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Comparação do desempenho de praticantes de exercícios resistidos por diferentes métodos de ajuste pela massa corporal

Resumos

O objetivo do presente estudo foi comparar o desempenho (1RM) de praticantes de exercícios resistidos (ER), a partir de diferentes métodos de ajuste pela massa corporal (MC): ratio standard, expoente alométrico teórico (0,67) e expoentes alométricos específicos. Participaram do estudo 11 homens e 11 mulheres saudáveis, não-atletas, com média de idade de 22 anos, praticantes de ER há pelo menos seis meses. Foram utilizados os exercícios supino reto (SR), leg press 45º (LP) e rosca direta (RD), sendo realizado um ranqueamento (classificação decrescente) dos indivíduos de acordo com cada método. Os expoentes alométricos específicos para cada exercício encontrados foram, para homens 0,73 (SR), 0,35 (LP) e 0,71 (RD) e para mulheres 1,22 (SR), LP 1,02 (LP) e 0,85 (RD). O teste de postos de Kruskal-Wallis não detectou diferença entre os ranqueamentos. No entanto, a inspeção visual indicou que os métodos quase sempre classificavam de maneira diferente os indivíduos em relação ao desempenho. Além disso, nenhum ranqueamento de força corrigida foi igual ao da força absoluta (1RM). Os resultados sugerem que há uma faixa de valores na qual as diferenças entre os expoentes não refletem ranqueamentos distintos (abaixo de 0,07 pontos) e uma faixa em que os ranqueamentos podem ser essencialmente diferentes (acima de 0,14 pontos). Isso pode ser importante na seleção em longo prazo de expoentes alométricos que sejam universalmente aceitos, tendo em vista a variação dos valores apresentados em diferentes estudos. A padronização de expoentes pode permitir o uso da alometria como ferramenta adicional na prescrição do ER.

Antropometria; Força muscular; Treinamento de resistência


The aim of this study was to compare the performance (1RM) of resistance-trained subjects, using different methods of adjusting for body mass (BM): ratio standard, theoretical allometric exponent (0.67), and specific allometric exponents. The study included 11 male and 11 female healthy non-athletes (mean age = 22 years) engaged in regular resistance training for at least 6 months. Bench press (BP), 45° leg press (LP) and arm curl (AC) exercises were performed, and the participants were ranked (in descending order) according to each method. The specific allometric exponents for each exercise were: for men - BP (0.73), LP (0.35), and AC (0.71); and for women - BP (1.22), LP (1.02), and AC (0.85). The Kruskal-Wallis test revealed no differences between the rankings. However, visual inspection indicated that the participants were often classified differently in relation to performance by the methods used. Furthermore, no adjusted strength score was equal to the absolute strength values (1RM). The results suggest that there is a range of values in which the differences between exponents do not reflect different rankings (below 0.07 points) and a range in which rankings can be fundamentally different (above 0.14 points). This may be important in long-term selection of universally accepted allometric exponents, considering the range of values found in different studies. The standardization of exponents may allow the use of allometry as an additional tool in the prescription of resistance training.

Anthropometry; Muscle strength; Resistance training


ARTIGO ORIGINAL

Comparação do desempenho de praticantes de exercícios resistidos por diferentes métodos de ajuste pela massa corporal

Wladymir KülkampI; Jonathan Ache DiasI; Susana Cristina DomenechII; Noé Gomes Borges JuniorII; Monique da Silva GevaerdII

IUniversidade do Estado de Santa Catarina. Departamento de Educação Física. Centro de Ciências da Saúde e do Esporte. Florianópolis, SC. Brasil

IIUniversidade do Estado de Santa Catarina. Departamento de Ciências da Saúde. Centro de Ciências da Saúde e do Esporte. Florianópolis, SC. Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Wladymir Külkamp Departamento de Educação Física - CEFID/UDESC Rua Pascoal Simone, 358, Bairro Coqueiros. CEP 88080-350 – Florianópolis, SC. Brasil. E-mail: wkulkamp@gmail.com

