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Insatisfação com a imagem corporal em adolescentes de uma cidade de pequeno porte: associação com sexo, idade e zona de domicílio

Body image dissatisfaction among adolescents from a small town: association with gender, age, and area of residence

Resumos

Nas últimas décadas, prevalências elevadas de insatisfação com a imagem corporal em adolescentes têm sido observadas. O presente estudo teve por objetivo verificar a associação entre a insatisfação com a imagem corporal e os fatores demográficos em adolescentes. A amostra foi composta por 405 escolares (247 domiciliados na área urbana e 158 na rural), de ambos os sexos, de 14 a 17 anos, do ensino público de um município de pequeno porte. As variáveis demográficas analisadas foram sexo (masculino, feminino), idade (14-15 anos, 16-17 anos) e área de domicílio (urbana, rural). A percepção da imagem corporal foi avaliada por meio da escala de silhuetas corporais. A prevalência de insatisfação com a imagem corporal foi de 56,5%. Tanto os escolares do sexo feminino (26,5%) quanto o masculino (39,5%) desejam apresentar uma maior silhueta corporal. Observou-se associação do sexo com a insatisfação da imagem corporal, revelando que os rapazes apresentaram uma probabilidade 1,24 (IC95%: 1,05-1,47) vezes maior de insatisfação com a imagem corporal que as moças. A prevalência de insatisfação com a imagem corporal é elevada, mesmo em adolescentes residentes em municípios de pequeno porte, sendo mais evidente no sexo masculino. Recomenda-se que profissionais da área da saúde e educação atentem para a importância de incentivar os jovens a conhecerem melhor a si mesmos e ao seu corpo e a refletirem sobre os padrões corporais atuais.

Imagem corporal; Adolescentes; Saúde; Condições sociais


A high prevalence of body image dissatisfaction has been observed among adolescents over the last decades. The aim of this study was to evaluate the association between body image dissatisfaction and demographic factors in adolescents. The sample consisted of 405 boys and girls (247 from an urban area and 158 from a rural area) aged 14 to 17 years enrolled in public schools of a small-sized municipality. The demographic variables analyzed were gender (male, female), age (14-15 years, 16-17 years), and area of residence (urban, rural). The perception of body image was evaluated using a figure rating scale. The prevalence of body image dissatisfaction was 56.5%. Both girls (26.5%) and boys (39.5%) wished to have a larger body silhouette. An association was observed between body image dissatisfaction and gender, with boys showing a 1.24 times higher chance (95%CI: 1.05-1.47) of body image dissatisfaction than girls. The prevalence of body image dissatisfaction is high even among adolescents from small-sized municipalities. Body image dissatisfaction is more prevalent among boys. Healthcare workers and teachers should be aware of the importance to encourage youngster to better understand themselves and their body and to reflect about current body images.

Body image; Adolescents; Health; Social conditions


ARTIGO ORIGINAL

DOI: 10.5007/1980-0037.2011v13n3p202

Insatisfação com a imagem corporal em adolescentes de uma cidade de pequeno porte: associação com sexo, idade e zona de domicílio

Yara Lucy FidelixI; Diego Augusto Santos SilvaI; Andreia PelegriniI,III; Adelson Fernandes da SilvaII; Edio Luiz PetroskiI

IUniversidade Federal de Santa Catarina, Centro de Desportos, Programa de Pós Graduação em Educação Física, Núcleo de Pesquisa em Cineantropometria e Desempenho Humano, Florianópolis, SC, Brasil

IIUniversidade Estadual de Montes Claros. Januária, MG, Brasil

IIIBolsista CAPES

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Yara Lucy Fidelix Universidade Federal de Santa Catarina Centros de Desportos Núcleo de Cineantropometria e Desempenho Humano - UFSC/CDS/NuCiDH Campus Universitário - Trindade - Caixa Postal 476 CEP 88040-900 - Florianópolis, SC, Brasil. E-mail: yarafidelix@hotmail.com

