraqueza muscular, levando a alterações na mecânica pulmonar.77. Nóbrega ACL, Freitas EV, Oliveira MAB, Leitão, Lazzoli JK, Nahas RM, et al. Posicionamento Oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e da Sociedade Brasileira de Geriatrifa e Gerontologia: Atividade Física e Saúde no Idoso. Rev Bras Med Esporte1999;5(6):207-11.

8. Ruivo S, Viana P, Martins C, Baeta C. Efeito do envelhecimento cronológico na função pulmonar. Comparação da função respiratória entre adultos e idosos saudáveis. Rev Port Pneumol 2009;15(4)629-53.
-99. Tramont CVV, Faria ACD, Lopes AJ, Jansen JM, Melo PL. Influence of the ageing process on the resistive and reactive properties of the respiratory system. Clinics 2009;64(11):1065-73.

Segundo Sekhri et al,1010. Sekhri V, Abbasi F, Ahn CW, Delorenzo LJ, Aronow WS, Chandy D. Impact of morbid obesity on pulmonary function. Arch Med Sci 2008;4(1):66-70. a obesidade pode ter um impacto maior sobre a função pulmonar de indivíduos mais velhos, devido a deposição de gordura corporal que varia com o passar da idade. Com o aumento da idade, ocorre diminuição da secreção do hormônio de crescimento, diminui a taxa de metabolismo basal, diminuindo a massa magra e aumentando a quantidade de gordura corporal especialmente nas mulheres.1111. Rudman D, Feller AG, Nagraj HS, Gergans GA, Lalitha PY, Goldeberg AF, et al. Effects of human growth hormone in men over 60 years old. N Engl J Med 1990;323:1-6.

Diante disto, a hipótese deste estudo é que o excesso de gordura corporal e a idade podem ser fatores causadores de alteração do comportamento da função pulmonar em mulheres.

Portanto, o objetivo do estudo foi avaliar se a massa corporal, o IMC e a idade têm influência sobre a capacidade vital (CV) e o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) em mulheres.

METODOLOGIA

Sujeitos

Trata-se de estudo transversal observacional com amostra alocada por conveniência, realizado no laboratório de Avaliação e Intervenção em Fisioterapia Cardiorrespiratória da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) no qual foram avaliadas 81 mulheres, sedentárias, com idade entre 30 e 75 anos e índice de massa corporal (IMC) entre 30 e 55 kg/m2, no período de agosto de 2012 a julho de 2013.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), sob o protocolo 48/12, seguindo as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Todas as voluntárias foram esclarecidas quanto aos objetivos do estudo e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Cálculo Amostral

O cálculo do tamanho da amostra foi realizado com base em estudo piloto sendo utilizada a correlação significativa entre o IMC e o VRE. Utilizou-se para o cálculo o valor de r= -0,60 e o teste de correlação linear, adotando-se um poder estatístico de 95% e um alfa de 0,05. Assim, determinou-se um número mínimo de 31 voluntárias em cada grupo levando em consideração o IMC. Foi realizado também, o cálculo amostral para cada grupo de acordo com o IMC e a idade, determinando-se o número mínimo de oito voluntárias por grupo. O processamento do cálculo amostral foi realizado por meio do software BioEstat versão 5.3 (Belém, Brasil).

As mulheres avaliadas e incluídas no estudo foram provenientes de clínicas de tratamento para a obesidade da cidade de Piracicaba, SP e apresentavam exames clínicos, espirométricos e laboratoriais recentes e dentro da normalidade, de acordo com avaliação médica, para a inclusão nos grupos.

Foram adotados como critérios de inclusão: mulheres com IMC entre 30 e 55 kg/m2, idade entre 30 e 75 anos, estilo de vida sedentário,1212. Baecke JA, Burema J, Frijters JE. A short questionnaire for the measurement of habitual physical activity in epidemiological studies. Am J Clin Nutr 1982;36(5):936-42. não fumantes, com capacidade de entendimento para realização das avaliações e ausência de hipertensão arterial sis têmica, diabetes, doenças cardiovasculares, pulmonares e ainda, infecções respiratórias nas últimas duas semanas.

