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Inovação nos quintais agrobiodiversos da Cooperativa D’Irituia, Pará

Inovation in the agrobiodiversary yards of Cooperativa D’Irituia, Pará state

RESUMO

O estudo investigou quintais amazônicos que possuem função de reservatório de agrobiodiversidade. Os quintais de famílias agricultoras da Cooperativa D’Irituia foram analisados quanto aos aspectos socioeconômicos e composição botânica, no município de Irituia, Pará. Utilizaram-se recurso audiovisual, georreferenciamento, entrevistas estruturadas e semiestruturadas, caminhada junto ao mantenedor do quintal, inventário florístico empírico e observação participante. As análises estatísticas, similaridade de Jaccard, índice de Shannon-Weaver (H’) e índice de Pielou (J) foram usadas para apresentar os resultados. A relação entre idade e tamanho dos quintais e a análise de agrupamento aos testes de similaridade não apresentaram diferenças estatísticas significativas (p> 0,05). A Euterpe oleracea Mart. foi a espécie preferencial ao autoconsumo. Anualmente, 3.056 kg de polpa de frutas são produzidos em 52% dos quintais visitados. O índice de diversidade de H' apresenta-se diversificado, entretanto, a produção de alimentos (kg) diminui conforme aumenta o índice de H' independentemente da idade do quintal (p> 0,05). A agregação de valor ao produto auxilia na construção da agrobiodiversidade e no manejo adequado dos quintais, disponibilizando recursos alimentícios, medicinais e madeireiros associados à geração de renda.

Palavras-chave:
Similaridade; Índice de diversidade; Agroindústria familiar

ABSTRACT

The study investigated the Amazon backyards that serve as agrobiodiversity reservoirs. The backyards of farming families at ‘Cooperativa D'Irituia’ were analyzed for their socioeconomic aspects and botanical composition, in the municipality of Irituia, Pará state. Audiovisual resources, georeferencing, structured and semi-structured interviews, a walk along with the backyard maintainer, empirical floristic inventory and participant observation. Statistical analyzes, Jaccard similarity, Shannon-Weaver index (H') and Pielou index (J) were used to present the results. The relationship between the age and size of the yards and the cluster analysis to the similarity tests did not show statistically significant differences (p> 0.05). Euterpe oleracea Mart. it was the preferred species to self-consumption. Annually, 3,056 kg of fruit pulp is produced in 52% of the backyards visited. The H' diversity index is diversified. However, food production (kg) decreases as the H' index increases regardless of the age of the yard (p> 0.05). Adding value to the product assists in the construction of agrobiodiversity and in the proper management of the backyards, providing food, medicinal and timber resources associated with income generation.

Keywords:
Similarity; Diversity index; Family agribusiness

1 INTRODUÇÃO

Tradicionalmente, os quintais amazônicos mantêm uma diversidade de espécies como fonte alimentícia. Esses quintais, geralmente, “encontram-se próximos às casas” (ROSA; VIEIRA; PIRES, 2009ROSA, L. dos S.; VIEIRA, T. A.; PIRES, H. C. G. Quintais agroflorestais em comunidades rurais de Bonito, Pará. Cadernos de Agroecologia , v. 4, n. 1, 2009. Disponível em: https://bit.ly/3wPeHKp. Acesso em: 03 jun. 2020.
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, p. 1310), “a jardinagem em casa tem uma longa tradição” (NAIR, 1993NAIR, P. K. R. An introduction to agroforestry. Dordrecht: Kluwer, 1993. Disponível em: https://bit.ly/3gQsafm. Acesso em: 18 fev. 2021.
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, p. 85) aliada a diversas funções como lazer, esportiva, religiosa, doméstica, paisagística e escolares (RAYOL; MIRANDA, 2019RAYOL, B. P.; MIRANDA, I. S. Quintais agroflorestais na Amazônia Central: caracterização, importância social e agrobiodiversidade. Ciência Florestal , Santa Maria, v. 29, n. 4, p. 1614-1629, 2019. Disponível em: https://bit.ly/3j0DfMB. Acesso em: 14 jun. 2020.
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).

