Cuidados de enfermagem em instituição de longa permanência para pessoas idosas no contexto da covid-19: revisão de escopo

Resumo

Objetivo

Identificar as evidências científicas sobre os cuidados de enfermagem à pessoa idosa em instituição de longa permanência no contexto da pandemia covid-19.

Método

Trata-se de revisão de escopo baseada nas orientações do Manual para Revisões do Joanna Briggs Institute (JBI). A formulação da questão ocorreu a partir do acrônimo PCC, em que o “P” correspondeu a “pessoa idosa”, o “C” a “cuidados de enfermagem” e o “C” a “covid-19”. A busca das evidências cientificas foi realizada nas bases de dados LILACS, MEDLINE®, CINAHL® e Web of Science^TM. Foram analisados artigos recuperados ao se empregar os descritores controlados e não controlados, e aqueles provenientes da literatura cinzenta, sites e repositórios. A análise deu-se por estatística descritiva e crítica dos estudos.

Resultados

A amostra final do estudo foi composta por 14 evidências cientificas. Verificou-se que a maioria das produções pertenciam a modalidade relatório técnico (35,7%) publicadas no Brasil (64,28%). Os cuidados de enfermagem foram organizados em: intervenções gerenciais; intervenções educacionais; intervenções assistenciais em especial aquelas voltadas à prevenção e controle da disseminação do SARS-CoV-2, residentes com quadro suspeito ou confirmado de covid-19 e ao corpo em caso de óbito; intervenções voltadas a facilitar a comunicação entre os residentes e seus familiares/amigos e entre esses e o enfermeiro; além de intervenções de apoio emocional aos profissionais/cuidadores e aos residentes.

Conclusão

Diante da pandemia covid-19, os cuidados de enfermagem são imprescindíveis para prevenir e controlar a disseminação do SARS-CoV-2.

Palavras-Chave:
Pessoa idosa; Enfermagem gerontológica; Cuidados de enfermagem; Instituição de longa permanência para pessoas idosas; Infecções por Coronavírus

Abstract

Objective

To Identify the scientific evidence on nursing care for older people in a long-term care facility in the context of the COVID-19 pandemic.

Method

This scoping review was based on the Joanna Briggs Institute Reviewers’ Manual guidelines. The question was formulated from the acronym PCC, in which “P” corresponded to “older people, “C” to “nursing care” and “C” to “COVID-19”. The search for scientific evidence was carried out on the LILACS, MEDLINE®, CINAHL® and Web of ScienceTM databases. Articles retrieved using controlled and uncontrolled descriptors, and those from gray literature, websites and repositories were analysed. Descriptive and critical analysis of statistics from the studies was performed.

Results

The final study sample consisted of 14 scientific publications. Most of the output constituted technical reports (35.7%) published in Brazil (64.28%). Nursing care was categorized under: managerial interventions; educational interventions; care interventions, especially those forts preventing and controlling the spread of SARS-CoV-2, residents with suspected or confirmed COVID-19, and handling the corpse in the event of death; interventions facilitating communication between residents and their family/friends and between this group and the nurse; in addition to emotional support interventions for professionals/caregivers and residents.

Conclusion

Amid the COVID-19 pandemic, nursing care is essential to prevent and control the spread of SARS-CoV-2.

Keywords
Older Adult; Gerontological Nursing; Nursing care; Long-Term Care Facility for Older Adults; Coronavirus infections

INTRODUÇÃO

A covid-19, doença infecciosa respiratória semelhante à gripe, é causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) e cursa com tosse seca, febre, dispneia, mialgia ou fadiga e, em casos mais graves, pneumonia, podendo exigir cuidados intensivos. Tem elevada transmissibilidade e fácil propagação¹,².

Essa doença trouxe impacto ao mundo pelo número de infectados e pela quantidade de óbitos notificados em que, até julho de 2023, atingiu 768.237.788 casos confirmados e 6.951.677 mortes. O Brasil é o sexto país em número de casos confirmados (37.693.506) e o segundo em óbitos (704.320)³. No entanto, esses números podem ser subestimados ao considerar-se a baixa quantidade de testes disponibilizados, bem como, as subnotificações.

