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Política de periódicos nacionais em Educação Física para estudos de revisão/sistemática

Policy of national physical education journals on review articles/systematic reviews

Resumos

A grande quantidade de informações científicas produzidas e disponíveis nas diversas áreas, e também na Educação Física, traz a necessidade de sínteses dos conteúdos. Diferentes métodos de síntese/revisão são apresentados, podendo levar a diferentes respostas. Neste contexto objetivou-se verificar a política dos periódicos nacionais na área de Educação Física quanto a artigos de revisão, quantificar as revisões e classificá-las quanto à tipologia. Nesta pesquisa, do tipo bibliográfica, foram selecionados artigos de revisão e classificadas as revisões nos tipos sistemática e narrativa, a partir de critérios estabelecidos. Todos periódicos (13) apresentam possibilidade de publicação de artigos de revisão, mas não apresentam normas/métodos formulados especificamente para este tipo de artigo. Foi observada uma considerável produção de artigos de revisão (429), sendo 371 (86%) revisões narrativas e 58 (14%) sistemáticas. A priori, revisões narrativas são voltadas a produções de conhecimento por pesquisadores de prestígio cientifico e, o volume de produções deste tipo, por mais diversificada em temas que possa ter a Educação Física, não parece ser proporcional à quantidade reconhecida destes pesquisadores. Isto pode acarretar em menor qualidade da produção cientifica e rejeição a artigos desta natureza, como observado em periódicos de outras áreas. Devido ao critério em seu método, revisões sistemáticas parecem de maior valia em situações que pesquisadores não renomados desejem produzir artigos de revisão, evitando um desfecho precário. Esta forma apresenta maior rigor cientifico, com passos e normas para sua realização e, também, parece ser mais apreciada por editores de periódicos, sendo até classificados como artigos originais.

Educação física; Revisão; Revisão por pares; Revisão acadêmica; Revisão sistemática


The large amount of scientific information that is produced and available in different areas, including physical education, requires the summary of contents. Different synthesis/review methods that lead to different answers are available. The objective of this study was to analyze the policy of national physical education journals on review articles, to quantify the reviews, and to classify them as systematic and narrative reviews based on established criteria. All journals (n=13) offer the possibility to publish review articles, but do not have specific standards/methods for this type of article. The production of review articles was high (n=429), with the publication of 371 (86%) narrative reviews and 58 (14%) systematic reviews. A priori, narrative reviews are used for the production of knowledge by internationally renowned scientific researchers. However, the volume of production of this type of review, as diverse as the issues in physical education are, does not seem to be proportional to the number of recognized researchers. This fact can lead to lower quality of the scientific production and rejection of these articles, as observed for journals in other areas. In view of the criteria and method employed, systematic reviews seem to be more valuable in situations in which no renowned researchers wants to produce review articles, avoiding a poor outcome. This type of review is characterized by more scientific rigor, whose production follows specific steps and standards, and also seems to be more appreciated by journal editors, with these reviews sometimes even being classified as original articles.

Narrative review; Physical education; Review; Peer review; Systematic review


ARTIGO DE REVISÃO

Política de periódicos nacionais em Educação Física para estudos de revisão/sistemática

Policy of national physical education journals on review articles/systematic reviews

Gustavo Ricardo SchützI, II; Antônio Sérgio Santos Sant'AnaIII; Saray Giovana dos SantosI

IUniversidade Federal de Santa Catarina. Laboratório de Biomecânica. Programa de Pós-Graduação em Educação Física. Florianópolis, SC. Brasil

IIUniversidade do Estado de Santa Catarina. Laboratório de Pesquisas em Biomecânica Aquática. Florianópolis, SC. Brasil

IIIUniversidade Federal de Santa Catarina. Laboratório de Pedagogia do Esporte. Programa de Pós-Graduação em Educação Física. Florianópolis, SC. Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Saray Giovana dos Santos Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Despostos Programa de Pós-Graduação em Educação Física 88040-900 - Florianópolis, SC. Brasil E-mail: saray@cds.ufsc.br; gugaschutz@hotmail.com

