Preparação para aposentadoria de docentes universitários: revisão integrativa

Resumo

Objetivo

analisar as evidências disponíveis na literatura relacionadas à preparação para aposentadoria de docentes universitários.

Método

revisão integrativa realizada nas bases de dados LILACS, Web of Science, PSYCNET, PubMed e busca manual, a partir das palavras-chave “aposentadoria” e “docente”. Foram recuperados treze estudos e analisados pela hierarquia de evidência no primeiro semestre de 2019.

Resultados

os estudos contemplam questões complexas e estão relacionadas à situação de saúde pessoal; relações familiares; aspectos financeiros e questões organizacionais e institucionais. Destacaram-se o investir em políticas institucionais para planejamento efetivo da aposentadoria, considerando as relações laborais, insatisfações e o reconhecimento do exercício no ensino e na pesquisa, assim como, atentar-se aos sentimentos de exaustão emocional, fadiga ou desgastes decorrentes das cargas de trabalho.

Conclusão

a aposentadoria é um evento subjetivo. A decisão por aposentadoria está relacionada ao planejamento implícito de se manter ativo, seja no ambiente laboral ou na pós-aposentadoria. Portanto, a preparação para a retirada do ambiente laboral pode promover e favorecer uma transição flexível e progressiva, com qualidade e saúde.

Palavras-Chave:
Aposentadoria; Docentes; Instituições de Ensino Superior; Saúde do trabalhador

Abstract

Objective

to analyze the evidence available in the literature related to the retirement planning of college professors.

Method

an integrative review carried out in the LILACS, Web of Science, PSYCNET, PubMed databases, as well as manual search using the keywords “retirement” and “professor”. Thirteen studies were retrieved and analyzed by the evidence hierarchy in the first half of 2019.

Results

the studies address complex issues and are related to personal health, family ties, financial aspects, and organizational and institutional issues. Investing in institutional policies for effective retirement planning stood out, considering labor relations, dissatisfaction, and acknowledgment of the teaching and research work, as well as paying attention to feelings of emotional exhaustion, fatigue, or distress resulting from work.

Conclusion

retirement is a subjective event. The decision to retire is related to the implicit planning to remain active either in the workplace or in the post-retirement period. Therefore, preparing to leave the work environment can promote and favor a flexible and progressive transition with quality and health.

Keywords
Retirement; Faculty; Higher Education Institutions; Occupational Health

INTRODUÇÃO

A aposentadoria ocorre na vida de todos os trabalhadores e pode ser considerada um evento libertador ou de reclusão, ao despertar sentimentos de incertezas diante do afastamento do mundo do trabalho. Esse processo tem potencial de iniciar até quinze anos antes da situação final de aposentado e, por ser um período longo, divide-se em pré e pós-aposentadoria¹,².

A pré-aposentadoria corresponde às percepções, às atitudes, à tomada de decisão e ao planejamento de um futuro próximo¹,². Destacam-se nesse período sentimentos de (in)decisões, anseios e desejos acerca da expectativa do que será vivenciado, associado a crenças e percepções que influenciam sobre o evento da retirada efetiva do ambiente laboral³.

A pós-aposentadoria é compreendida como um momento de adaptação e satisfação à nova condição de vida¹,². O bem-estar e as realizações com o aposentar-se decorrem do esforço ativo que o trabalhador realizou ao longo do processo de pré-aposentadoria. No entanto, podem ocorrer sentimentos de frustrações, instabilidades físicas e emocionais, adoecimento, sentimento de ambivalência⁴-⁶ e até perda do sentido da vida com manifestação de comportamento suicida⁷.

Nesse cenário iminente de aposentadoria, as ações preparatórias tornam-se relevantes para que o trabalhador reconheça as necessidades pessoais e de mudança de comportamento, acreditando na sua capacidade de influenciar o modelo adotado de passagem do trabalho para aposentadoria⁸,⁹. Nessa perspectiva, destaca-se a preparação para aposentadoria de docentes universitários, a qual necessita ser contextualizada e (re)avaliada pelas particularidades que a profissão apresenta⁹-¹¹.

