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Discutindo a dimensão sociolinguística do projeto ALiB: uma reflexão a partir do perfil dos informantes

Resumos

Este trabalho centra-se na discussão da dimensão pluridimensional dos estudos dialetológicos e tem como objetivos: i) discutir aspectos da dimensão sociolinguística do projeto ALiB (Atlas Linguístico do Brasil), com base no perfil estabelecido para a seleção dos informantes e ii) apresentar um panorama das características dos 200 informantes do ALiB entrevistados em 25 capitais brasileiras, discutindo tendências evidenciadas nesse universo de falantes da língua portuguesa contemporânea, especialmente em termos de nível de escolaridade, de contatos com os meios de comunicação - televisão e rádio -; de hábitos de leitura de jornal e de hábitos de diversões - cinema e teatro. Para tanto, recupera dados historiográficos relativos à disciplina Dialetologia, destacando aspectos que apontam, desde os seus primórdios, para a necessidade de se considerar, além da horizontalidade, aspectos relacionados à dimensão vertical dos estudos linguísticos, adotando-se também variáveis sociais como parâmetro para a descrição e análise da fala de grupos sociais fixados em zonas geográficas previamente delimitadas.

Dialetologia pluridimensional; Atlas Linguístico; Brasil; Informantes


This paper focuses on the discussion of the multidimensional dimension of dialectology studies and it aims to: i) discuss aspects of sociolinguistics dimension of the ALiB project (Linguistic Atlas of Brazil), based on the profile established for the selection of informants and ii) present an overview of the characteristics of 200 informants of ALiB who were interviewed in 25 Brazilian capitals, discussing highlighted trends in this universe of speakers of contemporary Portuguese language, especially in terms of education level, contacts with the media - television and radio; newspaper reading habits and entertainment: cinema and theater. In order to do so, it retrieves historiographical data related to the Dialectology subject, highlighting aspects that show, since its inception, the necessity to consider, in addition to horizontality, the vertical dimension aspects of linguistic studies, also taking social variables as parameters for the description and analysis of the speech of social groups fixed in geographical areas that were previously delimited.

Multidimensional dialectology; Linguistic Atlas; Brazil; Informants


Discutindo a dimensão sociolinguística do projeto ALiB: uma reflexão a partir do perfil dos informantes

Discussing the sociological dimension of the ALiB project: a reflection based on the informants profile

Aparecida Negri IsquerdoI; Valter Pereira RomanoII

IUFMS – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Centro de Ciências Humanas e Sociais. Campo Grande – Mato Grosso do Sul – Brasil.79070-900 - aparecida.isquerdo@gmail.com

IIUEL – Universidade Estadual de Londrina. Centro de Letras e Ciências Humanas. Londrina – Paraná – Brasil. 86051-980 - valter.romano@hotmail.com

RESUMO

Este trabalho centra-se na discussão da dimensão pluridimensional dos estudos dialetológicos e tem como objetivos: i) discutir aspectos da dimensão sociolinguística do projeto ALiB (Atlas Linguístico do Brasil), com base no perfil estabelecido para a seleção dos informantes e ii) apresentar um panorama das características dos 200 informantes do ALiB entrevistados em 25 capitais brasileiras, discutindo tendências evidenciadas nesse universo de falantes da língua portuguesa contemporânea, especialmente em termos de nível de escolaridade, de contatos com os meios de comunicação - televisão e rádio -; de hábitos de leitura de jornal e de hábitos de diversões - cinema e teatro. Para tanto, recupera dados historiográficos relativos à disciplina Dialetologia, destacando aspectos que apontam, desde os seus primórdios, para a necessidade de se considerar, além da horizontalidade, aspectos relacionados à dimensão vertical dos estudos linguísticos, adotando-se também variáveis sociais como parâmetro para a descrição e análise da fala de grupos sociais fixados em zonas geográficas previamente delimitadas.

Palavras-chave: Dialetologia pluridimensional. Atlas Linguístico. Brasil. Informantes.

ABSTRACT

This paper focuses on the discussion of the multidimensional dimension of dialectology studies and it aims to: i) discuss aspects of sociolinguistics dimension of the ALiB project (Linguistic Atlas of Brazil), based on the profile established for the selection of informants and ii) present an overview of the characteristics of 200 informants of ALiB who were interviewed in 25 Brazilian capitals, discussing highlighted trends in this universe of speakers of contemporary Portuguese language, especially in terms of education level, contacts with the media – television and radio; newspaper reading habits and entertainment: cinema and theater. In order to do so, it retrieves historiographical data related to the Dialectology subject, highlighting aspects that show, since its inception, the necessity to consider, in addition to horizontality, the vertical dimension aspects of linguistic studies, also taking social variables as parameters for the description and analysis of the speech of social groups fixed in geographical areas that were previously delimited.

Keywords: Multidimensional dialectology. Linguistic Atlas. Brazil. Informants.

Introdução

A Dialetologia nasceu sob o signo da monodimensionalidade à medida que tradicionalmente priorizava a diatopia como objeto de investigação, selecionando a fala de áreas rurais de pequeno porte e tomando como informantes para a recolha de dados dialetais, preferencialmente, homens de vida sedentária, idosos, analfabetos e nascidos e residentes na localidade, tendência essa inaugurada na segunda metade do século XIX, quando desponta a Dialetologia como desmembramento e também uma reação ao movimento dos neogramáticos, no que diz respeito à regularidade e à uniformidade das mudanças fonéticas que ocorrem no âmbito de cada língua. Iniciada com o trabalho de Georg Wenker, a partir de 1876, na Alemanha, e consolidada por Jules Gilliéron, com a publicação do Atlas Linguístico da França (1902-1910), essa nova linha de investigação solidifica-se como uma nova orientação para o estudo da variação, no caso, tomando como contexto um espaço geográfico e buscando elucidar a relação entre língua e meio social: "[...] la encuesta francesa de Gilliéron ha influido enormemente, y debido a la eficacia del proyecto desde sus comienzos hasta su publicación y también a la calidad de sus resultados, se ha convertido en piedra de toque para cualquier encuesta posterior" (CHAMBERS; TRUDGILL, 1994, p.41). Os mesmos linguistas salientam a influência da obra de Gilliéron nos projetos de estudos dialetais subsequentes, como a pesquisa sobre os dialetos italianos da Itália e do sul da Suíça (Karll Jaberg e Jakob Jud) e, posteriormente, a contribuição de Jakob Jud e de Paul Scheurmeier na preparação de inquiridores para o Atlas Linguístico dos Estados Unidos e do Canadá, iniciado a partir de 1930. Destacam ainda os mesmos autores que "[...] lazos semejantes, bajo la forma de contacto personal y de consultas profesionales, unen Gilliéron directa o indirectamente con las encuestas dialectales nacionales de España, la Romania e Inglaterra, además de con varias encuestas regionales realizadas en Europa" (CHAMBERS; TRUDGILL, 1994, p.41-42). Essa orientação monodimensional expandiu-se para a América e tem caracterizado a grande maioria dos atlas linguísticos produzidos em território europeu e americano.