RESUMO

O objetivo do presente estudo foi comparar o desempenho (1RM) de praticantes de exercícios resistidos (ER), a partir de diferentes métodos de ajuste pela massa corporal (MC): ratio standard, expoente alométrico teórico (0,67) e expoentes alométricos específicos. Participaram do estudo 11 homens e 11 mulheres saudáveis, não-atletas, com média de idade de 22 anos, praticantes de ER há pelo menos seis meses. Foram utilizados os exercícios supino reto (SR), leg press 45º (LP) e rosca direta (RD), sendo realizado um ranqueamento (classificação decrescente) dos indivíduos de acordo com cada método. Os expoentes alométricos específicos para cada exercício encontrados foram, para homens 0,73 (SR), 0,35 (LP) e 0,71 (RD) e para mulheres 1,22 (SR), LP 1,02 (LP) e 0,85 (RD). O teste de postos de Kruskal-Wallis não detectou diferença entre os ranqueamentos. No entanto, a inspeção visual indicou que os métodos quase sempre classificavam de maneira diferente os indivíduos em relação ao desempenho. Além disso, nenhum ranqueamento de força corrigida foi igual ao da força absoluta (1RM). Os resultados sugerem que há uma faixa de valores na qual as diferenças entre os expoentes não refletem ranqueamentos distintos (abaixo de 0,07 pontos) e uma faixa em que os ranqueamentos podem ser essencialmente diferentes (acima de 0,14 pontos). Isso pode ser importante na seleção em longo prazo de expoentes alométricos que sejam universalmente aceitos, tendo em vista a variação dos valores apresentados em diferentes estudos. A padronização de expoentes pode permitir o uso da alometria como ferramenta adicional na prescrição do ER.

Palavras-chave: Antropometria; Força muscular; Treinamento de resistência.

INTRODUÇÃO

A medida da força muscular é fundamental no âmbito do esporte, da prevenção ou da reabilitação, pois tanto a planificação de treinamentos quanto a elaboração de diagnósticos e protocolos de tratamento dependem muitas vezes dos resultados de sua avaliação1,2.

Apesar de evidências apontarem relação entre massa corporal (MC) e força muscular (FM)3-7, no momento das avaliações geralmente é negligenciada a importância do ajuste ou correção dos níveis de FM pela MC, quando se pretende a comparação de diferentes sujeitos. Quando é utilizado algum tipo de correção8,9, limita-se ao uso da chamada ratio standard10 (FM/MC).

Outras variáveis como área seccional transversa (AST) dos músculos podem ser biologicamente mais correlatas com a FM11-14. Contudo, a medida confiável da AST é dispendiosa, realizada por meio de tomografia computadorizada12 ou ressonância magnética14, fazendo com que o uso da MC seja mais atrativo.

Muitos fenômenos naturais, entre eles a relação entre FM e MC, obedecem à lei de potência15 (y=axb), tornando crescente o número de estudos realizados para verificar a adequação da alometria na comparação da FM de indivíduos ou grupos. Sucintamente, ajustes alométricos são realizados com a linearização de uma função potência a partir do método dos quadrados mínimos (equação 2), utilizando o logaritmo natural (ln) das variáveis dependente e independente, neste caso, FM e MC respectivamente.

Além de configurar-se como um método relativamente fácil, a alometria tem uma base teórica fortalecida e vem ganhando credibilidade no campo acadêmico-científico5,16-19. Todavia, a maioria dos estudos trata apenas da alometria aplicada ao desempenho de atletas7,20, negligenciando a realidade dos não-atletas, principalmente, os praticantes de ER.

Alguns autores têm sugerido a utilização do expoente 0,67, baseado na Teoria da Similaridade Geométrica, sempre que não for possível a obtenção de um expoente alométrico específico5,21,22. Porém, a similaridade geométrica não acontece na prática, ao menos na relação entre os perímetros de segmentos corporais e a MC23.