A função docente, no contexto laboral, envolve o conhecimento intelectual e o amadurecimento diante dos anos de experiência no ensino, pesquisa e extensão, além da conquista de plenitude da produção teórica imaterial¹². Analisando as subjetividades e singularidades decorrentes da profissão, o rompimento do mundo do trabalho para aposentadoria pode provocar sentimentos de exclusão, perda das fontes principais de valorização e de identidade desses trabalhadores⁸-¹⁰, assim como pode ser doloroso para o indivíduo¹¹.

Apesar da literatura científica abordar gradativamente¹-⁶ a temática da aposentadoria, os estudos ainda são incipientes e voltam-se à descrição de sentimentos e frustrações de trabalhadores para esse evento. Considerando a aposentadoria iminente, reafirma-se a necessidade de formulação de estratégias, planos e políticas de preparação no desígnio de promover a saúde desse trabalhador docente, assim, evidencia-se a relevância do papel dos enfermeiros na orientação e planejamento da aposentadoria¹³.

A partir de questionamentos: “como (re)conhecer a motivação de docentes a trabalhar por tempo superior ao estimado de aposentadoria? Qual a contribuição para qualidade no aumento da expectativa de vida e (re)avaliação do contexto de escassez de docentes em vários países? De que forma as Instituições de Ensino Superior preparam seu corpo docente para esse evento?”, o enfermeiro pode compreender como o trabalhador vivencia esse fenômeno e assim, realizar as interações necessárias para estabelecer uma relação de co-participação ativa com a elaboração de metas que facilitem o desligamento saudável do trabalho¹³.

Além disso, considera-se relevante que a sociedade obtenha insights sobre as causas e motivações da aposentadoria entre docentes universitários e os fatores atenuantes de um processo de retirada sem preparação efetiva. Portanto, objetiva-se neste estudo analisar as evidências disponíveis na literatura relacionadas à preparação para aposentadoria de docentes universitários.

MÉTODO

Trata-se de uma revisão integrativa, desenvolvida a partir de seis etapas: definição da questão pesquisa a partir do problema; busca na literatura; aplicação dos critérios de inclusão; avaliação dos estudos; análise dos dados; e síntese do conhecimento com a apresentação da revisão¹⁴. Seguiram-se as recomendações do guia Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis (PRISMA) para auxiliar na redação do estudo¹⁵.

A busca foi desenvolvida nos meses de junho e julho de 2019, a partir da questão norteadora quais as evidências disponíveis na literatura relacionadas à preparação para aposentadoria de docentes universitários? Para construção dessa questão, empregou-se a estratégia PICo¹⁵, de forma que a letra P corresponde à população (docentes), I de interesse (preparação para a aposentadoria) e o Co de contexto (Instituições de Ensino Superior).

Para a busca dos estudos, selecionaram-se as bases de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Web of Science, PsycNet, PubMed e busca manual no Recurso Eletrônico Google Acadêmico. Utilizaram-se os descritores controlados do Medical Subject Headings (MeSH) e Descritores em Ciências da Saúde (DEcS) “aposentadoria”, “docente” e “professor universitário”, combinados do operador booleano AND e OR, conforme estratégia de busca sistematizada no Quadro 1.

Quadro 1
Estratégias de busca para recuperação das produções.

Busca	Estratégia
LILACS	"APOSENTADORIA" [Palavras] AND ("PROFESSOR UNIVERSITARIO") OR "DOCENTE"
Web of Science	TÓPICO: (Retirement) AND TÓPICO: (teacher) AND TÓPICO: (university)
PSYCNET	Retirement AND Any Field: teacher AND Any Field: university
PubMed	(faculty [Title_Abstract] OR university professors_[Title_Abstract])
Busca manual no Google Acadêmico	“Preparação para aposentadoria de docentes”

Definiram-se como critério de inclusão ser artigo primário abordando aspectos relacionados à preparação para aposentadoria docente, além de estar disponível na íntegra online, com acesso aberto gratuito, publicados em português, inglês e espanhol, sem delimitação de recorte temporal. Para aqueles artigos que não foram encontrados integralmente na base de dados, esgotaram-se todas as estratégias de busca mediante contato com os próprios autores e com as instituições de origem do estudo. Os artigos que não responderam à questão de pesquisa foram excluídos e os duplicados foram considerados apenas uma vez.