Os quintais por serem “constituídos de espécies com diferentes hábitos de vida formam múltiplos estratos, assemelhando à estrutura de florestas tropicais” (ROSA; VIEIRA; PIRES, 2009ROSA, L. dos S.; VIEIRA, T. A.; PIRES, H. C. G. Quintais agroflorestais em comunidades rurais de Bonito, Pará. Cadernos de Agroecologia , v. 4, n. 1, 2009. Disponível em: https://bit.ly/3wPeHKp. Acesso em: 03 jun. 2020.
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, p. 1313). Em especial, os quintais amazônicos “abrigam amostras da floresta” (SILVA JÚNIOR; SANTOS; SABLAYROLLES, 2013SILVA JÚNIOR, A. L.; SANTOS, S. M. S. B. M.; SABLAYROLLES, M. das G. P. O Amálgama floresta e agricultura na Reserva Extrativista Arióca Pruanã. Novos Cadernos NAEA, Belém, v. 16, n. 1, p. 181-201, 2013. Disponível em: https://bit.ly/3zRKxbg. Acesso em: 03 jun. 2020.
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, p. 185), “são estabelecidos com espécies vegetais retiradas da floresta nativa e das capoeiras mais velhas, fornecendo produtos úteis à família” (DUBOIS, 1996DUBOIS, J. C. L. Manual de agrofloresta para a Amazônia. Rio de Janeiro: REBRAF, 1996., p. 57). O estrato arbóreo destaca-se devido à preferência pelo cultivo de variedades locais, em especial de espécies nativas de árvores frutíferas que estão relacionadas à dieta alimentar das famílias (MIRANDA; KATO; SABLAYROLLES, 2013MIRANDA, S. B.; KATO, O. R.; SABLAYROLLES, M. das G. Caracterização e importância dos quintais agroflorestais aos agricultores familiares do Baixo Irituia, Pará. Cadernos de Agroecologia, Porto Alegre, v. 8, n. 2, 2013. Disponível em: https://bit.ly/3gTi64o. Acesso em: 03 jun. 2020.
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), além de apresentarem valor comercial, pois complementam a renda familiar (MARTINS et al., 2012MARTINS, W. M. O. et al. Agrobiodiversidade nos quintais e roçados ribeirinhos na comunidade Boca do Môa/Acre. Biotemas, Florianópolis, v. 25, n. 3, p. 11-120, 2012. Disponível em: https://bit.ly/3gP7a7y. Acesso em: 14 jun. 2020.
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).

Os quintais de famílias agricultoras são conhecidos como “quintal”, “miscelânea”, “horta familiar” (DUBOIS, 1996DUBOIS, J. C. L. Manual de agrofloresta para a Amazônia. Rio de Janeiro: REBRAF, 1996., p. 53) ou “terreiro” por Silva Júnior, Santos e Sablayrolles (2013SILVA JÚNIOR, A. L.; SANTOS, S. M. S. B. M.; SABLAYROLLES, M. das G. P. O Amálgama floresta e agricultura na Reserva Extrativista Arióca Pruanã. Novos Cadernos NAEA, Belém, v. 16, n. 1, p. 181-201, 2013. Disponível em: https://bit.ly/3zRKxbg. Acesso em: 03 jun. 2020.
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, p. 185). Esses quintais apresentam importantes funções de manutenção da biodiversidade, promovendo a “segurança alimentar” (ALTIERI, 2010ALTIERI, M. A. Agroecologia, agricultura camponesa e soberania alimentar. Revista Nera, Presidente Prudente, v. 13, n. 16, p. 22-32, 2010. Disponível em: https://bit.ly/3gOiXV9. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 24) e a saúde por meio do cultivo de plantas medicinais (FREITAS et al., 2012FREITAS, A. V. L. et al. Plantas medicinais: um estudo etnobotânico nos quintais do Sítio Cruz, São Miguel, Rio Grande do Norte, Brasil. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 10, n. 1, p. 48-59, 2012. Disponível em: https://bit.ly/3wRG32y. Acesso em: 14 jun. 2020.
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; SIVIERO et al., 2012SIVIERO, A. et al. Plantas medicinais em quintais urbanos de Rio Branco, Acre. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 14, n. 4, p. 598-610, 2012. Disponível em: https://bit.ly/3hcp5FN. Acesso em: 19 mar. 2021.
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), consequentemente, favorecem o uso sustentável dos recursos naturais.

Sablayrolles e Andrade (2009SABLAYROLLES, M. G. P.; ANDRADE, L. H. C. Entre sabores, aromas e saberes: a importância dos quintais agroflorestais para agricultores ribeirinhos no Tapajós- PA. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS, 7., 2009. Anais [...]. [S. l.: s. n.], 2009. p. 22-26. , p. 26) demonstram que “os quintais são espaços antropogênicos que refletem vontade, origem e trajetória, bem como as condições socioeconômicas e culturais”. Nesse contexto, os quintais mantêm a “função de reservatório de agrobiodiversidade em comunidades mundo afora”, segundo estudos de Oakley (2004OAKLEY, E. Quintais domésticos: uma responsabilidade cultural. Agriculturas: experiências em agroecologia, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 37-39, 2004. Disponível em: https://bit.ly/35MK2l2. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 37).

