Acessibilidade / Reportar erro

Predição da performance de corredores de endurance por meio de testes de laboratório e pista

Resumos

Os objetivos deste estudo foram: determinar e comparar índices fisiológicos obtidos em teste de laboratório e pista (teste de pista da Universidade de Montreal - UMTT) em corredores de endurance; analisar a capacidade de predição do VO2max, vVO2max e LAn determinados no laboratório e no UMTT para a performance nas distâncias de 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m; analisar os efeitos da distância da prova na relação entre os índices fisiológicos VO2max, vVO2max e LAn com a performance. Participaram deste estudo, 10 corredores moderadamente treinados que realizaram os seguintes testes: provas simuladas nas distâncias de 10.000 m, 5.000 m e 1.500 m; dois testes incrementais máximos (laboratório e pista) para determinar os índices VO2max, vVO2max e LAn. Não houve diferenças significativas entre o VO2max, vVO2max e LAn determinados em ambos os protocolos. De acordo com a análise de regressão múltipla, referente ao teste de laboratório, a vVO2max foi a única variável selecionada para explicar a performance nas provas de 1.500 e 5.000 m (62 e 35%, respectivamente). Do mesmo modo, dentre as variáveis determinadas no UMTT, somente a vVO2max explicou a performance nestas distâncias (78 e 66%, respectivamente). Por outro lado, o LAn determinado no laboratório e no UMTT explicou 38 e 52% da performance nos 10.000 m, respectivamente. Pode-se concluir que a predição da performance aeróbia de corredores de endurance moderadamente treinados, a partir do VO2max, vVO2max e LAn, determinados em laboratório e no UMTT, é dependente da distância da prova analisada.

Corridas de endurance ; Índices fisiológicos; Metabolismo aeróbio


The objectives of this study were: 1) determine and compare physiological indexes from laboratory and track tests (Université de Montréal Track Test - UMTT) in endurance runners; 2) analyze the predictive capacity of VO2max, vVO2max and AT with the running performance at 1,500 m, 5,000 m and 10,000 m time trials; 3) analyze the effects of running distance on the relationship between the physiological indexes with aerobic performance. The study included 10 moderately trained endurance runners who performed the following series of tests on different days: 10,000 m, 5,000 m, and 1,500 m time trials on a 400 m track; two maximal incremental tests (laboratory and track) to determine the VO2max, vVO2max, and AT. There were no significant differences between VO2max, vVO2max and AT determined in both protocols. The multiple regression analysis revealed that vVO2max was the only index from laboratory associated with running performance at 1,500 and 5,000 m (62 and 35%, respectively). In addition, vVO2max from UMTT explained the running performance for the same previous distance (78 and 66%, respectively). On the other hand, the AT determined in both incremental tests explained 38 and 52% of performance at 10,000 m time trial, respectively. Thus, the prediction of endurance performance of long distance runners using VO2max, vVO2max and AT determined in the laboratory and UMTT tests depends on the running distance.

Aerobic metabolism; Endurance running; Physiological indexes


INTRODUÇÃO

O consumo máximo de oxigênio (VO2max) exerce uma importante relação com a performance em corridas de endurance 11. Brandon LJ. Physiological factors associated with middle distance running performance. Sports Med 1995;19(4):268-77.

2. Schabort EJ, Killian SC, St Clair Gibson A, Hawley JA, Noakes TD. Prediction of triathlon race time from laboratory testing in national triathletes. Med Sci Sports Exerc 2000;32(4):844-9.

3. McLaughlin JE, Howley ET, Bassett Jr. DR, Thompson DL, Fitzhugh EC. Test of the classic model for predicting endurance running performance. Med Sci Sports Exerc 2010;42(5):991-7.
- 44. Santos TM, Rodrigues AI, Greco CC, Marques AL, Terra BS, Oliveira BRR. VO2max estimado e sua velocidade correspondente predizem o desempenho de corredores amadores. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2012;14(2):192-201.. Entretanto, corredores treinados podem apresentar valores similares de VO2max e, assim, outros índices fisiológicos como a velocidade associada ao VO2max (vVO2max) e o limiar anaeróbio (LAn), podem contribuir para o sucesso em eventos predominantemente aeróbios55. Morgan DW, Baldini FD, Martin PE, Kohrt WM. Ten kilometer performance and predict velocity at VO2max among well-trained male runners. Med Sci Sports Exerc 1989;21(1):78-83.

6. Denadai BS, Ortiz MJ, Mello MT. Índices fisiológicos associados com a performance aeróbia em corredores de endurance: efeitos da duração da prova. Rev Bras Med Esporte 2004;10(5):401-4.

7. Noakes TD, Myburgh KH, Schall R. Peak treadmill running velocity during the VO2max test predicts running performance. J Sports Sci 1990;8(1):35-45.
- 88. Tanaka K, Matsuura Y, Matsuzaka A, Hirakoba K, Kumagai S, Sun SO, et al. A longitudinal assessment of anaerobic threshold and distance running performance. Med Sci Sports Exerc 1984;16(3):278-82.. A vVO2max, por exemplo, tem mostrado uma estreita relação com a performance em corridas de curta, média e longa distância22. Schabort EJ, Killian SC, St Clair Gibson A, Hawley JA, Noakes TD. Prediction of triathlon race time from laboratory testing in national triathletes. Med Sci Sports Exerc 2000;32(4):844-9.

3. McLaughlin JE, Howley ET, Bassett Jr. DR, Thompson DL, Fitzhugh EC. Test of the classic model for predicting endurance running performance. Med Sci Sports Exerc 2010;42(5):991-7.

4. Santos TM, Rodrigues AI, Greco CC, Marques AL, Terra BS, Oliveira BRR. VO2max estimado e sua velocidade correspondente predizem o desempenho de corredores amadores. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2012;14(2):192-201.

5. Morgan DW, Baldini FD, Martin PE, Kohrt WM. Ten kilometer performance and predict velocity at VO2max among well-trained male runners. Med Sci Sports Exerc 1989;21(1):78-83.

