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ORGANIZAÇÃO SOCIORRETÓRICA BIDIMENSIONAL DO GÊNERO DIGITAL HOMEPAGE EM DISCIPLINAS DE CURSO ONLINE1 1 Este artigo é parte de uma pesquisa realizada com apoio da FUNDASP-PUC/SP.

RESUMO:

Neste trabalho, analisamos como se constitui a organização sociorretórica das homepages de disciplinas online na perspectiva da análise bidimensional de gêneros (ASKEHAVE; NIELSEN, 2004ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6).). Em Crescitelli e Campos (2015)CRESCITELLI, M. F. C.; CAMPOS, K. S. R. Organização de material didático virtual na homepage. Linha D´Água, São Paulo, v.28, n.1, p.5-25, jun. 2015., analisamos homepages de disciplinas de curso de graduação a distância com base em Swales (1990)SWALES, J. M. Genre analysis: English in academic and research setting. Cambridge: Cambridge University Press, 1990., examinando sua organização sociorretórica e levantando passos e movimentos retóricos que as constituíam. Aqui, examinamos as mesmas homepages na perspectiva bidimensional, verificando, nos modos de leitura e navegação, propósitos comunicativos, unidades funcionais (movimentos retóricos e links) e estratégias retóricas empregadas para o alcance deles. No caso dos links, fundamentamo-nos na teoria de sequências textuais de Adam (1992)ADAM, J. M. Les textes, types et prototypes: récit, description, argumentation, explication et dialogue. Paris: Nathan, 1992. e examinamos as sequências predominantes na articulação das lexias hipertextuais. Pautamo-nos em estudos de gênero como ação social (MILLER, 2009aMILLER, C. R. Gênero como ação social. Tradução de Judith Hoffnagel. In: DIONÍSIO, A. P.; HOFFNAGEL, J. C. (org.). Gênero textual, agência e tecnologia. Organização de Angela Paiva Dionísio e Judith Chambliss Hoffnagel. Recife: Ed. da UFPE, 2009a. p.21-44. Título original: Genre as social action. Quarterly Journal of Speech, p.151-167, May 1984., 2009bMILLER, C. R. Comunidade retórica: a base cultural dos gêneros. Tradução de Ana Regina Vieira e Judith Hoffnagel. In: DIONÍSIO, A. P.; HOFFNAGEL, J. C. (org.). Gênero textual, agência e tecnologia. Organização de Angela Paiva Dionísio e Judith Chambliss Hoffnagel. Recife: Ed. da UFPE, 2009b. p.45-58. Título original: Rhetorical community: the cultural basis of genre. Trabalho apresentado no Re-Thinking Genre Seminar, Universidade de Carleton, Ottwa, 1992., 2009cMILLER, C. R. Blogar como ação social: uma análise do gênero weblog. Tradução de Leonardo Mozdzenki e Judith Hoffnagel. In: DIONÍSIO, A. P.; HOFFNAGEL, J. C. (org.). Gênero textual, agência e tecnologia. Recife: Ed. da UFPE, 2009c. p.61-92. Texto original: MILLER, C. R.; SHEPHERD, D. Blogging as social action: a genre analysis of the weblog. In: GURAK, L.; ANTONIJEVIC, S.; JOHNSON, L. RATLIFF, C.; REYMAN, J. (ed.). Into the blogosphere: rethoric, community and culture of weblogs. Minneapolis: University of Minnesota Libraries, 2004.; BAZERMAN, 2006BAZERMAN, C. A vida do gênero, a vida na sala de aula. In: HOFFNAGEL, J. C.; DIONÍSIO, A. P. (org.). Gênero, agência e escrita. Tradução e adaptação Judith Chambliss Hoffnagel. São Paulo: Cortez, 2006. p.23-34. Título original: The life of genre, the life in the classroom. In: BISHOP, W.; OSTROM, H. (ed.). Genre and writing. Boynton: Cook, 1997. p.19-26., 2009aBAZERMAN, C. Atos de fala, gêneros textuais e sistemas de atividades: como os textos organizam atividades e pessoas. In: DIONÍSIO, A. P.; HOFFNAGEL, J. C. (org.). Gêneros textuais, tipificação e interação. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2009a. p.19-46. Título original: Speech acts, genres and activity systems: how texts organize activity and people. In: BAZERMAN, C. What writing does and how it does it: an introduction to analyzing texts and textual practices. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, 2004. p.309-339., 2009bBAZERMAN, C. Formas sociais como habitats para ação. In: DIONÍSIO, A. P.; HOFFNAGEL, J. C. (org.). Gêneros textuais, tipificação e interação. Tradução e adaptação Judith Chambliss Hoffnagel. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2009b. p.47-61. Título original: Social forms as habitats for action. Ensaio apresentado no encontro de 1994 da Modern Language Association.; SWALES, 1990SWALES, J. M. Genre analysis: English in academic and research setting. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.; BHATIA, 1993BHATIA, V. K. Approach to genre analysis. Analysing genre: language use in professional settings. London: Longman, 1993.); gênero textual digital (MARCUSCHI, 2010MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: MARCUSCHI, L. A.; XAVIER, A. C. (org.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. São Paulo: Cortez, 2010. p.15-80, 2010. Título da 1ª. edição: Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.; ASKEHAVE; NIELSEN, 2004ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6).) e hipertexto (LEMKE, 2002LEMKE, J. L. Travels in hypermodality. Visual Communication, London, v.1, n.3, p.299-325, 2002. Disponível em: http://hem.bredband.net/sigrunr/lemke02hyper.pdf. Acesso em: 07 jun. 2012.
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; FINNEMANN, 1999FINNEMANN, N. O. Hypertext and representational capacities of the binary alphabet. [S.l: s.n], 1999. Disponível em: http://www.hum.au.dk/ckulturf/pages/publications/nof/hypertext.htm. Acesso em: 13 dez. 2012.
http://www.hum.au.dk/ckulturf/pages/publ...
). Trata-se de estudo de caso, com observação e descrição de um fenômeno em contexto específico (MARTINS, 2008MARTINS, G. A. Estudo de caso: uma estratégia de pesquisa. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2008.; YIN, 2005YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e método. Tradução de Daniel Grassi. 3.ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. Título original: Case study research: design and methods. California: Sage Publications, 2003., 1984YIN, R. K. Case study research. California: Sage Publications, 1984.; TRIVIÑOS, 1987TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.). Os resultados obtidos demonstram que conhecer a organização sociorretórica do gênero homepage propicia a organização de conteúdo pedagógico mais voltada aos interesses e às necessidades dos usuários, contribuindo para o envolvimento do aluno com o processo educacional.