Nessa emergência global em saúde à população de pessoas idosas é a mais vulnerável a complicações devido as alterações inerentes ao envelhecimento.²,⁴-⁷. Estudos demonstram que a letalidade da doença eleva-se com a longevidade, em decorrência da imunossenescência, que torna a pessoa idosa mais suscetível a doenças infectocontagiosas e prognósticos desfavoráveis⁸-¹⁰.

A taxa de mortalidade por covid-19 em 2021, trouxe maior incidência de mortes para pessoas acima de 80 anos (14,8%), enquanto a partir de 70 e 79 anos foi de 8,0%, e aqueles com idade entre 60 e 69 anos, foi de 8,8%¹¹,¹². Esses dados sobressaíram-se para residentes em Instituição de Longa Permanência para Pessoa Idosas (ILPI), visto que a taxa de letalidade para octogenários nesses locais foi superior a 15%¹³.

Tal fato, relaciona-se ao contexto evidenciado nas ILPI, incluindo as nacionais, no qual predominam pessoas idosas com comorbidades crônicas, em uso de polifarmácia e variados graus de dependência, que necessitam de contato frequente com cuidadores, profissionais de saúde e visitantes¹⁴. Além disso, tem-se a superlotação dessas instituições, estruturas físicas inadequadas e recursos humanos não qualificados para atender às demandas¹⁵,¹⁶.

A covid-19 precisa ser vista como alerta no intuito de disponibilizar assistência qualificada e segura às pessoas idosas que vivem em ILPI. Nesse cenário, considera-se o enfermeiro, como protagonista na organização e gestão assistencial nas ILPI, contribuindo, substancialmente, para redução da disseminação do vírus nesses ambientes por meio de estratégias que visem à prevenção e ao controle de infecção, bem como por ações voltadas à educação em saúde, utilizando-se do vínculo com as pessoas idosas para promover autocuidado com autonomia¹⁰,¹⁷.

Tendo em vista o contexto nas ILPI e diante da complexidade do processo de envelhecimento e da repercussão da covid-19 na vida da população de pessoas idosas, em especial daquelas que residem nessas instituições, torna-se urgente a implementação de estratégias eficazes de proteção a esse grupo de risco¹⁰.

Desse modo, o objetivo deste estudo foi identificar as evidências científicas sobre os cuidados de enfermagem a pessoas idosas em instituição de longa permanência no contexto da pandemia de covid-19.

MÉTODO

Trata-se de revisão de escopo fundamentada nas recomendações do Joanna Briggs Institute Reviewers’s Manual ¹⁸, desenvolvida segundo recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR): Checklist and Explanation¹⁹. Foi elaborado, pelas autoras, protocolo de pesquisa constituído pelas informações: tipo de estudo, objetivo, questão de pesquisa, critérios de inclusão e exclusão, composição da amostra, coleta de dados, extração dos dados e síntese das informações coletadas.

A questão de pesquisa partiu da estratégia PCC, em que: P (população): pessoa idosa; C (conceito): cuidados de enfermagem; C (contexto): covid-19 e definiu-se como: “Quais os cuidados de enfermagem às pessoas idosas residentes em instituições de longa permanência no contexto da pandemia covid-19?”.

Em agosto de 2022, ocorreu busca prévia na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), para verificar o ineditismo do estudo e compor a estratégia de busca e, em setembro, deu-se o levantamento bibliográfico, nas seguintes bases de dados: Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS via BVS), Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE® via PubMed), Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL® - EBSCO), e Web of Science^TM , acessadas por meio do portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

A busca na literatura cinzenta incluiu os seguintes sites e repositórios: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia; Associação Brasileira de Enfermagem- ABEn, Agência Nacional de Vigilância Sanitária- ANVISA, Ministério da Saúde Brasileiro, Serviço Nacional de Saúde de Portugal, Ministerio de Sanidade- Espanha, OMS, Frente Nacional de Fortalecimento das ILPI e Repositório da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Para seleção dos descritores controlados e não controlados, os termos foram consultados no Descritores em Ciências da Saúde - DeCS, no Medical Subject Headings (MeSH) e no List of Headings do CINAHL. Para cada base de dados, cruzaram-se os descritores controlados e não controlados “aged”, “aged, 80 and over”, “elderly”, “Nursing Care”, “Coronavirus”, “Covid-19” e “SARS-CoV-2”, utilizando-se operadores booleanos AND e OR, conforme as expressões de busca (Quadro 1). Ressalta-se que o descritor referente a ILPI foi utilizado como critério de inclusão.