6. Denadai BS, Ortiz MJ, Mello MT. Índices fisiológicos associados com a performance aeróbia em corredores de endurance: efeitos da duração da prova. Rev Bras Med Esporte 2004;10(5):401-4.

7. Noakes TD, Myburgh KH, Schall R. Peak treadmill running velocity during the VO2max test predicts running performance. J Sports Sci 1990;8(1):35-45.
- 88. Tanaka K, Matsuura Y, Matsuzaka A, Hirakoba K, Kumagai S, Sun SO, et al. A longitudinal assessment of anaerobic threshold and distance running performance. Med Sci Sports Exerc 1984;16(3):278-82.. O LAn, por sua vez, além de ser considerado um parâmetro imprescindível na avaliação da capacidade aeróbia99. Heck H, Mader A, Hess G, Mücke S, Müller R, Hollmann W. Justification of the 4-mmol/l lactate threshold. Int J Sports Med 1985;6(3):117-30. e prescrição do treinamento1010. Billat VL, Flechet B, Petit B, Muriaux G, Koralsztein JP. Interval training at VO2max: effects on aerobic performance and over training markers. Med Sci Sports Exerc 1999;31(1):156-63., tem também sido importante na predição de performance em corridas de endurance 11. Brandon LJ. Physiological factors associated with middle distance running performance. Sports Med 1995;19(4):268-77. , 66. Denadai BS, Ortiz MJ, Mello MT. Índices fisiológicos associados com a performance aeróbia em corredores de endurance: efeitos da duração da prova. Rev Bras Med Esporte 2004;10(5):401-4. , 88. Tanaka K, Matsuura Y, Matsuzaka A, Hirakoba K, Kumagai S, Sun SO, et al. A longitudinal assessment of anaerobic threshold and distance running performance. Med Sci Sports Exerc 1984;16(3):278-82. , 1111. Lacour JR, Padilla-Magunacelaya S, Barthélémy JC, Dormois D. The energetics of middle distance running. Eur J Appl Physiol Occup Physiol 1990;60(1):38-43..

Entretanto, esses índices são normalmente determinados em protocolos de laboratório, visto que há um melhor controle do ambiente e uma maior precisão nas mensurações realizadas. Assim, uma das desvantagens da avaliação laboratorial é a dificuldade de reproduzir uma situação mais próxima da realidade diariamente vivenciada pelo atleta. Nesse contexto, o teste de pista da Universidade de Montreal (UMTT), proposto por Léger e Boucher1212. Léger L, Boucher R. An indirect continuous running multistage field test: the Université de Montréal track test. Can J Appl Sport Sci 1980;5(2):77-84., apresenta-se como um protocolo mais específico, uma vez que o mesmo permite identificar o VO2max e a vVO2max1313. Berthoin S, Pelayo P, Lensel-Corbeil G, Robin H, Gerbeaux M. Comparison of maximal aerobic speed as assessed with laboratory and field measurements in moderately trained subjects. Int J Sports Med 1996;17(7):525-9. , 1414. Basset FA, Chouinard R, Boulay MR. Training profile counts for time to exhaustion performance. Can J Appl Physiol 2003;28(4):654-66.. Além disso, embora não existam estudos que forneçam informações, pode-se hipotetizar que, por meio da identificação do ponto de deflexão da frequência cardíaca (PDFC), conforme proposto por Conconi et al.1515. Conconi F, Ferrari M, Ziglio PG, Droghetti P, Codeca L. Determination of the anaerobic threshold by a noninvasive field test in runners. J Appl Physiol 1982;52(4):869-73. e Conconi et al.1616. Conconi F, Grazzi G, Casoni I, Guglielmini C, Borsetto C, Ballarin E, et al. The Conconi test: methodology after 12 years of application. Int J Sports Med 1996;17(7):509-19., é possível estimar o LAn no UMTT.

Diferentes estudos têm analisado a predição da performance aeróbia durante a corrida a partir dos índices citados anteriormente11. Brandon LJ. Physiological factors associated with middle distance running performance. Sports Med 1995;19(4):268-77.

2. Schabort EJ, Killian SC, St Clair Gibson A, Hawley JA, Noakes TD. Prediction of triathlon race time from laboratory testing in national triathletes. Med Sci Sports Exerc 2000;32(4):844-9.

3. McLaughlin JE, Howley ET, Bassett Jr. DR, Thompson DL, Fitzhugh EC. Test of the classic model for predicting endurance running performance. Med Sci Sports Exerc 2010;42(5):991-7.

4. Santos TM, Rodrigues AI, Greco CC, Marques AL, Terra BS, Oliveira BRR. VO2max estimado e sua velocidade correspondente predizem o desempenho de corredores amadores. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2012;14(2):192-201.

5. Morgan DW, Baldini FD, Martin PE, Kohrt WM. Ten kilometer performance and predict velocity at VO2max among well-trained male runners. Med Sci Sports Exerc 1989;21(1):78-83.

6. Denadai BS, Ortiz MJ, Mello MT. Índices fisiológicos associados com a performance aeróbia em corredores de endurance: efeitos da duração da prova. Rev Bras Med Esporte 2004;10(5):401-4.

7. Noakes TD, Myburgh KH, Schall R. Peak treadmill running velocity during the VO2max test predicts running performance. J Sports Sci 1990;8(1):35-45.
- 88. Tanaka K, Matsuura Y, Matsuzaka A, Hirakoba K, Kumagai S, Sun SO, et al. A longitudinal assessment of anaerobic threshold and distance running performance. Med Sci Sports Exerc 1984;16(3):278-82.. Estes, no entanto, utilizaram modelos de regressão simples ou múltipla, analisando no mesmo grupo de atletas, as relações entre os índices fisiológicos com a performance em uma única distância, a qual varia, frequentemente, entre 1.500 m e 10.000 m11. Brandon LJ. Physiological factors associated with middle distance running performance. Sports Med 1995;19(4):268-77.