Comparar o desempenho de não-atletas pode parecer corriqueiro. Todavia, o estudo de métodos que permitam comparações mais adequadas da FM entre diferentes grupos e sujeitos, especialmente, os não-atletas, pode auxiliar na construção de valores normativos que levem em conta as diferentes compleições físicas e funcionais dos indivíduos.

O objetivo do presente estudo foi comparar o desempenho (força muscular; FM) de praticantes de exercícios resistidos (ER) a partir de diferentes métodos de ajuste pela massa corporal (MC): ratio standard, expoente alométrico teórico (0,67) e expoentes alométricos específicos.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Sujeitos

Participaram do estudo 11 homens e 11 mulheres, não-atletas, praticantes de ER há seis meses (Quadro 2). O protocolo de treinamento era composto por oito a dez exercícios resistidos, que envolviam os principais grupamentos musculares, realizados três vezes por semana, com duas a três séries de 8 a 12 repetições. Foram avaliados apenas indivíduos com alguma experiência em testes de força dinâmica máxima (1RM).


Foram critérios de exclusão a existência de alguma incapacidade física, que impedisse ou tornasse insegura a realização dos testes e o uso de medicamentos que pudessem interferir no desempenho.

Todos os sujeitos que participaram do estudo leram e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Os procedimentos adotados foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina, estando registrados sob o número 143/2009.

Procedimentos

Os testes de 1RM foram precedidos por exercícios de aquecimento geral e específico, sendo avaliados os exercícios Supino Reto (SR), Leg Press 45º (LP) e Rosca Direta (RD), nesta ordem, evitando que dois exercícios de membros superiores fossem realizados consecutivamente. Foi definida como 1RM a carga com a qual o indivíduo conseguisse realizar apenas uma repetição, sem mudança significativa na técnica de execução e abrangendo toda a amplitude de movimento (exceto LP, que ficou limitado à flexão de 90º dos joelhos).

Apesar de estudos sugerirem a necessidade de no mínimo três sessões de familiarização em protocolos de testes de 1RM24, tem sido demonstrado que com alunos praticantes de musculação um dia de testagem é suficiente para garantir a confiabilidade dos resultados25. Além disso, embora sendo ideal que os testes de carga máxima dos três exercícios fossem realizados em dias diferentes, testes de 1RM foram realizados também na mesma sessão em outros estudos25,26, sem prejuízo relatado em suas conclusões.

No presente estudo, o desempenho nos testes de 1RM deve ser interpretado, ainda que não diretamente, como expressão da FM (kg).

Análise Estatística

A normalidade da distribuição das variáveis antropométricas e da FM foi testada pelo teste de Shapiro-Wilk. O tratamento estatístico foi realizado a partir do programa SPSS 17.0, adotando um nível de significância de 5%.

Construção dos modelos alométricos

A possibilidade do uso de ajustes alométricos pela falta de linearidade da relação entre FM e MC foi verificada a partir do cálculo da Circunstância Excepcional de Tanner (CET) (equação 1), que é considerada verdadeira quando a divisão entre os coeficientes de variação (cv) das variáveis for igual ao coeficiente de correlação de Pearson (r) estabelecido entre elas10.

cvMC / cvFM = r (equação 1)

Regressões log-lineares foram estabelecidas para cada situação específica (equação 2), a partir dos logaritmos naturais (ln) dos valores de MC e FM (carga de 1RM, em kg) de cada situação, sendo que todos os expoentes alométricos (b) foram determinados dentro de um intervalo de confiança (IC) de 95%.

lnFM = (ln a) + (b * lnMC) (equação 2)

Diagnóstico das regressões

Para avaliar a qualidade dos ajustes alométricos, critérios de diagnóstico das regressões foram utilizados para julgar a adequação dos modelos. Esse conjunto de critérios foi introduzido por Batterham e George16, seguido por Vanderburgh e Doman17, Cleather18, Pua27 e Zoeller et al.19, entre outros, e consistem na avaliação da normalidade dos resíduos, homoscedasticidade e correlação entre a FM corrigida (pós ajuste) e a MC.