RESUMO

Nas últimas décadas, prevalências elevadas de insatisfação com a imagem corporal em adolescentes têm sido observadas. O presente estudo teve por objetivo verificar a associação entre a insatisfação com a imagem corporal e os fatores demográficos em adolescentes. A amostra foi composta por 405 escolares (247 domiciliados na área urbana e 158 na rural), de ambos os sexos, de 14 a 17 anos, do ensino público de um município de pequeno porte. As variáveis demográficas analisadas foram sexo (masculino, feminino), idade (14-15 anos, 16-17 anos) e área de domicílio (urbana, rural). A percepção da imagem corporal foi avaliada por meio da escala de silhuetas corporais. A prevalência de insatisfação com a imagem corporal foi de 56,5%. Tanto os escolares do sexo feminino (26,5%) quanto o masculino (39,5%) desejam apresentar uma maior silhueta corporal. Observou-se associação do sexo com a insatisfação da imagem corporal, revelando que os rapazes apresentaram uma probabilidade 1,24 (IC95%: 1,05-1,47) vezes maior de insatisfação com a imagem corporal que as moças. A prevalência de insatisfação com a imagem corporal é elevada, mesmo em adolescentes residentes em municípios de pequeno porte, sendo mais evidente no sexo masculino. Recomenda-se que profissionais da área da saúde e educação atentem para a importância de incentivar os jovens a conhecerem melhor a si mesmos e ao seu corpo e a refletirem sobre os padrões corporais atuais.

Palavras-chave: Imagem corporal; Adolescentes; Saúde; Condições sociais.

INTRODUÇÃO

A insatisfação corporal pode ser definida como a avaliação negativa do próprio corpo1, sendo diagnosticada, geralmente, por meio de figuras (silhuetas corporais) e questionários2. O conceito de um corpo bonito tem sofrido várias transformações no decorrer dos anos. Os padrões de beleza, influenciados pela mídia, têm exigido perfis antropométricos cada vez mais magros para as mulheres e fortes para os homens3. Os olhares têm se voltado a corpos moldados por exercícios físicos, cirurgias plásticas e tecnologias estéticas4.

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica5 revelou que o Brasil ficou atrás somente dos Estados Unidos em relação ao número de cirurgias plásticas realizadas mundialmente, em 2004. Fato preocupante é que a maioria das intervenções foi de natureza estética, sendo que 11% desses procedimentos foram realizados em adolescentes na faixa etária de 14 a 18 anos.

A fase da adolescência caracteriza-se por apresentar muitas mudanças físicas e mentais para o indivíduo, e em meio a essas transformações, um protótipo de tipo físico corporal (magro para as mulheres e atlético para os homens) é o que tem sido mais idealizado6, estando a satisfação com a imagem corporal diretamente relacionada a uma melhor autoestima7. Estudos conduzidos em adolescentes revelaram que a insatisfação com a imagem corporal é altamente prevalente durante essa fase da vida, com valores aproximados em torno de 60%8-10.

O sexo feminino apresenta uma tendência em querer reduzir o peso corporal, enquanto no masculino ocorre o inverso, no qual prevalece o desejo de ganhar peso, sobretudo em porte atlético11. Alguns estudos apontam para o fato de que o sexo feminino apresenta maior insatisfação com a imagem corporal8,12. Contudo, Pelegrini e Petroski13 constataram maior insatisfação no sexo masculino quando comparado ao feminino.

Uma maior ou menor prevalência de insatisfação com a imagem corporal pode também estar relacionada à área de domicílio. Triches et al.14 encontraram elevada prevalência de insatisfação com a imagem corporal em escolares do sexo feminino de dois municípios do estado do Rio Grande do Sul, sendo mais elevada nas estudantes residentes na área urbana (65,6%) que nas da rural (52,6%). Contudo, Welch et al.15 não observaram associação significativa entre percepção da imagem corporal e localização geográfica.

Os adolescentes são influenciados por tendências sociais e culturais16, sendo pressionados a materializar, no próprio corpo, o corpo ideal da cultura na qual estão inseridos17, e percebe-se que a insatisfação com a imagem corporal, antes muito relatada em grandes centros urbanos, tem acometido, também, cidades consideradas de pequeno ou médio porte. Adami et al (2008)1 verificaram que 67% dos escolares ( nove a 16 anos) da capital Catarinense estavam insatisfeitos com a imagem corporal, porém, prevalência mais elevada (82%) foi encontrada na capital do Rio Grande do Sul, em escolares de oito a 11 anos18. Diferentes prevalências também são encontradas em cidades pequenas, com valores variando de 63,9% a 85%14,19. Em relação à idade, a insatisfação com a imagem corporal é observada em todas as faixas etárias20,21.

