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A COORDENAÇÃO ADVERSATIVA SUBSTITUTIVA NÃO X, MAS Y: UMA ANÁLISE DISCURSIVO-FUNCIONAL PARA O APAGAMENTO SINTÁTICO

RESUMO

Este artigo investiga, sob a perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional, a coordenação adversativa substitutiva, em que o segundo membro coordenado – e, às vezes, o primeiro também – é expresso por sintagma ou palavra, como em cê num dá tanto valor ao ídolo, mas à música dele. Essas estruturas têm recebido pouca atenção por parte de estudos funcionalistas, com exceção da Semântica Argumentativa (ANSCOMBRE; DUCROT, 1977; VOGT; DUCROT, 1980). De acordo com a teoria aqui adotada, nessas expressões, há dois Atos Discursivos relacionados, tendo o segundo membro da coordenação molde de conteúdo Tético com um Subato. Semanticamente, ambos os membros constituem Conteúdos Proposicionais e, em última instância, predicações, em que o segundo membro apresenta molde de predicação Identificacional, Classificacional ou Relacional, formulados numa interação entre os componentes Gramatical e Contextual. Assim, o segundo membro da coordenação é expresso por um único sintagma ou palavra, que introduz a informação nova (focal), considerada pelo Falante importante para atualizar a informação pragmática do Ouvinte. Advogamos, em consonância com o modelo teórico adotado, que não há apagamento de constituintes da predicação no segundo membro, mas que o fenômeno é resultado de uma discrepância (mismatch) entre os níveis pragmático e semântico na gramática do português.

Coordenação adversativa; Contraste; MasSN; Apagamento; Gramática Discursivo-Funcional

ABSTRACT

ANSCOMBRE; DUCROT, 1977ANSCOMBRE, J. C.; DUCROT, O. Deux Mais en français. Língua, Amsterdam, v. 43, p. 23-40, 1977. VOGT; DUCROT, 1980VOGT, C.; DUCROT, O. De Magis a Mas: uma hipótese semântica. In: VOGT, C.; DUCROT, O. Linguagem, pragmática e ideologia. São Paulo: Hucitec, 1980. p. 103-128.

Adversative coordination; Contrast; MasSN; Reduction; Functional Discourse Grammar

Introdução

Anscombre e Ducrot (1977)ANSCOMBRE, J. C.; DUCROT, O. Deux Mais en français. Língua, Amsterdam, v. 43, p. 23-40, 1977., Vogt e Ducrot (1980)VOGT, C.; DUCROT, O. De Magis a Mas: uma hipótese semântica. In: VOGT, C.; DUCROT, O. Linguagem, pragmática e ideologia. São Paulo: Hucitec, 1980. p. 103-128., entre outros, sob a perspectiva da Semântica Argumentativa, diferenciam duas funções exercidas por mais em francês, cujo correlato para o português é mas: masPA e masSN.1 1 De acordo com Anscombre e Ducrot (1977), PA se refere a pero e aber e SN, a sino e sondern; pero e sino são do espanhol e aber e sondern, do alemão. De acordo com Guimarães (1987)GUIMARÃES, E. Texto e argumentação: um estudo de conjunções em português. Campinas: Pontes, 1987., a primeira função, exemplificada com Paulo era mais adequado para o cargo, mas não foi escolhido, estabelece uma orientação argumentativa, indicando que o que deve ser levado em conta é o que está expresso no segundo enunciado; já a segunda, exemplificada com Ela não é nadadora, mas atleta, tem função opositiva, mas não argumentativa, e aparece sempre depois de um enunciado negativo, com função de corrigir uma informação dada ou subentendida.

Segundo Pezatti, Paula e Galvão Passetti (2019), Pezatti e Galvão Passetti (2021)PEZATTI, E. G.; GALVÃO PASSETTI, G. H. Coordenação não oracional adversativa. In: PEZATTI, E. G.; CAMACHO, R. G; DALL’AGLIO-HATTNHER, M. M. (org.). Construções coordenadas nas variedades portuguesas: uma abordagem discursivo-funcional. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2021. p. 259-302. e Galvão Passetti (2021)GALVÃO PASSETTI, G. H. Coordenação de constituintes não oracionais por meio de “mas” nas variedades portuguesas sob a perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional: Concessão e Contraste. 2021. 244f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2021., que analisam a coordenação não oracional com mas sob a perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional (GDF), os membros coordenados, tanto por masPA como por masSN, constituem Atos Discursivos,2 2 Palavras que designam conceitos teóricos da GDF são grafadas com a primeira letra maiúscula. a menor unidade identificável de comportamento comunicativo. Semanticamente, eles representam Conteúdos Proposicionais que veiculam predicações. Ainda de acordo com os autores, masPA marca a função retórica Concessão, exercida pelo Ato Discursivo correspondente ao primeiro membro, como em (1), ao passo que masSN codifica a função pragmática Contraste, desempenhada pelo Conteúdo Comunicado correspondente ao segundo membro, conforme em (2).3 3 Para uma descrição detalhada da diferença, tanto de formulação como de codificação, entre mas concessivo e mas contrastivo, cf. Galvão Passetti (2021).

(1) Inf.: sabe que que eu fiz ontem?... matei uma galinha... caipira mas bem gorda... (AC-122, RP: L. 305) NI: (AI: [... (CI: (TI) (CI))FOC] (AI))Conc (AJ: [... (CJ: (TJ) (CJ))FOC] (AJ)) ↙ NM: (Awi: –caipira– (Awi)) (Gwi: mas (Gwi)) (Api: –bem gorda– (Api))

(2) Inf.: acho que se tivesse uns professor ma::is... mais::… não mais bem pago mas sim mais::... mais sério... (AC-015, RO: L. 876) NI: (AI: [... (CI: (TI) (CI))FOC] (AI)) (AJ: [... (CJ: (TJ) (CJ))FOC-CONTR] (AJ)) ↙ NM: (Gwi: não (Gwi)) (Api: –mais bem pago– (Api)) (Gwj: mas (Gwj)) (Gwk: sim (Gwk)) (Apj: –mais sério– (Apj))

Neste estudo, interessa-nos o segundo caso, em que a coordenação com mas indica “substituição” (PEZATTI; PAULA; GALVÃO PASSETTI, 2019; PEZATTI; GALVÃO PASSETTI, 2021PEZATTI, E. G.; GALVÃO PASSETTI, G. H. Coordenação não oracional adversativa. In: PEZATTI, E. G.; CAMACHO, R. G; DALL’AGLIO-HATTNHER, M. M. (org.). Construções coordenadas nas variedades portuguesas: uma abordagem discursivo-funcional. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2021. p. 259-302.; GALVÃO PASSETTI, 2021GALVÃO PASSETTI, G. H. Coordenação de constituintes não oracionais por meio de “mas” nas variedades portuguesas sob a perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional: Concessão e Contraste. 2021. 244f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2021.), “refutação” (ANSCOMBRE; DUCROT, 1977ANSCOMBRE, J. C.; DUCROT, O. Deux Mais en français. Língua, Amsterdam, v. 43, p. 23-40, 1977.), “rectificação” (MÓIA, 2008MÓIA, T. Coordenações e aposições adversativas não frásicas em estruturas nominais. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE LINGUÍSTICA, 23., 2007, Évora. Anais [...]. Lisboa: APL, 2008. p. 345-358.), “refutação-rectificação” (SOUSA, 2008SOUSA, S. Contributos para o estudo das construções refutativo-rectificativas em PE. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE LINGUÍSTICA, 23., 2007, Évora. Anais [...] Lisboa: APL, 2008. p. 435-449.) ou ainda “exclusão” (MATOS; PRADA, 2005MATOS, G.; PRADA, E. Construções contrastivas de focalização: adversativas vs. concessivas. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE LINGUÍSTICA, 20., 2004, Lisboa. Anais [...]. Lisboa: APL, 2005. p. 701-713.). Nessas estruturas, o primeiro membro contém um operador de polaridade negativa, comumente a partícula não, excluindo a informação do primeiro membro, enquanto mas instrui o Ouvinte a substituir, em sua representação mental, a informação negada pela asserida no segundo membro.

O objetivo deste artigo é mostrar que o segundo membro dessas coordenações – e, às vezes, o primeiro também –, codificado por Sintagma ou Palavra, constitui predicação em que não se expressam todos os argumentos, como sim o da cultura em (3), sem necessidade de se recorrer a regras de apagamento.4 4 O apagamento é um tipo de transformação parafrástica que gera elipse. Ele consiste numa reorganização no plano da forma e intervém sobre uma estruturação prévia no momento em que se estabelece a estruturação sintática, sem modificar o sentido. Para informações mais detalhadas, cf. Harris (1968, 1976).