RESUMO

A grande quantidade de informações científicas produzidas e disponíveis nas diversas áreas, e também na Educação Física, traz a necessidade de sínteses dos conteúdos. Diferentes métodos de síntese/revisão são apresentados, podendo levar a diferentes respostas. Neste contexto objetivou-se verificar a política dos periódicos nacionais na área de Educação Física quanto a artigos de revisão, quantificar as revisões e classificá-las quanto à tipologia. Nesta pesquisa, do tipo bibliográfica, foram selecionados artigos de revisão e classificadas as revisões nos tipos sistemática e narrativa, a partir de critérios estabelecidos. Todos periódicos (13) apresentam possibilidade de publicação de artigos de revisão, mas não apresentam normas/métodos formulados especificamente para este tipo de artigo. Foi observada uma considerável produção de artigos de revisão (429), sendo 371 (86%) revisões narrativas e 58 (14%) sistemáticas. A priori, revisões narrativas são voltadas a produções de conhecimento por pesquisadores de prestígio cientifico e, o volume de produções deste tipo, por mais diversificada em temas que possa ter a Educação Física, não parece ser proporcional à quantidade reconhecida destes pesquisadores. Isto pode acarretar em menor qualidade da produção cientifica e rejeição a artigos desta natureza, como observado em periódicos de outras áreas. Devido ao critério em seu método, revisões sistemáticas parecem de maior valia em situações que pesquisadores não renomados desejem produzir artigos de revisão, evitando um desfecho precário. Esta forma apresenta maior rigor cientifico, com passos e normas para sua realização e, também, parece ser mais apreciada por editores de periódicos, sendo até classificados como artigos originais.

Palavras-chave: Educação física; Revisão; Revisão por pares; Revisão acadêmica; Revisão sistemática.

ABSTRACT

The large amount of scientific information that is produced and available in different areas, including physical education, requires the summary of contents. Different synthesis/review methods that lead to different answers are available. The objective of this study was to analyze the policy of national physical education journals on review articles, to quantify the reviews, and to classify them as systematic and narrative reviews based on established criteria. All journals (n=13) offer the possibility to publish review articles, but do not have specific standards/methods for this type of article. The production of review articles was high (n=429), with the publication of 371 (86%) narrative reviews and 58 (14%) systematic reviews. A priori, narrative reviews are used for the production of knowledge by internationally renowned scientific researchers. However, the volume of production of this type of review, as diverse as the issues in physical education are, does not seem to be proportional to the number of recognized researchers. This fact can lead to lower quality of the scientific production and rejection of these articles, as observed for journals in other areas. In view of the criteria and method employed, systematic reviews seem to be more valuable in situations in which no renowned researchers wants to produce review articles, avoiding a poor outcome. This type of review is characterized by more scientific rigor, whose production follows specific steps and standards, and also seems to be more appreciated by journal editors, with these reviews sometimes even being classified as original articles.

Key words: Narrative review; Physical education; Review; Peer review; Systematic review.

INTRODUÇÃO

É possível observar, nas últimas décadas, um acúmulo de grande quantidade de informações científicas produzidas e disponíveis nas diversas áreas do conhecimento, como na área da saúde1,2. Não diferente na Educação Física, como destacado por Kunz3, que cita ser inegável que a Educação Física brasileira alcançou um extraordinário desenvolvimento na produção científica.

Entretanto, esta abundância de publicações traz a necessidade de sínteses que possam facilitar o acesso ao conjunto de informações e possibilitar conclusões derivadas da confrontação/combinação de resultados oriundos de múltiplas fontes4, pois o fluxo contínuo de informações pode transformar o processo5 e consequentemente, a tomada de decisões de profissionais da área.

Tais sínteses têm sido realizadas de vários modos diferentes, conforme seus objetivos, natureza dos estudos primários com os quais trabalham, etc. As questões metodológicas são importantes, desde a realização dos estudos primários até a tentativa de reunir o conjunto desses estudos e sumariá-los. Métodos de síntese diferentes podem levar a respostas diferentes para uma mesma pergunta. Assim, têm sido buscadas formas mais rigorosas de processar as revisões da literatura científica, tanto no campo da pesquisa qualitativa quanto no da quantitativa ou, ainda, na integração das duas6.

