A emergência da pandemia covid-19 trouxe desafios que têm impactado a assistência direta às pessoas em todos os níveis de atenção à saúde. Entre estes desafios, está a ressignificação do cuidado às pessoas idosas. O desenvolvimento da capacidade para o autocuidado tem emergido como fundamental nestes tempos de pandemia.
No processo de envelhecimento, o autocuidado pode ser caracterizado pelas ações que as pessoas desempenham no seu dia a dia para prevenir, controlar ou reduzir o impacto de condições crônicas sobre sua própria saúde11 Caldas CP, Lindolpho MC. Promoção do autocuidado na velhice. In: Freitas EV, Py L. Tratado de geriatria e gerontologia. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017. p. 2844-56.. Já as intervenções da equipe de saúde para auxiliar as pessoas a qualificarem esse processo caracterizam o Autocuidado Apoiado22 Cavalcanti AM, organizador. Autocuidado apoiado: caderno de exercícios. Curitiba: Secretaria Municipal da Saúde; 2012. p. 21..
A capacidade de entender as ações necessárias para manter a saúde e a capacidade de persistir com o comportamento saudável são aspectos que influenciam no comportamento de saúde. Durante a pandemia, aprendemos que programas que visem à atenção e à promoção da saúde do indivíduo idoso devem oferecer sistemas de apoio ao autocuidado que incluam ações educativas e de reabilitação, para que mesmo a pessoa idosa com algum grau de dependência possa ter a oportunidade de fortalecer a capacidade funcional intrínseca33 Caldas CP, Silva BMC. Ressignificação do cuidado de enfermagem ao idoso no mundo pós-pandemia Covid-19. In: Santana RF, Org. Enfermagem gerontológica no cuidado do idoso em tempos da COVID 19 [Internet]. Brasília, DF: ABen; 2021. p. 151-7. (Série Enfermagem e Pandemias, 5). Disponível em: https://doi.org/10.51234/aben.21.e05.c22
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. Os programas que visam à promoção da capacidade intrínseca devem fortalecer o autoconceito, a autoeficácia e o controle desses indivíduos sobre a própria vida. Além disso, tais programas devem promover bons relacionamentos familiares e apoio social.
Para uma vida independente na velhice são necessários recursos materiais e serviços de apoio social. Gabardo-Martins et al.44 Gabardo-Martins LMD, Ferreira MC, Valentini F. Propriedades psicométricas da escala multidimensional de suporte social percebido. Trends Psychol [Internet]. 2017;25(4):1873-83. Disponível em: http://doi.org/doi.org/10.9788/tp2017.4-18pt apontam que uma das dimensões mais importantes do apoio social é o acesso à informação, para que as pessoas sejam capazes de resolver seus problemas de forma autônoma. Por outro lado, é preciso que o indivíduo idoso possua capacidade de dar e receber afeto, de desenvolver empatia e de confiar em outras pessoas. Assim, Gabardo-Martins et al.44 Gabardo-Martins LMD, Ferreira MC, Valentini F. Propriedades psicométricas da escala multidimensional de suporte social percebido. Trends Psychol [Internet]. 2017;25(4):1873-83. Disponível em: http://doi.org/doi.org/10.9788/tp2017.4-18pt também reforçam a importância de relacionamentos capazes de ajudar a pessoa a avaliar a condução de sua própria vida. Quando a pessoa idosa possui acesso ao suporte social com tais qualidades, ela manterá o sentimento de pertencimento e autocuidado, mesmo durante o período de distanciamento social. Neste caso, o distanciamento social não significará isolamento social33 Caldas CP, Silva BMC. Ressignificação do cuidado de enfermagem ao idoso no mundo pós-pandemia Covid-19. In: Santana RF, Org. Enfermagem gerontológica no cuidado do idoso em tempos da COVID 19 [Internet]. Brasília, DF: ABen; 2021. p. 151-7. (Série Enfermagem e Pandemias, 5). Disponível em: https://doi.org/10.51234/aben.21.e05.c22
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Além dos aspectos relativos ao autocuidado apoiado e ao apoio social, o cuidado à pessoa idosa envolve várias questões que se tornaram mais evidentes com a emergência da pandemia. Para fazer frente a tais desafios, torna-se necessária e urgente a reflexão com base na Ciência, pois ações sem adequado aprofundamento científico resultam em empirismo, muitas vezes, irracional.
Neste número temático da RBGG espera-se contribuir para o cuidado às pessoas idosas em tempos de pandemia. A intenção é discutir e propor soluções que minimizem os impactos da pandemia na qualidade de vida e saúde da população idosa, com base no conhecimento científico.
Neste sentido, no escopo deste número temático incentivam-se artigos que abordem:
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As demandas do cuidado às pessoas idosas em diferentes contextos (Instituições de Longa Permanência- ILPI; Domiciliar; Hospitalar; Atenção Primária à Saúde) em tempos de pandemia;
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A organização da rede de serviço à saúde para essas novas demandas;
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Possibilidades de respostas ao desafio de atender a essas demandas;
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A saúde mental da pessoa idosa em um contexto de distanciamento social;
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O impacto das desigualdades sociais no cuidado a pessoa idosa em tempos de pandemia;
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A capacitação de cuidadores e familiares de pessoas idosas para essa nova realidade.
REFERÊNCIAS
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1Caldas CP, Lindolpho MC. Promoção do autocuidado na velhice. In: Freitas EV, Py L. Tratado de geriatria e gerontologia. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017. p. 2844-56.
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2Cavalcanti AM, organizador. Autocuidado apoiado: caderno de exercícios. Curitiba: Secretaria Municipal da Saúde; 2012. p. 21.
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3Caldas CP, Silva BMC. Ressignificação do cuidado de enfermagem ao idoso no mundo pós-pandemia Covid-19. In: Santana RF, Org. Enfermagem gerontológica no cuidado do idoso em tempos da COVID 19 [Internet]. Brasília, DF: ABen; 2021. p. 151-7. (Série Enfermagem e Pandemias, 5). Disponível em: https://doi.org/10.51234/aben.21.e05.c22
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4Gabardo-Martins LMD, Ferreira MC, Valentini F. Propriedades psicométricas da escala multidimensional de suporte social percebido. Trends Psychol [Internet]. 2017;25(4):1873-83. Disponível em: http://doi.org/doi.org/10.9788/tp2017.4-18pt
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
14 Jan 2022 -
Data do Fascículo
2022