As mulheres avaliadas foram divididas de acordo com o IMC e a idade em quatro grupos: 38 mulheres obesas (IMC entre 30,0 e 39,9 Kg/m²), sendo 27 com idade entre 30 e 55 anos e 11 com idade entre 56 e 75 anos e 43 mulheres obesas mórbidas (IMC > 40 Kg/m²), sendo 28 mulheres com idade entre 30 e 55 anos e 15 mulheres com idade entre 56 e 75 anos.

Procedimento Experimental

Inicialmente, as voluntárias foram submetidas a anamnese para coleta de dados clínicos, avaliação das medidas antropométricas e posteriormente a avaliação dos volumes e capacidades pulmonares por meio da espirometria. Cada voluntária compareceu ao laboratório apenas uma vez e as avaliações foram realizadas em um único dia, por pesquisadores previamente treinados para o procedimento experimental. Para a realização do procedimento experimental, o laboratório foi devidamente preparado e climatizado artificialmente com a temperatura ambiente controlada por equipamento de ar condicionado Split (Trane; Curitiba-PR, Brasil) entre 22 e 24ºC e a umidade relativa do ar por umidificador mantendo-se entre 40 e 60%.

Na avaliação antropométrica, as voluntárias permaneceram em posição ortostática, sem sapatos ou roupas pesadas. A massa corporal foi obtida por uma balança digital (Welmy; Santa Bárbara D'Oeste- SP, Brasil), com capacidade máxima de 300 Kg. A estatura foi mensurada pelo estadiômetro da própria balança e o cálculo do IMC foi obtido através da equação: massa corporal (kg)/estatura² (m).13

Para a avaliação da função pulmonar foi utilizado um espirômetro computadorizado com sensor de fluxo (Microquark; Cosmed, Roma, Italia), calibrado diariamente. As voluntárias permaneceram sentadas e utilizaram um clipe nasal durante a realização das manobras de capacidade vital lenta (CVL) e capacidade vital forçada (CVF), de acordo com as normas preconizadas pela American Thoracic Society 14 e pelas diretrizes para testes de função pulmonar.1515. Pereira CAC. Directives for pulmonary function tests. J Pneumol 2002; 28(3):1-82.

As manobras foram realizadas até serem obtidas três curvas aceitáveis e duas reprodutíveis, não excedendo mais que oito tentativas. Os valores foram expressos em litros e em porcentagem do previsto, segundo as equações estabelecidas para a população brasileira.1616. Pereira CAC, Barreto SP, Simões JG, Pereira FWL, Gerstler JG, Nakatami J. Valores de referência para espirometria em uma amostra da população brasileira adulta. J Pneumol 1992;18(1):10-22.

Análise Estatística

Para a análise estatística foi utilizado o programa BioEstat versão 5.3. Para verificar a normalidade dos dados foi aplicado o teste de normalidade de Kolgomorov-Smirnov. Para a comparação intragrupos e intergrupos da idade, das características antropométricas e dos valores das variáveis espirométricas foi utilizado o teste t de Student e o teste de Mann-Whitney. Para a análise de correlação da massa corporal, do IMC e da idade com as variáveis espirométricas, foi utilizada a correlação de Pearson e a correlação de Spearman. Para todas as análises adotou-se um nível de significância de 5%.

RESULTADOS

A tabela 1 apresenta os dados da idade e das características antropométricas das voluntárias estudadas divididas nos grupos.

Tabela 1
Idade e características antropométricas das voluntárias estudadas. Piracicaba, SP, 2012-2013.

A tabela 2 apresenta os dados dos volumes e capacidades pulmonares obtidos das voluntárias estudadas.

Tabela 2
Valores das medidas das variáveis espirométricas em absolutos e em porcentagem do previsto das voluntárias estudadas. Piracicaba, SP, 2012-2013.