2. Schabort EJ, Killian SC, St Clair Gibson A, Hawley JA, Noakes TD. Prediction of triathlon race time from laboratory testing in national triathletes. Med Sci Sports Exerc 2000;32(4):844-9.

3. McLaughlin JE, Howley ET, Bassett Jr. DR, Thompson DL, Fitzhugh EC. Test of the classic model for predicting endurance running performance. Med Sci Sports Exerc 2010;42(5):991-7.

4. Santos TM, Rodrigues AI, Greco CC, Marques AL, Terra BS, Oliveira BRR. VO2max estimado e sua velocidade correspondente predizem o desempenho de corredores amadores. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2012;14(2):192-201.

5. Morgan DW, Baldini FD, Martin PE, Kohrt WM. Ten kilometer performance and predict velocity at VO2max among well-trained male runners. Med Sci Sports Exerc 1989;21(1):78-83.

6. Denadai BS, Ortiz MJ, Mello MT. Índices fisiológicos associados com a performance aeróbia em corredores de endurance: efeitos da duração da prova. Rev Bras Med Esporte 2004;10(5):401-4.

7. Noakes TD, Myburgh KH, Schall R. Peak treadmill running velocity during the VO2max test predicts running performance. J Sports Sci 1990;8(1):35-45.
- 88. Tanaka K, Matsuura Y, Matsuzaka A, Hirakoba K, Kumagai S, Sun SO, et al. A longitudinal assessment of anaerobic threshold and distance running performance. Med Sci Sports Exerc 1984;16(3):278-82.. Com base nesses estudos, tem sido proposto que a distância da prova e, portanto, a intensidade do exercício, pode influenciar as relações entre os índices fisiológicos e a performance aeróbia na corrida66. Denadai BS, Ortiz MJ, Mello MT. Índices fisiológicos associados com a performance aeróbia em corredores de endurance: efeitos da duração da prova. Rev Bras Med Esporte 2004;10(5):401-4.. Além disso, para o nosso conhecimento, nenhum estudo tem verificado a relação da performance de endurance obtida nos mesmos corredores, em diferentes distâncias, com dois ou mais índices determinados em testes de laboratório e pista, particularmente, utilizando o UMTT.

Como o percentual de contribuição aeróbia e a intensidade relativa à vVO2max e ao LAn são proporcionalmente diferentes entre as provas de 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m66. Denadai BS, Ortiz MJ, Mello MT. Índices fisiológicos associados com a performance aeróbia em corredores de endurance: efeitos da duração da prova. Rev Bras Med Esporte 2004;10(5):401-4. , 1717. Billat VL. Interval training for performance: a scientific and empirical practice special recommendations for middle- and long-distance running. Part I: Aerobic interval training. Sports Med 2001;31(1):13-31., algumas hipóteses foram formuladas: as relações entre os índices VO2max, vVO2max e LAn (determinados no laboratório e no UMTT) com a performance são dependentes da distância da prova (1.500 m, 5.000 m e 10.000 m); os índices fisiológicos que melhor predizem a performance nas provas de 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m são os mesmos em ambos os protocolos (laboratório e UMTT); entretanto, os índices identificados no UMTT apresentam uma maior capacidade de predição da performance nas provas de 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m que os índices identificados no teste de laboratório.

Além disto, a ausência de informações suficientes na literatura acerca dos efeitos da distância da prova sobre a relação entre os índices fisiológicos máximos e submáximos determinados no laboratório e no UMTT com a performance aeróbia (diferentes distâncias), ressaltam a relevância da realização desta investigação. Sendo assim, os objetivos deste estudo foram: a) determinar e comparar os índices fisiológicos (VO2max, vVO2max e LAn) obtidos no laboratório e no UMTT em corredores de endurance moderadamente treinados; b) analisar a capacidade de predição dos índices (VO2max, vVO2max e LAn) obtidos no laboratório e no UMTT para a performance nas distâncias de 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m; e c) analisar os efeitos da distância da prova na relação entre os índices fisiológicos VO2max, vVO2max e LAn com a performance nas distâncias de 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Sujeitos

Participaram deste estudo 10 corredores moderadamente treinados com, no mínimo, dois anos de experiência com treinamento e provas de endurance (28,3 ± 6,8 anos; 68,5 ± 8,5 kg; 173,5 ± 7,5 cm e; 10,6 ± 3,1% de gordura corporal). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina. Os participantes foram informados e familiarizados com todos os procedimentos do experimento, assim como os riscos e benefícios, assinando um termo de consentimento livre e esclarecido.

Procedimento experimental

Inicialmente, em uma pista oficial de 400 m, os atletas realizaram três provas simuladas nas seguintes distâncias: 10.000 m, 5.000 m e 1.500 m. Na sequência, cada atleta realizou um teste incremental em laboratório para determinação do VO2max, vVO2max e LAn. Por último, para determinação do VO2max, vVO2max e LAn em pista, foi utilizado o protocolo proposto por Léger e Boucher1212. Léger L, Boucher R. An indirect continuous running multistage field test: the Université de Montréal track test. Can J Appl Sport Sci 1980;5(2):77-84. (UMTT). Todos os testes (laboratório e pista) ocorreram em situações climáticas similares (temperatura = 23-25ºC; umidade relativa do ar = 60-68%), com, no mínimo, 48 h de intervalo entre cada um deles. Os atletas foram instruídos a participarem do estudo em totais condições de recuperação, hidratação e alimentação. O experimento foi concluído em duas semanas, com todos os testes ocorrendo num mesmo período do dia.

Determinação da performance nas provas de 10.000 m, 5.000 m e 1.500 m

Os corredores realizaram provas simuladas em uma pista de 400 m, em diferentes dias, nas distâncias de 10.000 m, 5.000 m e 1.500 m. Antes de cada prova, foi permitido aos atletas realizarem um aquecimento de intensidade moderada seguido de alongamento (15 min no total).

