Desfecho das intervenções em idosos classificados conforme fenótipo da fragilidade de Fried: uma revisão integrativa

Resumo

Objetivo:

Analisar as intervenções desenvolvidas com idosos classificados com base nos critérios do fenótipo da fragilidade de Fried e os desfechos obtidos.

Método:

Utilizaram-se as bases de dados PubMed, Embase, Scopus, CINAHL, e PEDro, bem como os portais SciELO, BVS e Web of Science. Procedeu-se busca manual com o intuito de identificar as intervenções implementadas em idosos acima de 60 anos de idade, capazes de modificar o escore dos critérios do fenótipo da fragilidade e demais desfechos.

Resultados:

A amostra final totalizou 14 ensaios clínicos randomizados publicados entre 2001 e 2018. As intervenções combinadas de exercício, orientação e suplementação nutricional e com ou sem treinamento cognitivo apresentaram melhores desfechos para os critérios da fragilidade e demais desfechos clínicos em idosos pré-frágeis e frágeis, residentes na comunidade e na instituição de longa permanência.

Conclusão:

A realização de intervenções combinadas sustentam a fragilidade como uma síndrome reversível e multifatorial.

Palavras-chave:
Idoso Fragilizado; Fragilidade; Nutrição; Suplementos Nutricionais; Exercício; Cognição

Abstract

Objective:

To analyze the interventions carried out with elderly persons classified according to the Fried frailty phenotype criteria and the outcomes obtained.

Method:

The PubMed, Embase, Scopus, CINAHL, PEDro, SciELO, BVS and Web of Science portals were used, and a manual search was applied to identify the interventions implemented in elderly persons aged over 60 years, which were able to modify the scores of the frailty phenotype criteria and other outcomes.

Results:

The final sample totaled 14 randomized clinical trials published between 2001 and 2018. The combined interventions of exercise, orientation and nutritional supplementation with or without cognitive training presented better outcomes for the frailty criteria and other clinical outcomes in pre-frail and frail elderly persons living in the community and in long-term care facilities.

Conclusion:

The implementation of combined interventions sustains frailty as a reversible and multifactorial syndrome.

Keywords:
Frail Elderly; Frailty; Nutrition; Dietary Supplements; Exercise; Cognition

INTRODUÇÃO

A fragilidade no idoso, como uma das síndromes geriátricas, é amplamente compreendida pelo declínio da reserva biológica, pois resulta na diminuição da resistência fisiológica a fatores estressores¹. De acordo com essa definição, a fragilidade pode ter início ou ser potencializada pela presença de sarcopenia, doenças crônicas, desnutrição, diminuição da taxa do metabolismo basal e do gasto de energia total que, por sua vez, pode estar relacionada à senescência, a alterações neuroendócrinas e imunes^1,2.

Dentre as diversas definições e métodos de avaliação da fragilidade³, destaca-se o fenótipo proposto por Fried et al.¹, extensivamente utilizado na prática clínica, em virtude da sua operacionalização⁴ de modo individual ou em combinação com outros critérios adicionais⁵. O fenótipo é composto por cinco critérios: perda de peso não intencional, exaustão autorrelatada, fraqueza-força de preensão, velocidade de marcha lenta e baixa atividade física¹. Idosos avaliados com um ou dois critérios são classificados como pré-frágeis e idosos com três ou mais critérios do fenótipo são identificados como frágeis^1,2,6.

A prevalência mundial de idosos pré-frágeis e frágeis varia de 34,6% para 50,9% e de 5,8% para 27,3%, respectivamente⁷. Na realidade brasileira, a prevalência de idosos pré-frágeis é de 51,0% e de idosos frágeis é 11,2%, na qual a velocidade da marcha e a fraqueza representam os critérios do fenótipo com maior chance para o desenvolvimento da fragilidade⁸. Essa prevalência pode ainda aumentar, pois a expectativa é que o Brasil, em 2025, ocupe o sexto lugar mundial entre os países com maior número de idosos^9,10.

Se a presença de um ou mais critérios do fenótipo da fragilidade leva a elevados custos à saúde, a identificação precoce dos critérios do fenótipo da fragilidade nos idosos pode ser clinicamente útil para os serviços de saúde e profissionais, em busca da prevenção, retardo ou reversão da fragilidade¹¹.