A extração dos dados foi desenvolvida por dois autores da revisão de forma duplo independente e, para minimizar possíveis erros de interpretação, busca, avaliação e análise dos artigos diante das dúvidas que podem decorrer do processo de revisão, consultou-se um terceiro autor para resolvê-las. Mantiveram-se as nomenclaturas relativas ao tipo de estudo indicado pelos autores.

A partir disso, foram recuperados 178 estudos. Após a leitura do título e resumo, 59 publicações foram excluídas por não responderem à questão pesquisa. Posteriormente, realizou-se a leitura na íntegra dos artigos e aplicação dos critérios de seleção, nos quais foram excluídas 106 publicações, resultando na composição de 13 estudos primários para o corpus desta revisão integrativa, conforme Figura 1.

Figura 1
Fluxograma desenvolvido para o estudo, adaptação de PRISMA.

Na fase de análise, para extração das informações dos estudos, elaborou-se um quadro-síntese com as características dos estudos primários incluídos, quais sejam: título do artigo, autor(es), ano de publicação, periódico, objetivo (s), tipo de estudo, principais resultados e conclusões. Ressalta-se que foram respeitados os preceitos da Lei nº 9.610/1998 que regula os direitos autorais¹⁶.

Cada estudo foi classificado em relação ao nível de evidência. O método utilizado para classificação da força de evidência de estudos primários corresponde a hierarquia de evidências associadas a níveis de força: Intervenção/Tratamento ou Diagnóstico/Teste diagnóstico; Prognóstico/ Predição e Significado. O estudo identificou apenas questões clínicas sobre Significado, cuja força da evidência é classificada em cinco níveis: I) Metassíntese de estudos qualitativos, II) Um estudo qualitativo, III) Síntese de estudos descritivos, IV) Apenas um estudo descritivo, e V) Opinião de especialistas¹⁷.

RESULTADOS

Os achados do estudo apontam que os artigos primários, em relação ao nível de evidência da questão clínica sobre Significado, são 38,4% predominantes do nível II¹⁸-²², 7,7% do nível III²³ e 53,8% do nível IV²⁴-³⁰. O Quadro 2 sistematiza a seleção dos estudos incluídos e destaca a referência e ano de publicação, objetivos, principais resultados, evidência e o nível de evidência da questão clínica sobre Significado.