(3) - quanto é que calcula que vale a sua colecção? -> bem, não sei dizer, é muito difícil. eh, nã[...], não há, neste momento não há em jo[...], não está em jogo o aspecto... monetário - sim. -> mas sim o da cultura. (CV95:Coleccionismo)

O estudo é de caráter qualitativo e se filia ao funcionalismo linguístico, mais especificamente ao funcionalismo de linha holandesa, GDF. Como universo de investigação, utilizam-se dados de língua falada, submetidos a fatores de análise atinentes ao conjunto de categorias teóricas da GDF, obtidos do:

(i)Córpus Português Oral, desenvolvido no âmbito do projeto Português Falado: Variedades Geográficas e Sociais (CLUL, 1995-1997), que traz amostragens de variedades do português falado em Portugal (PT), no Brasil (BR), nos países africanos de língua oficial portuguesa – Angola (AN), Cabo Verde (CV), Guiné-Bissau (GB), Moçambique (MO), São Tomé e Príncipe (TP), Goa (GO) e Timor-Leste (TL) – e em Macau (MC);

(ii)Córpus Iboruna5 5 Disponível em: https://alip.ibilce.unesp.br/bancos-de-dados/banco-de-dados-iboruna. Acesso em: 3 abr. 2023. , originário do projeto Amostra Linguística do Interior Paulista (ALIP), concebido pelo Grupo de Pesquisa em Gramática Funcional (GPGF), que se constitui de base para a descrição do português falado no interior paulista, mais especificamente na região noroeste do Estado de São Paulo.

Este artigo se estrutura em quatro seções. A primeira apresenta um esboço do modelo adotado, o da GDF; a segunda identifica o tipo de molde de conteúdo das expressões linguísticas aqui analisadas; a terceira seção distingue os moldes de predicação acionados, além de evidenciar a relação entre gramática e contexto na produção da coordenação adversativa substitutiva; a quarta seção relaciona os níveis pragmático e semântico, explicando a configuração morfossintática do membro não oracional dessas construções; e, por fim, são apresentadas as considerações finais, que evidenciam a eficácia explanatória do modelo teórico adotado em relação a fenômenos explicados por meio de regra de apagamento.

A Gramática Discursivo-Funcional

Elaborado por Hengeveld e Mackenzie (2008)HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1093/acprof:oso/97801...
, o modelo teórico da GDF constitui um desenvolvimento da Gramática Funcional postulada por Dik (1997a, 1997b). A GDF prevê, em seu modelo teórico, a natureza situada da comunicação linguística, ou seja, ela considera a inter-relação entre linguagem e contexto. Essa inter-relação é expressa pelos Componentes Conceitual, Contextual e de Saída, que compatibilizam a GDF com uma teoria mais ampla de interação verbal, ou seja, embora a GDF seja um modelo de gramática, ela, ao considerar a interação do Componente Gramatical com os outros componentes (cf. Quadro 1), adquire um formato teórico ao mesmo tempo estrutural e funcional.

Quadro 1
– Leiaute geral da GDF

O Componente Conceitual é pré-linguístico. Segundo Hengeveld e Mackenzie (2010HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L Functional Discourse Grammar. In: HEINE, B.; NARROG, H. (eds.). The oxford handbook of linguistic analysis. Oxford: Oxford University Press, 2010. p. 367-400. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199544004.013.0015. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199...
, p.368-369, tradução nossa), ele é o responsável pelo desenvolvimento “tanto da intenção comunicativa relevante para o evento de fala corrente, quanto das conceitualizações associadas relativas a eventos extralinguísticos relevantes, sendo, dessa forma, a força motriz por trás do Componente Gramatical como um todo”6 6 No original: “of both a communicative intention relevant for the current speech event and the associated conceptualizations with respect to relevant extra-linguistic events, and is thus the driving force behind the Grammatical Component as a whole.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2010, p.368-369). . O Componente de Saída, por sua vez, é o responsável por gerar as expressões linguísticas, acústicas, escritas ou de sinais, com base na informação fornecida pelo Componente Gramatical. Sua função pode ser entendida como “a tradução da informação digital (isto é, baseada em oposição) da gramática para uma forma analógica (isto é, continuamente variável)”7 7 No original: “translating the digital (i.e. categorical, opposition-based) information in the grammar into analog (i.e., continuously variable) form.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2010, p. 369). (HENGEVELD; MACKENZIE, 2010HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L Functional Discourse Grammar. In: HEINE, B.; NARROG, H. (eds.). The oxford handbook of linguistic analysis. Oxford: Oxford University Press, 2010. p. 367-400. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199544004.013.0015. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199...
, p. 369, tradução nossa). O Componente Contextual, por seu turno, contém dois tipos de informação:

Em primeiro lugar, abriga as informações imediatas recebidas do Componente Gramatical sobre um enunciado particular que é relevante para a forma que os enunciados subsequentes possam assumir. Em segundo lugar, ele contém informações de longo prazo sobre a interação em andamento que são relevantes para as distinções necessárias na língua que está sendo usada e que influenciam a formulação e a codificação nessa língua. (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1093/acprof:oso/97801...
, p. 9-10, tradução nossa).8 8 No original: “Firstly, it houses the immediate information received from the Grammatical Component concerning a particular utterance which is relevant to the form that subsequent utterances may take. Secondly, it contains longer-term information about the ongoing interaction that is relevant to the distinctions that are required in the language being used, and which influence formulation and encoding in that language”. (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 9-10).

Esse acervo de informações, de curto e de longo prazo, alimenta (e é alimentado por) as operações de Formulação e de Codificação do Componente Gramatical, que, por sua vez, constitui a gramática de uma língua natural. As operações de Formulação convertem a intenção comunicativa em representações pragmáticas no Nível Interpessoal (NI) e semânticas no Nível Representacional (NR), que, em seguida, são convertidas em representações morfossintáticas e fonológicas no Nível Morfossintático (NM) e no Nível Fonológico (NF), respectivamente, por meio das operações de Codificação.

Como mostra o Quadro 1, o modelo da GDF apresenta uma arquitetura modular com organização descendente (top down), ou seja, da intenção comunicativa para a forma das expressões linguísticas. Essa direção descendente é “motivada pela suposição de que um modelo de gramática será mais eficaz quanto mais sua organização se assemelhar ao processamento de linguagem no indivíduo”9 9 No original: “motivated by the assumption that a model of grammar will be more effective the more its organization resembles language processing in the individual.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 1-2). (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1093/acprof:oso/97801...
, p. 1-2, tradução nossa).

Ao organizar o Componente Gramatical com a pragmática governando a semântica, ambas governando a morfossintaxe, e a pragmática, a semântica e a morfossintaxe governando a fonologia, como ilustrado no Quadro 1, a “GDF leva a abordagem funcional da linguagem ao seu extremo lógico”10 10 No original: “FDG takes the functional approach to language to its logical extreme.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 13). (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1093/acprof:oso/97801...
, p. 13, tradução nossa); isso porque a postura funcionalista implica a “hipótese de que as categorias formais podem ser criteriosamente explicadas se consideradas em correspondência com as categorias semânticas e pragmáticas originadas na cognição humana e na comunicação inter-humana”11 11 No original: “hypothesis that a wide range of formal categories can be insightfully explained if they are brought into correspondence with semantic and pragmatic categories rooted in human cognition and interhuman communication.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2010, p. 371). (HENGEVELD; MACKENZIE, 2010HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L Functional Discourse Grammar. In: HEINE, B.; NARROG, H. (eds.). The oxford handbook of linguistic analysis. Oxford: Oxford University Press, 2010. p. 367-400. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199544004.013.0015. Acesso em: 3 abr. 2023.
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, p. 371, tradução nossa). Assim, a GDF correlaciona as funções às estruturas, ambas sedimentadas no repertório da língua ao longo dos tempos, como primitivos das operações de Formulação e de Codificação, respectivamente.

Os níveis que formam o Componente Gramatical são estruturados, cada qual, ao seu modo. O que têm em comum é que são todos dispostos em camadas. Cada camada é composta de um núcleo (h), que pode ser restringido por um modificador (σ) e/ou um operador (л) e ter ainda uma função (φ). Os núcleos e os modificadores são lexicais, enquanto os operadores e as funções são gramaticais, sendo as funções de carácter relacional, ou seja, elas estabelecem relação entre unidades dispostas numa mesma camada. Assim, a representação geral das camadas dentro dos níveis é como (4), sendo v a variável da camada relevante.