Quadro 1
Expressões de busca, sites e repositórios utilizados para seleção dos estudos (n=14). Teresina, PI, Brasil, 2022.

LILACS via BVS

((mh:(Idoso)) OR ("Pessoa idosa")) AND ((mh:(Enfermagem)) OR (Enfermagem)) AND (("Covid-19") OR (Coronavírus) OR ("Sars-Cov-2"))

MEDLINE® via PubMed

(((("aged"[All Fields]) OR ("aged, 80 and over"[MeSH Terms])) OR ("elderly"[All Fields])) AND ("nursing care"[MeSH Terms])) AND ("coronavirus"[MeSH Terms])

CINAHL® - EBSCO

(coronavirus OR covid-19 OR sars-cov-2) AND (aged OR ( aged, 80 and over [mesh] ) OR elderly AND nursing care AND coronavirus OR covid-19 OR sars-cov-2)

Web of ScienceTM

(TS=(aged) OR TS=("aged, 80 and over") OR TS=((elderly)) AND TS=(("nursing care")) AND (TS=(Coronavirus) OR TS=("Covid-19") OR TS=("SARS-CoV-2 "))

Sites e repositórios

Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn)

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

Ministério da Saúde

Serviço Nacional de Saúde de Portugual

Ministerio de Sanidad – Espanha

Organização Mundial de Saúde

Frente Nacional de Fortalecimento das ILPI

Repositório da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

O levantamento dos dados aconteceu em três momentos: primeiro, utilizaram-se descritores controlados e não controlados adequados às bases de dados pesquisadas; segundo, a fim de ampliar a busca, empregaram-se os descritores em outras bases de dados, sites e repositórios selecionados; e por fim, buscou-se na lista de referências das fontes utilizadas, incluindo a literatura cinzenta.

Foram incluídas pesquisas realizadas com pessoas acima de 60 anos, residentes em ILPI, que tratassem da temática abordada. Não houve delimitação temporal, nem de idioma. Excluíram-se resumos publicados em anais de eventos, estudos que não responderam à questão de pesquisa, e os duplicados.

A seleção foi realizada por dois revisores, independentes e, por um terceiro pesquisador, em caso de discordância, não houve calibração. Inicialmente, avaliaram-se títulos e resumos, a fim de selecionar aqueles que respondiam à questão de pesquisa e enquadravam-se nos critérios de inclusão e exclusão. Os registros pré-selecionados foram recuperados e lidos na íntegra, e os que não se adequavam foram excluídos, restando 14 artigos que compuseram a amostra (Figura 1).

Figura 1
Diagrama de fluxo do processo de seleção dos artigos da revisão, PRISMA-ScR. Teresina, Brasil, 2022.

Ao final, extraíram-se as seguintes informações: título, país e cuidados de enfermagem, que foram dispostos em quadro-síntese. Os dados foram analisados de forma descritiva e crítica mediante leitura aprofundada, e organizados conforme similaridade.

RESULTADOS

Inicialmente, localizou-se 121 publicações nas bases de dados e 118 em outras fontes referentes à literatura cinzenta, totalizando 239 estudos elegíveis. Após leitura do título e resumo, 75 duplicados foram excluídos. Do total restante (n=164), após aplicação dos critérios de seleção, excluiu-se 150 por não versarem sobre o objeto de estudo. Assim, compuseram a amostra, 14 materiais, dos quais, quatro foram provenientes das bases de dados e 10 da literatura cinzenta, como está descrito na Figura 1.

As publicações selecionadas são provenientes de cinco países distintos, com predominância de produções advindas do Brasil²²,²³-²⁹,³³ (64,28%), dos Estados Unidos da América²⁰,²¹ (EUA) (14,28%), além de Portugal³⁰, Espanha³¹ e Suíça³², esses três últimos detendo uma publicação cada (7,14% cada) (Quadro 2).

