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A MONTAGEM DA REDE REFERENCIAL NO TEXTO E SUAS LIGAÇÕES COM O CONTEXTO DE PRODUÇÃO

RESUMO

A partir de uma orientação funcionalista de análise, este artigo discute aspectos da montagem da cadeia referencial do texto, em sequências narrativas de uma amostra de obras brasileiras do gênero romance, em três épocas subsequentes. O objetivo é verificar a relação que existe entre o modo de preenchimento das casas referenciais (especialmente quanto às personagens centrais da trama) e os diversos processos intervenientes no modo de criação e manutenção da rede referencial textual, nas diferentes situações. Assenta-se como noção básica que os elementos (pro)nominais fóricos (sintagma nominal ou pronome) cumprem diferentemente as duas funções essenciais na referenciação (a de identificação e a de descrição dos referentes), e que o jogo das posições na introdução e na manutenção desses elementos representa diferente escolha na configuração da peça. Confirmando os mais básicos princípios funcionalistas, a análise efetuada destrói a noção de que existe uma fórmula pronta na gramática da língua para a organização referencial do texto, e garante a noção de que as diferenças verificadas estão a serviço do plano coenunciativo do produtor do discurso, inserido no seu contexto de produção e no seu contexto de cultura (HALLIDAY, 2004).

Princípios funcionalistas; Referenciação textual; Contexto de produção; Sequências narrativas em romance

ABSTRACT

HALLIDAY, 2004HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. 3. ed. Revised by Christian M. I. M. Mathiessen. London: Edward Arnold, 2004.

Functionalist principles; Textual reference; Context of production; Narrative sequences from novels

Introdução

Este artigo discute aspectos da montagem da cadeia referencial na organização textual, a partir da análise do modo formal de introdução e de manutenção dos objetos de discurso, em uma amostra de sequências narrativas de romances brasileiros, exatamente um gênero que caracteristicamente se faz da narrativa, entremeando, obviamente, outros diversos tipos textuais, mas, no geral, colocando-os a serviço da progressão textual. Já se parte da noção de que as diferentes sequências textuais (basicamente, narração, descrição e dissertação) se resolvem em diferentes montagens da cadeia referencial do texto, e especialmente porque, em cada uma delas, tem de resolver-se de diferente maneira o jogo entre a identificação e a descrição dos referentes, exatamente as duas funções que cumprem aos sintagmas (pro)nominais, na construção textual do significado (NEVES, 2006NEVES, M. H. M. Texto e gramática. São Paulo: Contexto, 2006.; [2017]).

O material de análise são excertos (mais especificamente, a página inicial, ou parte dela) de algumas obras do gênero romance, no Brasil, em três épocas subsequentes classificadas como Realismo, Modernismo e Contemporaneidade. Não se pretende que o estudo ofereça propostas de relação direta entre os diferentes modos de expressão linguística e os diferentes movimentos literários. Entretanto, dentro da orientação funcionalista de análise adotada (HALLIDAY, 1973HALLIDAY, M. A. K. Explorations in the functions of language. London: Edward Arnold, 1973., 1978HALLIDAY, M. A. K. Language as a social semiotic: the social interpretation of language and meaning. London: University Park Press, 1978., 1989HALLIDAY, M. A. K. Spoken and written language. Oxford: University Press, 1989., 2004HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. 3. ed. Revised by Christian M. I. M. Mathiessen. London: Edward Arnold, 2004.; HALLIDAY; MCINTOSH; STREVENS, 1964HALLIDAY, M. A. K; MCINTOSH, A.; STREVENS, P. D. The linguistic sciences and language teaching. London: Longman, 1964.; EGGINS, 2010EGGINS, S. An Introduction to systemic functional linguistics. 2.ed. London: Continuum International Publishing Group, 2010.; NEVES, 2010NEVES, M. H. M. Ensino de língua e vivência de linguagem: temas em confronto. São Paulo: Contexto, 2010.), busca-se detectar, no modo de organização da rede textual, possíveis diferenças que se liguem ao contexto de produção, termo definido, nesses teóricos, como o contexto de situação somado ao contexto de cultura, em seu momento histórico. De todo modo, entende-se que, especialmente em obras literárias, nos diferentes e sucessivos contextos se inserem orientações estéticas particulares.

A cadeia referencial do texto

Ilustre-se, pois, o processo referencial que aqui se estuda, já partindo do tipo textual escolhido para análise, que são as sequências narrativas. Para não multiplicar variáveis quanto à organização textual, foi escolhido apenas um tipo de sequência textual, e a escolha recaiu na narrativa, porque, nos romances, essa é a sequência que, no geral, introduz as personagens, além de constituir a espinha dorsal do texto, como já se apontou .

De um ponto de vista da linguística do texto, a referenciação é tida como construção e reconstrução de “objetos de discurso”, que devem ser concebidos como produtos — fundamentalmente culturais — da atividade cognitiva e interativa dos sujeitos falantes (APOTHÉLOZ; REICHER-BÉGUELIN, 1995APOTHÉLOZ, D.; REICHER-BÉGUELIN, M. J. Construction de la référence et stratégies de designation. TRANEL (Travaux Neuchâtelois de Linguistique), Neuchatel, n. 23, p. 227-271, 1995., p.228); de um ponto de vista da teoria funcionalista da linguagem, vista no consenso geral, mas especialmente desenvolvida em Dik (1997DIK, S. C. The theory of functional grammar. Edited by Kees Hengeveld. Berlin: New York: Mouton de Gruyter, 1997., p.130), a referenciação é tida como introdução e identificação de referentes no processamento da interação linguística, devendo ser concebida como o estabelecimento de relações comunicativas. De todo modo, como Neves (2006NEVES, M. H. M. Texto e gramática. São Paulo: Contexto, 2006., p.76), entende-se que, povoando as cenas ativadas nas predicações, os referentes são introduzidos como objetos de discurso e como tais são mantidos, segundo estratégias dependentes da formulação textual, a serviço da discursivização (vista na sua configuração em “formas textuais”, conforme trata Castilho (2010CASTILHO, A. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010., p.133)).

É a partir de enquadres instalados pela atividade cooperativa entre falante e ouvinte que os objetos em construção no/pelo discurso criam as bases para a progressão textual, “regulados por uma intrincada relação entre a atividade linguística, a cognitiva e a sociocultural” (RONCARATI, 2010RONCARATI, C. As cadeias do texto: construindo sentido. São Paulo: Parábola, 2010., p.44). Assim sendo, no processo de identificação e interpretação de um referente vai-se além de uma simples recuperação, buscando-se, necessariamente, o reconhecimento da pertença desse referente a “algum mundo”. (MONDADA; DUBOIS, 2003MONDADA, L.; DUBOIS, D. Construção dos objetos de discurso e categorização: uma abordagem dos processos de referenciação. In: CAVALCANTI, M. M.; RODRIGUES, B. B.; CIULLA, A. (Org.). Referenciação. São Paulo: Contexto, 2003. p. 17-52.), o que representa, no caso desta investigação, a configuração das personagens no mundo daquela determinada trama, socioculturalmente instalada.