As comunidades rurais amazônicas são uma “excelente fonte de informações etnobotânicas” (FREITAS et al., 2012FREITAS, A. V. L. et al. Plantas medicinais: um estudo etnobotânico nos quintais do Sítio Cruz, São Miguel, Rio Grande do Norte, Brasil. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 10, n. 1, p. 48-59, 2012. Disponível em: https://bit.ly/3wRG32y. Acesso em: 14 jun. 2020.
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; SANTOS et al., 2019SANTOS, E. Q. dos et al. Etnobotânica da flora medicinal de quintais na comunidade Mamangal, Rio Meruú, Igarapé-Miri, Pará. Scientia Plena, v. 15, n. 5, p. 1-11, 2019. Disponível em: https://bit.ly/2Sovcyi. Acesso em: 19 mar. 2021.
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) e “biocultural” (CALVET-MIR et al., 2015CALVET-MIR, L. et al. The Transmission of Home Garden Knowledge: Safeguarding Biocultural Diversity and Enhancing Social-Ecological Resilience. Society and Natural Resources, v. 29, n. 5, p. 1-16, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3vJGx9G. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 10), com auxílio da agrobiodiversidade ao fornecimento de alimentos e matérias-primas para produção de bens (LEITE et al., 2012LEITE, D. L. et al. Agrobiodiversidade como base para sistemas agrícolas sustentáveis para a agricultura familiar. Pelotas: embrapa clima Temperado. (Documentos, 354), 2012. Disponível em: https://bit.ly/3zN6fxl. Acesso em: 13 fev. 2021.
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) podem contribuir em estratégias de restauração ecológica de áreas alteradas na Amazônia. Conforme Leite et al. (2012LEITE, D. L. et al. Agrobiodiversidade como base para sistemas agrícolas sustentáveis para a agricultura familiar. Pelotas: embrapa clima Temperado. (Documentos, 354), 2012. Disponível em: https://bit.ly/3zN6fxl. Acesso em: 13 fev. 2021.
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, p. 15), “os agricultores vão continuar a cultivar e preservar a biodiversidade local, desde que tenham benefício em cultivá-la”.

Gonçalves e Lucas (2017GONÇALVES, J. P.; LUCAS, F. C. A. Agrobiodiversidade e etnoconhecimento em quintais de Abaetetuba, Pará, Brasil. Revista Brasileira de Biociências , Porto Alegre, v. 15, n. 3, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3gUNJu7. Acesso em: 13 fev. 2021.
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) destacam as trocas de etnoespécies e etnovariedades que se tornam potenciais mantenedores da agrobiodiversidade local. Os saberes e práticas desenvolvidas pelos agricultores no desenvolvimento do agroecossistema estão associados aos aspectos socioeconômicos e culturais, que são desenvolvidos e compartilhados pelos agricultores (SANTILLI, 2009SANTILLI, J. Agrobiodiversidade e direito dos agricultores. São Paulo: Peirópolis, 2009. 520 p.).

Dessa forma, as relações humanas são um fator fundamental para compreender a agrobiodiversidade, Amorozo (2002AMOROZO, M. C. M. Sistemas agrícola tradicionais e a conservação de agrobiodiversidade. São Paulo: Governo do Estado, 2002. p. 123-131. Disponível em: https://bit.ly/3j40S6V. Acesso em: 13 fev. 2021.
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) destaca que os processos de modernização da agricultura têm provocado a erosão acelerada da biodiversidade, do conhecimento tradicional e da agrobiodiversidade em regiões economicamente desenvolvidas e com predomínio da monocultura. Deve-se considerar a perda de conhecimentos indígenas e de comunidades agrícolas, provocando o que se chama de erosão do conhecimento (MACHADO, 2007MACHADO, A. T. Biodiversidade e agroecologia. In: BOEF, W. S. et al. (org.). Biodiversidade e agricultores: fortalecendo o manejo comunitário. Porto Alegre: L&PM, 2007. p. 40-45. Disponível em: https://bit.ly/3gMCk0E. Acesso em: 13 fev. 2021.
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).

Segundo as considerações de Gliessman (2002GLIESSMAN, S. R. Agroecología: procesos ecológicos en agricultura sostenible. Turrialba: CATIE, 2002. Disponível em: https://bit.ly/2SVw5yx. Acesso em: 14 jun. 2020.
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), os quintais ajudam a amortecer as forças que encorajam a migração para centros industriais e o abandono de laços sociais tradicionais, por oferecerem a possibilidade de autonomia local, equidade econômica e sustentabilidade ecológica. Diante desse processo, existe uma revalorização dos quintais, por conta da localização ao redor das casas o que facilita a relação com a agrobiodiversidade.

Nesse contexto, devido às intensas transformações que ocorrem no cenário das comunidades rurais do Nordeste Paraense, é pertinente investigar a dinâmica associada aos quintais agroflorestais, verificando quais os fatores envolvidos em relação aos componentes que interagem nos agroecossistemas familiares. Dessa forma, a relevância dos quintais para as famílias agricultoras da Cooperativa D’Irituia, Município de Irituia, Pará, foi o alicerce aos resultados em questão, com o objetivo de analisar estes quintais sob o enfoque da composição botânica associada à agrobiodiversidade.

2 MATERIAL E MÉTODO

2.1 Caracterização da área de estudo

O estudo foi realizado no município de Irituia, Estado do Pará, pertencente à “Mesorregião Nordeste Paraense, à Microrregião Guamá e à região de integração Rio Capim” (BRASIL, 2013BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Geodiversidade do Estado do Pará: programa de geologia do Brasil - levantamento da geodiversidade. Belém: CPRM, 2013. 258 p. Disponível em: https://bit.ly/3xFZgV5. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 143). Os 23 quintais que compõem a amostra foram distribuídos em 17 Comunidades, conforme observadas na Figura 1.