Comparação do ranqueamento

Cada método gerou um ranqueamento quanto ao desempenho dos indivíduos, classificando-os decrescentemente do mais forte ao mais fraco. O ranqueamento de referência, construído a partir dos valores absolutos de força (1RM), serviu de base para manter a ordenação dos indivíduos e comparar a mudança na classificação (mudança de posto de um mesmo indivíduo em diferentes ranqueamentos) e, por conseguinte, a diferença entre os métodos. As diferenças foram verificadas utilizando-se o teste Kruskal-Wallis e a inspeção visual dos ranqueamentos, essa última tendo como critério que a alteração de apenas um posto caracterizaria diferença. A classificação dos indivíduos nos diferentes métodos (ranqueamento) foi realizada por meio do cálculo do índice de força individual, ilustrado na figura 1.


RESULTADOS

As variáveis descritoras da amostra e o resultado da CET são apresentadas no Quadro 1.


Construção dos modelos alométricos

Conforme apresentado no Quadro 1, a CET não foi observada em nenhum dos exercícios, garantindo a falta de linearidade na relação entre FM e MC e permitindo o uso da alometria como método de ajuste.

Atkins21, estudando alometria em jogadores de Rugby, também utilizou a CET para justificar o uso de equações não-lineares para explicar a relação entre MC e força de preensão manual.

As equações derivadas do ajuste alométrico do desempenho de 1RM de homens e mulheres separadamente, nos diferentes ER, bem como os expoentes específicos extraídos, estão descritos na Tabela 1.

Diagnóstico das regressões

Com relação à normalidade de distribuição dos resíduos, apenas no exercício Supino (homens), os resíduos não apresentaram comportamento Gaussiano. Em todas as outras regressões a normalidade das distribuições foi observada (Tabela 2).

Quanto à homoscedasticidade, todas as regressões forneceram bom ajuste, pois em nenhuma delas foram observados valores significativos de correlação entre os resíduos e o lnMC, descartando a possibilidade de um comportamento sistemático linear. Adicionalmente, a inspeção visual dos gráficos de resíduos mostrou que também não há um comportamento sistemático não-linear, que pudesse ser definido, por exemplo, por uma função polinomial (Tabela 2).

Com relação ao último e principal critério, relacionado à habilidade dos ajustes alométricos em proporcionar índices de força independentes da MC, todas as regressões log-lineares proporcionaram modelos satisfatórios, já que não foi observada correlação linear significativa entre a força alometricamente corrigida e a MC (Tabela 2).

Comparação do ranqueamento

A análise estatística falhou em identificar diferenças entre os ranqueamentos em cada situação, apesar de mudanças visíveis nos postos, colocando em dúvida a sensibilidade do teste utilizado para comparações desse tipo. Dessa forma, a análise passou a ser feita por inspeção visual, tendo como critério que a alteração de apenas um posto caracterizaria diferença.

O quadro 3 apresenta o ranqueamento nos três ER, sendo os postos estabelecidos a partir da força absoluta, da força ajustada alometricamente pelo expoente específico, pelo expoente teórico (0,67) e pela ratio standard. Nas duas últimas colunas de cada tabela, são apresentadas as mudanças em cada posto, sendo que a primeira indica a diferença encontrada entre o expoente específico em relação ao teórico, e a segunda a diferença entre o específico e a ratio standard. Essas diferenças foram descritas de maneira absoluta, sendo que valores iguais a zero indicam nenhuma mudança nos postos e valores positivos e negativos indicam a quantidade de postos ascendentes e descendentes em relação ao ranqueamento de referência (expoente alométrico específico).