A serviço da criação da rede referencial estão os elementos fóricos que preenchem as casas referenciais: sintagma nominal (de mais de uma maneira constituído), pronome ou zero. Povoando a teia do texto esses elementos cumprem duas funções essenciais: a de identificação dos referentes e a de sua descrição. A identificação (quando plena) do referente representa a instauração de uma pessoa única no universo discursivo criado. A descrição, por sua vez, constitui a representação – em maior ou menor grau – dos traços de representação do referente, no sentido de configurá-lo semanticamente, e, por aí, definir seu estatuto na trama de representações do texto, inserido no contexto (NEVES, [2017NEVES, M. H. M. Referenciação: identificação e descrição de referentes. [S.l.: s.n], [2017]. No prelo.]).

Segundo essa proposta (NEVES, [2017NEVES, M. H. M. Referenciação: identificação e descrição de referentes. [S.l.: s.n], [2017]. No prelo.]), o papel de identificação, que é o básico na função referencial e que todos os sintagmas referenciais podem desempenhar, é estabelecido em quatro diferentes graus: (i) o grau máximo de identificação é fornecido pelo sintagma nominal representado por nome próprio, que instaura inequivocamente (no contexto) um indivíduo; (ii) o grau médio de identificação é fornecido pelo sintagma nominal com núcleo representado por substantivo comum, que identifica o elemento de modo relativo, por via da descrição da classe nomeada (descrição de que participam possíveis modificadores), e por possível remissão provida por determinantes fóricos como o artigo, o demonstrativo e o possessivo; (iii) o grau baixo de identificação é fornecido por sintagma representado por pronome pessoal de terceira pessoa, que apenas opera identificação indireta, por remissão, limitando-se a revelar a pessoa gramatical do referente, e, no máximo, o seu gênero; (iv) o grau zero de identificação, ou seja, nenhuma porção formal de identificação, representa-se pela casa fórica vazia, a elipse, o zero, por isso mesmo um processo referencial não explorado neste artigo. Por outro lado, indo ao papel referencial de descrição, propõe Neves ([2017NEVES, M. H. M. Referenciação: identificação e descrição de referentes. [S.l.: s.n], [2017]. No prelo.]), um percurso de certo modo inverso ao que se equaciona para o papel referencial de identificação: o grau máximo está no sintagma nominal com núcleo representado por substantivo comum (e com possíveis determinantes e modificadores).

Bases e características da proposta. A análise da montagem da rede referencial segundo o modo de preenchimento das casas nominais.

Institua-se inicialmente, como modo de condução da análise, a básica lição funcionalista segundo a qual, no uso linguístico, o falante procede a escolhas, e a gramática organiza as opções em alguns conjuntos dentro dos quais o falante faz seleções simultâneas (HALLIDAY, 1973HALLIDAY, M. A. K. Explorations in the functions of language. London: Edward Arnold, 1973., 2004HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. 3. ed. Revised by Christian M. I. M. Mathiessen. London: Edward Arnold, 2004.). Essa indicação deriva da base da qual parte o autor para propor a sua gramática sistêmico-funcional, que é uma teoria sistêmica de significado como escolha, pela qual a língua – como qualquer outro sistema semiótico – é interpretada como um bloco de redes de opções: ou isto, ou aquilo, ou o outro, e assim por diante. Vejam-se, a esse propósito, apenas duas indicações originais (entre dezenas) de Halliday (2004)HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. 3. ed. Revised by Christian M. I. M. Mathiessen. London: Edward Arnold, 2004., com grifos das autoras deste artigo:

O Processo e o Meio juntos formam o núcleo de uma oração em inglês: e este núcleo, por sua vez, determinao conjunto de opções que estão disponíveis para o restante da oração.1 1 Tradução destas autoras. Texto original: “The Process and the Medium together form the nucleus of an English clause; and this nucleus then determinesthe range of options that are available to the rest of the clause”. (HALLIDAY, 2004HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. 3. ed. Revised by Christian M. I. M. Mathiessen. London: Edward Arnold, 2004., p.289, grifo nosso).

Essas diferentes opções estão disponíveis aos falantes e escritoresquando eles constroem as suas experiências do fluxo de eventos.2 2 Tradução destas autoras. Texto original: These different options are available to speakers and writerswhen they construe their experience of the flow of events.” (HALLIDAY, 2004HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. 3. ed. Revised by Christian M. I. M. Mathiessen. London: Edward Arnold, 2004., p.521, grifo nosso).

O enunciado parte exatamente das seleções que o falante faz quando compõe o enunciado para um propósito específico, e é com elas que ele produz significado. Tal configuração da língua como rede de opções é característica essencial da proposta sistêmico-funcional, conforme ilustra esta passagem (com grifos das autoras deste artigo), que se encontra entre tantas, do mesmo teor, em Halliday (2004HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. 3. ed. Revised by Christian M. I. M. Mathiessen. London: Edward Arnold, 2004., p.9, grifo do autor):

Essa não é uma ‘regra’ arbitrária. É ela que explica o fato de que tal instância está fazendo uma seleção simultaneamente em todos os níveis do sistema: Come! é uma oração ‘imperativa’ (em oposição à ‘indicativa’), um grupo verbal ‘positivo’ (em oposição ao negativo), uma forma de base (em oposição à ‘derivada’) do verbo (palavra). 3 3 Tradução destas autoras. Texto original: “This is not an arbitrary ‘rule’. It is what explains the fact thatsuch an instance is selecting simultaneously in systems of every rank: Come! is an ‘imperative’ (as opposed to ‘indicative’) clause, a ‘positive’ (as opposed to ‘negative’) verbal group, a base (as opposed to derived) form of the verb (word)”.

Neves (2006)NEVES, M. H. M. Texto e gramática. São Paulo: Contexto, 2006. acentua, dentro dessa proposta, a liberdade organizacional do falante, dentro das restrições construcionais, porque é o falante que, processando automaticamente estruturas regulares da língua, entretanto faz as escolhas que levam a resultados de sentido e a efeitos pragmáticos.

É nesse sentido que a investigação que aqui se faz do modo de preenchimento das casas nominais, para análise da montagem da rede referencial do texto, parte da verificação especialmente qualitativa dos diferentes esquemas de preenchimento gramatical (ou sintagma nominal, ou pronome, ou zero), buscando uma interpretação semântica e pragmática da relação que existe entre o modo de preenchimento dessas casas e os diversos processos intervenientes no modo de criação e manutenção da rede referencial textual: acessibilidade e identificabilidade; fluxo informativo e distribuição de informação; correferenciação e estabelecimento da cadeia referencial. Obviamente, alguns aspectos do jogo enunciativo-enuncivo que se monta na cadeia referencial ligam-se de modo particular à diferença entre os tipos de sequência textual (voltando-se a indicar, neste ponto, que aqui são tratadas, especificamente, sequências narrativas).