(4) (л v1: h (v1): σ (v1))φ

O Nível Interpessoal diz respeito aos “aspectos formais de uma unidade linguística que refletem seu papel na interação entre o Falante e o Ouvinte”12 12 No original: “formal aspects of a linguistic unit that reflect its role in the interaction between the Speaker and the Addressee.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 46). (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
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, p. 46, tradução nossa). Nele, o discurso se organiza em camadas hierárquicas, “uma ação, que pode ser internamente complexa, consistindo em ações menores distinguíveis”13 13 No original: “an action, which may itself be internally complex, consisting of distinguishable smaller actions.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 47). (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1093/acprof:oso/97801...
, p. 47, tradução nossa). A maior unidade de interação verbal relevante para análise gramatical é o Movimento (M), que se caracteriza por seu poder perlocutório, ou seja, é capaz de requerer uma reação do Ouvinte ((P)A) ou ser ele mesmo uma reação do Falante ((P)S) ao que o Ouvinte enunciou. Um Movimento contém um ou mais Atos Discursivos (A), que são definidos como a menor unidade de comportamento comunicativo, constituindo-se de, no máximo, quatro componentes: uma Ilocução (F), o Falante, o Ouvinte e um Conteúdo Comunicado (C). Um Conteúdo Comunicado, por sua vez, contém o que o Falante deseja evocar na comunicação com o Ouvinte. Cada Conteúdo Comunicado é constituído por Subatos (SA), que podem ser de dois tipos: Subatos de Referência (R) e Subatos de Atribuição (T). Enquanto um Subato de Referência representa a tentativa do Falante de evocar um referente na interação verbal, por exemplo universidade, um Subato de Atribuição constitui uma ação para aplicar uma propriedade a uma entidade, por exemplo pública. A estruturação do Nível Interpessoal é representada em (5).14 14 Para simplificação, nesta e nas próximas representações não instanciadas, a possibilidade de ocorrência de mais de uma unidade por camada não é representada, tampouco os slots para operadores, modificadores e funções.

(5) (M1: (A1: [(F1) (P1)S (P2)A (C1: (SA1) (C1))] (A1)) (M1))

O Nível Representacional, por sua vez, diz respeito aos aspectos semânticos das unidades linguísticas. Como observam Hengeveld e Mackenzie (2010HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L Functional Discourse Grammar. In: HEINE, B.; NARROG, H. (eds.). The oxford handbook of linguistic analysis. Oxford: Oxford University Press, 2010. p. 367-400. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199544004.013.0015. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199...
, p. 377, tradução nossa), “enquanto o Nível Interpessoal cuida da evocação, o Nível Representacional é responsável pela designação”15 15 No original: “[w]hereas the Interpersonal Level takes care of evocation, the Representational Level is responsible for designation.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2010, p. 377). . A semântica de uma língua trata dos modos como ela se relaciona com os possíveis mundos que ela descreve, no que diz respeito aos “significados de unidades lexicais (semântica lexical) e unidades complexas (semântica composicional)”16 16 No original: “the meanings of lexical units (lexical semantics) and complex units (compositional semantics).” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 129). (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1093/acprof:oso/97801...
, p. 129, tradução nossa). Assim, as entidades, por um lado, e as camadas, por outro lado, são tomadas como categorias semânticas que elas designam, que são, em última análise, “categorias ontológicas linguisticamente relevantes”17 17 No original: “linguistically relevant manifestations of ontological categories”. (HENGEVELD; MACKENZIE, 2010, p. 377). (HENGEVELD; MACKENZIE, 2010HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L Functional Discourse Grammar. In: HEINE, B.; NARROG, H. (eds.). The oxford handbook of linguistic analysis. Oxford: Oxford University Press, 2010. p. 367-400. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199544004.013.0015. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199...
, p. 377, tradução nossa). Essas categorias são: Conteúdo Proposicional (p), Episódio (ep), Estado de Coisas (e), Propriedade Configuracional (fc), Propriedade (f), Indivíduo (x), Lugar (l), Tempo (t), Modo (m), Quantidade (q) e Razão (r), de modo que apenas as quatro primeiras constituem camadas no português, como representado em (6).

(6) (p1: (ep1: (e1: (fc1: (α1) (fc1)) (e1)) (ep1)) (p1)) tal que α é de qualquer categoria semântica

O Nível Morfossintático, por seu turno, é responsável por receber o input dos dois níveis hierarquicamente acima dele, a saber, o Nível Interpessoal e o Nível Representacional, e convertê-lo em uma representação formal morfossintática. As distinções interpessoais e representacionais são, portanto, codificadas no Nível Morfossintático, que, por sua vez, tem sua própria organização. As camadas desse nível, organizadas de maneira hierárquica, como representado em (7), são a Expressão Linguística (Le), a Oração (Cl), o Sintagma (Xp), a Palavra (Xw), o Radical (Xs), a Raiz (Xr) e o Afixo (Aff). O Sintagma, a Palavra, o Radical e a Raiz têm como núcleo um item lexical advindo do Nível Interpessoal ou do Nível Representacional. A depender da classe do lexema, cada um recebe uma denominação, sendo X igual a N para nomes, V para verbos, A para adjetivos, Adv para advérbios, Ad para adposições e G para Palavras Gramaticais. Note, em (7), que o Nível Morfossintático é recursivo, ou seja, algumas camadas podem conter camadas hierarquicamente a ela iguais ou superiores.

(7) (Le1: [(Cl1: [(Cl2) (Xp1: [(Cl3) (Xp2) (Xw1: [(Xs1) (Xr1) (Aff1)] (Xw1))] (Xp1)) (Xw2)] (Cl1)) (Xp3) (Xw3)] (Le1))

O Nível Fonológico, por fim, é responsável por receber o input do Nível Morfossintático já com algumas distinções codificadas advindas dos níveis acima. As distinções que não puderam ser codificadas no Nível Morfossintático são transformadas nos primitivos com que o Nível Fonológico opera. As camadas que compõem o Nível Fonológico são, em ordem descendente hierárquica, o Enunciado (U), a Frase Entonacional (IP), a Frase Fonológica (PP), a Palavra Fonológica (PW), o Pé (F) e, por fim, a Sílaba (S), como representado em (8).

(8) (U1: (IP1: (PP1: (PW1: (F1: (S1) (F1)) (PW1)) (PP1)) (IP1)) (U1))

O molde de conteúdo

Os moldes de conteúdo são “as combinações possíveis de Subatos com funções pragmáticas que podem preencher a posição nuclear do Conteúdo Comunicado”18 18 No original: “the possible combinations of Subacts with pragmatic functions that may fill the head position of the Communicated Content”. (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 100). (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1093/acprof:oso/97801...
, p. 100, tradução nossa). As funções pragmáticas, por sua vez, dizem respeito ao modo como o Falante modela suas mensagens em relação a suas expectativas sobre o estado mental do Ouvinte e sobre as informações que aquele julga disponíveis a este. Desse modo, a influência dessas expectativas sobre a formulação das expressões linguísticas é chamada de função pragmática Tópico, Foco e Contraste.

A função pragmática Tópico (TOP) é atribuída a um constituinte quando se deseja mostrar como ele se relaciona ao conhecimento já construído e armazenado no Componente Contextual. Com base no constituinte topicalizado, constrói-se um comentário, que é um novo conhecimento a ser introduzido durante a interação verbal. A função pragmática Foco (FOC), por sua vez, indica uma seleção estratégica do Falante para salientar uma informação nova necessária para o Ouvinte acrescentar à sua informação pragmática. Já a função pragmática Contraste (CONTR) coteja uma informação com outra; nesse cotejo, o Falante procura realçar diferenças particulares entre informações.

Os modos como o Falante dispõe as funções pragmáticas no Conteúdo Comunicado revelam o fluxo de atenção para o Ouvinte, indicando-lhe como ele deve relacionar a mensagem recebida ao registro construído e armazenado no Componente Contextual. Esses modos – ou moldes de conteúdo – são de três tipos: Tético, Apresentativo e Categorial.

Uma construção Tética apresenta globalmente a mensagem, associada a apenas um ato cognitivo, de modo que toda ela é focal, como acabou o ensino rudimentar em (9). Pezatti (1992)PEZATTI, E. G. A ordem das palavras em português, aspectos tipológicos e funcionais. 1992. 226f. Tese (Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa) – Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 1992. denomina esse tipo de construção de “frase comentário” porque apresenta uma situação – um comentário – sem apontar um elemento como ponto de partida do fluxo de atenção.

(9) -> acabou o ensino rudimentar (AN97:EnsinoAngola) NI: (AI: [... (CI: [(TI) (+id +s RI: –ensino rudimentar– (RI))] (CI))FOC] (AI))

Uma construção Apresentativa, como há o treino técnico específico em (10), por sua vez, apresenta uma informação que, ao mesmo tempo, é nova, logo focal, e tópica, pois, a partir dela, constrói-se um comentário (na ocorrência em questão: jogadas ensaiadas, tipo livres, directos, cantos).

(10) -> há o treino técnico específico, que é jogadas ensaiadas, tipo livres, directos, cantos (PT95:JogarFutebol) NI: (AI: [... (CI: (+id +s RI: –treino técnico específico– (RI))TOP-FOC (CI))] (AI))

Construções Categoriais, por fim, podem exibir tanto a função pragmática Tópico como a Foco, de modo a determinar as partes da mensagem que se apresentam particularmente salientes, as que são escolhidas como ponto de partida do Falante, a partir das quais o fluxo de atenção é estabelecido. O português, segundo Pezatti (2014)PEZATTI, E. G. A ordem das palavras no português. São Paulo: Parábola Editorial, 2014., é uma língua em que as construções Categoriais são Tópico-orientadas, ou seja, em geral, as informações que são escolhidas como ponto de partida do fluxo de atenção são as que o Falante considera compartilhadas com o Ouvinte. Em (11), eu, participante da interação verbal e, portanto, disponível na situação comunicava imediata, exerce a função pragmática Tópico numa construção Categorial Tópico-orientada.

