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“O CELULAR ACABOU A BATERIA”: UMA ANÁLISE DESCRITIVA E FORMAL PARA O TÓPICO SUJEITO

RESUMO:

Este trabalho examina a sintaxe das construções de tópico sujeito no PB, tais como “o celular acabou a bateria”, com o objetivo de apresentar (i) a descrição das construções de tópico sujeito que envolvem um DP [+possuidor] na posição de sujeito; e (ii) uma proposta de análise teórica, considerando os pressupostos da Teoria Gerativa em sua versão Minimalista (CHOMSKY, 1995CHOMSKY, N. The minimalist program. Cambridge: MIT Press, 1995., 1998CHOMSKY, N. Minimalist inquiries: the framework. Cambridge: MIT OPL, 1998., 2001CHOMSKY, N. Derivation by phase. In: KENSTOWICZ, M. (ed.). Ken Hale: a life in language. Cambridge: MIT Press, 2001. p. 1-52.). Os dados analisados advêm de uma amostra constituída por (1) fala espontânea, recolhida no Rio de Janeiro, entre os anos de 2012 e 2014; (2) sentenças coletadas em buscas on-line, por meio do sistema de pesquisa avançada do Google. A análise aqui proposta é a de que este tipo de tópico sujeito, uma construção em que há posse externa e, por isso, o movimento do DP [+possuidor] para a posição de sujeito é desencadeado por requisitos sintáticos, especificamente, a necessidade de checagem do Caso pelo DP a fim de tornar visível, para a forma lógica, o papel temático de [+possuidor].

PALAVRAS-CHAVE:
Tópico sujeito; Posse externa; Português Brasileiro

ABSTRACT:

This paper examines the syntax of subject topic constructions in Brazilian Portuguese, such as “o celular acabou a bateria” (“the cell phone ended the battery”), in order to present: (i) the description of subject topic constructions involving a DP [+ possessor] in the subject position; (ii) a theoretical analysis, considering the assumptions of the Generative Theory in its Minimalist version (CHOMSKY, 1995CHOMSKY, N. The minimalist program. Cambridge: MIT Press, 1995., 1998CHOMSKY, N. Minimalist inquiries: the framework. Cambridge: MIT OPL, 1998., 2001CHOMSKY, N. Derivation by phase. In: KENSTOWICZ, M. (ed.). Ken Hale: a life in language. Cambridge: MIT Press, 2001. p. 1-52.). The data consists of (1) spontaneous speech, collected in Rio de Janeiro between 2012 and 2014; (2) sentences from online searches using Google's advanced search system. We propose that the subject topic is a kind of construction in which there is external possession and, therefore, the movement of the DP [+ possessor] to the subject position is triggered by syntactic requirements, such as, the necessity of checking of the Case by the DP in order to make visible its thematic role of [+ possessor] in the logical form.

KEYWORDS:
Subject topic constructions; External possession; Brazilian Portuguese

Apresentação1 1 Neste artigo, apresentamos parte dos resultados da Tese de Doutorado de Elaine Alves Santos Melo, que foi bolsista de Doutorado pelo CNPq, bem como recebeu uma Bolsa de Doutorado Sanduíche, fomentada pela CAPES. Os respectivos números dos processos estão listados a seguir: CNPq 140493/2013-1 e PDSE 5894/13-1. Este artigo também foi fomentado por um bolsa do CNPq 311045/2016-2.

Este trabalho tem como objeto de estudo as construções de tópico sujeito no Português Brasileiro (doravante PB), na perspectiva da Gramática Gerativa, na sua versão minimalista (CHOMSKY, 1995CHOMSKY, N. The minimalist program. Cambridge: MIT Press, 1995., 1998CHOMSKY, N. Minimalist inquiries: the framework. Cambridge: MIT OPL, 1998., 2001CHOMSKY, N. Derivation by phase. In: KENSTOWICZ, M. (ed.). Ken Hale: a life in language. Cambridge: MIT Press, 2001. p. 1-52.). Estas construções, como pode ser visto nos exemplos em (1) em contraste com (2), podem envolver dois DPs não-contíguos que expressam uma relação de [parte-todo] ou [possuidor-possuído] sem a necessidade de marcação por uma preposição, em uma estrutura de posse [DP+DP] (DEN DIKKEN, 2010DEN DIKKEN, M. On the functional structure of locative and directional PPs. In: CINQUE, G.; RIZZI, L. (ed.). Mapping spatial PPs: the cartography of syntactic structures. Oxford: Oxford University Press, 2010. v. 6. p. 74-126.), ocorrendo sempre com verbos inacusativos:

  • (1)
    1. A minha filha[+possuidor/todo]cresceu o cabelo[+possuído/parte] muito rápido porque eu cortei o cabelo dela na lua crescente (Fala espontânea)

    2. A televisão da sala[+possuidor/todo]estragou a tela[+possuído/parte] quando eu tava vendo o Jornal Nacional. (Fala espontânea)

  • (2)
    1. Cresceu o cabelo da minha filha.

    2. Estragou a tela da televisão da sala.

Há outra construção em que ocorre o tópico sujeito no PB: estamos nos referindo a sentenças que envolvem o alçamento do locativo para a posição de [Spec-TP], conforme os exemplos em (3) em contraste com (4). Nestas sentenças, o sintagma que apresenta o papel temático de [+locativo] não tem uma preposição como núcleo. Isto significa que ele é um DP. Soma-se a esta propriedade morfossintática o fato de que nestas construções não há uma estrutura [DP+DP], consoante ao que ocorre nos exemplos em (1). Na verdade, há um DP locativo que atua como um constituinte sintático ligado ao verbo e não como subconstituinte c-comandado pelo nome, tal qual ocorre nas sentenças em que há a relação de posse ou parte-todo.

  • (3)
    1. [+locativo]A casa tem muitos livros

    2. [+locativo]A estante falta livro

  • (4)
    1. Tem muitos livros [+locativo]na casa

    2. Falta livro [+locativo]na estante

A partir da observação de que os dois tipos de construções de tópico sujeito apresentados acima são estruturalmente distintos por envolverem o alçamento, em (1), de um subconstituinte e, em (3), de um constituinte, optamos por desenvolver uma análise apenas das construções em que há as relações de posse ou parte-todo. Assim, a partir deste momento, quando nos referirmos ao termo tópico sujeito estaremos apenas tratando de sentenças como as expressas em (1).

Nossa proposta, neste trabalho, é de que as sentenças em análise se caracterizam por apresentarem uma estrutura de posse externa que é definida por Payne e Barshi (1999)PAYNE, D. L.; BARSHI, I. External possession: what, where, how and why. In: PAYNE, D. L.; BARSHI, I. (ed.). External possession. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1999. p. 3-29. como uma construção em que uma relação semântica de possuído-possuidor é expressa a partir da codificação do possuidor como um argumento do verbo e em um constituinte separado/descontínuo daquele que contém o item possuído.

Nós tomamos como exemplos centrais de posse externa uma construção em que a relação semântica possuidor-possuído é expressa pela codificação do possuidor como uma relação gramatical do verbo e em constituinte separado daquele que contém o possuído. (PAYNE; BARSHI, 1999PAYNE, D. L.; BARSHI, I. External possession: what, where, how and why. In: PAYNE, D. L.; BARSHI, I. (ed.). External possession. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1999. p. 3-29., p. 3, tradução nossa)2 2 Original: “We take core instances of external possession to be constructions in which a semantic possessor-possessum relation is expressed by coding the possessor as a core grammatical relation of the verb and in a constituent separate from that which contains the possessum” (PAYNE; BARSHI, 1999, p.3). .