Quadro 2
Registros incluídos pela revisão de escopo, segundo título e país de origem (n=14). Teresina, PI, Brasil, 2022.

Citação	Título	Tipo	País
20	Coronavirus Disease19 in Geriatrics and Long-Term Care: an update	Artigo	EUA
21	Coronavirus Disease 2019 in Geriatrics and Long-Term Care: The ABCDs of COVID-19	Artigo	EUA
22	COVID-19 e o cuidado de pessoa idosas: recomendações para instituições de longa permanência	Cartilha	Brasil
23	Recomendações para o enfrentamento da disseminação da COVID-19 em Instituições de Longa Permanência para Pessoa idosas	Artigo	Brasil
24	Prevenção e controle de infecções por coronavírus em Instituições de Longa Permanência para Pessoa idosas	Capítulo de E-BOOK	Brasil
25	Precauções nos casos de óbito por COVID-19 em Instituição de Longa Permanência para Pessoa idosas (ILPI)	Capítulo de E-BOOK	Brasil
26	Orientações para a prevenção e o controle de infecções pelo novo coronavírus (sars-cov-2) em Instituições de Longa Permanência para Pessoa idosas (ILPI).	Nota Técnica	Brasil
27	Comunicação aos trabalhadores de enfermagem das Instituições de Longa Permanência de Pessoa idosas (ILPI) para o enfrentamento da disseminação do COVID-19	Relatório Técnico	Brasil
28	Telemonitoramento a instituições de longa permanência para pessoa idosas frente às infecções por coronavírus e COVID-19	Artigo	Brasil
29	Prevenção e controle de infecções pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) a serem adotadas nas Instituições de Longa Permanência de Pessoa idosas (ILPI).	Relatório Técnico	Brasil
30	Orientação nº 009/2020	Nota Técnica	Portugal
31	Recomendaciones a residencias de mayores y centros sociosanitarios para el COVID-19	Relatório Técnico	Espanha
32	Infection Prevention and Control guidance for Long-Term Care Facilities in the context of COVID-19	Relatório Técnico	Suíça
33	Relatório Técnico da Frente Nacional de Fortalecimento às Instituições de Longa Permanência para Pessoa idosas	Relatório Técnico	Brasil

• Fonte: Dados da pesquisa, 2022

Quanto a categoria dos materiais, predominaram relatórios técnicos²⁷,²⁹,³¹-³³ (35,7%), artigos científicos²⁰,²¹,²³,²⁸ (28,5%), capítulos de ebook²⁴,²⁵ (14,2%), notas técnicas²⁶,³⁰ (14,2%) e cartilha²² (7,4%), conforme Quadro 2. As intervenções, por sua vez, foram dispostas conforme o Quadro 3.

Quadro 3
Caracterização das publicações segundo as intervenções relacionadas aos cuidados de enfermagem em instituições de longa permanência no contexto da covid-19 (n=14). Teresina, PI, Brasil, 2022.