(11) -> eu sou mais especializado na trompete (TP96:Banda) NI: (AI: [... (CI: [(TI) (RI: [+S –A] (RI))TOP (+id +s RJ: –trompete– (RJ))] (CI))] (AI))

O primeiro membro coordenado em (12) é uma construção Categorial Tópico-orientada, em que você exerce a função pragmática Tópico.

(12) -> você, quando vai ficando numa certa idade, você tem que, você não depende de tudo, mas de um você depende. é ou não é? você não, não precisa depender de tudo que é vizinho, mas de um (BR80:ViverOutros)

Entretanto, o membro oracional coordenado por masSN em (12) não é o foco deste artigo, mas sim o segundo membro, em que haveria, supostamente, apagamento, comovocê precisa depender de um vizinho, ou como sim o que circula nos nossos vasos é sangue em (13).

(13) -> duzentos anos antes de Cristo, Galeno [...] conseguiu demonstrar que o que circula nos nossos vasos não é ar mas sim sangue. (PT89:PaiMedicina) NI: (AI: [(FI: DECL (FI)) (PI)S (PJ)A (CI: (RI: –sangue– (RI)) (CI))FOC-CONTR] (AI))

Esses membros consistem em Atos Discursivos de Ilocução Declarativa (DECL) cujo Conteúdo Comunicado é formado por apenas um Subato, conforme representado em (13).19 19 Nesta e nas próximas representações, apenas o que estiver em negrito nas ocorrências sob análise é representado. Subatos que compõem sozinhos um Ato Discursivo “são, por padrão, sempre focos”20 20 No original: “are always Focus by default.” (MACKENZIE, 2018, p. 47). (MACKENZIE, 2018MACKENZIE, J. L. Testing for constituents: a response from Functional Discourse Grammar. Language Under Discussion, Ithaca, v. 5, n. 1, p. 45-51, abr. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.31885/lud.5.1.225. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.31885/lud.5.1.225...
, p. 47, tradução nossa). Por ser formado por apenas um Subato que evoca uma informação focal, o molde de conteúdo é Tético.

O segundo membro da coordenação adversativa substitutiva, aliás, conforme atesta Galvão Passetti (2021)GALVÃO PASSETTI, G. H. Coordenação de constituintes não oracionais por meio de “mas” nas variedades portuguesas sob a perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional: Concessão e Contraste. 2021. 244f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2021., é sempre Tético e de Subato único, pois o Falante intenciona acrescentar apenas uma informação à informação pragmática do Ouvinte, informação que substitui outra, veiculada no primeiro membro coordenado. Com a finalidade de que o Ouvinte substitua uma informação por outra, o Falante realiza um cotejo; mais especificamente, o Conteúdo Comunicado do segundo membro, além de focal, veicula a função pragmática Contraste, codificada por mas. Assim, a representação não instanciada do segundo membro da coordenação substitutiva é (14).

(14) (A1: [(F1: DECL (F1)) (P1)S (P2)A (C1: (SA1) (C1))FOC-CONTR] (A1))

Os moldes de predicação e o papel do Componente Contextual

Os moldes de predicação, por sua vez, constituem o inventário de predicações disponíveis a uma língua e se caracterizam por sua valência quantitativa e qualitativa. A valência quantitativa diz respeito ao número de unidades semânticas que formam um molde de predicação, enquanto a valência qualitativa diz respeito às funções semânticas que elas assumem. Essas funções semânticas são Ativo (A), Inativo (U) e Locativo (L).

Na ocorrência em (15), a Propriedade Configuracional do primeiro membro da coordenação é representada por (fci). Nela, o Indivíduo , o Conteúdo Proposicional valor e o Indivíduo ídolo exercem as funções semânticas Ativo, Inativo e Locativo, respectivamente, e se relacionam ao predicado de três lugares dar.

(15) Inf.: é totalmente necessário assim... o ídolo não mas uma influência assim... ídolo não... mas uma influência sim Doc.: então cê num dá tanto valor ao ídolo mas à música dele (AC-043, RO: L. 273) NR: (fci: [(fi: da- (fi)) (1 xi)A (intens pi: –valor– (pi))U (xj: –ídolo– (xj))L] (fci))

Segundo McCawley (1991)McCAWLEY, J. D. Contrastive negation and metalinguistic negation. In: THE TWENTY-SEVENTH REGIONAL MEETING OF THE CHICAGO LINGUISTIC SOCIETY, 2., 1991, Chicago. Anais […] Chicago: Chicago Linguistic Society, 1991. p. 189-206., que assume o modelo teórico da Gramática Transformacional, no segundo membro de uma coordenação como essa, há apagamento dos constituintes sintáticos expressos no primeiro membro. A representação em árvore de cê num dá tanto valor ao ídolo mas à música dele de (15), nessa concepção, é como (16).

(17) a Cê num dá tanto valor ao ídolo, mas cê dá valor à música dele. b Cê num dá tanto valor ao ídolo, mas à música dele. a’ Embora cê num dê tanto valor ao ídolo, cê dá valor à música dele. b’ *Embora cê num dê tanto valor ao ídolo, à música dele.

Seguindo a representação em (16), a coordenação em (15) é formada por duas sentenças, conforme (17a), antes da transformação por apagamento. Segundo Harris (1968HARRIS, Z. Mathematical Structures of Language. New York: Wiley, 1968., 1976HARRIS, Z. Notes du Cours de Syntaxe. Trad. Maurice Gross. Paris: Le Seuil, 1976.), o apagamento não altera o sentido de uma sentença. No entanto, (17a) não tem o mesmo sentido veiculado por (17b), expressão linguística real sob análise; prova disso é que o Conteúdo Comunicado cê dá valor à música dele de (17a) pode ser codificado por uma construção concessiva com uso de embora, como em (17a’), o que não se verifica em (17b’), fruto do mesmo teste, agora aplicado a (17b). Em outras palavras, (17a) é uma coordenação em que mas marca função retórica Concessão, ao passo que, em (17b), mas codifica Contraste com papel de substituição, isto é, masSN. Por isso, a paráfrase em (17b’) não é possível, uma vez que esse teste somente se aplica a construções em que mas é concessivo, ou seja, masPA.

Outra proposta de análise, de cunho gerativista, é a de Munn (1993)MUNN, A. B. Topics on the syntax and semantics of coordinate structures. 1993. 410 p.. Tese (Doutorado em Filosofia) – Faculty of the Graduate School, University of Maryland, Maryland, 1993.. Para o autor, mas à música dele seria um constituinte de uma sentença; portanto, suboracional. Essa análise é representada em (18).

No entanto, (18) implica que o segundo membro (à música dele) não é uma sentença, não tendo, portanto, valor de proposição, de acordo com a Gramática Transformacional. Para a GDF, uma proposição corresponde a um Conteúdo Proposicional, entidade de terceira ordem, segundo a categorização de Lyons (1977LYONS, J. Semantics. Cambridge: Cambridge University Press, 1977. 2 v. Disponível em: https://doi.org/10.1017/S0047404500007466. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1017/S004740450000746...
, p. 442-447), que só é avaliada em “termos de atitudes proposicionais (certeza, dúvida, descrença) e/ou em termos de sua fonte ou origem (conhecimento comum partilhado, evidências sensoriais, inferência)”21 21 No original: “in terms of propositional attitudes (certainty, doubt, disbelief) and/or in terms of their source or origin (shared common knowledge, sensory evidence, inference).” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2010, p. 377). (HENGEVELD; MACKENZIE, 2010HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L Functional Discourse Grammar. In: HEINE, B.; NARROG, H. (eds.). The oxford handbook of linguistic analysis. Oxford: Oxford University Press, 2010. p. 367-400. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199544004.013.0015. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199...
, p. 377, tradução nossa).

Os membros da coordenação aqui em foco, no entanto, são sempre Conteúdos Proposicionais (PEZATTI; PAULA; GALVÃO PASSETTI, 2019; PEZATTI; GALVÃO PASSETTI, 2021PEZATTI, E. G.; GALVÃO PASSETTI, G. H. Coordenação não oracional adversativa. In: PEZATTI, E. G.; CAMACHO, R. G; DALL’AGLIO-HATTNHER, M. M. (org.). Construções coordenadas nas variedades portuguesas: uma abordagem discursivo-funcional. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2021. p. 259-302.; GALVÃO PASSETTI, 2021GALVÃO PASSETTI, G. H. Coordenação de constituintes não oracionais por meio de “mas” nas variedades portuguesas sob a perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional: Concessão e Contraste. 2021. 244f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2021.), pois podem ser avaliados em termos de certeza ou dúvida, isto é, submetem-se a uma avaliação epistêmica. Em (13), por exemplo, repetido por conveniência em (19), o Conteúdo Proposicional sangue apresenta uma atitude de certeza do Falante frente ao que é comunicado, indicada pelo operador de modalidade epistêmica subjetiva doxástica (dox), marcado por sim.22 22 Entendemos que, nesses casos, sim codifica o operador de modalidade epistêmica subjetiva doxástica. A Palavra Gramatical sim, no entanto, também marca o operador de polaridade positiva (pos), frequentemente utilizado em resposta a perguntas polares. De qualquer maneira, sim especifica Conteúdo Proposicional. Esse tipo de operador “permite ao Falante indicar que acredita que o Conteúdo Proposicional que ele está apresentando é verdadeiro”23 23 No original: “permits the Speaker to indicate that s/he believes that the Propositional Content s/he is presenting is true.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 153). (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1093/acprof:oso/97801...
, p. 153, tradução nossa).