Evidências sugerem que as intervenções de exercício, suporte nutricional e apoio social oferecidas por equipe multiprofissional podem ser usadas para restaurar e/ou manter a independência funcional em idosos e, consequentemente, prevenir ou reverter o processo de fragilidade^3,12,13. No entanto, as recomendações sobre o desenho adequado do protocolo de intervenções para cada critério do fenótipo da fragilidade ainda não foram apresentadas.

O presente estudo teve por objetivo analisar as intervenções desenvolvidas com idosos classificados com base nos critérios do fenótipo de Fried et al.¹ e os desfechos obtidos.

MÉTODO

Trata-se de uma revisão integrativa, que propicia identificar as melhores evidências e sintetizá-las, para respaldar propostas de mudanças nas áreas de prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. Esse método de pesquisa segue as etapas de identificação do problema, busca na literatura, avaliação e análise dos dados e apresentação¹⁴.

Para a identificação do problema, definiu-se como propósito as variáveis de interesse, as quais foram: fragilidade conceituada por Fried et al.¹; idoso pré-frágil classificado pela presença de um ou dois critérios do fenótipo da fragilidade; idoso frágil pela presença de três ou mais critérios; intervenção caracteriza-se por ações que possibilitem desfechos capazes de modificar o nível da fragilidade e desfechos como resultados para os cinco critérios do fenótipo e para a fragilidade encontrados após a implementação das intervenções.

Desse modo, a questão norteadora definida foi: Quais as intervenções desenvolvidas com idosos classificados em pré-frágeis ou frágeis com base nos critérios do fenótipo da fragilidade, conforme Fried et al.¹, e quais os desfechos obtidos?

A busca de dados ocorreu em setembro de 2018, nos portais e nas bases de dados: PubMed, Embase, que compreende a Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Cumulative Índex to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Web of Science, Physiotherapy Evidence Database (PEDro), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Scopus.

Utilizou-se o descritor controlado selecionado frail elderly; e os descritores não controlados elencados para atender aos cinco critérios do fenótipo de Fried et al. (2001), definidos como: weakness; slowness; exhaustion; unitencional weight loss e low activity level. Na combinação dos descritores tais quais citados não houve ocorrências na SciELO e PEDro, assim, utilizou-se a combinação weight loss (weight loss AND frail elderly) para essas duas bases de dados.

Como a estratégia de busca deve ser definida e organizada de forma precisa, para manter a cientificidade de todos os formatos de revisão, na figura 1 apresentam-se os seis descritores utilizados nas cinco estratégias de busca realizadas nas oito bases de dados.

Figura 1
Estratégia de busca utilizando descritores controlados e não controlados, 2018.

Foram incluídos ensaios clínicos randomizados (ECR) publicados a partir da primeira definição do fenótipo da fragilidade no ano de 2001¹; que classificaram a fragilidade em indivíduos de idade igual ou maior que 60 anos por meio dos cinco critérios do fenótipo de Fried et al.¹ nos diferentes cenários; e cujo objetivo principal ou secundário do estudo abordasse a mudança do nível de fragilidade no idoso após a intervenção.

Para aumentar a confiabilidade das informações provenientes das bases de dados, realizou-se uma busca manual de artigos disponíveis, pautada nas referências das produções já coletadas.

Para assegurar a seleção das publicações e análise dos dados, com base nos critérios de inclusão e exclusão, utilizou-se um instrumento com as seguintes informações: caracterização da amostra, intervenções desenvolvidas pelos pesquisadores com a amostra, resultados ou desfechos atingidos pelo estudo, limitações e conclusões. Além das variáveis descritas anteriormente, foram coletados igualmente dados associados à caracterização da produção científica.

Esta pesquisa seguiu os preceitos da Lei nº 9.610/98, no intuito de preservar e respeitar as ideias, conceitos e definições dos autores das produções analisadas, os quais devem ser apresentados fidedignamente, descritos e citados.