O adolescente demonstra constante preocupação com seu peso, visando um ideal de beleza, e a não aceitação do corpo pode levá-lo a sentir-se excluído da sociedade22. Aliado a isso, observa-se que ainda existem controvérsias em relação aos estudos sobre insatisfação com a imagem corporal em adolescentes (feminino e masculino, residentes em área rural ou urbana). Dessa maneira, este estudo tem como objetivo verificar a prevalência de insatisfação com a imagem corporal associada ao sexo, idade e zona de domicílio em adolescentes.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O estudo sobre a associação entre insatisfação de adolescentes com a imagem corporal e fatores demográficos foi desenvolvido a partir de um estudo transversal denominado "Análise da atividade física e aptidão física relacionada à saúde em escolares rurais e urbanos", aprovado pelo Comitê de Ética das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE) (Parecer 129/09). O estudo foi realizado em uma amostra representativa de adolescentes de escolas públicas estaduais, domiciliados nas áreas urbana e rural, do município de Januária - MG, localizado no Norte de Minas Gerais, região Sudeste do Brasil.

O município de Januária caracteriza-se por ser de pequeno porte, com estimativa de 67.516 habitantes23. A cidade foi fundada em 30/06/1833 e possui 65 bairros divididos em sete zonas: norte, sul, leste, oeste, centro sul, centro oeste e centro norte.

O processo de amostragem foi estratificado por escolas públicas do ensino fundamental e médio em grupos de turmas (salas), tanto da zona rural quanto da urbana. Primeiramente, consideraram-se somente as escolas que ofertavam ensino fundamental e médio, já que por serem as maiores escolas da região, contavam com uma maior quantidade de alunos. Foi feito um sorteio através de uma lista fornecida pelas próprias instituições, definindo quais escolas participariam do estudo. Os alunos da área rural estudavam no próprio distrito, sendo que os alunos que utilizavam transporte escolar ou transporte particular para estudar na zona urbana não participaram da pesquisa. Após, todos os adolescentes de 14 a 17 anos, que estavam presentes em sala de aula no dia da coleta de dados, foram convidados a participar do estudo.

Para a presente análise, adotou-se uma prevalência para o desfecho (insatisfação com a imagem corporal) de 80%18, erro tolerável de cinco pontos percentuais, nível de confiança de 95%, efeito de delineamento de 1,5, acrescentando 15% para possíveis perdas e recusas. Considerando que na região de Januária-MG, 4.495 escolares formavam o ensino fundamental e médio, estimou-se uma amostra de 402 adolescentes. No total, 570 adolescentes do norte de Minas Gerais participaram da amostra.

Todos os responsáveis pelos escolares, após serem informados sobre o propósito da investigação e os procedimentos a serem adotados, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, autorizando a participação dos adolescentes na pesquisa.

As variáveis analisadas no estudo foram: demográficas (sexo: masculino, feminino; idade: 14-15 anos, 16-17 anos; e área de domicílio: urbana e rural) e percepção da imagem corporal.

As informações da percepção da imagem corporal foram obtidas com a utilização da escala de nove silhuetas corporais proposta por Stunkard et al.24. O conjunto de silhuetas era mostrado aos adolescentes e os mesmos respondiam a duas perguntas: Qual a silhueta que melhor representa a sua aparência corporal atual (real)? Qual é a silhueta corporal que você gostaria de ter (ideal)? Quando a variação entre a silhueta real e ideal foi igual a zero, os adolescentes foram classificados como satisfeitos; e se diferente de zero, insatisfeitos. Caso a diferença fosse positiva (real - ideal), era uma insatisfação pelo desejo de reduzir a silhueta e, quando negativa, uma insatisfação pelo desejo de aumentar.

Para verificar as possíveis diferenças de frequência entre as variáveis, utilizou-se o teste qui-quadrado. Ao verificar que a variável dependente (insatisfação com a imagem corporal) apresentou uma prevalência elevada, utilizou-se a regressão de Poisson com ajuste robusto para variância, para examinar as associações entre o desfecho com os aspectos demográficos, estimando-se razões de prevalência e os intervalos de confiança. Todas as variáveis foram introduzidas no modelo de regressão. O nível de significância foi estabelecido em 5% (IC95%).