Todavia o embrião da pluridimensionalidade logo começa a surgir motivado pela própria dinâmica da língua. Assim, mesmo que os procedimentos metodológicos condicionassem descrições puramente diatópicas do material linguístico documentado em uma área espacial, esses mesmos dados davam e continuam dando mostras de que a fala, mesmo circunscrita a um espaço geográfico delimitado, pode evidenciar tanto zonas marcadas pela homogeneidade quanto áreas que apontam para traços de heterogeneidade linguísticos, culturais, étnicos. O Atlas linguistique et Ethnographique de l'Italie et de la Suisse Méridionale (AIS), por exemplo, "[...] proporciona para alguns pontos urbanos, os resultados dos famosos relevés doublés, feitos em duas camadas citadinas diferentes" (THUN, 2005, p.64), procedimento metodológico que aponta para o emergir de uma dimensão diastrática no âmbito dos estudos dialetais. Segundo o mesmo dialetólogo, também Griera (1923), no prefácio do Atlas Linguistic de Catalunya, primeiro atlas publicado na Península Ibérica, "esboça um programa completo de uma dialetologia pluridimensional que lamentavelmente – pensa o autor – nem ele nem algum atlas poderia realizar, porém, só uma série de monografias". Registra Griera que "[...] l'ideal seria, evidentemente, de tenir transcrita, de cada localitat, la llengua dels vells, la llengua de les persones de mitjana edat i la llengua dels infants" (GRIERA, apud THUN, 2005, p.64). Sentencia ainda o mesmo dialetólogo alemão que, provavelmente, tenha sido:

[...] o afastamento da burguesia do mundo rural que causou nos dialetólogos acadêmicos do século passado [XX] a ilusão de uma uniformidade da vida e cultura dos camponeses à qual se amolda como síntese e peça de conservação de museu, o atlas linguístico estritamente diatópico (THUN, 2005, p.63-64).

A Dialetologia, seja assinalando para uma perspectiva pluridimensional, seja mantendo-se fiel ao preconizado pelos dialetólogos tradicionais foi ora ganhando espaço no âmbito das pesquisas sobre os falares regionais, os dialetos, ora recebendo severas críticas (sobretudo quanto ao número e ao perfil dos informantes selecionados para a coleta de dados) de linguistas estruturalistas e em especial dos sociolinguistas que implantaram uma metodologia calcada em variáveis sociais que interferem no uso da língua. Todavia, a despeito disso:

A Dialectologia apresenta-se, no curso da história, como uma disciplina que assume por tarefa identificar, descrever e situar os diferentes usos em que uma língua se diversifica, conforme a sua distribuição espacial, sociocultural e cronológica. Dois aspectos fundamentais estão, pois, na sua gênese: o reconhecimento das diferenças ou das igualdades que a língua reflete e o estabelecimento das relações entre as diversas manifestações lingüísticas documentadas ou entre elas e a ausência de dados registrados, circunscritos a espaços e realidades pré-fixados (CARDOSO, 2002, p.1).

O advento da Sociolinguística a partir da década de 60 do século XX1 1 Valendo-se do pensamento de Weinreich, Labov e Herzog apud Ramírez (2009, p.43) reitera que "[...] la sociolingüística tiene como uno de sus postulados básicos que la variación lingüística es inherente a la estructura del lenguaje". , sobretudo a vertente liderada por William Labov, de cunho variacionista, pautada no princípio das regras variáveis e com destaque para a dimensão vertical (social) dos estudos linguísticos, lançou questionamentos sobre as diretrizes da Dialetologia, no que tange à prioridade concedida à dimensão horizontal (geográfica) na análise da fala. Ramirez (2009, p.41), ao situar a Sociolinguística como disciplina que se ocupa do estudo dos sistemas linguísticos em seu contexto social, priorizando os centros urbanos que, por sua vez, concentram maiores índices de diversidades (linguística e social), menciona quatro enfoques distintos da disciplina: "[...] 1) las relaciones entre lengua y sociedad; 2) los usos de la lengua en la sociedad; 3) la lengua en los contextos socioculturales y 4) la lengua y las redes sociales".

O pesquisador espanhol estabelece ainda correlações entre as disciplinas Dialetologia e Sociolinguística, argumentando que "[...] la dialectología e la sociolingüística son disciplinas hermanas que estudian la lengua dentro de la sociedad. Las dos tradiciones, aun con distintos propósitos, se complementan con sus hallazgos lingüísticos y orientaciones metodológicas." Destaca também o fato de dados obtidos por meio de estudos orientados pelos parâmetros da Geografia Linguística terem sido utilizados por pesquisadores em trabalhos de sociolinguísticos, dentre outros os de William Labov que "[...]modificó los métodos de la dialectología para sus estudios del inglés en la isla de Martha's Vineyard (1963) y luego em Nueva York (1966)" (RAMÍREZ, 2009, p.46-47).

Na verdade, a partir dos anos 60, os estudos geolinguísticos tomaram uma nova orientação, pois passaram a inserir alguns pressupostos metodológicos da Sociolinguística, agregando ao fator diatópico variáveis sociais. Sobre esse assunto, Brandão (1991, p.26) faz as seguintes ponderações:

Assim, hoje, torna-se imperativo, por exemplo, incluir, entre os critérios de escolha dos indivíduos que servirão de informantes para a formação do corpus de um atlas linguístico, variáveis como idade, sexo, nível de instrução, ou mesmo situação socioeconômica, a fim de que se revelem ao máximo as particularidades do sistema dialetal focalizado e se possam melhor conhecer os condicionamentos socioculturais que presidem à distribuição geográfica dos fenômenos linguísticos.

Além das variáveis sociais, fez-se necessário incluir diferentes níveis de interlocução, como discursos livres com temas para que os informantes os desenvolvessem e textos de leitura, buscando, dessa forma, a variação diafásica.

Nota-se, pois, que, à medida que os estudos de Geografia Linguística começaram a se desenvolver, a metodologia da pesquisa se aprimorava, diferenciando-se conforme a época, os objetivos do trabalho e a região pesquisada. Segundo Almeida (2008, p.41), na América, por exemplo, Hans Kurath (1939) com seus colaboradores elaboram o Linguístic Atlas New of England (LANE), principal resultado do Atlas Linguístico dos Estados Unidos da América e Canadá, inovando quanto ao critério de escolha dos informantes, somando ao aspecto geográfico, o social, o que evidencia relações entre os dados linguísticos e os de cunho sociocultural. Para tanto, os informantes foram selecionados considerando duas variáveis: o estrato social (escolaridade) e a faixa etária (jovens; meia idade; idosos). Sobre o LANE, Cardoso (2001) sintetiza:

Se com Wenker e no atlas da Alemanha se consagra a relevância da intercomparabilidade de dados e com o atlas de Gilliéron se assenta a importância da inquirição in loco, ao passo etnolingüístico dado por Jud e Jaberg no atlas ítalo-suíço se pode acrescentar outro avanço significativo trazido por Hans Kurath: a escolha de informantes que não apenas representassem os pontos constituintes da rede de localidades definida por região a partir de uma única faixa etária ou de um estrato social também único, mas que trouxessem também um aporte sociocultural e etário.