RESULTADOS

Foram identificadas 6.044 publicações nas oito bases de dados e portais analisados, nas quais apenas oito publicações atendiam aos critérios de inclusão (Figura 2). A partir dessas publicações, incluíram-se seis ECRs que faziam parte das referências bibliográficas citadas pelos artigos selecionados. Assim, a amostra final da revisão integrativa (bases de dados, portais e busca manual) totalizou 14 artigos.

Figura 2
Fluxograma das etapas metodológicas da revisão integrativa, 2019.

Na perspectiva de sumarizar os artigos selecionados, apresenta-se o Quadro 1, destacando-se o objetivo e o local do estudo. Somente dois (14,3%) estudos foram desenvolvidos em uma instituição para idosos em Amsterdam (Holanda)¹⁵ e Valência (Espanha)¹⁶ e, segundo a caracterização dos artigos, 12 (85,7%) estudos desenvolveram suas atividades com idosos que residiam na comunidade^17-28. Não foi identificado estudo desenvolvido em ambiente hospitalar.

Quadro 1
Artigos segundo autor, ano, objetivo e local de estudo dos ensaios clínicos randomizados.

Autor, ano	Objetivo	Local do estudo
Buigues et al., 201616	Examinar a efetividade da formulação pré-biótica Darmocare Pre® (Bonusan Besloten Vennootschap BV, Numansdorp, Países Baixos) para a melhora da síndrome da fragilidade em idosos	Instituição para idosos de Valência (Espanha)
Cameron et al., 201317	Determinar o efeito da intervenção na redução da fragilidade e na melhora da mobilidade	Comunidade de Sydney (Austrália)
Cameron et al., 201518	Examinar o efeito de uma intervenção multifatorial, interdisciplinar em idosos frágeis em comparação com cuidados habituais	Comunidade de Sydney (Austrália)
Cesari et al., 201527	Investigar os efeitos da atividade física sobre o estado de fragilidade em uma amostra de idosos sedentários em risco de deficiência de mobilidade	Comunidade de Dallas (EUA)
Chan et al., 201219	Determinar se as intervenções propostas podem ter um impacto sobre mudanças dinâmicas dos indicadores de fragilidade	Comunidade de Taiwan (China)
Chan et al., 201720	Determinar a efetividade de dois níveis de atenção integrada na fragilidade e sarcopenia	Comunidade de Taiwan (China)
Faber et al., 200615	Determinar os efeitos de um programa de exercícios de intensidade moderada para quedas, desempenho físico e incapacidade em idosos e investigar a influência da fragilidade sobre esses efeitos	Instituição para idosos de Amsterdam (Holanda)
Fairhall et al., 201425	Avaliar o efeito de uma intervenção de fragilidade sobre fatores de risco para quedas em idosos frágeis	Comunidade de Sydney (Austrália)
Fairhall et al., 201726	Avaliar o efeito de uma intervenção multifatorial sobre a fragilidade e a mobilidade em idosos frágeis que cumprem o tratamento alocado	Comunidade de Sydney (Austrália)
Kim et al., 201528	Investigar os efeitos combinados e separados do exercício e suplementação de membrana do glóbulo de gordura do leite (MFGM) na fragilidade, função física, nível da atividade física e parâmetros hematológicos em idosas japonesas numa comunidade	Comunidade de Tokyo - Japão
Li et al., 201024	Avaliar a eficácia da avaliação geriátrica abrangente e intervenções relevantes em idosos pré-frágil e frágil na comunidade baseado nos critérios do fenótipo de Fried e no Índice de Barthel	Comunidade de Taiwan - China
Ng et al., 201522	Comparar os efeitos de intervenções de duração de seis meses com suplementação nutricional, treinamento físico, cognitivo e tratamento combinado dessas intervenções com o cuidado habitual na redução da fragilidade em idosos da comunidade	Comunidade da região sudoeste de Singapura (Ásia)
Ng et al., 201723	Investigar o efeito de intervenções no estilo de vida de múltiplos domínios entre idosos frágeis e pré-frágeis para a redução dos sintomas de depressão	Comunidade da região sudoeste de Singapura (Ásia)
Tarazona-Santabalbina et al., 201621	Verificar se um programa de exercícios multicomponentes em uma instalação supervisionada realizado por pessoas idosas frágeis pode reverter a fragilidade e melhorar a funcionalidade; redes cognitivas, emocionais e sociais; bem como biomarcadores biológicos de fragilidade, quando comparados com uma população controlada que não recebeu treinamento	Comunidade da Valência (Espanha)

No Quadro 2, destaca-se a amostra de 2.153 idosos pré-frágeis e frágeis (excluindo os estudos do mesmo projeto de pesquisa), dos quais 1.363 são do sexo feminino. A idade oscilou de 63¹⁵ a 90 anos¹⁶ com média de 77,02 (±5,19) anos.