RESULTADOS

Foram excluídos da amostra 165 escolares por não responderem completamente o questionário de imagem corporal. Assim, a amostra final foi composta por 405 adolescentes, de ambos os sexos, sendo 247 domiciliados na área urbana e 158 na área rural.

A prevalência de insatisfação com a imagem corporal foi de 56,5%, sendo mais elevada no sexo masculino (63,5%), quando comparado ao feminino (51,7%; p < 0,05).

Quando a insatisfação com a imagem corporal foi dicotomizada em deseja reduzir e deseja aumentar o tamanho da silhueta corporal, observou-se que tanto o sexo masculino (39,5%) quanto o feminino (26,5%) desejam aumentar o tamanho corporal (Tabela 1).

A tabela 2 apresenta os resultados da razão de prevalência (bruta e ajustada) entre insatisfação com a imagem corporal e variáveis demográficas (sexo, idade e área de domicílio). Os resultados indicaram que tanto na análise bruta quanto na ajustada, a única variável que se associou com a insatisfação corporal foi o sexo. Na análise ajustada, observa-se que os rapazes apresentaram uma probabilidade de 1,24 vezes maior de insatisfação com a imagem corporal que as moças.

DISCUSSÃO

A prevalência de insatisfação com a imagem corporal foi de 56,5%. Resultado semelhante foi encontrado por Vilela et al.10, que constataram insatisfação com a imagem corporal em 59% dos escolares (sete a 19 anos) de Porto Alegre-RS. Por outro lado, na mesma cidade, prevalência superior (82%) aos achados do presente estudo foi encontrada por Pinheiro e Giugliani18, com escolares de oito a 11 anos. Estes resultados sugerem que, em um mesmo local, com idades semelhantes e em um curto intervalo de tempo (2004-2006, respectivamente), crianças e adolescentes têm se mostrado insatisfeitos com a imagem corporal.

Os adolescentes do sexo masculino do presente estudo apresentaram maior insatisfação com a imagem corporal (63,5%), quando comparados aos do sexo feminino (51,7%). Pelegrini e Petroski13, ao avaliar adolescentes (14 a 18 anos) da rede pública de Florianópolis-SC, verificaram que 72,6% dos adolescentes do sexo masculino estavam insatisfeitos com a imagem corporal, enquanto que o sexo feminino representava 61,8% dessa categoria. Prevalências similares de insatisfação com a imagem corporal entre os sexos (67,5% para o sexo masculino e 67,6% para o sexo feminino) foram encontrados por Graup et al.9 ao analisarem escolares (nove a 16 anos) da rede pública e privada, mostrando haver um maior equilíbrio relacionado à insatisfação corporal entre os sexos, quando comparado ao presente estudo.

Branco et al.12, utilizando instrumentos diferentes para avaliação da insatisfação corporal, verificaram em adolescentes de São Paulo-SP (14 a 19 anos) que as meninas tenderam a apresentar maior insatisfação que os meninos. Graham et al.25 apontaram que a insatisfação com a imagem corporal parece ser uma marca feminina, sobretudo, na adolescência, fase em que o corpo estabelece seu formato. Contudo, estudos recentes9,13,26 comprovaram que a insatisfação com a imagem corporal tem afetado em grande escala o sexo masculino, necessitando de maiores investigações nessa temática.

No momento em que a insatisfação com a imagem corporal foi dicotomizada em deseja reduzir e deseja aumentar o tamanho da silhueta corporal, observou-se que, tanto o sexo masculino (39,5%) quanto o feminino (26,5%) desejam aumentar o tamanho corporal, entretanto, foi observada uma frequência maior para o sexo masculino em relação ao feminino. Estes achados diferem dos encontrados por Pinheiro e Giugliani18, os quais verificaram que 55,0% dos adolescentes do sexo feminino almejavam ter um corpo mais magro e 28,0% do sexo masculino desejavam ter um corpo maior.