PALAVRAS-CHAVE:
Organização sociorretórica; Gênero textual digital; Homepage

ABSTRACT:

In this work, we analyze the sociorhetorical organization of homepages in online disciplines within a two-dimensional perspective on genre analysis (ASKEHAVE; NIELSEN, 2004ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6).). In Crescitelli and Campos (2015)CRESCITELLI, M. F. C.; CAMPOS, K. S. R. Organização de material didático virtual na homepage. Linha D´Água, São Paulo, v.28, n.1, p.5-25, jun. 2015., we analyzed homepages of a distance undergraduate course based on Swales (1990)SWALES, J. M. Genre analysis: English in academic and research setting. Cambridge: Cambridge University Press, 1990., examining their sociorhetorical organization and the steps and rhetorical moves that constituted them. Now, we examine the same homepages in a two-dimensional perspective, in order to investigate, in the reading and navigating modes, the communicative purposes and the functional units (rhetorical moves and links) and the rhetorical strategies employed to fulfil them. As for the links, we draw on Adam's (1992)ADAM, J. M. Les textes, types et prototypes: récit, description, argumentation, explication et dialogue. Paris: Nathan, 1992. textual sequence theory and examine the predominant sequences in the articulation of hypertextual lexies. We focus on studies of genre as social action (MILLER, 2009aMILLER, C. R. Gênero como ação social. Tradução de Judith Hoffnagel. In: DIONÍSIO, A. P.; HOFFNAGEL, J. C. (org.). Gênero textual, agência e tecnologia. Organização de Angela Paiva Dionísio e Judith Chambliss Hoffnagel. Recife: Ed. da UFPE, 2009a. p.21-44. Título original: Genre as social action. Quarterly Journal of Speech, p.151-167, May 1984., 2009bMILLER, C. R. Comunidade retórica: a base cultural dos gêneros. Tradução de Ana Regina Vieira e Judith Hoffnagel. In: DIONÍSIO, A. P.; HOFFNAGEL, J. C. (org.). Gênero textual, agência e tecnologia. Organização de Angela Paiva Dionísio e Judith Chambliss Hoffnagel. Recife: Ed. da UFPE, 2009b. p.45-58. Título original: Rhetorical community: the cultural basis of genre. Trabalho apresentado no Re-Thinking Genre Seminar, Universidade de Carleton, Ottwa, 1992., 2009cMILLER, C. R. Blogar como ação social: uma análise do gênero weblog. Tradução de Leonardo Mozdzenki e Judith Hoffnagel. In: DIONÍSIO, A. P.; HOFFNAGEL, J. C. (org.). Gênero textual, agência e tecnologia. Recife: Ed. da UFPE, 2009c. p.61-92. Texto original: MILLER, C. R.; SHEPHERD, D. Blogging as social action: a genre analysis of the weblog. In: GURAK, L.; ANTONIJEVIC, S.; JOHNSON, L. RATLIFF, C.; REYMAN, J. (ed.). Into the blogosphere: rethoric, community and culture of weblogs. Minneapolis: University of Minnesota Libraries, 2004.; BAZERMAN, 2006BAZERMAN, C. A vida do gênero, a vida na sala de aula. In: HOFFNAGEL, J. C.; DIONÍSIO, A. P. (org.). Gênero, agência e escrita. Tradução e adaptação Judith Chambliss Hoffnagel. São Paulo: Cortez, 2006. p.23-34. Título original: The life of genre, the life in the classroom. In: BISHOP, W.; OSTROM, H. (ed.). Genre and writing. Boynton: Cook, 1997. p.19-26., 2009aBAZERMAN, C. Atos de fala, gêneros textuais e sistemas de atividades: como os textos organizam atividades e pessoas. In: DIONÍSIO, A. P.; HOFFNAGEL, J. C. (org.). Gêneros textuais, tipificação e interação. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2009a. p.19-46. Título original: Speech acts, genres and activity systems: how texts organize activity and people. In: BAZERMAN, C. What writing does and how it does it: an introduction to analyzing texts and textual practices. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, 2004. p.309-339., 2009bBAZERMAN, C. Formas sociais como habitats para ação. In: DIONÍSIO, A. P.; HOFFNAGEL, J. C. (org.). Gêneros textuais, tipificação e interação. Tradução e adaptação Judith Chambliss Hoffnagel. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2009b. p.47-61. Título original: Social forms as habitats for action. Ensaio apresentado no encontro de 1994 da Modern Language Association.; SWALES, 1990SWALES, J. M. Genre analysis: English in academic and research setting. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.; BHATIA, 1993BHATIA, V. K. Approach to genre analysis. Analysing genre: language use in professional settings. London: Longman, 1993.), digital textual genre (MARCUSCHI, 2010MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: MARCUSCHI, L. A.; XAVIER, A. C. (org.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. São Paulo: Cortez, 2010. p.15-80, 2010. Título da 1ª. edição: Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.; ASKEHAVE, NIELSEN, 2004ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6).), and hypertext (LEMKE, 2002LEMKE, J. L. Travels in hypermodality. Visual Communication, London, v.1, n.3, p.299-325, 2002. Disponível em: http://hem.bredband.net/sigrunr/lemke02hyper.pdf. Acesso em: 07 jun. 2012.
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; FINNEMANN, 1999FINNEMANN, N. O. Hypertext and representational capacities of the binary alphabet. [S.l: s.n], 1999. Disponível em: http://www.hum.au.dk/ckulturf/pages/publications/nof/hypertext.htm. Acesso em: 13 dez. 2012.
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). It is a case study based on the observation and description of a phenomenon in a specific context (MARTINS, 2008MARTINS, G. A. Estudo de caso: uma estratégia de pesquisa. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2008.; YIN, 2005YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e método. Tradução de Daniel Grassi. 3.ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. Título original: Case study research: design and methods. California: Sage Publications, 2003., 1984YIN, R. K. Case study research. California: Sage Publications, 1984.; TRIVIÑOS, 1987TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.). The results show that knowing the sociorhetorical organization in the homepage genre enables the organization of the pedagogical content targeted at the interests and needs of users, contributing to students’ involvement with the educational process.

KEYWORDS:
Sociorhetorical organization; Digital textual genre; Homepage

Introdução

O presente trabalho insere-se em uma pesquisa mais ampla sobre práticas sociais em ambientes virtuais de aprendizagem e gêneros textuais digitais. Nosso objetivo é analisar a organização sociorretórica das homepages de disciplinas online na perspectiva da análise bidimensional de gêneros (ASKEHAVE; NIELSEN, 2004ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6).), que parte da análise sociorretórica proposta por Swales (1990)SWALES, J. M. Genre analysis: English in academic and research setting. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. e considera, nos modos de leitura e navegação dos gêneros digitais, os propósitos comunicativos, as unidades funcionais (movimentos retóricos e links) que caracterizam os propósitos e as estratégias retóricas empregadas para o alcance deles. Em trabalho anterior (CRESCITELLI; CAMPOS, 2015CRESCITELLI, M. F. C.; CAMPOS, K. S. R. Organização de material didático virtual na homepage. Linha D´Água, São Paulo, v.28, n.1, p.5-25, jun. 2015.), analisamos as referidas homepages com base nos estudos de Swales (1990)SWALES, J. M. Genre analysis: English in academic and research setting. Cambridge: Cambridge University Press, 1990., examinando sua organização sociorretórica e levantando os passos e os movimentos retóricos que as constituíam

Askehave e Nielsen (2004)ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6). defendem que é a característica hipertextual que assinala mais claramente a natureza bidimensional dos gêneros da Web, já que ativa os dois modos que configuram os gêneros nesse ambiente: o modo de leitura e o modo de navegação (FINNEMANN, 1999FINNEMANN, N. O. Hypertext and representational capacities of the binary alphabet. [S.l: s.n], 1999. Disponível em: http://www.hum.au.dk/ckulturf/pages/publications/nof/hypertext.htm. Acesso em: 13 dez. 2012.
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). Consideramos, como as autoras, que um modelo tradicional de análise de gêneros não é suficiente para o contexto digital, visto que pressupõe o meio mais como um fator contextual.