Quadro 2
Caracterização da amostra quanto ao autor, ano, idade e seguimento dos ensaios clínicos randomizados.

Autor, ano	Amostra, % de pré, frágil e do sexo feminino	Idade [média e (desvio-padrão)]	Seguimento
Buigues et al., 201616	50, sendo 70% feminino e 100% frágeis	66-90 [73,8 (±1,6)]	13 semanas
Cameron et al., 201317	241, sendo 100% frágeis e 68% feminino	>70 [83,3 (±5,9)]	3-12 meses
Cameron et al., 201518	241, sendo 100% frágeis e 68% feminino	>70 [83,3 (±5,9)]	12 meses
Cesari et al., 201527	424, média de 1,67 (±1,1) critérios da fragilidade e 68,9% feminino	70-89 [76,8 (±4,2)]	12 meses
Chan et al.,201219	117, sendo 87% pré-frágil, 13% frágil e 59% feminino	65-79 [71,4 (±3,7)]	12 meses
Chan et al.,201720	296 idosos, sendo 53% feminino, 21% frágeis e 79% pré-frágil	>65 [71,6 (±4,3)]	6 meses
Faber et al, 200615	238, sendo 51,1% pré-frágil, 48,9% frágeis e 79% feminino	≥63 [84,9 (±6,0)]	52 semanas
Fairhall et al., 201425	241, sendo 100% frágeis e 67,63% feminino	≥70 [83,3 (±5,9)]	3-12 meses
Fairhall et al., 201726	241, sendo 100% frágeis e 67,63% feminino	≥70 [83,3 (±5,9)]	3-12 meses
Kim et al., 201528	131, sendo 100% frágeis e feminino	≥75 [80,7 (±2,8)]	3 meses
Li et al., 201024	310, sendo 47,74% feminino, 18,39% frágil e 81,61% pré-frágil	≥65 GI [78,4 (±8,2)] e GC [79,3 (±8,5)]	6 meses
Ng et al., 201522	246, sendo 51,4% feminino, 72% pré-frágil e 28% frágil	≥65 [70 (±4,7)]	12 meses
Ng et al., 201723	246, sendo 51,4% feminino, 72% pré-frágil e 28% frágil (28%)	≥65 [70 (±4,7)]	3, 6 e 12 meses
Tarazona-Santabalbina et al., 201621	100, sendo 54% femino e frágil [3,6 (±0,8)]	≥70 GI [79,3 (±3,6)] e GC [80,3 (±3,7)]	12 meses

A amostra, composta de 14 publicações entre os anos de 2006 e 2017, obteve maior prevalência a partir de 2015. Esse dado mostra que a busca por intervenções preventivas ou de tratamento da fragilidade tem tomado um espaço crescente entre as publicações da área da saúde e que, até o momento, existe um interesse evidente dos pesquisadores em identificar o potencial das intervenções frente a avaliação dos critérios do fenótipo da fragilidade.

No que concerne a estruturação dos ECR, identificaram-se intervenções que incluíam o exercício, como uma intervenção isolada sem associação com outra modalidade de intervenção¹⁵ e exercício combinado com outras intervenções, como orientação ou suplementação nutricional ou treinamento cognitivo^17-23,25-28.

A frequência das sessões de exercício variaram de uma a cinco vezes por semana²¹, durante 20 minutos no domicílio sem supervisão^19,20 a 90 minutos em grupos sob supervisão de profissionais da saúde²¹. A intensidade dos exercícios oscilou em atividades lentas e precisas, moderada¹⁵, graduada e constantemente crescente^22,28 ou progressiva²⁷.

