Acessibilidade / Reportar erro

Interação de adolescentes privados de liberdade com seus avós no processo de viver e envelhecer

Resumo

Objetivo:

Conhecer a interação de adolescentes privados de liberdade com seus avós no processo de viver e envelhecer.

Método:

Pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva, realizada por meio de uma entrevista semiestruturada com 11 adolescentes internos, entre 17 e 20 anos de idade, em 2018, de uma unidade da Fundação de Atendimento Socioeducativo do interior do Rio Grande do Sul, Brasil. O que emergiu na voz dos adolescentes foi analisado pela temática de conteúdo.

Resultados:

Foi possível construir categorias que se entrelaçam e completam entre si: a) Os avós como suporte afetivo de adolescentes privados de liberdade e b) Relações de reciprocidade e convivência saudável entre adolescentes e avós.

Conclusão:

Os resultados indicaram que os participantes conceberam o papel dos avós na trajetória de suas vidas, mesmo com conflitos relacionais, como benéficas, porque ocupam um espaço de referência familiar, com amparo e afeto nas angústias familiares e próprias do adolescente que se desenvolve. Essa forma de convivência apareceu como uma possibilidade na formação da personalidade dos jovens em conflito com a lei, e um ambiente favorável de trocas e aprendizados mútuos e como figuras portadoras da cultura familiar transgeracional. A desestruturação familiar foi mencionada como um processo recorrente relatado e subjacente na vida dos adolescentes e os avós.

Palavras-chave:
Avós; Adolescente; Relações Familiares; Envelhecimento

Abstract

Objective:

To describe the interactions between incarcerated adolescents and their grandparents during the processes of living and ageing.

Method:

An exploratory, descriptive, qualitative study was carried out, based on a semi-structured interview with 11 adolescents aged from 17 to 20 incarcerated in a youth detention center in the state of Rio Grande do Sul, Brazil. The discourse of the adolescents was analyzed based on content themes.

Results:

Categories that were both intertwined and complete among themselves were constructed: a) grandparents as affective support for incarcerated adolescents and b) relationships of reciprocity and healthy coexistence between the adolescents and their grandparents.

Conclusion:

The results showed that despite relational conflicts, the participants perceived the role of their grandparents in their lives as beneficial, as they offer a familial reference space, providing shelter and affection against the anxieties of the adolescents and those related to their families. This form of coexistence was a potential part of the development of young people in conflict with the law, and a favorable environment of mutual exchanges and learning, and as figures continuing the transgenerational family culture. Family separation was mentioned as a recurring and underreported process in the lives of adolescents and their grandparents.

Keywords:
Grandparents; Adolescent; Family Relations; Aging

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, tem havido mudanças na demografia populacional. A população aumentou, a estrutura etária mudou e o número relativo de idosos cresceu. O fenômeno do envelhecimento populacional remete às complexas e rápidas transformações políticas, econômicas e sociais, as quais coincidem com transformações significativas na vida familiar e seus vínculos11 Klein AL, Basilio LI, Garcia MCR. Unanálisisdel vínculo abuelosnietos-adolescentes reflexión sobre latransmisióngeneracional. Revkatálysis [Internet]. 2016 [acesso em 28 mar. 2019];19(2):251-9. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-49802016000200251&lng=en&nrm=iso
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
, fazendo que a maior longevidade possibilite uma coexistência mais longa entre avós e netos.

As mudanças sociais e familiares decorrentes do envelhecimento implicam também alterações profundas nos papéis de avô e avó, onde, cada vez mais, os adolescentes são criados por seus avós22 Nascente RA, Zucolotto MPR. Avós cuidadoras e seus netos: uma reflexão sobre as configurações familiares. DiscipSci [Internet]. 2016 [acesso em 28 mar. 2019];16(1):27-41. Disponível em: https://periodicos.ufn.edu.br/index.php/disciplinarumCH/article/view/1838/1727
https://periodicos.ufn.edu.br/index.php/...
. As razões dessa nova forma de convivência são: gravidez na adolescência, divórcio, pais que moram sozinhos, pais na prisão, abuso de drogas, abuso infantil, violência doméstica33 Klein A. Una aproximación a las formas de relacionamientoabuelos-nietos adolescentes desde perspectivas tradicionales, no tradicionales e inéditas. PsicolRev [Internet]. 2009 [acesso em 28 mar. 2019];18(1):1-20. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/psicorevista/article/view/3311/2222
https://revistas.pucsp.br/psicorevista/a...
, dificuldades na constituição de vínculo com um ou ambos os pais, situação no trabalho, pais emocionalmente imaturos, entre outras44 do Prado LS, Souza FA. Voltando no tempo: o papel dos avós guardiões. RIPEConstr Ser Soc [Internet]. 2015 [acesso em 28 mar. 2019];19(35):132-53. Disponível em: ojs.ite.edu.br/index.php/css/article/download/207/246
ojs.ite.edu.br/index.php/css/article/dow...
. Em tais circunstâncias, os avós são incumbidos de responsabilidades parentais frente aos netos, por vezes, assumindo de forma integral os cuidados para com eles. Todavia, as responsabilidades vão além dos cuidados diários, pois eles se encarregam financeiramente e obtêm sua custódia legal55 da Rocha AA, Brasil KCTR, de Cárdenas CJ, Lara L. O lugar dos avós na configuração familiar com netos adolescentes. RevKairósGerontol [Internet]. 2012 [acesso em 28 mar. 2019];15(2):159-76. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/kairos/article/view/13111/9640
https://revistas.pucsp.br/kairos/article...
.

Pesquisa realizada com crianças e adolescentes que possuem familiares encarcerados, nos estados de São Paulo, Amazonas e no Distrito Federal, revelou que esses jovens reportaram ter ficado sob os cuidados da mãe, quando o familiar preso foi o pai, ou sob os cuidados das avós, ficando os tios e outros familiares em terceiro e quarto lugares66 Chalom A, Cardoso E, Barbosa RCK. Crianças e adolescentes com familiares encarcerados: levantamentos de impactos sociais, econômicos e afetivos [e-book].Galdeano, AP, org.São Paulo:CEBRAP; 2018..