Mesmo apresentando algum tipo de insatisfação, os meninos almejam silhuetas corporais maiores, possivelmente, desejando aparentar um maior desenvolvimento muscular. Estes resultados são confirmados pela literatura, a qual demonstra que o sexo feminino, geralmente, deseja diminuir a silhueta corporal23, enquanto o masculino aspira corpos mais fortes10, o que pode estar relacionado a fatores culturais, sendo que os rapazes são estimulados a realizarem atividades com predominância do desenvolvimento físico e muscular, enquanto as moças são instigadas a desenvolverem atividades que lhes forneçam perda de peso com ênfase no caráter estético27.

O presente estudo não encontrou associação entre insatisfação com a imagem corporal e idade. Resultado semelhante foi verificado no estudo de Triches et al.14, que também não encontraram relação significativa da insatisfação com a imagem corporal e idade, porém observaram uma tendência de mudança, revelando um maior desejo de emagrecer com o passar dos anos.

Os resultados encontrados pelo presente estudo mostraram que, independentemente da idade, todos estão expostos ao descontentamento com a imagem corporal. Atrelados a esse contexto, a literatura tem demonstrado que a manifestação com a insatisfação corporal ocorre em todas as fases da vida: crianças20, adolescentes28, adultos21 e idosos29.

A presente pesquisa não encontrou associação entre área domiciliar (rural e urbana) e insatisfação com a imagem corporal. A prevalência de insatisfação com a imagem corporal nos adolescentes da área rural (51,3%) e urbana (59,9%) foi semelhante, corroborando o estudo realizado com adolescentes de 13 a 17 anos, da região Sul do Brasil, domiciliados em áreas distintas (64,2% rural e 62,8% urbano)28. Em contrapartida, Triches et al.14 avaliando escolares de dois municípios de pequeno porte, da área rural e urbana, encontraram diferentes graus de insatisfação com o corpo, ocorrendo uma maior insatisfação corporal na zona urbana, constituído, principalmente, pelo desejo de uma silhueta menor.

Prevalência semelhante de insatisfação com a imagem corporal (67%) foi encontrada em adolescentes de nove a 16 anos, matriculados em escolas públicas e particulares de Florianópolis-SC, sendo a insatisfação manifestada, principalmente, em relação ao excesso de gordura corporal9, mostrando, assim, que tanto adolescentes de cidades de pequeno porte quanto de grandes centros urbanos, demonstram prevalência elevada de insatisfação com a imagem corporal.

Esperava-se encontrar maior prevalência de insatisfação corporal nos adolescentes que residem na área urbana, os quais, teoricamente, estão mais expostos à cultura da magreza, por terem mais acesso aos meios de comunicação e a mídia. Deste modo, é possível sugerir que a insatisfação corporal tem atingido os adolescentes, independentemente do local em que vivem.

A principal limitação do estudo refere-se ao instrumento utilizado para diagnosticar a imagem corporal que, apesar de amplamente disseminado na literatura, não possui evidência de validade determinada para a população jovem brasileira. Além disso, as figuras corporais são bidimensionais o que pode implicar falhas na representação total do corpo e na distribuição da massa de gordura. O porte da cidade de Januária também pode ter influenciado nos resultados referentes à zona residencial, já que por se tratar de um pequeno município, zonas rural e urbana ficam muito próximas, estando o acesso à informação disponível a todos. Sugere-se que para os próximos estudos variáveis antropométricas sejam mensuradas, a fim de reproduzir melhor a composição corporal dos adolescentes e associá-las à insatisfação com a imagem corporal.

CONCLUSÕES

Os dados do presente estudo permitem concluir que a prevalência de insatisfação com a imagem corporal é elevada, semelhante à reportada em outras cidades brasileiras. O sexo masculino mostrou-se mais insatisfeito com sua imagem corporal, desejando um corpo mais forte e atlético. A idade e a zona de residência não estiveram associadas à insatisfação com a imagem corporal. Neste sentido, recomenda-se que pais, educadores e profissionais da saúde atentem para a alta prevalência de insatisfação corporal entre adolescentes e para a necessidade de estratégias que visem à maior satisfação das pessoas com o seu corpo.

Recebido em 15/08/10

Revisado em 26/10/10

Aprovado em 22/11/10

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  • Endereço para correspondência:
    Yara Lucy Fidelix
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      25 Jul 2011
    • Data do Fascículo
      Jun 2011

    Histórico

    • Aceito
      22 Nov 2010
    • Revisado
      26 Out 2010
    • Recebido
      15 Ago 2010
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