Os trechos em análise são parte integrante dos seguintes romances4 4 Para transparência quanto à época de produção das obras, registram-se, neste ponto, as datas da sua primeira edição. Quanto ao elenco dos romances postos sob exame, a escolha foi aleatória: entre vários romances da época que foram sendo consultados, selecionou-se o primeiro que se apresentou narrado em terceira pessoa. : no Realismo, A carne, de Júlio Ribeiro (1888), O cortiço, de Aluísio Azevedo (1890); no Modernismo, Alma, de Oswald de Andrade (1978), Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade (2008); na Contemporaneidade, O filho eterno, de Cristovão Tezza (2007) e Vozes do deserto, de Nélida Piñon (2006)5 5 Usam-se, aqui, rótulos que tradicionalmente qualificam determinados períodos literários. Aponte-se que o mesmo córpus de análise serviu a Souza (2013), que, com propósitos mais gerais, também contemplou os elementos fóricos usados na introdução e na manutenção das personagens. .

Na delimitação mais específica das casas referenciais para exame, determinou-se, como centro de análise, a introdução dos referentes “personagens” do início de cada obra (em geral protagonistas), partindo do fato de que, no romance, em geral, as personagens são os elementos a partir dos quais e em torno dos quais a história acontece e os próprios cenários se montam. Com base nessa primeira incursão, constituiu-se, em uma das obras examinadas, uma amostra na qual se estendeu a análise às peças de composição do cenário (os referentes presos à noção de localização), no sentido de demonstrar a subordinação que a introdução desses referentes locativos mantém com os referentes centrais, as personagens.

Quanto ao fato de os trechos que servem à análise aqui empreendida pertencerem a romances de diferentes épocas (Realismo, Modernismo e Contemporaneidade), o que se pretende é avaliar uma possível ligação entre o modo de expressão dos referentes e o ambiente do contexto de produção, envolvido no contexto de cultura (HALLIDAY, 2004HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. 3. ed. Revised by Christian M. I. M. Mathiessen. London: Edward Arnold, 2004.). Como já se apontou, o córpus de pesquisa foi definido, em princípio, como o início de cada romance, exatamente para que se verifique o modo de introdução de cada um dos primeiros objetos de discurso que protagonizam as cenas. Para a avaliação, considera-se a época de composição do romance, daí a apresentação que se escolheu fazer, pela ordem cronológica da produção das obras examinadas.

A operacionalização da proposta. Uma amostra de análise da configuração da cadeia referencial nos textos.

Segundo o exposto, assume-se como diretriz central das avaliações que, ligado ao modo de introduzir as personagens, está o modo de sua identificação bem como o modo de sua caracterização (NEVES, [2017NEVES, M. H. M. Referenciação: identificação e descrição de referentes. [S.l.: s.n], [2017]. No prelo.]), ambos os processos considerados absolutamente determinantes na trama, no enredo. Trata-se de avaliar o modo de encaminhamento da criação referencial, em cada amostra, o qual resulta, fundamentalmente, do modo de introdução do referente. Na linha adotada, trata-se da verificação, nas narrativas, das diferentes escolhas dos autores em relação aos sintagmas de introdução dos referentes: ou com maior peso inicial na identificação da personagem, ou com maior peso inicial na sua descrição (sua caracterização), e com os resultados que disso advêm.

Na direção cronológica da produção das obras, parte-se do Realismo. Para introduzir a questão, tome-se a frase inicial do romance A carne, de Júlio Ribeiro, no qual a primeira personagem é introduzida pelo sintagma nominal o doutorLopes Matoso. Esse sintagma cabe no grau máximo de identificação (segundo a proposta aqui seguida), pois traz a completa identidade da personagem (o sobrenome composto, Lopes Matoso, exatamente o “nome” pelo qual ele é tratado durante toda a obra) e, além disso, vem acrescido de um componente descritivo (a informação contida no nome comum doutor, que traz, para essa personagem, já individualizada, um traço de caracterização por determinado ângulo). Acresce-se um dado biográfico, o qual entra na composição das predicações feitas a esse sujeito, ficando a instauração da personagem já fortemente provida de uma caracterização (a personagem é “não feliz”)6 6 No registro dos sintagmas referenciais nos trechos em análise, convencionou-se representar os nomes próprios em negrito, os sintagmas nucleados por nome comum em sublinhado, e os pronomes pessoais em itálico e negrito. :

OdoutorLopes Matoso7 7 A referenciação por nome próprio será marcada com negrito, a referenciação por sintagma nominal nucleado por substantivo comum será marcada com sublinhado, a referenciação por pronome pessoal será marcada com negrito e itálico e a referenciação por zero será indicada pelo símbolo ∅, quando essa indicação for pertinente. não foi precisamente o que se pode chamar de um homem feliz.

Aos dezoito anos de sua vida, quando apenas tinha completado o seu curso e preparatórios, perdeu pai e mãe com poucos meses de intervalo. (RIBEIRO, 19968 8 Para citação, as datas registradas são as das edições consultadas. , p. 21).

O outro romance do Realismo selecionado para análise, O cortiço, de Aluísio Azevedo, também traz a primeira personagem introduzida pelo seu nome próprio (João Romão), em grau máximo de identificação, portanto.

João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos do bairro do Botafogo. (AZEVEDO, 1988 ANDRADE, M. de. Amar, verbo intransitivo. Rio de Janeiro: Agir, 2008. ANDRADE, O. de. A. Os condenados. 3.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. ASSIS, A. M. M. de. Quincas Borba. São Paulo: Penguin Classics, 2012. AZEVEDO, A. O cortiço. 19.ed. São Paulo: Ática, 1988. PIÑON, N. Vozes do deserto. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. RIBEIRO, J. A carne. 11.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. TEZZA, C. O filho eterno. 9.ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. , p.13).

A seguir, é introduzida a segunda personagem, que vem por sua ligação direta com João Romão (aí recuperado pelo pronome lhe), já que ela é apresentada como a fornecedora das refeições de João Romão. Mais uma vez a personagem se instala com o grau máximo de identificação, já que se representa por um sintagma nominal nucleado por seu nome próprio: a Bertoleza.

Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco de estopa cheio de palha. A comida arranjava-lhe, mediante quatrocentos réis por dia, uma quitandeira sua vizinha,a Bertoleza,crioula trintona, escrava de um velho cego residente em Juiz de Fora e amigada com um português que tinha uma carroça de mão e fazia fretes na cidade. (AZEVEDO, 1988 ANDRADE, M. de. Amar, verbo intransitivo. Rio de Janeiro: Agir, 2008. ANDRADE, O. de. A. Os condenados. 3.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. ASSIS, A. M. M. de. Quincas Borba. São Paulo: Penguin Classics, 2012. AZEVEDO, A. O cortiço. 19.ed. São Paulo: Ática, 1988. PIÑON, N. Vozes do deserto. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. RIBEIRO, J. A carne. 11.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. TEZZA, C. O filho eterno. 9.ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. , p. 13).