Uma revisão sistemática da literatura sobre avós guardiães77 Coelho MTBF, Dias CMSB. Avós Guardiões: uma revisão sistemática de literatura do período de 2004 a 2014. Psicol Teor Pesqui [Internet]. 2016 [acesso em 10 abr. 2019];32(4):1-7. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722016000400214&lng=en&nrm=iso
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
destaca, entre seus achados, que crianças criadas pelas avós são consideradas de alto risco, com potencial tanto para desenvolver problemas na escola quanto para não obter bons resultados ao longo da vida, em virtude dos prováveis eventos traumáticos que motivaram essa configuração familiar.

Portanto, na maioria das vezes, o adolescente em conflito com a lei encontra-se em uma condição de vulnerabilidade social. Neste sentido, importante destacar que, de acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 22.640 jovens encontram-se privados de liberdade, no Brasil, em um dos 461 estabelecimentos socioeducativos que existem no país, pelo fato de terem praticado algum ato infracional. Destes, 3.921 (17%) são internos provisórios, ou seja, estão sem uma sentença judicial definitiva88 Rodrigues A. Brasil tem cerca de 22,6 mil jovens privados de liberdade, diz CJN. Agência Brasil [Internet]. 22 nov. 2018: Seção Direitos Humanos:1-2. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2018-11/brasil-tem-cerca-de-226-mil-jovens-privados-de-liberdade-diz-cnj
http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos...
.

Fonseca et al.99 Fonseca F, Sena RKR, dos Santos RA, Dias OV, Costa S. As vulnerabilidades na infância e adolescência e as políticas públicas brasileiras de intervenção. Rev Paul Pediatr [Internet]. 2013 [acesso em 28 mar. 2019];31(2):258-64. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-05822013000200019&lng=en. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-05822013000200019
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
revelam que as crianças e adolescentes são vulneráveis às situações ambientais e sociais, as quais se manifestam em violência cotidiana, no contexto familiar e escolar, obrigando-as a se inserirem precocemente no mercado de trabalho e/ou no tráfico de drogas. Essa é uma conjuntura que sugere ausência e/ou insuficiência de aparatos sociais cuja repercussão se reflete no aumento das oportunidades de envolvimento com a vida do crime1010 Pereira TCS, dos Reis JN, Costa LA. Autor e vítima: a vulnerabilidade social de jovens que cometeram atos infracionais em Belo Horizonte. RevTer Ocup [Internet].2015 [acesso 28 mar. 2019];26(2):258-66. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rto/article/view/74957
http://www.revistas.usp.br/rto/article/v...
.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece a idade de doze anos completos aos 20 anos incompletos como pré-requisito para uma eventual internação em unidades privativas de liberdade, como último recurso, a partir de uma série de outras medidas socioeducativas possíveis1111 Brasil. Câmara dos Deputados. Estatuto da criança e do adolescente, 1990: Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, e legislação correlata. 11. ed. Brasília, DF: Edições Câmara; 2014.. De acordo com o ECA, a internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Neste alinhamento, o estatuto versa sobre o encaminhamento para internação do adolescente, cujo ato infracional cometido tenha sido mediante grave ameaça ou violência à pessoa; por reiteração no cometimento de outras infrações graves e/ou por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta1111 Brasil. Câmara dos Deputados. Estatuto da criança e do adolescente, 1990: Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, e legislação correlata. 11. ed. Brasília, DF: Edições Câmara; 2014.. No Rio Grande do Sul, o órgão estatal que responde pela internação de adolescentes é a Fundação de Atendimento Socioeducativo (FASE), formada por várias Unidades, em geral regionalizadas, denominadas de Centro de Atendimento Socioeducativo (CASE).

Investir em estudos sobre a trajetória de vida de adolescentes em conflito com a lei, seus vínculos afetivos familiares, a representatividade e as identificações com figuras parentais mais velhas, ajuda a elucidar o panorama em que as avós e os avôs constituem as concepções de vida construídas por eles.

Pesquisas revelam que à medida que os avós auxiliam seus netos, cuidam dos mesmos em função da ocupação dos pais com o trabalho, oferecendo suporte financeiro e acompanhando suas rotinas1212 Cardoso AR, de Brito LMT. Ser avó na família contemporânea: que jeito é esse? PsicoUSF [Internet]. 2014 [acesso em 28 mar. 2019];19(3):433-41. Disponível em:http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-82712014000300007&script=sci_abstract&tlng=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141...
. Essa forma de convívio de relações intergeracionais, de cuidado afetivo, gera beneficios para ambos.

A relação entre avós e netos com efeito de vínculo de cuidados, considerando o suporte emocional e de provisão de recursos é definida como avosidade. A avosidade, que se traduz por uma experiencia de troca entre avós e netos, é um fenômeno relativamente recente, em virtude do aumento da longevidade, e se caracteriza pelo desempenho de papel decisivo, a partir de uma dupla condição de mãe/pai-avós/avôs, na transmissão intergeracional, um processo ligado à formação do sujeito, o neto1313 Marchena JPA, García GD, Carballido GP. La abuelidade: rol relevante em sociedad que envejece. Cuba: Editorial Universo Sur; 2016..

A passagem de princípios, o compartilhamento de suas histórias e até mesmo de hábitos e receitas culinárias se traduzem como uma forma de troca de experiências para valorizar a pessoa mais velha1414 deMoura MMD, Veras RP. Acompanhamento do envelhecimento humano em centro de convivência. Physis [Internet]. 2017 [acesso em 28 mar. 2019];27(1):19-39. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312017000100019&lng=en
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
. Além do mais, a solidariedade intergeracional entre os idosos e as pessoas jovens nos dias atuais pode contribuir para dirimir o individualismo nos relacionamentos, a partir do tensionamento vivencial a que estamos acostumados1515 Cabral MLL, Macuch RS. Solidariedade intergeracional: perspectivas e representações. Cinergis [Internet]. 2017 [acesso em 28 mar. 2019];18(1):59-68. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/cinergis/article/view/8393/5375
https://online.unisc.br/seer/index.php/c...
. Estudo revela que cuidar dos netos, de pais que se separaram, faleceram ou simplesmente não quiseram ser responsáveis por criar os filhos, permite aos avós experienciar satisfação, bem-estar, amor e alegria22 Nascente RA, Zucolotto MPR. Avós cuidadoras e seus netos: uma reflexão sobre as configurações familiares. DiscipSci [Internet]. 2016 [acesso em 28 mar. 2019];16(1):27-41. Disponível em: https://periodicos.ufn.edu.br/index.php/disciplinarumCH/article/view/1838/1727
https://periodicos.ufn.edu.br/index.php/...
. Por conta desse convívio entre gerações diferentes e, por vezes, distantes, é significativo o estudo das concepções de adolescentes privados de liberdade das relações estabelecidas com seus avós no percurso da vida.

