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Estado nutricional e associação do excesso de peso com gênero e idade de crianças e adolescentes

Nutritional status and association of overweight with gender and age in children and adolescents

Resumos

O objetivo do presente estudo foi analisar o estado nutricional e verificar a associação do excesso de peso corporal (EPC) com o gênero e a idade em crianças e adolescentes da cidade de Vilhena, Rondônia. Participaram 5883 escolares, sendo crianças (6 a 11 anos) e adolescentes (12 a 17 anos), da rede pública de ensino. Foram mensuradas a massa corporal e estatura, e calculado o índice de massa corporal (IMC) para posterior classificação do estado nutricional. Utilizou-se o teste "t" para comparação entre os gêneros e o teste do qui-quadrado e regressão de Poisson para verificar a associação do EPC com o gênero e a idade. A análise dos dados foi realizada no software SPSS, versão 11.0 e foi adotado nível de significância de p<0,05. A prevalência de EPC foi de 19,3% nas crianças e 17,4% nos adolescentes. Observou-se associação significativa entre EPC com o gênero e a idade entre as crianças, sendo que as meninas apresentaram maior prevalência de EPC (RP=1,81; IC95%=1,49-2,21) do que os meninos. Entre os adolescentes também se verificou que meninas apresentam maiores prevalência de EPC do que os meninos (RP=1,81; IC95%=1,49-2,21). A prevalência de EPC aumentou linearmente entre as crianças (6-11 anos) e diminuiu nos adolescentes (15-17 anos). Esses resultados sugerem que entre crianças e adolescentes do norte brasileiro as prevalências de excesso de peso apresentam-se elevadas.

Obesidade; Sobrepeso; Criança; Adolescência


The aim of this study was to assess the nutritional status and the association of excess body weight (EBW) with gender and age among children and adolescents from the town of Vilhena, Rondonia, Brazil. A total of 5,883 students, including children (6 to 11 years) and adolescents (12 to 17 years), from public schools participated in the study. Body weight and height were measured and the body mass index was calculated for subsequent classification of nutritional status. The t-test was used for comparison between genders and the chi-square test and Poisson regression were used to evaluate the association between EBW, gender, and age. Data were analyzed with the SPSS 11.0 program at a level of significance of p < 0.05. The prevalence of EBW was 19.3% among children and 17.4% among adolescents. EBW was significantly associated with gender and age among children. In addition, the prevalence of EBW was higher among girls (PR = 1.81, 95% CI 1.49 to 2.21) than among boys. Adolescent girls also presented a higher prevalence of EBW than boys (PR = 1.81, 95% CI 1.49 to 2.21). The prevalence of EBW increased linearly in children (6 to 11 years) and decreased in adolescents (15 to 17 years). These results suggest that the prevalence of overweight is high among children and adolescents from northern Brazil.

Obesity; Overweight; Child; Adolescence


ARTIGO ORIGINAL

Estado nutricional e associação do excesso de peso com gênero e idade de crianças e adolescentes

Nutritional status and association of overweight with gender and age in children and adolescents

Kleverton KrinskiI; Hassan Mohamed ElsangedyI; Sergio da HoraI; Cassiano Ricardo RechII, III; Elto LegnaniI; Bruno Vinicius SantosI; Wagner de CamposI; Sergio Gregorio da SilvaI

IUniversidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil

IIUniversidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, PR. Brasil

IIIBolsista Fundação Araucária

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Sergio Gregorio da Silva Rua Coração de Maria, 92 - JD Botânico 80.215-370 - Curitiba, PR - Brasil E-mail: sergiogregorio@ufpr.br

RESUMO

O objetivo do presente estudo foi analisar o estado nutricional e verificar a associação do excesso de peso corporal (EPC) com o gênero e a idade em crianças e adolescentes da cidade de Vilhena, Rondônia. Participaram 5883 escolares, sendo crianças (6 a 11 anos) e adolescentes (12 a 17 anos), da rede pública de ensino. Foram mensuradas a massa corporal e estatura, e calculado o índice de massa corporal (IMC) para posterior classificação do estado nutricional. Utilizou-se o teste "t" para comparação entre os gêneros e o teste do qui-quadrado e regressão de Poisson para verificar a associação do EPC com o gênero e a idade. A análise dos dados foi realizada no software SPSS, versão 11.0 e foi adotado nível de significância de p<0,05. A prevalência de EPC foi de 19,3% nas crianças e 17,4% nos adolescentes. Observou-se associação significativa entre EPC com o gênero e a idade entre as crianças, sendo que as meninas apresentaram maior prevalência de EPC (RP=1,81; IC95%=1,49-2,21) do que os meninos. Entre os adolescentes também se verificou que meninas apresentam maiores prevalência de EPC do que os meninos (RP=1,81; IC95%=1,49-2,21). A prevalência de EPC aumentou linearmente entre as crianças (6-11 anos) e diminuiu nos adolescentes (15-17 anos). Esses resultados sugerem que entre crianças e adolescentes do norte brasileiro as prevalências de excesso de peso apresentam-se elevadas.