Na análise intragrupos, pode-se observar que a CV independente do grau de obesidade sofre declínio com o passar dos anos.

Em relação à análise intergrupos ficou evidenciado que independentemente da idade, obesas mórbidas apresentam declínio da função pulmonar quando comparadas à obesas.

A tabela 3 apresenta as relações que a idade, a massa corporal e o IMC exercem sobre função pulmonar.

Tabela 3
Correlação entre idade e características antropométricas com variáveis espirométricas das voluntárias estudadas (n=81). Piracicaba, SP, 2012-2013.

Assim sendo, quanto maior a idade, menores foram os valores das variáveis espirométricas estudadas ao passo que, quanto maior a massa corporal, maiores foram os valores de CV e VRI e quanto maior o IMC, menores foram os valores de VRE.

DISCUSSÃO

A proposta do estudo foi verificar se a massa corporal, o IMC e a idade têm influência sobre a CV e o VEF1 em mulheres. Considerando que o VRE faz parte da CV e é o volume marcador da obesidade mórbida, optou-se por apresentar e discutir não só os resultados da CV mais também o seu desdobramento que é constituído do VRI, VRE e VC.

Neste sentido, os resultados obtidos no presente estudo evidenciaram uma correlação significativa e negativa entre a idade e a CV, VRI, VRE, VC e o VEF1, sendo que, quanto maior a idade, menores foram os valores das respectivas variáveis.

Fabron et al.1717. Fabron EMG, Sebastião LT, Oliveira GAG, Motonaga SM. Medidas da dinâmica respiratória em idosos participantes de grupos de terceira idade. Rev CEFAC 2011;13(5):895-901. analisaram as medidas espirométricas em participantes de grupos de terceira idade e obtiveram como resultado uma correlação significativa entre a idade e a CV, sugerindo uma diminuição nos valores de CV conforme o aumento da idade, corroborando os resultados do presente estudo. A diminuição da CVL em decorrência do envelhecimento também foi constatado por Matsudo et al.1818. Matsudo SMM. Envelhecimento, atividade física e saúde. Rev Min Educ Fís 2002;10(1):195-209. e Ruivo et al.88. Ruivo S, Viana P, Martins C, Baeta C. Efeito do envelhecimento cronológico na função pulmonar. Comparação da função respiratória entre adultos e idosos saudáveis. Rev Port Pneumol 2009;15(4)629-53. os quais observaram a influência da idade sobre a CV e ainda sobre o VEF1 em indivíduos saudáveis, sugerindo que o envelhecimento, de fato, provoca impacto na função pulmonar, levando a diminuição da CV e do VEF1.

O VEF1 é uma variável de interesse no estudo da função pulmonar e se destaca por ser uma medida reprodutível pelo fato de ser esforço-independente. De acordo com a ATS,1414. Miller MR, Hankinson J, Brusasco V, Burgos F, Casaburi R, Coates A, et al. Standardization of Spirometry. Eur Respir J 2005;26:319-38. (Series ATS\ERS Task Force: Standardisation of lung function testing). a gravidade das alterações ventilatórias é caracterizada pelo valor percentual do VEF1, sendo esse habitualmente utilizado para estratificar a gravidade em doentes com componente obstrutivo, restritivo ou misto. A redução do VEF1 em idosos pode evidenciar alterações obstrutivas e isso pode ser explicado em função da diminuição da retratilidade elástica do pulmão, da redução na complacência da parede torácica e a redução na força dos músculos respiratórios levando ao declínio progressivo da função pulmonar ao longo do tempo.1919. Krumpe PE, Knudson RJ, Parsons G, Reiser K. The aging respiratory system. Clin Geriatr Med 1985;1(1):143-75.,2020. Janssens J P, Pache JC, Nicod LP. Physiological changes in respiratory function associated with ageing. Eur Respir J 1999;13(1):195-205. Em função da diminuição da força muscular respiratória, Santos et al.2121. Santos LA, Borgi JR, Daister JLN, Pazzianotto-Forti EM. Efeitos da estimulação diafragmática elétrica transcutânea na função pulmonar em idosos. Rev Bras Geriatr Gerontol 2013;16(3):495-502. sugerem a realização de treinamento muscular respiratório nessa população, uma vez que este pode potencializar a musculatura respiratória de idosos e assim constituir estratégia preventiva contra o declínio da força muscular respiratória e da função pulmonar.