O modelo de análise bidimensional de gêneros de Askehave e Nielsen (2004)ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6). leva em conta características essenciais dos textos virtuais, como a hipertextualidade, a imaterialidade e o alcance global, e enfoca o meio virtual (a Web) não somente como um traço contextual dos gêneros digitais, mas como parte integrante deles, por lhes acrescentar propriedades singulares de produção, função e recepção, gerando novos desafios, demandas e perspectivas para a produção de homepages de cursos e disciplinas inseridos nesse universo.

Gênero no contexto digital

O fato de muitos gêneros digitais terem a mesma função e várias características de gêneros prévios não os torna idênticos a esses gêneros quanto à sua natureza, pois novas tecnologias modificam as relações entre os sujeitos; entre os sujeitos e as ações que realizam; entre os sujeitos e o modo como organizam o conhecimento nos gêneros textuais. Em outros termos, ao serem produzidos na Web, apresentam traços que os distinguem significativamente de sua contraparte não digital.

A definição e a caracterização dos textos sofrem alterações em razão da fluidez e dinamicidade que caracterizam o meio virtual: o avanço vertiginoso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) pode invalidar com muita rapidez aspectos levantados na tentativa de defini-los ou, ainda, provocar divergências no modo de caracterizá-los. Tais fatores explicam o fato de encontrarmos estudiosos que, em um primeiro momento, consideram suporte ou veículo de comunicação algo que, posteriormente, veem como gênero e vice-versa. É, por exemplo, o caso de Marcuschi, que em 2004 não define a homepage como gênero, mas como suporte (MARCUSCHI, 2010MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: MARCUSCHI, L. A.; XAVIER, A. C. (org.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. São Paulo: Cortez, 2010. p.15-80, 2010. Título da 1ª. edição: Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.) e em 2005 passa a reconhecê-la como “um gênero bem estabelecido” (MARCUSCHI, 2008MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008. O livro contém a quarta versão dos materiais elaborados para o curso de Linguística 03, ministrado na graduação em Letras da Universidade Federal de Pernambuco, no segundo semestre de 2005., p.186).

Os gêneros são respostas a situações recorrentes, análogas entre si, e, desse modo, não se constituem como tal se não houver possibilidade de identificar suas recorrências (cf. MILLER, 2009aMILLER, C. R. Gênero como ação social. Tradução de Judith Hoffnagel. In: DIONÍSIO, A. P.; HOFFNAGEL, J. C. (org.). Gênero textual, agência e tecnologia. Organização de Angela Paiva Dionísio e Judith Chambliss Hoffnagel. Recife: Ed. da UFPE, 2009a. p.21-44. Título original: Genre as social action. Quarterly Journal of Speech, p.151-167, May 1984.). Ora, em um ambiente no qual as transformações ocorrem de forma rápida e constante em virtude da intensa evolução tecnológica, como identificar o que é recorrente?

A dinamicidade e a fluidez mencionadas levam os usuários a experimentarem diferentes usos dos recursos disponíveis no meio virtual. Um blog, por exemplo, é usado com as funções de um diário pessoal e de um espaço de divulgação de opinião ou de notícias, entre outras possibilidades. Mas cada um desses usos constitui resposta retórica a uma exigência específica e é isso que leva Miller (2009c)MILLER, C. R. Blogar como ação social: uma análise do gênero weblog. Tradução de Leonardo Mozdzenki e Judith Hoffnagel. In: DIONÍSIO, A. P.; HOFFNAGEL, J. C. (org.). Gênero textual, agência e tecnologia. Recife: Ed. da UFPE, 2009c. p.61-92. Texto original: MILLER, C. R.; SHEPHERD, D. Blogging as social action: a genre analysis of the weblog. In: GURAK, L.; ANTONIJEVIC, S.; JOHNSON, L. RATLIFF, C.; REYMAN, J. (ed.). Into the blogosphere: rethoric, community and culture of weblogs. Minneapolis: University of Minnesota Libraries, 2004. a considerá-lo, atualmente, como um recurso que veicula gêneros e não mais como um gênero propriamente dito.

Há também o caso do e-mail que, como o blog, pode ser compreendido por vezes como gênero e por outras vezes como veículo, já que traz em si textos com propósitos comunicativos demasiadamente diversos, como piadas, anúncios publicitários, entre outros.

Como consideramos que a Web é parte integrante dos gêneros digitais, nós a vemos como um conjunto de potencialidades e restrições que definem os usos cognitivos e comunicativos em tal contexto. Assim também a natureza do gênero digital envolve também, obviamente, a noção de suporte, o qual influencia a forma como se organiza o texto no gênero. No ambiente digital, essa noção torna-se complexa, em razão das características peculiares da Web, como a desterritorialização da informação, a hipertextualidade, a hipermodalidade. Entretanto, neste estudo, cabe-nos destacar somente a intrínseca relação entre meio e gênero, marcada principalmente pela hipertextualidade, que assinala mais claramente a natureza bidimensional dos gêneros da Web, visto que é a responsável por ativar os dois modos que configuram esses textos (leitura e navegação) (FINNEMANN, 1999FINNEMANN, N. O. Hypertext and representational capacities of the binary alphabet. [S.l: s.n], 1999. Disponível em: http://www.hum.au.dk/ckulturf/pages/publications/nof/hypertext.htm. Acesso em: 13 dez. 2012.
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), explicitados adiante.

Hipertexto e construção de sentidos

A forma não linear de produção e leitura hipertextual não é nova: ela ocorre na leitura de textos impressos, em que fragmentamos as informações, percorrendo caminhos que não se traduzem exatamente em um percurso linear (FINNEMANN, 1999FINNEMANN, N. O. Hypertext and representational capacities of the binary alphabet. [S.l: s.n], 1999. Disponível em: http://www.hum.au.dk/ckulturf/pages/publications/nof/hypertext.htm. Acesso em: 13 dez. 2012.
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). Assim, não podemos reduzir o estudo do hipertexto à dicotomia linear/ não linear: trata-se de rede constituída por lexias (ou blocos de textos), que consistem em unidades de sentido formadas por textos verbais, imagens, sons etc. e são conectadas por links (LEMKE, 2002LEMKE, J. L. Travels in hypermodality. Visual Communication, London, v.1, n.3, p.299-325, 2002. Disponível em: http://hem.bredband.net/sigrunr/lemke02hyper.pdf. Acesso em: 07 jun. 2012.
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; LÉVY, 1999LÉVY, P. A. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34, 1999. Título original: Cyberculture. Paris: Éditions Odile Jacob, 1997.).

