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Jovens esportistas: profissionalização no futebol e a formação na escola

Young sportsmen: professionalization in soccer and formation in school

Resumos

Os objetivos do estudo foram: verificar como os atletas das categorias de base do futebol conciliam sua rotina de treinamento com a escolarização básica e; como os estudantes-atletas percebem o significado da escola na busca por uma ocupação futura. Para esta análise, foram realizadas 12 entrevistas semiestruturadas com jogadores das categorias de base - na faixa de idade entre 15 e 20 anos - de quatro clubes de futebol do Estado do Rio de Janeiro. Observamos que os atletas adotam diferentes estratégias de conciliação entre as rotinas no futebol e na escola, mediados pelos mecanismos de flexibilização adotados pelos estabelecimentos de ensino e/ou professores, com a anuência dos pais. Concluímos que essas estratégias de conciliação têm como finalidade a permanência do atleta na escola. Embora tenhamos refletido sobre os mecanismos de flexibilização adotados por professores e diretores, não podemos medir o impacto causado no aprendizado e na trajetória escolar desses jovens atletas de futebol.

Educação; Escolarização; Futebol; Profissionalização; Jovens


The goals of the study were: to verify how young soccer players manage to conciliate their training routines with school; and how the student-athletes perceive the importance of school in the search for a future occupation. For this analysis, we made 12 interviews half-structuralized with young players - from 15 to 20 years - of four soccer teams from Rio de Janeiro. We observed that these athletes find distinct strategies of conciliation between soccer and school routines, mediated by mechanisms of loosening adopted by the educational establishments/teachers, with the consent of the parents. We concluded that the purpose of this agreement is the permanence of the athlete in the school. Although we have reflected on the mechanisms of loosening adopted by teachers and principals, we cannot infer the impact caused by such mechanisms in the institutionalized education of these young athletes of soccer.

Education; Schooling; Soccer; Professionalization; Youth


ARTIGO ORIGINAL

Jovens esportistas: profissionalização no futebol e a formação na escola

Young sportsmen: professionalization in soccer and formation in school

Hugo Paula Almeida da RochaIV; Tiago Lisboa BartholoII; Leonardo Bernardes Silva de MeloIII; Antonio Jorge Gonçalves SoaresI

IFaculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

IIDoutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

IIIPrograma de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

IVBolsista PIBIC/CNPq

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Hugo Rocha Rua Amilton Fernandes, 141 Realengo Rio de Janeiro RJ Brasil 21760-370 Telefone: (21) 7719.4418 E-mail: hrocha.ufrj@gmail.com

RESUMO

Os objetivos do estudo foram: verificar como os atletas das categorias de base do futebol conciliam sua rotina de treinamento com a escolarização básica e; como os estudantes-atletas percebem o significado da escola na busca por uma ocupação futura. Para esta análise, foram realizadas 12 entrevistas semiestruturadas com jogadores das categorias de base - na faixa de idade entre 15 e 20 anos - de quatro clubes de futebol do Estado do Rio de Janeiro. Observamos que os atletas adotam diferentes estratégias de conciliação entre as rotinas no futebol e na escola, mediados pelos mecanismos de flexibilização adotados pelos estabelecimentos de ensino e/ou professores, com a anuência dos pais. Concluímos que essas estratégias de conciliação têm como finalidade a permanência do atleta na escola. Embora tenhamos refletido sobre os mecanismos de flexibilização adotados por professores e diretores, não podemos medir o impacto causado no aprendizado e na trajetória escolar desses jovens atletas de futebol.

Palavras-chave: Educação. Escolarização. Futebol. Profissionalização. Jovens.

ABSTRACT

The goals of the study were: to verify how young soccer players manage to conciliate their training routines with school; and how the student-athletes perceive the importance of school in the search for a future occupation. For this analysis, we made 12 interviews half-structuralized with young players - from 15 to 20 years - of four soccer teams from Rio de Janeiro. We observed that these athletes find distinct strategies of conciliation between soccer and school routines, mediated by mechanisms of loosening adopted by the educational establishments/teachers, with the consent of the parents. We concluded that the purpose of this agreement is the permanence of the athlete in the school. Although we have reflected on the mechanisms of loosening adopted by teachers and principals, we cannot infer the impact caused by such mechanisms in the institutionalized education of these young athletes of soccer.

Key Words: Education. Schooling. Soccer. Professionalization. Youth.

Introdução

O futebol é um esporte com grande prestígio no cenário nacional e internacional. Parte deste fascínio se associa ao grande aporte midiático que recebe. Esta ampla divulgação fomenta o surgimento de inúmeras escolinhas de futebol, que cada vez mais cedo levam as crianças - em geral, meninos de origem das camadas médias e populares - a almejarem seu desenvolvimento técnico e tático, visando uma oportunidade no restrito mercado do futebol profissional.

A rotina árdua dos candidatos a profissionais do futebol exige, na maior parte das vezes, a renúncia a atividades comuns na vida social dos jovens. A busca por esta profissionalização pode ser iniciada antes mesmo dos 12 anos de idade, e implica aproximadamente 5 mil horas de prática de atividades corporais específicas ao longo de 10 anos (DAMO, 2005). Todo esse investimento de tempo na formação esportiva pode influenciar a qualidade da dedicação à escola. Além disso, caso os atletas sejam malsucedidos no esporte, dificilmente o capital corporal adquirido em anos de formação futebolística se converterá em outras oportunidades de carreira no mercado de trabalho (SOUZA et al., 2008).

As questões que nos orientam para pensarmos sobre a formação profissional no futebol e a escolarização básica no Brasil são as seguintes: por que um contingente significativo de jovens brasileiros do sexo masculino investe tempo, recursos e esforços para profissionalizar-se em um esporte que possui um mercado restrito, com poucas vagas e poucas oportunidades de sucesso? Como os jovens que estão oficialmente inscritos nos clubes de futebol conciliam a formação no esporte com a escola básica?

O presente estudo objetiva analisar como os adolescentes das categorias de base dos clubes de futebol do estado do Rio de Janeiro conciliam a formação na escola básica com o futebol, e como os estudantes-atletas percebem o significado da escola na busca por uma ocupação futuramente.

O texto está organizado da seguinte forma: primeiramente, apresentaremos o cenário da formação e do mercado do futebol; em seguida, exporemos dados sobre a escolarização básica no Brasil; e, por fim, mostraremos os resultados e conclusões do estudo.