Dentro deste contexto de métodos de síntese, com necessidade de maior rigor em suas propostas, apresenta-se a revisão sistemática. As revisões sistemáticas são investigações científicas em si mesmas, com métodos pré-planejados e um conjunto de estudos originais como seus sujeitos. Elas sintetizam os resultados de várias investigações preliminares por meio de estratégias que limitam vieses e erros aleatórios7. Assim, baseadas na revisão de estudos primários, permitem uma avaliação mais profunda do objeto de pesquisa.

A revisão sistemática exige um esforço muito maior do que as opiniões tradicionais, observados, por muitas vezes, em revisões narrativas (convencionais ou tradicionais). Sua grande vantagem é fornecer informações sobre os efeitos de alguns fenômenos através de uma ampla gama de configurações e métodos empíricos8. Ou seja, os estudos dão resultados consistentes e as fontes de variações podem ser estudadas.

A deficiência em revisões narrativas, por falta do método científico, reprodutível e de critérios em sua análise, pode ser motivo de uma redução do interesse de periódicos na publicação de artigos de revisão. Esta redução, ou até suspensão, pode ser observada em editoriais de periódicos da área da saúde, como descrito em Cabral-Filho9 e também por Mancini e Sampaio1, o que pode vir a ocorrer ou já está ocorrendo na Educação Física.

Neste contexto, objetivou-se verificar a política dos periódicos nacionais na área de Educação Física quanto a artigos de revisão, quantificar o número desta forma de publicação e classificá-las quanto à tipologia.

PREOCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta é uma pesquisa teórica do tipo bibliográfica. Para Cervo et al.10, a pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em artigos, livros, dissertações e teses. Pode ser realizada independentemente ou como parte da pesquisa descritiva ou experimental. Em ambos os casos, busca-se conhecer e analisar as contribuições culturais ou cientificas do passado sobre determinado assunto.

Inicialmente, foram selecionados os periódicos nacionais pertencentes aos extratos B1, B2 e B3 pelo sistema Qualis/Capes, da área de avaliação "Educação Física" e que apresentassem relação direta com a área da Educação Física. Foi verificada a política dos periódicos quanto à publicação de artigos de revisão.

Foram então selecionados os artigos encontrados nas seções específicas de artigos de revisão ou que, em seu título, apresentavam os unitermos: revisão, revisão de literatura, estado da arte, sistemática, revisão sistemática. Foram coletadas publicações de 2004 até o presente momento (julho de 2010), sendo analisados os artigos que puderam ser coletados na íntegra.

Primeiramente, foram identificadas as publicações potencialmente elegíveis para inclusão, contabilizando o número total de artigos de revisão encontrados. Em seguida, identificaram-se os artigos que atenderam aos seguintes critérios, segundo Kitchenham8, para serem consideradas revisões sistemáticas: (a) definição de um protocolo de revisão que especifica a pesquisa questão a ser abordada e os métodos que serão utilizados para realizar a revisão; (b) locais de busca definidos, que visam detectar onde a literatura mais relevante possível foi encontrada; (c) documentar sua estratégia de busca, quando ao rigor e forma; (d) detalhar quanto à seleção dos estudos, com critérios de inclusão e exclusão; (e) especificar as informações primárias a serem obtidas em cada estudo, incluindo critérios de qualidade pelo qual irá se avaliar cada estudo. Definiu-se, assim, o número de publicações de revisão sistemática. As demais revisões foram consideradas do tipo narrativa, como definidas por Rother11 e Berwanger et al.12.

RESULTADOS

Foram encontrados três, seis e quatro periódicos, relativos aos extratos B1, B2 e B3, respectivamente, do sistema Qualis/Capes, da área de avaliação "Educação Física" e que apresentassem relação direta com a área da Educação Física, totalizando 13 periódicos.

Todos os periódicos analisados apresentam em seus editoriais a possibilidade de publicação de artigos de revisão, a opção para submissão apresentava-se disponível e não expressava nenhuma norma quanto ao (s) tipo (s) de revisão que poderia ser empregado. Alguns periódicos destacavam que este tipo de publicação é habitualmente encomendado pelo editor da revista a autores com experiência, renome e/ou vasto currículo acadêmico em determinado assunto.