Já com o objetivo de estudar os prejuízos da obesidade na função pulmonar, Melo et al.2222. Melo SMD, Melo VA, Melo EV, Menezes RS Filho, Castro VL, Barreto MSP. Envelhecimento pulmonar acelerado em pacientes com obesidade mórbida. J Bras Pneumol 2010;36(6):746-52. encontraram diferenças significativas na CVF e no VEF1 entre os grupos de obesos e eutróficos. Os autores demonstraram o comprometimento pulmonar por meio do conceito de idade pulmonar e verificaram que a idade pulmonar está aumentada em pacientes com obesidade mórbida, sugerindo dano precoce e envelhecimento pulmonar acelerado nesses indivíduos.

No presente estudo, também houve correlação significativa e positiva da massa corporal com a CV e o VRI, evidenciando que com o aumento da massa corporal ocorre o aumento da CV e o VRI e correlação negativa entre o IMC e o VRE, sendo que quanto maior o IMC, menor o VRE. Resultados semelhantes foram descritos por Melo et al.2323. Melo SMD, Melo VA, Menezes RS Filho, Santos FA. Efeitos do aumento progressivo do peso corporal na função pulmonar em seis grupos de índice de massa corpórea. Rev Assoc Med Bras 2011;57(5):509-15. que observaram que quanto maior o IMC, maior o grau de comprometimento da função pulmonar, corroborando o presente estudo.

No estudo de Rasslan et al.,2424. Rasslan Z, Junior RS, Stirbulov R, Fabbri RMA, Lima CAC. Evaluation of pulmonary function in class I and II obesity. J Bras Pneumol. 2004;30(6):508-14. cujo objetivo foi correlacionar o IMC e a circunferência abdominal com os valores espirométricos em indivíduos obesos, o VRE também obteve um valor significativamente menor nos homens devido a maior deposição adiposa abdominal. Assim como no estudo de Jones e Nzekwu,2525. Jones RL, Nzekwu MMU. The effects of body mass index on lung volumes. Chest 2006;130(3):827-33. foi observado que o VRE diminuiu exponencialmente com o aumento do IMC.

Guimarães, Martins e Santos,2626. Guimarães C, Martins MV, Santos JM. Função pulmonar em doentes obesos submetidos a cirurgia bariátrica. Rev Port Pneumol 2012;18(3):115-19. avaliaram a função pulmonar de indivíduos obesos mórbidos e concluíram que a obesidade exerceu influência no VRE e na CRF. Os autores explicam que a redução do VRE e da CRF na obesidade ocorre por alterações mecânicas na parede do tórax, diminuição da complacência respiratória total, diminuição dos fluxos e dos volumes pulmonares.

Clinicamente, essa alteração é importante, pois indivíduos obesos mórbidos apresentam maior propensão ao aparecimento de atelectasias e isso pode ser explicado pela redução do VRE e consequentemente da CRF.2727. Delgado PM, Lunardi AC. Complicações respiratórias pós-operatórias em cirurgia bariátrica: revisão da literatura. Fisioter Pesqui 2011;18(4): 388-92.

Rasslan et al. 24 relataram que nas mulheres obesas, os valores de CV e do VEF1 foram significativamente menores que nas mulheres eutróficas, afirmando que a obesidade pode reduzir a CV, pois pode interferir na movimentação do diafragma e na excursão da parede torácica.