As lexias acomodam-se nos dois modos de leitura: o modo de leitura propriamente dito e o modo de navegação. O primeiro permite que acessemos o texto da forma como conhecemos: guiando-nos pela leitura geralmente sequencial de suas partes (FINNEMANN, 1999FINNEMANN, N. O. Hypertext and representational capacities of the binary alphabet. [S.l: s.n], 1999. Disponível em: http://www.hum.au.dk/ckulturf/pages/publications/nof/hypertext.htm. Acesso em: 13 dez. 2012.
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). O segundo leva-nos a acessar, por meio de links, outros textos interligados ao texto de origem, permitindo-nos construir nosso percurso de leitura no site. Então, no consumo de textos digitais, “[…] o usuário emprega duas capacidades cognitivas diferentes, demonstrando dois tipos diferentes de comportamento quando passa do modo de leitura para o de navegação e vice-versa.”2 2 Original: “[…] the web user employs two different cognitive capacities and demonstrates two different types of behaviour when s/he shifts from the reading to the navigating mode and vice versa.” (ASKEHAVE; NIELSEN, 2004, p.15). (ASKEHAVE; NIELSEN, 2004ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6)., p.15, tradução nossa).

Na estrutura hipertextual, os links não são apenas um modo de organizar a informação: mais do que isso, levam a novas formas de interação entre leitor e texto, que diferenciam o hipertexto de um texto impresso, principalmente porque a informação, nesse último, apresenta-se sem que haja um eixo narrativo ou argumentativo que relacione em sequência os diversos textos que ele engloba (BRAGA, 2010BRAGA, D. B. A comunicação interativa em ambiente hipermídia: as vantagens da hipermodalidade para o aprendizado no meio digital. In: MARCUSCHI, L. A.; XAVIER, A. C. (org.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2010. p.175-197. Título da 1ª edição: Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.).

Dessa maneira, as articulações entre os textos não se concretizam por meio de sequência preestabelecida. Elas dependem das escolhas do leitor, determinadas pela ordem de acesso aos links. As variadas possibilidades de acesso resultam em diferentes construções do sentido global do texto. O sistema que configura o hipertexto permite a produção de um texto que, na atualidade, muito mais do que antes, não traz em si uma estrutura linear que permita identificar seu começo, meio e fim.

Desse modo, o leitor inicia a leitura por qualquer um de seus links e, ao realizar suas escolhas, determina uma nova organização dos segmentos hipertextuais, conferindo-lhe relações que atribuem um novo sentido ao texto. E o produtor de hipertextos precisa levar em conta tais fatores.

Essas são considerações que importam muito na organização do material didático virtual no gênero homepage. Características do hipertexto, como o excesso de informação veiculada, por exemplo, podem acarretar problemas para a compreensão textual e para a construção de conhecimento. A quantidade excessiva de textos relacionados por links pode ser um obstáculo para usuários na hora de filtrar o que lhes interessa.

A disposição dos textos é importante para o alcance de um objetivo didático e, para tanto, essa disposição precisa ajustar-se às necessidades de aprendizagem. As articulações entre os links hipertextuais devem garantir ao estudante a produção de um sentido global. Na elaboração do conteúdo, não é só o designer que precisa ter um razoável conhecimento sobre a natureza do hipertexto e as possibilidades de produção de sentidos: também para o professor esse conhecimento é imprescindível.

Tendo em vista a estrutura hipertextual dos gêneros da Web, Askehave e Nielsen (2004)ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6)., como dissemos, propuseram um modelo de análise bidimensional de gêneros textuais digitais, explicado a seguir.

Análise bidimensional de gêneros digitais

Segundo Askehave e Nielsen (2004)ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6)., as características da Web são:

  • intertextualidade – um texto na Web depende de sua relação com outros textos, isto é, o texto isolado não tem significado por si só, no sistema global textual, mas deve ser observado em relação aos textos aos quais se relaciona;

  • alcance global – textos veiculados em ambiente virtual são acessados por um número significativo de usuários, localizados em qualquer lugar do planeta;

  • imaterialidade – textos digitais nem sempre se materializam em uma versão impressa e podem ser atualizados a qualquer momento, muitas vezes por qualquer pessoa;

  • não distinção entre autor e leitor – uma vez que cada usuário da rede acessa os textos de modo particular, criando caminhos particulares de leitura, a Web impossibilita uma clara distinção entre autor e leitor;

  • multimodalidade – textos na Web associam simultaneamente som, imagem e escrita como estratégias retóricas;

  • hipertextualidade – textos na Web são conectados por meio de links, que permitem ao leitor mover-se de um texto a outro, relacionando-os entre si, em um percurso particular.

Askehave e Nielsen (2004)ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6). propõem que, na análise de gêneros na Web, devemos investigar os dois modos mencionados e, dessa forma, ampliar as possibilidades oferecidas por modelos tradicionais de análise de gêneros. Elas retomam as três categorias de análise explicitadas por Swales (1990)SWALES, J. M. Genre analysis: English in academic and research setting. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. (propósito comunicativo, movimentos estruturais e estratégias retóricas) em um prisma bidimensional: no modo de leitura e no modo de navegação. A Figura 1 a seguir explicita esse modelo:

Figura 1
Modelo de análise bidimensional de gêneros

Nessa perspectiva de análise, no modo de leitura o analista contempla o propósito comunicativo, os movimentos estruturais (moves) e as estratégias retóricas. No modo de navegação, porém, os movimentos são substituídos por links, que constituem as unidades funcionais nesse contexto.

No modo de leitura, temos:

  1. propósito comunicativo: um dos critérios essenciais para que um evento de comunicação seja classificado como gênero (SWALES, 1990SWALES, J. M. Genre analysis: English in academic and research setting. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.). É um aspecto compartilhado por uma comunidade discursiva e ele vem ao encontro de uma exigência gerada por uma situação recorrente. Assim, não é determinado por um único exemplar do gênero e, para compreendê-lo, precisamos estudar o contexto em que o gênero é produzido;

  2. movimentos estruturais: correspondem à estrutura convencionalizada que os gêneros assumem para realizar os propósitos comunicativos. Em outros termos, os propósitos refletem-se nesses movimentos, que são as partes constituintes do gênero. Embora movimentos sejam convencionalizados, isso não quer dizer que sejam fixos. Por isso, o autor observa que nem todos os movimentos seguem uma ordem fixa e nem todos aparecem obrigatoriamente em todos os textos do mesmo gênero;

  3. estratégias retóricas: referem-se às escolhas de conteúdo e estilo realizadas pelos usuários de um gênero, configurando as regularidades ou práticas recorrentes. Askehave e Nielsen (2004)ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6). defendem que não há uma correlação estreita entre movimento e estratégia retórica, mas textos pertencentes a um gênero frequentemente apresentam estratégias similares.