Diante deste cenário, o objetivo da pesquisa foi conhecer a interação de adolescentes privados de liberdade com seus avós no processo de viver e envelhecer.

MÉTODO

Trata-se de pesquisa exploratória, descritiva, de abordagem qualitativa, desenvolvida em uma unidade CASE do interior do Estado do Rio Grande do Sul, na qual havia 68 adolescentes em conflito com a lei. Participaram 11 adolescentes internos, com idades entre 17 e 20 anos. Para a seleção dos participantes foram estabelecidos como critérios de inclusão: adolescentes com sentença definida de acordo com o Juizado da Infância e da Juventude, em que se identificasse a medida de internação definitiva e, aqueles que, na sua trajetória de vida, em algum momento, coabitaram com seus avós. Os adolescentes com internação provisória foram excluídos, pois poderiam a qualquer tempo ser desligados do sistema. O fechamento amostral levou em consideração o critério de saturação teórica proposto por Fontanella et al.1616 Fontanella BJB, Luchesi BM, Saidel MGB, Ricas J, Turato ER, Melo DG. Amostragem em pesquisas qualitativas: proposta de procedimentos para constatar saturação teórica. Cad Saúde Pública [Internet]. 2011 [acesso em 28 mar. 2019]; 27(2):389-94. Disponível em: www.scielo.br/pdf/csp/v27n2/20.pdf
www.scielo.br/pdf/csp/v27n2/20.pdf...
.

Utilizou-se da estratégia de entrevista em profundidade, por serem consideradas profícuas nas pesquisas qualitativas, já que pressupõem uma possibilidade de transmissão de questões que envolvem a subjetividade contida na vivência dos sujeitos, como também as suas singularidades1717 Bauer Martin W, Gaskell George. Qualitative Research with Text, Image and Sound: a practical handbook. Pedrinho AG, Tradutor. 12. ed. Petrópolis: Vozes; 2014..

Os dados foram coletados por meio de entrevistas individualizadas, realizadas por um único entrevistador, durante os meses de fevereiro e março de 2018. Utilizou-se um questionário sociodemográfico, para caracterização dos participantes, e, questões norteadoras para atender os objetivos, como a natureza do delito, se usou drogas, a forma de convivência com os pais e avós, a importância das pessoas nas suas vidas e o que pensa da velhice e o seu significado. O local da realização das mesmas foi nas dependências do CASE, em uma sala adequada designada pelo gestor responsável, preservando a discrição dos envolvidos e o sigilo absoluto dos dados; com permissão dos envolvidos foram gravadas e transcritas na íntegra para posterior trabalho de codificação e análise, tendo a garantia de serem destruídas, quando concluída a pesquisa.

Os adolescentes tiveram participação voluntária no estudo e a formalização ocorreu a partir de assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

As respostas dos adolescentes foram submetidas à análise de conteúdo1818 Bardin L. Análise de Conteúdo. Reto LA, Pinheiro L A, Tradutores. São Paulo: Edições 70; 2016. por um painel de avaliadores composto por três membros, dentre os quais, um foi o entrevistador e dois eram conhecedores dos fundamentos da intergeracionalidade e experientes em análise de conteúdo, com destaque para as habilidades de categorizar, cotejar e buscar acordos no sistema de temas e categorias. A análise de conteúdo cumpriu as três fases: A primeira, pré-análise, constitui na construção do corpus, mediante leitura flutuante, da totalidade das respostas, com o objetivo de identificar unidades de signigficado (emissão verbal de qualquer tamanho que expresse a interação com os avós); a segunda fase, foi feita a construção da categorização e submetida a supervisão dos especialistas; na terceira fase foi feita a revisão da categorização e realizado o tratamento dos resultados, inferência e interpretação1818 Bardin L. Análise de Conteúdo. Reto LA, Pinheiro L A, Tradutores. São Paulo: Edições 70; 2016.. Salientamos que nos excertos das narrativas, os participantes foram identificados com a letra A de adolescente, seguida de número arábico, correspondendo à ordem de entrevistas, para garantir a participação anônima dos envolvidos. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Passo Fundo, com o parecer n. 2.408.199.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A idade dos envolvidos variou dos 17 aos 20 anos. O ingresso na FASE, para a maioria desses adolescentes, deu-se aos 16 anos de idade, sendo que cinco, dos 11, são reincidentes. Os atos infracionais cometidos por esses internos foram: roubo, tráfico de entorpecentes e crimes contra a vida como homicídio e latrocínio. Com relação à criminalidade na família, oito adolescentes referiram possuir familiares em conflito com a lei. Dos 11 adolescentes entrevistados, cinco conhecem apenas a mãe, por motivo de falecimento do pai ou por separação. A renda familiar auto relatada seria em torno de um a dois salários mínimos na maioria das residências dos internos, sendo menor que um salário mínimo nas demais.

O que emergiu na voz dos adolescentes sofreu análise de conteúdo e desdobrou-se em categorias que se entrelaçam e completam entre si: a) Os avós como suporte afetivo de adolescentes privados de liberdade e b) Relações de reciprocidade e convivência saudável entre adolescentes e avós.

Os avós como suporte afetivo de adolescentes privados de liberdade

Notadamente, os avós emergiram, a partir dos relatos, como figuras presentes no núcleo familiar e que a avosidade1919 Lins ZMB, Salomão NMR, Lins SLB, Féres-Carneiro T, Eberhardt AC. O papel dos pais e as influências externas na educação dos filhos. Rev. SPAGESP [Internet]. 2015 [acesso em 28 mar. 2019];16(1):43-59. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702015000100005&lng=pt
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
chega a ocupar destaque familiar, suplantando, às vezes, até mesmo a imagem dos pais.

Por outro lado, essa informação revela, em alguns casos, um recorte de gênero nas relações tecidas nas trajetórias de vida dos mesmos, na medida em que se verificou um protagonismo da presença de mulheres, sejam elas mães ou avós:

“Convivi um tempão com a minha vó, que me criou. É uma experiência muito boa [...] Eles me consideravam assim como um filho (avós) [...]. Ela (avó) não quer que eu siga aquele outro caminho, usando drogas, vivendo nas calçadas que nem mendingo” (A2).