CUIDADOS DE ENFERMAGEM
Intervenções Gerenciais
Descrever normas e rotinas institucionais em protocolo exclusivo para a prevenção e tratamento, disponibilizando em local de fácil acesso à equipe20,22,23,26.
Replanejar rotinas de cuidados, distribuindo atividades ao longo da jornada de trabalho para não haver aglomeração entre pessoas idosas e funcionários23,27.
Escalar funcionários exclusivos para atendimento aos residentes isolados23,27,30.
Estabelecer fluxograma de identificação, avaliação, medidas de precaução e condutas frente a casos suspeitos e confirmados na instituição27.
Elaborar e implementar medidas de prevenção e controle da disseminação do vírus dentro da instituição21,22,26.
Garantir EPI para a equipe e residentes23,27,33.
Prover condições para higiene das mãos com água e sabonete líquido; lavatório/ pia com dispensador de sabonete líquido; suporte para papel-toalha; papel-toalha; lixeira com tampa e abertura sem contato manual22.
Disponibilizar, na entrada da ILPI, nos locais de maior circulação, dormitórios e banheiros, dispensadores com solução de álcool em gel 70%23,27,31.
Intervenções Gerenciais
Supervisionar a higienização das mãos e o uso de máscaras cirúrgicas pelos colaboradores durante a realização dos cuidados diretos com as pessoas idosas22,23,30,33.
Telemonitorar aquelas que não possuírem enfermeiro, auxiliando cuidadores no reconhecimento das principais formas de transmissão e medidas preventivas de disseminação da infecção, bem como auxiliar na detecção precoce de casos suspeitos do vírus em profissionais e residentes21,28.
Avaliar o cartão de vacinas do residente e dos profissionais/cuidadores para garantir que todos estejam com todas as vacinas disponíveis em dia 22,23,26,27,33.
Supervisionar e reforçar a limpeza e desinfecção das superfícies, dos utensílios utilizados pelos residentes (pratos, copos, talheres etc.)21-24,31,33, bem como a limpeza dos ambientes, incluindo limpezas terminais nos quartos22,25,26, mantendo-os bem ventilados26,31,33.
Intervenções educacionais
Capacitar profissionais da ILPI para uso, remoção, descarte de EPI, higienização das mãos e sobre as medidas a serem implementadas na prevenção e controle viral21-23,26,27,29,30,32,33.
Orientar residentes sobre as medidas de prevenção e controle da disseminação do vírus23,26,27,29,30,32,33.
Orientar residentes a não compartilharem objetos de uso pessoal (escovas de cabelo, cortadores de unha, toalhas, roupas de cama etc.)26,29,31-33.
Afixar cartazes com orientações sobre as medidas de higiene das mãos, higiene respiratória e etiqueta da tosse em locais estratégicos da instituição22,24-26,29,31-33.
Colocar identificadores afixados na porta dos quartos descrevendo precauções e EPI necessário para uso na presença de caso suspeito ou confirmado23.
Intervenções Assistenciais
Intervenções Assistenciais
Intervenções de Comunicação com a família
Incentivar uso de mecanismos alternativos para interações entre residentes e seus familiares ou amigos, durante período de restrição de visitas23,26,27,29,32,33.
Estabelecer horários para contato com familiares dentro da rotina de enfermagem23.
Fornecer boletins aos familiares acerca do estado geral de saúde dos residentes via telefone ou internet23,27.
Intervenções de apoio psicológico
Promover o bem-estar físico e psicológico dos profissionais/cuidadores23,32,33.
Instituir medidas de estímulo dos funcionários sobre ações que favoreçam a conscientização e nível de atenção nos momentos estressores e suporte emocional22,23.
Avaliar sinais de Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento de profissionais/cuidadores, implementando estratégias para descompressão do profissional, a fim de reduzir riscos à segurança dos residentes, disponibilizando canal para suporte emocional e esclarecimento de dúvidas sobre a doença20,23,27.
Fomentar medidas para minimizar questões emocionais deletérias decorrentes do distanciamento social, atenuando a saudade dos residentes e familiares/amigos22,33.
Oferecer suporte emocional e prático através de redes informais (famílias) e profissionais de saúde aos residentes com suspeita ou diagnóstico de covid-1922,32.

• Fonte: Dados da pesquisa, 2022

Em síntese, as intervenções gerenciais evidenciaram-se em onze materiais, enquanto as educacionais em dez, seguidas das assistenciais, com suas subdivisões em: prevenção e controle (n=12), residentes com quadro suspeito (n=9), destinadas ao corpo em caso de óbito (n=4); bem como intervenções com a família (n=6) e intervenções de apoio psicológico (n=6), detalhadas no Quadro 3.

DISCUSSÃO

Dentre os registros que compõem esta revisão, a maior parte configura como literatura cinzenta (relatórios técnicos, notas técnicas, cartilha, capítulos de E-BOOK), que trata de documentos que não passaram pelo crivo de diferentes pareceristas ou por comissão editorial, portanto, sem vasta visibilidade³⁴. Esse fato, remete à necessidade de incentivo à produção científica nacional e internacional sobre essa temática.

O Brasil destacou-se em número de publicações sobre cuidados de enfermagem em ILPI na pandemia covid-19²²-²⁸,³³, embora essa seja uma discussão mundial. No país, as ILPI, vinculam-se à assistência social, o que desobriga a presença do enfermeiro, apesar da importância desse em ambientes de cuidado, independente de existirem dispositivos legais que mencionem tal fato. Visto isso, em 2019, o Conselho Federal de Enfermagem recomendou inserir o enfermeiro nas ILPI, a fim de garantir assistência de qualidade livre de riscos³⁵.