DISCUSSÃO

O presente estudo se propôs a comparar a classificação de praticantes de exercícios resistidos quanto ao desempenho em testes de 1RM, a partir de diferentes métodos de ajuste pela MC.

O expoente alométrico teórico (0,67), baseado na similaridade geométrica, foi utilizado pelo fato de ser recomendado para uso geral em ajustes alométricos da força, especialmente, na impossibilidade de se extrair um expoente específico4,5,21,28. Além disso, a utilização de um outro expoente comum para todos os exercícios não foi possível, tendo em vista que a maioria dos estudos encontrados na literatura apontou expoentes divergentes, o que dificultou a escolha de algum que representasse um referencial seguro.

A ratio standard foi utilizada, ainda que a base teórica relacionada à inadequação de seu uso seja indiscutível, como uma forma de verificar se os expoentes encontrados no presente estudo, especialmente os mais próximos da unidade, são capazes de proporcionar, na prática, diferença significativa nos ranqueamentos em relação ao expoente de valor 1 (um).

Com relação às diferenças nos ranqueamentos gerados pelos expoentes específicos e pela ratio standard, o quadro 3 apresenta, como era esperado, que nenhuma diferença pôde ser evidenciada nos exercícios em que foram extraídos expoentes maiores que a unidade (Supino e Leg Press femininos). Além disso, pode ser percebido que uma diferença de 0,15 pontos entre o expoente específico do exercício Rosca Direta feminino e a ratio standard (1 - 0,85) foi capaz de ranquear de maneira diferente os indivíduos.

Assim, para a amostra em questão, parece existir uma faixa de valores em que as diferenças nos expoentes não refletem ranqueamentos diferentes (abaixo de 0,07 pontos) e uma faixa em que os ranqueamentos podem ser essencialmente diferentes (acima de 0,14 pontos). Talvez, isso esteja relacionado ao coeficiente de variação dos valores de força da amostra em cada situação, onde as diferenças de um indivíduo para o outro sejam grandes o suficiente para que diferenças mínimas nos expoentes não permitam ranqueamentos diferentes. A existência dessas faixas sensíveis a diferenças pode questionar o uso do cálculo de médias como uma técnica válida para determinação de expoentes comuns, assim como fizeram Folland et al.13, em sua investigação a respeito de ajustes alométricos de força isométrica e torque.

Cabe ressaltar, ainda que não seja o enfoque do presente trabalho, que nenhum dos métodos gerou ranqueamento da força corrigida igual ao ranqueamento definido pela força absoluta (quadro 3), o que fortalece a ideia de que o desempenho em valores absolutos deve ser visto com cautela na comparação de grupos.

Vanderburgh et al.29, comparando a força de homens e mulheres a partir de análise de covariância tradicional, também observaram diferenças nos ajustes fornecidos pelo expoente específico e pela ratio standard. A partir do cálculo dos valores médios das forças corrigidas por ambos os métodos, concluíram que o uso da ratio standard superestima a força das mulheres em relação ao uso do expoente alométrico específico, apresentando diferenças teoricamente menos aceitáveis.

Markovic e Jaric28 utilizaram teste " t" de amostra única para verificar diferenças entre o expoente 0,67 e os expoentes por eles encontrados em seis tipos de exercícios dinâmicos (entre eles supino, agachamento e rosca direta). Os autores concluíram que o expoente teórico poderia ser utilizado para corrigir a força em todos esses exercícios, pela falta de significância estatística apresentada no teste " t" (p> 0,05). Salienta-se que isso foi assumido, mesmo que um expoente de 0,27 tenha sido observado para a força de preensão manual, o que pode levantar alguma suspeita quanto à sensibilidade do teste e a validade desse tipo de metodologia.