“Morava com a minha mãe só. Só que a vó, sempre ia lá dar conselho para mim [...] A minha mãe falava comigo, mas era a mesma coisa que entrar aqui e sair aqui. Eu não ouvia ela. A minha avó falava comigo também. Eu não escutava elas” (A11).

Nas falas de A2 e A11 verificam-se a influência que esses avós têm sobre os adolescentes. Esses resultados são consistentes com a literatura nacional e internacional, que revelam a predominância da linha materna na ligação com as avós11 Klein AL, Basilio LI, Garcia MCR. Unanálisisdel vínculo abuelosnietos-adolescentes reflexión sobre latransmisióngeneracional. Revkatálysis [Internet]. 2016 [acesso em 28 mar. 2019];19(2):251-9. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-49802016000200251&lng=en&nrm=iso
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
,33 Klein A. Una aproximación a las formas de relacionamientoabuelos-nietos adolescentes desde perspectivas tradicionales, no tradicionales e inéditas. PsicolRev [Internet]. 2009 [acesso em 28 mar. 2019];18(1):1-20. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/psicorevista/article/view/3311/2222
https://revistas.pucsp.br/psicorevista/a...
,1010 Pereira TCS, dos Reis JN, Costa LA. Autor e vítima: a vulnerabilidade social de jovens que cometeram atos infracionais em Belo Horizonte. RevTer Ocup [Internet].2015 [acesso 28 mar. 2019];26(2):258-66. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rto/article/view/74957
http://www.revistas.usp.br/rto/article/v...
,2020 González BJJ, González SJ, Ortiz OV, González BE. La relaciónabuelos-nietos desde una perspectiva intercultural. Int J DevEducPsychol [Internet]. 2010 [acesso em 28 mar. 2019];2(1):669-76. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=349832325070
http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=34...
. Para A2, essa substituição ultrapassa os limites práticos e instrumentais, inserindo-se no imaginário do neto, o que traduz inclusive uma referência importante para ele, reportado na menção a consideração de filho, por parte da avó. Para A11, os conselhos da avó são rememorados hoje.

Diante destes depoimentos, pode-se entender que, talvez, o eco ressoa em função de que as relações intergeracionais também podem ser marcadas por diferenças e conflitos, uma forma salutar de convivência, como confere estudo desenvolvido com adolescentes de 15 a 18 anos, no qual se registra benefícios, porque as diferenças e os conflitos são fundamentais para o estabelecimento de limites nos comportamentos e costumes do funcionamento familiar2121 Paixão FJD, de Morais Na. A experiência de adolescentes criados por avós. Clín Cult [Internet] 2016 [acesso em 28 mar. 2019];5(1):65-86. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/clinicaecultura/article/viewFile/5045/4896
https://seer.ufs.br/index.php/clinicaecu...
.

Na condição de privação da liberdade, os adolescentes reconhecem as investidas das avós na tentativa de regrar suas condutas, uma forma subliminar de impor limites e valores2020 González BJJ, González SJ, Ortiz OV, González BE. La relaciónabuelos-nietos desde una perspectiva intercultural. Int J DevEducPsychol [Internet]. 2010 [acesso em 28 mar. 2019];2(1):669-76. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=349832325070
http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=34...
, aspiração das avós que no passado se mostrou inócua, revelada na percepção dos netos. O paradoxo nessa forma de convivência entre adultos e adolescentes é uma mudança necessária para ajustes nos relacionamentos2222 Watson C, Bantebya GK, Muhanguzi FK. The paradox of change and continuity in social norms and practices affecting adolescent girls’ capabilities and transitions to adulthood in rural Uganda. In: Harper C, Jones N, Ghimire A, Marcus RM, Kyomuhendo G. Empowering Adolescent Girls in Developing Countries: Gender Justice and Norm Change.London: Routledge; 2018. p. 85-101..

Também foi mencionado que existem muitas diferenças específicas na forma de convivência entre gerações, próprias do nível de maturidade e experiências de vidas distintas, além de acompanhadas de estereótipos produzidos pela sociedade e reproduzidos pelos adolescentes:

“Minha vó às vezes ela dá uns piripaque nela, claro vai chegando a idade” (A2).

“São meio teimosos assim. Eles são meio enjoadinhos um pouco, né?” (A11).

“O cara mais velho, o cara só quer mandar, porque o cara mais velho não tem a mesma agilidade que o cara novo” (A10).

As falas dos adolescentes anunciam representações preconceituosas e carregadas de conotações negativas e refletem o estigma em relação ao idoso presente na sociedade e em muitas famílias, resultados corroborados por estudos que confirmam a imagem negativa dos avós na convivência intergeracional, que vêm impregnada de estereótipos que estão interiorizados na memória coletiva2323 da Silva DM, Vilela ABA, Nery AA, Duarte ACS, Alves MR, Meira SS. Dinâmica das relações familiares intergeracionais na ótica de idosos residentes no Município de Jequié (Bahia), Brasil. Ciênc Saúde Colet[Internet]. 2015 [acesso 30 mar. 2019];20(7):2183-91. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232015000702183&lng=en
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
. Torres et al.24 comentam que se trata de um processo cultural em que as pessoas utilizam preconceitos na convivência intergeracional, pois é a forma como compreendem o mundo. No mesmo sentido, a pesquisa de Calderón2525 Calderón VAA. Intersubjective notions construccion of law, rule and justice in juveniles deprived of their liberty. Ajayu.2016;14(1):56-70., realizada com adolescentes privados de liberdade, demonstrou que os estudos voltados para intersubjetividade são fundamentais para compreender dimensões individuais e sociais dos adolescentes em conflito com a lei.

É no grupo familiar que as relações de convivência se estabelecem. Assim como os pais, os avós também desempenham um papel educativo junto aos netos. Sobre essa boa influência, o adolescente, A4, de 20 anos, menciona o caráter educativo e o auxílio dos pais e dos avós:

“Minha mãe, meu pai, as pessoas que mais me ajudam, minha vó também [...] Com a minha avó, com meu falecido vô, foi uma experiência boa [...]. Aprendi muita coisa com meu avô e se eu tivesse escutado a maioria das coisas que ele falava, pra mim talvez eu não taria aqui” (A4).

