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APRESENTAÇÃO

O presente número dá continuidade à nova periodicidade quadrimestral da Alfa, inaugurada com o volume 58. Como na apresentação dos números anteriores, faço aqui um pequeno resumo de cada trabalho para aguçar a curiosidade natural do leitor, como a de um gourmet passando os olhos ansiosos pelo cardápio.

Antes, todavia, destaco dois aspectos que considero relevantes. Um deles, talvez a mais importante, é o conteúdo deste número, que cumpre a missão da Alfa de publicar colaborações de todas as linhas de pesquisa dos estudos linguísticos, como de pronto se vê no sumário. O outro aspecto que vale a pena destacar é o perfil do conteúdo, representado pelos temas, linhas de pesquisa e perspectivas teóricas assumidas pelos autores.

Dos nove artigos que compõem este número, cinco deles tratam do texto e do discurso e dois outros, a semântica lexical; um deles contempla a relação entre transitividade e gramática de construções e, o outro, o tratamento teórico das designações, um assunto caro aos semanticistas. Nas duas colaborações finais, o léxico se mantém seja sob a perspectiva da dialetologia social, em que se destaca o conteúdo, seja sob a perspectiva da dialetologia geográfica, em que se destaca a forma. Esse perfil se reflete na orientação descendente de organização do conteúdo, que parte dos blocos maiores no processo de construção do discurso - o texto - para os blocos menores - a palavra.

Começando pelo bloco maior, abre o presente número, uma discussão de caráter teórico sobre a inter-relação das provas retóricas - logos, ethos e pathos - no âmbito disciplinar da Análise do Discurso. Estabelecendo um diálogo entre Análise do Discurso, Retórica e Sofística, Galinari postula que as provas retóricas devem ser identificadas mais como diferentes perspectivas de olhar o mesmo discurso do que categorias estáveis e demarcáveis teoricamente.

Em continuidade ao tratamento do texto, Ely e Negri enfocam os recursos utilizados no discurso quando a fonte de notícia é objeto "livro" em matérias publicadas pelo jornal Folha de S. Paulo. No caso específico desse texto, os conceitos de ethos e pathos discutidos metalinguisticamente por Galinari na abertura, constituem agora recursos heurísticos para demonstrar como dois cadernos do mesmo jornal tratam do mesmo assunto de modo distinto para públicos distintos.

Com base num assunto candente - aborto, legalidade e livre arbítrio -, Laforest e Gonzaga analisam o editorial de uma revista feminina para mostrar que a constituição dos sujeitos no discurso e no contexto sócio-histórico da produção dos enunciados permite descrever relações de poder entre diferentes instâncias institucionais.

Mantendo o foco no texto, Capristano e Oliveira assumem o conceito bakhtiniano de gênero discursivo para refletir sobre a circulação imaginária das representações genéricas na projeção que faz a criança do(s) destinatário(s) na escrita. A escrita permanece como assunto no artigo de Pietri, mas numa linha menos aplicada; esse autor investiga como se desenvolveu, como objeto dos estudos linguísticos, o processo de constituição da escrita escolar na primeira metade da década de 90 do século XX.

Passemos, agora, do texto para o léxico. Com base na Gramática de Construções, Ciríaco faz a decomposição semântica de predicados como um instrumento possível para a descrição das construções de estrutura argumental em função de uma rede de significados relacionados, entendidos como extensões metafóricas de um conteúdo prototípico.

Mantendo o foco nas representações semânticas, Conde postula que a singularidade de designações, como Operação + Cavalo de Tróia, se assenta no fato de que essas denominações descritivas se caracterizam por uma constituição híbrida em seu modo de referenciar, misturando as propriedades referenciais do nome próprio com as uma descrição definida.

As designações lexicais continuam no escopo dos autores, mas numa linha que enfatiza a relação entre língua e cultura. Em seu artigo, Leite e Almeida assumem uma perspectiva diacrônica para analisar o significado social dos termos e expressões referentes a epidemias de cólera e de varíola que acometeram milhares de pessoas no Ceará durante o século XIX. As conclusões a que chegam os autores apontam para a necessidade de ver a linguagem não como um simulacro da realidade, mas como parte viva da realidade social, cultural e histórica do homem.

Fecha o número, o tema da designação lexical, visto, agora, como uma variável diatópica no artigo de Seabra e Romano. Com base em dados coletados em três regiões do Brasil (Centro-Oeste, Sudeste e Sul), os principais resultados apontam para uma distribuição das variantes que ora aproxima, ora distingue as diferentes regiões estudadas.

Agora, uma palavra final. Ao promover uma reflexão própria sobre diversos temas dos estudos da linguagem, os discursos que aqui se enunciam necessariamente dialogam com outros discursos, proferidos de outros lugares sociais. É dessa conversa que as vozes aqui emitidas se singularizam, ora aproximando-se, ora distanciando-se de outras vozes similares, de modo permanente e inacabado, como convém ao debate acadêmico.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun-Dec 2014
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