Figura 1
Mapa de localização das comunidades referentes aos quintais de estudo, Cooperativa D’Irituia, 2016

2.2 Procedimento de campo

Inicialmente, foi assinado o Termo de Consentimento Prévio e Informado pelo Presidente da Cooperativa D’Irituia ao desenvolvimento da pesquisa junto às famílias das áreas previamente selecionadas em reunião de apresentação. O mantenedor do quintal foi o guia ao registro da caracterização e análises mediante entrevistas estruturadas e semiestruturadas (assinadas pelo informante principal), recursos audiovisuais (registro fotográfico e gravador portátil) e auxílio do GPS (Global Position System) para coleta de dados geográficos.

Nas viagens ao campo, nos quintais agroflorestais de base familiar foram caracterizados os componentes de uso do espaço, a idade (ano) do representante familiar para relacionar com a composição botânica, idade de formação e o tamanho da área em hectare (ha) do quintal.

Durante a caminhada, realizou-se um inventário florístico, a partir do conhecimento tradicional das famílias, e a contagem e identificação de espécie de todos os indivíduos arbustivos e arbóreos, ressalta-se que para as espécies que apresentam formação de touceiras e bananeiras com seu conjunto de rizomas, contou-se apenas a touceira.

Ab’Saber (2002AB'SABER, A. N. Bases para o estudo dos ecossistemas da Amazônia brasileira. Estudos Avançados, São Paulo, v. 16, n. 45, p. 7-30, 2002. Disponível em: https://bityli.com/pALV9. Acesso em: 20 fev. 2021.
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, p. 19) relata que “na primeira fase de identificação de componentes da vegetação amazônica, em território brasileiro, é uma herança dos povos indígenas, que habitaram a região por alguns milhares de anos”. Ele destaca que, atualmente, os povos originários servem de guia para pesquisadores, pois eles transmitem e agregam conhecimento ameríndio no processo de identificação. Ab’Saber (2002AB'SABER, A. N. Bases para o estudo dos ecossistemas da Amazônia brasileira. Estudos Avançados, São Paulo, v. 16, n. 45, p. 7-30, 2002. Disponível em: https://bityli.com/pALV9. Acesso em: 20 fev. 2021.
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, p. 19) afirma ainda que “os estudos de etnociências aplicados à Amazônia brasileira possibilitaram a identificação de um valor nitidamente ecológico em muitos termos de origem tupi”. Rosa et al. (2007ROSA, L. S. et al. Os quintais agroflorestais em áreas de agricultores familiares no município de Bragança-PA: composição florística, uso de espécies e divisão de trabalho familiar. Revista Brasileira de Agroecologia, v. 2, n. 2, p. 337-341, 2007. , p. 340) afirmam que “além da questão alimentar, a tradição cultural é outro fator que influencia a composição florística dos quintais na Amazônia, uma vez que os conhecimentos tradicionais sobre o cultivo e uso das plantas são transmitidos de geração a geração”.

Os usos das espécies vegetais foram classificados conforme as categorias a seguir: alimentar, medicinal, florestal, ornamental e outros. Essas espécies foram reconhecidas e citadas por seu nome popular, devido à fácil identificação da maioria das espécies de uso comum, entretanto, considerou-se o sistema de classificação botânica do herbário virtual REFLORA (JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO, 2020JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO. REFLORA. Flora do Brasil 2020. Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3vKdPW5. Acesso em: 14 jun. 2020.
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) para confirmação e coleta de dados taxonômicos.

2.3 Análise de dados

A similaridade entre a vegetação dos quintais foi calculada pelo Coeficiente de Similaridade de Jaccard, conforme apresentado por Rode et al. (2009RODE, R. et al. Comparação florística entre uma Floresta Ombrófila Mista e uma vegetação arbórea estabelecida sob um povoamento de Araucaria angustifolia de 60 anos. Cerne, Lavras, v. 15, n. 1, p. 101-115, 2009. Disponível em: https://bit.ly/3gXW54o. Acesso em: 18 fev. 2021.
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). Foi construída uma matriz de presença e ausência, na qual não foram consideradas as espécies não identificadas para o cálculo geral de similaridade das espécies do quintal. No programa R, utilizou-se o método de média e matriz de similaridade baseada na distância binária de Jaccard. A análise de agrupamento foi realizada por método hierárquico que utiliza a média aritmética UPGMA-Agrupamento pelas Médias Aritméticas não Ponderadas (SNEATH, 2005SNEATH, P. H. A. Taxonomia numérica. In: Bergey's Manual® of Systematic Bacteriology. Boston: Springer, 2005. p. 39-42.).