Ocorre que esse nome próprio entra (em aposição nominal) depois que a personagem já foi introduzida por um sintagma nominal nucleado por substantivo comum (uma quitandeira), o qual ainda recebe, a seguir (como apostos), mais três especificações descritivas (caracterizadoras), como se esquematiza adiante:

Ou seja, num esquema de visível busca de descrição das personagens, essa longa sequência de sintagmas nominais (referentes a uma personagem plenamente identificada) traz caracterizações obtidas referencialmente por nomes comuns (elementos altamente descritivos), e cada vez mais especificadas, construídas recursivamente com a entrada de novos sintagmas nominais à direita (com substantivos comuns, portanto novas descrições), como se vê neste desdobramento do esquema:

Explique-se: a individualização é plenamente buscada, seja por via de uma identificação inequivocamente instalada, seja por via da descrição de uma personagem que já vem caracterizada até certo grau, antes que a trama se desenvolva.

Para não ficar apenas nos dois exemplos retirados de obras muito fortemente tidas como pertencentes ao Realismo, veja-se também o primeiro parágrafo do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, da mesma época (1889), e consensualmente tido como da mesma direção estética, mas de estilo sabidamente contido:

Rubião fitava a enseada, — eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade. (ASSIS, 2012 ANDRADE, M. de. Amar, verbo intransitivo. Rio de Janeiro: Agir, 2008. ANDRADE, O. de. A. Os condenados. 3.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. ASSIS, A. M. M. de. Quincas Borba. São Paulo: Penguin Classics, 2012. AZEVEDO, A. O cortiço. 19.ed. São Paulo: Ática, 1988. PIÑON, N. Vozes do deserto. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. RIBEIRO, J. A carne. 11.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. TEZZA, C. O filho eterno. 9.ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. , p. 47).

Na instalação da trama, novamente as personagens, introduzidas por nome próprio, já são identificadas: Rubião e Cristiano Palha, este registrado (em parentetização) com nome e sobrenome. Ambas as personagens de Machado ainda vêm descritas pelo nome comum amigo, que vale para ambos, por reciprocidade (um amigo do outro). E Rubião, o protagonista, vem especialmente descrito com os dois predicativos que recebe em seguida à sua introdução no texto (expressos por sintagmas nominais nucleados por nomes comuns: professor e capitalista). Ou seja, cuida-se de uma descrição bastante caracterizadora (até historicamente), como se representa neste esquema:

Vale a pena registrar, ainda, o destaque que ganham essas duas indicações (professor e capitalista) com o modo de construção machadiano: cada uma delas vem em resposta a uma pergunta formal: “Que era há um ano?” “Que é hoje?”

Na sequência destas reflexões, vai-se a amostras de autores do Modernismo, sem pretender afirmar que haja nítidos cortes a ser buscados, no modo de expressão, absolutamente determinados por estéticas diferenciadas. Entretanto, sem que essa determinação rígida tenha sido buscada centralmente, o que se verifica nas obras, neste novo período da história literária brasileira, é que, embora – obviamente – também haja personagens bem identificadas e/ou caracterizadas por nome próprio e por sintagma nominal com substantivo comum (respectivamente), verificam-se modos de introdução de personagem menos canônicos, que não ocorreram nos romances realistas (pelo menos na amostra aleatoriamente selecionada sob análise), e também menos canônicos, se consideradas as sequências narrativas em geral.

Primeiramente, veja-se um trecho de Alma, de Oswald de Andrade, com introdução de (três) actantes também operada por sintagmas nominais nucleados por nome comum (o velho e o cãozinho) ou por nome próprio (Alma), mas com muito menor grau de especificação:

O velho e o cãozinho foram andando na sombra enjoada da tarde. Tinham passeado muito. [...] Alma havia regressado naquele instante. (ANDRADE, O., 1978 ANDRADE, M. de. Amar, verbo intransitivo. Rio de Janeiro: Agir, 2008. ANDRADE, O. de. A. Os condenados. 3.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. ASSIS, A. M. M. de. Quincas Borba. São Paulo: Penguin Classics, 2012. AZEVEDO, A. O cortiço. 19.ed. São Paulo: Ática, 1988. PIÑON, N. Vozes do deserto. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. RIBEIRO, J. A carne. 11.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. TEZZA, C. O filho eterno. 9.ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. , p.5).

Menor especificação (grau mais baixo de caracterização), ainda, ocorre a seguir, no primeiro parágrafo, quando a outra personagem central vem introduzida mediante o uso de um pronome pessoal – ele–, elemento que nem identifica nem descreve o referente, a não ser pelo traço de gênero [masculino]. E apenas no terceiro parágrafo a personagem é identificada, mediante um nome próprio (Mauro):

Pensava: por que será que quando uma porta me machuca, me faz sofrer; quando bato a cabeça numa janela, choro de dor; e ele pode me cortar a navalha, não dói: é delicioso!

Mas lembrou-se da Odete9 9 Esse referente não entra nesta análise porque é de menção única. , que estivera com Mauro no teatro, ele contara. E ficou dizendo sufocadamente no quarto:

— Canalha! Bandido! Miserável! Miserável! (ANDRADE, O., 1978 ANDRADE, M. de. Amar, verbo intransitivo. Rio de Janeiro: Agir, 2008. ANDRADE, O. de. A. Os condenados. 3.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. ASSIS, A. M. M. de. Quincas Borba. São Paulo: Penguin Classics, 2012. AZEVEDO, A. O cortiço. 19.ed. São Paulo: Ática, 1988. PIÑON, N. Vozes do deserto. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. RIBEIRO, J. A carne. 11.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. TEZZA, C. O filho eterno. 9.ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. , p.5).

Nesse caso, pois, o esquema é absolutamente o oposto daquilo que foi configurado até este ponto, quanto ao aproveitamento da identificabilidade e da descritibilidade do referente na criação da rede referencial: na introdução da personagem não está nem uma identificação (um nome próprio) nem uma descrição (um sintagma nucleado por nome comum). Agora a identificação (sem provimento de nenhuma caracterização) vem após uma simples referência por palavra gramatical, um pronome, um puro fórico textual, construído em catáfora:

Casos mais representativos ainda (porque de múltiplas referenciações não canônicas) ocorrem em Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade, outro texto modernista:

A porta do quarto se abriu e eles saíram no corredor. Calçando as luvas Sousa Costalargou por despedida:

— Está frio.

Ela muito correta e simples:

— Estes fins de inverno são perigosos em São Paulo.

Lembrando mais uma coisa reteve a mão de adeus que o outro lhe estendia.

— E, senhor... sua esposa? Está avisada?

— Não! A senhorita compreende... Ela é mãe. Esta nossa educação brasileira... Além do mais com três meninas em casa!...

— Peço-lhe que avise sua esposa, senhor. Não posso compreender tantos mistérios. Se é para o bem do rapaz.

— Mas senhorita...

— Desculpe insistir. É preciso avisá-la. Não me agradaria ser tomada por aventureira sou séria. [....]

Falava com a voz mais natural desse mundo mesmo com certo orgulho que Sousa Costa percebeu sem compreender. Olhou pra ela admirado e, jurando não falar nada à mulher, prometeu.

Elza viu ele abrir a porta da pensão. Pâam... Entrou de novo no quartinho ainda agitado pela presença do estranho. (ANDRADE, M., 2008, p.19).