Em relação ao processo educacional e de convivência entre avós e adolescentes, a fala de A4 revela que as relacões familiares foram pautadas por uma interação entre pais-netos-avós marcadas por influências benéficas1919 Lins ZMB, Salomão NMR, Lins SLB, Féres-Carneiro T, Eberhardt AC. O papel dos pais e as influências externas na educação dos filhos. Rev. SPAGESP [Internet]. 2015 [acesso em 28 mar. 2019];16(1):43-59. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702015000100005&lng=pt
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
,2020 González BJJ, González SJ, Ortiz OV, González BE. La relaciónabuelos-nietos desde una perspectiva intercultural. Int J DevEducPsychol [Internet]. 2010 [acesso em 28 mar. 2019];2(1):669-76. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=349832325070
http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=34...
, de laços afetivos que valorizam as experiências de vida nas diferentes gerações2323 da Silva DM, Vilela ABA, Nery AA, Duarte ACS, Alves MR, Meira SS. Dinâmica das relações familiares intergeracionais na ótica de idosos residentes no Município de Jequié (Bahia), Brasil. Ciênc Saúde Colet[Internet]. 2015 [acesso 30 mar. 2019];20(7):2183-91. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232015000702183&lng=en
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
.

Várias mudanças ocorreram no arranjo das famílias. Muitas vezes, os avós acabam por se tornar responsáveis pelo cuidado dos seus netos22 Nascente RA, Zucolotto MPR. Avós cuidadoras e seus netos: uma reflexão sobre as configurações familiares. DiscipSci [Internet]. 2016 [acesso em 28 mar. 2019];16(1):27-41. Disponível em: https://periodicos.ufn.edu.br/index.php/disciplinarumCH/article/view/1838/1727
https://periodicos.ufn.edu.br/index.php/...
,2626 Cappelli TF, de Oliveira LRF. Psicoterapia psicanalítica de uma criança que está sob a guarda da avó: estudo de caso. Aletheia [Internet]. 2015 [acesso em 28 mar. 2019];(47-48):91-105. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942015000200008&lng=pt
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
. No entanto, a fala de um participante ilustra as relações familiares conflituosas:

“Dai comecei a xingar a minha vó, entendeu? E dai ela ficou meia braba comigo, e dai fui morar com a minha mãe mesmo [...]. Com o tempo fui morar com o meu vô, e daí o meu vô já não gostava que eu traficava, assaltava [...]. Dai, fiquei morando com a minha tia um tempão [...] depois voltei a morar com minha vó” (A2).

A fala de A2 revela um cenário de conflito com relações desarmônicas, o que sugere uma incompatibilidade de valores sociais e culturais entre o neto adolescente transgressor, traficante e assaltante e seus avós. Pode-se avaliar uma inflexibilidade do adolescente diante das manifestações dos avós. A escolha era a fuga, a transferência de residência, talvez pela insistência de seus avós em chamar a atenção para o viver e conviver com os delitos.

Relações de reciprocidade e convivência saudável entre adolescentes e avós

As narrativas reforçaram a ligação e o apego com a família, enaltecendo os laços e o envolvimento afetivo dos adolescentes com seus entes queridos que, apesar das dificuldades, são sempre reverenciadas e incluídas nas suas expectativas futuras. Um dos participantes relata o significado dos vínculos afetivos com pessoas queridas, inclusive como referência na busca por um comportamento diferente e o prazer da convivência esporádica:

“A minha madrinha veio me ver, eu quando olhei assim desabei, por causa tipo fazia seis meses que eu não via ela. E ai tipo, a minha vó é importante, todo mundo é importante pra mim, por causa que tipo elas fazem parte da minha vida [...]. A minha vó ela já é de idade, tenho um medo enorme que aconteça uma coisa com ela, um fato verídico uma coisa assim, então tipo as pessoas importantes para mim são como o meu tesouro, a minha fonte de energia, sabe? Tipo como Deus, Jesus, tipo assim [...]. E eu fico muito feliz, sabe? [...]. Eu vou todos os sábados, então eu convivi e convivo com velhinhos assim [...] e pretendo conviver com a minha vozinha bastante tempo ainda” (A11).

As relações entre as diferentes faixas etárias da população produzem laços de afeto, carinho, vida social e psicológica entre os envolvidos. Na fala de A11, o sentimento em relação à avó toma proporções mais amplas, onde o bem querer é intenso. Além de serem relações harmoniosas, a perspectiva de perder seu ente querido suscita medo e apreensão, pois existe qualidade nesse relacionamento, envolvimento emocional e um arranjo familiar intimamente ligado ao bem-estar em toda a extensão da vida2727 Almeida MES. A pluralidade das pessoas psíquicas na escala transgeracional. Mudanças [Internet]. 2014 [acesso em 28 mar. 2019];22(2):23-32. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/MUD/article/view/4429
https://www.metodista.br/revistas/revist...
.

Em relação à reciprocidade num ambiente familiar positivo, a fala de A9, de 18 anos, restrito de liberdade por praticar furto, expressa a sua percepção de confiança, amizade, esperança e suporte psíquico acerca dos familiares:

“As pessoas importantes pra mim, que eu considero é minha mãe, meu finado irmão, meu vô e o D., que é um amigo. Meu avô é muito tri [...] eu cheguei de dispensa [visita familiar], em casa ele chegou a chorar, chorou na minha frente, falou que não quer mais eu aqui, pediu pra eu mudar. Eu tenho medo de perder o meu vô, e tá aqui dentro [...] sempre eu que pego a cadeira do vô, vou lá e coloco a cadeira, o vô senta daí eu saio de perto dele, ou senão fico conversando com ele, mas as seis, seis horas da manhã tenho que fazer um mate pra ele” (A9).

A literatura1010 Pereira TCS, dos Reis JN, Costa LA. Autor e vítima: a vulnerabilidade social de jovens que cometeram atos infracionais em Belo Horizonte. RevTer Ocup [Internet].2015 [acesso 28 mar. 2019];26(2):258-66. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rto/article/view/74957
http://www.revistas.usp.br/rto/article/v...
,1313 Marchena JPA, García GD, Carballido GP. La abuelidade: rol relevante em sociedad que envejece. Cuba: Editorial Universo Sur; 2016.,2323 da Silva DM, Vilela ABA, Nery AA, Duarte ACS, Alves MR, Meira SS. Dinâmica das relações familiares intergeracionais na ótica de idosos residentes no Município de Jequié (Bahia), Brasil. Ciênc Saúde Colet[Internet]. 2015 [acesso 30 mar. 2019];20(7):2183-91. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232015000702183&lng=en
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
corrobora essa reciprocidade percebida em alguns casos na relação de avós que cuidam de seus netos, destacando a importância da reprodução da cultura familiar entre as gerações, mantendo o processo de envelhecimento dos avós saudável e ativo.