Foram identificadas intervenções isoladas focadas no treinamento cognitivo^22,23 e nutricional, combinadas ou não a outras atividades de intervenção, com o intuito de orientar pequenos grupos^19,20,27, orientar individualmente o idoso^{17,18,21,24-26}, oferecer suplementação de vitaminas e minerais^21-23, proteica e calórica^17,18,25,26, probiótica¹⁶ e membrana do glóbulo de gordura do leite (MFGM)²⁸. A duração dessas intervenções, variou de 13 semanas¹⁶ a 12 meses^{17-19,21-23,25-27}.

As intervenções combinadas foram de exercício com terapia para solução de problemas ou psicoterapia, orientação e/ou suplementação nutricional^19,20, treinamento cognitivo^21-23,28, baseados num programa multidisciplinar e interdisciplinar supervisionado^17,18,25,26 e intervenções interdisciplinares coordenadas por geriatras²⁴.

Conforme resultados dos ECR, foi modificado um ou mais critérios do fenótipo da fragilidade (perda de peso corporal não intencional, exaustão autorrelatada, fraqueza-força de preensão, velocidade de marcha lenta e baixa atividade física) e outras variáveis que não fazem parte do fenótipo da fragilidade após a implementação das intervenções isoladas ou combinadas em idosos pré-frágeis ou não frágeis.

Dentre os estudos da amostra, cinco (35,7%) artigos resultaram na modificação do critério do fenótipo da fragilidade fraqueza-força de preensão após as intervenções^{16,19,20,22,25,26}. A modificação do critério do fenótipo da fragilidade velocidade de marcha lenta foi identificada em oito (57,1%) publicações, obtendo melhores resultados no período de 13 semanas¹⁶ e 12 meses^{17,18,21,22,25}.

O critério do fenótipo da fragilidade exaustão autorrelatada obteve modificação em três (21,43%) publicações^16,20,28. A intervenção que associou o exercício com a ingesta de suplementação de vitaminas e minerais não somente reverteu a exaustão em três meses (pós-intervenção), como também obteve maior razão de chances para reversão da fragilidade na pós-intervenção e acompanhamento²⁸ em relação aos demais grupos.

Apenas quatro (28,57%) publicações obtiveram modificação do critério perda de peso não intencional após as intervenções^19,21,22,28. Dentre as intervenções, identificaram-se as isoladas para o exercício que visam a melhora da força e equilíbrio, a ingesta via oral de suplementos de vitaminas e minerais, e o treinamento cognitivo após 12 meses. As demais intervenções associavam o exercício com orientação nutricional, terapia para solução de problemas^19,21, treinamento cognitivo²² e suplementação nutricional²⁸.

A baixa atividade física obteve modificação em cinco (35,7%) publicações, sendo que duas (14,28%) reverteram o sedentarismo com a prática de exercício no período de 12 meses²⁷ e pela ingestão de suplementação nutricional em seis e 12 meses²². As demais intervenções foram de exercício combinada com suplemento²⁸, orientações²⁰ e suplementação nutricional²¹.

A implementação de intervenções entre os idosos pré-frágeis e frágeis foi capaz de modificar outras variáveis que não fazem parte dos cinco critérios do fenótipo que classificam a fragilidade no idoso^{15-17,19,21,23-25}. A intervenção que obteve maior número de variáveis modificadas após sofrer intervenções foi a combinada de exercício, orientação e suplementação nutricional²¹.

Para melhor compreensão das intervenções que modificaram os cinco critérios do fenótipo da fragilidade e as demais variáveis, apresenta-se o Quadro 3.

Quadro 3
Critérios do fenótipo da fragilidade e demais variáveis que modificaram a fragilidade e seus desfechos após sofrer intervenções isoladas ou combinadas.