Métodos

A perspectiva metodológica pode ser classificada como qualitativa. Para analisar a questão levantada nesta pesquisa, realizamos 12 entrevistas semiestruturadas com atletas das categorias de base de quatro clubes de futebol do estado do Rio de Janeiro. As categorias de análise que orientaram a elaboração do guia de entrevistas foram as seguintes: formação profissional, escolarização, história familiar e rotina de vida atual.

Os entrevistados se encontram na faixa de idade entre 15 e 20 anos, distribuídos em três categorias das divisões de base do futebol do Rio de Janeiro, a saber: três atletas da sub-15; seis jogadores da sub-17; e outros três da categoria sub-20. A idade dos atletas orientou a escolha dos entrevistados, pois trabalhamos com a hipótese de que neste período da vida os jovens têm maior inclinação para definir uma carreira profissional, e o futebol aparece como uma opção para esses estudantes-atletas. Ressaltamos que, no futebol, é neste período da adolescência que se começa a determinar o rumo dos atletas na carreira de jogador.

Realizamos um estudo observacional no sentido de entender como esses jovens em formação profissional conciliam as rotinas no futebol e na escola básica. Descrevemos os relatos dos atletas sobre suas rotinas e identificamos as diferentes estratégias de compatibilização dos horários no dia a dia. Utilizamos os relatos dos jogadores para corroborar nossa argumentação ou para dar significado às escolhas dos jovens na conciliação entre futebol e escola.

A participação dos jovens foi previamente consentida por seus responsáveis por meio de assinatura de termo de consentimento livre e esclarecido, aprovado pelo comitê de ética institucional (Universidade Gama Filho, Protocol # 017.2007).

O Futebol

A crescente movimentação no mercado do futebol aguça a perspectiva de jovens pretendentes a esta formação profissional, que veem neste esporte a possibilidade de um futuro promissor. Na visão dos jogadores das categorias de base e de seus familiares, o investimento precoce na profissionalização no futebol se faz necessário. Este esporte aparece como um modo de ascensão social e econômica, fomentando um planejamento familiar intencional (RIAL, 2006; SOUZA et al., 2008).

O sonho que move os esforços dos indivíduos para alcançarem um lugar no oásis da profissão não se torna realidade para a maioria dos jogadores profissionais. De modo geral, os salários dos atletas no Brasil são baixos se considerarmos o desejo de mobilidade social e econômica desses jovens. Os dados disponíveis indicam que 84% dos jogadores, de todas as divisões do futebol profissional no Brasil, recebem salários de até R$1.000,00, 13% recebem entre R$1.000,00 e R$9.000,00, e apenas 3% recebem acima de R$9.000 por mês1 1 Dados da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em 2009. . Esses indicadores não sofreram mudanças significativas nos últimos seis anos (HELAL et al., 2005). No entanto, a divulgação desses dados parece não desestimular a busca pela profissionalização no futebol. O sonho dos jovens de nossas categorias de base de se tornarem jogadores de grande prestígio na Europa está longe das estatísticas de riqueza. O mercado de futebol europeu é o que absorve a maior parte dos jogadores brasileiros exportados, mas o destino dessa massa é se estabelecer em clubes europeus de segunda e terceira divisões ou em países em que a remuneração está aquém do imaginário dos altos salários do futebol.

Damo (2007) aponta que o mercado do futebol no Brasil é formado por 800 clubes filiados à Federação Internacional de Futebol (FIFA), sendo que apenas 2,5% desses clubes possuem a preferência de 90% dos consumidores do espetáculo futebolístico. Tal preferência indica que o potencial de exploração dos produtos que os clubes podem vender junto ao público consumidor (torcedores) é desigual e reduz significativamente os postos de trabalho mais bem valorizados economicamente.

Os processos de seleção conhecidos como "peneiras" ou "peneiradas" mostram como a procura por um posto de trabalho é muito maior do que a oferta de oportunidades concretas oferecidas a esses jovens no futebol. No Estado do Rio de Janeiro, onde focamos nosso estudo, observamos o exemplo do Projeto Sendas de Futebol. Aproximadamente 10 mil adolescentes buscam uma vaga nas equipes de base mantidas pelo projeto, mas somente 120, em média, são selecionados anualmente para viver no Centro de Treinamento do Projeto Sendas (BURATTI JUNIOR, 2006).

O futebol se tornou uma atividade remunerada para jovens oriundos das classes médias e populares. Nesta fase da formação na carreira, alguns desses jovens podem garantir alimentação, escola, prestígio social na localidade onde vivem e alguma renda, que tanto pode servir para gastos pessoais quanto para a complementação da renda familiar. Alguns clubes estabelecem tetos de ajuda de custo nas diferentes categorias de base. Damo (2005) descreve a política do Internacional Futebol Clube (Porto Alegre), que recompensa o trabalho de alguns dos seus atletas com "aproximadamente 200 dólares para os meninos do Infantil, mas são raros os que dispõem desse montante como ajuda de custo; 300 para o juvenil e 400 dólares para os juniores" (p. 269), e ainda comenta que haveria diferença no valor oferecido aos jogadores com maior "potencial". Desta maneira, o futebol se torna mais atrativo aos olhos daqueles que vislumbram um futuro ainda mais rentável.

Mas a atividade não é uma fonte de renda somente para os aspirantes a ídolos do esporte. Tanto clubes quanto empresários se mobilizam para obter um bom retorno financeiro na negociação dos jovens talentos. E, assim como o desejo dos adolescentes, para esses atores a transferência para o exterior é também o foco principal (PAOLI, 2007; BACH, 2007; SOUZA, 2007).

Além do investimento de clubes e empresários, a vigília sobre talentos potenciais é uma prática que objetiva o incentivo e alimenta o sonho dos garotos. Como a legislação protege a autonomia dos atletas e estabelece limites nos contratos, que só podem ser assinados a partir dos 16 anos por um tempo mínimo de três meses e máximo de cinco anos, o trabalho, a vigilância e a sedução por parte dos empresários do futebol é total mesmo antes dessa idade. Eles viabilizam empregos para os pais, fornecem auxílios financeiros e protegem seus talentos organizando o tempo e o espaço desses jovens, tornando esse período da formação nos centros de treinamento e mesmo fora deles uma instituição total, em um sentido aproximado ao utilizado por Goffman (1961)2 2 Instituições nas quais indivíduos trabalham e residem por um período de tempo, afastados da sociedade, sob um forte controle disciplinar. .