Um olhar retrospectivo para a história da Dialetologia e da Geolinguística/Geografia Linguística permite, pois, observar que, em diferentes continentes e em épocas distintas, houve o que Thun (2005) denomina de "apelos à pluridimensionalidade", embora a maioria desses "apelos" tenha se limitado a introduzir determinadas variáveis sociais na metodologia do projeto e a sinalizar para a necessidade de o fenômeno linguístico ser examinado também segundo variáveis sociais, já que a par de fatores espaciais, condicionantes sociais interferem de forma significativa nos processos de variação e mudança linguísticas.

Ramírez (2009, p.47), por exemplo, destaca que o projeto do Atlas Lingüístico de Hispanoamérica (Alvar y Quilis, 1984), em desenvolvimento, e o estudo de Lope Blanch (1990) sobre o espanhol falado nos Estados Unidos "[...] tienen mucho que aportar para los estudios con enfoque sociolingüístico." O Atlas Linguístico da Hispanoamérica foi projetado por Manuel Alvarem 1980 e teve como objetivo retratar o comportamento do espanhol em território americano. O principal resultado desse atlas é o que se refere ao espanhol do Sul dos EUA na área fronteiriça com o México (El español en sur del Estados Unidos) publicado em 2000.

Thun (2005, p.64-66), por seu turno, ao discutir as dimensões que têm orientado os caminhos percorridos pela Geografia Linguística, faz um inventário de atlas linguísticos produzidos na Europa e na América, destacando características desses atlas que evidenciam três quadros distintos: caminho monodimensional (tendência majoritária); caminho que introduz de forma direta ou indireta "apelos à pluridimensionalidade" e, por fim, "a pluridimensionalidade como programa". Na primeira categoria de atlas, situa a Geografia Linguística do mundo ibero-peninsular e americano, ao mesmo tempo em que destacam dois fatores como justificativa para a predominância de atlas monodimensionais na Espanha: o "[...] poderoso modelo que forneceu Manuel Alvar com a sua impressionante série de atlas espanhóis regionais e ao florescer da sociolinguística que, com franco desdém para a sua co-disciplina, pretende privar a dialetologia de toda dimensão que não seja a areal2 2 "A separação é a característica da geolingüística românica até hoje, pelo menos de sua corrente maior (RADTKE; THUN, apud THUN, 2005, p.64). " (THUN, 2005, p.64). Já no que diz respeito aos atlas que, embora produzidos numa perspectiva da monodimensionalidade, antecipam características que apontam para a necessidade de revisões de posições teórico-metodológicas à luz do novo quadro da sociedade em geral, numa era de modernidade, de êxodos rurais e de ênfase na vida urbana que estão desenhando um novo panorama do mundo contemporâneo fortemente marcado pela industrialização, pelo avanço dos meios de comunicação de massa, pelos conflitos de classes, o que se reflete nas formas de uso da língua, intensificando o fenômeno da variação motivado por condicionantes sociais e desencadeando processos singulares de mudanças linguísticas. Enfim, a dicotomia entre o rural e o urbano sede lugar para a manifestação de um continuum rural/urbano/rural a que Bortoni-Ricardo (1985) denomina de dialeto rurbano. Nesse contexto de "[...] apelos à pluridimensionalidade", Thun (2005) cita dois exemplos ilustrativos dessa tendência: o primeiro diz respeito ao programa delineado por Tomás Navarro Tomás (autor do modelo de estudo sobre o "Español en Puerto Rico", de cunho monodimensional) que retoma as palavras de Griera (1923), com a finalidade de argumentar a favor de novos caminhos para as pesquisas dialetológicas sobre o espanhol:

Está por realizar el plan ideal que abarque el estudio del español de toda la isla em sus centros urbanos y em sus barrios campesinos y señale sus distintos niveles entre ancianos, adultos y jóvenes, entre personas instruidas, semicultas e iletradas, y entre hombres y mujeres [...] (NAVARRO apud THUN, 2005, p.65).

O segundo exemplo citado, o Atlas Lingüístico y Etnográfico de Andalucía (ALEA), é considerado por Thun (2005, p.65) como uma obra que "[...] apela indiretamente à pluridimensionalidade quando introduz, nos trinta pontos urbanos, as encuestas múltiples e distingue, nas notas marginais de alguns mapas, entre o modo de falar dos homens e das mulheres, entre faixas e níveis socioculturais".

Por fim, no terceiro quadro delineado por Thun (2005), em que o autor apresenta a pluridimensionalidade como programa, o pesquisador considera o Atlas Lingüístico de México (ALM), de Lope Blanch (1991) como "potencialmente pluridimensional", em que o autor sublinha que "[...] um atlas não pode substituir a detalhada análise sociolinguística, 'pero sí puede dejar entrever las principales distinciones sociolingüísticas entre unas y otras clases de hablantes' (1992)" (THUN, 2005, p.65).

Já na Península Ibérica, o dialetólogo alemão considera que apenas três trabalhos geolinguísticos deixam explícita a pluridimensionalidade: 1) a monografia Untersuchungen zur Sprachvariation des Gaskognischen im Val d' Aran (Zentralpyrenäen), Tubinga, de O. Winkelmann (1989); 2) a tese de doutorado de F. Boller (1995), Die Isoglossenstaffelung in der galicisch-portugiesisch-spanischen Kontaktzone und im LombadaÁliste-Grenzgebiet, Kiel, e 3) o projeto Atlas Lingüístico y Etnográfico de Castilla-La Mancha, de F. Moreno Fernandez e P. García Mouton3 3 O Atlas Lingüístico y etnográfico de Castilla - La Mancha configura-se como um atlas regional da língua espanhola falada na região central de Península Ibérica. Já está disponível online uma amostra de mapas contendo dados fonéticos, lexicais e gramaticais. O site fornece ainda informações acerca da metodologia adotada para a realização da pesquisa que está subsidiando a elaboração do Atlas que, quando concluído, pretende reunir em torno de 2.500 mapas a serem gerados automaticamente. Esse Atlas já conta com parte dos dados cartografados e está disponível < http://www.linguas.net/alecman/>. Acesso em: 29.mar. 2012. (THUN, 2005, p.66).

Os estudos geolinguísticos que vêm se desenvolvendo fora da Europa, principalmente, na América do Sul, agregam à Dialetologia conhecimentos advindos da Sociolinguística. Esses novos trabalhos passam a controlar sistematicamente, na coleta de dados, as variáveis sociais, tais como sexo, faixa etária, escolaridade. Consideram também na dimensão diatópica, além do informante topoestático (informantes fixos à localidade), o informante topodinâmico (pessoas oriundas de outras regiões). Já a dimensão diafásica é incluída no instrumento de coleta por meio de diferentes níveis de interlocução e passa-se a fazer uma Dialetologia urbana, considerando cidades de pequeno e de grande porte. Outra tendência também dos estudos pluridimensionais é incluir áreas de investigação onde há o contato de línguas a fim de "[...] documentar não somente a coexistência de língua e variedades, mas também a mútua influência que exercem umas sobre outras" (RADTKE; THUN, 1996, p.41).