Somente em dois periódicos havia menção ao tipo de revisão possível de ser realizada, quando o autor não cumpre os quesitos de experiência comprovada em determinado assunto. Um dos periódicos apontava as normas para que artigo de revisão apresentasse uma avaliação crítica e sistematizada. No outro periódico, somente artigos de revisão sistemática eram aceitos e enquadrados como artigos originais.

Foram observados 429 artigos de revisão publicados, sendo 371 artigos (86%) classificados como do tipo narrativa e 58 artigos (14%) classificados como do tipo sistemática.

DISCUSSÃO

Um dos grandes desafios de uma área é desenvolver um corpo de conhecimento sólido que possa fundamentar e nortear a prática. Com o aumento do número de cursos de pós-graduação e com o estímulo à produção científica, como destacado anteriormente, observa-se um crescimento das publicações nas áreas de saúde1,2 e não diferente na Educação Física. A grande quantidade de publicações traz a necessidade de que sínteses de informações sejam realizadas e disponibilizadas.

Uma revisão da literatura é uma classificação e avaliação das investigações que pesquisadores escreveram sobre um tópico, organizado de acordo com um conceito direcionado ao seu objetivo da pesquisa, tese, ou o problema de investigação13. Os trabalhos de revisão, segundo Noronha e Ferreira14 analisam a produção bibliográfica em determinada área temática, dentro de um período de tempo, fornecendo uma visão geral do estado da arte, evidenciando novas ideias, métodos e/ou sub-temas que têm recebido maior ou menor ênfase na literatura selecionada. Taylor15 define revisão de literatura como uma tomada de contas sobre o que foi publicado acerca de um tópico específico, tratando, então, de um tipo de texto que reúne e discute informações produzidas na área de estudo.

A revisão pode ser por si só um trabalho completo, pode aparecer como componente de uma publicação ou, ainda, organizada em publicações que analisam o desenvolvimento de determinada área16. Independente da finalidade, Rother11 cita duas categorias de artigos denominados de revisão encontrados na literatura: as revisões narrativas e as revisões sistemáticas, com diferentes características e objetivos.

Dentre estas categorias, e não diferente dos resultados desta pesquisa, revisões do tipo narrativa são as mais encontradas. A revisão da literatura narrativa apresenta uma temática mais aberta, dificilmente parte de uma questão específica bem definida, não exige um protocolo rígido para sua confecção e a busca das fontes não é pré-determinada e específica, sendo frequentemente menos abrangente. Soma-se, ainda, a arbitrária seleção dos artigos, provendo o autor de informações sujeitas a viés de seleção, com possível interferência da percepção subjetiva2. Mancini e Sampaio1 apontam dois tipos dentro desta forma de revisão crítica da literatura: estudos de revisão passiva, que sintetizam estudos sobre um tema; ou revisões opinativas, que analisam a evidência existente sobre um assunto. São estudos nos quais os autores resumem, analisam e sintetizam as informações disponibilizadas na literatura, mas não seguem necessariamente um método pré-definido. Muitos periódicos nacionais e internacionais têm adotado a política de publicar esse tipo de artigo de revisão a partir de convites a autores de reconhecida competência no assunto/área.

Em contrapartida, periódicos e editores recebem manuscritos que lhe são enviados por autores não convidados. Alguns manuscritos apresentam boa qualidade quanto a todos os critérios, seja de forma, de estilo ou de conteúdo, entretanto, outros deixam a desejar. Os problemas para um periódico surgem quando a oferta de manuscritos para revisão do tipo narrativa ou de "estado da arte" torna-se muito grande, como vem acontecendo, mas com a maior parte dos manuscritos sem atingir um bom nível científico. De fato, o volume de trabalho do periódico desde a triagem dos manuscritos pelos editores, é quase hercúleo devido à quantidade de manuscritos recebidos. Certamente, um trabalho de revisão tem a sua especificidade e requer grande conhecimento do tema, assim, ao ser escrito por pesquisadores de pouca experiência terá um desfecho precário para o periódico9.