Quadro 2
Descrição dos estudos selecionados na revisão integrativa

Referência/ Ano	Objetivos	Resultados	Evidência	Nível de evidência
Dorfman18 1984	Investigar as reações à aposentadoria de professores de faculdades de artes liberais e uma universidade abrangente	Auxílio específico aos docentes para esta fase; apoio na continuidade do trabalho laboral; proposições para aposentadoria gradual	Bem-estar pessoal; Políticas organizacionais e institucionais	II
Ricardo, et al.19 1999	Promover um repensar sobre essa fase da vida e de preparar para o processo de aposentadoria	Políticas institucionais de planejamento para aposentadoria; apoio na continuidade do trabalho laboral; programas de aposentadoria; proposições para aposentadoria gradual	Bem-estar pessoal; Políticas organizacionais e institucionais
Debetir20 2011	Avaliar a contribuição do programa de orientação para aposentadoria desenvolvido na Universidade Federal de Santa Catarina para uma vivência positiva desta fase da vida	Emoções e sentimentos dos docentes; motivação; reflexão; mudanças como atitude positiva	Bem-estar pessoal
Bressan, et al.21 2013	Conhecer as percepções dos servidores públicos federais sobre o bem-estar na aposentadoria e como estavam se preparando para esta transição	Bem-estar do aposentando; atuação da família na preparação da aposentadoria	Bem-estar pessoal; Relações familiares
Machado, Lucas22 2017	Desvelar a influência das relações familiares e laborais na tomada de decisão da aposentadoria	Preparação como evento positivo para aqueles que apresentam condições de saúde estável; atividades culturais e de lazer; atuação familiar	Bem-estar pessoal; Relações familiares
Villardón-Gallego, Moro, Atxurra23 2017	Analisar as condições, emoções e sentimentos associados ao momento da aposentadoria do corpo docente da universidade	Relações laborais dentro da instituição; insatisfação com a carga de trabalho e desempenho de funções administrativas; ausência de reconhecimento, como a falta de prestígio; ausência de plano de gerenciamento nos recursos humanos das instituições	Bem-estar pessoal; Políticas organizacionais e institucionais	III
Dorfman24 1980	Analisar o conhecimento do corpo docente em relação ao sistema de aposentadoria	Perdas financeiras; necessidade de planejamento financeiro	Aspecto financeiro; Políticas organizacionais e institucionais	IV
Jones25 1992	Conhecer os programas de benefícios de aposentadoria para os docentes de medicina e de programas de incentivo para aposentadoria estão sendo usados	Necessidade de implementação de programas para aposentadoria; condições financeiras favoráveis	Aspecto financeiro; Políticas organizacionais e institucionais
Ghent, Allen, Clark26 2001	Fornecer resultados preliminares dos efeitos do início de um programa de aposentadoria elaborado em fases sobre as decisões de aposentadoria do corpo docente	Planos e estratégias de implementação de planejamento para a aposentadoria; programas para redução de cargas de trabalho; influência no desempenho laboral; aumentos salariais	Bem-estar pessoal; Aspecto financeiro; Políticas organizacionais e institucionais
Allen, Clark, Ghent27 2003	Examinar a experiência do sistema de aposentadoria em fases para docentes do sistema da Universidade da Carolina do Norte	Participação em programas para aposentadoria; aumento no desempenho laboral; incentivos financeiros	Bem-estar pessoal; Aspecto financeiro; Políticas organizacionais e institucionais
Latif, Alkhateeb28 2012	Descrever os planos de aposentadoria e as percepções dos membros do corpo docente e examinar os fatores, percepções ou condições que podem influenciar a decisão de aposentadoria	Atuação da família na preparação da aposentadoria; combate ao desgaste na carreira docente; transição com qualidade de vida	Bem-estar pessoal; Relações familiares
Dodds, Cruz, Israel29 2013	Identificar percepções e ideias comuns sobre a preparação e o planejamento para a aposentadoria de departamentos acadêmicos de oftalmologia	Exaustão emocional; falta de incentivo; insegurança financeira; inexistência de geração de renda familiar; necessidade de atuação da família	Bem-estar pessoal; Relações familiares; Aspecto financeiro; Políticas organizacionais e institucionais
Van Droogenbroec, Spruyt30 2014	Examinar os determinantes da aposentadoria antecipada entre os professores seniores de trabalho e reformados entre os 45 e os 65 anos na Flandres, Bélgica	Sentimentos de exaustão emocional, fadiga ou desgastes; alta carga de trabalho; insatisfação com atividade não relacionada ao ensino	Bem-estar pessoal; Políticas organizacionais e institucionais

Esses estudos foram publicados em 1980²⁴, 1984¹⁸, 1992²⁵, 1999¹⁹, 2001²⁶, 2003²⁷, 2011²⁰, 2012²⁸, 2013²¹,²⁹, 2014³⁰, 2017²²,²³. Quanto ao país de origem, evidenciou-se que 46,1% dos estudos foram provenientes dos Estados Unidos da América (EUA)¹⁸,²⁴-²⁷,²⁹, 30,8% eram do Brasil¹⁹-²², além de uma pesquisa na Bélgica³⁰, na Espanha²³ e outra abrangendo o Canadá e Reino Unido²⁸.

Em relação aos participantes, 53,8% dos estudos envolveram todos os docentes da instituição de ensino¹⁸,²²-²⁴,²⁶,²⁷,²⁹, 15,4% corresponderam ao corpo docente do curso de Medicina²⁵,²⁹ e técnico-administrativos²⁰,²¹, 7,8% dos estudos integram o corpo docente do curso de Farmácia²⁸ e os professores seniores³⁰. O delineamento metodológico quantitativo foi adotado em 53,8% das produções²³-²⁷,²⁹,³⁰, o qualitativo em 38,4%¹⁸-²² e um estudo realizou abordagem quantitativa e qualitativa²⁸. Entre os estudos quantitativos, um caracterizou-se como transversal²⁹. Nos demais 46,1% não houve especificação. Nos estudos qualitativos, foi realizado um estudo de caso¹⁸, um exploratório²⁰, um descritivo²² e dois¹⁹,²¹ não especificaram a abordagem.