E no modo de navegação há:

  1. propósito comunicativo: será sempre o mesmo, isto é, proporcionar acesso a páginas e sites na Internet, independentemente do gênero analisado. Os links funcionam como meios de transporte, permitindo ao usuário do gênero mover-se de um local virtual a outro;

  2. links: o propósito comunicativo realiza-se por meio de links relacionados em uma estrutura hipertextual na Web. Uma vez que esses elementos são propriedades inerentes ao meio virtual e não se referem a um gênero específico, seu valor funcional é organizar as informações no site, relacionando um texto A (nó) a um texto B (âncora), estabelecendo relações de sentido entre eles. Nesse prisma, Askehave e Nielsen (2004)ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6). propõem uma tipologia funcional de links (descritivos, narrativos, argumentativos, explicativos, dialogais) com base na tipologia sequencial de textos proposta por Jean-Michel Adam3 3 Askehave e Nielsen (2004) fundamentam-se no trabalho do autor publicado em 1992 por Adam. Para melhor compreendermos a proposta das autoras, valemo-nos de trabalho publicado em 2005 (ADAM, 2011). Neste último, Adam faz uma revisão parcial do modelo de tipologias de sequências, principalmente no que se refere à sequência descrição (cf. ADAM, 2011, p.205). .

    Para Adam (2011)ADAM, J. M. Períodos e sequências: unidades composicionais de base. Tradução de Luís Passeggi. In: ADAM, J. M. A linguística textual: introdução à análise textual dos discursos. Tradução de Maria das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto, Luís Passeggi, Eulália Vera Lúcia Fraga Leurquin. 2.ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2011. p.204-254, 2011. Título original: La linguistique textuelle: introduction à l´analyse textuelle des discours. Paris: Armand Colin, 2005., os tipos textuais são unidades constituídas de sequências estruturadas em uma rede relacional semântica. Por serem autônomas, elas podem ser decompostas e analisadas, caracterizando-se por desempenharem funções pragmáticas de descrever, narrar, argumentar, explicar, dialogar. O teórico privilegia as relações que se estabelecem entre as partes de uma sequência, procurando compreender como essas articulações contribuem para a expressão de sentido, garantindo a continuidade textual. Segundo ele, as sequências são “memorizadas por impregnação cultural (pela leitura, escuta e produção de textos) e transformadas em esquema de reconhecimento e de estruturação da informação”;

  3. estratégias retóricas: são verbais ou visuais. As verbais são, por exemplo, o tipo de link utilizado: narrativo, argumentativo, descritivo etc., ou, ainda, um link apresentado como convite, recomendação, pergunta etc., por exemplo: [12] Leia mais; Não deixe de consultar o programa da disciplina. As visuais, por sua vez, são implícitas ou explícitas. Implícitas quando se deixam revelar apenas pelo cursor do mouse, como, por exemplo, o sublinhado que aparece quando passamos o cursor sobre um link ou, ainda, a mudança de cor de um link, também no momento em que deslizamos o cursor sobre ele. As visuais explícitas podem ser, entre outras, um ícone, como um envelope indicando o link que dá acesso à equipe de suporte, uma casa indicando o link que leva à página inicial do site.

Reunindo essas informações em outra disposição, temos o seguinte quadro que reflete a organização de que nos valemos para apresentar a análise realizada no corpus:

Quadro 1
Análise do corpus

Análise do corpus

Para a análise, selecionamos 10 homepages de dez disciplinas diferentes do curso de graduação de Matemática – Licenciatura – Modalidade a distância da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, ministradas no segundo semestre de 2012. Dessas, 6 homepages foram organizadas pela Divisão de Tecnologia da Informação (DTI) da PUC-SP (o professor enviava o conteúdo para a DTI e os funcionários/ técnicos faziam a homepage) e 4 foram organizadas pelos próprios professores.

Analisamos nas homepages:

  • seção 1 - propósitos comunicativos nos modos de leitura e navegação;

  • seção 2 - unidades funcionais nos modos de leitura (movimentos retóricos) e navegação (links);

  • seção 3 - estratégias retóricas empregadas nos modos de leitura e navegação para o alcance do propósito comunicativo, como segue.

Temos como pressuposto que um gênero textual digital, na concepção sociorretórica, consiste na tipificação de ações sociais – traduzida em movimentos, links e estratégias retóricas – que configuram o discurso em uma situação de comunicação específica. Desse modo, os usuários de uma língua empregam-no de forma semelhante ao vivenciarem situações comunicativas análogas, que apresentem as mesmas exigências sociais. A análise de gêneros no contexto digital fundamenta-se na natureza bidimensional própria dos documentos produzidos na Web, e é essa bidimensionalidade que nos leva a compreender a homepage como texto e como meio.

SEÇÃO 1 - Propósito Comunicativo

Modo de Leitura

Para depreendermos o propósito comunicativo da homepage no modo de leitura, levamos em consideração as práticas sociais que envolvem sua produção e recepção: de um lado, temos alunos que cursam uma disciplina online e acessam a homepage para localizar informações sobre o funcionamento dessa disciplina e para conhecer o conteúdo a ser estudado; de outro lado, temos professores com o objetivo de ministrar a disciplina, que procuram organizar o conteúdo e as atividades para o alcance dos objetivos de aprendizagem estabelecidos.

Tendo em vista esses aspectos e também o conteúdo veiculado nas homepages organizadas pela DTI, analisamos que, no modo de leitura, o propósito comunicativo primário é apresentar a disciplina ao aluno, auxiliando-o a obter informações sobre o funcionamento das atividades e sobre o conteúdo a ser ministrado.

Contudo, assim como ocorre nos gêneros não digitais, além dos propósitos primários, outros propósitos podem emergir de forma implícita ou explícita (ASKEHAVE; NIELSEN, 2004ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6).). Eles não são, de fato, os propósitos principais, mas surgem nas relações estabelecidas entre responsável pelo site e usuários. Nessa perspectiva, verificamos que, nas homepages analisadas, há também o propósito de consolidar a imagem da PUC-SP, por meio de procedimentos como: (i) identificação da Instituição como responsável pelo site, por meio de logotipo apresentado em lugar de destaque; (ii) apresentação da informação de modo objetivo e claro; (iii) impressão de boa aparência do site; (iv) sugestão, por meio de link, de acesso ao site principal da Universidade.

É preciso enfatizar que há também o propósito de envolver os usuários com a homepage, estimulando o interesse deles ou propiciando maior envolvimento com as informações disponíveis. Os procedimentos que convergem para esse propósito são, entre outros: (i) tentativa de organizar as informações de modo claro e objetivo, dividindo-as, por exemplo, em colunas para facilitar a visualização; (ii) utilização de recursos gráficos e visuais, como expressões em negrito e ícones; (iii) emprego de links genéricos, que permitem uma visualização global do site.