Observemos no exemplo (5a) que a descrição da posse externa apresentada por Payne e Barshi (1999)PAYNE, D. L.; BARSHI, I. External possession: what, where, how and why. In: PAYNE, D. L.; BARSHI, I. (ed.). External possession. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1999. p. 3-29. é exatamente a encontrada no tópico sujeito. Ainda que exista uma relação semântica de posse entre os termos [possuído/parte] e [possuidor/todo], eles ocupam constituintes sintáticos distintos. O termo [+possuidor/todo] está em [Spec-TP], exercendo a função de sujeito do verbo inacusativo, enquanto o termo [+possuído/parte] está na posição de [Comp-VP], conforme a representação arbórea em (5b).

  • (5)
    1. [+ parte/possuidor]O celular acabou a bateria[+todo/possuído]

No que concerne à sintaxe destas construções, é preciso se questionar sobre qual a motivação para a realização da operação mover do DP [possuidor/todo] para a posição de [Spec-TP]. Nossa proposta de análise é a de que o movimento seja desencadeado pela necessidade de este DP satisfazer as condições de visibilidade do papel temático de [+possuidor/todo], a partir da checagem do Caso. Notemos que a ausência da preposição “de” não permite que o Caso Genitivo seja checado, assim o movimento para [Spec-TP] é motivado porque nesta posição está o Caso Nominativo. O DP [+possuído/parte], que ocupa [Comp-VP], também checa Nominativo. O núcleo funcional [VP] na construção de tópico sujeito seleciona uma small clause onde o DP [+possuído/parte] é o predicativo do sujeito. Assim, o movimento do DP [+possuidor/todo] é motivado por requisitos sintáticos e não por questões discursivas.

A fim de desenvolver esta análise, trabalhamos com uma amostra formada por sentenças de tópico sujeito em que há a relação de posse ou parte-todo. Tais construções foram coletadas entre os anos de 2012 e 2014 nos municípios do Rio de Janeiro e de Duque de Caxias. Há dados de fala espontânea e textos escritos encontrados em documentos, produzidos neste mesmo período. O trabalho se constitui de uma descrição das propriedades morfossintática do tópico sujeito e por fim de uma proposta de análise formal para esta construção.

O trabalho está organizado da seguinte maneira: na primeira seção, apresentamos as construções de tópico descritas na literatura como gramaticais no PB; na segunda seção, caracterizaremos o tópico sujeito como uma estrutura de posse externa e por fim, na última seção, proporemos uma análise minimalista para esta construção.

As construções de tópico no PB.

É sabido que a organização dos constituintes nas sentenças é o reflexo das informações que os itens lexicais carregam ao integrarem a derivação. Nesse sentido, a operação sintática mover pode ser desencadeada para a checagem de traços discursivos ou sintáticos. As construções de tópico são exemplos de estruturas em que o movimento de um item lexical ocorre para a checagem de traços discursivos.

Berlinck, Duarte e Oliveira (2009)BERLINCK, R.; DUARTE, M. E. L.; OLIVEIRA, M. Predicação. In: KATO, M.; DO NASCIMENTO, M. (org.). Gramática do Português culto falado no Brasil. Campinas: Ed. da Unicamp, 2009. v. 3. p. 97-188. afirmam que há no Português Brasileiro os seguintes tipos de tópico marcado: anacoluto ou tópico pendente, deslocamento à esquerda, topicalização, tópico sujeito e o antitópico. Vejamos a seguir a descrição das construções de tópico marcado do PB.

A primeira construção que as autoras destacam é o chamado anacoluto ou tópico pendente, apresentado em (6). Neste tipo de estrutura, há ausência de um vínculo sintático entre o tópico e algum item lexical presente no comentário. Apesar da ausência de conexão sintática, Berlinck, Duarte e Oliveira (2009)BERLINCK, R.; DUARTE, M. E. L.; OLIVEIRA, M. Predicação. In: KATO, M.; DO NASCIMENTO, M. (org.). Gramática do Português culto falado no Brasil. Campinas: Ed. da Unicamp, 2009. v. 3. p. 97-188. destacam que há conectividade semântica entre os tópicos destacados e a sentença comentário.

  • (6)
    1. Drama, já basta a vida.

    2. Filme, eu gosto mais de comédia.

    3. A BR 101 não precisa ir a Campos, cê dobre em Vitória…pega a Vitória-Belo Horizonte.

    (BERLINCK, DUARTE; OLIVEIRA, 2009BERLINCK, R.; DUARTE, M. E. L.; OLIVEIRA, M. Predicação. In: KATO, M.; DO NASCIMENTO, M. (org.). Gramática do Português culto falado no Brasil. Campinas: Ed. da Unicamp, 2009. v. 3. p. 97-188., p. 152)

Um segundo tipo de construção de tópico marcado presente na gramática do PB é o chamado Deslocamento à esquerda: construção em que há a vinculação entre o sujeito da sentença e o tópico em uma posição à esquerda, como pode ser visto nos exemplos em (7).

  • (7)
    1. Bom essas assembleias, habitualmente elas tratam dos assuntos.

    2. O IBGE, por exemplo, ele já é do Estado.

    3. Ela de manhã ela sempre faz uma merenda pra mim.

    (BERLINCK, DUARTE; OLIVEIRA, 2009BERLINCK, R.; DUARTE, M. E. L.; OLIVEIRA, M. Predicação. In: KATO, M.; DO NASCIMENTO, M. (org.). Gramática do Português culto falado no Brasil. Campinas: Ed. da Unicamp, 2009. v. 3. p. 97-188., p. 154-155)

Em construções com deslocamento à esquerda no PB, o tópico pode ser um SN, (7a-b) ou um pronome (7c) e estar vinculado a um pronome nominativo, como em (7), ao SN anafórico, (8a), ou ao pronome demonstrativo, (8b). No que concerne ao traço de animacidade do item que ocupa a posição de [Spec-CP], há de ser ressaltado que ele pode ser [+animado] ou [-animado] e, em relação à definitude, pode ser [+definido] ou [-definido].

  • (8)
    1. [A pessoa]i, muitas vezes, a pessoai não quer nada.

    2. [Esse problema de puxar pela criança]i […] eu acho que issoi não funciona muito.

    (DE PAULA, 2013DE PAULA, M. N. As construções de deslocamento à esquerda de sujeito no português carioca: um estudo de tendência. Working Papers em Linguística, Florianópolis, v. 14, p. 66-84, 2013., p. 11-12)

Cabe ainda mencionar o chamado antitópico: um tipo de sentença, exemplificado em (9), em que o tópico aparece na margem direita da sentença.

  • (9)
    1. [-]i Leva azeite de dendê, o acarajéi

    2. Dizem que [-]i tá tudo abandonado aquele troçoi.

Observemos em (10) as construções do tipo topicalização. Nestas, o tópico está vinculado à categoria vazia que está relacionada ao verbo e pode exercer a função sintática de objeto direto, (10a), um complemento circunstancial, (10b), ou um adjunto adverbial, (10c).

  • (10)
    1. Aquele arroz com frutos do mar, a minha mulher é incapaz de, de provar [-].