Desfechos	Intervenções	Autor, ano
Aumento da força muscular	Ex. + NuOri + TePro	Chan et al., 201219
	Ex. + NuOri + TePro + AsDo Ex. + NuOri + TePro	Chan et al., 201720
	Ex. TreCog Ex. +TreCog + NuVM	Ng et al., 201522
	ProgMu.	Fairhall et al., 201425
	Suplementação nutricional de probiótico	Buigues et al., 201616
Aumento na velocidade de marcha	Ex. + NuOri + TePro + AsDo Ex. + NuOri + TePro + Su	Chan et al., 201720
	Ex. NuVM TreCog Ex. +TreCog + NuVM	Ng et al., 201522 Ng et al., 201723
	ProgMu.	Fairhall et al., 201425 Cameron et al., 201518 Cameron et al., 201317
	Suplementação nutricional de probiótico	Buigues et al., 201616
	Ex. NuMfgm Ex. + NuMfgm	Kim et al., 201528
Aumento do peso corporal	Ex. + NuOri + TePro	Chan et al., 201219
	Ex. NuVM Treinamento cognitivo Ex. +TreCog + NuVM	Ng et al., 201522
	Ex. + NuMfgm	Kim et al., 201528
	Ex. + NuOri + NuVM	Tarazona-Santabalbina et al., 201621
	OriAGA	Li et al. 201024
Melhora na exaustão autorrelatada	Suplementação nutricional de probiótico	Buigues et al., 201616
	Ex. NuMfgm Ex. + NuMfgm	Kim et al., 201528
	Ex. + NuOri + TePro + AsDo Ex. + NuOri + TePro	Chan et al., 201720
Aumento da atividade física	Ex. + NuOri + TePro + AsDo Ex. + NuOri + TePro + Su	Chan et al., 201720
	NuVM	Ng et al., 201522
	Ex. + NuMfgm	Kim et al., 201528
	Ex. + NuOri + NuVM	Tarazona-Santabalbina et al., 201621
	Ex.	Cesari et al., 201527
Dependência nas AVD e AVDi	Ex. + NuOri + NuVM	Tarazona-Santabalbina et al., 201621
Assistência à saúde	Ex. + NuOri + NuVM	Tarazona-Santabalbina et al., 201621
Osteopenia	Ex. + NuOri + TePro	Chan et al., 201219
Vitamina D	Ex. + NuOri + TePro	Chan et al., 201219
Nível de 25-Hidroxivitamina D	Ex. + NuOri + TePro	Chan et al., 201219
Quedas	ProgMu	Fairhall et al., 201425
	Ex. + NuOri + NuVM	Tarazona-Santabalbina et al., 201621
	Exercício	Faber et al., 200615
Equilíbrio	ProgMu.	Fairhall et al., 201425
	Ex.	Faber et al., 200615
Desempenho físico	ProgMu.	Fairhall et al., 201425 Cameron et al., 201317
	Ex. + NuOri + NuVM	Tarazona-Santabalbina et al., 201621
	Ex.	Faber et al., 200615
Estado funcional	Suplementação nutricional de probiótico	Buigues et al., 201616
	Ex.	Faber et al., 200615
Qualidade do sono	Suplementação nutricional de probiótico	Buigues et al., 201616
Estado mental	Suplementação nutricional de probiótico	Buigues et al., 201616
	Ex. + NuOri + NuVM	Tarazona-Santabalbina et al., 201621
Apoio social	Ex. + NuOri + NuVM	Tarazona-Santabalbina et al., 201621
Depressão	Ex. + NuOri + NuVM	Tarazona-Santabalbina et al., 201621
	Ex. NuVM Ex. +TreCog + NuVM	Ng et al., 201723
Qualidade de vida	Ex. + NuOri + NuVM	Tarazona-Santabalbina et al., 201621
Nível de cálcio	Ex. + NuOri + NuVM	Tarazona-Santabalbina et al., 201621
Coagulação sanguínea	Ex. + NuOri + NuVM	Tarazona-Santabalbina et al., 201621
Reabilitação física	OriAGA	Li et al. 201024
Avaliação geriátrica	OriAGA	Li et al. 201024
Encaminhamentos a especialidades	OriAGA	Li et al. 201024
Polifarmácia	OriAGA	Li et al. 201024
Mobilidade	Ex.	Faber et al., 200615

• Ex.: exercício; NuOri: orientações nutricionais; TePro: terapia para solução de problemas; AsDo: assistência no domicílio; TreCog.: treinamento cognitivo; NuVM: suplemetação nutricional de vitaminas e minerais; NuMfgm: suplementação nutricional da membrana do glóbulo de gordura do leite; OriAGA: orientações baseadas na avaliação geriátrica ampla; AVD: atividade de vida diária; AVDi: atividade de vida diária instrumental; ProgMu., programa multifatorial, interdisciplinar e individual; Su.: supervisionado por profissionais.