Assim, além do propósito primário mencionado, consideramos que nas homepages analisadas há os seguintes propósitos secundários: (i) consolidar a imagem da instituição PUC-SP e (ii) motivar o estudante a interagir com o processo de ensino e aprendizagem.

Modo de Navegação

No modo de navegação, o propósito comunicativo nas homepages analisadas é possibilitar o acesso ao site, permitindo ao usuário transitar de uma página a outra.

SEÇÃO 2 – Unidades Funcionais: Passos (leitura) e Links (navegação)

Verifiquemos, agora, a constituição das unidades funcionais das homepages, representadas por movimentos, passos retóricos (no modo de leitura) e links (no modo de navegação). Em relação aos movimentos e passos retóricos, nós os apresentamos enumerados (movimento 1, passo 1 e assim por diante), para depreendermos o percurso persuasivo (CAMPOS, 2014CAMPOS, K. S. R. Gênero digital homepage em educação online: uma análise sociorretórica bidimensional. 2014. 308f. Tese (Doutorado em Língua Portuguesa) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2014.) decorrente dessa organização sociorretórica. A enumeração dos movimentos realiza-se com base em nosso percurso de leitura, mas, evidentemente, existem outros percursos, que podem ser considerados em estudos futuros.

A análise é realizada de acordo com o Quadro 2:

Quadro 2
Análise das unidades funcionais (movimentos e links)

Em relação aos links, destacamos que eles são mais do que simples guias de navegação que levam de um lugar a outro, já que adicionam significado às conexões estabelecidas entre textos. São, portanto, unidades funcionais “[…] que nos permitem considerá-los como sendo equivalentes aos movimentos retóricos.”4 4 Original: “[…] that allow us to regard links as equivalent to ‘moves’ in printed text.” (ASKEHAVE; NIELSEN, 2004, p.25). (ASKEHAVE; NIELSEN, 2004ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6)., p.25, tradução nossa).

Modo de Leitura

Nas homepages analisadas, as informações são distribuídas em duas colunas. Sua distribuição e posição são regulares, por isso são recorrências, que levam à configuração de um padrão retórico. No caso, o padrão é composto de 7 movimentos e 14 passos (Quadro 3) e funciona como um mapa da organização da informação: nele, cada movimento realiza um propósito comunicativo particular, que se articula ao propósito comunicativo do gênero: apresentar a disciplina aos alunos:

Quadro 3
Movimentos e passos retóricos nas homepages analisadas

Essa realização configura um percurso persuasivo, que se inicia com Consolidar a imagem da Instituição e se encerra com Apresentar o conteúdo a ser estudado (cf. coluna da direita). O movimento 1 visa a consolidar a imagem da instituição, no intuito de atribuir credibilidade à produção textual; o 2 destaca aspectos importantes da disciplina e assim por diante. Tais propósitos convergem para o propósito do gênero: apresentar a disciplina aos alunos.

Modo de Navegação

O propósito comunicativo de propiciar acesso ao site da disciplina é realizado, como dissemos, por links que relacionam textos em uma estrutura hipertextual, estabelecendo relações de sentido entre um texto A (nó) e um texto B (âncora).

Há, nas homepages analisadas, links que se posicionam em destaque, na primeira e na segunda coluna da página, e dão acesso aos tópicos do site (Figura 2):

Figura 2
Sequência descritiva explorativa por aspectualização

Esses links são meramente descritivos e aparecem, em sua maioria, em forma de expressões nominais (Meus cursos, Material didático, Navegação etc.), mas também podem vir em forma de texto, trazendo uma informação sobre navegação em uma estrutura metadiscursiva (Clique aqui para fazer o download do material, Fale com o professor). Eles identificam tópicos gerais e são “a porta de entrada” para o texto B, que lhes atribui significado (ASKEHAVE; NIELSEN, 2004ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6)., p.32).

Os links existentes nas homepages permitem o acesso a: Cronograma, Plano de ensino, Material didático, Links de navegação, Fóruns de discussão, Links de apresentação de conteúdo. Nas relações hipertextuais que constituem, formam-se sequências textuais descritivas explorativas e expositivas, conforme Quadro 4:

Quadro 4
Links

A descrição explorativa tem como função descrever um objeto, uma pessoa ou um evento, destacando suas propriedades e partes constituintes, e configura-se por duas macro-operações: tematização e aspectualização. A tematização ancora o tópico do texto e informa o leitor sobre o assunto tratado e a aspectualização explicita as propriedades e partes desse tópico. Já a descrição expositiva descreve procedimentos, como ocorre, por exemplo, em manuais de instrução, e também se constitui em duas macroproposições: introdução e procedimentos. A introdução apresenta um objeto; os procedimentos explicitam os passos adotados para perguntas do tipo “como proceder” ou “como fazer tal coisa” (ASKEHAVE; NIELSEN, 2004ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6)., p.28, tradução nossa).

Exemplificamos na Figura 2, já apresentada, essas duas sequências textuais. Observamos que o texto A Cronograma forma, com o texto B, uma sequência descritiva explorativa por aspectualização, em que o texto B descreve os aspectos que qualificam o cronograma do curso. Na Figura 3, o texto A Fale com o professor compõe com o texto B uma sequência descritiva expositiva, já que o B expõe os procedimentos para que o aluno se comunique com o docente do curso:

Figura 3
Sequência descritiva expositiva

Vimos que predominam sequências descritivas explorativas por aspectualização nas homepages (cf. Quadro 4). Todavia, especificamente nos links de apresentação de conteúdo, observamos que os professores tendem a imprimir um estilo próprio nas relações de sentido entre os textos A e B. As quatro disciplinas que têm a homepage organizada pela DTI são ministradas por três professores, aqui designados professor A, professor B e professor C, que se valem do mesmo recurso tecnológico para apresentar o conteúdo: o recurso Livro. No Quadro 5, explicitamos a preferência de cada um deles na hora de articular lexias no acesso ao conteúdo didático. Já nas Figuras 4 e 5, exemplificamos essas relações hipertextuais:

Quadro 5
Sequências textuais em links de apresentação de conteúdo
Figura 4
Sequência descritiva expositiva em links de apresentação de conteúdo – Professor A
Figura 5
Sequência descritiva explorativa por aspectualização em links de apresentação de conteúdo – Professores B e C

Notamos que o professor A constrói uma sequência descritiva expositiva, em que o texto A (Ângulos e polígonos) é expandido pelo texto B, que enfoca, predominantemente, os procedimentos de estudo:

Seja bem-vindo ao primeiro tópico de nossa disciplina. Esta seção encontra-se dividida em 4 partes e nelas estudaremos ângulos, polígonos e área. Cada parte corresponde a uma aula. Na primeira semana, estudaremos os ângulos (GEP 1.1), os polígonos (GEP 1.2) e os quadriláteros (GEP 1.3). Organize seu horário e realize as atividades, exercícios e a avaliação diligentemente.