    2. Olindai, ninguém mora [-]i. Ninguém diz é lá que eu moro; não, diz é lá que eu pernoito.

    3. Parisi, eu não pago hotel [-]i Parisi eu fico na casas de um amigo [-]i

Em construções como (10), Brito, Duarte e Matos (2003)BRITO, A. M.; DUARTE, I.; MATOS, G. Estruturas da frase simples e tipo de frase. In: MATEUS, M. H. et al. Gramática da Língua Portuguesa. 7. ed. Lisboa: Editorial Caminho, 2003., Duarte (2013)DUARTE, M. E. L. Apresentação. In: DUARTE, M. E. L. (org.). O sujeito em peças de teatro (1833-1992): estudos diacrônicos. São Paulo: Parábola Editorial, 2013. p. 181-203., Orsini (2012)ORSINI, M. As construções de tópico marcado em peças teatrais brasileiras dos séculos XIX e XX. In: DUARTE, M. E. L. (org.). O sujeito em peças de teatro (1833-1992): estudos diacrônicos. São Paulo: Parábola Editorial, 2012. p. 181-203., assumem que há o movimento do item topicalizado para [Spec-CP], acarretando em um vestígio na sentença comentário. Entretanto, Berlinck, Duarte e Oliveira (2009)BERLINCK, R.; DUARTE, M. E. L.; OLIVEIRA, M. Predicação. In: KATO, M.; DO NASCIMENTO, M. (org.). Gramática do Português culto falado no Brasil. Campinas: Ed. da Unicamp, 2009. v. 3. p. 97-188. questionam se de fato há um movimento de um item para a posição de tópico, visto que em sentenças como (11) um constituinte com função oblíqua é projetado sem preposição na posição de tópico.

  • (11)
    1. O Nortei principalmente no Amazonas e no Pará, a influência indígena sobre a alimentação é muito grande [-]i.

    2. Mas eu ah merenda escolari eu tenho pouca noção [-]i

Para as autoras, a ausência da preposição em (11) “parece afrouxar, de certa forma, o vínculo sintático entre tópico e comentário, aproximando essas construções dos anacolutos ou tópico pendente” (BERLINCK, DUARTE; OLIVEIRA, 2009BERLINCK, R.; DUARTE, M. E. L.; OLIVEIRA, M. Predicação. In: KATO, M.; DO NASCIMENTO, M. (org.). Gramática do Português culto falado no Brasil. Campinas: Ed. da Unicamp, 2009. v. 3. p. 97-188., p. 158)3 3 Na gramática do PE, também são produtivas construções em que um constituinte com função oblíqua aparece sem preposição na posição de [Spec-CP]. (i) Cenas dessas, não precisamos [-]. Essa conferência, não assisti [-]. .

Passemos, por fim, a tratar do tópico sujeito: a construção em que o tópico é encontrado em uma sentença com sujeito nulo não argumental. Para Berlinck, Duarte e Oliveira (2009)BERLINCK, R.; DUARTE, M. E. L.; OLIVEIRA, M. Predicação. In: KATO, M.; DO NASCIMENTO, M. (org.). Gramática do Português culto falado no Brasil. Campinas: Ed. da Unicamp, 2009. v. 3. p. 97-188., nestas sentenças, o tópico ocupa uma posição muito próxima a aquela em que canonicamente está o sujeito no PB, (12). Por isso, como vemos nos exemplos em (13), ele poderia ser reanalisado como o sujeito da sentença, podendo até mesmo estabelecer uma relação de concordância com o verbo.

  • (12)
    1. O Amazonas, [-expl] é impressionante o número de frutas, e frutas assim, tudo duro, tudo tipo cajá-manga (DID-RJ)

    2. A televisão, [-expl] é horroroso quando eles estão fazendo propaganda (DID-SP)

    (BERLINCK, DUARTE; OLIVEIRA, 2009BERLINCK, R.; DUARTE, M. E. L.; OLIVEIRA, M. Predicação. In: KATO, M.; DO NASCIMENTO, M. (org.). Gramática do Português culto falado no Brasil. Campinas: Ed. da Unicamp, 2009. v. 3. p. 97-188., p. 127)

  • (13)
    1. O ônibus disparou a aceleração (Rádio CBN)

    2. O Fluminense faltou sorte no segundo tempo (Rádio CBN)

    (BERLINCK, DUARTE; OLIVEIRA, 2009BERLINCK, R.; DUARTE, M. E. L.; OLIVEIRA, M. Predicação. In: KATO, M.; DO NASCIMENTO, M. (org.). Gramática do Português culto falado no Brasil. Campinas: Ed. da Unicamp, 2009. v. 3. p. 97-188., p. 128)

Para as autoras, a emergência do tópico sujeito no PB estaria relacionada a duas propriedades desta gramática. A primeira é a sua orientação para o discurso, ou seja, a propriedade de as operações sintáticas serem motivadas por funções discursivas (LI; THOMPSON, 1976LI, C. N.; THOMPSON, S. A. Subject and topic A new typology of language. In: LI, C. N. (ed.). Subject and topic. New York Academic Press, 1976. p. 457-489.). A segunda propriedade é a preferência por sujeitos pronominais preenchidos que estaria acarretando na posição de [Spec-TP] ocupada por um sujeito referencial diante de verbos inacusativos e impessoais.

Nossa proposta, entretanto, é a de que a motivação para o movimento do item [+possuidor] para [Spec-TP] seja a necessidade de checagem do Caso por este DP. Deste modo, a operação mover é desencadeada por requisitos sintáticos. A fim de desenvolver esta análise, na próxima seção, caracterizaremos o tópico sujeito como uma construção de posse externa e a seguir proporemos uma análise de cunho Minimalista a partir desta primeira premissa.

O tópico sujeito como posse externa

A sintaxe das expressões que indicam posse se subdivide em três formas: pronome possessivo, conforme os exemplos em (14); posse interna em que o item com o papel temático de [+possuidor] é c-comandado pelo item [+possuído], conforme o exemplo em (15); e, por fim, uma estrutura de posse externa em que os DPs [+possuidor] e [+possuído] não ocupam o mesmo nível na hierarquia sintática, como pode ser visto no exemplo (16).

  • (14)

    O meu carro

  • (15)

    O carro da menina

  • (16)
    • a.

      Comprei-lhe o carro

    • a’.

      Comprei o carro dela.

Conforme dissemos anteriormente, nossa proposta é a de que, no tópico sujeito, a relação [possuído-possuidor] seja expressa a partir de uma estrutura de posse externa. Por isso, nesta seção, apresentaremos somente as propriedades morfossintáticas deste tipo de construção sintática. Ela se caracteriza por ocorrer com verbos intransitivos/inacusativos, transitivos e ditransitivos e, segundo Payne e Barshi (1999)PAYNE, D. L.; BARSHI, I. External possession: what, where, how and why. In: PAYNE, D. L.; BARSHI, I. (ed.). External possession. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1999. p. 3-29., o DP [+possuidor] pode ser expresso como sujeito, objeto direto ou por um dativo, mas, dificilmente, por um PP. Além disso, em algumas gramáticas, este DP pode simultaneamente ser expresso por um pronome ou por um afixo interno ao DP que contém o item [+possuído]. Em geral, a expressão da posse externa se dá por meio de três tipos de itens lexicais: morfemas aplicativos, clíticos ou DPs plenos/ nus. A variação nas possibilidades de marcação de uma relação de posse externa está ligada às propriedades sintáticas de cada gramática. Por exemplo, em Catalão, como vemos em (17), há posse externa com o clítico, “li”.