A composição botânica dos quintais foi estudada pela riqueza de espécie e pela diversidade florística, respectivamente, pela equitabilidade, ou abundância relativa medida pelo Índice de Pielou (J) e a última pelo Índice de Shannon-Weaver (H’), de acordo com os estudos de Chaves et al. (2013CHAVES, A. D. C. G. et al. A importância dos levantamentos florístico e fitossociológico para a conservação e preservação das florestas. Revista ACSA - Agropecuária Científica no Semiárido, Campina Grande, v. 9, n. 2, p. 42-48, 2013. Disponível em: https://bit.ly/3d7yQDU. Acesso em: 14 jun. 2020.
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).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os espaços denominados por quintais pelas famílias agricultoras foram classificados como quintais agroflorestais, característicos aos encontrados na região amazônica (SOUZA et al., 2017SOUZA, A. M. B. et al. Aspectos da segurança alimentar com base em quintais agroflorestais na comunidade rural de santa luzia do Induá no município de Capitão Poço, PA. Agroecossistemas, v. 9, n. 2, p. 275-287, 2017. Disponível em: https://bit.ly/2UsWqV8. Acesso em: 14 jun. 2020.
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), localizados em sua maioria ao fundo da moradia, de acordo com a pesquisa de Rayol e Miranda (2019RAYOL, B. P.; MIRANDA, I. S. Quintais agroflorestais na Amazônia Central: caracterização, importância social e agrobiodiversidade. Ciência Florestal , Santa Maria, v. 29, n. 4, p. 1614-1629, 2019. Disponível em: https://bit.ly/3j0DfMB. Acesso em: 14 jun. 2020.
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). Nos quintais visitados é desenvolvido um conjunto de atividades que interagem com a dinâmica produtiva familiar, como a criação de animais (83%), produção de horta (48%) e adubos orgânicos (26%) aliada à preservação de córregos e nascentes (35%), entre outros. As principais estruturas são a casa de farinha (39%), a despolpadora de frutas (22%) e os viveiros rústicos (17%).

Ressalta-se a valorização dos espaços próximos à casa com implantação de estruturas permanentes, como a casa de polpa para processamento das espécies frutíferas de interesse econômico, desse modo, ressignificam esses pequenos espaços de produção familiar, pois agregam valor ao produto, buscando associar conservação da agrobiodiversidade, autoconsumo e venda do excedente de forma organizada e saudável. A produção de polpa de frutas nativas é muito apreciada no mercado local e regional, como, também, consumidas pelas famílias da pesquisa. A venda desta é realizada para a Cooperativa D’Irituia e em feiras locais e regionais, destacando-se como uma importante fonte de renda familiar. Contudo, a infraestrutura da casa de polpa exige um custo inicial alto e requer custos de manutenção que, muitas vezes, não compensam o investimento feito. Essas estruturas ainda encontram limitações no processo de regularização deste empreendimento, devido à falta de assistência técnica no planejamento da construção, a qual necessita, por vezes, de uma revisão na parte física.

Nos quintais da pesquisa, são produzidos 31.738 quilos (kg) de alimentos naturais anualmente, média de 1.175 kg, representando 22% da produção total. Do total produzido nesses quintais, 21% foram destinados ao autoconsumo e 79% destes foram direcionados à venda. O uso na forma de polpa de frutas (kg) representou 10% do total dos produtos obtidos nos quintais visitados. Anualmente, um total de 3.056 kg de polpa de frutas são produzidos em 52% dos quintais correspondentes da amostra. Entre as 15 espécies frutíferas produtivas, 53% são utilizadas na produção de polpa (kg), o cupuaçu (Theobroma grandiflorum) apresentou a maior quantidade (26%), seguida de 16% do caju (Anacardium spp.), 13% do abacaxi (Ananas spp.), 12% da goiaba (Psidium spp.), 10% do muruci (Byrsonima spp.), 10% do açaí, 9% do taperebá (Spondias spp.) e 4% da acerola (Malpighia spp.).

A idade dos informantes principais variou entre 34 a 72 anos, período equivalente ao relatado por Garcia, Vieira e Oliveira (2017GARCIA, B. N. R.; VIEIRA, T. A.; OLIVEIRA, F. de A. Aspectos socioeconômicos de manejadores de quintais agroflorestais: o caso de uma comunidade rural na Amazônia. Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, v. 2017, n. 1, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3wTJBBE. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 3), já que a idade dos seus entrevistados variou de “30 a 64 anos, com média de 47 anos, uma faixa produtiva ao trabalho”. Os ribeirinhos entrevistados por Martins et al. (2012MARTINS, W. M. O. et al. Agrobiodiversidade nos quintais e roçados ribeirinhos na comunidade Boca do Môa/Acre. Biotemas, Florianópolis, v. 25, n. 3, p. 11-120, 2012. Disponível em: https://bit.ly/3gP7a7y. Acesso em: 14 jun. 2020.
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) estão na faixa de 35 a 82 anos, com média de 46 anos; esses autores enfatizam a discussão de pesquisas no Brasil, que a maioria de trabalhadores da agricultura do meio rural estão na faixa de 40 a 69 anos.