Entretanto, segundo Benício et al.,2828. Domingos-Benício NC, Gastaldi AD, Perecin JC, Avena KM, Guimarães RC, Sologuren MJJ, et al. Medidas espirométricas em pessoas eutróficas e obesas nas posições ortostática, sentada e deitada. Rev Assoc Med Bras 2004;50(2):142-47. não foram encontradas diferenças entre os valores obtidos e previstos da CV e VEF1 em indivíduos com diferentes graus de obesidade. Segundo os autores há controvérsia em relação à função pulmonar e a obesidade, pois alguns estudos encontram diminuição de volumes e capacidades pulmonares, enquanto outros relatam que esses volumes se encontram preservados.

Apontamos como limitações do estudo a ausência de homens, visto que os resultados são limitados para a população de mulheres obesas, não podendo ser extrapolados para outras classificações de IMCs e ao gênero masculino.

CONCLUSÃO

Com base nestes resultados, pode-se concluir que com o passar da idade, nas mulheres obesas e obesas mórbidas, ocorre um declínio da CV, do VRE, do VRI e do VEF1. Com o aumento da massa corporal, de forma isolada, pode aumentar a CV e o VRI, porém, à medida que o IMC aumenta, ocorre o declínio no VRE.

Desta forma, a obesidade associada ao envelhecimento pode potencializar a deterioração da função pulmonar, especialmente no que se refere ao declínio do VRE. Diante disso, estratégias preventivas devem ser propostas para a população estudada.