Em (17a-b), há o alçamento do DP [+possuidor] para a posição de tópico da sentença, conforme demonstram as representações sintáticas em (18). Além da realização do item [+possuidor] com o Caso Dativo, há o clítico adjacente ao verbo que garante o estatuto de posse externa à construção visto que, por definição, essas construções ocorrem quando um termo ligado ao DP pós-verbal passa a se relacionar sintaticamente com o verbo.

  • (17)
    1. A aquest cotxe li falla el carburador.

      A aquele carro lhe falhou o caburador.

      PB: Àquele carro falhou o carburador

    2. A Joan li suen las mans.

      A Joan lhe suam as mãos

      PB: Suam as mãos do Juan

    (PICALLO; RIGAU, 1999PICALLO, C.; RIGAU, G. El posesivo y las relaciones de posesivas. In: BOSQUE, I.; DEMONTE, V. (org.). Gramática descriptiva de la lengua española. Madrid: Espasa Calpe, 1999. p. 973-1024., p. 240)

  • (18)

Por outro lado, em (19), há um clítico dativo junto ao verbo, mas não há uma construção em que dois itens marquem a posse externa como ocorre em (17a-b), ou seja, não há redobro.

(19) L’ accident li va desfigurar la cara (PICALLO; RIGAU, 1999, p. 241) O acidente lhe desfigurou o rosto PB: O Acidente desfigurou o rosto dele. b.

Em construções como (17a-b), os autores assumem que o clítico, em geral com o Caso dativo, é um morfema aplicativo4 4 “O aplicativo é geralmente entendido como uma construção em que um verbo carrega um morfema específico que licencia um oblíquo, ou um não nuclear, argumento que de outra forma não seria considerado uma parte do argumento verbal.” (JEONG, 2007, p.2, tradução nossa). Original: “The applicative is usually understood as a construction in which a verb bears a specific morpheme which licenses an oblique, or non core, argument that would not otherwise be considered a part of the verb's argument structure.” (JEONG, 2007, p. 2). , visto que, a única função é marcar a emergência de uma nova estrutura sintática em que o verbo “passa” a ter um “novo argumento”. Em (19), o clítico é o único item na derivação com o papel temático de [+possuidor]. Neste caso, não pode ser considerado um morfema aplicativo.

A posse externa no Português Europeu5 5 Agradecemos os pareceristas que indicaram a leitura de Torres-Morais e Lima-Salles (2016), um artigo que muito contribuiu com a discussão que apresentamos neste trabalho. A partir desta leitura, foi possível aprofundar a comparação entre a posse externa no português europeu e no português brasileiro.

A posse externa também é observada no português europeu (MIGUEL, GONÇALVES; DUARTE, 2011MIGUEL, M.; GONÇALVES, A.; DUARTE, I. Dativos não argumentais em Português. In: COSTA, A.; FALÉ, I.; BARBOSA, P. (org.). Textos Seleccionados do XXVI Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística. Lisboa: APL, 2011. p. 388-400.; TORRES-MORAIS; LIMA-SALLES, 2016TORRES MORAIS, M. A.; SALLES, H. M. The external possessor construction in European Portuguese and Brazilian Portuguese. In: KATO, M.; ORDÓNEZ, F. (org.). The morphosyntax of Portuguese and Spanish in Latin America. New York: Oxford University Press, 2016. p. 204-235.). Nas sentenças em (20), estão listados os três tipos de estruturas sintáticas que podem expressar a posse nesta gramática. Em (20a), há a estrutura de posse interna, isto é, o DP [+possuidor] é c-comandado pelo DP [+possuído]. Nesta estrutura sintática, há a preposição genitiva “de”. Portanto, esta é uma construção em que o papel temático de possuidor se torna visível a partir da checagem do Caso genitivo. Em (20b), também há posse interna, mas, neste caso, a preposição é “a”, e carrega os traços do Caso Dativo.

Em (20c), há posse externa. Isto significa que tal qual ocorre no catalão, há um clítico – lhe – que tem o papel temático de [+possuidor] e checa o Caso Dativo, em uma estrutura sintática em que o DP [+possuído] e o DP [+possuidor] não estão contíguos.

  • (20)
    1. O professor avaliou as provas dos estudantes.

    2. O professor avaliou as provas aos estudantes.

    3. O professor avaliou-lhes as provas.

    (MIGUEL, GONÇALVES; DUARTE, 2011MIGUEL, M.; GONÇALVES, A.; DUARTE, I. Dativos não argumentais em Português. In: COSTA, A.; FALÉ, I.; BARBOSA, P. (org.). Textos Seleccionados do XXVI Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística. Lisboa: APL, 2011. p. 388-400., p. 390)

Torres-Morais e Lima Salles (2016)TORRES MORAIS, M. A.; SALLES, H. M. The external possessor construction in European Portuguese and Brazilian Portuguese. In: KATO, M.; ORDÓNEZ, F. (org.). The morphosyntax of Portuguese and Spanish in Latin America. New York: Oxford University Press, 2016. p. 204-235., ao analisarem a posse externa no português europeu, demonstram que a morfossintaxe deste tipo de construção envolve sempre verbos dinâmicos, tais quais, lavar e beijar ou verbos estativos como interpretar e avaliar.

  • (21)
    1. O João beijou-lhe a mão.

    2. O João lavou-lhe o carro

  • (22)
    1. O psicanalista interpretou-lhe os sonhos

    2. O professor avaliou-lhes os textos

    (TORRES-MORAIS; LIMA-SALLES, 2016TORRES MORAIS, M. A.; SALLES, H. M. The external possessor construction in European Portuguese and Brazilian Portuguese. In: KATO, M.; ORDÓNEZ, F. (org.). The morphosyntax of Portuguese and Spanish in Latin America. New York: Oxford University Press, 2016. p. 204-235., p. 207)

Cabe salientar que, na gramática do português europeu, há uma competição entre as construções de posse com genitivo e com o dativo. Além das diferenças sintáticas e morfológicas listadas anteriormente, é preciso salientar que há distintas expressões semânticas entre a posse com genitivo e com dativo, em especial, em uma estrutura sintática de não contiguidade, como é a posse externa.

Segundo Torres-Morais e Lima-Salles (2016)TORRES MORAIS, M. A.; SALLES, H. M. The external possessor construction in European Portuguese and Brazilian Portuguese. In: KATO, M.; ORDÓNEZ, F. (org.). The morphosyntax of Portuguese and Spanish in Latin America. New York: Oxford University Press, 2016. p. 204-235., os falantes nativos do português europeu apontam uma pequena diferença entre as construções de posse externa e aquelas que envolvem o genitivo de posse. Em sentenças como (23), independente do Caso sintático, o constituinte “o João” – representado sob a forma nominal ou pronominalizado - é interpretado como o [+possuidor]. A diferença está no constituinte sobre o qual recai o traço de foco: na construção dativa, o foco recai sobre o [+possuidor], por outro lado, na construção genitiva, o foco recai sobre o [+possuído].

  • (23)
    1. A Maria admira o talento do João

    2. A Maria admira-lhe o talento.

Altera-se também, nesta configuração, o constituinte que atua como especificador. Em (23a), na posse genitiva, o termo que especifica é o item [+possuidor]; em (23b), na posse externa com dativo, o termo que especifica é o item [+possuído]. Esta interpretação semântica é oriunda do traço de beneficiário/afetado que o Caso Dativo expressa seja em contextos em que o item que o checa é o objeto indireto ou o adjunto do nome.