(19) -> duzentos anos antes de Cristo, Galeno [...] conseguiu demonstrar que o que circula nos nossos vasos não é ar mas sim sangue. (PT89:PaiMedicina) NR: (dox pi: (fci: [(xi) (xj: –sangue– (xj))] (fci)) (pi)) ↘ NM: (Gwi: sim (Gwi)) (Nwi: –sangue– (Nwi))

Toosarvandani (2013)TOOSARVANDANI, M. Corrective but coordinates clauses not always but sometimes. Natural Language and Linguistic Theory, Dordrecht, v. 31, n. 3, p. 827-863, 2013. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s11049-013-9198-4. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1007/s11049-013-9198-...
defende que, para o inglês, tanto a análise de MacCawley (1991) como a de Munn (1993)MUNN, A. B. Topics on the syntax and semantics of coordinate structures. 1993. 410 p.. Tese (Doutorado em Filosofia) – Faculty of the Graduate School, University of Maryland, Maryland, 1993. são corretas, pois dependem da posição que not ocupa na sentença: se not antecede o verbo principal, podendo ser cliticizado, então há coordenação de duas sentenças, tal que a segunda apresenta constituintes sintáticos apagados; se not antecede o constituinte a ser substituído, então há uma coordenação de termos intrassentenciais.

Para explicar o fenômeno, propomos, tomando a perspectiva da GDF, que esses membros não oracionais resultam do tipo de molde de predicação em que são formulados; eles derivam de moldes de predicação em que o predicado é não verbal: Identificacional, Classificacional ou Relacional. De modo geral, esses tipos de predicação necessitam de uma cópula suporte, que é inserida no Nível Morfossintático.

Uma predicação Identificacional, também chamada de equacional na literatura – por exemplo, em Jakobson (1975)JAKOBSON, R. Lingüística e Comunicação. Trad. Izidoro Blikstein e José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1975. –, equipara, no Nível Representacional, duas entidades semânticas de mesma categoria, evocadas por dois Subatos de Referência no Nível Interpessoal, como mostra (20).

(20) NI: (C1: [(R1) (R2)] (C1)) tal que α1 e α2 são da mesma categoria semântica NR: (fc1: [(α1) (α2)] (fc1))

O segundo membro das coordenações em (3) e (15), retomadas por conveniência em (21a) e (21b), respectivamente, apresenta molde de predicação Identificacional, conforme representa (22).

(21) a Não está em jogo o aspecto monetário, mas sim o da cultura. b Cê num dá tanto valor ao ídolo, mas à música dele.

(22) a (dox pi: (fci: [(xi) (xj: –da cultura– (xj))] (fci)) (pi)) b (pi: (fci: [(xi) (xj: –música dele– (xj))] (fci)) (pi))

Em (22),24 24 Não se prevê a formulação das camadas do Episódio e do Estado de Coisas entre o Conteúdo Proposicional e a Propriedade Configuracional porque, nos membros coordenados analisados, não há qualquer modificador ou operador que modifique ou especifique essas camadas, como os que indicam tempo absoluto e relativo, por exemplo. nota-se que as entidades semânticas da predicação do primeiro membro – estar em jogo, de (21a), e cê, dar e valor, de (21b) – não são retomadas no segundo. Isso corresponderia a uma explicação semântica, com base na GDF, da proposta de MacCawley (1991). Tampouco (xj) – o da cultura, de (21a), e a música dele, de (21b) faz parte da Propriedade Configuracional – isto é, predicação – do primeiro membro, o que, por sua vez, se relacionaria à proposta de Munn (1993)MUNN, A. B. Topics on the syntax and semantics of coordinate structures. 1993. 410 p.. Tese (Doutorado em Filosofia) – Faculty of the Graduate School, University of Maryland, Maryland, 1993..

Este artigo propõe outra explicação: o segundo membro apresenta uma Propriedade Configuracional de dois lugares, tal que um dos dois lugares é instanciado por uma entidade semântica de núcleo ausente. Por isso, tanto em (22a) como em (22b), o Indivíduo que corresponde a (xi) não tem designação (não tem núcleo). Essa entidade semântica se relaciona ao registro construído pelo primeiro membro e armazenado no Componente Contextual como informação de curto prazo.

Convém apresentar maiores explicações sobre papel do Componente Contextual na formulação do membro não oracional dessas coordenações. Segundo Hengeveld e Mackenzie (2014)HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Grammar and context in Functional Discourse Grammar, Pragmatics, Amsterdam, v. 24, n. 2, p. 203-227, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1075/prag.24.2.02hen. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1075/prag.24.2.02hen...
, o Componente Contextual abriga informações situacionais e discursivas que são relevantes para a gramática de uma língua. As informações situacionais dizem respeito aos Participantes, ao tempo e ao local da interação verbal corrente, ao passo que a informação discursiva concerne ao que é ativado no discurso, sobejamente no cotexto. Ambas as informações são relevantes, por exemplo, na realização de dêiticos e de anáforas, respectivamente.

De acordo com a proposta de Hengeveld e Mackenzie (2014)HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Grammar and context in Functional Discourse Grammar, Pragmatics, Amsterdam, v. 24, n. 2, p. 203-227, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1075/prag.24.2.02hen. Acesso em: 3 abr. 2023.
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, o Componente Contextual se estrutura de maneira semelhante ao Componente Gramatical, apresentando Estratos correspondentes aos quatro níveis da gramática.25 25 O Componente Contextual tem um quinto Estrato, alimentado pelo Nível Fonético. Esse nível não compõe, no entanto, o Componente Gramatical, mas sim o Componente de Saída. Assim, ao ser produzido um ato de fala, as representações dos quatro níveis da gramática alimentam os quatro Estratos correspondentes do Componente Contextual. Esse processo é exemplificado em (23a),26 26 Nesta e nas próximas representações do Componente Contextual, apenas o Estrato correspondente ao Nível Representacional é explicitado. em que o primeiro membro da coordenação (23), já proferido, compõe o Registro Discursivo no Componente Contextual.

(23) Não está em jogo o aspecto monetário, mas sim o da cultura. 1º membro: (pi: (pres epi: (sim neg ei: (cfci: [(fi: est-_em_jogo (fi)) (pj: (fcj: [(fj: aspecto (fj) (xi: (fk: monet- (fk)) (xi))Ass] (fcj)) (pj))U] (fci)) (ei)) (epi)) (pi)) 2º membro: (dox pk: (fck: [(pj) (pl: (fcl: [(fj) (pm: (fl: cultura (fl)) (pm))Ref] (fcl)) (pl))] (fck)) (pk))

Componente Gramatical Componente Contextual (23a) NR: (dox pk: (fck: [(pj) (pl: (fcl: [(fj) (pm: (fl: cultura (fl)) (pm))Ref] (fcl)) (pl))] (fck)) (pk)) Registro Discursivo: p ep e fc α f ♦ (pi) (pres epi) (sim neg ei) (fcj) (xi)Ass (fk) monet- (f j ) aspecto (cfci) (p j ) U (fi) est-_em_ jogo

Ao produzir o segundo membro, o Falante reativa (pj) e (fj) do primeiro membro. Assim, essas entidades retornam ao Componente Gramatical por meio da operação de Contextualização e, nesse processo, recuperam as relações da estrutura hierárquica de que fazem parte no Componente Contextual. Em (23a), por exemplo, a entidade (pj) armazenada no Componente Contextual é contextualizada na formulação do segundo membro da coordenação de modo a especificá-la como tendo sido argumento Inativo da Propriedade Configuracional (cfci), que, por sua vez, é núcleo do Estado de Coisas (sim neg ei). Esse Estado de Coisas forma sozinho o Episódio (pres epi), veiculado pelo Conteúdo Proposicional (pi), ou seja, (pj) é reativado com a memória de argumento Inativo de não está em jogo o aspecto monetário.

O mesmo ocorre quando o Falante profere mas à música dele de (24). Nesse caso, conforme representa (24a), (xj)L é retomado duas vezes: como argumento de (fcj) e como modificador de (xk) – a música.