Geralmente, os quintais estão sob os cuidados femininos (ALMEIDA; GAMA, 2014ALMEIDA, L. S.; GAMA, J. R. V. Quintais agroflorestais: estrutura, composição florística e aspectos socioambientais em área de assentamento rural na Amazônia brasileira. Ciência Florestal, Santa Maria, v. 24, n. 4, p. 1041-1053, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3j9e3n5. Acesso em: 14 jun. 2020.
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), elas são “responsáveis pelo manejo dos quintais independentemente do tamanho da família” (RAYOL; MIRANDA, 2017RAYOL, B. P.; MIRANDA, I. S. Influência dos fatores socioeconômicos sobre a riqueza de plantas de quintais agroflorestais da Amazônia Central. Revista Espacios, v. 38, n. 46, p. 28-39, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3qkuz5f. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 32). Garcia, Vieira e Oliveira (2017GARCIA, B. N. R.; VIEIRA, T. A.; OLIVEIRA, F. de A. Aspectos socioeconômicos de manejadores de quintais agroflorestais: o caso de uma comunidade rural na Amazônia. Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, v. 2017, n. 1, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3wTJBBE. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 7) discutem que essas áreas se tornam “uma expansão do trabalho do lar”. As mulheres do estudo (74%) declararam ser as mantenedoras desses espaços com autonomia na organização estrutural e composição botânica dos quintais. Curiosamente, Souza et al. (2017SOUZA, A. M. B. et al. Aspectos da segurança alimentar com base em quintais agroflorestais na comunidade rural de santa luzia do Induá no município de Capitão Poço, PA. Agroecossistemas, v. 9, n. 2, p. 275-287, 2017. Disponível em: https://bit.ly/2UsWqV8. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 284) perceberam o contraponto, pois os “principais responsáveis pela manutenção são homens” (44%). Em suas revisões, Barreto e Freitas (2017BARRETO, I. F.; FREITAS, A. D. D. Etnobotânica em quintais agroflorestais na comunidade Barreiras em Almeirim, Pará. Revista de Administração e Negócios da Amazônia, v. 9, n. 1, p. 45-62, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3d2SeSc. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 58) notaram uma divisão nas atividades relacionadas ao quintal, “o manejo é responsabilidade dos homens e a decisão das espécies a serem cultivadas, sobretudo ornamentais e medicinais, cabe às mulheres. Em alguns casos as mulheres são as mantenedoras diretas das práticas de manejo”.

A Figura 2 apresenta o agrupamento de toda composição botânica entre os quintais pesquisados. Os agrupamentos não foram estatisticamente significativos (p > 0,05), portanto, a hipótese de que "o cluster não existe" não é rejeitada. Verifica-se que os quintais são semelhantes, entretanto, observa-se que o quintal 16 foi o que mais se diferenciou em relação aos demais, pelo fato dessa variável possuir pouca semelhança em relação às outras, muito por conta deste quintal ser fruto do processo de divisão entre os membros familiares. Cabe ressaltar que 83% dos quintais estudados por Beretta (2010BERETTA, M. E. A Flora dos Quintais Agroflorestais de Ibiraquera, Imbituba, SC: expressões ambientais e culturais. 2010. Dissertação (Mestrado em Ciências Agrárias) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010. Disponível em: https://bit.ly/3d6x9X7. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 24) “já foram maiores no passado, apontado como um dos motivos da redução desta área é a divisão das terras das propriedades entre os familiares”. Os Quintais 2 e 3 são os que possuem o maior grau semelhança (0,5), devido à menor distância binária de similaridade, esses quintais formam o primeiro grupo, possuem os maiores valores do índice de diversidade 2,99 nats.indivíduo-1 e 3,07 nats.indivíduo-1 e alta equabilidade 0,82 e 0,83, respectivamente. Também, compartilham 15% do total de espécies vegetais registradas, sendo 80% destas representadas pela agrobiodiversidade.

Figura 2
Dendrograma obtido pelo método UPGMA e o coeficiente de similaridade de Jaccard das espécies vegetais identificadas nos quintais agroflorestais

A composição botânica dos quintais é bastante diversificada, registraram-se 4.067 plantas, abrangendo 128 espécies, 100 gêneros e 46 famílias botânicas. Os indivíduos registrados, foram elevados quando comparados aos estudos de Souza et al. (2017SOUZA, A. M. B. et al. Aspectos da segurança alimentar com base em quintais agroflorestais na comunidade rural de santa luzia do Induá no município de Capitão Poço, PA. Agroecossistemas, v. 9, n. 2, p. 275-287, 2017. Disponível em: https://bit.ly/2UsWqV8. Acesso em: 14 jun. 2020.
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). Cabe ressaltar que não se realizou a contagem de 38 espécies devido ao hábito de vida delas, portanto, estas foram apenas citadas, dividem-se em 82 indivíduos, distribuídos em 36 gêneros e 29 famílias. Dessa forma, totalizando um registro de 4.149 indivíduos, referente a 166 espécies, relacionados a 133 gêneros e 62 famílias botânicas.