Determinação do VO2max, vVO2max e LAn no laboratório

O VO2max foi determinado utilizando-se um protocolo incremental em esteira rolante (IMBRAMED SUPER ATL, Porto Alegre, Brasil). A velocidade inicial foi de 12 km.h-1 (1% de inclinação), com incrementos de 1 km.h-1 a cada 3 min até a exaustão voluntária66. Denadai BS, Ortiz MJ, Mello MT. Índices fisiológicos associados com a performance aeróbia em corredores de endurance: efeitos da duração da prova. Rev Bras Med Esporte 2004;10(5):401-4.. Entre cada estágio, houve um intervalo de 30 s para a coleta de 25 µl de sangue do lóbulo da orelha para a dosagem do lactato sanguíneo, por meio de um analisador eletroquímico (YSI 2700 STAT, Yellow Springs, OH, USA). O VO2 foi mensurado respiração a respiração durante todo o protocolo a partir do gás expirado (K4b22. Schabort EJ, Killian SC, St Clair Gibson A, Hawley JA, Noakes TD. Prediction of triathlon race time from laboratory testing in national triathletes. Med Sci Sports Exerc 2000;32(4):844-9., Cosmed, Roma, Itália), sendo os dados reduzidos à média de 15 s. O VO2max foi considerado como o maior valor obtido durante o teste nestes intervalos de 15 s. Para considerar que durante o teste os indivíduos atingiram o VO2max, foram adotados os seguintes critérios1818. Lacour JR, Padilla-Magunacelaya S, Chatard JC, Arsac L, Barthélémy JC. Assessment of running velocity at maximal oxygen uptake. Eur J Appl Physiol Occup Physiol 1991;62(2):77-82.: 1) quociente respiratório > 1,1; 2) concentração de lactato sanguíneo ≥ 8 mmol.L-1; e 3) frequência cardíaca ≥ 90% da frequência cardíaca máxima (FCmax) predita para a idade. A vVO2max foi considerada como sendo a menor velocidade de corrida, na qual ocorreu o VO2max1010. Billat VL, Flechet B, Petit B, Muriaux G, Koralsztein JP. Interval training at VO2max: effects on aerobic performance and over training markers. Med Sci Sports Exerc 1999;31(1):156-63.. O LAn foi determinado como sendo a velocidade correspondente à concentração fixa de lactato de 3,5 mmol.L-1, conforme proposto por Heck et al.99. Heck H, Mader A, Hess G, Mücke S, Müller R, Hollmann W. Justification of the 4-mmol/l lactate threshold. Int J Sports Med 1985;6(3):117-30..

Determinação do VO2max, vVO2max e LAn no UMTT

O VO2max foi determinado utilizando-se o teste incremental de Léger e Boucher1212. Léger L, Boucher R. An indirect continuous running multistage field test: the Université de Montréal track test. Can J Appl Sport Sci 1980;5(2):77-84. em uma pista oficial de atletismo. A velocidade inicial foi de 8 km.h-1, com incrementos de 1 km.h-1 a cada 2 min até à exaustão voluntária. A velocidade de cada estágio foi controlada por sinais sonoros através de um computador e caixas de amplificação do som. Além disso, a pista foi demarcada com cones a cada 40 m, sendo que a cada sinal sonoro os atletas deveriam estar passando simultaneamente junto aos cones. O teste foi encerrado quando o atleta não conseguisse manter a velocidade exigida, sendo considerado máximo quando a frequência cardíaca final fosse igual ou superior a 90% da FCmax predita para a idade. O VO2max foi estimado pela equação VO2max (mL.kg-1.min-1) = 0,0324x² + 2,134x + 14,49; onde "x" representa a vVO2max (km.h-1) 1212. Léger L, Boucher R. An indirect continuous running multistage field test: the Université de Montréal track test. Can J Appl Sport Sci 1980;5(2):77-84.. A vVO2max foi determinada como a velocidade correspondente ao último estágio completo do avaliado. No entanto, se o mesmo não conseguisse completar o último estágio, a vVO2max era estabelecida de acordo com a seguinte equação: vVO2max (km.h-1) = velocidade do último estágio completo (km.h-1) + [t (s)/duração do estágio (s) x velocidade de incremento (km.h-1); onde "t" foi o tempo do estágio incompleto1919. Kuipers H, Verstappen FT, Keizer HA, Geurten P, van Kranenburg G. Variability of aerobic performance in the laboratory and its physiologic correlates. Int J Sports Med 1985;6(4):197-201.. O LAn foi determinado como sendo a velocidade correspondente ao PDFC1515. Conconi F, Ferrari M, Ziglio PG, Droghetti P, Codeca L. Determination of the anaerobic threshold by a noninvasive field test in runners. J Appl Physiol 1982;52(4):869-73., o qual foi identificado a partir do método matemático Dmax, conforme descrito por Kara et al.2020. Kara M, GökbeL H, Bediz C, Ergene N, Uçok K, UysaL H. Determination of the heart rate deflection point by the Dmax method. J Sports Med Phys Fitness 1996;36(1):31-4..

Análise estatística

Os dados estão expressos como média ± DP e a normalidade foi verificada por meio do teste de Shapiro-Wilk. Para comparar os índices fisiológicos determinados nos protocolos de laboratório e pista, foi utilizado o teste t de Student para amostras pareadas. Uma análise de regressão múltipla verificou a relação entre o tempo de prova nas diferentes distâncias e os índices fisiológicos determinados em ambos os protocolos. Para comparar a velocidade média nas provas com a vVO2max e o LAn, foi utilizada a análise de variância Anova One-way, complementada pelo teste post hoc LSD. Em todas as análises foi adotado um nível de significância de 5%.

RESULTADOS

A tabela 1 apresenta os índices fisiológicos obtidos no laboratório e no UMTT. Não houve diferenças significativas entre o VO2max, vVO2max e LAn determinados em ambos os protocolos.

Tabela 1
Índices fisiológicos obtidos no teste incremental realizado no laboratório e no UMTT.