No âmbito da América Latina4 4 primeiro atlas nacional latino-americano que teve êxito foi o de Luiz Florez, o Atlas linguístico-etnográfico da Colômbia (ALEC), publicado entre os anos de 1981-1983. Este atlas teve sua coleta de dados iniciada em 1958 e é compostopor seis volumes, totalizando 1.500 cartas linguísticas (ALMEIDA, 2008). , Thun (2005) cita o Atlas Lingüístico y Etnográfico de Chile, planejado por G. Carrillo que, a exemplo do Atlas Linguístico do México (ALM), apresentou um projeto pluridimensional. Essa nova tendência de verificar o fenômeno da variação linguística veio constituir a Dialetologia pluridimensional, conceito desenvolvido por pesquisadores alemães como Edgar Radtke e Harald Thun, da Universidade de Kiel.

Ainda tratando do programa pluridimensional da Dialetologia, Thun (2005) apresenta os fundamentos teóricos e metodológicos do Atlas Linguístico de contatos do Rio da Prata, um macroprojeto que abriga três projetos parciais de atlas: ADDU – Atlas Lingüístico diatópico y diastrático del Uruguay; ALRG - Atlas Lingüístico Guaraní-Románico; ALMRP - Atlas Lingüístico de los Mennonitas Rioplatenses5 5 Projeto ainda em fase de desenvolvimento. .

O Atlas Diatópico y Diastrático del Uruguay (ADDU), de Harald Thun e Adolfo Elizaincín, que visa a descrever, sob a perspectiva geolinguística, a região do Rio da Prata, teve dois volumes publicados em 2000 referentes à fonética e à morfossintaxe. Esse atlas orienta-se por diferentes dimensões e bem ilustra o modelo pluridimensional: dialingual (espanhol / português); diatópica (topoestático); diatópico-cinética (topostático / topodinâmico); diastrática (classe alta / classe baixa); diageracional (geração II / geração I); diassexual (mulheres / homens); diafásica (conversa livre; questionário; leitura); diarreferencial (fala "objetiva" / fala metalinguística) (THUN, 2005, p.71).

Já o Atlas Linguístico Guarani-românico (ALGR), de Wolf Dietrich, Amídio Aquino e Harald Thun, abrange três países: Brasil (21 pontos), Argentina (35) e Paraguai (49). Dois tomos desse atlas foram publicados em 2002. O ALGR é pioneiro, na área da Geolinguística, no que se refere à descrição de línguas indígenas6 6 O ALiPP - Atlas Linguístico de Ponta Porã (REIS, 2006) inseriu na sua metodologia a dimensão dialingual, avançando, assim, na documentação das línguas em contato na área de fronteira entre o Brasil e o Paraguai coberta pelo município brasileiro de Ponta Porã, à medida que mapeou variantes lexicais do português, do espanhol e do guarani para designar um mesmo conceito. .

Nota-se, pois, que, se no continente europeu os estudos geolinguísticos ganharam principalmente o enfoque monodimensional, em solo americano, frente à nova realidade, esse método de trabalho tomou uma nova orientação, a pluridimensional, havendo, pois, uma adequação quanto aos instrumentos de coleta de dados, ao perfil dos informantes e à escolha das localidades.

Tomando por base o quesito dimensões da variação, Thun (2005) classifica os atlas linguísticos em monodimensionais, bidimensionais e pluridimensionais. O atlas linguístico de Wenker e o atlas de Gilliéron, por exemplo, têm como característica marcante a arealização dos dados linguísticos, ou seja, contemplam exclusivamente a variação linguística no espaço geográfico, a variação diatópica, logo, esses dois atlas são monodimensionais. Já o Atlas Ítalo-Suíço (AIS) contempla a variação diastrática por meio da arealidade ao incluir informantes de duas classes sociais distintas, podendo, pois, ser classificado como atlas bidimensional, por selecionar duas variáveis ou dimensões: a diatópica e a diastrática. Já os atlas linguísticos que contemplam mais de duas variáveis enquadram-se na categoria dos atlas pluridimensionais, a tendência contemporânea dos estudos dialetais. Thun (2000, p.375) esclarece que:

Les premiers représentants d'um atlas linguistique systématiquement pluridimensionnel son l'Atlas Linguistique de Sergipe [...] le microatlas aranéen contenu dans la monographie de Otto Wilkelmann (1989) et l'Atlas Lingüístico do Paraná [...] Les deux atlas brésiliens ajoutent à la dimension diatopique la variable diasexuelle que s'étend, en príncipe, à tous les points de réseau.

Nesse contexto, não é demais assinalar que, produtos do método da Geografia Linguística, as cartas que compõem os atlas linguísticos possibilitam uma ampla visão areal da variação interna dos dialetos estudados pelos métodos da Dialetologia à medida que visualizam a distribuição espacial de fenômenos linguísticos (sobretudo fonéticos e lexicais), permitindo identificar áreas conservadoras e inovadoras que, por sua vez, evidenciam o caráter dinâmico da língua e podem fornecer pistas para o estudo de determinado fenômeno, também na perspectiva histórica. A noção de isoglossas7 7 "El término isoglosa lo usó por primera vez J.G.A. Bielenstein, un dialectólogo letón, en 1892. Al parecer, acuñó el neologismo basándo-se en el término meteorológico isotermo, la línea que divide dos lugares con la misma temperatura media. Isoglosa significa literalmente «igual lengua» ( iso + glosa). Presumiblemente quiere expresar el hecho de que una línea trazada a través de una región mostrará dos áreas en cada una de las cuales coincide algún aspecto del uso lingüístico, pero que difieren una de la otra, los dialectólogos han usado de dos modos ligeramente diferentes la palabra, con el resultado de que la isoglosa se ha representado gráficamente de dos modos distintos ; [...] se traza una línea entre los lugares de dos hablantes que muestren rasgos distintos [...] se traza una línea que enlaza los puntos de los hablantes que comparten el rasgo Δ y una segunda lνnea para unir a los que comparten el rasgo , cuando esos hablantes son contiguos al otro grupo, esto es, cuando se encuentran en la intersección entre las dos regiones." (CHAMBERS; TRUDGILL, 1994, p.139-141). vinda dos fundamentos teóricos da Dialetologia muito bem ilustra os diferentes veios da variação dos sistemas linguísticos.

Isso porque as cartas linguísticas não são representações opacas da realidade, cujos registros se esgotam em si, mas se oferecem em sua dupla feição como registros da história dos homens. Trata-se, portanto, de uma dupla arealização: (i) do espaço e das rotas ou trajetos entre os pontos; (ii) da sociedade e das projeções que os dados acionam no interior das variáveis extralinguísticas (BUSSE, 2009, p.125, grifo nosso).