Aí a introdução referencial da primeira personagem se faz por pronome pessoal, o pronome eles, agora um plural. Esse pronome traz apenas a informação de que há mais de uma personagem atuando na cena e de que pelo menos uma delas é do gênero masculino. Assim como ocorre com Alma (no romance Alma), neste caso uma das personagens incluídas no pronome plural (a de gênero masculino) logo é identificada no grau máximo (com sobrenome composto: Sousa Costa). A outra personagem incluída no pronome eles, no entanto, entra no texto de uma maneira não canônica: é referida por um elemento nada caracterizador (e pouco identificador), o pronome pessoal ela (novamente um pronome de terceira pessoa), duas vezes ocorrente, e que, só no final do excerto, é retomado por um nome próprio (Elza), o que já instaura o suspense que vai envolver essa personagem durante o romance. A única caracterização dessa personagem feminina (por substantivo comum) está em uma forma de tratamento ocorrente no diálogo: senhorita. Este é o esquema ilustrativo da rede criada:

Na verdade, é somente na página seguinte, quando se narra a chegada de Elza, na “terça-feira”, à casa da família de Sousa Costa, que uma caracterização aparece. É quando a filha do casal diz à mãe: “A governanta está aí! mamãe! a governanta está aí!”

Passando-se, na sequência, à Contemporaneidade, verifica-se que esse modo pouco identificador e quase nulamente caracterizador de introduzir referente (ou seja, a referência por um simples elemento gramatical, um “pronome”) é levado ainda mais à frente. As duas obras desse período (aleatoriamente) destacadas como córpus de análise apresentam um modo de introdução (e, seja observado: também adotado na manutenção) das personagens centrais no qual não se verifica nenhuma insistência em identificação inicial inequívoca, plena e pronta, ou em caracterização minuciosa, para sustentação da trama. É o que se pôde observar no caso dos textos do Realismo.

Este é o início de O filho eterno, de Cristovão Tezza

– Acho que é hoje – ela disse. – Agora – completou, com a voz mais forte, tocando-lhe o braço, porque ele é um homem distraído.

Sim, distraído, quem sabe? Alguém provisório, talvez; alguém que, aos 28 anos, ainda não começou a viver. A rigor, exceto por um leque de ansiedades felizes, ele não tem nada, enão é ainda exatamente nada. E essa magreza semovente de uma alegria agressiva, às vezes ofensiva, viu-se diante da mulher grávida quase como se só agora entendesse a extensão do fato: um filho. Um dia ele chega, ele riu, expansivo. Vamos lá!

A mulher que, em todos os sentidos, o sustentava já havia quatro anos, agora era sustentada por ele enquanto aguardavam o elevador, à meia noite. Elaestá pálida. As contrações. A bolsa ela disse – algo assim. Ele não pensava em nada – em matéria de novidade, amanhã ele seria tão novo quanto o filho. Era preciso brincar, entretanto. Antes de sair lembrou-se de uma garrafinha caubói de uísque, que colocou no outro bolso; no primeiro estavam os cigarros. (TEZZA, 2010 ANDRADE, M. de. Amar, verbo intransitivo. Rio de Janeiro: Agir, 2008. ANDRADE, O. de. A. Os condenados. 3.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. ASSIS, A. M. M. de. Quincas Borba. São Paulo: Penguin Classics, 2012. AZEVEDO, A. O cortiço. 19.ed. São Paulo: Ática, 1988. PIÑON, N. Vozes do deserto. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. RIBEIRO, J. A carne. 11.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. TEZZA, C. O filho eterno. 9.ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. , p. 9).

Aí, as duas personagens (um homem e uma mulher) entram, e separadamente, no texto, introduzidas por pronome pessoal, e uma delas, a personagem masculina, – mais significativamente, ainda – entra por meio de um pronome oblíquo, maximamente não identificador e maximamente não descritor: lhe. Só adiante a referenciação pela forma sujeito do pronome – ele – oferece, pelo menos, o gênero da personagem.

São nada menos do que três pronomes pessoais no primeiro parágrafo do romance, introduzindo as duas personagens. Na primeira linha, a protagonista entra pela expressão do pronome pessoal ela, escolha fórica que permite ao leitor (tal como aconteceu com a personagem Elza, de Amar, verbo intransitivo) apenas identificar que se trata de uma entidade feminina, e de uma personagem (sabe-se que humana, não por alguma referenciação descritiva, mas apenas porque pratica ações humanas). Ela é retomada duas vezes pelo mesmo pronome (ela), e uma vez por elipse, tipos de preenchimento fórico que também não conferem nenhuma caracterização. Só se obtém uma descrição definida quando, no final do parágrafo seguinte, a personagem é retomada pelo sintagma nominal a mulher grávida: “viu-se diante da mulher grávida”. Apenas essa breve descrição da mulher é fornecida até então.

Quanto ao outro protagonista (introduzido, também no primeiro parágrafo, por lhe, como já se indicou), somente adiante, na segunda menção por pronome (ele), o leitor consegue identificar, pelo menos, que se trata de uma personagem masculina, pois a primeira referência fora feita pelo pronome oblíquo lhe, inespecífico quanto ao gênero: “completou, com a voz ainda mais forte, tocando-lhe o braço, porque ele é um homem distraído”. A primeira referência que, operada por sintagma nominal, traz, portanto, alguma descrição – essa magreza semovente – só vem no parágrafo seguinte, e exige atenção à frase anterior para compreender-se que a expressão nominal encapsula parte das informações, relacionadas à personagem, já fornecidas naquela predicação (FRANCIS, 2003FRANCIS, G. Rotulação do discurso: um aspecto da coesão lexical de grupos nominais. In: CAVALCANTI, M. M.; RODRIGUES, B. B.; CIULLA, A. (Org.). Referenciação. São Paulo: Contexto, 2003. p. 191-228.; KOCH; ELIAS, 2012KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. M. S. Ler e escrever: estratégias de produção textual. 3.ed. São Paulo: Contexto, 2012.). Ou seja, não se observa nenhuma premência em configurar caracterizadamente a personagem, encaminhamento oposto ao que se verificou como comum nos blocos de textos dos períodos anteriores, que aqui passaram por análise.

Este é o singular esquema referencial da sequência:

Pode-se, ainda, verificar o que ocorre na introdução de outra entidade, que vem apenas citada (não é personagem), entrando por relação com o protagonista masculino: um filho, retomado por ele e por o filho. O esquema é semelhante, com uma caracterização unicamente geral:

[...] E essa magreza semovente de uma alegria agressiva, às vezes ofensiva, viu-se diante da mulher grávidaquase como se só agoraentendesse a extensão do fato: um filho. Um dia ele chega, ele riu, expansivo.