A maior percentagem dos artigos de revisão encontrada, por ser do tipo narrativo, pode resultar numa queda da qualidade das publicações e por ventura, dificultar que os periódicos tenham melhores conceitos. Mesmo sendo a Educação Física abrangente, com uma grande diversidade de focos e objetos de estudos, não parece existir a mesma quantidade de especialistas que possam proporcionar que estas publicações apresentem certo nível cientifico. Outro ponto a ser destacado é a quantidade de autores presentes em cada artigo, muitos artigos com um número de autores demasiado (quatro autores ou mais) o que não pode realmente expressar a visão do especialista em determinado assunto. Soma-se a isto, o exposto por Job, Mattos e Trindade17, que a avaliação dos aspectos metodológicos, por muitas vezes inexistentes em revisões narrativas, é um dos principais fatores de rejeição de manuscritos submetidos aos periódicos.

Por outro lado, estudos de revisão sistemática da literatura adotam um método padronizado, com procedimentos de busca, seleção e análise bem delineados e claramente definidos, permitindo ao leitor apreciar a qualidade das pesquisas e a validade das conclusões feitas pelos autores. Pode ser definida como um tipo de investigação científica que tem por objetivo reunir, avaliar criticamente e conduzir uma síntese dos resultados de múltiplos estudos primários7 e que, devido aos seus próprios critérios de qualidade, quando bem feitas, preenchem os requisitos para uma boa publicação9. Esta forma ainda facilita o trabalho de editores e revisores, possibilitando uma avaliação mais crítica do conteúdo desenvolvido, através de critérios de análise e elementos importantes a serem observados nas avaliações dos manuscritos, como os descritos por Berwanger et al.12 em seu trabalho.

Uma boa revisão sistemática é baseada na formulação adequada de uma pergunta (problema). Uma pergunta bem estruturada é o começo de uma boa revisão sistemática, pois define quais serão as estratégias adotadas para identificar os estudos que serão incluídos e quais serão os dados que necessitam ser coletados de cada estudo2. Para Silva18, o autor de uma revisão sistemática tem de determinar claramente o tema a ser revisado; identificar, selecionar e avaliar criticamente a qualidade dos estudos primários; coletar e sintetizar as informações relevantes quantitativamente ou qualitativamente; elaborar conclusões. E principalmente, podem ser considerados trabalhos originais, pois além de utilizar dados da literatura sobre determinado tema, são elaborados com rigor metodológico11,12.

Os procedimentos metodológicos para a realização de uma revisão sistemática podem ser encontrados nas publicações de Alderson, Green e Higgins19 e do CRD's guidance for undertaking reviews in health care20 publicado pelo Centre for Reviews and Dissemination da Universidade de York. Castro21 e Rother11, com base em versões anteriores destes documentos, apontam sete passos para o seu desenvolvimento e aplicados às normas brasileiras, sendo destacados abaixo:

a) Formulação da pergunta - a realização de uma revisão sistemática deve ser iniciada com a formulação de uma pergunta que define os sujeitos/pacientes/doença e a intervenção, sendo a base para decisão do que deve ou não ser incluído na revisão.

b) Localização dos estudos - devem ser utilizadas várias fontes de busca para localização e identificação dos estudos, devendo ser incluídos estudos relevantes das principais bases de dados eletrônicas: Medline, Cinahl, Embase, Lilacs, Cochrane Controlled Trials Database, SciSearch. Além de outras fontes de informação como: trabalhos publicados em anais de congressos, estudos de especialistas e buscas manuais em revistas não disponíveis nas bases de dados. Para cada uma dessas fontes, que forem utilizadas, deve ser detalhada a estratégia de busca.

c) Avaliação crítica dos estudos - são critérios para determinar a validade dos estudos selecionados. Essa avaliação crítica permite determinar quais estudos irão ser utilizados na revisão. Os que não preencherem os critérios de validade deverão ser citados e explicados o motivo de sua exclusão.

d) Coleta de dados - todas as variáveis estudadas devem ser observadas e resumidas, além das características do método, dos participantes e dos desfechos clínicos. Isto permitirá determinar a possibilidade de comparar ou não os estudos selecionados.

e) Análise e apresentação dos dados - os estudos deverão ser agrupados baseados na semelhança entre os estudos. Cada um desses agrupamentos deverá ser pré-estabelecido no projeto, assim como a forma de apresentação gráfica e numérica, para facilitar o entendimento do leitor.

f) Interpretação dos dados - é determinada a força da evidência encontrada, a aplicabilidade dos resultados, o custo e a prática corrente que sejam relevantes, determinando claramente os limites entre os benefícios e os riscos.

g) Aprimoramento e atualização da revisão - uma vez publicada, a revisão receberá sugestões e críticas que devem ser incorporadas às edições subsequentes, caracterizando uma publicação dinâmica que deve ser atualizada cada vez que surjam novos estudos no tema.