A Tabela 1 apresenta a relação das 166 espécies vegetais contabilizadas nos quintais de Irituia, esta Tabela mostra que a espécie mais frequente é a palmeira de açaí (18%), pois o seu fruto faz parte da dieta alimentar das famílias amazônicas. Deste universo, a categoria de uso alimentar está representada por 47% deste total de espécies e, ainda, verificou-se que a maioria (60%) das espécies são consideradas nativas, dentre as espécies nativas 36% foram consideradas de uso alimentar. O domínio de espécies nativas nos quintais agroflorestais visitados contrapõe o que é comum observar “nos quintais de regiões tropicais úmidas e áridas, onde há um domínio de plantas exóticas” (KUMAR; NAIR, 2004KUMAR, B. M.; NAIR, P. K. R. The enigma of tropical homengardens. Agroflorestry Systems, v. 61, n. 1, p. 135-152, 2004. Disponível em: https://bit.ly/3wQr8pu. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 138).

Observou-se entre as 62 famílias botânicas registradas, que as 10 mais representativas nos quintais são a Arecaceae (10%) e Fabaceae (9%), seguida pelas famílias Rutaceae (5%), Malvaceae (5%), Bignoniaceae (4%), Anacardiaceae (4%), Euphorbiaceae (4%), Lecythidaceae (4%), por fim, Asteraceae e Meliaceae ambas com 3%. A família Arecaceae tem grande ocorrência de palmeiras frutíferas nativas da região, especialmente, o açaí, está espécie foi registrada em 65% dos quintais pesquisados. Esta família botânica apresentou o maior número de indivíduos (1.308); outras palmeiras, também, são incorporadas na alimentação como o tucumã-do-pará (Astrocaryum vulgare Mart.), a pupunha (Bactris gasipaes Kunth), o coco (Cocus nucifera L.), a bacaba (Oenocarpus bacaba Mart.), o bacabi (Oenocarpus minor Mart.) entre outras.

Tabela 1
Espécies vegetais nos quintais, em relação à família, ao nome, à frequência relativa (%) e categoria de uso, Cooperativa D’Irituia, 2016

O tamanho total em hectare (ha) das áreas da pesquisa em média é de 42 ha, deste total, o tamanho dos quintais diagnosticados variou entre 0,01 ha a 2,00 ha, em média 0,6 ha. “Os quintais agroflorestais na Amazônia normalmente são pequenos, raramente com mais de 1 ha” segundo Dubois (1996DUBOIS, J. C. L. Manual de agrofloresta para a Amazônia. Rio de Janeiro: REBRAF, 1996., p. 56), “com grande variação dependendo da região” (GARCIA; VIEIRA; OLIVEIRA, 2017GARCIA, B. N. R.; VIEIRA, T. A.; OLIVEIRA, F. de A. Aspectos socioeconômicos de manejadores de quintais agroflorestais: o caso de uma comunidade rural na Amazônia. Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, v. 2017, n. 1, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3wTJBBE. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 4). Rayol e Miranda (2017RAYOL, B. P.; MIRANDA, I. S. Influência dos fatores socioeconômicos sobre a riqueza de plantas de quintais agroflorestais da Amazônia Central. Revista Espacios, v. 38, n. 46, p. 28-39, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3qkuz5f. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 32) mostraram que “independentemente do tamanho do quintal a grande maioria deles estão localizados em propriedades com menos de 75 ha”.

A idade de formação dos quintais em análise variou entre cinco a 50 anos, com média de 18 anos, o que corresponde com a tabulação dos dados de Souza et al. (2017SOUZA, A. M. B. et al. Aspectos da segurança alimentar com base em quintais agroflorestais na comunidade rural de santa luzia do Induá no município de Capitão Poço, PA. Agroecossistemas, v. 9, n. 2, p. 275-287, 2017. Disponível em: https://bit.ly/2UsWqV8. Acesso em: 14 jun. 2020.
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). Almeida e Gama (2014ALMEIDA, L. S.; GAMA, J. R. V. Quintais agroflorestais: estrutura, composição florística e aspectos socioambientais em área de assentamento rural na Amazônia brasileira. Ciência Florestal, Santa Maria, v. 24, n. 4, p. 1041-1053, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3j9e3n5. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 1043) enquadraram os quintais em “novos (<5 anos), intermediários (≤5 anos; <8anos) e antigos (≥8 anos)”. Seguindo esse raciocínio, os quintais de Irituia são 4% novos; 9% intermediários e 87% antigos. Em relação à idade dos quintais estudados, 78% deles estão na faixa de 10 a 30 anos de idade.