O grande interesse dos jovens, com baixo capital cultural incorporado, fornece a "matéria-prima" para a montagem de uma "linha de produção" no Brasil. De fato, as poucas oportunidades de ascensão social, somadas à precariedade da escola pública brasileira3 3 Dados sobre a precariedade do ensino público no Brasil podem ser esclarecedores do quadro que estamos descrevendo: o percentual de repetência de alunos é de 20,6%, a maior da América Latina. A formação dos professores do ensino básico é insuficiente. Dos professores de 1ª a 4ª série, apenas 47% têm diploma universitário; destes, apenas 43% têm diploma em licenciatura. De cada 100 crianças matriculadas na 1ª série do ensino fundamental, 88,6% chegam à 4ª série, 57,1% à 8ª série e 36,6% ao 3° ano do ensino médio. (Observação: estes dados são anteriores à Lei nº 11.274/06, que regulamentou o ensino fundamental de nove anos.) No gasto médio por aluno, o Brasil - país com a economia mais diversificada e potente do continente - fica atrás de seus vizinhos Argentina, Uruguai, Chile e Colômbia. Ver "Escola Brasil" (O Globo, Rio de Janeiro, 22 jul. 2006). e do mercado de trabalho para as novas gerações, transformam o futebol profissional em projeto familiar para aqueles que possuem um varão com habilidade com os pés.

Ao fim do processo de formação no futebol, caso o jovem não consiga uma vaga nesse disputado mercado esportivo, ele tende a ingressar no mercado formal de trabalho com baixa formação escolar, dependendo da compatibilização entre o tempo de trabalho corporal e a escola. Desse modo, quando são malsucedidos na carreira de futebol, os jogadores formados nesse sistema podem enfrentar dificuldades para se estabelecer em outras ocupações longe desse esporte (SOUZA et al., 2008).

O período da vida no qual se faz necessário o investimento em trabalho corporal e psicológico para o aperfeiçoamento técnico e tático no futebol coincide com a fase em que os adolescentes precisam, igualmente, se dedicar à escola básica. No entanto, percebemos nas entrevistas realizadas que a escola é colocada em segundo plano pelos jovens que almejam a carreira de futebol. A questão que se coloca, então, é: até que ponto a formação no futebol, que exige tempo e dedicação, pode interferir na vida escolar desses jovens?

A Escola

Indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1995 apontam que 93% das crianças entre 7 e 14 anos frequentavam a escola. Houve um aumento significativo entre 1995 e 2007, ano em que a marca dos frequentadores atingiu 98%, ratificando a quase universalização do acesso ao ensino fundamental (VELOSO, 2009). Verificou-se, também, um expressivo aumento no número de vagas para jovens entre 15 e 17 anos. A elevação do percentual nesta faixa etária foi mais significativa entre 1995 e 2002, período em que ocorreu aumento de 64% para 79% de jovens atendidos pela escola. Desde então, este percentual se mantém em 80% (idem).

Nos últimos 15 anos, o aumento da quantidade de indivíduos entre 7 e 17 anos recebendo os cuidados de uma instituição de educação formal reflete a maior possibilidade de acesso à escola. No entanto, tal acréscimo ainda não se traduz em melhoria da qualidade do ensino oferecido. Veloso (2009) mostra que embora tenha havido a ampliação do contingente de alunos matriculados com idade entre 15 e 17 anos, cerca de 40% deles não estão na série compatível com sua idade e sequer estaria no ensino médio, o que indica um elevado número de repetências. O mesmo acontece no ensino fundamental. Embora tenha sido atingida a quase universalização de acesso, grande parte dos envolvidos ainda não concluiu esse nível de ensino (idem).

A redução da cifra de jovens fora da escola não aponta para a melhora da qualidade do ensino. Como Schwartzman e Cossio (2007) comentaram, "a quase totalidade dos alunos das escolas públicas, em todos os níveis, têm desempenho inferior ao prescrito pelas respectivas séries, e muitos permanecem como analfabetos funcionais através dos anos" (p. 11). A afirmativa é corroborada pelos dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB)4 4 O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica é uma medida do Programa Todos pela Educação composto por dois processos: 1) Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) realizado por amostragem nas redes de ensino - também chamado de SAEB e; 2) Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), mais detalhado que o anterior e tem como foco a unidade escolar. Ver < http://www.inep.gov.br/basica/saeb/default.asp>. , que confirmam o baixo índice de desempenho dos estudantes. Em 2007, dos alunos do 5º ano do ensino fundamental, apenas 28% atingiram a média equivalente ao seu curso na disciplina Língua Portuguesa e 24%, em Matemática; dos alunos do 9º ano, o percentual em Língua Portuguesa foi de 21%, e em Matemática o resultado foi igualmente alarmante, pois somente 14% alcançaram a média adequada; no 3º ano do ensino médio, os percentuais em Língua Portuguesa e Matemática foram, respectivamente, 25% e 10%.

Desde a década de 1990, o governo tenta responsabilizar as escolas pelos seus resultados nas provas de proficiência. As mudanças nos critérios de avaliação sobre a qualidade da educação têm por finalidade criar medidas que ajam diretamente nos problemas educativos diagnosticados em cada unidade da federação. Contudo, mesmo com o aumento significativo do número de adolescentes frequentando a escola, os predicados da educação básica no Brasil ainda são pouco atrativos para esses jovens.

A quantidade de jovens inseridos na escola é praticamente constante até os 13 anos, cujo percentual atinge 97 pontos, decrescendo a partir daí e chegando à marca de 74% aos 17 anos. No sentido inverso, a proporção de jovens voltados ao trabalho sobe de 10% aos 13 anos para 37% aos 17. Aos 18 anos, 53% desse contingente juvenil se dedica à escola e 54%, ao trabalho (NERI, 2009) 5 5 O autor comenta que existem quatro categorias de jovens, a saber: os que somente trabalham; os que só estudam; aqueles que se dedicam simultaneamente ao trabalho e aos bancos escolares; e os adolescentes que não trabalham nem estudam. Essa categorização explica o porquê dos dados extrapolarem os 100%. .

As possíveis explicações para o percentual crescente da escolha pelo trabalho com o avanço da idade, em detrimento da alternativa escolar, giram em torno da rentabilidade que um vínculo empregatício gera. Schwartzman e Cossio (2007) comentam as possíveis motivações para a evasão escolar: "a explicação convencional é que eles saem da escola porque precisam trabalhar. Outra explicação, no entanto, é que eles abandonam a escola porque não estão aprendendo, e a escola não faz sentido para eles." (p. 5).

Dados estatísticos do PNAD de 2006, apresentados por Neri (2009), mostram os motivos pelos quais estudantes com idade entre 15 e 17 anos, período em que a evasão escolar é mais expressiva, optam por abandonar a escola. As respostas foram alocadas em quatro principais explicações, a saber: 10,9% dos entrevistados relataram ter dificuldade de acesso à escola; 27,1% mencionaram a necessidade de trabalhar e gerar renda; 40,3% dos jovens disseram não ter interesse intrínseco na escola; e outros motivos totalizaram 21,7% das respostas.