DISCUSSÃO

A análise dos artigos possibilitou responder a questão norteadora do estudo e a partir disto, corroborar a definição da fragilidade como uma síndrome reversível. Revisões sistemáticas reforçam que a atividade física^4,29 combinada a outras intervenções podem minimizar ou retardar o aparecimento da fragilidade entre os idosos pois seus efeitos podem influenciar outras variáveis que, por sua vez, influenciam o processo de envelhecimento e potencializam os desfechos da fragilidade^11,29.

A particularidade dos ECR ao contemplar em sua amostra apenas idosos frágeis e mais da metade do sexo feminino com idade superior a 80 anos^{15-18,21,25,26,28}, oportunizam uma maior precisão e seguridade quanto a efetividade das intervenções, pois essas características inerentes da amostra potencializam consequências da fragilidade^30,31.

Entre os critérios do fenótipo da fragilidade, a exaustão autorrelatada foi o critério que menos modificou seu desfecho após sofrer intervenções. Pressupõe-se que a subjetividade para mensurar a exaustão não assegura a intervenção que melhor corresponde a modificação desse critério. A modificação da exaustão não está condicionada a aspectos cognitivos ou psicológicos, mas de profissionais que disponibilizam-se a supervisionar o idoso durante a realização de exercícios e gerenciar a ingesta alimentar do idoso oferecendo suplementação. Essa dedução é constatada quando o idoso foi encaminhado ao psiquiatra ou psicólogo para o tratamento de sintomas depressivos e exaustão, sem obter modificação para o critério exaustão autorrelatada^17,18,25,26.

A fraqueza-força de preensão, mensurada pela força de preensão palmar, apresenta melhor desfecho para as intervenções combinadas de exercício, orientação e suplementação nutricional, como constatado na literatura^5,32,33. Dois grupos de pesquisadores^19,20 obtiveram melhorias para o critério ao incluir, além do exercício e orientação nutricional, a atividade de terapia para solução de problemas. A identificação de intervenções que modificam significativamente esse critério é extremamente importante, pois, além de classificar a fragilidade, é um método preditor para a mortalidade e a invalidez³⁴.

A modificação do critério do fenótipo da fragilidade velocidade da marcha lenta, identificada em 17,84% dos idosos de uma comunidade³¹, é relevante no contexto de saúde, pois é uma medida preditiva para os diversos desfechos negativos já que está relacionada com a utilização, concomitante, de órgãos sensoriais, motores e estruturais ao percorrer quatro metros num tempo menor que 0,8 metros/segundo^31,35. A integração e funcionalidade do sistema fisiológico demandada para o aumento da velocidade de marcha no idoso tornou-se eficaz pelo acompanhamento e incentivo dos profissionais aos idosos para iniciar e continuar a atividade física no domicílio^17,18,22,25 e consumir uma ingesta calória elevada com ou sem suplementação^17,22,28.

O critério do fenótipo da fragilidade baixa atividade física apresentou melhores resultados para a intervenção combinada de exercício, orientação e suplementação nutricional²¹ em relação às demais intervenções. Essa intervenção combinada reduziu o sedentarismo, aumentou o tempo de caminhada para mais de três horas semanais, modificou o estado psicossocial, bioquímico e consequências adversas para a saúde²¹. Ou seja, a sensibilidade para a modificação da baixa atividade física e fragilidade é direta, porém, não proporcional, já que a inatividade não reverte, necessariamente, a fragilidade.

O critério do fenótipo da fragilidade perda de peso não intencional, identificado em 57,7% dos frágeis³⁶, pode ter sido desencadeada por alterações neuroendócrinas e musculoesqueléticas, desnutrição, inflamação, doenças catabólicas e diminuição da massa muscular¹. No entanto, pode-se inferir que a ausência de apoio social associada com as limitações funcionais do idoso podem ter sido a causa do baixo consumo nutricional, pois a modificação do escore para o critério perda de peso deu-se pelo preparo e fornecimento das refeições no domicílio do idoso^19,28.