(24) Cê num dá tanto valor ao ídolo, mas à música dele. 1º membro: (pi: (pres epi: (sim neg ei: (fci: [(fi: da- (fi)) (1 xi)A (intens pj: (fj: valor (fj)) (pj))U (xj: (fk: ídolo (fk)) (xj))L] (fci)) (ei)) (epi)) (pi)) 2º membro: (pk: (fcj: [(xj) (xk: (fl: música (fl)) (xk): (1 xj)Ref (xk))] (fcj)) (pk))

Componente Gramatical Componente Contextual (24a) NR: (pk: (fcj: [(xj) (xk: (fl: música (fl)) (xk): (1 xj)Ref (xk))] (fcj)) (pk)) Registro Discursivo: p ep e fc α f ♦ (pi) (pres epi) (sim neg ei) (fci) (x j ) L (fk) ídolo (intens pj)U (fj) valor (1 xi)A (fi) da-

A organização do Registro Discursivo de (24a) mostra que o Componente Contextual, além de preservar as relações hierárquicas, registra as entidades semânticas, conforme sua natureza, em pilhas. As entidades que são proferidas por último assumem o topo no empilhamento das entidades de mesma natureza semântica. No Registro Discursivo de (24a), por exemplo, (xj)L está acima de (intens pj)U na pilha porque ao ídolo é codificado depois de valor, ou seja, ao ídolo é ativado no discurso depois que valor o é. “O importante é que horizontalmente a estrutura hierárquica seja respeitada, enquanto verticalmente as relações de empilhamento entre unidades de classificação semelhante são representadas”27 27 No original: “The important thing here is that horizontally the hierarchical structure is respected, while vertically the stack-relations between units of like rank are represented.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2014, p. 213). (HENGEVELD; MACKENZIE, 2014HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Grammar and context in Functional Discourse Grammar, Pragmatics, Amsterdam, v. 24, n. 2, p. 203-227, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1075/prag.24.2.02hen. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1075/prag.24.2.02hen...
, p. 213, tradução nossa).

Além de Identificacional, o membro não oracional pode ter o molde de predicação Classificacional. Numa predicação Classificacional, assim como numa Identificacional, são relacionadas duas entidades semânticas de mesma categoria; a diferença é que, na Classificacional, uma das entidades é evocada, no Nível Interpessoal, por um Subato Atributivo que predica a outra entidade, classificando-a por meio da Propriedade que ocupa sua posição de núcleo, como representado em (25).

(25) NI: (C1: [ (T1) (R1) ] (C1)) tal que α1 e α2 são da mesma categoria semântica NR: (fc1: [(α1: (f1) (α1)) (α2)U] (fc1))

Em português, nas predicações Classificacionais, pronomes indefinidos marcam, no Nível Morfossintático, a entidade cuja Propriedade classifica outra entidade, como o pronome uma, do Sintagma Nominal uma sala de jantar em (26).

(26) -> a copa não é absolutamente como nós vemos na cidade. a copa é uma sala de jantar (BR72:Fazenda) NR: (pfci: [(li: –sala de jantar– (li)) (lj: –copa– (lj))U] (fci))

Na ocorrência em (27), o segundo membro tem molde de predicação Classificacional, tal que uma influência classifica (pk), entidade semântica de núcleo ausente que se relaciona ao registro construído pelo cotexto e armazenado no Componente Contextual.

(27) Doc.: e qual que é a importância desse... desses ídolos po pessoal que tá começan(d)o agora?... fazê(r) música... qual é a importância deles?... pra você né?... que faz música. Inf.: é totalmente necessário assim... o ídolo não mas umainfluência (AC-043, RO: L. 273) NR: (pi: (fci: [(pj: (fi: influência (fi)) (pj)) (pk)U] (fci)) (pi))

Os dois membros da coordenação em (27), representados semanticamente em (28), são não oracionais. A entidade de núcleo ausente que compõe a predicação de ambos os membros são coindexadas. A entidade semântica classificada no segundo membro provém da reativação de (pj) do Registro Discursivo de (28a). Por ser reativada duas vezes, (pj) sobe na pilha de que faz parte, como se observa ao comparar o Registro Discursivo de (28a) com o de (28b).

(28) É totalmente necessário, o ídolo não, mas uma influência. Cotexto: (pi: (pres epi: (sim ei: (pfci: [(fi: necessário (fi)) (pj)U] (fci)) (ei): (fj: total (fj))Means (ei)) (epi)) (pi)) 1º membro: (pk: (fcj: [(pl: (fk: ídolo (fk)) (pl)) (pj)] (fcj)) (pk)) 2º membro: (pm: (fck: [(pn: (fl: influência (fl)) (pn)) (pj)U] (fck)) (pm))

Componente Gramatical Componente Contextual (28a) NR: (pk: (fcj: [(pl: (fk: ídolo (fk)) (pl)) (pj)] (fcj)) (pk)) Registro Discursivo: p ep e fc α f ♦ (pi) (pres epi) (sim ei) (pfci) (fj)Means total (fi) necessário (p j ) U (28b) NR: (pm: (fck: [(pn: (fl: influência (fl)) (pn)) (pj)U] (fck)) (pm)) Registro Discursivo: p ep e fc α f ♦ (pk) (fcj) (pl) (fk) ídolo (pj) (pi) (pres epi) (sim ei) (pfci) (fj)Means total (fi) necessário

Uma distinção importante que depende da atuação do Componente Contextual na formulação da coordenação adversativa substitutiva diz respeito ao escopo da negação presente no primeiro membro e, consequentemente, à ordem que não nele assume. Conforme atesta Galvão Passetti (2021)GALVÃO PASSETTI, G. H. Coordenação de constituintes não oracionais por meio de “mas” nas variedades portuguesas sob a perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional: Concessão e Contraste. 2021. 244f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2021., nesses casos, a partícula negativa é codificada no Nível Morfossintático de três modos:

  1. Na Posição Inicial do Sintagma Verbal, se o membro é oracional;

  2. Antes da Palavra ou do Sintagma que codifica a informação a ser substituída, se o membro é não oracional;

  3. Depois da Palavra ou do Sintagma que codifica a informação a ser substituída, se o membro é não oracional.

A posição pré-verbal de não, como nas ocorrências em (3) e (15), codifica o operador de negação de Estado de Coisas, indicando a não ocorrência desse estado num mundo real ou possível. Já no que se refere ao primeiro membro não oracional, a posição de não indica que:

(i)O Falante substitui uma informação “que ele pressupõe fazer parte da informação pragmática disponível ao Ouvinte, por outra, estabelecendo, nos termos de Hengeveld e Mackenzie (2018)HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Negation in functional discourse grammar. In: KEIZER, E.; OLBERTZ, H. (org.). Recent Developments in Functional Discourse Grammar. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2018. p. 18-45. Disponível em: https://doi.org/10.1075/slcs.205.02hen. Acesso em: 3 abr. 2023.
https://doi.org/10.1075/slcs.205.02hen...
, uma ‘discordância’ (disagreement) com que o Ouvinte possa acreditar” (GALVÃO PASSETTI, 2021GALVÃO PASSETTI, G. H. Coordenação de constituintes não oracionais por meio de “mas” nas variedades portuguesas sob a perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional: Concessão e Contraste. 2021. 244f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2021., p. 179). Nesse caso, não antecede a Palavra ou o Sintagma coordenado;

(ii)A informação a ser substituída “já foi evocada no discurso e armazenada no Componente Contextual, estabelecendo, nos termos de Hengeveld e Mackenzie (2018)HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Negation in functional discourse grammar. In: KEIZER, E.; OLBERTZ, H. (org.). Recent Developments in Functional Discourse Grammar. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2018. p. 18-45. Disponível em: https://doi.org/10.1075/slcs.205.02hen. Acesso em: 3 abr. 2023.
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, uma ‘recusa’ (denial) do que foi dito anteriormente, i.e., uma negação de um Conteúdo Comunicado” (GALVÃO PASSETTI, 2021GALVÃO PASSETTI, G. H. Coordenação de constituintes não oracionais por meio de “mas” nas variedades portuguesas sob a perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional: Concessão e Contraste. 2021. 244f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2021., p. 181). Nesse caso, não sucede a Palavra ou o Sintagma coordenado.

Na ocorrência em (27), cujo primeiro membro é representado em (29) nos níveis Interpessoal e Morfossintático, não sucede o Sintagma o ídolo. Isso só ocorre porque o referente ídolo já foi evocado no cotexto e, portanto, encontra-se presente no Registro Discursivo do Componente Contextual, isto é, não somente assume a posição posterior à Palavra ou ao Sintagma coordenado se a informação que eles codificam estiver presente no registro construído e armazenado no Componente Contextual.28 28 A relação entre o estatuto discursivo da informação a ser substituída com a posição de não na coordenação adversativa substitutiva corrobora a tese de Schwenter (2005), para quem, no contexto de negações verbais do português brasileiro, NEG3, isto é, a negação pós-verbal, como em quero não, em contraste com NEG1 e NEG2, exemplificados por não quero e não quero não, respectivamente, é “empregado especificamente para negar uma proposição do discurso velho que é explicitamente ativada no contexto discursivo” (SCHWENTER, 2005, p. 1452).No original: “employed specifically to deny a discourse-old proposition that has been explicitly activated in the discourse context.”