Dentre os cuidados evidenciados nos estudos voltados às pessoas idosas em ILPI no contexto pandêmico, as ações gerenciais destacam a educação, essência da enfermagem, como elo fundamental para que se possa prevenir e controlar a disseminação da doença²⁰,²²,²³,²⁶,²⁷,²⁹,³⁰,³²,³³.

Em meio as atribuições do enfermeiro, educar contribui como incentivo ao autocuidado, gerando autonomia e coparticipação, além de facilitar a adesão às medidas sanitárias propostas; e em meio ao cenário pandêmico, torna-se desafiador, devido ao excesso de informações não confiáveis veiculadas, que desviam o foco daquelas que de fato, são pertinentes e eficientes para prevenção do contágio pelo novo coronavírus³⁸,³⁹.

No que concerne à gestão assistencial dos residentes com suspeita ou diagnóstico confirmado de covid-19²⁰-²⁴,²⁶,²⁷,²⁹-³³, destacam-se o gerenciamento de resíduos, limpeza e desinfecção de ambientes da ILPI²⁰-²⁴,²⁶,³¹,³³, bem como os cuidados com corpos em caso de óbito decorrentes da doença²¹,²⁵,²⁷,³¹.

O cuidado de enfermagem integra ações de gerenciamento de resíduos, do ambiente assistencial, e da assistência ao indivíduo, desde a concepção até a morte, articulando-se junto aos demais profissionais, a fim de implementar intervenções adequadas a cada situação de modo crítico⁴⁰.

A comunicação com a família, inclusive com uso da tecnologia como ferramenta colaborativa, destacou-se dentre as intervenções como essencial para manter perto dos residentes àqueles entes queridos que, por conta da suspensão das visitas, estão distantes²³,²⁶,²⁷,²⁹,³²,³³, além de proporcionar apoio psicológico aos moradores, família e funcionários²²,²³,³²,³³.

O enfermeiro é responsável pela gestão assistencial nas ILPI assume a responsabilidade pelas estratégias de capacitação dos colaboradores (profissionais e não profissionais, bem como familiares)²⁷, essenciais na gestão do cuidado tanto dos residentes positivos para covid-19, quanto dos moradores suspeitos e daqueles não infectados. O fundamento dessas intervenções apoia-se na prevenção da disseminação, por meio do uso adequado dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI), da higienização das mãos, do seguimento seguro das recomendações, protocolos e diretrizes de saúde, a fim de conter a cadeia de transmissão da doença²¹-²³,²⁶,²⁷,²⁹,³⁰,³²,³³.

Verifica-se que nessas instituições, os funcionários e os cuidadores de pessoas idosas representam o veículo de transmissão do SARS-CoV-2, pois em geral, trabalham em mais de um serviço e, por vezes, embora assintomáticos carregam o vírus, espalhando-o facilmente em populações de alto risco²⁰,²¹. A exemplo disso, em 2019, relatório de fiscalização do Conselho Federal de Enfermagem apontou para 500.161 trabalhadores da categoria atuando em mais de um vínculo empregatício⁴¹.

Diante do exposto, faz-se necessário o monitoramento diário dos sinais e sintomas de infecção respiratória dentro das ILPI²⁰-²³,²⁶,²⁷. Essa avaliação deverá ser realizada, em especial, naqueles residentes admitidos ou readmitidos, com incentivo às práticas de prevenção para assim, evitar a disseminação do vírus entre eles ²²,²³,²⁶,²⁷,³⁰-³².

À vista disso, segue-se a recomendação de que profissionais/cuidadores sintomáticos afastem-se da ILPI por até 14 dias, a partir do início dos sintomas, mesmo após a vacinação e presença de novas variantes do vírus²⁰,²²,²³,²⁷,³⁰-³³,⁴¹. Os residentes suspeitos ou com diagnóstico confirmado de covid-19, que não necessitarem de internação hospitalar, devem permanecer isolados, em quarto privativo, bem ventilado, mantendo-se a porta fechada, janelas abertas e banheiro exclusivo²²,²³,²⁶,³⁰-³³.