Os tempos de performance nas provas de 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m foram 4,8 ± 0,2 min, 18,2 ± 0,8 min e 38,6 ± 0,2 min, respectivamente. Os valores relativos (%vVO2max e %LAn) das velocidades empregadas em cada uma das distâncias estão expressos na tabela 2. A velocidade média da prova de 1.500 m (v1.500) não apresentou diferença significativa em relação à vVO2max determinada nos dois protocolos estudados. No entanto, a velocidade média que os corredores sustentaram durante os 5.000 m (v5.000) foi significativamente superior (p<0,001) ao LAn e significativamente inferior (p<0,001) à vVO2max em ambos os protocolos. Na distância de 10.000 m, a velocidade média sustentada durante a prova (v10.000) foi significativamente diferente (p<0,01) do LAn determinado no laboratório. Contudo, quando este índice fisiológico foi determinado no UMTT, não houve diferença da v10.000.

Tabela 2
Valores relativos das velocidades apresentadas nas distâncias de 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m.

As tabelas 3 e 4 destacam, respectivamente, os índices fisiológicos determinados no laboratório e no UMTT que apresentaram capacidade de predição de performance nas diferentes distâncias analisadas. Para todos os casos, os índices obtidos no teste de Léger e Boucher1212. Léger L, Boucher R. An indirect continuous running multistage field test: the Université de Montréal track test. Can J Appl Sport Sci 1980;5(2):77-84. explicaram melhor a performance que os índices do teste incremental de laboratório. Contudo, referente ao teste de laboratório, a vVO2max foi a única variável selecionada para explicar a performance nas provas de 1.500 e 5.000 m (62 e 35%, respectivamente). Do mesmo modo, dentre os índices determinados no UMTT, somente a vVO2max explicou a performance nestas distâncias (78 e 66%, respectivamente). Por outro lado, o LAn determinado no laboratório e no UMTT explicou 38 e 52% da performance nos 10.000 m, respectivamente.

Tabela 3
Coeficientes de correlação múltipla dos índices fisiológicos determinados em laboratório com a performance nas distâncias de 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m.
Tabela 4
Coeficientes de correlação múltipla dos índices fisiológicos determinados no UMTT com a performance nas distâncias de 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m.

DISCUSSÃO

Confirmando as hipóteses do presente estudo, os resultados encontrados foram: os índices fisiológicos determinados no laboratório não apresentaram diferenças significativas dos índices determinados no UMTT (tabela 1); a predição da performance a partir do VO2max, vVO2max e LAn, determinados em ambos os protocolos (laboratório e UMTT), foi dependente da distância da prova; os índices fisiológicos obtidos no teste de laboratório que apresentaram capacidade de predizer a performance nas provas de 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m foram similares aos índices do UMTT; os índices derivados do UMTT apresentaram maior capacidade de predição da performance que os índices derivados do teste de laboratório nas três distâncias analisadas. Contudo, apesar da duração da prova apresentar efeitos na relação do VO2max, vVO2max e LAn com a performance dos atletas nessas distâncias, é importante ressaltar que o sistema aeróbio é predominante em todas as provas estudadas1717. Billat VL. Interval training for performance: a scientific and empirical practice special recommendations for middle- and long-distance running. Part I: Aerobic interval training. Sports Med 2001;31(1):13-31. , 2121. Spencer MR, Gastin PB. Energy system contribution during 200 to 1500m running in highly trained athletes. Med Sci Sports Exerc 2001;33(1):157-62..

Referente ao VO2max, não foi encontrada diferença significativa para esse índice quando comparado entre os protocolos de laboratório e pista (tabela 1). Isto está de acordo com outros estudos que também não encontraram diferenças entre o VO2max determinado no laboratório e no UMTT, em indivíduos heterogêneos, em termos de nível de treinamento, idade e sexo1212. Léger L, Boucher R. An indirect continuous running multistage field test: the Université de Montréal track test. Can J Appl Sport Sci 1980;5(2):77-84. , 1313. Berthoin S, Pelayo P, Lensel-Corbeil G, Robin H, Gerbeaux M. Comparison of maximal aerobic speed as assessed with laboratory and field measurements in moderately trained subjects. Int J Sports Med 1996;17(7):525-9. , 2222. Lacour JR, Montmayeur A, Dormois D. Validation of the UMTT test in a group of elite midlle-distance runners. Sci Mot 1989;7:3-8. , 2323. Berthoin S, Gerbeaux M, Turpin E, Guerrin F, Lensel-Corbeil G, Vandendorpe F. Comparison of two field tests to estimate maximum aerobic speed. J Sports Sci 1994;12(4):355-62.. Contudo, apesar do VO2max ser considerado um determinante fisiológico da performance aeróbia de corredores de endurance, quando se analisam grupos homogêneos de corredores, esse índice tem apresentado pouco poder discriminatório da performance em eventos predominantemente aeróbios66. Denadai BS, Ortiz MJ, Mello MT. Índices fisiológicos associados com a performance aeróbia em corredores de endurance: efeitos da duração da prova. Rev Bras Med Esporte 2004;10(5):401-4.. Isso pode ser evidenciado, também, no presente estudo, visto que não houve correlação do VO2max com as provas analisadas. Uma das explicações para esse comportamento pode ser devido ao baixo coeficiente de variação do VO2max (8,4 e 3,5%, respectivamente aos testes de laboratório e pista).

Além disso, quando se avaliam corredores que apresentam performances similares e baixa variabilidade do VO2max, pode-se encontrar dificuldade na associação entre as variáveis. Um baixo coeficiente de variação para a faixa de valores de uma ou ambas as variáveis (neste caso, os tempos de prova e VO2max) determina um coeficiente de correlação próximo de zero quando se associa uma variável com a outra. Uma vez que corredores com VO2max similares são analisados, têm-se acreditado que a homogeneidade do grupo pode fornecer informações mais precisas quanto à capacidade de predição de performance por parte de outros índices fisiológicos (ex: vVO2max e LAn).