Em um contexto de vida familiar, acontece uma constante troca entre as diferentes realidades psíquicas de cada membro, os papeis familiares se alternam e reconstroem constantemente. A forma de convivência saudável com as pessoas faz com que vícios sejam superados e novos hábitos adquiridos e legitimados:

“Fui embora pra morar com eles (avós), aí então eu parei um pouco de viver só na farra, e coisas [...] E aí fui morar com eles, e ai eles começaram a ter mais controle comigo [...]. Daí comecei a voltar estudar e trabalhar e ai comecei trabalhando de novo, com o meu avô. Meu avô, ele era mestre de obras [...] Então, os meus familiares assim todos, todos me apoiaram bastante aqui dentro [...]. Tenho uma afinidade pela minha bisavó assim, e com meus avós também bastante afinidade” (A8).

A desestruturação familiar é um processo recorrente relatado e subjacente na vida dos adolescentes e os avós aparecem como referência para amenizar essa instabilidade, seja positiva ou negativa, porque estão presentes fisicamente e possuem experiências de vida e em grupo. Essa forma de convivência também aparece como uma possibilidade na busca pela qualidade na formação da personalidade dos jovens em conflito com a lei e um ambiente favorável de trocas e suporte de apoio mútuo.

“[...] ele (referindo-se ao avô) me ensinou um montão de coisas. Ele me ensinou...E eu ficava mais tranquilo quando eu estava com ele. Quando eu estava com ele eu ficava mais tranquilo, eu não pensava tanto nas ruas” (A10).

“Quer dizer convivia com a minha vozinha, convivo, né. Eu convivi com a minha vozinha, sabe? Que é bem velhinha, aliás ela me vê, sabe? E eu fico muito feliz, sabe? Por ela, sabe, ela vem todos os sábados, “nem que eu venha de ônibus eu vou todos os sábados”, então eu convivi e convivo, ela é muito importante para mim” (A12).

Corroborando, estudo desenvolvido no Distrito Federal que avaliou a relação entre avós e netos de acordo com as suas percepções, encontrou como resultados na categoria sentimento que os netos evidenciam as qualidades pessoais de suas avós, construindo formas diferentes de relações entre os mesmos e, na categoria significado da velhice, alguns netos mostram desconhecimento sobre o significado do termo, enquanto outros possuem em suas mentes uma imagem de como será a sua velhice2828 Oliveira ARV, Vianna LG, de Cárdenas CJ. Avosidade: visões de avós e de seus netos no período da infância. RevBrasGeriatrGerontol [Internet]. 2010 [acesso em 28 mar. 2019];13(3):461-74. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-98232010000300012&lng=en
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
.

Para Almeida2727 Almeida MES. A pluralidade das pessoas psíquicas na escala transgeracional. Mudanças [Internet]. 2014 [acesso em 28 mar. 2019];22(2):23-32. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/MUD/article/view/4429
https://www.metodista.br/revistas/revist...
, quando a vivência intergeracional acontece, estabelecem-se trocas afetivas. No cotidiano, a subjetividade da criança ou do adolescente se compõe e se manifesta, mediante sua interação do eu com as pessoas significativas de sua família sejam eles avós, pai, mãe e ou irmãos.

Neste contexto, estudo desenvolvido com 30 idosos que participam de um projeto de extensão da Universidade da Maturidade da Universidade Federal do Tocantins, dentre os quais 70% assumem a custódia legal e financeira dos netos, revelou, no expresso pelos participantes, que ter papel expandido afeta positivamente, por meio de senso de renovação pessoal e de dever cumprido, mas, também, pode afetar negativamente, pelos possíveis conflito e sobrecarga financeira2929 Osório NB, Sinésio Neto L, de Souza JM. A era dos avós contemporâneos na educação dos netos e relações familiares: um estudo de caso na Universidade da Maturidade da Universidade Federal do Tocantins. Signos [Internet]. 2018 [acesso em 28 mar. 2019];39(1):305-315. Disponível em: http://www.univates.br/revistas/index.php/signos/article/view/1837
http://www.univates.br/revistas/index.ph...
.

A fala de A8 ilustra os momentos de aproximação emocional e de interações entre avós e neto e percebe-se um sentido de transmissão de certos valores, de vínculos geracionais fortalecidos. É provável que o “controle” exercido pelos avós estabeleceu eco na conduta do adolescente, pois o estilo de exercer a avosidade causou a modificação no comportamento do neto. Assim, os avós têm um papel importante na transmissão de valores aos adolescentes55 da Rocha AA, Brasil KCTR, de Cárdenas CJ, Lara L. O lugar dos avós na configuração familiar com netos adolescentes. RevKairósGerontol [Internet]. 2012 [acesso em 28 mar. 2019];15(2):159-76. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/kairos/article/view/13111/9640
https://revistas.pucsp.br/kairos/article...
,3030 Santos AL, Teston EF, Cecílio HPM, Serafim D, Marcon SS. Grandmothers’ involvement in the care of children of adolescent mothers. REME RevMin Enferm [Internet]. 2015 [acesso em 28 mar. 2019];19(1):55-9. Disponível em: www.reme.org.br/exportar-pdf/985/v19n1a05.pdf http://dx.doi.org/10.5935/1415-2762.20150005
www.reme.org.br/exportar-pdf/985/v19n1a0...
, nas novas configurações familiares. As vivências de A8 ilustram a possibilidade que se estende para além do suporte e apoio dos avós aos netos. São laços afetivos que se constituíram e se fortaleceram, superando dificuldades situacionais e socioeconômicas e componentes importantes para uma condição de vida distanciada da vulnerabilidade social ou individual. Vínculos fortalecidos, na dimensão intergeracional, contribuem positivamente no processo de viver e envelhecer dos adolescentes. O funcionamento do contexto familiar, ao longo da vida, reflete a capacidade que os indivíduos têm de se adaptar aos desafios e limitações do ambiente social e aos eventos do ciclo de vida2828 Oliveira ARV, Vianna LG, de Cárdenas CJ. Avosidade: visões de avós e de seus netos no período da infância. RevBrasGeriatrGerontol [Internet]. 2010 [acesso em 28 mar. 2019];13(3):461-74. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-98232010000300012&lng=en
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
,3131 Rabelo DF, Neri AL. A complexidade emocional dos relacionamentos intergeracionais e a saúde mental dos idosos. Pensando Fam [Internet]. 2014 [acesso em 28 mar. 2019];18(1):138-153. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2014000100012&lng=pt&nrm=iso
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
.