No entanto, tendo em vista que a maioria das instituições nacionais estão superlotadas, com presença de ambientes coletivos, o que eleva o risco de transmissão³³, deve-se garantir o distanciamento, de no mínimo um metro entre os leitos²²,²³,²⁶,³⁰,³¹,³³.

Ademais, o enfermeiro precisa gerenciar o dimensionamento de colaboradores a fim de minimizar lacunas provocadas pelo absenteísmo decorrente dos profissionais sintomáticos afastados do trabalho, além de definir profissionais exclusivos para o atendimento das pessoas idosas com suspeita ou confirmados²³,²⁷,³⁰,³¹.

Dentro do escopo de intervenções de enfermagem, destaca-se ainda, o preparo do corpo em caso de óbito nas ILPI, que deverá ser realizado mediante utilização de todos os EPIs (gorro, óculos de proteção e protetor facial, máscara N95 ou equivalente, avental ou capote impermeável, luvas e botas impermeáveis) e higienização das mãos²³,²⁵,³¹, com ênfase para a necessidade de oclusão dos orifícios naturais do corpo, com intuito de impossibilitar o extravasamento de fluidos corporais²³,²⁵, uma vez que o vírus da covid-19 permanece vivo nos fluídos após o óbito do indivíduo³⁶.

No que se refere a visitas nas ILPI, a recomendação é de suspensão durante a pandemia ²⁰,²²,²³,²⁷,²⁹,³². Quanto a isso, o enfermeiro precisa incorporar dentro de seus cuidados, estratégias de fortalecimento do vínculo da pessoa idosa com familiares e amigos, de modo a manter a rede de suporte social ativa, com a utilização de ferramentas de comunicação como smartphones, tabletes, computadores, mídias sociais dentre outras²³,²⁶,²⁷,²⁹,³³,.

Cuidar, em tempos de pandemia, torna-se um desafio aos profissionais de saúde que lidam, diariamente, com intenso sofrimento psíquico, expresso em transtorno de ansiedade generalizada, distúrbios do sono, medo de adoecer e de contaminar colegas e familiares³⁷. Tal realidade não difere nas ILPI, pois a pandemia aumenta desgastes pré-existentes na saúde física e mental do cuidador. Assim, destaca-se dentro das intervenções a promoção do bem-estar físico e mental desse profissional/cuidador²²,²³,³²,³³.

Quanto aos desfechos desfavoráveis, evidenciou-se que as pessoas idosas residentes com maior grau de dependência e número de comorbidades tendem a tê-los em maiores chances³⁵. Portanto, as intervenções de enfermagem integrais, humanizadas qualificadas são essenciais para esse grupo etário que reside nas ILPI em tempos de pandemia, pois contribuem para prevenir e controlar a disseminação do vírus da covid-19 nesses serviços²¹,²²,²⁶,²⁷,³¹,³³.

A limitação deste estudo foi a escassez de evidências robustas acerca dos cuidados de enfermagem a pessoas idosas em ILPI, no contexto da pandemia de covid-19, visto que a maior parte dos materiais são oriundos de literatura cinzenta. Ressalta-se que, essas recomendações possam sofrer alterações, tendo em vista, a constante atualização das informações sobre esse novo vírus.

CONCLUSÃO

O presente estudo constatou que o escopo sobre cuidados de enfermagem a pessoas idosas em ILPI no contexto da pandemia da covid-19 necessita de expansão.

Os cuidados de enfermagem evidenciados foram dispostos nas categorias: intervenções gerenciais, educacionais e assistenciais, relacionadas à prevenção e ao controle da disseminação do SARS-Cov-2, além daqueles destinados aos casos suspeitos e confirmados e dos voltados ao corpo em caso de óbito, com destaque para a comunicação e educação em saúde.

Diante dos resultados, reafirma-se a importância de ter o enfermeiro na equipe das ILPI, pois esse profissional atua em todas as frentes de combate, não apenas da pandemia de covid-19, mas em outros agravos que acometem a população idosa.

• Não houve financiamento para execução deste trabalho.

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Editado por

Editado por: Marquiony Marques dos Santos

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  27 Out 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  22 Abr 2023
• Aceito
  17 Ago 2023