Pesquisas educacionais sugerem que pouca dedicação à escola na educação básica reduz a perspectiva de empregabilidade e compensações financeiras futuramente (NERI, 2009). A falta de interesse pela escola relaciona-se possivelmente ao desconhecimento dos benefícios que podem ser adquiridos com a aplicação nos bancos escolares. A relação entre a taxa de ocupação e os níveis de escolaridade aumenta de acordo com os anos dedicados à vida escolar. Os números são categóricos quando apontam que para aqueles que frequentaram até um ano em toda vida os bancos escolares a porcentagem de ocupação é de 59,8 pontos, e para os indivíduos com níveis de pós-graduação o percentual é de 86,3% (idem).

É evidente que a dedicação aos estudos permite uma maior possibilidade de ocupação na vida adulta, mas sua recompensa está longe do imediatismo de muitos jovens. Provavelmente, "os jovens ignoram a importância da educação por desconhecerem tais variáveis objetivas, (...) outra possível razão é que os maiores retornos estão longe no horizonte de tempo" (ibidem, p. 36). Esse quadro pretende insinuar que o futebol pode ser visto como uma porta de entrada para aqueles que pretendem apostar rapidamente no sonho de rápida mobilidade econômica e social em um mercado que pouco depende da formação escolar. Em levantamento das percepções sobre o futuro profissional de alunos matriculados em escolas públicas de alto e baixo prestígio, Costa e Koslinski (2006) observaram que a carreira esportiva aparece em maior percentual como expectativa de futuro para os alunos que frequentavam escolas de baixo prestígio.

Além da pressa dos jovens em um mundo marcado pela celeridade, do sonho de enriquecer por meio da profissão de jogador de futebol e dos problemas estruturais da escola atual, que parece não dar conta dos desejos e necessidades dos adolescentes, cabe ressaltar que outros fatores também poderiam contribuir para o desinteresse pela escola, como a falta de capital cultural dos pais; a falta de tempo para cobrar dos filhos um bom rendimento escolar; as incertezas e exigências cada vez maiores do mercado de trabalho; o apelo midiático e o glamour que envolvem determinadas profissões, como a de jogador de futebol, marcadas pela "aura" do talento e pela ideia equivocada de que não demandam muito esforço; entre outros aspectos.

Análise e discussão

Neste item buscaremos apresentar as estratégias de conciliação que os atletas adotam entre as rotinas do futebol e da escola. Adiantamos que muitos dos recursos utilizados e táticas estabelecidas pelos atletas contam com o consentimento e apoio da própria família.

O suporte familiar na escolha pela profissionalização no futebol é fundamental para a permanência dos atletas nos seus clubes. Em entrevista com o atleta 5, o jovem declara o investimento feito por seus parentes próximos:

Atleta 5: No início, a minha avó e a minha mãe buscavam contra-argumentar contra o meu sonho, né? Porque como sempre fui um bom aluno, sempre tive um futuro certo pelo estudo, elas costumavam contra-argumentar pedindo pra que eu saísse... Mesmo assim, elas nunca deixaram de me apoiar, elas sempre quiseram o meu bem e como elas foram descobrindo aos poucos que eu me sentia bem estando aqui, elas só foram me apoiando. Hoje elas entendem perfeitamente e costumam vir nos jogos, costumam estar sempre junto comigo, me apoiando... Me dando os meus materiais, me dando principalmente o apoio moral. Meu pai... sempre gostou muito de esporte, né? Militar e tal... Gostava muito de fazer qualquer coisa... Adorava jogar futebol, gostava de nadar, tênis... Sempre buscou novas coisas e sempre teve me apresentando essas modalidades e querendo que eu tivesse com ele.

Enquanto os atletas se dividem entre a escola e o futebol, seus familiares investem tempo e recursos nessa aposta pela profissionalização no esporte. Com base nos discursos e na literatura sobre o tema, podemos sugerir que o ingresso e a permanência de jovens no esporte dependem de um projeto familiar minimamente estruturado (RIAL, 2006; WACQUANT, 2002).

Rotina: Futebol x Escola

O tempo desses jovens é dividido entre a preparação profissional nos campos de futebol e a vida nos bancos escolares. O tempo de dedicação ao treinamento das habilidades específicas se aproxima de 15 horas semanais, enquanto o tempo médio semanal de permanência na escola é de aproximadamente 20 horas6 6 Para uma análise de dados quantitativos sobre a carga horária de treino dos atletas e carga horária escolar ver Melo (2010). .

Alguns depoimentos dos nossos jovens esclarecem quão difícil é a conciliação entre as rotinas do futebol e da escola. O atleta 1, da categoria sub-20, que mora em São Gonçalo e atua em um clube com sede em Austin, no município de Nova Iguaçu7 7 A distância entre as duas localidades - Austin e São Gonçalo - é de aproximadamente 68 km. , contou que acorda às 10h30 da manhã, almoça às 11h30 e sai de casa às 11h50. O trajeto que percorre até o clube costuma durar 1 hora e 40 minutos na ida e pode superar esse tempo na volta em virtude do trânsito intenso. Ele treina das 14h às 17h, e em seguida vai direto para a escola em que estuda. Seu horário de entrada na escola é às 19h30, horário diferente dos demais e estipulado exclusivamente para este atleta pela diretora da escola, mediante apresentação de uma declaração do clube. O próprio jogador declara que tenta cumprir este horário à risca, já que recebeu o benefício do atraso sistemático.

Os atletas convivem naturalmente com esse mecanismo de flexibilidade por parte de professores e diretores de escolas, que lhes concedem certos benefícios. O atleta 12, da categoria sub-15, chegou ao Rio de Janeiro, com 14 anos de idade, trazido por seu empresário. Atualmente com 15 anos, estudante de uma escola pública, ele mostrou uma das possíveis estratégias adotadas pelas instituições de ensino e/ou professores para solucionar seu atraso na chegada à escola. Ao ser perguntado sobre sua rotina escolar, o menino mencionou que chegava à escola a partir do segundo tempo de aula. Como solução para este problema, o jovem revelou que os professores - previamente avisados sobre a situação deste estudante em particular - elaboram atividades que substituem a primeira aula perdida.

Outro caso marcante em nossa pesquisa é o do atleta 7, de 17 anos, que hoje já atua entre os profissionais de seu clube. Aos 16 anos ele já frequentava os treinos dos jogadores profissionais. Este jogador, com passagem pelas seleções de base sub-14, sub-15, sub-16 e sub-17, é tratado como um diamante pelos dirigentes. Porém, sua permanência nesta instituição tem os dias contados, pois foi negociado com um importante clube europeu e seguirá para o velho continente quando completar a maioridade. O atleta concluiu o ensino médio na escola do clube.