Semelhante ao VO2max, não foi encontrada diferença significativa para a vVO2max quando esta foi comparada entre os protocolos estudados (tabela 1). Isto corrobora os estudos de Berthoin et al.1313. Berthoin S, Pelayo P, Lensel-Corbeil G, Robin H, Gerbeaux M. Comparison of maximal aerobic speed as assessed with laboratory and field measurements in moderately trained subjects. Int J Sports Med 1996;17(7):525-9. , 2323. Berthoin S, Gerbeaux M, Turpin E, Guerrin F, Lensel-Corbeil G, Vandendorpe F. Comparison of two field tests to estimate maximum aerobic speed. J Sports Sci 1994;12(4):355-62. que também não encontraram diferenças entre a vVO2max determinada no laboratório e no UMTT em indivíduos moderadamente treinados. Em contraste, Lacour et al.1818. Lacour JR, Padilla-Magunacelaya S, Chatard JC, Arsac L, Barthélémy JC. Assessment of running velocity at maximal oxygen uptake. Eur J Appl Physiol Occup Physiol 1991;62(2):77-82. verificaram em um grupo de corredores bem treinados que a vVO2max no UMTT (21,9 ± 1,5 km.h-1) foi levemente superior (p<0,05) que no laboratório (21,6 ± 1,6 km.h-1). Entretanto, é importante ressaltar que neste estudo1818. Lacour JR, Padilla-Magunacelaya S, Chatard JC, Arsac L, Barthélémy JC. Assessment of running velocity at maximal oxygen uptake. Eur J Appl Physiol Occup Physiol 1991;62(2):77-82. a amostra era constituída por corredores de endurance de ambos os sexos, o que, de alguma forma, pode ter influenciado nos resultados encontrados.

Referente à capacidade de predição de performance da vVO2max, este índice fisiológico, determinado em ambos os protocolos, foi o único selecionado para explicar a performance nas provas de 1.500 m e 5.000 m (tabelas 3 e 4). Nessas distâncias, a vVO2max determinada em laboratório explicou 62% e 35% da variação da performance, respectivamente. Contudo, em uma maior proporção, a vVO2max determinada no UMTT explicou a variação de performance em 78% para o 1.500 m e 66% para o 5.000 m.

Com referência à prova de 1.500 m, o presente estudo corrobora outros estudos que verificaram a relação da vVO2max, determinada no laboratório e no UMTT, com a performance de corredores de endurance nessa distância66. Denadai BS, Ortiz MJ, Mello MT. Índices fisiológicos associados com a performance aeróbia em corredores de endurance: efeitos da duração da prova. Rev Bras Med Esporte 2004;10(5):401-4. , 1111. Lacour JR, Padilla-Magunacelaya S, Barthélémy JC, Dormois D. The energetics of middle distance running. Eur J Appl Physiol Occup Physiol 1990;60(1):38-43. , 1818. Lacour JR, Padilla-Magunacelaya S, Chatard JC, Arsac L, Barthélémy JC. Assessment of running velocity at maximal oxygen uptake. Eur J Appl Physiol Occup Physiol 1991;62(2):77-82. , 2424. Billat VL, Beillot J, Jan J, Rochcongar P, Carre F. Gender effect on the relationship of time limit at 100% VO2max with other bioenergetic characteristics. Med Sci Sports Exerc 1996;28(8):1049-55. , 2626. Paavolainen LM, Nummela AT, Rusko HK. Neuromuscular characteristics and muscle power as determinants of 5-km running performance. Med Sci Sports Exerc 1999;31(1):124-30.. Lacour et al.1111. Lacour JR, Padilla-Magunacelaya S, Barthélémy JC, Dormois D. The energetics of middle distance running. Eur J Appl Physiol Occup Physiol 1990;60(1):38-43. , 1818. Lacour JR, Padilla-Magunacelaya S, Chatard JC, Arsac L, Barthélémy JC. Assessment of running velocity at maximal oxygen uptake. Eur J Appl Physiol Occup Physiol 1991;62(2):77-82. encontraram uma correlação significativa entre a vVO2max obtida em esteira rolante e a performance de corredores na prova de 1.500 m (r = -0,62 e r = -0,90, respectivamente). Do mesmo modo, também quando determinada em protocolo de laboratório, a vVO2max explicou 67% e 64% da variação da performance na prova de 1.500 m para um grupo de corredores bem treinados2424. Billat VL, Beillot J, Jan J, Rochcongar P, Carre F. Gender effect on the relationship of time limit at 100% VO2max with other bioenergetic characteristics. Med Sci Sports Exerc 1996;28(8):1049-55. e um grupo de corredores moderadamente treinados66. Denadai BS, Ortiz MJ, Mello MT. Índices fisiológicos associados com a performance aeróbia em corredores de endurance: efeitos da duração da prova. Rev Bras Med Esporte 2004;10(5):401-4., respectivamente. Quando a vVO2max foi obtida por meio do protocolo de Léger e Boucher1212. Léger L, Boucher R. An indirect continuous running multistage field test: the Université de Montréal track test. Can J Appl Sport Sci 1980;5(2):77-84. em corredores de endurance bem treinados, Lacour et al.2222. Lacour JR, Montmayeur A, Dormois D. Validation of the UMTT test in a group of elite midlle-distance runners. Sci Mot 1989;7:3-8. encontraram uma alta correlação (r = 0,96) entre esse índice e a v1.500.