A morfossintaxe da expressão da posse no português europeu está relacionada ao sistema pronominal desta gramática. Nela, há um quadro rico de pronomes clíticos em todas as pessoas. Em especial, na terceira pessoa, o pronome dativo é observado tanto em contextos de objeto indireto quanto em construções de posse externa, onde atua como adjunto do nome.

O fato é que o sistema rico de clíticos do português europeu é relevante para justificar a produtividade das construções de posse externa. É preciso ressaltar, entretanto, que um item possuidor não contíguo ao possuído também é observado em construções em que o possuidor está na posição de sujeito, como nos exemplos em (24).

  • (24)
    1. A criança lavou a mão.

    2. As crianças levantaram as mãos para chamar a atenção do professor.

Há, portanto, no português europeu duas construções de posse externa, sempre em contextos de verbos transitivos: na primeira o DP [+possuidor] é um clítico que checa o Caso Dativo e na segunda, o DP [+possuidor] é uma expressão nominal que checa o Caso Nominativo.

Vejamos, na próxima seção, como a construção de posse externa se configura no Português Brasileiro, uma gramática com um sistema de clíticos muito diferente do português europeu, especialmente, em relação à terceira pessoa.

A posse externa no português brasileiro

Nas duas seções anteriores, apresentamos dados que mostram ser a posse externa gramatical em duas línguas românicas: o catalão e o português europeu. Esta construção também é observada no espanhol (CUERVO, 2003CUERVO, M. C. Datives at large. 2003. 212f. Tese (Doutorado em Linguística) - Massachusetts Institute of Technology, Cambridge, 2003.; DEMONTE, 1995DEMONTE, V. Dative alternation in Spanish. Probus, Bad Feilnbach, v. 7, n. 1, p. 5-30, 1995.) e no francês (VERGNAUD; ZUBIZARRETA, 1992VERGNAUD, J. R.; ZUBIZARRETA, M. L. The definite determiner and inalienable constructions in French and in English. Linguistic inquiry, Cambridge, v. 23, n. 4, p. 595–652, 1992.), conforme os exemplos (25) e (26) abaixo.

  • (25)
    1. El medico le examino la garganta.

      PB: O médico lhe examinou a garganta

    2. El nino lavó la mano

      PB: A criança lavou a mão

  • (26)
    1. Le médecin leur a examiné la gorge.

      PB: O médico lhe examinou a garganta

    2. L'enfant lavé la main.

      PB: A criança lavou a mão.

Observemos que nos dados listados até aqui, independente da gramática, a posse externa ocorre em contextos de verbos transitivos em que há um clítico dativo como [+possuidor] ou um DP nominativo com este mesmo papel temático. No PB, a morfossintaxe deste tipo de construção é distinta, pois só há posse externa se o DP [+possuidor] checar o Caso Nominativo. Em (27), há um verbo transitivo cujo sujeito é [+possuidor] e não está contíguo ao item [+possuído].

  • (27)
    1. As crianças lavaram a mão.

    2. A menina arrumou o cabelo.

Chappell (1999)CHAPPELL, H. The double unaccusative construction in sinitic languages. In: PAYNE, D. L.; BARSHI, I. (ed.). External possession. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1999. descreve, a partir do cantonês – uma língua da família Sinítica – outra construção em que os nomes da relação possessiva ocupam constituintes distintos na hierarquia sintática. Em tais construções, o DP [+possuidor] preenche a posição de sujeito, enquanto o termo [+possuído] permanece na posição canônica de objeto, conforme pode ser visto no exemplo (28).

(28)6 a. Poh 1 sue 6 lok 6 joh 2 ho 2 doh 1 yip 6 CLASSREF tree fall PERF very many 7 leaf “That tree has lost many leaves” [Literalmente: The tree fell very many leaves] PB: A árvore caiu muita folha

(CHAPPELL, 1999CHAPPELL, H. The double unaccusative construction in sinitic languages. In: PAYNE, D. L.; BARSHI, I. (ed.). External possession. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1999., p. 95)

(29) Nome[possuidor] Verbo[intransitivo]8 Nome[possuído/partes]

No PB, as construções de tópico sujeito exibem exatamente a estrutura descrita por Chappell (1999)CHAPPELL, H. The double unaccusative construction in sinitic languages. In: PAYNE, D. L.; BARSHI, I. (ed.). External possession. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1999. para o cantonês, isto é, o item [+possuído] está abaixo de VP e o item [+possuidor] está acima de VP, na posição de sujeito, [Spec-TP], conforme representamos em (30b).

  • (30)
    1. [+ parte/possuidor]O celular acabou a bateria[+todo/possuído]

Dado que o tópico sujeito contempla esta primeira característica da posse externa, é preciso observar as demais propriedades morfossintáticas desse tipo de estrutura. Sabemos, desde Pontes (1987)PONTES, E. O tópico no português brasileiro. Campinas: Pontes, 1987., que, no PB, o único tipo de predicador que admite o tópico sujeito é o inacusativo. Além disso, as construções de tópico sujeito só são gramaticais nos casos de posse inalienável, conforme os exemplos em (31-32), podendo ocorrer tanto nas construções de expressão de partes do corpo quanto nas de partes/membros da família, como pode ser visto em (32).

  • (31)
    1. O bebê cresce a unha e arranha o rostinho todo. Tem que cortar a unha dele pra ele não machucar (Fala espontânea)

    2. A minha filha amadureceu a cabeça porque ficou grávida e teve que criar o meu neto. (Fala espontânea)

    3. A minha filha cresceu o cabelo muito rápido porque eu cortei o cabelo dela na lua crescente (Fala espontânea)

  • (32)
    1. Uma parenta dum amigo nosso morreu a avó. 9 9 Este dado foi produzido por uma senhora durante uma entrevista no palco do Programa Esquenta, apresentado por Regina Casé, na Rede Globo de Televisão. Disponível em: www.globo.com/esquenta/. Acesso em: 21 abr. 2013).

    2. sabe aquela dona gordinha, que morou aqui do lado um tempão? uma que a Elvira chamava de tia? então, o filho morreu.. (Fala espontânea)

Outro tipo de relação parte-todo – a chamada posse meronímica (KLEIBER, 2002KLEIBER, G. Indéfinis: lecture existentielle et lecture partitive. In: KLEIBER, G.; LACA, B.; TASMOWSKI, L. (ed.). Typologie des groupes nominaux. Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2002. p. 58-77.) – também pode aparecer nas construções de tópico sujeito do PB, tais como mostram os exemplos em (33). Neste tipo de estrutura, o DP que ocupa a posição de sujeito não possui um traço de animacidade [+animado] ou [+humano], prototípico do item [+possuidor]. Todavia, há uma relação de parte-todo, o que confere a sentenças como (33) a mesma estrutura sintática de construções em que há posse inalienável:

  • (33)
    1. O carro descarregou a bateria e eu não demorei pra sair de casa pra trabalhar (Fala espontânea)

    2. As árvore estragaram as fruta antes de amadurecer. Esse ano a gente tamo sem jambo e manga… (Fala espontânea, Brasil)

    3. Senhores pais, os computadores do colégio queimaram os monitores por conta da queda de energia ocorrida no último dia 26/05/2014 (Comunicado aos pais)

Payne e Barshi (1999)PAYNE, D. L.; BARSHI, I. External possession: what, where, how and why. In: PAYNE, D. L.; BARSHI, I. (ed.). External possession. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1999. p. 3-29. ressaltam outras características morfossintáticas da posse externa, tais como: (i) o tipo de predicado é, preferencialmente, [+eventivo] ou [+estativo], este último somente nos verbos inacusativos; (ii) é mais frequente quando o item [+possuidor] tem o traço de animacidade [+humano] ou [+animado]. Vejamos, então, algumas destas características na amostra deste trabalho.