(29) O ídolo não, mas uma influência. NI: (AI: [... (neg CI: –ídolo– (CI))FOC] (AI)) ↘ NM: (Npi: –o ídolo– (Npi)) (Gwi: não (Gwi))

Nos exemplos citados, um argumento da predicação do primeiro membro é substituído: o aspecto monetário, substituído por o da cultura em (3); o ídolo, substituído por a música dele em (15); e o ídolo, substituído por uma influência em (27). Nesses casos, o molde de predicação do segundo membro é Identificacional ou Classificacional. Quando o Falante pretende substituir um modificador do primeiro membro, o molde de predicação ativado para o segundo membro é o Relacional. Nesse tipo de predicação, “um sintagma marcado com um relator, como uma adposição [no caso do português, uma preposição] ou um marcador de caso [como o sufixo –mente em português], é usado de forma atributiva”29 29 No original: “a phrase marked with a relator such as an adposition or a case marker is used ascriptively.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 190). (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
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, p. 190, tradução nossa), ou seja, no Nível Representacional, ele representa uma Propriedade, evocada por um Subato de Atribuição cujo núcleo é realizado por um Subato de Referência responsável por evocar uma entidade que exerce alguma função semântica. O molde de predicação Relacional é representado em (30).

(30) NI: (C1: [(T1: (R1) (T1)) (R2) ] (C1)) tal que α1 e α2 são de qualquer categoria semântica NR: (fc1: [(f1: (α1)φ (f1)) (α2)U] (fc1))

Um exemplo de predicação relacional, de Hengeveld e Mackenzie (2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
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, p. 204, tradução e adaptação nossa), é (31).

(31) A reunião é na sala 106. NR: (pfci: [(fi: (li: –sala 106– (li))L (fi)) (ei: –reunião– (ei))U] (fci))

Em (31), a sala 106, um Lugar (li), é o Locativo (L) onde acontece a reunião, um Estado de Coisas (ei). A função semântica Locativo é codificada pela Palavra Gramatical em, núcleo do Sintagma Adposicional na sala 106. Em outras palavras, na sala 106 predica a reunião.

Em (32),30 30 Nesta ocorrência, assim não é um advérbio, mas uma pausa preenchida. por sua vez, o modificador de Instrumento (Ins) em atos é substituído por em palavras, que se relaciona a Propriedade Configuracional (fci), sem designação (sem núcleo), cabendo ao Ouvinte recuperá-la no registro construído e armazenado no Componente Contextual, com que (fci) se relaciona, de modo a ser coindexado com a Propriedade Configuracional ela judiar dele.

(32) Inf.: ele sofreu um acidente que ele ficô(u) totalmente deformado [...] tinha que dá(r) banho nele adivinha quem era?... a esposa dele... que tinha acabado de sê(r) traída. aí cê imagina né? diz que ela quase num judiô(u) dele pelo menos NÃO assim em atos mas em palavras né? (AC-050; NR: 174) NR: (pi: (fci: [(fi: (m ei: –palavra– (ei))Ins (fi)) (fcj)U] (fci)) (pi))

Na ocorrência em (32), assim como na em (27), ambos os membros coordenados são não oracionais, mas, em (32), diferentemente de em (27), não precede o primeiro membro da coordenação. Isso se deve ao fato de que em atos é um instrumento, com que se pode judiar o homem em questão, que o Ouvinte poderia inferir, interpretando judiar como relacionado à violência física, mas não à psicológica. O Falante prevê essa possível interpretação do Ouvinte e então a nega. Desse modo, em (33), em que se retoma e se representa ambos os membros da coordenação em (32), neg especifica (pj), indicando que essa proposição, entendida como uma suposição do Ouvinte, não é verdadeira. Além disso, a Palavra Gramatical não, nessa ocorrência, não poderia suceder em atos porque atos não foi ativado no discurso anterior e, portanto, não compõe o Registro Discursivo do Componente Contextual.

(33) Diz que ela quase num judiou dele, pelo menos não em atos, mas em palavras.31 Cotexto: (pi: (past epi: (sim neg ei: (fci: [(fi: judia- (fi)) (1 xi)A (1 xj)L] (fci)) (ei)) (epi)) (pi)) 1º membro: (neg pj: (fcj: [(fj: (m ej: (fk: ato (fk)) (ej))Ins (fj)) (fci)U] (fcj)) (pj)) 2º membro: (pk: (fck: [(fl: (m ek: (fm: palavra (fm)) (ek))Ins (fl)) (fci)U] (fck)) (pk))

Componente Gramatical Componente Contextual (33a) NR: (neg pj: (fcj: [(fj: (m ej: (fk: ato (fk)) (ej))Ins (fj)) (fci)U] (fcj)) (pj)) Registro Discursivo: p ep e fc α f ♦ (pi) (past epi) (sim neg ei) (f c i ) (1 xj)L (1 xi)A (fi) judia- (33b) NR: (pk: (fck: [(fl: (m ek: (fm: palavra (fm)) (ek))Ins (fl)) (fci)U] (fck)) (pk)) Registro Discursivo: p ep e fc α f ♦ (neg pj) (fcj) (fj) (m ej)Ins (fk) ato (f c i ) U (pi) (past epi) (sim neg ei) (1 xj)L (1 xi)A (fi) judia-

Nos membros não oracionais cujo molde de predicação é relacional, uma camada do Nível Representacional é retomada do Registro Discursivo e reativada como argumento no Componente Gramatical. Consequentemente, essa camada é subsequentemente empilhada como argumento (α), ou seja, essa entidade troca de pilha no Registro Discursivo do Componente Contextual, conforme se nota ao comparar o Registro Discursivo de (33a) com o de (33b).

É uma Propriedade Configuracional que é predicada em (32) porque a função semântica Instrumento se relaciona a essa camada. Outras camadas também podem ser relacionadas, tais como as camadas do Conteúdo Proposicional, do Episódio e do Estado de Coisas, a depender da função semântica exercida pelo membro codificado com uma preposição ou com um marcador de caso.

Hengeveld e Mackenzie (2008)HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
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propõem, baseados em evidências tipológicas, que modificadores de Companhia, Instrumento e Beneficiário são mais centrais, relacionando-se à Propriedade Configuracional, ao passo que os de evidencialidade e os que revelam atitudes proposicionais do Falante são mais periféricos, associando-se à camada do Conteúdo Proposicional. Dentre eles, há os de Estado de Coisas e de Episódio. Uma função semântica cujo escopo é o Estado de Coisas é a de Modo (Means), exemplificada em (34) e codificada pelo marcador de caso –mente, em fisicamente.

Em (34),32 32 Cf. Nota de rodapé 29, p. 24. sentimentalmente, modificador do Estado de Coisas a gente ter muitas coisas iguais, é substituído por fisicamente, que, por sua vez, relaciona-se a (ei)U, entidade semântica de núcleo ausente coindexada com o Estado de Coisas modificado no primeiro membro, predicando-o numa relação que se estabelece no escopo de (fci), conforme representado em (34).

Nesses casos, como (32) e (34), diferentemente daqueles em que um argumento de predicação é substituído, o segundo membro da coordenação, expresso por um Sintagma Adposicional ou com um marcador de caso, é formulado, no Nível Representacional, pelo molde de predicação Relacional.

Desse modo, a representação não instanciada do membro não oracional da coordenação substitutiva no Nível Representacional é (35), a depender do tipo de molde de predicação que o instancia.

(35) ({neg} p1: (fc1: [(α1: (f1: ♦ (f1)) (α1)) (α2)] (fc1)) (p1)) Identificacional ({neg} p1: (fc1: [(α1: (f1: ♦ (f1)) (α1)) (α2)U] (fc1)) (p1)) Classificacional ({neg} p1: (fc1: [(f1: (α1: (f2: ♦ (f2)) (α1))φ (f1)) (α2)U] (fc1)) (p1)) Relacional

O alinhamento com discrepância entre os níveis da Formulação

A GDF é um modelo teórico que não admite apagamento de elementos na expressão linguística. Numa abordagem sintaticocêntrica, obviamente, ele seria necessário para explicar o fenômeno aqui analisado. É possível, no entanto, explicar esse fenômeno sem recorrer a regras de apagamento, como a seguir mostraremos.

A GDF, como já apontado, organiza-se em quatro níveis. A explicação para o fenômeno de não expressão de unidades sintáticas é decorrente da desarticulação entre os dois níveis da Formulação: o Nível Interpessoal e o Nível Representacional.

Na ocorrência em (36), é notório que o Falante pretende contrastar por razões portanto eleitorais que nunca estiveram no meu espírito com por leitura que faço da constituição e atualizar a informação pragmática do Ouvinte, acrescentando o segundo como a informação nova que deve substituir o primeiro; por isso, o molde de conteúdo acionado pela gramática é o Tético, já que o Falante intenciona suprir uma lacuna que ele imagina haver na representação mental do Ouvinte. No Nível Representacional, por sua vez, por leitura que faço da constituição, que veicula a função semântica Causa (Cause), relaciona-se ao Estado de Coisas eu ter a prudência de não cair nesse aspecto, presente no cotexto e retomado anaforicamente.