O clube onde este atleta atua conta com escola própria em suas dependências. Isso permite que seus atletas concluam seus estudos sem as dificuldades dos longos deslocamentos entre residência, clube e escola. Entretanto, mesmo com essa vantagem também existe flexibilidade de horários na escola do clube. Observemos o que este atleta declara:

Atleta 7: Ah, aqui é mais tranquilo, porque estudo aqui dentro do Clube, e a gente consegue conciliar bem os treinos... Aqui tem a facilidade de... se eu não puder ir de tarde posso ir de manhã, e fica bastante tranquilo aqui dentro do Clube.

No caso específico deste clube e deste atleta, a escola se mostra bastante flexível em relação aos horários, inclusive facilitando sua frequência às aulas em diferentes turnos para que não tenha um número grande de faltas. Esse modelo de escola no interior do clube é uma das poucas exceções presentes na formação para o futebol no Brasil. Notemos que esse modelo quebra com a lógica organizacional básica de escolas regulares, a saber: 1) não há uma turma fixa para o aluno; 2) não há um horário único para as aulas regulares (horário da manhã, da tarde ou noturno); 3) não há uma continuidade das aulas com os mesmos docentes. É preciso analisar os efeitos desse modelo na aprendizagem e continuidade dos estudos dos estudantes-atletas envolvidos.

Observamos que existem diferentes estratégias adotadas pelos estudantes-atletas para conseguirem conciliar sua rotina de treinamento com a da escola. A compatibilização de horários aumenta conforme sobem de categoria. O atleta 3, goleiro da categoria sub-17, do clube de Austin, estuda no turno da noite porque frequenta dois períodos de treinamento, o de sua categoria pela manhã e o da sub-20 à tarde. Ele explica que sua posição exige trabalho extra e comenta que o esforço maior se deve à vontade de realizar o sonho de sua vida, que é ser um jogador profissional de um grande clube.

O atleta 4 comentou sobre a falta de professores no período da noite na escola onde estuda:

Entrevistador: Os professores faltam muito na sua escola?

Atleta 4: Diariamente. Não tem aula, o professor falta ou então tem que dar aula pra duas turmas, aí diminui o tempo, não dá atenção como deveria. Aí acaba prejudicando, mas isso a gente tem que relevar.

Em geral, temos um grande contingente de jovens atletas sob a tutela de clubes formadores ou de empresários que estuda à noite, em cursos regulares ou supletivos8 8 No estudo de natureza quantitativa, "Formação e escolarização de atletas de futebol no Estado do Rio de Janeiro", o índice de atletas matriculados no ensino noturno é de 40,9%. Este percentual se eleva conforme aumenta a idade dos entrevistados. Para os jogadores entre 15 e 17 anos, o percentual é de 47,9%. Essa relação atinge seu maior índice entre os jovens da categoria sub-20, na qual o indicador alcança 86,4 pontos percentuais. Esses dados parecem evidenciar a influência que a rotina de treinamentos exerce sobre a escolha pelo turno dedicado à escola. O futebol disponibiliza os turnos da manhã e da tarde para os treinos, restando a opção noturna para os estudos (MELO, 2010). . Esse fato agrava o problema da escolarização, pois, além de todos os problemas de infraestrutura e de recursos humanos, sabemos que o ensino noturno funciona com um currículo que não leva em conta as peculiaridades do estudante trabalhador (CORROCHANO e NAKANO, 2002).

O atleta 9 preferiu à opção do ensino a distância. Ele descreve que esta alternativa foi melhor para o seu objetivo:

Entrevistador: Como é essa relação de estudar a distancia? Facilitou?

Atleta 9: Facilitou, porque tenho mais tempo pra treinar, que é o que eu quero seguir mesmo, e além de ter mais tempo pra treinar eu posso escolher o horário adequado pra estudar.

Dois atletas adotaram a estratégia de trocar de instituição de ensino. O atleta 5, por exemplo, escolheu uma escola que, segundo ele, tem o mesmo nível de ensino que a anterior, porém a exigência é menor. Morador da Barra da Tijuca, ele descreve que iniciou sua carreira no clube em 2006, quando ainda estudava no Colégio Santo Agostinho e estava no sétimo ano do ensino fundamental. Esta é uma escola considerada de alto padrão no mercado das escolas privadas do Rio de Janeiro. Diante da mudança de categoria e, consequentemente, com a mudança do horário de treinamento, ele optou por estudar no Colégio Ph, em 2008. Em termos de qualidade de ensino, o entrevistado acredita que essas escolas são equivalentes, mas a diferença estaria na questão disciplinar, uma vez que o primeiro colégio, de orientação religiosa, é mais rigoroso. O atleta contou que já teve que fazer provas de segunda chamada devido à sua rotina no futebol, mas que isso era apenas um detalhe, porque o futebol é prioritário em sua vida.

Às vezes, a escolha por estudar em outra escola se torna uma obrigação, pois a combinação das rotinas futebol/escola gera perda de concentração motivada pelo cansaço físico, falta de tempo para o estudo extraclasse, entre outros entraves. O atleta 4, da categoria sub-17 de um clube popular brasileiro, optou pela mudança de uma escola da rede particular para o ensino noturno em uma escola pública. Este jovem explicou o motivo:

Atleta 4: Olha, a gente tinha jogo ou então o treino era muito forte... Às vezes eu faltava ou ia pra escola e não me dedicava, ficava de cabeça baixa, não prestava atenção, não copiava, me prejudicava pra caramba.

A rotina de treinamento deste atleta o prejudicava na escola, fazendo com que ele, inclusive, perdesse aulas com frequência. A solução encontrada foi trocar de escola. Na nova instituição, o próprio adolescente comentou sobre o seu descumprimento da carga horária, porém isso nunca o fez perder um ano letivo. Aqui temos mais um indício da flexibilização que ocorre no interior das escolas, a despeito dos dispositivos legais (LDB, Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996). O artigo 24º da LDB especifica que a carga horária mínima exigida é de 800 horas, distribuídas em 200 dias por base, e que "o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme o disposto no seu regimento e nas normas do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para aprovação" (BRASIL, p. 10).