No que concerne ao tipo de predicado, há dados tanto de predicados eventivos, (34), quanto de predicados estativos, como (35).

  • (34)
    1. A Manu nasceu o primeiro dentinho, estou muito feliz (Fala espontânea)

    2. O celular já carregou a bateria, já pode tirar do carregador. (Fala espontânea)

    3. A minha filha amadureceu a cabeça porque ficou grávida e teve que criar o meu neto. (Fala espontânea)

  • (35)
    1. O bebê cresce a unha e arranha o rostinho todo. Tem que cortar a unha dele pra ele não machucar (Fala espontânea, Brasil)

No que concerne ao traço de animacidade, os dados de tópico sujeito do PB revelam uma expansão do uso da construção de posse externa, visto que ela pode ocorrer com o DP [+possuidor] com traço [+humano] ou [+animado], mas também com traço [+inanimado], conforme podemos verificar em (36-38).

  • (36)
    1. Os adolescentes aparecem muitas espinhas no rosto por conta dos hormônios e isso acaba os deixando preocupados com a beleza (Fala espontânea)

    2. A Inoã caiu o cabelo todo porque ela usou um produto e dois dias depois passou outro. Ela veio aqui pedir socorro e eu tive que cortar muito. (Fala espontânea)

    3. Eu inflamei a garganta e não teve jeito fiquei três dias sem dar aula. (Fala espontânea)

  • (37)

    O cachorrinho lá de casa caiu o dentinho dentro do meu sapato (Fala espontânea)

  • (38)
    1. Senhores pais, os computadores do colégio queimaram os monitores por conta da queda de energia (Comunicado aos pais)

    2. Xiii….os carros arrebentaram o parachoque na batida. (Fala espontânea)

    3. [+possuidor] A parede caiu [+possuído] o reboco 10 10 Disponível em: https://d.facebook.com/jorgeeduardoeletricista220V/. Acesso em: 6 out. 2020.

Conforme salientam Payne e Barshi (1999)PAYNE, D. L.; BARSHI, I. External possession: what, where, how and why. In: PAYNE, D. L.; BARSHI, I. (ed.). External possession. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1999. p. 3-29., na posse externa, a presença da preposição, introduzindo o item [+possuidor], torna a sentença agramatical. Assim, a ausência da preposição – especificamente, no PB, “de” – tem algumas consequências importantes na derivação. A primeira destas é o item [+possuidor] não ser um PP, mas sim um DP. Isto posto, ele checa um Caso estrutural, que não pode ser o genitivo dada a ausência da preposição.

Assim, nossa proposta é a de que o tópico sujeito é uma estrutura de posse externa, em que o DP [+possuidor] checa o Caso Nominativo. Estamos, portanto, defendendo uma posição distinta a de Torres-Morais e Lima-Salles (2016)TORRES MORAIS, M. A.; SALLES, H. M. The external possessor construction in European Portuguese and Brazilian Portuguese. In: KATO, M.; ORDÓNEZ, F. (org.). The morphosyntax of Portuguese and Spanish in Latin America. New York: Oxford University Press, 2016. p. 204-235.. Para as autoras, o fato de a posse externa envolver um sistema de clítico rico faz com que no PB, ela seja restrita a textos escritos, prototípicos da gramática do letrado (KATO, 2005KATO, M. A gramática do letrado: questões para a teoria gramatical. In: MARQUES, M. A.; KOLLER, E.; TEIXEIRA, J.; LEMOS, A. S. (org.). Ciências da linguagem: 30 anos de investigação e ensino. Braga: Humanísticos (Universidade do Minho), 2005. p. 131-145.). Na nossa concepção, dadas as características da posse externa que o tópico sujeito mantém podemos dizer que a perda do sistema de clíticos de terceira pessoa acarreta em uma mudança neste tipo de construção. Ela deixa de ser expressa por um clítico e passa a ocorrer como um DP nominativo, na posição de sujeito, de verbos inacusativos. Logo, no PB, a posse externa está restrita aos contextos de nominativo. A partir desta observação, tecemos, na próxima seção, uma análise de cunho minimalista.

A proposta de análise formal para o tópico sujeito

Mediante à exposição e à argumentação apresentadas nas seções anteriores de que a posse externa é restrita, no PB, a sentenças em que há posse inalienável ou meronímica, assumimos para o desenvolvimento desta análise que é preciso considerar a estrutura sintática da posse inalienável. Para tanto, tomaremos a hipótese do DP de Abney (1987)ABNEY, S. The English noun phrase in its sentential aspect. 1987. 234f. Tese (Doutorado em Linguística) - Massachusetts Institute of Technology, Cambridge, 1987. que nos permite propor projeções de núcleos funcionais entre D e N. Assumiremos também partes das análises apresentadas por Andrade e Galves (2014)ANDRADE, A.; GALVES, C. A unified analysis for subject topics in Brazilian Portuguese. Journal of Portuguese Linguistics, Lisboa, v. 13, n. 1, p. 117-147, 2014., Alexiadou (2003)ALEXIADOU, A. Some notes on the structure of alienable and inalienable possessors. In: COENE, M.; D’HUST, Y. (ed.). From NP to DP: volume 2: the expression of possession in noun phrases. Amsterdam: John Benjamins, 2003. p. 167–188., bem como os pressupostos teóricos de Den Dikken (2006)DEN DIKKEN, M. Relators and linkers: the syntax of predication, predicate inversion, and copulas. Cambridge: MIT Press, 2006., no que concerne, especificamente, ao núcleo funcional RP (Relational phrase).

Andrade e Galves (2014) e Alexiadou (2003)ALEXIADOU, A. Some notes on the structure of alienable and inalienable possessors. In: COENE, M.; D’HUST, Y. (ed.). From NP to DP: volume 2: the expression of possession in noun phrases. Amsterdam: John Benjamins, 2003. p. 167–188. defendem que a sintaxe de construções com posse inalienável apresenta uma relação de predicação entre o DP [+possuidor] e o DP [+possuído] que é realizada por meio de uma small clause. A evidência estaria em construções como (39) em que, segundo Hornstein, Rosen e Uriagereka (2002), há uma ambiguidade sintática. Para os autores, uma sentença como (39) pode ter duas leituras. Na primeira expressa em (40a), há uma relação de parte-todo e na, segunda, (40b), entretanto, há uma relação de continência, ou seja, o motor Ford-T está contido no Saab ainda que este veículo seja produzido pela Ford.

  • (39)

    There is a Ford T engine in my Saab.

(40) a. My saab has a Ford T engine. PB: Meu saab tem um motor Ford-T b. (Located) In my saab is a Ford T engine. PB: (Locativo) No meu saab está um motor Ford-T (HORNSTEIN, ROSEN; URIAGEREKA, 2002, p. 179)

No PB, construções semelhantes a (40) são expressas em (41). Notemos que duas interpretações são possíveis para estas sentenças. Na primeira leitura, há uma relação de continência que pode ser observada a partir da paráfrase em (42a-c).