Todavia, a diversidade de intervenções não pode assegurar a existência de uma ação ideal que reverterá a longo prazo o critério do fenótipo da fragilidade perda de peso não intencional, pois os desfechos apresentam diferenças em decorrência da dimensão dos efeitos. O que pode-se evidenciar é que os critérios perda de peso não intencional, fraqueza-força de preensão e baixa atividade física são suscetíveis a muitas intervenções e podem sofrer modificações para intervenções não específicas.

Embora a fragilidade tenha apenas critérios fisiológicos em seu instrumento de avaliação¹, é possível afirmar que as intervenções focadas ao idoso pré-frágil e frágil repercutem na modificação de outras variáveis que incluem os domínios social, emocional, ambiental, comportamental, cognitivo, funcional e fisiológico. Essa constatação demonstra que a fragilidade, mesmo sendo avaliada por parâmetros fisiológicos, pode sofrer a influência na modificação de outras variáveis, como equilíbrio, quedas, dependência nas atividades de vida diária e instrumental, apoio social, qualidade do sono, estado mental e qualidade de vida, as quais potencializam as consequências oriundas da fragilidade.

A quantidade expressiva de desfechos para as intervenções combinadas levam a indícios que a fragilidade é sensível a exercícios de resistência, força, equilíbrio e percepção sensorial, orientações gerais e suplementação nutricional. Além disso, o efeito das intervenções aumentou seus resultados quando as atividades propostas propiciavam a socialização em pequenos grupos de idosos. Contudo, não significa que as intervenções isoladas não apresentam desfechos benéficos ao idoso, pois ao serem comparadas com as intervenções combinadas tendem a aumentar o efeito dos desfechos, tornam-se menos efetivas e abrangentes para a saúde do idoso classificado como pré-frágil ou frágil.

Como esse estudo incluiu exclusivamente ECR que classificaram sua amostra com base no fenótipo da fragilidade de Fried et al.¹, pode-se evidenciar a ausência de viés no que se refere à inclusão apenas de idosos pré-frágeis e frágeis. Pode-se evidenciar possíveis limitações nos resultados apresentados nessa pesquisa, pois restringiu-se a algumas buscas de dados, determinados idiomas e a inclusão apenas de idosos classificados a partir do fenótipo da fragilidade de Fried et al.¹, haja vista a exclusão de referenciais que conceituam a fragilidade como uma condição clínica multidimensional. A operacionalização objetiva e explícita¹³ do fenótipo da fragilidade é válida e amplamente utilizada na evidência científica³⁷, assegurando validade preditiva para identificar os sinais, sintomas e os fatores de risco ou determinantes da fragilidade¹¹.

Embora esta revisão tenha exposto critérios de inclusão bem definidos e adotado o método de revisão integrativa, não foram identificadas intervenções desenvolvidas com idosos hospitalizados que envolvam a inclusão da família ou cuidadores de idosos pré-frágeis e frágeis durante as atividades. Conjectura-se que a aderência nas intervenções pode apresentar maior facilidade e participação na incidência de suporte familiar em qualquer contexto de saúde, o que impactaria em desfechos abrangentes e eficazes para o idoso, família e sociedade.

CONCLUSÃO

Os resultados desta revisão corroboram a fragilidade como uma síndrome reversível, pois o desfecho das intervenções são efetivas para a modificação dos critérios do fenótipo de Fried et al.¹ e, consequentemente, para a redução dos níves de fragilidade entre os idosos. Contudo, replicar as intervenções que trouxeram benefícios aos idosos pode demandar adaptações ou adequações, visto que o contexto brasileiro apresenta outra estrutura de política, saúde e de profissionais disponibilizados para o cuidado dos idosos.

A modificação de outras variáveis, além dos critérios do fenótipo após as intervenções, reforça que a fragilidade é multifatorial e, por vezes, pode ser fator de risco ou consequência para outras complicações de saúde. Acredita-se que a modificação dessas outras variáveis outorgará um olhar ampliado sobre os idosos aspirando não somente à fragilidade, mas ainda ao processo biopsicossocial do envelhecimento.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  26 Set 2019
• Data do Fascículo
  2019

Histórico

• Recebido
  23 Jan 2019
• Aceito
  24 Jul 2019