REFERENCES

  • 1
    Chen Y, Rennie D, Cormier YF, Dosman J. Waist circumference is associated with pulmonary function in normal-weight, overweight, and obese subjects. Am J Clin Nutr 2007;85(1):35-9.
  • 2
    Portal Brasil. Mais da metade dos adultos está acima do peso [Internet]. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2015 [acesso em 26/02/2016]. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/saude/2015/08/mais-da-metade-dos-adultos-estao-acima-do-peso#acontent
  • 3
    Yurcisin BM, Gaddor MM, DeMaria EJ. Obesity and Bariatric Surgery. Clin Chest Med 2009;30(3):539-53.
  • 4
    Costa TR, Lima TP, Gontijo PL, De Carvalho HA, Cardoso FPF, Faria OP, et al. Correlação da força muscular respiratória com variáveis antropométricas de mulheres eutróficas e obesas. Rev Assoc Med Bras 2010;56(4):403-8.
  • 5
    Littleton SW. Impact of obesity on respiratory function. Respirology 2012; 17(1):43-9.
  • 6
    Costa D, Forti EMP, Barabalho-Moulim MC, Rasera-Junior I. Estudo dos volumes pulmonares e da mobilidade toracoabdominal de portadoras de obesidade mórbida, submetidas à cirurgia bariátrica, tratadas com duas diferentes técnicas de fisioterapia. Rev Bras Fisioter 2009;13(4):294-300.
  • 7
    Nóbrega ACL, Freitas EV, Oliveira MAB, Leitão, Lazzoli JK, Nahas RM, et al. Posicionamento Oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e da Sociedade Brasileira de Geriatrifa e Gerontologia: Atividade Física e Saúde no Idoso. Rev Bras Med Esporte1999;5(6):207-11.
  • 8
    Ruivo S, Viana P, Martins C, Baeta C. Efeito do envelhecimento cronológico na função pulmonar. Comparação da função respiratória entre adultos e idosos saudáveis. Rev Port Pneumol 2009;15(4)629-53.
  • 9
    Tramont CVV, Faria ACD, Lopes AJ, Jansen JM, Melo PL. Influence of the ageing process on the resistive and reactive properties of the respiratory system. Clinics 2009;64(11):1065-73.
  • 10
    Sekhri V, Abbasi F, Ahn CW, Delorenzo LJ, Aronow WS, Chandy D. Impact of morbid obesity on pulmonary function. Arch Med Sci 2008;4(1):66-70.
  • 11
    Rudman D, Feller AG, Nagraj HS, Gergans GA, Lalitha PY, Goldeberg AF, et al. Effects of human growth hormone in men over 60 years old. N Engl J Med 1990;323:1-6.
  • 12
    Baecke JA, Burema J, Frijters JE. A short questionnaire for the measurement of habitual physical activity in epidemiological studies. Am J Clin Nutr 1982;36(5):936-42.
  • 13
    Keys A, Fidanza R, Karvonen MJ, Kimura N, Taylor HL. Indices of relative weight and obesity. J Chronic Dis 1972;25(6-7):329-43.
  • 14
    Miller MR, Hankinson J, Brusasco V, Burgos F, Casaburi R, Coates A, et al. Standardization of Spirometry. Eur Respir J 2005;26:319-38. (Series ATS\ERS Task Force: Standardisation of lung function testing).
  • 15
    Pereira CAC. Directives for pulmonary function tests. J Pneumol 2002; 28(3):1-82.
  • 16
    Pereira CAC, Barreto SP, Simões JG, Pereira FWL, Gerstler JG, Nakatami J. Valores de referência para espirometria em uma amostra da população brasileira adulta. J Pneumol 1992;18(1):10-22.
  • 17
    Fabron EMG, Sebastião LT, Oliveira GAG, Motonaga SM. Medidas da dinâmica respiratória em idosos participantes de grupos de terceira idade. Rev CEFAC 2011;13(5):895-901.
  • 18
    Matsudo SMM. Envelhecimento, atividade física e saúde. Rev Min Educ Fís 2002;10(1):195-209.
  • 19
    Krumpe PE, Knudson RJ, Parsons G, Reiser K. The aging respiratory system. Clin Geriatr Med 1985;1(1):143-75.
  • 20
    Janssens J P, Pache JC, Nicod LP. Physiological changes in respiratory function associated with ageing. Eur Respir J 1999;13(1):195-205.
  • 21
    Santos LA, Borgi JR, Daister JLN, Pazzianotto-Forti EM. Efeitos da estimulação diafragmática elétrica transcutânea na função pulmonar em idosos. Rev Bras Geriatr Gerontol 2013;16(3):495-502.
  • 22
    Melo SMD, Melo VA, Melo EV, Menezes RS Filho, Castro VL, Barreto MSP. Envelhecimento pulmonar acelerado em pacientes com obesidade mórbida. J Bras Pneumol 2010;36(6):746-52.
  • 23
    Melo SMD, Melo VA, Menezes RS Filho, Santos FA. Efeitos do aumento progressivo do peso corporal na função pulmonar em seis grupos de índice de massa corpórea. Rev Assoc Med Bras 2011;57(5):509-15.
  • 24
    Rasslan Z, Junior RS, Stirbulov R, Fabbri RMA, Lima CAC. Evaluation of pulmonary function in class I and II obesity. J Bras Pneumol. 2004;30(6):508-14.
  • 25
    Jones RL, Nzekwu MMU. The effects of body mass index on lung volumes. Chest 2006;130(3):827-33.
  • 26
    Guimarães C, Martins MV, Santos JM. Função pulmonar em doentes obesos submetidos a cirurgia bariátrica. Rev Port Pneumol 2012;18(3):115-19.
  • 27
    Delgado PM, Lunardi AC. Complicações respiratórias pós-operatórias em cirurgia bariátrica: revisão da literatura. Fisioter Pesqui 2011;18(4): 388-92.
  • 28
    Domingos-Benício NC, Gastaldi AD, Perecin JC, Avena KM, Guimarães RC, Sologuren MJJ, et al. Medidas espirométricas em pessoas eutróficas e obesas nas posições ortostática, sentada e deitada. Rev Assoc Med Bras 2004;50(2):142-47.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Aug 2016

Histórico

  • Recebido
    07 Abr 2015
  • Revisado
    19 Abr 2015
  • Aceito
    21 Maio 2016
Universidade do Estado do Rio Janeiro Rua São Francisco Xavier, 524 - Bloco F, 20559-900 Rio de Janeiro - RJ Brasil, Tel.: (55 21) 2334-0168 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: revistabgg@gmail.com