Palavras-chave: Obesidade; Sobrepeso; Criança; Adolescência.

ABSTRACT

The aim of this study was to assess the nutritional status and the association of excess body weight (EBW) with gender and age among children and adolescents from the town of Vilhena, Rondonia, Brazil. A total of 5,883 students, including children (6 to 11 years) and adolescents (12 to 17 years), from public schools participated in the study. Body weight and height were measured and the body mass index was calculated for subsequent classification of nutritional status. The t-test was used for comparison between genders and the chi-square test and Poisson regression were used to evaluate the association between EBW, gender, and age. Data were analyzed with the SPSS 11.0 program at a level of significance of p < 0.05. The prevalence of EBW was 19.3% among children and 17.4% among adolescents. EBW was significantly associated with gender and age among children. In addition, the prevalence of EBW was higher among girls (PR = 1.81, 95% CI 1.49 to 2.21) than among boys. Adolescent girls also presented a higher prevalence of EBW than boys (PR = 1.81, 95% CI 1.49 to 2.21). The prevalence of EBW increased linearly in children (6 to 11 years) and decreased in adolescents (15 to 17 years). These results suggest that the prevalence of overweight is high among children and adolescents from northern Brazil.

Key words: Obesity; Overweight; Child; Adolescence

INTRODUÇÃO

A literatura científica tem documentado uma transição nutricional no Brasil nos últimos anos1. Em menos de duas décadas passou-se de um quadro de desnutrição grave para uma epidemia de obesidade2,3. Esta transição é atribuída a inúmeros fatores como a urbanização, melhora nas condições de vida da população, mudanças no estilo de vida relacionada ao aumento da prevalência do sedentarismo, e maior consumo de alimentos hipercalóricos3.

Paralelamente a esta elevada prevalência de excesso de peso corporal (EPC), nota-se concomitantemente um aumento das morbidades associadas a este distúrbio, como por exemplo, a diabetes, hipertensão, hipercolesterolêmica, doenças cardiovasculares e desenvolvimento da síndrome metabólica4,5. Em crianças e adolescentes os efeitos adversos da obesidade também são bem documentados, e direcionam para um quadro preocupante, devido ser neste período que diversos comportamentos são adquiridos4,6.

No Brasil, de acordo com revisão sistemática que trata do tema da obesidade em adolescentes7, verifica-se que a maior parte dos estudos realizados com adolescentes é proveniente de amostras das regiões sul e sudeste, com poucos estudos nas regiões norte e nordeste, sendo a maioria com levantamentos transversais e amostras locais7. Exceção se faz ao estudo realizado na cidade de Pelotas8, que utilizou delineamento de coorte.

Estudos com amostras regionais do norte do Brasil são escassos9. Dois levantamentos com crianças e adolescentes9,10 , com idades entre 7 a 15 anos, da cidade de Porto Velho-RO, demonstraram elevada prevalência de casos de adiposidade corporal em excesso (23,7%), desnutrição pregressa (27,2%) e desnutrição aguda (19,8%).

Entende-se que existem diferenças consideráveis no desenvolvimento tecnológico e econômico entre as regiões brasileiras, e até mesmo dentro de uma mesma região. Deste modo, a realidade da transição nutricional observada no sul e sudeste do país parece ter diferentes magnitudes em outras regiões. Além disto, a relação da obesidade com gênero e idade estabelecida em estudos nas regiões sul e sudeste, não foi verificada em amostras de crianças e adolescentes da região norte do Brasil.

Assim, o presente estudo teve como objetivo: identificar o estado nutricional em crianças e adolescentes da cidade de Vilhena, Rondônia, assim como, verificar a associação entre o excesso de peso corporal (sobrepeso/obesidade) com o gênero e a idade.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Delineamento do estudo

Realizou-se um estudo descritivo, transversal de base populacional escolar, com crianças e adolescentes entre seis (6) e dezessete (17) anos de idade, de ambos os sexos, matriculados na rede pública estadual de ensino do Município de Vilhena, Rondônia.