Em se tratando dos atlas pluridimensionais a cartografia dos dados representa uma opção metodológica particularmente desafiadora de maneira a garantir uma "[...] organização inteligente e racional do grande rol de dados coletados" (THUN apud CARDOSO, 2010, p.64). O Atlas Diatópico y Diastrático del Uruguay - ADDU (THUN; ELIZAINCÍN, 2000) é um exemplo de atlas que elaborou uma cartografia pluridimensional, permitindo o cruzamento das variáveis (diatópica, diageracional, diagenérica, diastrática e diafásica) e exibindo os resultados que mostram o comportamento de cada uma delas. Margotti (2008, p.09), por seu turno, ao tratar dos desafios metodológicos no âmbito da Geolinguística pluridimensional, conclui: "através dos mapas geolingüísticos pluridimensionais, mais simples ou mais complexos, é possível visualizar o grau e o modo de variação do fenômeno, fornecendo argumentos mais consistentes para as conclusões". Nesse particular, Cardoso (2002, p.10-11) assim sintetiza a tendência contemporânea da cartografia nos estudos geolinguísticos:

A Dialectologia e especificamente os estudos geolingüísticos deixam de apresentar-se numa visão dominantemente diatópica e passam a exibir, também cartograficamente, dados de natureza social. Isso vem mostrar, ainda, que a uniformidade diatópica pode sofrer desdobramentos sem, contudo, perder a sua inteireza e a sua integridade. E aí estaria "o novo", a novidade não encontrada em tempos pretéritos nem amplamente explorada, como se verifica hoje — à diversidade de espaços físicos e geopolíticos junta-se a consideração dos parâmetros diagenérico, diageracional, diastrático, diafásico, dia-referencial ou nas especificações da diatopia, diatópico-topoestático, diatópico-topodinâmico, e de outros mais a que se pode e possa chegar.

A situação brasileira

Os estudos dialetológicos têm início no Brasil em 1920, com a obra O Dialeto Caipira, de Amadeu Amaral. Todavia a primeira manifestação que se pode caracterizar, numa visão ampla, de natureza dialetal sobre o português do Brasil, ocorre no ano de 1826, e deve-se a Domingos Borges de Barros, o Visconde de Pedra Branca que, a serviço de Adrien Balbi, anotou algumas peculiaridades do português brasileiro para integrar o Atlas Ethnographique du Globe (1924-1925). Callou (2010, p.33), ao discorrer sobre as inter-relações entre Dialetologia e Sociolinguística no Brasil, assevera:

Não se pode negar que o conhecimento sobre a realidade linguística brasileira teve início no âmbito da Dialetologia e atingiu o ápice com a Sociolinguística, mais especificamente, com a sociolinguística variacionista laboviana e os sofisticados métodos de análise estatística, um modelo de análise seguido em centenas de estudos na área.

Mota e Cardoso (2006, p.15-26), numa abordagem de caráter histórico, propõem uma divisão para os estudos dialetais no Brasil, formada por quatro fases. Para tanto, tomam como parâmetro a proposta de Nascentes (1952, 1953) que estabelece duas fases para os estudos dialetológicos no Brasil e a apresentada por Ferreira e Cardoso (1994) que, ampliando a periodicidade do dialetólogo brasileiro, dividem os estudos dialetais em três momentos. Essa periodicidade coincide com a estabelecida por Nascentes, no que diz respeito às duas primeiras fases, ou seja, a primeira recobre aproximadamente um século, estendendo-se de 1826-1920, período caracterizado por estudos acerca do léxico, com ênfase na elaboração de glossários e de dicionários, enquanto a segunda fase vai de 1920 a 1952 e caracteriza-se, basicamente, como os primeiros passos da Dialetologia brasileira, em que se destacam os seguintes trabalhos monográficos: O Dialeto Caipira, de Amadeu Amaral (1920), O Linguajar Carioca, de Antenor Nascentes (1922/53), A língua do nordeste, de Mário Marroquim (1934). Ainda nessa fase, desenvolveram-se trabalhos que podem ser classificados em quatros grupos diferenciados conforme o enfoque: glossários regionais; obras de caráter geral que tratam de questões mais abrangentes da língua portuguesa no Brasil; estudos monográficos de caráter regional que abordam, particularmente, fenômenos específicos de dada região e estudos acerca da contribuição do elemento africano à língua8 8 Confira: Ferreira e Cardoso (1994). . Já a terceira fase estabelecida por Ferreira e Cardoso (1994) tem seu início em 20 de março de 1952, data em que o governo brasileiro publicou o Decreto 30.643 que definia as finalidades da Comissão de Filologia da Casa de Rui Barbosa, dentre as quais, a primordial era a elaboração de Atlas linguístico do Brasil. Nessa fase, segundo Mota e Cardoso (2006, p.19):

[...] não só se sedimenta a mentalidade dialectológica preconizada por Serafim da Silva Neto no seu Guia para estudos dialectológicos no Brasil (1957), mas, também, se dá início aos trabalhos de natureza geolinguística, com as pesquisas para o Atlas Prévio dos Falares Baianos e com a sua publicação em 1963. A esse primeiro atlas, seguem-se-lhe outros de caráter regional o que consolida, na opinião das autoras [Ferreira e Cardoso] uma terceira fase, cuja ênfase está no desenvolvimento dos estudos geolinguísticos.

As mesmas autoras, considerando o novo momento vivido pela Dialetologia no Brasil, a partir de 1996, com a retomada do projeto de um Atlas Linguístico no Brasil, propõem uma quarta fase para os estudos dialetológicos no Brasil, apresentando como justificativas: i) o crescimento de pesquisas nessa área, em sua maioria, direta ou indiretamente, relacionadas ao projeto ALiB; ii) as discussões acerca de questões metodológicas nas reuniões nacionais do Comitê Nacional9 9 Por ocasião do Seminário Nacional Caminhos e Perspectivas para a Geolinguística no Brasil, realizado em Salvador, Bahia, foi constituído o Comitê Nacional do ALiB, formado por autores de atlas regionais e um representante de atlas em andamento. A estrutura desse Comitê comporta um presidente, uma diretora executiva e os diretores científicos. Atualmente integram o Comitê Nacional do ALiB pesquisadores de 08 universidades públicas brasileiras: UFBA, UFMS, UFPA, UFSC, UFRGS, UFTO, UFPB, UFC, sob a presidência de Suzana Alice Marcelino Cardoso (UFBA). de coordenação do projeto ALiB e nos workshops nacionais organizados pelo projeto; iii) o aumento do número de atlas regionais e início de outros projetos de atlas regionais (MOTA; CARDOSO, 2006, p.20-21).

Nesse contexto, merece ainda destaque o papel do projeto ALiB nas pesquisas linguísticas no Brasil, representando um divisor de águas nas pesquisas na área de Dialetologia e Geolinguística, não só pelo que representa em termos de empreendimento como um projeto nacional de grandes dimensões, mas também por ter estabelecido e consolidado uma diretriz metodológica que tem orientado as pesquisas na área. Há que se considerar ainda a questão da sintonia com as pesquisas dialetológicas e geolinguísticas na contemporaneidade, considerando-se que:

Do ponto de vista metodológico, essa nova fase coincide com a incorporação dos princípios implementados pela Sociolinguística a partir da década de 60 do século passado, abandonando-se a visão monodimensional – monoestrática, monogeracional, monogenérica, monofásica, etc. – que predominou na geolingüística hoje rotulada de "tradicional" (MOTA; CARDOSO, 2006, p.21).