Além dos habituais percalços associados à compatibilização entre as duas instituições de formação (futebol e escola), como o cansaço físico, por exemplo, percebemos que o atleta 11, da categoria sub-15, enfrenta outros problemas para estudar. O jovem citou problemas com relação ao comportamento dos alunos de sua escola durante as aulas. Observemos sua fala a seguir:

Atleta 11: A escola é bem complicada, né? Até porque a escola fica perto de uma favela e tem muitos garotos que têm... passam dificuldade na vida, essas coisas, e são um pouco revoltados. Aí é bem complicado conviver lá, porque é muita bagunça. Eles estouram bomba direto lá, aí é bem complicado. Mas o ensino é de qualidade, é bom, dá pra aprender bastante.

Os jovens que precisam conciliar a escola e uma dura rotina de treinos encontram muitas dificuldades pelo caminho. Mas a realidade de alguns atletas de categorias de base pode ser ainda pior. O abandono escolar faz parte de suas vidas e, mesmo por motivos distintos, eles continuam sem escola. É o caso de três meninos de nossa amostra. Perguntados sobre as causas da evasão escolar, as respostas foram as seguintes:

Atleta 29 9 O adolescente, nascido em Minas Gerais, deixou a escola no 2º ano do ensino médio. Atualmente, vive no alojamento do clube e, segundo ele, não conseguiu se matricular em uma escola após sua chegada ao Rio de Janeiro. : Pelas condições de no meio do ano eu ter viajado, saído da cidade, acabei perdendo o ano. E, agora, eu cheguei aqui no começo do ano, né? E não comecei a escola ainda.

Atleta 610 10 O atleta parou de estudar na 8ª série, atual 9º ano. : Eu parei por questão de trabalho, eu vi que foi onde eu tava sendo prejudicado um pouco na escola. Aí eu procurei optar por uma seguinte situação: ou escola ou esporte. Minha mãe não queria abrir mão se eu jogasse futebol sem estudar, mas eu vi que eu jogando bola eu tinha trabalhos pra fazer, né? Tava ficando uma coisa cansativa, uma coisa pesada. Aí eu comecei a largar de vez, comecei a tomar chamada da minha mãe...

Atleta 811 11 O menino parou de estudar no 3º ano do ensino médio. : Porque eu não consigo conciliar o meu treino com o colégio. A gente treinava e aí tinha que ir andando daqui até o Flama, e é um pouco longe. E muitas das vezes ao invés de ir pro colégio, até mesmo sem meu pai saber, eu pegava e ia pra casa. Meu pai trabalha e minha mãe também, e não tem como saber se eu fui pro colégio ou não. Ia pra casa e ficava. Aí fui perdendo matéria, perdendo aula, e quando chegou na metade do ano eu fui reprovado. Porque é por semestre e eu fui reprovado, e não tinha mais como eu passar. Meu pai achou melhor, perguntou pra mim, eu disse: "pai é melhor eu ficar parado esse ano e ano que vem eu volto a estudar".

Embora teoricamente os clubes mantenham os jovens atletas matriculados em escolas públicas ou privadas12 12 O tipo de escola depende da política do clube ou do tipo de acordo firmado com familiares ou empresários do jovem jogador. , o acompanhamento do processo de escolarização dos atletas recebe diferentes tratamentos pelos clubes. Os atletas oriundos de outros Estados chegam aos centros de treinamento no Rio de Janeiro com um histórico de abandono escolar ou com defasagem de aprendizagem, se for considerada a idade ideal de passagem pelas séries escolares no Brasil (MELO, 2010).

Além dos problemas da qualidade da escola brasileira e da ausência de significados de parte dos conteúdos escolares com o cotidiano, esses jovens atletas, em geral, enfrentam variados percalços no processo de escolarização que são específicos desse tipo de formação profissional: cansaço físico pelo excesso de treinamento; falta de tempo para o estudo e para assistir às aulas, em função dos treinos e viagens; falta de motivação pelo insucesso escolar; e interesse obsessivo pelo futebol, que desvaloriza a escolarização. Diante de tantas dificuldades, objetivas e subjetivas, a escola torna-se um objetivo secundário na vida desses jovens (DAMO, 2005).

A Escola pelo estudante-atleta

Em nosso questionário, perguntamos qual era a opinião dos entrevistados sobre a escola e sua visão a respeito do ensino oferecido pelas instituições nas quais estudavam. Como verificado no item anterior deste artigo, existem três atletas que deixaram de estudar por motivos individuais. A percepção destes atletas sobre a escola é o que verificaremos a seguir:

Entrevistador: Fale um pouco sobre a falta que a escola te faz atualmente...

Atleta 2: ... E a falta que faz é grande, né? Porque caso não der certo (no futebol), né? Tem que ter o estudo.

Entrevistador: Mas você pretende voltar a estudar?

Atleta 2: Pretendo, pretendo terminar. Eu ia fazer enfermagem, então eu tinha que terminar o terceiro, mas vou terminar ainda, pretendo voltar.

Entrevistador: O que você mais gostava na escola?

Atleta 2: Mais gostava (risos)? Aula de química. Era a coisa que eu mais gostava, o resto era aquela... A gente jovem fala, né (risos)? Chato, a escola é meio chata (risos).

Entrevistador: O que você acha mais chato na escola?

Atleta 2: Mais chato (risos)? Os professores (risos). Mas... aula de matemática, nunca dei conta dessa coisa. Fora isso nada demais.

Entrevistador: O que você achava da escola?

Atleta 6: Bom... foi uma pergunta boa você ter me feito agora. Até porque sem escola eu acho que a gente não vai a lugar algum, né? (Após ter citado o motivo do abandono escolar) Mas aí hoje eu me sinto um pouco arrependido, né? Arrependido pra caramba, porque sem escola... A grande verdade hoje é que a gente precisa da escola, então eu acho que é isso aí, eu parei por uma questão de trabalho, estou jogando futebol hoje.

Entrevistador: O que você mais sente falta da escola?

Atleta 6: Bom, das matérias, dos professores também, eles tratavam a gente super bem, os amigos de sala. Também quando a gente aprendia as coisas, sempre coisas novas, né? Isso é muito bom, cada vez a gente procurava aprender mais. Os professores tinham uma total paciência pra tá ensinando a gente, isso deixava a gente bem tranquilo.

Entrevistador: O que você achava mais chato na escola?

Atleta 6: Era a professora de matemática, né? Muito chata. Assim, às vezes a gente deixava de fazer alguma coisa. A gente tomava logo uma chamada. Mas no mais era tudo tranquilo (risos).

Entrevistador: Você gostava da sua escola?

Atleta 8: Gostava, só não estava me dando muito bem no técnico. Passei ano passado no sufoco e não gosto muito de informática.

Entrevistador: Você pretende voltar a estudar ano que vem, então?