Os periódicos elegidos pelos autores para publicação das pesquisas foram a Research in Higher Education ¹⁸,²⁴, Research on Aging ²⁶,³⁰, Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia²¹,²²; os demais foram a Academic Medicine ²⁵; American Journal of Pharmaceutical Education ²⁸; Industrial and Labor Relations Review ²⁷; Revista InterAÇÃO¹⁹; Ophthalmology²⁹; ReCaPe – Revista de Carreiras e Pessoas²⁰ e Revista Eletrônica Interuniversitária de Formação de Professores²³.

DISCUSSÃO

Os achados do estudo apontam que a produção científica sobre aposentadoria foi sendo gradativamente desenvolvida a partir da década de 1980. Apesar de serem discutidos, majoritariamente, aspectos que envolvem todos os docentes de uma instituição, os estudos apresentam discussões específicas para a área do saber da Medicina e Farmácia e para docentes Técnicos Administrativos e Seniores. Apesar de serem conduzidos a partir de delineamentos quantitativos, os resultados das pesquisas contemplaram as questões complexas e subjetivas que envolvem a aposentadoria e foram publicados em periódicos que abordam o processo de envelhecimento humano.

Constatou-se níveis de evidência da questão clínica sobre Significado que decorrem dos estudos qualitativos¹⁸-²², classificados como nível II. Esses inferem a necessidade de políticas institucionais para um planejamento para aposentadoria mais efetivo¹⁹, com auxílio específico aos docentes para essa fase, maior quantitativo de informações sobre a aposentadoria, apoio na continuidade do trabalho laboral e proposições para aposentadoria gradual¹⁸,¹⁹.

A preparação para aposentadoria é concebida como um evento positivo para aqueles docentes que apresentam condições de saúde estável, envolvendo-se em maiores atividades culturais, lazer e, principalmente, tempo para desfrutar do convívio familiar²²,³¹. Acentuando o sentimento de “bem-estar do aposentando” quando associado à atuação da família, o que evidencia a necessidade de envolvê-la nos aspectos preparatórios desses servidores universitários²¹,²².

Considerada como um momento de transição, a preparação para a aposentadoria envolve a sensibilização, instrumentalização e estratégias para (re)significar tal momento. Os resultados apontam a importância do desenvolvimento de programas institucionais que oferecem possibilidades para a promoção da qualidade de vida e crescimento pessoal, ao invés de algo imediato¹⁹. Tais ações podem contribuir nas expressões de emoções e sentimentos dos docentes em fase de pré-aposentadoria como motivador de reflexão e de mudanças em atitudes positivas²⁰.

A evidência de nível III, advinda da síntese de estudos descritivos²³ apresentam que as relações laborais dentro da instituição, insatisfação com a carga de trabalho relacionada às funções administrativas, ausência de reconhecimento do exercício no ensino e na pesquisa durante anos e a falta de prestígio, influenciam diretamente na preparação para aposentadoria²³.

Dessa forma, infere-se a relevância de proposições para implementação de um plano de gerenciamento de recursos humanos para as instituições, a fim de aproveitar o alto potencial dos docentes que, muitas vezes, são desvalorizados com a retirada efetiva do ambiente laboral²³. As experiências do programa denominado “Emeritus colleges” desenvolvido nos EUA corrobora com essas proposições, uma vez que, no desígnio de ofertar relacionamento contínuo aos docentes pesquisadores, foram implementadas atividades flexíveis durante a preparação para aposentadoria de forma gradual, a qual possibilitou a redução das cargas de trabalho, insatisfações e frustrações que poderiam decorrer desse processo²³,³².

Independentemente das proposições elegidas pelas Instituições de Ensino para administrar essa fase de pré-aposentadoria de seus trabalhadores, estas devem estar empenhadas em apoiar os docentes antes das mudanças decorrentes da aposentadoria, com vistas a favorecer uma transição flexível e progressiva. Por conseguinte, as estratégias preparatórias para a aposentadoria devem ir ao encontro das necessidades dos docentes, dirimindo a possibilidade de um processo traumático pessoal que afete os discentes e, dessa forma, possa beneficiar a universidade pela manutenção de qualidade no ensino²³.

A participação do trabalhador em um programa de preparação para a aposentadoria, com objetivos e intervenções coerentes com as necessidades dos trabalhadores constitui uma ferramenta para o alcance de resultados positivos, por conseguinte, melhorias nas expectativas e conhecimentos acerca desse processo de concretização da aposentadoria¹³.