Cabe destacar como limitações deste estudo, que o mesmo foi realizado com um reduzido grupo de adolescentes que partilhavam de realidades muito semelhantes, o que não permite fazer generalizações. Deste modo, considera-se pertinente avançar o estudo em outros contextos socioculturais e econômicos.

CONCLUSÃO

Os resultados da pesquisa indicaram que os participantes conceberam o papel dos avós na trajetória de suas vidas, mesmo com conflitos relacionais, como benéficos e saudáveis. Eles ocupam um espaço de convivência e referência familiar não preenchido pelos pais, como amparo, afeto e suporte nas angústias familiares e próprias da idade em processo de construção da identidade pessoal do sujeito adolescente que se desenvolve. Os idosos também são mencionados como figuras portadoras da cultura familiar transgeracional entre seus entes, gerando certa homeostase nas relações do grupo familiar.

Importante destacar o protagonismo das mulheres que, no cenário em que emerge a necessidade de assumir a custódia de seus netos, podem se encontrar em situação de também vulnerabilidade em virtude de comprometimento, principalmente, de sua saúde física e emocional.

O diálogo com os participantes demonstrou os desdobramentos do processo de envelhecimento e do aumento da longevidade, na medida em que o número de famílias com presença de idosos é crescente e significativo, sobretudo, no que se refere ao universo das relações intersubjetivas, configuradas entre os jovens e os idosos. Sob essa perspectiva, faz-se salutar compreender essas dinâmicas relacionais familiares e intergeracionais em seus próprios contextos e especificidades, bem como estudos mais profundos e com um grupo maior de sujeitos.