[...] Elenão pensava em nada – em matéria de novidade, amanhã eleseria tão novo quanto o filho. (TEZZA, 2010 ANDRADE, M. de. Amar, verbo intransitivo. Rio de Janeiro: Agir, 2008. ANDRADE, O. de. A. Os condenados. 3.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. ASSIS, A. M. M. de. Quincas Borba. São Paulo: Penguin Classics, 2012. AZEVEDO, A. O cortiço. 19.ed. São Paulo: Ática, 1988. PIÑON, N. Vozes do deserto. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. RIBEIRO, J. A carne. 11.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. TEZZA, C. O filho eterno. 9.ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. , p.9).

Indo-se ao segundo romance da Contemporaneidade aqui trazido, Vozes do deserto, de Nélida Piñon (2006) ANDRADE, M. de. Amar, verbo intransitivo. Rio de Janeiro: Agir, 2008. ANDRADE, O. de. A. Os condenados. 3.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. ASSIS, A. M. M. de. Quincas Borba. São Paulo: Penguin Classics, 2012. AZEVEDO, A. O cortiço. 19.ed. São Paulo: Ática, 1988. PIÑON, N. Vozes do deserto. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. RIBEIRO, J. A carne. 11.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. TEZZA, C. O filho eterno. 9.ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. , encontra-se diferente andamento da construção referencial das personagens, mas também aí se pode dizer que o autor prescinde de identificações de registro formal (por exemplo, sobrenomes) bem como de caracterizações que tragam altas especificações. Novamente a análise vai aos parágrafos iniciais da obra em exame:

Scherezade não teme a morte. ∅10 10 Neste texto, especificamente, marca-se com ∅ o sujeito não expresso (sujeito zero). Não acredita que o poder do mundo representado pelo Califa, a quem o pai serve, decrete por meio de sua morte o extermínio da sua imaginação.

∅Tenta convencer o pai de ser a única capaz de interromper a sequência das mortes dadas às donzelas do reino. ∅Não suporta ver o triunfo do mal que se estampa no rosto do Califa. ∅ Quer opor-se à desdita que atinge os lares de Bagdá e arredores, oferecendo-se ao soberano em sedicioso holocausto.

O pai reage ao ouvir sua proposta. ∅Suplica que ∅desista, sem alterar a decisão da filha. ∅ Volta a insistir, desta vez, golpeando a pureza da língua árabe, ∅pede emprestadas as imprecações, as palavras espúrias, bastardas, escatológicas, que os beduínos usavam indistintamente em meio à ira e aos folguedos. Sem envergonhar-se, ∅ lança mão de todos os recursos para convencê-la.Afinal a filhalhedevia, além da vida, o luxo, a nobreza, a educação refinada. ∅Pusera-lhe à disposição mestres em medicina, filosofia, história, arte e religião, que despertaram a atenção de Scherezade para aspectos sagrados e profanos do cotidiano que jamais ∅ teria aprendido, não fora a ingerência do pai. (PIÑON, 2006 ANDRADE, M. de. Amar, verbo intransitivo. Rio de Janeiro: Agir, 2008. ANDRADE, O. de. A. Os condenados. 3.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. ASSIS, A. M. M. de. Quincas Borba. São Paulo: Penguin Classics, 2012. AZEVEDO, A. O cortiço. 19.ed. São Paulo: Ática, 1988. PIÑON, N. Vozes do deserto. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. RIBEIRO, J. A carne. 11.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. TEZZA, C. O filho eterno. 9.ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. , p. 7-8).

Os pontos para os quais se chama a atenção, neste caso, são: (i) a parcimônia no uso de modificadores do substantivo nos poucos sintagmas nominais que entram para referenciação das três personagens (Scherezade, o/seu pai e o Califa, termo marcado pela maiúscula como nome próprio, mas que, na verdade representa a denominação de uma pessoa, feita por via de seu cargo); (ii) a obtenção das informações sobre as personagens pelas ações e pelos processos em que tomam parte (predicações verbais), não por suas características ou seus atributos (por modificadores atuantes em sintagma nominal) referencialmente indicados; (iii) decorrentemente, a criação da relação entre as personagens por via de pronomes pessoais e possessivos (além dos artigos, que valem por possessivos), elementos exclusivamente fóricos, vazios de qualquer indicação semântica que não seja a de estabelecimento de “relações”: o (seu) pai, sua morte, o (seu) soberano, sua proposta, a (sua) filha (repetidamente); (iv) afinal, a funcionalidade da referenciação por “zero” na construção textual (questão não discutida neste texto).

É de perguntar, então, como se constrói a trama de avanço da narrativa. Ora o que se vê são predicados (no tempo presente) conduzindo à abstração de atributos e caracterizações. Por exemplo, encontram-se caracterizações tanto do pai como de Scherezade apenas captadas nas predicações em que as personagens estão envolvidas, não descritivamente expressas nas porções nominais dos enunciados: “Scherezade não teme a morte.”; “∅ Tenta convencer o pai[...].”; “∅ Não suporta ver o triunfo do mal [...]”; “∅ Quer opor-se à desdita [...].”; “O pai reage ao ouvir sua proposta. ∅ Suplica que desista, sem alterar a decisão da filha.”; “∅ Volta a insistir [....].”. Trata-se, pois, de uma configuração narrativa minimamente apoiada em particularizações de natureza nominal, ou seja, minimamente obtida por expedientes de referenciação.

Uma incursão na configuração referencial do cenário

O mesmo excerto, do romance Amar, verbo intransitivo, analisado para verificar o grau de identificação e caracterização das personagens, é agora retomado como amostra para verificar como se dá a introdução e a manutenção dos referentes textuais, se consideradas não só as personagens, mas também outros referentes que compõem a cadeia referencial do texto. Trata-se, especificamente, da construção do cenário de atuação dessas personagens, e, mais especificamente, nesse início do romance, da atuação dos protagonistas:

A portado quarto se abriu e eles saíram no corredor. Calçando as luvas Sousa Costa largou por despedida:

─ Está frio.

Ela muito correta e simples:

─ Estes fins de inverno são perigosos em São Paulo.

Lembrando mais uma coisa reteve a mão de adeus que o outro lhe estendia.

─ E, senhor... sua esposa? Está avisada?

─ Não! A senhorita compreende... Ela é mãe. Esta nossa educação brasileira... Além do mais com três meninas em casa!...

─ Peço-lhe que avise sua esposa, senhor. Não posso compreender tantos mistérios. Se é para o bem do rapaz.

─ Mas senhorita...

─ Desculpe insistir. É preciso avisá-la. Não me agradaria ser tomada por aventureira, sou séria. E tenho 35 anos, senhor. Certamente não irei se sua esposa não souber o que vou fazer lá. Tenho a profissão que uma fraqueza me permitiu exercer, nada mais nada menos. É uma profissão.

Falava com a voz mais natural desse mundo mesmo com certo orgulho que Sousa Costa percebeu sem compreender. Olhou pra ela admirado e, jurando não falar nada à mulher, prometeu.