Recentemente, Romano (2012, p.67-68), considerando especificamente a produção dos atlas linguísticos regionais no Brasil e o advento do projeto ALiB, argumenta que os estudos geolinguísticos em território brasileiro podem ser divididos em dois momentos. O primeiro que tem como marco inicial a publicação do primeiro atlas linguístico estadual, o APFB, em 1963, e se estende até 1996 – ano em que o projeto ALiB deu início às suas atividades com o esforço de dialetólogos de todo o País. Os atlas linguísticos desenvolvidos ou projetados neste período de 33 anos seguem pressupostos metodológicos anteriores aos do ALiB, portanto, divergem quanto à metodologia, ora priorizando a diatopia (EALMG, APFB, ALERS), ora incluindo outras dimensões da variação, como a diagenérica (ALS, ALPR). São trabalhos pioneiros no campo da Geolinguística brasileira que revelam o amadurecimento de uma mentalidade dialetológica já preconizada em 1957 por Silva Neto. Alguns desses atlas foram divulgados e publicados após 1996, porém, pertencem ao primeiro momento devido às suas particularidades metodológicas. O segundo momento da Geolinguística brasileira vai de 1996 até os dias atuais. Os trabalhos desse período já apresentam influência dos pressupostos metodológicos do ALiB, caminhando para uma visão pluridimensional da variação10 10 Sobre a questão dos atlas linguísticos publicados e em andamento no Brasil, ver Isquerdo (2006). .

Projeto ALiB: um atlas nacional pluridimensional

A falta de uniformidade metodológica dos atlas estaduais produzidos no Brasil entre 1963 e 1996 não permite, em alguns casos, estudos comparativos e contrastivos que revelem uma visãogeral da língua falada no Brasil. Dessa forma, em novembro de 1996, por ocasião do Seminário Caminhos e Perspectivas para a Geolinguística no Brasil ocorrido em Salvador/BA, dialetólogos de todo o país, assessorados pelo pesquisador francês Prof. Michel Contini, da Universidade de Grenoble, reuniram-se e decidiram assumir o grande desafio de elaborar um atlas nacional, retomando a ideia dos eminentes linguistas brasileiros do início da segunda metade do século XX. Esse atlas possuiria, pois, uma metodologia única e revelaria a realidade linguística brasileira. Estava lançado o projeto Atlas Linguístico do Brasil (projeto ALiB).

Como já assinalado anteriormente, esse projeto interinstitucional, sediado na Universidade Federal da Bahia, é coordenado por um Comitê Nacional, formado por pesquisadores de 08 universidades públicas brasileiras e tem como objetivo principald escrever a variante brasileira da língua portuguesa nos níveis fonético-fonológico, semântico-lexical, morfossintático e pragmático-discursivo sob a perspectiva da Dialetologia pluridimensional.

O projeto ALiB, de caráter nacional e de grande domínio no que tange à área de abrangência (um país de dimensões continentais), foi concebido em sintonia com as diretrizes contemporâneas dos estudos dialetológicos e geolinguísticos por isso o projeto contempla diferentes dimensões, além da diatópica, que é garantida por uma rede de pontos formada por 250 localidades do interior dos 26 Estados e capitais de 25 deles. Em cada ponto do interior entrevistam-se quatro informantes de nível fundamental e nas capitais somam-se a estes quatro informantes de nível universitário. No total, o corpus do projeto constará de um volume de gravações que revelarão características da língua falada no século XXI por 1.100 brasileiros. O Questionário Linguístico utilizado como instrumento norteador para a coleta dos dados, além de perguntas que buscam apurar fenômenos fonético-fonológicos, lexicais e morfossintáticos, reúne perguntas voltadas para questões prosódicas, pragmáticas, metalinguísticas, além de temas para discursos semidirigidos e texto para leitura. O Quadro 1, na sequência, sintetiza as dimensões consideradas na metodologia do projeto ALiB e os parâmetros considerados para cada uma delas. Essas características técnicas configuram o ALiB como um atlas pluridimensional.


O perfil do informante do projeto ALiB

Como já assinalado, o perfil dos informantes do Projeto ALiB considerou quatro variáveis sociolinguísticas: idade, sexo, escolaridade e naturalidade. Assim, em cada uma das 25 capitais, foram entrevistados oito informantes, distribuídos equitativamente segundo essas variáveis, perfazendo um total de 200 informantes. Nota-se que o projeto ALiB avançou na perspectiva sociolinguística, agregando, à variável espaço geográfico, outras dimensões da variação linguística, como a diastrática (escolaridade), a diassexual (gênero), a diageracional (faixa etária), constituindo-se, pois, como um atlas linguístico pluridimensional, segundo o preconizado por Thun (2000).

Além dessas mencionadas, indiretamente, são consideradas outras variáveis sociolinguísticas que, muito embora não se configurem como um critério para a seleção dos informantes, fornecem informações sociolinguísticas que em muito auxiliam na interpretação e análise dos dados linguísticos documentados por meio dos inquéritos realizados in loco pelos pesquisadores do projeto ALiB. Essas informações são registradas na ficha do informante12 12 A ficha do informante integra o Questionário Linguístico do projeto ALiB (2001). , que é preenchida parte antes e parte depois de cada inquérito, com a finalidade de coletar dados extralinguísticos que, por ventura, possam influir no uso da língua. Assim, a ficha do informante fornece, além de informações sociais tais como nível na escala social, hábitos sócio-culturais, escolaridade, também dados que caracterizam o momento do inquérito. Essa ficha compõe-se de 50 itens, dos quais os 37 primeiros são preenchidos com a ajuda do informante, antes da entrevista. Os itens de 1 a 19 referem-se aos dados pessoais do informante (nome, endereço, estado civil, escolaridade, naturalidade, profissão etc.). Os itens de 20 a 29 são atinentes ao contato do informante com os meios de comunicação (televisão, rádio, jornal, revista etc.) e registro da religião professada pelo falante. Os itens de 30 a 37 referem-se à participação do informante em diversões, tais como cinema, teatro, shows, esportes, dentre outras. Por fim, os itens 38 a 50, que são preenchidos pelos pesquisadores depois de concluído o inquérito, versam sobre as impressões do inquiridor acerca do informante e do ambiente da pesquisa – características psicológicas do informante (tímido, vivo, perspicaz, sarcástico); espontaneidade da elocução (total, grande, média, fraca), postura do informante durante o inquérito (cooperativa, não cooperativa, agressiva, indiferente); categoria social do informante (A, B, C, D); grau de conhecimento entre inquiridor e informante (grande, médio, pequeno, nenhum). Além disso, a ficha possui campos destinados ao registro de informações sobre interferências de circunstantes, ambiente da entrevista, a família do informante.