Atleta 8: Sim.

Entrevistador: Se você treina pela manhã, por que não foi estudar à noite?

Atleta 8: Porque eu sou da igreja, sou da Assembléia de Deus. Lá tem culto segunda-feira e quarta-feira, e às vezes sexta-feira à noite, então pra não faltar na igreja... E todos os garotos estudavam à tarde também, ia todo mundo junto, na mesma sala e tal...

Entrevistador: E o que é que você mais gostava na escola?

Atleta 8: Eu gostava até de estudar. Só algumas matérias que eu gostava, como historia, português.

Entrevistador: E o que você menos gostava na escola em geral?

Atleta 8: Pode-se dizer que a organização, porque na hora do intervalo, escondido, tinha gente usando droga.

Podemos perceber que os três jogadores têm em vista o retorno aos estudos e comentam que a escola faz falta em suas vidas, e sem ela são pequenas suas perspectivas para o futuro fora do futebol. Embora este fato seja notório, o reingresso nas escolas não parece ser uma opção imediata, como podemos entender nesta fala:

Atleta 6: Bom, ter vontade eu não vou dizer pra você que eu não tenho, né? Até porque, é o que eu acabei de te dizer, tem duas opções: a escola ou o futebol. Você largando a escola fica mais complicado, então eu tenho vontade de voltar a estudar, sim. Só que agora, neste momento que eu tô vivendo... Chega a ser uma coisa desgastante, uma coisa pesada. Você vai entrar na faculdade, você tem trabalho pra fazer. Aí durante a semana você vai ter treino, em dois períodos: manhã e tarde. Então você fica só com parte da noite pra fazer aquele trabalho, sendo que você vai ter que estudar à noite. Então chega a ser uma coisa meio pesada, né? Acho que agora a gente tem que dividir as coisas, e depois que você se profissionalizar, tiver uma vida melhor, vai dar pra você fazer. Aí você faz, mas, no momento, acho que fica meio difícil.

O foco na busca pela profissionalização no futebol, a crescente demanda de carga horária nos treinamentos e o surgimento de oportunidades concretas para a realização deste sonho fizeram com que o atleta 12 invertesse a ordem de prioridade em sua formação. O jogador, que hoje mora no alojamento de um clube do Rio de Janeiro, contou-nos que em sua cidade de origem, Porto Alegre, seu empenho era mais focado nos estudos. No entanto, quando se mudou para o Rio, percebeu maiores chances de se profissionalizar no campo esportivo, e passou a priorizar o investimento no futebol, mostrando que seus desejos são orientados pelas oportunidades que lhe aparecem.

A tônica predominante por parte de nossos entrevistados foi exatamente a que tende valorizar a escola. Com exceção de um entrevistado, os demais dão a entender que, sem a obtenção das credenciais que a escola oferece, terão poucas oportunidades de emprego no mercado de trabalho fora do esporte. Entretanto, a aposta principal é a de seguir na tentativa de profissionalização no futebol. O único jovem com plena aversão à escola foi taxativo quando perguntado sobre o que mais e o que menos gostava na escola: "nada" e "tudo", respectivamente. O discurso do atleta 9, de 17 anos, é de que o futebol nasceu com ele, é seu sonho, seu dom. Lembramos que este jovem foi o que escolheu o ensino a distância para concluir os estudos. Observemos outras de suas respostas:

Entrevistador: Estudo e escola pra você, o que significam?

Atleta 9: Perda de tempo.

Entrevistador: Então um grande jogador de futebol não precisa ser alfabetizado?

Atleta 9: Não, precisa, mas eu não sei se é porque eu sou bom no colégio mesmo não estudando, não sei se é porque eu tenho facilidade nos estudos, não sei. A hora que quiser estudar eu posso voltar a estudar, porque não faz a mínima falta pra mim.

Contrapondo a opinião do adolescente anterior, encontramos um jovem apreciador da escola e leitor assíduo. O atleta 5 esclarece que sua prioridade é o futebol, apesar da sua destacada dedicação aos estudos. No entanto, o adolescente tem consciência de que a carreira no esporte exige algo mais, além de investimento pessoal, e pensa que o sucesso pela escola é o caminho que depende somente do próprio esforço:

Atleta 5: Meu sonho maior sempre foi jogar futebol, sempre gostei. E até comecei um pouco tarde, porque eu sempre fui gordinho e meu pai não queria que eu fosse goleiro, porque ele dizia que era preguiça. Mas é o que sempre sonhei, é o que eu gosto. É claro que o estudo é o caminho certo, que eu vou depender só de mim pra chegar... O futebol, a base, o caminho da base é bem delicado, depende muito da sorte e, é claro, do trabalho. Mas se você está no lugar certo, no caminho certo e fazendo o seu trabalho bem... De alguma maneira, às vezes a gente acaba sendo atrapalhado e isso pode causar algumas consequências ruins. Você pode não ser aquilo que você imaginava e o estudo vai te proporcionar isso, porque só depende de você.

Alguns problemas foram relatados no decorrer das entrevistas, como a falta de estrutura das escolas, ausência de professores, além daqueles associados com a rotina de treinamento: cansaço físico e psicológico, entre outros. A falta de incentivo ao consumo cultural também foi um problema constatado nas entrevistas. A maioria dos entrevistados disse que, apesar das escolas terem biblioteca, eles pouco a frequentavam.

As declarações dos jogadores acerca da importância da escola revelam um dado perigoso. O baixo consumo cultural em uma fase da vida em que a escola básica deveria ser a principal atividade dos adolescentes torna complexa a relação entre futebol e escola. O mercado do futebol não apresenta uma oportunidade concreta para todos que vislumbram o sonho de ser um jogador famoso, a compatibilização entre treinamento e estudos formais é necessária para que aqueles que forem malsucedidos no futebol (o que de fato ocorrerá com a maioria dos jovens envolvidos nesse processo). O investimento em permanecer na escola é importante para que os malsucedidos não criem um custo posterior quando forem procurar vagas de trabalho no mercado formal. Em outras palavras, é preciso pensar estratégias de compensação para o tempo gasto no futebol de modo que os treinamentos não impactem de forma negativa na trajetória escolar dos jovens.

A busca pela profissionalização no futebol oferece muitos riscos aos que a desejam. As dificuldades para conciliar as rotinas diárias dos atletas os distanciam da escola básica, apesar de não impedi-los de frequentá-la. Todavia, os atletas entrevistados indicam em suas falas que a escola não é representada como a principal estratégia de vida nesse momento e a dedicação aos estudos não é a principal meta.