Elza viu ele abrir a porta da pensão. Pâam... Entrou de novo no quartinho ainda agitado pela presença do estranho. Lhe deu, um olhar de confiança. Tudo foi sossegando pouco a pouco. (ANDRADE ANDRADE, M. de. Amar, verbo intransitivo. Rio de Janeiro: Agir, 2008. ANDRADE, O. de. A. Os condenados. 3.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. ASSIS, A. M. M. de. Quincas Borba. São Paulo: Penguin Classics, 2012. AZEVEDO, A. O cortiço. 19.ed. São Paulo: Ática, 1988. PIÑON, N. Vozes do deserto. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. RIBEIRO, J. A carne. 11.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. TEZZA, C. O filho eterno. 9.ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. , M., 2008, p.19).

O primeiro sintagma referencial do romance (antes que entrem as personagens) é a porta do quarto (“a porta do quarto se abriu”), que faz uma identificação locativa, compondo sem pormenores o lugar em que se passa a cena. Não apenas o núcleo desse sintagma (porta) mas também o sintagma preposicionado especificador desse núcleo (do quarto) são determinados por artigo definido, o que constrói uma identificação suficiente (por remissão mútua) do espaço. Não ocorre uma segunda especificação, que localize esse quarto em algum ponto específico de um espaço que já esteja localizado por relação a um sintagma toponimicamente definido. É uma identificação que ocorre por sugestão de relações internas do próprio texto, levado em conta seu gênero (romance) bem como seu tipo textual (narrativa): trata-se, simplesmente, da porta daquele quarto que o leitor identifica como a cena (a primeira cena) em que se desenvolve o romance.

Uma indicação significativa a ser feita, neste exame, é que não se trata da introdução canônica de referente(s) (especialmente de construção de cenário) em narrativa, conforme se entende no geral. De fato, no caso de sintagma nominal determinado por artigo definido, a referenciação quase automaticamente sugerida, para relatos, é a que entra para fazer remissão (anáfora) a referentes trazidos à existência no texto (por exemplo, por sintagmas nominais com artigo indefinido). Esse processo é quase automático nos relatos comuns – de conversação espontânea –, refletindo as mais básicas propriedades que governam o fluxo de informação (não marcado): é sobre uma configuração indefinida (por exemplo, uma porta, ou seja: algum exemplar da classe porta) que se vai assentando a referência particular, e, portanto, identificatória por remissão (por exemplo, a porta = essa/aquela determinada porta; ou: ela). Esse é o andamento mais frequente da construção de objetos de discurso (incluídas as personagens) em narrativas (desde as mais espontâneas, que são aquelas da língua falada), pois pode-se entender como natural – e muito eficiente, coenunciativamente – o processo pelo qual já vem provida uma base conteudística favorecedora de interpretações antes do oferecimento de um sintagma que traga uma sinalização fórica pura e simples, inclusive a pronominal. E esse registro de que se trata de um processo “natural” é essencial, como se vê nesta indicação (entre tantas outras do mesmo teor) de Halliday (2004HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. 3. ed. Revised by Christian M. I. M. Mathiessen. London: Edward Arnold, 2004., p.89, tradução nossa):

O modo pelo qual essa estrutura é realizada é essencialmente ‘natural’ (não-arbitrário), em dois aspectos: (i) o Novo é marcado por proeminência; (ii) o Dado tipicamente precede o Novo. Nós consideraremos essas duas propriedades oportunamente.11 11 Texto original: “The way this structure is realized is essentially ‘natural’ (non-arbitrary), in two respects: (i) the New is marked by prominence; (ii) the Given typically precedes the New. We will look at these two features in turn.” (HALLIDAY, 2004, p.89). .

Isso não significa que o modo de introdução encontrado neste texto que aqui se examina tenha alguma inconveniência ou impropriedade, na sua contrariedade ao canônico: pelo contrário, pelo próprio fato de esse modo de expressão representar uma forma “marcada” (GIVÓN, 1995GIVÓN, T. Functionalism and grammar. Amsterdam: Jonh Benjamins, 1995.; LACY, 2006LACY, P. M. Reduction and preservation in phonology. New York: Cambridge University Press, 2006.) de constituição de cena discursiva (FILLMORE, 1968FILLMORE, C. J. The case for case. In: BACH, E.; HARMS, R.T. (Ed.). Universals in linguistic theory. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1968. p. 1-88., 1977FILLMORE, C. J. The case for case reopened. In: COLE, P.; SADOCK, P. (Ed.). Syntax and semantics: grammatical relations. New York: Academic Press, 1977. p. 59-82. v. 8.; MAINGUENEAU; POSSENTI; SILVA, 2012MAINGUENEAU, D.; POSSENTI, S.; SILVA, M. C. P. de S. (Org.). Cenas da enunciação. São Paulo: Parábola, 2012.) ficam abertos efeitos especiais que hão de pesar na construção – não se esqueça que ficcional – da trama que se desenvolve.

Essa primeira predicação (“a porta do quarto se abriu”) cria, pois, uma organização espacial definida, e a predicação que segue (“e eles saíram no corredor”) também traz novo referente textual locativo (o corredor), identificável por contiguidade ao espaço já configurado. Monta-se uma organização espacial dinâmica, em que as personagens referidas pelo pronome pessoal eles, naturalmente endofórico, porque de terceira pessoa, locomovem-se de um espaço a outro. Por aí se sustenta o avanço da narrativa, já porque as predicações se vertem em tempos verbais prototípicos de primeiro plano narrativo, o foreground, em oposição ao background (HOPPER, 1979HOPPER, P. J. Aspect and foregrounding in discourse. Syntax and Semantics, New York, v.12, p. 213-24, 1979.), o “mundo narrado”, em oposição ao “mundo comentado” (WEINRICH, 1968WEINRICH, H. Estructura y función de los tiempos en el lenguaje. Madrid: Gredos, 1968.), o “discurso”, em oposição à “história” (BENVENISTE, 1970BENVENISTE, E. L’apareil formel de l’énonciation. Langages, Paris, v.17, p. 22-28, 1970.).

No último parágrafo esse ato de abrir a porta é retomado (“Elza viu ele abrir a porta da pensão”) por um espectador do ato (referente plenamente identificado: Elza), e, mais uma vez, um referente que indica espaço é introduzido na formação da predicação: a pensão. Torna-se ainda mais especificado o espaço da narrativa, com pontos de localização trazidos em uma configuração que vai do específico para o geral (em movimento centrípeto), como demonstra este esquema de organização referencial já configurado em Souza (2013)SOUZA, L. R. de. O estabelecimento da cadeia referencial em português: um estudo em diferentes sequências textuais. 2013. 172 f. Dissertação (Mestrado em Letras) - Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2013.:

Quando o quarto é correferenciado (em nova formulação: o quartinho), o leitor, além de identificar anaforicamente o referente, pode configurar a ideia de que o quarto da pensão não é espaçoso. São sempre, pois, descrições diretas, que prescindem de maiores caracterizações, e têm grande diferença – lembre-se – do geral que se encontra nos textos analisados inicialmente neste artigo, pertencentes ao período do Realismo.