A partir deste ponto do artigo, tecemos considerações sobre o perfil dos 200 informantes das 25 capitais brasileiras que integram a rede de pontos do projeto ALiB com base nas informações constantes das fichas dos informantes já armazenadas no Banco de Dados do Projeto. Para tanto, selecionamos 11 itens da ficha: 11 (escolaridade), 21 (assiste TV), 23 (ouve rádio), 25 (lê jornal), os itens de 30 a 36 (participação em diversões). Priorizamos a abordagem quantitativa, por isso os dados são apresentados por meio de gráficos e tabelas, acompanhadas de descrição sumária dos resultados obtidos.

Escolaridade

A dimensão diastrática, no âmbito do Projeto ALiB, é controlada pelo fator escolaridade. Assim, nas capitais brasileiras foram entrevistados 200 informantes, 100 com formação universitária e 100 com formação básica, falantes alfabetizados que cursaram até a última série do Ensino Fundamental. Dessa feita, dentre os 200 informantes inquiridos nas capitais, 50% possuem nível universitário completo, enquanto 44% têm como nível de escolaridade o curso fundamental incompleto e apenas 6,5% situam-se entre os que cursaram o Ensino Fundamental completo, conforme o visualizado no Gráfico 1:


Contatos com os meios de comunicação - televisão e rádio

Os dados armazenados no Banco de Dados do ALiB revelam que é significativo o contato dos habitantes das capitais brasileiras selecionados como informantes com os meios de comunicação de massa, como a televisão e o rádio, pois 65,5% dos informantes declaram que assistem a programas veiculados pela televisão todos os dias, 34% às vezes e apenas 0,5% dos entrevistados declaram nunca ter contato com programas de televisão, conforme ilustra o Gráfico 2.


O cruzamento entre os dados relativos à variável escolaridade com os concernentes ao hábito de assistir à televisão evidencia que, em termos percentuais, não há informações contrastantes, pois dos 65,5% que declaram assistir a programas de televisão todos os dias, 34% são de nível superior e 31,5% de nível fundamental. Já dentre os 34% que declaram às vezes ter como meio de diversão a televisão, 18% cursaram Ensino Fundamental e 16% Curso Superior. Por fim, apenas um informante de nível fundamental afirma não ter como hábito assistir à televisão (Gráfico 3).


Outro dado a ser pontuado diz respeito à distribuição percentual do tipo de transmissão de canais de televisão. Nota-se, pelo Gráfico 4, que a grande predominância recai no tipo de rede gratuita (70%), seguida da TV por assinatura (16%), da parabólica (9%) e, em pequenos índices, os dados apontam para a convivência com mais de um tipo de transmissão.


Tratando agora dos dados relativos ao quesito "audição de rádio", o Banco de Dados do projeto ALiB registra o seguinte panorama: 43,5% dos informantes declara ouvir rádio todos os dias; 38,5% às vezes; 7,5% dos informantes passa parte do dia ouvindo programas de rádio; 7,5% dos entrevistados afirmam não ouvir rádio e, em menor percentual, 0,5% ouvem rádio enquanto viajam e també 0,5% têm como hábito ouvir o dia todo. 1% dos entrevistados não forneceram esse tipo de dado (Gráfico 5).


Hábito de leitura de jornal

Ainda sobre o contato com os meios de comunicação, consideramos o item 25 que vai revelar o contato qos informantes com a leitura de jornal. Do total de todos os entrevistados, 30,5% deles declaram ler jornal às vezes, 29% leem todos os dias, 18% deles revelaram ramente ler jornal, 9% leem semanalmente e, por fim, 13,5% nunca leem jornal (Gráfico 6).


Considerando agora o cruzamento entre os dados relativos ao hábito de leitura de jornal e a variável escolaridade (Gráfico 7), nota-se que, conforme o previsível, o contato com a leitura é mais frequente entre os informantes de nível superior, uma vez que os dados percentuais revelam que a frequência de leitura é mais comum entre os falantes dessa categoria – 21% deles declararam ler jornal todos os dias e 15,5% às vezes. Já entre os informantes com menor escolaridade, 15,5% declaram ler jornal às vezes; 12,5% raramente têm esse hábito de lazer e 8% dos entrevistados afirmam ler todos os dias o jornal. Também entre os informantes de nível fundamental, verifica-se que 13,5% deles atestam não ler jornal.


Já o Quadro 2, a seguir, apresenta a frequência da leitura de jornal em dados percentuais considerando a região administrativa do Brasil.


Conforme se observa no Quadro 2, curiosamente as regiões que evidenciam o maior índice de leitura são a Sul e a Centro-Oeste, onde, respectivamente, 37,51% e 37,50% dos informantes declararam ter o hábito de ler todos os dias. Já a leitura esporádica (às vezes) de jornal destaca-se nas regiões Nordeste (33,34%) e Sul (33,33%), enquanto 25% dos informantes do Sudeste leem jornal raramente. E o destaque principal é para a região Nordeste que apresentou o maior índice de não leitura de jornal – 18,05% de informantes atestaram essa realidade. Das cinco regiões brasileiras, apenas na região Sul não houve casos de falantes que não têm como hábito a leitura de jornal.

Hábitos de diversões: cinema e teatro

Na sequência, o Gráfico 8 visualiza os resultados relativos às respostas aos itens 30 a 36 da ficha do informante, acerca de hábitos de diversões como cinema, teatro, shows diversos, manifestações folclóricas, futebol e outros esportes.


Nota-se, pelo Gráfico 8, que os informantes do ALiB em análise não cultivam determinados hábitos de lazer, o que fica evidente pela alta produtividade da opção "nunca" em todas as atividades lúdicas mencionadas, com destaque para o teatro (53%) e para outros esportes (46%). Em contrapartida, a atividade indicada como prática mais frequente foi futebol (20,5%), seguida de manifestações folclóricas, shows e cinema. Consideramos a seguir as atividades de lazer cinema (Gráfico 9) e teatro (Gráfico 10), sob a perspectiva da variável escolaridade.



Os dados visualizados no Gráfico 9 demonstram que nas capitais brasileiras o maior índice de não participação em teatro recai no grupo de falantes de baixa escolaridade (57%). Já entre o grupo dos informantes com Curso Superior apenas 28% vão com frequência ao cinema; 24% assinalaram às vezes e 30% raramente vão ao teatro. Esses dados apontam para uma significativa diferença diastrática entre o grupo de informante.

Resultados similares ficam evidentes com relação à participação em teatro (Gráfico 10), à medida que 80% dos entrevistados com ensino fundamental nunca participam dessa modalidade de lazer. Já dentre os falantes com formação em nível superior, 33% assinalam que às vezes frequentam o teatro; 31% raramente vão ao teatro e 26% nunca frequentam essa atividade de lazer.

As características dos informantes do Projeto ALiB destacadas nos gráficos anteriores fornecem um panorama dos informantes das capitais brasileiras que, por sua vez, refletem a realidade dos brasileiros dos grandes centros urbanos em termos de opções de lazer.