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Paraná (Parecer 332/2006) e acompanhou as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Além disso, todos os alunos envolvidos na pesquisa e seus respectivos responsáveis assinaram voluntariamente um termo de consentimento livre e esclarecido, no qual foram informados quanto aos objetivos do estudo e esclarecidos quanto aos métodos utilizados, ficando garantido aos participantes o anonimato e o direito de desistir do estudo a qualquer momento.

População e Amostra

A população de escolares foi estimada por meio do censo escolar de 2007, o qual divulgou que, no município de Vilhena-RO, haviam, aproximadamente, 15942 alunos, regularmente matriculados na rede pública de ensino. Desses, um total de aproximadamente 7875 alunos, distribuídos em quatro (4) escolas da rede pública estadual, sendo 2315 de 1º a 4º série, 3109 de 5º a 8º série e 2451 do Ensino Médio. Foram selecionadas para o estudo todas as escolas da rede Estadual de Ensino.

O tamanho da amostra foi determinado a partir do cálculo amostral11, considerando uma prevalência de EPC estimada em 20%12, um cálculo de erro amostral de 3% e efeito do desenho do estudo de 2,013. Ainda foi acrescido na amostra final um percentual destinado a possíveis perdas ou erros de medida (20%). Deste modo a amostra mínima foi estimada em 1508 escolares, considerando a proporcionalidade em relação ao agrupamento da série de estudo (1º a 4º série, 5º a 8º série e ensino médio). Devido às condições logísticas de aplicação do estudo e delineamento metodológico que incluiu poucas variáveis na coleta de dados, foi possível incluir na amostra 5883 escolares, sendo 2765 crianças (6 a 11 anos) e 3118 adolescentes (12 a 17 anos). Adotou-se como critério de exclusão: adolescente que se recusaram em participar do estudo, idade >18 anos, gravidez ou indivíduos que apresentassem alguma necessidade especial.

Procedimentos

A coleta de dados ocorreu durante o primeiro semestre do ano de 2008, durante o horário destinado à disciplina de Educação Física. Inicialmente, os pesquisadores entregaram o termo de consentimento livre e esclarecido para a autorização do responsável e do próprio aluno para participação no estudo. No dia seguinte, os escolares que voluntariamente desejassem participar do estudo tiveram suas medidas de massa corporal e estatura mensuradas7.

Forma utilizados um estadiômetro de alumínio com resolução de 1 cm e duas balanças digitais da marca Plenna com resolução de 100 gramas, aferida a cada dez pesagens, com intuito de manter a precisão da medida. As medidas foram tomadas por dois avaliadores treinados e com erro técnico de medida inferior a 0,5% para as medidas de massa corporal e estatura. A partir das medidas antropométricas foi calculado o índice de massa corporal (IMC) e classificado em baixo peso, normoponderal e excesso de peso (sobrepeso + obeso)13. A utilização deste ponto de corte se deve, em virtude de estudos prévios14,15, reportarem que entre as referências nacionais e internacionais, este critério apresentou uma maior sensibilidade entre crianças e adolescentes brasileiros.

Analise Estatística

Para o tratamento estatístico, utilizou-se, inicialmente, a estatística descritiva (frequência, média e desvio-padrão). O teste "t" de Student para amostras independentes foi utilizado para comparação de médias entre os gêneros. Para verificar a associação entre os casos de excesso de peso (sobrepeso/obesidade) e as variáveis de gênero e idade foi utilizado o teste de associação do qui-quadrado (χ2) e calculada a razão de prevalência (RP) com seu respectivo intervalo de confiança (IC95%), por meio da regressão de Poisson. A análise dos dados foi realizada no software SPSS, versão 11.0 e foi adotado nível de significância de p<0,05.

RESULTADOS

Foram avaliados 5883 escolares, sendo 2765 crianças (6 a 11 anos) e 3118 adolescentes (12 a 17 anos). A tabela 1 apresenta as características descritivas das crianças e adolescentes participantes do estudo. Observa-se que entre as crianças não houve diferenças estatísticas (p>0,05) entre os gêneros, já no grupo dos adolescentes foram encontradas diferenças estatísticas (p<0,05) para todas as variáveis físicas analisadas.