A interpretação final da proposta

Enfim, na interpretação desse exercício de análise, como também verificado em Souza (2013)SOUZA, L. R. de. O estabelecimento da cadeia referencial em português: um estudo em diferentes sequências textuais. 2013. 172 f. Dissertação (Mestrado em Letras) - Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2013., pode-se dizer que identificar os elementos que compõem a cadeia referencial do texto representa não só captar uma organização lógica, para construção do sentido, mas também observar o acionamento da gramática na criação da rede referencial, e, especialmente, documentar a flexibilidade das regras gramaticais, geralmente impostas como estanques.

Também como verificado em Souza (2013)SOUZA, L. R. de. O estabelecimento da cadeia referencial em português: um estudo em diferentes sequências textuais. 2013. 172 f. Dissertação (Mestrado em Letras) - Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2013., a análise do preenchimento das casas referenciais nas sequências examinadas destrói algumas noções ingênuas, por exemplo a de que o modo de introdução de referentes tem uma fórmula pronta na gramática da língua, ou a de que a descrição e/ou a identificação de uma personagem tem lugar determinado para surgir no texto, ou, ainda, a de que a escolha nesse sentido não aporta nenhuma configuração especial à narrativa. Mais que isso, a análise garante a noção de que as diferenças que haja no acionamento do processamento referencial estão a serviço do plano coenunciativo do produtor do discurso, inserido no seu contexto de produção.

Nessa linha é que se torna interessante apreciar tais diferenças na sequência dos contextos de produção (por exemplo, representados pelo que se costuma considerar como escolas literárias). Com certeza essas diferenças ensejam conduções da produção discursiva diversas, dados os diferentes condicionamentos de engajamento coenunciativo a cada tempo, em cada ambiente, em cada momento e em cada período de padronizações estéticas. Com certeza as motivações de uma determinada vivência sociocultural e estética governam a conveniência de instalações de personagem já com alta especificação e identificação, enquanto as de outra se resolvem com marcas fortes de presença da personagem antes que ela receba identificação inequívoca ou caracterização descritiva que vá a fundo. Além do mais, a caracterização não necessariamente se fará apenas pelo processo referencial, se essa opção servir ao propósito discursivo do produtor do texto.

Do ponto de vista da visão do processo de referenciação, esse fato foi um achado importantíssimo, revelando documentadamente (embora apenas em uma amostra, válida, porém, porque aleatoriamente composta), quanto à instalação inaugural da cadeia referencial em romances, uma mudança de escolhas de preenchimento, ligada ao plano histórico das produções. A análise permitiu ver, especialmente, uma renovação histórica de estratégias referenciais de introdução das personagens centrais, em romances, vista na sequência de diferentes contextos socioculturais, com sua variedade de padrões estéticos.

Afinal, a visão de uma gramática que organiza as opções em alguns conjuntos dentro dos quais o falante faz seleções simultâneas (HALLIDAY, 2004HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. 3. ed. Revised by Christian M. I. M. Mathiessen. London: Edward Arnold, 2004.) apenas confirma os mais básicos princípios funcionalistas: o da “competição de motivações” no uso da linguagem, e o da “liberdade organizacional dos falantes” para fazer as escolhas que levam, mais do que à produção de sentido, à obtenção de efeitos (NEVES, 2006NEVES, M. H. M. Texto e gramática. São Paulo: Contexto, 2006.), porque deles se faz a excelência da linguagem, seja pela funcionalidade eficiente, seja pela sugestão estética.

REFERÊNCIAS

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  • HALLIDAY, M. A. K; MCINTOSH, A.; STREVENS, P. D. The linguistic sciences and language teaching London: Longman, 1964.
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  • RONCARATI, C. As cadeias do texto: construindo sentido. São Paulo: Parábola, 2010.
  • SOUZA, L. R. de. O estabelecimento da cadeia referencial em português: um estudo em diferentes sequências textuais. 2013. 172 f. Dissertação (Mestrado em Letras) - Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2013.
  • WEINRICH, H. Estructura y función de los tiempos en el lenguaje Madrid: Gredos, 1968.
  • 1
    Tradução destas autoras. Texto original: “The Process and the Medium together form the nucleus of an English clause; and this nucleus then determinesthe range of options that are available to the rest of the clause”.
  • 2
    Tradução destas autoras. Texto original: These different options are available to speakers and writerswhen they construe their experience of the flow of events.”
  • 3
    Tradução destas autoras. Texto original: “This is not an arbitrary ‘rule’. It is what explains the fact thatsuch an instance is selecting simultaneously in systems of every rank: Come! is an ‘imperative’ (as opposed to ‘indicative’) clause, a ‘positive’ (as opposed to ‘negative’) verbal group, a base (as opposed to derived) form of the verb (word)”.
  • 4
    Para transparência quanto à época de produção das obras, registram-se, neste ponto, as datas da sua primeira edição. Quanto ao elenco dos romances postos sob exame, a escolha foi aleatória: entre vários romances da época que foram sendo consultados, selecionou-se o primeiro que se apresentou narrado em terceira pessoa.
  • 5
    Usam-se, aqui, rótulos que tradicionalmente qualificam determinados períodos literários. Aponte-se que o mesmo córpus de análise serviu a Souza (2013)SOUZA, L. R. de. O estabelecimento da cadeia referencial em português: um estudo em diferentes sequências textuais. 2013. 172 f. Dissertação (Mestrado em Letras) - Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2013., que, com propósitos mais gerais, também contemplou os elementos fóricos usados na introdução e na manutenção das personagens.
  • 6
    No registro dos sintagmas referenciais nos trechos em análise, convencionou-se representar os nomes próprios em negrito, os sintagmas nucleados por nome comum em sublinhado, e os pronomes pessoais em itálico e negrito.
  • 7
    A referenciação por nome próprio será marcada com negrito, a referenciação por sintagma nominal nucleado por substantivo comum será marcada com sublinhado, a referenciação por pronome pessoal será marcada com negrito e itálico e a referenciação por zero será indicada pelo símbolo ∅, quando essa indicação for pertinente.
  • 8
    Para citação, as datas registradas são as das edições consultadas.
  • 9
    Esse referente não entra nesta análise porque é de menção única.
  • 10
    Neste texto, especificamente, marca-se com ∅ o sujeito não expresso (sujeito zero).
  • 11
    Texto original: “The way this structure is realized is essentially ‘natural’ (non-arbitrary), in two respects: (i) the New is marked by prominence; (ii) the Given typically precedes the New. We will look at these two features in turn.” (HALLIDAY, 2004HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. 3. ed. Revised by Christian M. I. M. Mathiessen. London: Edward Arnold, 2004., p.89).

OBRAS ANALISADAS

  • ANDRADE, M. de. Amar, verbo intransitivo. Rio de Janeiro: Agir, 2008.
    ANDRADE, O. de. A. Os condenados. 3.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
    ASSIS, A. M. M. de. Quincas Borba. São Paulo: Penguin Classics, 2012.
    AZEVEDO, A. O cortiço. 19.ed. São Paulo: Ática, 1988.
    PIÑON, N. Vozes do deserto. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2006.
    RIBEIRO, J. A carne. 11.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996.
    TEZZA, C. O filho eterno. 9.ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2016

Histórico

  • Recebido
    Ago 2015
  • Aceito
    Abr 2016
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