Quando realizado um método estatístico na análise e síntese dos resultados (item "e") dos estudos incluídos, tem-se uma revisão sistemática com meta-análise. Meta-análise é definida por Thomas, Nelson e Silverman22 como a técnica de revisão de literatura que contém um método definido e quantifica os resultados de vários estudos para uma métrica padrão, que assim permite o uso de técnicas estatísticas como meio de análise. Os métodos estatísticos (meta-análise) podem ou não ser utilizados na análise e na síntese dos resultados dos estudos incluídos2,21. Egger e Smith23 citam que a análise estatística dos resultados de estudos independentes, geralmente pretende produzir, em uma única estimativa, o efeito de tratamento.

Com muita frequência, o termo meta-análise aparece como significado de uma revisão completa, que inclui busca na literatura, extração de dados e combinação dos dados quantitativos. Outras vezes, o termo é restrito à descrição da síntese quantitativa de diferentes estudos dentro de uma revisão sistemática. Há autores que descrevem meta-análise como uma revisão sistemática quantitativa12,24, outros, mais especificamente, como a combinação estatística de pelo menos dois estudos, para produzir uma estimativa única23.

Revisões sistemáticas geralmente utilizam escalas ou formulários que definem critérios e que norteiam a apreciação crítica da qualidade da evidência científica disponibilizada pelos artigos selecionados. Estudos com meta-análise acrescentam uma síntese quantitativa dos efeitos disponibilizados pelos artigos originais. Desta forma, revisões sistemáticas estão localizadas em níveis superiores na hierarquia da evidência científica e mais conclusiva, quando comparadas com revisões narrativas, indicando maior rigor metodológico1.

Buscando resumir as informações comparativas entre revisões sistemáticas e narrativas, são apresentadas, no Quadro 1, diferenças pontuais entre estes dois tipos, traduzido e adaptado de Cook et al.7.


Como exemplo de uma revisão sistemática em Educação Física, é apresentado, na sequência, o método desenvolvido no artigo publicado por Garcia-Massó, Colado e Moraes Filho25, publicado dentro da seção de artigos originais, mesmo tratando-se de uma revisão.

Inicialmente, foi definida a temática (problema) a ser abordada, sendo o foco desse estudo avaliar a efetividade dos programas de atividade física no tratamento e na prevenção de lesões músculoesqueléticas (LME), típicas de profissões que fazem uso de computadores, por meio de uma revisão bibliográfica.

Em seguida, no método, foram definidas as fontes de pesquisa, assim como as estratégias de busca: "Foi então realizada uma busca na literatura utilizando-se como base de dados o acervo da MEDLINE. A busca limitou-se a trabalhos originais e revisões publicadas entre 1995 e 2008 [...] Não foram utilizadas restrições de linguagem, mas as seguintes combinações de palavras-chave: i) "physical exercise" and "ocupational health", ii) "physical activity" and "ocupational health", iii) "musculoskeletal diseases" and "computer workers", iv) "musculoskeletal diseases" and "office workers"".

Quanto à forma de seleção, foi então descrito: "procedeu-se à seleção de artigos que indicavam, em seu resumo: i) O objetivo do trabalho era analisar o efeito da atividade física como ferramenta profilática e/ou como tratamento das LME em sujeitos que trabalhavam com computador durante grande parte da jornada laboral; ii) trabalhos cujo objetivo foi avaliar a eficácia da atividade física sobre a prevenção e o tratamento das LME em pessoas de diferentes setores profissionais; iii) estudos que estabelecessem áreas de incidência de LME em pessoas que utilizam o computador durante muito tempo em seu trabalho. Após a leitura completa dos trabalhos selecionados, realizou-se uma busca adicional dos artigos citados que aparentemente cumpriam com os critérios de inclusão anteriormente expostos".