Com relação ao estado nutricional (Figura 1), baseado nas medidas de IMC, a prevalência de EPC foi de 19,3% (IC95%: 16,3-24,2%), nas crianças e 17,4% (IC95%: 14,5-22,9%) entre os adolescentes. Entre as crianças, as meninas apresentaram prevalência de baixo peso (5,2%, IC95%: 3,1-7,3%) e excesso de peso (19,7%, IC95%: 16,6-25,2%) mais elevada do que nos meninos (2%, IC95%: 1,1-3,5%; 17,9%, IC95%: 14,3-28,2%), respectivamente, demonstrando associação estatística do estado nutricional com o gênero (p<0,01). Nos adolescentes, também houve a mesma tendência. As meninas apresentaram maiores prevalências de baixo peso (4,7%. IC95%: 2,4-6,5%) e excesso de peso (14,6%. IC95%: 13,3-18,9%), quando comparadas com os meninos (p<0,01).


Observou-se uma tendência linear de aumento da prevalência de EPC de acordo com a idade nas crianças. Houve um aumento significativo de 18 pontos percentuais de EPC entre as idades de seis e 11 anos. Por outro lado, nos adolescentes, notou-se uma relação inversa nesta associação (figura 2). Houve uma diminuição estatística de cerca de 10 pontos percentuais dos valores de prevalência de excesso de peso entre 12 e 16 anos de idade.


A prevalência de EPC também foi analisada em relação aos ajustes para gênero e idade. As tabelas 2 e 3 apresentam os valores de razão de prevalência e seus respectivos intervalos de confiança (IC95%) para crianças e adolescentes no presente estudo. A maior prevalência de EPC, entre as crianças (tabela 2), foi observada entre as meninas (RP=1,81; IC95%=1,49-2,21) quando comparadas com os meninos. Estes valores são estatisticamente significativos mesmo quando ajustados para a idade. Os resultados demonstram que uma criança com 11 anos possui 2,55 maior prevalência de EPC quando comparada com uma criança de seis (6) anos de idade.

No grupo dos adolescentes, as diferenças entre os gêneros foram menores do que aquelas apresentadas nas crianças. Porém a prevalência de EPC esteve associada ao gênero feminino e a idade, somente entre as idades de 15 e 17 anos. Contudo, a associação com a idade foi inversamente proporcional, demonstrando que a idade pode ser vista como um fator de proteção entre os adolescentes para o desenvolvimento do EPC.

DISCUSSÃO

O aumento da epidemia de obesidade tem sido observado em diversos países3. Da mesma forma, nota-se que este aumento tem atingido todas as faixas etárias e níveis socioeconômicos16,17. O presente estudo procurou investigar a realidade do estado nutricional e da associação do EPC com as variáveis de gênero e idade entre escolares (crianças e adolescentes) de uma cidade da região norte do Brasil. Alguns pontos metodológicos merecem destaque nas análises e repercussão dos resultados e conclusões aqui apresentadas. A amostra, apesar de ser representativa e com poder estatístico para as análises empregadas, foi obtida com escolares da rede estadual de ensino, assim, os resultados devem ser vistos com cautela para a extrapolação para outros grupos de adolescentes como: os não escolares, alunos de escolas particulares e grupos indígenas que vivem na região do estudo. Outra limitação relaciona-se à utilização do IMC, que por natureza matemática e lógica, não mede a adiposidade corporal, contudo, é aceito como uma medida internacional para a classificação populacional de excesso de peso e está associado com riscos à saúde16-19.

As análises foram realizadas com a estratificação da amostra em dois grupos: crianças e adolescentes; pois as diferenças atribuídas ao desenvolvimento maturacional são consideráveis entre as idades20. O fato de os adolescentes desse estudo não terem sido classificados de acordo com os níveis de maturação biológica, também pode ter contribuído para a maior associação entre EPC e a idade. Mesmo considerando estas limitações, outros estudos foram realizados com o mesmo delineamento e são importantes para fins de diagnóstico e controle epidemiológico da realidade e mudanças em um dado espaço de tempo1,9.

Os resultados do presente estudo permitem verificar e confirmar a teoria de que as crianças e adolescentes de cidades do norte do Brasil, também passam por um processo de transição nutricional importante. No norte do Brasil, observou-se que houve uma redução de 39% para 23% da desnutrição em crianças e adolescentes nas últimas décadas17. Estes valores são próximos aos relatados em crianças9 e adolescentes12 de Porto Velho-RO. No presente estudo, as prevalências de baixo peso entre as crianças foram menores do que as apresentada por Farias et al.9, isso pode ter sido decorrente das diferenças verificadas na amostra estudada, a qual foi constituída somente por crianças de baixo nível socioeconômico, fator este que não foi avaliado na presente investigação, sendo que, desta forma, poderiam estar inseridos na amostra crianças e adolescentes com diferentes status socioeconômicos. Em relação aos adolescentes, foi verificado uma menor prevalência de baixo peso, quando comparado a outro estudo realizado por FARIAS et al.21 . Isso pode ter ocorrido devido à utilização de diferentes indicadores antropométricos e pontos de corte para o diagnóstico dos casos de desnutrição.