Vejamos agora a Figura 5:

Na Figura 5, o texto A (Resumo) forma com o texto B uma sequência descritiva explorativa por aspectualização, em que o texto B expande o texto A, qualificando seu objeto (resumo):

Vamos aprimorar nossa competência sobre o gênero resumo, que é uma forma de retextualização e está muito presente em diversas situações da vida acadêmica. Certamente, você já deve ter recebido solicitação para resumir um texto. O resumo pode auxiliar no desenvolvimento de nossos estudos, pois pode ajudar na compreensão das ideias principais de um determinado autor. Ele também é exigido em trabalhos acadêmicos para a apresentação desses trabalhos.

SEÇÃO 3 – Estratégias Retóricas

As estratégias retóricas consistem nas escolhas de conteúdo e estilo realizadas para a concretização de movimentos e links em um gênero textual digital e, por conseguinte, para o alcance dos seus propósitos comunicativos. No modo de leitura, são “[…] mecanismos usados pelo produtor tanto na seleção e distribuição dos conteúdos quanto nos arranjos linguísticos para compor o texto.” (HEMAIS; BIASI-RODRIGUES, 2007HEMAIS, B.; BIASI-RODRIGUES, B. A proposta sócio-retórica de John M. Swales para o estudo de gêneros textuais. In: MEURER, J. L.; BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. Gêneros teorias, métodos, debates. 2.ed. São Paulo: Parábola, 2007. p.108-129., p.122). São consideradas estratégias os passos retóricos empregados para a realização dos movimentos. De modo geral, não há uma correlação estreita entre um movimento e uma estratégia, mas, para Swales (1990)SWALES, J. M. Genre analysis: English in academic and research setting. Cambridge: Cambridge University Press, 1990., textos pertencentes a um determinado gênero frequentemente se valem de estratégias retóricas similares. Já no modo de navegação, as estratégias são os elementos verbais e visuais utilizados para tornar um link persuasivo. Apresentamos, a seguir, as estratégias retóricas verificadas nas homepages analisadas.

Modo de leitura

As homepages analisadas são estruturadas em 7 movimentos e 14 passos retóricos, conforme demonstrado no Quadro 3. Esses passos são unidades discursivas menores que constituem atos táticos para a realização dos movimentos (SWALES, 1990SWALES, J. M. Genre analysis: English in academic and research setting. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.), juntamente com outras escolhas empregadas para gerar determinados efeitos de sentido. Apresentamos, a seguir, as estratégias utilizadas no corpus.

Movimento 1 – Identificando o responsável:

Esse movimento (cf. Figura 6) é realizado por meio das seguintes estratégias (passos): apresentação do logotipo da instituição; explicitação do nome do curso, da modalidade (a distância) e do bloco que abriga a disciplina:

Figura 6
Estratégias retóricas no movimento 1

Essa organização é responsável por um efeito de hierarquização do que deve ser apresentado: primeiro, a Instituição; depois a modalidade do curso e, por fim, o nome do curso e o bloco em que se insere a disciplina. A Instituição é destacada com o logotipo da Universidade, que está no canto superior esquerdo; a modalidade do curso, com a utilização de letras grandes e maiúsculas na expressão Educação a distância; o nome do curso e o bloco da disciplina, com o emprego de letras grandes e separação por traços gráficos (-) que ampliam o realce. Como vemos, o produtor do gênero valeu-se de recursos gráficos para alcançar o propósito de consolidar a imagem da Instituição.

Movimento 2 – Destaque de aspectos da disciplina:

O movimento 2 (Figura 7) realiza-se por meio das estratégias de apresentação da forma como é composta a avaliação na disciplina, apresentação do cronograma e apresentação do plano de ensino:

Figura 7
Estratégias retóricas no movimento 2

Essas estratégias são realizadas pelo uso de recursos verbais (expressões nominais nas expressões Palavra do professor, Avaliação, Prova Presencial e Atividades, chamando a atenção do estudante); recursos visuais (cores verde, laranja, azul, cinza e branco utilizadas para destacar o espaço em que o aluno tem acesso a dados da avaliação) e gráficos (utilização de letras em negrito nas expressões nominais já citadas, para destacar as informações).

Movimento 3 – Apresentação de menu de navegação:

O movimento 3 (Figura 8) realiza-se por meio da apresentação de tópicos de navegação e de configuração.

Figura 8
Estratégias retóricas no movimento 3

O menu de navegação aparece na parte superior e também no lado esquerdo da tela do computador, sendo realçado com o uso de estratégias visuais (cores verde e branca na parte superior; emprego de setas no lado esquerdo) e verbais (expressões nominais ressaltando a informação), permitindo fácil visualização do mapa de acesso ao site da disciplina. Tais estratégias convergem para o alcance do propósito do movimento: informar sobre a organização geral do site.

Movimentos 4 e 5 – Identificação da disciplina e do professor e Estabelecimento de aproximação com o usuário:

O movimento 4 (Figura 9) realiza-se por meio das estratégias indicação do nome da disciplina e apresentação do professor. Já o movimento 5 (Figura 9) realiza-se pela apresentação de expressão de boas-vindas, pelas orientações gerais sobre o funcionamento da disciplina e pela indicação de ferramentas para comunicação entre os participantes. A indicação do nome da disciplina ocorre na segunda coluna e realiza-se com a utilização de recurso visual (cor azul) e gráfico (emprego de negrito), destacando-se na homepage. O nome da professora é apresentado em azul, no lado direito da coluna, e a apresentação da docente é enfatizada pela sua fotografia (aqui representada pelo emoticon ☺, no intuito de tornar o ambiente mais “pessoal”).

Figura 9
Estratégias retóricas nos movimentos 4 e 5

A expressão de boas-vindas, centralizada na coluna, é seguida por um ponto de exclamação que reforça um ambiente afetivo. Isso pode produzir uma interação positiva entre professor e aluno por meio do material didático, contribuindo para a aprendizagem.

As orientações gerais sobre o funcionamento da disciplina são realizadas logo abaixo da expressão de boas-vindas e consistem na apresentação de informações sobre os objetivos e funcionamento da disciplina, plano de ensino, cronograma, entre outros. No exemplo selecionado, verificamos a ocorrência de estratégias interacionais, tais como:

  • recomendações: Antes de começarmos as atividades, vamos atentar para algumas dicas […];

  • emprego da primeira pessoa do plural, para criar maior aproximação entre aluno e professor: Sou a professora A. Estaremos juntos, neste bloco, construindo conhecimento acerca dos gêneros textuais acadêmicos.

A indicação de ferramentas para comunicação é realizada por meio de recursos visuais (imagem, cor) e gráficos (negrito). Recursos verbais também são utilizados e consistem em estratégias de interação, como:

  • convite: Comunique-se

  • recomendações: Vá ao fórum de notícias para visualizar as notícias e recados do curso.

Os recursos aí empregados promovem vínculos positivos entre professor e aluno, aproximando-os.