Markovic e Sekulic30, comparando modelagem alométrica entre atletas de levantamento básico (powerlifters) e levantamento olímpico (weightlifters), também se propuseram a identificar se os expoentes observados por eles em cada modalidade, em homens e mulheres, não apresentavam diferença significativa em relação ao expoente 0,67. Os autores utilizaram como método a observação dos expoentes contidos dentro do intervalo de confiança (IC), por eles estabelecido (95%) no momento da construção das regressões log-lineares. Assim, quando o expoente 0,67 estava contido dentro desse IC, não era considerado diferente dos expoentes específicos derivados no referido estudo.

No presente estudo, a utilização da metodologia adotada por Markovic e Seculic30 não foi possível, uma vez que os baixos valores de coeficiente de determinação (R2) das regressões log-lineares geraram intervalos de confiança muito grandes, englobando valores de expoentes negativos a positivos (Tabela 1).

Devido à inexistência de trabalhos científicos que tenham realizado este tipo de análise por inspeção visual do ranqueamento, a comparação dos resultados do presente estudo fica prejudicada. Todavia, por se tratar de uma análise que não depende de testes de probabilidade estatística e que pode ser facilmente replicada em futuros estudos, seu mérito pode ser julgado pela interpretação dos resultados em si mesmos. Adicionalmente, esse tipo de abordagem permite questionar a validade da adoção indiscriminada do expoente 0,67 no ajuste da força muscular pela MC, como proposto por alguns autores4,5,21,28.

Embora comparações tão apuradas da força sejam aparentemente mais importantes em campeonatos de levantamento de peso, nos quais a mudança de um só posto pode resultar em premiação, o estudo do ranqueamento de não-atletas a partir de diferentes expoentes pode auxiliar na construção de um modelo mais preciso de ajuste alométrico para prescrição de ER voltados à saúde. Ou seja, a comparação de ranqueamentos permitiria um ajuste fino para saber, na prática, o quanto as diferenças absolutas dos expoentes podem ser refletidas na discriminação dos grupos quanto à força (faixas sensíveis à diferença), permitindo dentro de uma gama restrita de expoentes, a adoção de um que fosse padrão.

Uma das principais limitações do estudo é o reduzido tamanho da amostra. No entanto, este fato não parece ter influenciado os resultados, uma vez que foi possível comparar os métodos observando, inclusive, diferenças entre eles. Além disso, não foi proposta do trabalho a extrapolação de resultados e sim fortalecimento da discussão a respeito da necessidade do uso adequado de estratégias de ajustes da força pela massa corporal.

CONCLUSÃO

No que diz respeito à diferença entre os ranqueamentos proporcionados pelos expoentes específicos, pelo teórico (0,67) e pela ratio standard, foi observado que na maioria das situações houve alterações não correspondentes nos postos, uma vez que os três métodos quase sempre discriminavam de maneira diferente os indivíduos em relação à força de 1RM. Além disso, nenhum ranqueamento de força corrigida foi igual ao ranqueamento pela força absoluta (1RM).

Os resultados sugerem que há uma faixa de valores em que as diferenças nos expoentes não refletem ranqueamentos diferentes (abaixo de 0,07 pontos) e uma faixa em que os ranqueamentos podem ser essencialmente diferentes (acima de 0,14 pontos). Isso pode ser importante na seleção em longo prazo de expoentes alométricos que sejam universalmente aceitos, tendo em vista a variação dos valores apresentados em diferentes estudos. A padronização de expoentes pode permitir o uso da alometria como ferramenta adicional na prescrição e controle de exercícios resistidos.

Recebido em 06/10/11

Revisado em 15/11/11

Aprovado em 17/01/12

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  • Endereço para correspondência

    Wladymir Külkamp
    Departamento de Educação Física - CEFID/UDESC
    Rua Pascoal Simone, 358,
    Bairro Coqueiros.
    CEP 88080-350 – Florianópolis, SC. Brasil.
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Maio 2012
    • Data do Fascículo
      2012

    Histórico

    • Recebido
      06 Out 2011
    • Aceito
      17 Jan 2012
    • Revisado
      15 Nov 2011
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