No entanto, temos que levar em conta que no caso de uma carreira frustrada no futebol, ainda que esses jovens atletas terminem o ensino médio, dados apontam que a população geral com esse nível de ensino concluído recebe em média R$ 847,00 mensais (NERI, 2009). Essa perspectiva salarial se insere nos valores recebidos pela maioria dos jogadores profissionais oficialmente inscritos na CBF13 13 Como foi dito no item "O Futebol" deste artigo, 84% dos jogadores profissionais no Brasil recebem salários de até R$ 1.000,00. atualmente. Isso mostra um distanciamento expressivo em relação às recompensas financeiras concedidas a uma parcela mínima de atletas de futebol14 14 Parcela de 3% dos jogadores oficialmente credenciados na CBF. Ver item "O Futebol" do presente estudo. , cujas cifras superam o valor de 20 salários mínimos.

Conclusão

Este estudo não permite fazer generalizações, mas observamos como os atletas em foco adotam diferentes estratégias voltadas para a conciliação entre suas rotinas nas duas instituições de formação profissional: futebol e escola. As mobilidades entre turnos e estabelecimentos de ensino estiveram presentes nas táticas utilizadas pelos estudantes-atletas com o consentimento de seus responsáveis legais. Percebemos que essas estratégias estão associadas à permanência na escola, e mesmo os atletas de nossa amostra que não estão estudando atualmente atribuem certa importância ao investimento nos bancos escolares. No entanto, foi possível perceber que o foco de nossos entrevistados está fixado na carreira de futebol, e por este motivo a escola é colocada em segundo plano.

Refletimos sobre o mecanismo de flexibilização adotado pelos centros educacionais com a finalidade de satisfazerem às necessidades específicas desses jovens atletas. Professores e diretores se tornam parceiros e colaboradores na concessão de benefícios sistemáticos que objetivam a compatibilização entre as rotinas desses alunos. De modo semelhante ao desejo dos atletas, os pais são cientes e concordam com o funcionamento de tais mecanismos. Nossos dados não são suficientes para concluirmos sobre o modo pelo qual essa parceria é realizada entre escola, professores e estudantes-atletas. Assim, uma questão a ser respondida, em um futuro estudo, é: qual o impacto que os mecanismos de flexibilização adotados pelos estabelecimentos de ensino/professores têm sobre a educação institucionalizada desses jovens em formação profissional no futebol?

O presente estudo não é suficiente para responder questões de cunho mais generalizado e deixa lacunas que poderão ser exploradas mais detalhadamente em investigações de maior dimensão metodológica, tanto quantitativa quanto qualitativa.

Recebido em: 30 de julho de 2010.

Aceito em: 14 de dezembro de 2010.

Agradecemos o apoio pelo financiamento da pesquisa às instituições: CNPq, e FAPERJ.

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  • Endereço para correspondência:
    Hugo Rocha
    Rua Amilton Fernandes, 141 Realengo
    Rio de Janeiro RJ Brasil 21760-370
    Telefone: (21) 7719.4418
    E-mail:
  • 1
    Dados da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em 2009.
  • 2
    Instituições nas quais indivíduos trabalham e residem por um período de tempo, afastados da sociedade, sob um forte controle disciplinar.
  • 3
    Dados sobre a precariedade do ensino público no Brasil podem ser esclarecedores do quadro que estamos descrevendo: o percentual de repetência de alunos é de 20,6%, a maior da América Latina. A formação dos professores do ensino básico é insuficiente. Dos professores de 1ª a 4ª série, apenas 47% têm diploma universitário; destes, apenas 43% têm diploma em licenciatura. De cada 100 crianças matriculadas na 1ª série do ensino fundamental, 88,6% chegam à 4ª série, 57,1% à 8ª série e 36,6% ao 3° ano do ensino médio. (Observação: estes dados são anteriores à Lei nº 11.274/06, que regulamentou o ensino fundamental de nove anos.) No gasto médio por aluno, o Brasil - país com a economia mais diversificada e potente do continente - fica atrás de seus vizinhos Argentina, Uruguai, Chile e Colômbia. Ver "Escola Brasil" (O Globo, Rio de Janeiro, 22 jul. 2006).
  • 4
    O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica é uma medida do Programa Todos pela Educação composto por dois processos: 1) Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) realizado por amostragem nas redes de ensino - também chamado de SAEB e; 2) Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), mais detalhado que o anterior e tem como foco a unidade escolar. Ver <
  • 5
    O autor comenta que existem quatro categorias de jovens, a saber: os que somente trabalham; os que só estudam; aqueles que se dedicam simultaneamente ao trabalho e aos bancos escolares; e os adolescentes que não trabalham nem estudam. Essa categorização explica o porquê dos dados extrapolarem os 100%.
  • 6
    Para uma análise de dados quantitativos sobre a carga horária de treino dos atletas e carga horária escolar ver Melo (2010).
  • 7
    A distância entre as duas localidades - Austin e São Gonçalo - é de aproximadamente 68 km.
  • 8
    No estudo de natureza quantitativa, "Formação e escolarização de atletas de futebol no Estado do Rio de Janeiro", o índice de atletas matriculados no ensino noturno é de 40,9%. Este percentual se eleva conforme aumenta a idade dos entrevistados. Para os jogadores entre 15 e 17 anos, o percentual é de 47,9%. Essa relação atinge seu maior índice entre os jovens da categoria sub-20, na qual o indicador alcança 86,4 pontos percentuais. Esses dados parecem evidenciar a influência que a rotina de treinamentos exerce sobre a escolha pelo turno dedicado à escola. O futebol disponibiliza os turnos da manhã e da tarde para os treinos, restando a opção noturna para os estudos (MELO, 2010).
  • 9
    O adolescente, nascido em Minas Gerais, deixou a escola no 2º ano do ensino médio. Atualmente, vive no alojamento do clube e, segundo ele, não conseguiu se matricular em uma escola após sua chegada ao Rio de Janeiro.
  • 10
    O atleta parou de estudar na 8ª série, atual 9º ano.
  • 11
    O menino parou de estudar no 3º ano do ensino médio.
  • 12
    O tipo de escola depende da política do clube ou do tipo de acordo firmado com familiares ou empresários do jovem jogador.
  • 13
    Como foi dito no item "O Futebol" deste artigo, 84% dos jogadores profissionais no Brasil recebem salários de até R$ 1.000,00.
  • 14
    Parcela de 3% dos jogadores oficialmente credenciados na CBF. Ver item "O Futebol" do presente estudo.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Out 2011
    • Data do Fascículo
      Jun 2011

    Histórico

    • Recebido
      30 Jul 2010
    • Aceito
      14 Dez 2010
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