A segunda leitura, entretanto, é aquela em que de fato podemos fazer uma interpretação de parte-todo, como vemos nas paráfrases em (43).

  • (43)
    1. Quebrou [parte]a caixa de marcha [todo]do carro

    2. Fica caindo [parte]a net [todo]dessa merda de tablet toda hora.

    3. Falta [parte]freio [todo]do ônibus da 18 de Setembro.

A ambiguidade sintática verificada por Hornstein, Rosen e Uriagereka (2002)HORNSTEIN, N.; ROSEN, S.; URIAGEREKA, J. Integrals. In: NUNES, J. (ed.). Derivations: exploring the dynamics of syntax. London: New York: Routledge, 2002. p. 179–191. e nos dados de tópico sujeito do PB só pode ser o reflexo de duas derivações distintas. Em (43), podemos dizer que há uma relação de parte-todo em que ocorre uma small clause. Por outro lado, em (44), há a expressão de uma relação espacial que não, obrigatoriamente, é codificada por uma small clause. Assim, a derivação de uma construção como (44a), no PB, pode, inicialmente, ser representada como em (44b)

  • (44)
    1. A caixa de marcha do carro

Observemos que a proposta de uma small clause torna necessária a projeção de um núcleo que tenha os traços capazes de checar o Caso dos DPs envolvidos na derivação, especialmente, o DP [+possuidor]. Den Dikken (2006)DEN DIKKEN, M. Relators and linkers: the syntax of predication, predicate inversion, and copulas. Cambridge: MIT Press, 2006. propõe que em sentenças com posse inalienável há um núcleo RP (relational phrase) capaz de intermediar a relação entre os constituintes em uma relação de predicação. Neste núcleo funcional RP, os itens não precisam ocupar posições fixas e, portanto, o que determina a ordem destes DP é a relação de c-comando.

  • (45)

No português brasileiro, segundo Lunguinho (2006)LUNGUINHO, M. V. Partição de constituintes no português brasileiro: características sintáticas. In: SILVA, D. E. (org.). Língua, gramática e discurso. Goiânia: Cânone Editorial, 2006. p. 133-147., o DP [+possuidor] c-comanda o DP [+possuído] em construções de tópico sujeito. A evidência para essa afirmação está em construções com um quantificador flutuante como as expressas em (46). Observemos que em (46a) o DP “todos os carros” ocupa a posição de sujeito, [Spec-TP], tendo o quantificador “todos” passado pela operação mover junto com o DP “os carros”. Por outro lado, em (46b), o quantificador flutuante permanece in situ, abaixo de VP. Aqui é importante verificarmos que o quantificador está, em (46a-b), acima do DP com a relação de [+parte]. Por outro lado, em (46c), a única sentença agramatical, o quantificador flutuante está abaixo do DP que expressa a relação [+parte]. Há, portanto, uma evidência para afirmarmos que o DP [+possuidor/todo] c-comanda o DP [+possuído/parte].

  • (46)
    1. [todo] [quantificador]Todos os carros furaram [parte]o pneu dianteiro. (LUNGUINHO, 2006LUNGUINHO, M. V. Partição de constituintes no português brasileiro: características sintáticas. In: SILVA, D. E. (org.). Língua, gramática e discurso. Goiânia: Cânone Editorial, 2006. p. 133-147., p.142)

    2. [todo] Os carros furaram [quantificador]todos [parte]o pneu dianteiro.

    3. *[todo] Os carros furaram [parte]o pneu dianteiro [quantificador]todos.

Em virtude da relação de c-comando que verificamos no exemplo (46) a projeção dos DPs no núcleo RP só pode ser a expressa em (47). Por consequência, neste caso o DP [+possuidor] está na posição de [Spec-RP], ocupando, portanto, a borda da fase.

  • (47)

O fato de o DP [+possuidor] ocupar a borda da fase implica que somente ele pode ser movido para fora do núcleo RP já que, por questões de localidade, somente DPs que ocupam a borda da fase podem ultrapassar a barreira do DP. Esta, portanto, é uma justificativa para a agramaticalidade de sentenças como (48) em que o DP [+possuído] foi alçado para a posição de [Spec-TP].

  • (48)

    *Os pneus dianteiros furaram todos os carros.

Mas voltemos à construção de tópico sujeito. Dada a exposição que fizemos até este momento, no interior do núcleo funcional RP, os DPs estão dispostos conforme a representação em (49). Observemos em (49) que o núcleo R está vazio. Isso ocorre porque, segundo Den Dikken (2010)DEN DIKKEN, M. On the functional structure of locative and directional PPs. In: CINQUE, G.; RIZZI, L. (ed.). Mapping spatial PPs: the cartography of syntactic structures. Oxford: Oxford University Press, 2010. v. 6. p. 74-126., ele só pode ser preenchido por uma preposição. Como na numeração de sentenças com tópico sujeito não há uma preposição, este núcleo fica vazio.

  • (49)

Sem a preposição genitiva “de” o DP “o carro” não tem um Caso que possa ser checado em [Spec-RP] e deste modo o seu papel temático também não está visível para a Forma lógica. A saída, portanto, para a convergência da derivação desta sentença é o movimento do DP “o carro” para fora do núcleo RP. Nesta configuração, lembremos que em sentenças como (50) o verbo é monoargumental do tipo inacusativo:

  • (50)

    O carro quebrou a caixa de marcha.

A estrutura sintática de um verbo inacusativo implica que o DP sujeito se concatena, primeiramente, em [Comp-VP], mas o Caso Nominativo só é checado a partir das operações de Probe e Goal, visto que ele se encontra em [Spec-TP]. Logo, o DP “o carro” precisa passar pela operação de movimento a fim de checar o Caso Nominativo. Ao checá-lo, o DP valora as condições de visibilidade, tornando visível para FL (Fórmula lógica) o papel temático de [+possuidor].

Cabe, por fim, mencionarmos que estando em uma small clause o Caso do DP [+possuído] precisa ser o mesmo do DP [+possuidor] dada a estrutura sintática desse tipo de sentença em que o predicador é um nome, neste caso o DP [+possuído]. Vejamos, por fim, a proposta de derivação do tópico sujeito em (51):

  • (51)

Em síntese, o DP [+possuidor] nasce na posição de [Spec-RP], ocupando, portanto, a borda da fase deste núcleo funcional. Como R está vazio, dado que na numeração não há a preposição “de”, este DP é alçado para [Spec-TP] onde checa o Caso Nominativo e estabelece com o verbo uma relação de concordância. O DP [+possuído], por outro lado, tem o seu papel temático visível para a forma lógica porque checa o Caso Nominativo oriundo da estrutura predicativa presente na small clause.

A operação mover ocorre, portanto, para cumprir requisitos sintáticos, especificamente: checagem de Caso a fim de que o papel temático se torne visível para Forma Lógica. Cabe, então, ressaltar uma questão: seria o tópico sujeito uma construção que evidencia que o PB é uma língua voltada para o discurso, como tem sido proposto na literatura (PONTES, 1987PONTES, E. O tópico no português brasileiro. Campinas: Pontes, 1987.), ou, a partir de uma análise como a nossa, é possível questionar essa proposta e traçar outro caminho de análise cujo fundamento está em observar características que evidenciem que o Português Brasileiro não é uma língua voltada para o discurso.