E por fim, especificaram as informações primárias a serem obtidas em cada estudo, incluindo critérios de qualidade pelo qual irá se avaliar cada estudo: "Para serem incluídos nesta revisão, os artigos que avaliavam o papel da atividade física na prevenção ou melhora da saúde musculoesquelética (SME) deveriam utilizar, pelo menos, uma das seguintes variáveis para determinar a eficácia da atividade física como agente profilático ou tratamento das LME: i) funcionalidade da área lesionada; ii) estado geral da saúde; iii) dor (i. e. predomínio, intensidade e umbral da dor por pressão); iv) incapacidade laboral e dias de abstenção laboral devido à LME. Todos esses itens referidos refletem o efeito e a influência que um programa de atividade física pode ter sobre as diversas áreas da vida desses participantes ao melhorar sua SME. Por outro lado, os artigos que determinavam quais eram as principais áreas de LME relacionadas com o trabalho naquelas pessoas que utilizavam o computador em sua jornada laboral deveriam utilizar algumas das seguintes variáveis: i) predomínio da dor; ii) intensidade da dor; iii) freqüência da dor; iv) duração da dor; v) diminuição da produtividade em virtude da dor. Todas essas variáveis estão relacionadas com a dor, a qual é considerada o principal sintoma de LME, tanto específicas como não específicas.

Também foi observada, durante o desenvolvimento do método do estudo, a quantificação das referências encontradas: "Foram identificados 323 trabalhos sobre o assunto de interesse, dos quais 33 eram trabalhos de revisão e 290 trabalhos originais". E após a análise criteriosa quantos realmente preencheram os critérios de inclusão para fazerem parte da revisão: "... após considerar os critérios de seleção anteriormente expostos, foram incluídos 45 trabalhos, dos quais 15 foram de revisão e os restantes, trabalhos originais. Dentre estes trabalhos, sete avaliaram a função profilática do exercício físico, sendo apenas dois deles originais. Também foram encontrados 35 artigos que analisavam o papel terapêutico dos programas de atividade física, dos quais, 22 eram originais e o restante, revisões. Dos trabalhos originais encontrados, 8 estabeleceram quais eram as áreas de LME dos profissionais que utilizam computador durante longo período de tempo". Após estes procedimentos, o autor detalha, então, dentro da temática, os pontos de interesse do objeto de estudo.

Em suma, revisões sistemáticas utilizam uma estrutura com o objetivo de evitar viés ou subjetividade, tendenciosidade no resultado, que por ventura, possam vir a ocorrer em revisões narrativas, quando estas não são realmente desenvolvidas por pesquisadores de renome em determinado tema.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todos os periódicos nacionais na área da Educação Física analisados apresentavam em seus editoriais a possibilidade de publicação de artigos de revisão, sem apontar normas formuladas especificamente para este tipo de artigo. Foi observada a existência de uma considerável produção de artigos de revisão, sendo a maioria do tipo narrativo e em menor expressão do tipo sistemática.

A priori, revisões narrativas são voltadas, principalmente, a produções de conhecimento por pesquisadores de prestígio científico em determinada área e/ou assunto. O volume de produções deste tipo, assim como a quantidade de autores nas publicações, por mais diversificados temas que possa ter a Educação Física, não parece ser proporcional à quantidade reconhecida destes pesquisadores. Isto pode acarretar em menor qualidade da produção científica e numa futura rejeição de artigos desta natureza, como observado em periódicos de outras áreas.

Devido ao critério em seu método, revisões sistemáticas parecem de maior valia em situações que pesquisadores não renomados desejem produzir artigos de revisão, evitando, assim, um desfecho precário. Esta forma apresenta maior rigor cientifico, quando respeitados passos e normas para sua realização. Parece, também, ser mais apreciada por editores de periódicos, sendo até classificados como artigos originais.

Recebido em 10/08/10

Revisado em 23/02/11

Aprovado em 23/03/11

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  • Endereço para correspondência:
    Saray Giovana dos Santos
    Universidade Federal de Santa Catarina
    Centro de Despostos
    Programa de Pós-Graduação em Educação Física
    88040-900 - Florianópolis, SC. Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Set 2011
    • Data do Fascículo
      Ago 2011

    Histórico

    • Aceito
      23 Mar 2011
    • Revisado
      23 Fev 2011
    • Recebido
      10 Ago 2010
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