Movimento 6 – Destaque de aspectos importantes

O movimento 6 (Figura 10) realiza-se por meio da estratégia informação sobre notas e prazos de avaliação:

Figura 10
Estratégias retóricas no movimento 6

A expressão Atenção aparece centralizada na segunda coluna, em cor laranja, destacando-se na homepage. O recurso negrito também é utilizado na expressão, bem como nas expressões Avaliação presencial e Atividades a distância, que aparecem destacadas em cor azul. Tendo em vista que o propósito desse movimento é chamar a atenção para aspectos importantes, observamos que a utilização desses recursos realça a informação, contribuindo para a consecução do objetivo.

Movimento 7 – Apresentação de conteúdo

O movimento 7 (Figura 11) realiza-se por meio da estratégia apresentação de conteúdo, realizada por recursos visuais (cores, ícones, bordas que imitam uma folha de caderno) e verbais (expressões nominais que apresentam tópico do conteúdo):

Figura 11
Estratégias retóricas no movimento 7

Os conteúdos são organizados em tópicos e introduzidos por uma estratégia interacional em forma de convite (Clique na semana para abrir seu conteúdo e atividades). Os recursos para realização do movimento contribuem para a aproximação do aluno com o material didático, pois facilitam a visualização dos conteúdos da disciplina.

Modo de navegação

A realização externa dos links, nas homepages analisadas, ocorre por estratégias retóricas visuais implícitas e explícitas e, ainda, por estratégias verbais. Como estratégias visuais implícitas, destacamos:

  • mudança de cor quando o cursor do mouse percorre o link, no link Fórum de notícias (Figura 12):

  • abertura de submenu quando o mouse percorre o link, no link Reserva de Laboratórios (Figura 13):

Figura 12
Estratégia retórica implícita: mudança de cor em links
Figura 13
Estratégia retórica implícita: abertura de submenu

Além das estratégias implícitas mencionadas, verificamos a presença de seta ou de mão quando o usuário passa o cursor do mouse sobre qualquer link.

Já como estratégia visual explícita, temos:

  • ícones indicando links como Cronograma, Plano de ensino e Download de material didático (Figura 14):

Figura 14
Estratégia retórica explícita: ícone

As estratégias mencionadas são as mesmas em todas as homepages analisadas. Compreendemos que elas convergem para o alcance do propósito comunicativo do gênero no modo de navegação: proporcionar acesso a páginas e sites na Web. Tais estratégias propiciam melhor visualização dos acessos e, por isso, auxiliam na promoção de navegação amigável.

CONCLUSÃO

Para depreendermos a organização sociorretórica da informação nas homepages das disciplinas que constituíram nosso corpus, realizamos uma análise bidimensional de homepages, fundada nos estudos de Askehave e Nielsen (2004)ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6)., tendo em vista os modos de leitura e navegação que constituem os gêneros na Web.

Nessa perspectiva, no modo de leitura, concebemos a homepage como texto e, fincadas na abordagem sociorretórica de gênero proposta por Swales (1990)SWALES, J. M. Genre analysis: English in academic and research setting. Cambridge: Cambridge University Press, 1990., examinamos os propósitos comunicativos, os movimentos estruturais e as estratégias retóricas.

No modo de navegação, concebemos a homepage como meio e analisamos o propósito comunicativo, os links e as estratégias retóricas. Para caracterizarmos os links, embasamo-nos na teoria de sequências textuais de Adam (1992)ADAM, J. M. Les textes, types et prototypes: récit, description, argumentation, explication et dialogue. Paris: Nathan, 1992. e examinamos as sequências textuais predominantes na articulação das lexias hipertextuais.

Reiteramos que um gênero é constituído de traços convencionais que refletem a forma de organizar as informações no texto. Não se pode, então, deixar de compreender como se configuram suas unidades funcionais (movimentos e links, no caso de gêneros da Web), já que são elas as responsáveis pelo alcance do propósito comunicativo. Tais unidades constituem a estrutura convencionalizada do gênero e, simultaneamente, refletem uma intenção comunicativa particular do autor, que vem ao encontro de propósitos socialmente reconhecidos.

A organização sociorretórica da informação nas homepages das disciplinas selecionadas revela-nos a prática social adotada por seus usuários. Conhecê-la pode tornar o desenvolvimento de um design instrucional mais eficiente, visto que a compreensão do modo como funciona o gênero nas circunstâncias em que é produzido auxilia a atender às necessidades situacionais do contexto de ensino e aprendizagem, de forma que a organização do conteúdo e das atividades pedagógicas seja compreensível e corresponda às expectativas dos aprendizes.

Reconhecemos, porém, que nossas ponderações não se esgotam neste trabalho. Como sabemos, novos desafios surgem a todo instante e interferem nos processos de ensino e de aprendizagem, exigindo que educadores e designers instrucionais ampliem seus conhecimentos sobre o contexto da educação online.

  • 1
    Este artigo é parte de uma pesquisa realizada com apoio da FUNDASP-PUC/SP.
  • 2
    Original: “[…] the web user employs two different cognitive capacities and demonstrates two different types of behaviour when s/he shifts from the reading to the navigating mode and vice versa.” (ASKEHAVE; NIELSEN, 2004ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6)., p.15).
  • 3
    Askehave e Nielsen (2004)ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6). fundamentam-se no trabalho do autor publicado em 1992 por Adam. Para melhor compreendermos a proposta das autoras, valemo-nos de trabalho publicado em 2005 (ADAM, 2011ADAM, J. M. Períodos e sequências: unidades composicionais de base. Tradução de Luís Passeggi. In: ADAM, J. M. A linguística textual: introdução à análise textual dos discursos. Tradução de Maria das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto, Luís Passeggi, Eulália Vera Lúcia Fraga Leurquin. 2.ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2011. p.204-254, 2011. Título original: La linguistique textuelle: introduction à l´analyse textuelle des discours. Paris: Armand Colin, 2005.). Neste último, Adam faz uma revisão parcial do modelo de tipologias de sequências, principalmente no que se refere à sequência descrição (cf. ADAM, 2011ADAM, J. M. Períodos e sequências: unidades composicionais de base. Tradução de Luís Passeggi. In: ADAM, J. M. A linguística textual: introdução à análise textual dos discursos. Tradução de Maria das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto, Luís Passeggi, Eulália Vera Lúcia Fraga Leurquin. 2.ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2011. p.204-254, 2011. Título original: La linguistique textuelle: introduction à l´analyse textuelle des discours. Paris: Armand Colin, 2005., p.205).
  • 4
    Original: “[…] that allow us to regard links as equivalent to ‘moves’ in printed text.” (ASKEHAVE; NIELSEN, 2004ASKEHAVE, I.; NIELSEN, A. E. Web-mediated genres: a challenge to traditional genre theory. Arhus: Center For Virksomhedskommurikation, 2004. p.1-50. (Working papers, n.6)., p.25).

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Nov 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    25 Fev 2019
  • Aceito
    02 Nov 2019
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