Considerações Finais

Os primeiros trabalhos a identificar a construção de tópico sujeito como genuína do português brasileiro apresentavam uma abordagem funcionalista e a descreviam como um tipo de tópico marcado (PONTES, 1986PONTES, E. Sujeito: Da sintaxe ao discurso. São Paulo: Ática, 1986., 1987PONTES, E. O tópico no português brasileiro. Campinas: Pontes, 1987.). Pontes afirmava que o item que ocupa a posição anteposta ao verbo, nesse tipo de sentença, sofrera um processo de gramaticalização, caracterizado pelo fato de que o tópico passara também a exercer a função de sujeito. Após o singular trabalho de Pontes, muitos outros pesquisadores se debruçaram e ainda se debruçam sobre as construções de tópico sujeito do Português Brasileiro (LUNGUINHO, 2006LUNGUINHO, M. V. Partição de constituintes no português brasileiro: características sintáticas. In: SILVA, D. E. (org.). Língua, gramática e discurso. Goiânia: Cânone Editorial, 2006. p. 133-147.; AVELAR; GALVES, 2013AVELAR, J.; GALVES, C. Concordância locativa no português brasileiro: questões para a hipótese do contato. In: MOURA, M. D.; SIBALDO, M. A. (org.). Para a História do Português Brasileiro. Maceió: Edufal, 2013. p. 103-132.; MELO, 2015MELO, E. A. S. Construções de tópico sujeito: um caso de mudança na expressão da posse externa no PB. 2015. 180f. Tese (Doutorado em Letras Vernáculas) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.). Nosso trabalho se insere neste grupo, como mais um que busca descrever as propriedades desta construção que diferencia o português brasileiro, como vimos, não apenas do português europeu, mas também de outras línguas românicas.

Neste ponto é importante ressaltar a comparação apresentada entre as construções de posse externa de cinco línguas românicas: o português europeu, o português brasileiro, o catalão, o francês e o espanhol. A gramática do PB é a única que apresenta posse externa somente em construções em que o DP [+possuidor] é uma expressão referencial que ocupa a posição de sujeito, em sentenças com verbo inacusativo.

Além disso, podemos dizer que este trabalho contribui com mais uma análise que descreve, formalmente, uma construção típica do português brasileiro. A partir de uma abordagem morfossintática, mostramos que o tópico sujeito é um tipo de estrutura sintática cuja numeração não apresenta uma preposição capaz de checar o Caso genitivo. A ausência da preposição torna necessário o alçamento do DP [+possuidor] para uma posição em que o Caso possa ser checado e as condições de visibilidade satisfeitas a fim de que o papel temático de [+possuidor] fique visível.

É fundamental que novos passos sejam dados no desenvolvimento desta pesquisa. Para tanto, é preciso verificar se a análise formal apresentada para as construções de tópico sujeito que envolvem as relações de posse ou parte-todo, também pode ser aplicada ao tópico sujeito que envolve o alçamento do item com o papel temático de locativo. É preciso também avançar na discussão sobre a relevância do tópico sujeito para a descrição do PB como uma língua de tópico ou de sujeito predicado, bem como é preciso desenvolver o trabalho diacrônico que relaciona a emergência do tópico sujeito no português brasileiro à mudança no sistema pronominal desta gramática que se caracteriza por não apresentar clíticos de terceira pessoa, tornando restritas as construções com posse externa que envolvem um clítico dativo com traço [+possuidor].

  • 1
    Neste artigo, apresentamos parte dos resultados da Tese de Doutorado de Elaine Alves Santos Melo, que foi bolsista de Doutorado pelo CNPq, bem como recebeu uma Bolsa de Doutorado Sanduíche, fomentada pela CAPES. Os respectivos números dos processos estão listados a seguir: CNPq 140493/2013-1 e PDSE 5894/13-1. Este artigo também foi fomentado por um bolsa do CNPq 311045/2016-2.
  • 2
    Original: “We take core instances of external possession to be constructions in which a semantic possessor-possessum relation is expressed by coding the possessor as a core grammatical relation of the verb and in a constituent separate from that which contains the possessum” (PAYNE; BARSHI, 1999PAYNE, D. L.; BARSHI, I. External possession: what, where, how and why. In: PAYNE, D. L.; BARSHI, I. (ed.). External possession. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1999. p. 3-29., p.3).
  • 3
    Na gramática do PE, também são produtivas construções em que um constituinte com função oblíqua aparece sem preposição na posição de [Spec-CP].
    • (i)
      1. Cenas dessas, não precisamos [-].

      2. Essa conferência, não assisti [-].

  • 4
    “O aplicativo é geralmente entendido como uma construção em que um verbo carrega um morfema específico que licencia um oblíquo, ou um não nuclear, argumento que de outra forma não seria considerado uma parte do argumento verbal.” (JEONG, 2007JEONG, Y. Applicatives: structure and interpretation from a minimalist perspective. 7. ed. Amsterdam: John Benjamins, 2007., p.2, tradução nossa).
    Original: “The applicative is usually understood as a construction in which a verb bears a specific morpheme which licenses an oblique, or non core, argument that would not otherwise be considered a part of the verb's argument structure.” (JEONG, 2007JEONG, Y. Applicatives: structure and interpretation from a minimalist perspective. 7. ed. Amsterdam: John Benjamins, 2007., p. 2).
  • 5
    Agradecemos os pareceristas que indicaram a leitura de Torres-Morais e Lima-Salles (2016)TORRES MORAIS, M. A.; SALLES, H. M. The external possessor construction in European Portuguese and Brazilian Portuguese. In: KATO, M.; ORDÓNEZ, F. (org.). The morphosyntax of Portuguese and Spanish in Latin America. New York: Oxford University Press, 2016. p. 204-235., um artigo que muito contribuiu com a discussão que apresentamos neste trabalho. A partir desta leitura, foi possível aprofundar a comparação entre a posse externa no português europeu e no português brasileiro.
  • 6
    Chappell (1999)CHAPPELL, H. The double unaccusative construction in sinitic languages. In: PAYNE, D. L.; BARSHI, I. (ed.). External possession. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1999. não identifica o que sejam os índices acima de cada vocábulo em cantonês.
  • 7
    Na glosa proposta por Chappell (1999)CHAPPELL, H. The double unaccusative construction in sinitic languages. In: PAYNE, D. L.; BARSHI, I. (ed.). External possession. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1999., os vocábulos “ho” e “doh” são traduzidos respectivamente por “very” e “many”. No português, a tradução para os dois advérbios é a mesma “muito”.
  • 8
    Chappell (1999)CHAPPELL, H. The double unaccusative construction in sinitic languages. In: PAYNE, D. L.; BARSHI, I. (ed.). External possession. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1999. adota o termo “intransitivo” em uma perspectiva bem geral em que este significa um predicador monoargumental. O autor não faz, no trecho citado, menção à dicotomia “inacusativo/ergativo x intransitivo/inergativo”]
  • 9
    Este dado foi produzido por uma senhora durante uma entrevista no palco do Programa Esquenta, apresentado por Regina Casé, na Rede Globo de Televisão. Disponível em: www.globo.com/esquenta/. Acesso em: 21 abr. 2013).
  • 10
    Disponível em: https://d.facebook.com/jorgeeduardoeletricista220V/. Acesso em: 6 out. 2020.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Nov 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    20 Jul 2018
  • Aceito
    02 Out 2019
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