Na prova de 5.000 m, os resultados encontrados confirmam os achados de outros estudos que verificaram a relação da vVO2max com a performance de corredores de endurance nessa distância88. Tanaka K, Matsuura Y, Matsuzaka A, Hirakoba K, Kumagai S, Sun SO, et al. A longitudinal assessment of anaerobic threshold and distance running performance. Med Sci Sports Exerc 1984;16(3):278-82. , 1111. Lacour JR, Padilla-Magunacelaya S, Barthélémy JC, Dormois D. The energetics of middle distance running. Eur J Appl Physiol Occup Physiol 1990;60(1):38-43. , 2525. Mercier D, Léger L. Prediction of the running performance with the maximal aerobic power. Staps 1986;14:5-28. , 2626. Paavolainen LM, Nummela AT, Rusko HK. Neuromuscular characteristics and muscle power as determinants of 5-km running performance. Med Sci Sports Exerc 1999;31(1):124-30.. Tanaka et al.88. Tanaka K, Matsuura Y, Matsuzaka A, Hirakoba K, Kumagai S, Sun SO, et al. A longitudinal assessment of anaerobic threshold and distance running performance. Med Sci Sports Exerc 1984;16(3):278-82. verificaram uma correlação significativa entre a vVO2max e a performance de corredores na distância de 5.000 m em diferentes fases de um programa de treinamento de endurance (coeficientes de correlação entre -0,67 e -0,79). Analisando, também, os 5.000 m, Lacour et al.1111. Lacour JR, Padilla-Magunacelaya S, Barthélémy JC, Dormois D. The energetics of middle distance running. Eur J Appl Physiol Occup Physiol 1990;60(1):38-43. observaram uma correlação significante (r = 0,86) entre a vVO2max e a v5.000. Adicionalmente, quando estimada a partir da relação submáxima entre VO2 e velocidade de corrida, a vVO2max também tem sido correlacionada (r = -0,63) com a prova de 5.000 m2626. Paavolainen LM, Nummela AT, Rusko HK. Neuromuscular characteristics and muscle power as determinants of 5-km running performance. Med Sci Sports Exerc 1999;31(1):124-30.. Por outro lado, em um grupo de corredores moderadamente treinados, Mercier e Léger2525. Mercier D, Léger L. Prediction of the running performance with the maximal aerobic power. Staps 1986;14:5-28. verificaram uma alta correlação (r = -0,98) entre a vVO2max determinada no UMTT e a performance na prova de 5.000 m. No entanto, essa alta correlação pode ser explicada pela característica heterogênea da amostra estudada2525. Mercier D, Léger L. Prediction of the running performance with the maximal aerobic power. Staps 1986;14:5-28..

A resposta do lactato sanguíneo também apresenta uma importante relação com a performance em corridas de endurance 1717. Billat VL. Interval training for performance: a scientific and empirical practice special recommendations for middle- and long-distance running. Part I: Aerobic interval training. Sports Med 2001;31(1):13-31.. Isso foi confirmado no presente estudo, visto que o LAn foi o único índice que explicou a performance na prova de 10.000 m (tabelas 3 e 4). Além disso, a v10.000 foi muito similar ao LAn determinado nos dois protocolos estudados (tabela 2). De fato, o LAn tem apresentado associações significativas com a performance de corredores de endurance nos 10.000 m55. Morgan DW, Baldini FD, Martin PE, Kohrt WM. Ten kilometer performance and predict velocity at VO2max among well-trained male runners. Med Sci Sports Exerc 1989;21(1):78-83. , 88. Tanaka K, Matsuura Y, Matsuzaka A, Hirakoba K, Kumagai S, Sun SO, et al. A longitudinal assessment of anaerobic threshold and distance running performance. Med Sci Sports Exerc 1984;16(3):278-82.. Dessa forma, com base nas informações apresentadas, pode-se inferir que a performance nesta distância é altamente dependente da capacidade aeróbia.

Contudo, embora o lactato sanguíneo seja um parâmetro fisiológico importante de capacidade aeróbia1717. Billat VL. Interval training for performance: a scientific and empirical practice special recommendations for middle- and long-distance running. Part I: Aerobic interval training. Sports Med 2001;31(1):13-31., existe uma grande dificuldade para a sua determinação no cotidiano esportivo em decorrência de diversos fatores (ex: alto custo financeiro, procedimentos invasivos, etc.). Em contrapartida, a resposta da frequência cardíaca, embora ainda muito contraditória2727. Achten J, Jeukendrup AE. Heart rate monitoring: applications and limitations. Sports Med 2003;33(7):517-38., tem apresentado uma relação direta com a resposta do lactato sanguíneo durante o exercício1515. Conconi F, Ferrari M, Ziglio PG, Droghetti P, Codeca L. Determination of the anaerobic threshold by a noninvasive field test in runners. J Appl Physiol 1982;52(4):869-73. , 1616. Conconi F, Grazzi G, Casoni I, Guglielmini C, Borsetto C, Ballarin E, et al. The Conconi test: methodology after 12 years of application. Int J Sports Med 1996;17(7):509-19.. Baseado nesta relação, hipotetizou-se, no presente estudo, que por meio da identificação do PDFC no teste de Léger e Boucher1212. Léger L, Boucher R. An indirect continuous running multistage field test: the Université de Montréal track test. Can J Appl Sport Sci 1980;5(2):77-84., seria possível estimar o LAn segundo o método de Heck et al.99. Heck H, Mader A, Hess G, Mücke S, Müller R, Hollmann W. Justification of the 4-mmol/l lactate threshold. Int J Sports Med 1985;6(3):117-30. para protocolos incrementais com estágios de 3 min de duração. Isto pôde ser confirmado, visto que não foi encontrada diferença significativa para este índice quando comparado entre o protocolo de laboratório e o UMTT (tabela 1).

CONCLUSÃO

Com base nos resultados encontrados, pode-se concluir que a predição da performance aeróbia de corredores de endurance moderadamente treinados, a partir do VO2max, vVO2max e LAn (determinados no laboratório e no UMTT), é dependente da distância da prova analisada (1.500m, 5.000m e 10.000m). Além disso, não foram observadas diferenças nos valores médios dos índices obtidos entre os protocolos, embora os índices determinados no UMTT apresentassem maior poder de predição de performance do que os índices determinados no laboratório, confirmando, assim, a validade ecológica do teste proposto por Léger e Boucher1212. Léger L, Boucher R. An indirect continuous running multistage field test: the Université de Montréal track test. Can J Appl Sport Sci 1980;5(2):77-84..