Nesse sentido destaca-se o papel fundamental dos enfermeiros no estímulo e orientação nesse programa de preparação, através do auxílio no estabelecimento de metas, gerenciamento de sentimentos experienciados, sejam eles no cuidado a saúde física, emocional e cognitiva, com inserção em atividades sociais, planejamento financeiro e relações interpessoais¹³.

As evidências de nível IV resultantes de estudos descritivos²⁴-³⁰ sinalizam que a aposentadoria envolve sentimentos de exaustão emocional, fadiga ou desgastes decorrentes das cargas de trabalho²⁹,³⁰. Essas decorrem das possíveis perdas de incentivo ao trabalho, insegurança do status financeiro, (in)existência de um parceiro para geração de renda familiar, assim como, aspectos que envolvem o clima de trabalho e a própria ausência de pressão para aposentar-se²⁹,³³.

Tais aspectos atingem, principalmente, os docentes em fase de pré-aposentadoria mais jovens, contrapondo-se os mais idosos, que buscam adiar o momento da aposentadoria para manterem-se ativos²⁹. Aponta-se como influência nas decisões de preparação do corpo docente o apoio institucional fundamental na neutralização de qualquer mal-estar que possa ser provocado na fase de pré-aposentadoria³⁴.

Evidencia-se que as angústias e dúvidas podem ser amenizadas com a inserção da família na fase de pré-aposentadoria²¹,²⁸,²⁹,³². Ademais, implica-se refletir em como as Instituições de Ensino Superior são organizadas, e quais são as prerrogativas de planos e estratégias de implementação de planejamento para a aposentadoria oferecido ao corpo docente para favorecer o momento de transição do trabalho para aposentadoria²⁵-²⁷.

A experiência do programa denominado “Emeritus colleges” das Instituições integrantes do estudo realizado nos EUA, o qual oportuniza relacionamento contínuo com os docentes pesquisadores, oferta atividades flexíveis durante a preparação para aposentadoria de forma gradual, possibilitando a redução das cargas de trabalho²³,³⁵ e discussões acerca da insatisfação com atividade não relacionada ao ensino (funções administrativas) com vistas a proposições e deliberação de soluções²³,³⁰.

Essas também são evidenciadas em Instituições da Carolina do Norte, nos EUA, em que se oportunizou o programa de aposentadoria em fases e permitiu aos docentes mais idosos trabalharem em período parcial e receber de igual forma os benefícios da aposentadoria completos²³. Os achados apontam que existe uma considerável relação do docente que adere a aposentadoria em fases ao desempenho laboral, influenciado inclusive, por aumentos salariais²⁶,²⁷.

É possível perceber que um modelo contemporâneo relacionado à saúde deste idoso que ainda se encontra no ambiente laboral, a necessidade de associar ações de promoção da saúde, prevenção de doenças evitáveis, cuidado precoce, reabilitação de agravos e educação. Isto significa, uma linha de cuidado integral com base nas necessidades dos trabalhadores, com protagonismo do profissional de saúde que poderá intermediar em ações e atitudes de cuidado³⁶.

As evidências sugerem que reagir ao desgaste na carreira docente parece fundamental para evitar uma retirada abrupta do contexto de trabalho de período integral, na compreensão de uma transição ativa desejável e com qualidade do cotidiano laboral²⁶,²⁸. Apesar de ser observada a presença de uma cultura imediatista e de ausência de preparação, essas podem resultar em redução da qualidade de transição do trabalho para aposentadoria e diminuição da evolução pessoal na fase de pós-aposentadoria na vida cotidiana do trabalhador.

A transição para aposentadoria influencia diretamente a adoção de um trabalho após a aposentadoria (bridge emproyment), além do adiamento da aposentadoria ou permanência na instituição³⁷. As informações relacionadas à preparação para aposentadoria, enfatizam constantemente a relevância, principalmente, do planejamento financeiro que deveria ser feito no início da carreira docente, não interferindo na aposentadoria desse trabalhador²⁴.

Constata-se que cada trabalhador vivencia de diferentes formas a interrupção das atividades laborais. O rompimento com o trabalho, pode despertar ansiedade, crises de identidade, sentimentos ambivalentes e confusos, alternâncias de humor e doenças psicossomáticas. Logo, programas de preparação para aposentadoria tendem a colaborar nesse processo, desde que o trabalhador integre e se prepare ainda durante o exercício da função. Os programas de preparação para aposentadoria podem configurar-se como referência para os trabalhadores que estão próximos de se aposentar, auxiliando na construção de projetos de vida após o trabalho³⁸.