REFERENCES

  • 1
    Klein AL, Basilio LI, Garcia MCR. Unanálisisdel vínculo abuelosnietos-adolescentes reflexión sobre latransmisióngeneracional. Revkatálysis [Internet]. 2016 [acesso em 28 mar. 2019];19(2):251-9. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-49802016000200251&lng=en&nrm=iso
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-49802016000200251&lng=en&nrm=iso
  • 2
    Nascente RA, Zucolotto MPR. Avós cuidadoras e seus netos: uma reflexão sobre as configurações familiares. DiscipSci [Internet]. 2016 [acesso em 28 mar. 2019];16(1):27-41. Disponível em: https://periodicos.ufn.edu.br/index.php/disciplinarumCH/article/view/1838/1727
    » https://periodicos.ufn.edu.br/index.php/disciplinarumCH/article/view/1838/1727
  • 3
    Klein A. Una aproximación a las formas de relacionamientoabuelos-nietos adolescentes desde perspectivas tradicionales, no tradicionales e inéditas. PsicolRev [Internet]. 2009 [acesso em 28 mar. 2019];18(1):1-20. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/psicorevista/article/view/3311/2222
    » https://revistas.pucsp.br/psicorevista/article/view/3311/2222
  • 4
    do Prado LS, Souza FA. Voltando no tempo: o papel dos avós guardiões. RIPEConstr Ser Soc [Internet]. 2015 [acesso em 28 mar. 2019];19(35):132-53. Disponível em: ojs.ite.edu.br/index.php/css/article/download/207/246
    » ojs.ite.edu.br/index.php/css/article/download/207/246
  • 5
    da Rocha AA, Brasil KCTR, de Cárdenas CJ, Lara L. O lugar dos avós na configuração familiar com netos adolescentes. RevKairósGerontol [Internet]. 2012 [acesso em 28 mar. 2019];15(2):159-76. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/kairos/article/view/13111/9640
    » https://revistas.pucsp.br/kairos/article/view/13111/9640
  • 6
    Chalom A, Cardoso E, Barbosa RCK. Crianças e adolescentes com familiares encarcerados: levantamentos de impactos sociais, econômicos e afetivos [e-book].Galdeano, AP, org.São Paulo:CEBRAP; 2018.
  • 7
    Coelho MTBF, Dias CMSB. Avós Guardiões: uma revisão sistemática de literatura do período de 2004 a 2014. Psicol Teor Pesqui [Internet]. 2016 [acesso em 10 abr. 2019];32(4):1-7. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722016000400214&lng=en&nrm=iso
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722016000400214&lng=en&nrm=iso
  • 8
    Rodrigues A. Brasil tem cerca de 22,6 mil jovens privados de liberdade, diz CJN. Agência Brasil [Internet]. 22 nov. 2018: Seção Direitos Humanos:1-2. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2018-11/brasil-tem-cerca-de-226-mil-jovens-privados-de-liberdade-diz-cnj
    » http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2018-11/brasil-tem-cerca-de-226-mil-jovens-privados-de-liberdade-diz-cnj
  • 9
    Fonseca F, Sena RKR, dos Santos RA, Dias OV, Costa S. As vulnerabilidades na infância e adolescência e as políticas públicas brasileiras de intervenção. Rev Paul Pediatr [Internet]. 2013 [acesso em 28 mar. 2019];31(2):258-64. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-05822013000200019&lng=en. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-05822013000200019
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-05822013000200019&lng=en. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-05822013000200019
  • 10
    Pereira TCS, dos Reis JN, Costa LA. Autor e vítima: a vulnerabilidade social de jovens que cometeram atos infracionais em Belo Horizonte. RevTer Ocup [Internet].2015 [acesso 28 mar. 2019];26(2):258-66. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rto/article/view/74957
    » http://www.revistas.usp.br/rto/article/view/74957
  • 11
    Brasil. Câmara dos Deputados. Estatuto da criança e do adolescente, 1990: Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, e legislação correlata. 11. ed. Brasília, DF: Edições Câmara; 2014.
  • 12
    Cardoso AR, de Brito LMT. Ser avó na família contemporânea: que jeito é esse? PsicoUSF [Internet]. 2014 [acesso em 28 mar. 2019];19(3):433-41. Disponível em:http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-82712014000300007&script=sci_abstract&tlng=pt
    » http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-82712014000300007&script=sci_abstract&tlng=pt
  • 13
    Marchena JPA, García GD, Carballido GP. La abuelidade: rol relevante em sociedad que envejece. Cuba: Editorial Universo Sur; 2016.
  • 14
    deMoura MMD, Veras RP. Acompanhamento do envelhecimento humano em centro de convivência. Physis [Internet]. 2017 [acesso em 28 mar. 2019];27(1):19-39. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312017000100019&lng=en
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312017000100019&lng=en
  • 15
    Cabral MLL, Macuch RS. Solidariedade intergeracional: perspectivas e representações. Cinergis [Internet]. 2017 [acesso em 28 mar. 2019];18(1):59-68. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/cinergis/article/view/8393/5375
    » https://online.unisc.br/seer/index.php/cinergis/article/view/8393/5375
  • 16
    Fontanella BJB, Luchesi BM, Saidel MGB, Ricas J, Turato ER, Melo DG. Amostragem em pesquisas qualitativas: proposta de procedimentos para constatar saturação teórica. Cad Saúde Pública [Internet]. 2011 [acesso em 28 mar. 2019]; 27(2):389-94. Disponível em: www.scielo.br/pdf/csp/v27n2/20.pdf
    » www.scielo.br/pdf/csp/v27n2/20.pdf
  • 17
    Bauer Martin W, Gaskell George. Qualitative Research with Text, Image and Sound: a practical handbook. Pedrinho AG, Tradutor. 12. ed. Petrópolis: Vozes; 2014.
  • 18
    Bardin L. Análise de Conteúdo. Reto LA, Pinheiro L A, Tradutores. São Paulo: Edições 70; 2016.
  • 19
    Lins ZMB, Salomão NMR, Lins SLB, Féres-Carneiro T, Eberhardt AC. O papel dos pais e as influências externas na educação dos filhos. Rev. SPAGESP [Internet]. 2015 [acesso em 28 mar. 2019];16(1):43-59. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702015000100005&lng=pt
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702015000100005&lng=pt
  • 20
    González BJJ, González SJ, Ortiz OV, González BE. La relaciónabuelos-nietos desde una perspectiva intercultural. Int J DevEducPsychol [Internet]. 2010 [acesso em 28 mar. 2019];2(1):669-76. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=349832325070
    » http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=349832325070
  • 21
    Paixão FJD, de Morais Na. A experiência de adolescentes criados por avós. Clín Cult [Internet] 2016 [acesso em 28 mar. 2019];5(1):65-86. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/clinicaecultura/article/viewFile/5045/4896
    » https://seer.ufs.br/index.php/clinicaecultura/article/viewFile/5045/4896
  • 22
    Watson C, Bantebya GK, Muhanguzi FK. The paradox of change and continuity in social norms and practices affecting adolescent girls’ capabilities and transitions to adulthood in rural Uganda. In: Harper C, Jones N, Ghimire A, Marcus RM, Kyomuhendo G. Empowering Adolescent Girls in Developing Countries: Gender Justice and Norm Change.London: Routledge; 2018. p. 85-101.
  • 23
    da Silva DM, Vilela ABA, Nery AA, Duarte ACS, Alves MR, Meira SS. Dinâmica das relações familiares intergeracionais na ótica de idosos residentes no Município de Jequié (Bahia), Brasil. Ciênc Saúde Colet[Internet]. 2015 [acesso 30 mar. 2019];20(7):2183-91. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232015000702183&lng=en
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232015000702183&lng=en
  • 24
    Torres TL, Camargo BV, Bousfield ABS. Estereótipos sociais do idoso para diferentes grupos etários. Psicol Teor Pesqui [Internet]. 2016 [acesso em 28 mar. 2019];32(1):209-21. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722016000100209&lng=en&nrm=iso
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722016000100209&lng=en&nrm=iso
  • 25
    Calderón VAA. Intersubjective notions construccion of law, rule and justice in juveniles deprived of their liberty. Ajayu.2016;14(1):56-70.
  • 26
    Cappelli TF, de Oliveira LRF. Psicoterapia psicanalítica de uma criança que está sob a guarda da avó: estudo de caso. Aletheia [Internet]. 2015 [acesso em 28 mar. 2019];(47-48):91-105. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942015000200008&lng=pt
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942015000200008&lng=pt
  • 27
    Almeida MES. A pluralidade das pessoas psíquicas na escala transgeracional. Mudanças [Internet]. 2014 [acesso em 28 mar. 2019];22(2):23-32. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/MUD/article/view/4429
    » https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/MUD/article/view/4429
  • 28
    Oliveira ARV, Vianna LG, de Cárdenas CJ. Avosidade: visões de avós e de seus netos no período da infância. RevBrasGeriatrGerontol [Internet]. 2010 [acesso em 28 mar. 2019];13(3):461-74. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-98232010000300012&lng=en
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-98232010000300012&lng=en
  • 29
    Osório NB, Sinésio Neto L, de Souza JM. A era dos avós contemporâneos na educação dos netos e relações familiares: um estudo de caso na Universidade da Maturidade da Universidade Federal do Tocantins. Signos [Internet]. 2018 [acesso em 28 mar. 2019];39(1):305-315. Disponível em: http://www.univates.br/revistas/index.php/signos/article/view/1837
    » http://www.univates.br/revistas/index.php/signos/article/view/1837
  • 30
    Santos AL, Teston EF, Cecílio HPM, Serafim D, Marcon SS. Grandmothers’ involvement in the care of children of adolescent mothers. REME RevMin Enferm [Internet]. 2015 [acesso em 28 mar. 2019];19(1):55-9. Disponível em: www.reme.org.br/exportar-pdf/985/v19n1a05.pdf http://dx.doi.org/10.5935/1415-2762.20150005
    » www.reme.org.br/exportar-pdf/985/v19n1a05.pdf» http://dx.doi.org/10.5935/1415-2762.20150005
  • 31
    Rabelo DF, Neri AL. A complexidade emocional dos relacionamentos intergeracionais e a saúde mental dos idosos. Pensando Fam [Internet]. 2014 [acesso em 28 mar. 2019];18(1):138-153. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2014000100012&lng=pt&nrm=iso
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2014000100012&lng=pt&nrm=iso

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Ago 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    21 Nov 2018
  • Aceito
    04 Maio 2019
Universidade do Estado do Rio Janeiro Rua São Francisco Xavier, 524 - Bloco F, 20559-900 Rio de Janeiro - RJ Brasil, Tel.: (55 21) 2334-0168 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: revistabgg@gmail.com