A prevalência de EPC entre as crianças (19,3%) e adolescentes (17,4%) foi similar aos resultados apresentados em adolescentes Europeus22 e superior aos relatados nas regiões nordeste e sudeste do Brasil16. Porém foi concordante com os achados no Suñé et al.,19, os quais avaliaram um grupo de escolares de 11 a 13 anos de idade, reportando uma elevada taxa de sobrepeso e obesidade em torno de 24,8%. De maneira semelhante Terres et al.,23 após avaliarem uma amostra de adolescentes residentes na cidade de Pelotas-RS, com idades entre 15 e 18 anos, registraram uma prevalência de 20,9% de sobrepeso.

Prévios estudos19,24,25 têm demonstrado que este aumento na prevalência de sobrepeso e obesidade entre crianças e adolescentes parece estar relacionado a questões vinculadas a modificação do estilo de vida, levando as crianças e adolescentes a passar mais tempo em atividades sedentárias, o que pode implicar um rápido aumento da epidemia de obesidade no Brasil25.

Da mesma forma, grande parte dos estudos realizados nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil16,19,26, demonstram que o EPC está associado ao gênero, com meninas apresentando maiores prevalências quando comparadas com os meninos, tanto em crianças quanto em adolescentes. Estes resultados são semelhantes aos relatados por Guedes et al.27 em um recente estudo conduzido na cidade de Montes Claros-MG, os quais analisaram 2849 escolares de 6 a 18 anos, revelando que, entre as crianças, as meninas demonstram uma maior chance para desenvolver EPC, comparado aos meninos e um aumento linear para o desenvolvimento deste quadro com o aumento da idade em ambos os gêneros.

De acordo com Malina e Bouchard20, o engajamento dos meninos em atividades de maior gasto calórico, como atividades vigorosas (correr, saltar, jogos de bola), podem explicar esse quadro, isto porque, estes apresentam menor prevalência de EPC. Entre as meninas adolescentes, também parece haver uma maturação sexual antecipada quando comparada com a idade cronológica dos meninos, assim, as meninas possuem uma prevalência maior de excesso de peso20.

A associação entre o EPC e a idade foi significativa (p<0,01), tanto nas crianças quanto nos adolescentes, contudo, o sentido da associação foi diferente. Nas crianças, houve um aumento de 9,7% aos seis anos para 27,7% aos 11 anos, ou seja, houve um aumento linear da prevalência de EPC com a idade. Deve-se observar que, na infância, o aumento de peso é mais acentuado que os ganhos em estatura, isso talvez por que estas crianças não tenham atingido o ápice maturacional20.

Já entre os adolescentes houve uma associação inversa. A idade se mostrou como um fator protetor para o excesso de peso. A preocupação com a imagem corporal, a adoção de maiores níveis de atividade física (de lazer e principalmente de trabalho) e um maior controle do consumo alimentar, podem ser fatores que estejam contribuindo para esta associação inversa. Além disso, é fato que, nas regiões norte e nordeste, os adolescentes contribuam com a sua força de trabalho para o aumento da renda da família, isso pode promover impactos significativos no aumento do nível de atividades físicas, aumentando o gasto calórico e assim diminuir a prevalência de EPC28.

Com isso, a partir dos resultados desse estudo pode-se concluir que são elevadas as prevalências de EPC, entre escolares (crianças e adolescentes) da região Norte do Brasil. Também se observou que o gênero e a idade estão associados ao EPC de peso de forma independente, tanto nas crianças quanto nos adolescentes. Assim, sugere-se que futuros estudos sejam realizados a fim de diagnosticar os padrões e as preferências de atividades físicas em relação ao gênero e a idade, com o intuito de propor intervenções mais eficientes nesta região do Brasil e assim auxiliar no combate a epidemia da obesidade.

Recebido em 05/03/10

Revisado em 20/08/10

Aprovado em 25/10/10

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  • Endereço para correspondência:
    Sergio Gregorio da Silva
    Rua Coração de Maria, 92 - JD Botânico
    80.215-370 - Curitiba, PR - Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Set 2011
    • Data do Fascículo
      Fev 2011

    Histórico

    • Recebido
      05 Mar 2010
    • Aceito
      25 Out 2010
    • Revisado
      20 Ago 2010
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