Na pesquisa de Amaral et al. (2017AMARAL, C. N. et al. Contribuição dos quintais na conservação do Cerrado e da agrobiodiversidade: um estudo dos quintais tradicionais da Baixada Cuiabana. Revista Antropologia, v. 9, n. 1, p. 294-314, 2017. Disponível em: https://bityli.com/ByA5T. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 302), os entrevistados afirmam que o “tempo de manejo no quintal corresponde ao tempo de moradia na residência”. Rayol e Miranda (2017RAYOL, B. P.; MIRANDA, I. S. Influência dos fatores socioeconômicos sobre a riqueza de plantas de quintais agroflorestais da Amazônia Central. Revista Espacios, v. 38, n. 46, p. 28-39, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3qkuz5f. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 32) relatam que “na maioria dos quintais (51%) possuem idade do quintal e tempo de ocupação das propriedades na mesma faixa de tempo, entre 10 a 30 anos”. A idade do mantenedor e do quintal reflete no seu tamanho como, também, em sua diversidade. Souza et al. (2017SOUZA, A. M. B. et al. Aspectos da segurança alimentar com base em quintais agroflorestais na comunidade rural de santa luzia do Induá no município de Capitão Poço, PA. Agroecossistemas, v. 9, n. 2, p. 275-287, 2017. Disponível em: https://bit.ly/2UsWqV8. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 281) observaram que “o tamanho e a idade dos quintais estão relacionados, pois foi possível perceber que, quanto mais idade eles tinham, maiores e mais espécies eles também possuem”. Almeida e Gama (2014ALMEIDA, L. S.; GAMA, J. R. V. Quintais agroflorestais: estrutura, composição florística e aspectos socioambientais em área de assentamento rural na Amazônia brasileira. Ciência Florestal, Santa Maria, v. 24, n. 4, p. 1041-1053, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3j9e3n5. Acesso em: 14 jun. 2020.
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), também, confirmaram que o tempo de formação influencia no número de indivíduos e espécies.

Nos quintais estudados, o índice de diversidade de H’ para todos os quintais inventariados foi igual a 3,26 nats/indivíduo-1 e índice de equitabilidade de Pielou (J) foi de 0,70, apresentam-se diversificados conforme a literatura clássica. Gliessman (2002GLIESSMAN, S. R. Agroecología: procesos ecológicos en agricultura sostenible. Turrialba: CATIE, 2002. Disponível em: https://bit.ly/2SVw5yx. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 242) em seus estudos aponta que “ecossistemas naturais relativamente diversificados apresentam índice de diversidade de H’ entre 3 e 4”.

A análise da diversidade é semelhante ao estudo de Vieira, Rosa e Santos (2012VIEIRA, T. A.; ROSA, L. dos S.; SANTOS, M. M. de L. Agrobiodiversidade de quintais agroflorestais no Município de Bonito, Estado do Pará. Revista de Ciências Agrárias, Belém, v. 55, n. 3, p. 159-166, 2012. Disponível em: https://bit.ly/3j2YP2S. Acesso em: 03 jun. 2020.
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, p. 163), “onde verificaram uma riqueza florística moderada e alta diversidade de espécies, enquanto a inter-relação entre a riqueza e a diversidade de espécies foi alta e positiva (0,79), mostrando que quanto maior a riqueza, maior será a diversidade de espécies nos quintais”. Rayol e Miranda (2017RAYOL, B. P.; MIRANDA, I. S. Influência dos fatores socioeconômicos sobre a riqueza de plantas de quintais agroflorestais da Amazônia Central. Revista Espacios, v. 38, n. 46, p. 28-39, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3qkuz5f. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 36) concluem que por estar “associada à multifatores a riqueza de espécies varia muito de um quintal para outro, esta ampla variação na riqueza mesmo em quintais próximos evidencia a complexidade e a singularidade dos quintais”.

Nos quintais agroflorestais, a produção média de alimentos em kg foi relacionada com o índice de diversidade (H’) e a idade de formação do quintal. A análise não foi significativa (p > 0,05), indicando que a produção em kg diminui conforme aumenta o índice de diversidade independentemente da idade do quintal. Rayol e Miranda (2019RAYOL, B. P.; MIRANDA, I. S. Quintais agroflorestais na Amazônia Central: caracterização, importância social e agrobiodiversidade. Ciência Florestal , Santa Maria, v. 29, n. 4, p. 1614-1629, 2019. Disponível em: https://bit.ly/3j0DfMB. Acesso em: 14 jun. 2020.
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, p. 1617) destacam que “o consumo familiar é predominante nos quintais mais novos, enquanto nos quintais mais antigos, o foco já não é somente para o consumo próprio, ou seja, após garantir as principais demandas de consumo familiar, os gestores passam a comercializar o excedente visando à renda extra”.

4 CONCLUSÕES

Os quintais agroflorestais da Cooperativa D’Irituia influenciam no aumento da renda familiar, tradicionalmente, apresentam elevada diversidade de espécies vegetais, devido ao fato da motivação em implantar sistemas mais diversificados aliados ao processamento, principalmente, de frutas à venda, promovendo a manutenção da agrobiodiversidade. Dessa forma, o planejamento da restauração ecológica associado a novos arranjos agroflorestais em áreas alteradas visa estimular a produção sustentável para atender um mercado consumidor preocupado em conciliar uma alimentação saudável com ênfase na conservação da natureza.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jun 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2022

Histórico

  • Recebido
    09 Set 2020
  • Aceito
    20 Mar 2021
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