Nesse sentido, programas de planejamento para aposentadoria foram considerados fundamentais para expandir o nível de compreensão do corpo docente sobre os benefícios e perdas financeiras, uma vez que pode haver dúvidas sobre o sistema de aposentadoria individual e/ou sobre a seguridade social²⁴,²⁵. A participação em programas de preparação para aposentadoria, no entanto, não está condicionada a uma preparação ativa, mas contribui como eixo motivador de reflexões e mudanças atitudinais iniciais, consideradas pelas evidências dos estudos como positivas e geradoras de bem-estar²⁷-²⁹.

Para contemplar a transição da aposentadoria de forma efetiva, evidencia-se a responsabilidade dos órgãos competentes pela saúde do trabalhador, bem como, os profissionais de saúde, fundamentais para (re)conhecer os aspectos que estão diretamente ligados à preparação para aposentadoria de servidores docentes. Nesse contexto, destaca-se o enfermeiro e o cuidado de Enfermagem o qual permite desenvolver, ações e estratégias de planejamento que atendam os interesses dos docentes em pré-aposentadoria, bem como os institucionais, associado a manutenção deste trabalhador na instituição de ensino e na (re)organização dos programas de preparação para aposentadoria³⁹.

Aponta-se como limitação deste estudo a ausência de indexação nas bases de alguns periódicos que abordam a temática, e de descritores controlados em publicações correspondentes aos elegidos para esta revisão. Infere-se que a inclusão de outras bases e descritores controlados podem abarcar um maior número de publicações, além de considerar a retomada das evidências sobre a preparação para aposentadoria dos estudos divulgados no meio científico. Por fim, considera-se que estudos como este, podem fornecer subsídios para as instituições na implementação e adequações em seus sistemas de preparação para aposentadoria do seu corpo docente.

CONCLUSÃO

As evidências deste estudo apontam que a aposentadoria se configura como um evento de concepções singulares e de ordem subjetivas. Independentemente das razões associadas à decisão de se aposentar, o planejamento implícito consiste no desejo de se manter ativo, seja no ambiente laboral ou na pós-aposentadoria. No entanto, tais ações preparatórias tornam-se fonte de estresse, angústias e preocupações de ordem identitária-cultural, familiar, social, financeira e institucional-organizacional ao realizar a transição do contexto de trabalho para um futuro, muitas vezes, incerto.

O estudo possibilitou (re)conhecer as nuances que envolvem a fase de preparação para aposentadoria de docentes universitários que emergem das experiências do cenário nacional e estrangeiro divulgadas no meio científico. Esse conhecimento pode fornecer subsídios aos docentes e às instituições na tomada de decisão ao gerirem o processo de pré-aposentadoria.

Compreende-se que um plano de preparação para aposentadoria pode minimizar o estresse e gerar sentimentos de confiança sobre os anos seguintes da aposentadoria. Infere-se a necessidade de desenvolver estudos que implementem e avaliem a utilização de diferentes estratégias, como programas integrados e adaptados a cada Instituição de Ensino correspondendo às necessidades de seus trabalhadores docentes.

Além disso, acredita-se que é possível vivenciar essa transição de forma efetiva e com saúde, desde que todos os envolvidos ressignifiquem sua responsabilidade nesse cenário da aposentadoria de docentes. Dessa forma, sugere-se que a legislação de saúde do trabalhador e idoso seja mais efetiva; que as Instituições de Ensino implementem e revisitem seu programa de preparação para aposentadoria; profissionais de saúde, especificamente os enfermeiros, estejam mais engajados em garantir o cuidado a esses trabalhadores subsidiando o cuidado nos princípios da geriatria e gerontologia; e, por fim, que os docentes reconheçam a relevância que a preparação para o afastamento das atividades laborais na Instituição de Ensino pode impactar na sua qualidade de vida.

• Financiamento: Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

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Editado por

Editado por: Ana Carolina Lima Cavaletti

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  11 Jun 2021
• Data do Fascículo
  2021

Histórico

• Recebido
  22 Set 2020
• Aceito
  16 Abr 2021