REFERÊNCIAS

  • 1
    Brandon LJ. Physiological factors associated with middle distance running performance. Sports Med 1995;19(4):268-77.
  • 2
    Schabort EJ, Killian SC, St Clair Gibson A, Hawley JA, Noakes TD. Prediction of triathlon race time from laboratory testing in national triathletes. Med Sci Sports Exerc 2000;32(4):844-9.
  • 3
    McLaughlin JE, Howley ET, Bassett Jr. DR, Thompson DL, Fitzhugh EC. Test of the classic model for predicting endurance running performance. Med Sci Sports Exerc 2010;42(5):991-7.
  • 4
    Santos TM, Rodrigues AI, Greco CC, Marques AL, Terra BS, Oliveira BRR. VO2max estimado e sua velocidade correspondente predizem o desempenho de corredores amadores. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2012;14(2):192-201.
  • 5
    Morgan DW, Baldini FD, Martin PE, Kohrt WM. Ten kilometer performance and predict velocity at VO2max among well-trained male runners. Med Sci Sports Exerc 1989;21(1):78-83.
  • 6
    Denadai BS, Ortiz MJ, Mello MT. Índices fisiológicos associados com a performance aeróbia em corredores de endurance: efeitos da duração da prova. Rev Bras Med Esporte 2004;10(5):401-4.
  • 7
    Noakes TD, Myburgh KH, Schall R. Peak treadmill running velocity during the VO2max test predicts running performance. J Sports Sci 1990;8(1):35-45.
  • 8
    Tanaka K, Matsuura Y, Matsuzaka A, Hirakoba K, Kumagai S, Sun SO, et al. A longitudinal assessment of anaerobic threshold and distance running performance. Med Sci Sports Exerc 1984;16(3):278-82.
  • 9
    Heck H, Mader A, Hess G, Mücke S, Müller R, Hollmann W. Justification of the 4-mmol/l lactate threshold. Int J Sports Med 1985;6(3):117-30.
  • 10
    Billat VL, Flechet B, Petit B, Muriaux G, Koralsztein JP. Interval training at VO2max: effects on aerobic performance and over training markers. Med Sci Sports Exerc 1999;31(1):156-63.
  • 11
    Lacour JR, Padilla-Magunacelaya S, Barthélémy JC, Dormois D. The energetics of middle distance running. Eur J Appl Physiol Occup Physiol 1990;60(1):38-43.
  • 12
    Léger L, Boucher R. An indirect continuous running multistage field test: the Université de Montréal track test. Can J Appl Sport Sci 1980;5(2):77-84.
  • 13
    Berthoin S, Pelayo P, Lensel-Corbeil G, Robin H, Gerbeaux M. Comparison of maximal aerobic speed as assessed with laboratory and field measurements in moderately trained subjects. Int J Sports Med 1996;17(7):525-9.
  • 14
    Basset FA, Chouinard R, Boulay MR. Training profile counts for time to exhaustion performance. Can J Appl Physiol 2003;28(4):654-66.
  • 15
    Conconi F, Ferrari M, Ziglio PG, Droghetti P, Codeca L. Determination of the anaerobic threshold by a noninvasive field test in runners. J Appl Physiol 1982;52(4):869-73.
  • 16
    Conconi F, Grazzi G, Casoni I, Guglielmini C, Borsetto C, Ballarin E, et al. The Conconi test: methodology after 12 years of application. Int J Sports Med 1996;17(7):509-19.
  • 17
    Billat VL. Interval training for performance: a scientific and empirical practice special recommendations for middle- and long-distance running. Part I: Aerobic interval training. Sports Med 2001;31(1):13-31.
  • 18
    Lacour JR, Padilla-Magunacelaya S, Chatard JC, Arsac L, Barthélémy JC. Assessment of running velocity at maximal oxygen uptake. Eur J Appl Physiol Occup Physiol 1991;62(2):77-82.
  • 19
    Kuipers H, Verstappen FT, Keizer HA, Geurten P, van Kranenburg G. Variability of aerobic performance in the laboratory and its physiologic correlates. Int J Sports Med 1985;6(4):197-201.
  • 20
    Kara M, GökbeL H, Bediz C, Ergene N, Uçok K, UysaL H. Determination of the heart rate deflection point by the Dmax method. J Sports Med Phys Fitness 1996;36(1):31-4.
  • 21
    Spencer MR, Gastin PB. Energy system contribution during 200 to 1500m running in highly trained athletes. Med Sci Sports Exerc 2001;33(1):157-62.
  • 22
    Lacour JR, Montmayeur A, Dormois D. Validation of the UMTT test in a group of elite midlle-distance runners. Sci Mot 1989;7:3-8.
  • 23
    Berthoin S, Gerbeaux M, Turpin E, Guerrin F, Lensel-Corbeil G, Vandendorpe F. Comparison of two field tests to estimate maximum aerobic speed. J Sports Sci 1994;12(4):355-62.
  • 24
    Billat VL, Beillot J, Jan J, Rochcongar P, Carre F. Gender effect on the relationship of time limit at 100% VO2max with other bioenergetic characteristics. Med Sci Sports Exerc 1996;28(8):1049-55.
  • 25
    Mercier D, Léger L. Prediction of the running performance with the maximal aerobic power. Staps 1986;14:5-28.
  • 26
    Paavolainen LM, Nummela AT, Rusko HK. Neuromuscular characteristics and muscle power as determinants of 5-km running performance. Med Sci Sports Exerc 1999;31(1):124-30.
  • 27
    Achten J, Jeukendrup AE. Heart rate monitoring: applications and limitations. Sports Med 2003;33(7):517-38.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Aug 2014

Histórico

  • Recebido
    10 Set 2013
  • Revisado
    21 Nov 2013
  • Aceito
    13 Jan 2014
Universidade Federal de Santa Catarina Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Universitário Trindade, Centro de Desportos - RBCDH, Zip postal: 88040-900 - Florianópolis, SC. Brasil, Fone/fax : (55 48) 3721-8562/(55 48) 3721-6348 - Florianópolis - SC - Brazil
E-mail: rbcdh@contato.ufsc.br