Algumas considerações finais

Buscamos, ao longo deste texto, discutir a questão das dimensões consideradas nas pesquisas dialetológicas, permeada por uma perspectiva histórica em que se procurou recuperar diferentes momentos da Dialetologia e respectivas características que identificaram os atlas linguísticos em diferentes fases dessa disciplina linguística. Focamos particularmente a questão da pludimensionalidade dos atlas linguísticos, fruto das contribuições assimiladas da Sociolinguística, sobretudo a partir da década de 60 do século passado. Nesse contexto situamos o Projeto do Atlas Linguístico do Brasil, no que tange à dimensão sociolinguística evidenciada nos parâmetros teórico-metodológicos que orientam a pesquisa. Centramos nossa reflexão no perfil dos informantes, não só na discussão desse perfil, mas também na apresentação de dados relativos aos 200 informantes entrevistados nas capitais brasileiras com vistas a demonstrar aspectos do viés sociolinguístico manifestado nas características desses informantes.

A amostra de variáveis sociais focalizadas neste estudo demonstra que as características dos informantes, para além de subsidiar a análise dos dados linguísticos coletados pelo projeto, fornecem um panorama de características dos habitantes brasileiros de grandes centros urbanos que também denunciam características da sociedade brasileira, em termos de hábitos culturais, como leitura de jornais e revistas, participação em atividades culturais como cinema, teatro. Os dados demonstram também a relação entre a prática desses hábitos e o nível de escolaridade dos informantes.

Por fim, é preciso assinalar que os estudos em curso sobre fenômenos linguísticos selecionados para integrar o volume I do Atlas Linguístico do Brasil, como também trabalhos pontuais desenvolvidos em nível de pós-graduação com dados do Banco de dados do ALiB têm demonstrado a importância das variáveis tomadas como parâmetro nas dimensões consideradas na metodologia do ALiB na interpretação de dados linguísticos. Nesse particular, citamos, a título de ilustração, o estudo de Cardoso (2012), sobre o uso do tu/você nas capitais do Brasil; de Marins (2012), acerca da questão do rural e do urbano no léxico dos habitantes da região Centro-Oeste, e de Benke (2012), que estudou manifestações de tabus linguísticos no léxico de habitantes das capitais brasileiras. E assim o projeto ALiB vai seguindo o seu curso com o propósito de contribuir para o conhecimento da realidade linguística do Brasil, coletando e analisando fatos linguísticos coletados por meio da metodologia da Dialetologia pluridimensional, perspectiva teórica que orienta contemporaneamente os estudos geolinguísticos.

Recebido em março de 2012.

Aprovado em junho de 2012.

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  • 1
    Valendo-se do pensamento de Weinreich, Labov e Herzog apud Ramírez (2009, p.43) reitera que "[...] la sociolingüística tiene como uno de sus postulados básicos que la variación lingüística es inherente a la estructura del lenguaje".
  • 2
    "A separação é a característica da geolingüística românica até hoje, pelo menos de sua corrente maior (RADTKE; THUN, apud THUN, 2005, p.64).
  • 3
    O
    Atlas Lingüístico y etnográfico de Castilla - La Mancha configura-se como um atlas regional da língua espanhola falada na região central de Península Ibérica. Já está disponível online uma amostra de mapas contendo dados fonéticos, lexicais e gramaticais. O site fornece ainda informações acerca da metodologia adotada para a realização da pesquisa que está subsidiando a elaboração do Atlas que, quando concluído, pretende reunir em torno de 2.500 mapas a serem gerados automaticamente. Esse Atlas já conta com parte dos dados cartografados e está disponível <
    http://www.linguas.net/alecman/>. Acesso em: 29.mar. 2012.
  • 4
    primeiro atlas nacional latino-americano que teve êxito foi o de Luiz Florez, o
    Atlas linguístico-etnográfico da Colômbia (ALEC), publicado entre os anos de 1981-1983. Este atlas teve sua coleta de dados iniciada em 1958 e é compostopor seis volumes, totalizando 1.500 cartas linguísticas (ALMEIDA, 2008).
  • 5
    Projeto ainda em fase de desenvolvimento.
  • 6
    O ALiPP -
    Atlas Linguístico de Ponta Porã (REIS, 2006) inseriu na sua metodologia a dimensão dialingual, avançando, assim, na documentação das línguas em contato na área de fronteira entre o Brasil e o Paraguai coberta pelo município brasileiro de Ponta Porã, à medida que mapeou variantes lexicais do português, do espanhol e do guarani para designar um mesmo conceito.
  • 7
    "El término
    isoglosa lo usó por primera vez J.G.A. Bielenstein, un dialectólogo letón, en 1892. Al parecer, acuñó el neologismo basándo-se en el término meteorológico
    isotermo, la línea que divide dos lugares con la misma temperatura media.
    Isoglosa significa literalmente «igual lengua» (
    iso + glosa). Presumiblemente quiere expresar el hecho de que una línea trazada a través de una región mostrará dos áreas en cada una de las cuales coincide algún aspecto del uso lingüístico, pero que difieren una de la otra, los dialectólogos han usado de dos modos ligeramente diferentes la palabra, con el resultado de que la isoglosa se ha representado gráficamente de dos modos distintos ; [...] se traza una línea entre los lugares de dos hablantes que muestren rasgos distintos [...] se traza una línea que enlaza los puntos de los hablantes que comparten el rasgo Δ y una segunda lνnea para unir a los que comparten el rasgo , cuando esos hablantes son contiguos al otro grupo, esto es, cuando se encuentran en la intersección entre las dos regiones." (CHAMBERS; TRUDGILL, 1994, p.139-141).
  • 8
    Confira: Ferreira e Cardoso (1994).
  • 9
    Por ocasião do Seminário Nacional Caminhos e Perspectivas para a Geolinguística no Brasil, realizado em Salvador, Bahia, foi constituído o Comitê Nacional do ALiB, formado por autores de atlas regionais e um representante de atlas em andamento. A estrutura desse Comitê comporta um presidente, uma diretora executiva e os diretores científicos. Atualmente integram o Comitê Nacional do ALiB pesquisadores de 08 universidades públicas brasileiras: UFBA, UFMS, UFPA, UFSC, UFRGS, UFTO, UFPB, UFC, sob a presidência de Suzana Alice Marcelino Cardoso (UFBA).
  • 10
    Sobre a questão dos atlas linguísticos publicados e em andamento no Brasil, ver Isquerdo (2006).
  • 11
    O
    Quadro 1 foi elaborado pelos autores do texto, com base nas dimensões e parâmetros propostos por Thun (2005) e na metodologia do projeto ALiB disponível em <
    www.alib.ufba.br>. Acesso em: 25.fev.2012.
  • 12
    A ficha do informante integra o Questionário Linguístico do projeto ALiB (2001).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Jan 2013
    • Data do Fascículo
      2012

    Histórico

    • Recebido
      Mar 2012
    • Aceito
      Jun 2012
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