(36) -> o presidente da república não tem no nosso sistema funções executivas. quem tem as funções executivas é o governo. na medida em que o presidente da república queira avançar mais do que deve, cai numa área de conflitualidade. e então é pior a emenda do que o soneto, [...] e eu tive a prudência de não cair nesse aspecto. [...] não por razões portanto eleitorais que nunca estiveram no meu espírito mas por leitura que faço da constituição. (PT90:PoderesChefeEstado)

Necessariamente, no segundo membro da coordenação adversativa substitutiva – e opcionalmente no primeiro –, há discrepância (mismatches) (HENGEVELD; MACKENZIE, 2021HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Interfaces, mismatches, and the architecture of Functional Discourse Grammar. In: CONTRERAS-GARCÍA, L.; GARCÍA VELASCO, D. (ed.). Interfaces in Functional Discourse Grammar: Theory and Applications. Berlin; Boston: De Gruyter Mouton, 2021. p. 15-58. Disponível em: https://doi.org/10.1515/9783110711592-002. Acesso em: 3 abr. 2023.
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) entre o Nível Interpessoal e o Nível Representacional, numa relação de um para mais de um, respectivamente; em outras palavras, a gramática seleciona um molde de predicação que é instanciado por duas entidades semânticas, mas apenas uma delas é evocada no Nível Interpessoal, pois a gramática aciona o molde de conteúdo Tético composto por um único Subato. A título de exemplificação, o segundo membro em (36) é representado em (37) nos dois níveis da Formulação, de modo a evidenciar o alinhamento e a discrepância entre os níveis.

(37) (AI: [ ... (CI: (TI: (RJ: –leitura que faço da constituição– (RJ)) (TI)) (CI))FOC-CONTR] (AI)) (pi: (fci: [ (fi: (ei: –leitura que faço da constituição– (ei))Cause (fi)) (ej)U] (fci)) (pi))

Assim, enquanto o molde de conteúdo Tético faz com que o membro não oracional da coordenação adversativa substitutiva seja um Sintagma ou uma Palavra, o molde de predicação, Identificacional, Classificacional ou Relacional, por sua vez, confere a esse membro um carácter sentencial, proposicional, motivo pelo qual muitos gramáticos são levados a considerar a existência de apagamento, o que não se verifica.

Considerações finais

A GDF entende que a morfossintaxe desempenha um papel auxiliar no que se refere à transmissão de significado. No tipo de coordenação aqui estudada, para o segundo membro coordenado, a gramática prevê a codificação de apenas Sintagmas ou Palavras, tendo em vista que eles buscam veicular apenas uma informação de maneira focalizada. Ao mesmo tempo, essa informação compõe uma predicação de dois lugares. Um dos lugares é instanciado por uma entidade semântica de núcleo ausente retomada anaforicamente do Componente Contextual. Assim, a predicação se relaciona adequadamente ao registro construído e armazenado nesse componente. Apenas um modelo teórico que leva em conta a natureza situada da interação verbal, expressa na GDF pelos componentes que interatuam com a gramática de uma língua natural, é capaz de descrever satisfatoriamente o tipo de coordenação aqui analisada.

O Quadro 2 resume as propriedades pragmáticas, semânticas, morfossintáticas e fonológicas do membro não oracional do tipo de coordenação sob análise, além das relações de correspondência entre os níveis da gramática, tal que α é de qualquer categoria semântica. As chaves que envolvem neg e CONTR representam, respectivamente, a possibilidade de ocorrência do operador de negação, no primeiro membro, e da função pragmática Contraste, no segundo membro coordenado.

Quadro 2
– Alinhamento entre os níveis da Formulação e os da Codificação do membro não oracional da coordenação adversativa substitutiva

Espera-se, com este estudo, contribuir para a descrição, de base funcionalista, da coordenação adversativa substitutiva. Outros aspectos, como os padrões morfossintáticos e fonológicos da coordenação como um todo, são abordados por Pezatti e Galvão Passetti (2021)PEZATTI, E. G.; GALVÃO PASSETTI, G. H. Coordenação não oracional adversativa. In: PEZATTI, E. G.; CAMACHO, R. G; DALL’AGLIO-HATTNHER, M. M. (org.). Construções coordenadas nas variedades portuguesas: uma abordagem discursivo-funcional. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2021. p. 259-302. e Galvão Passetti (2021)GALVÃO PASSETTI, G. H. Coordenação de constituintes não oracionais por meio de “mas” nas variedades portuguesas sob a perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional: Concessão e Contraste. 2021. 244f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2021.. Outras especificidades, como a presença de Contraste contrapressuposicional em um ou ambos os membros – por exemplo, não (só) X mas (também) Y –, entre outras, que não puderam ser aqui analisadas, ficam para futuras investigações.

Agradecimentos

Agradecemos ao Concelho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo financiamento (GD/CNPq Proc. No. 140383/2021-2 e PQ/CNPq Proc. No. 301257/2017-5, bolsas concedidas ao primeiro e ao segundo autor, respectivamente) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001 (bolsa recebida durante realização de Mestrado Acadêmico pelo primeiro autor), que permitiram a condução dessa pesquisa e elaboração deste artigo.

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  • VOGT, C.; DUCROT, O. De Magis a Mas: uma hipótese semântica. In: VOGT, C.; DUCROT, O. Linguagem, pragmática e ideologia. São Paulo: Hucitec, 1980. p. 103-128.
  • 1
    De acordo com Anscombre e Ducrot (1977)ANSCOMBRE, J. C.; DUCROT, O. Deux Mais en français. Língua, Amsterdam, v. 43, p. 23-40, 1977., PA se refere a pero e aber e SN, a sino e sondern; pero e sino são do espanhol e aber e sondern, do alemão.
  • 2
    Palavras que designam conceitos teóricos da GDF são grafadas com a primeira letra maiúscula.
  • 3
    Para uma descrição detalhada da diferença, tanto de formulação como de codificação, entre mas concessivo e mas contrastivo, cf. Galvão Passetti (2021)GALVÃO PASSETTI, G. H. Coordenação de constituintes não oracionais por meio de “mas” nas variedades portuguesas sob a perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional: Concessão e Contraste. 2021. 244f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2021..
  • 4
    O apagamento é um tipo de transformação parafrástica que gera elipse. Ele consiste numa reorganização no plano da forma e intervém sobre uma estruturação prévia no momento em que se estabelece a estruturação sintática, sem modificar o sentido. Para informações mais detalhadas, cf. Harris (1968HARRIS, Z. Mathematical Structures of Language. New York: Wiley, 1968., 1976HARRIS, Z. Notes du Cours de Syntaxe. Trad. Maurice Gross. Paris: Le Seuil, 1976.).
  • 5
  • 6
    No original: “of both a communicative intention relevant for the current speech event and the associated conceptualizations with respect to relevant extra-linguistic events, and is thus the driving force behind the Grammatical Component as a whole.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2010HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L Functional Discourse Grammar. In: HEINE, B.; NARROG, H. (eds.). The oxford handbook of linguistic analysis. Oxford: Oxford University Press, 2010. p. 367-400. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199544004.013.0015. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199...
    , p.368-369).
  • 7
    No original: “translating the digital (i.e. categorical, opposition-based) information in the grammar into analog (i.e., continuously variable) form.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2010HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L Functional Discourse Grammar. In: HEINE, B.; NARROG, H. (eds.). The oxford handbook of linguistic analysis. Oxford: Oxford University Press, 2010. p. 367-400. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199544004.013.0015. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199...
    , p. 369).
  • 8
    No original: “Firstly, it houses the immediate information received from the Grammatical Component concerning a particular utterance which is relevant to the form that subsequent utterances may take. Secondly, it contains longer-term information about the ongoing interaction that is relevant to the distinctions that are required in the language being used, and which influence formulation and encoding in that language”. (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1093/acprof:oso/97801...
    , p. 9-10).
  • 9
    No original: “motivated by the assumption that a model of grammar will be more effective the more its organization resembles language processing in the individual.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1093/acprof:oso/97801...
    , p. 1-2).
  • 10
    No original: “FDG takes the functional approach to language to its logical extreme.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1093/acprof:oso/97801...
    , p. 13).
  • 11
    No original: “hypothesis that a wide range of formal categories can be insightfully explained if they are brought into correspondence with semantic and pragmatic categories rooted in human cognition and interhuman communication.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2010HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L Functional Discourse Grammar. In: HEINE, B.; NARROG, H. (eds.). The oxford handbook of linguistic analysis. Oxford: Oxford University Press, 2010. p. 367-400. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199544004.013.0015. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199...
    , p. 371).
  • 12
    No original: “formal aspects of a linguistic unit that reflect its role in the interaction between the Speaker and the Addressee.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1093/acprof:oso/97801...
    , p. 46).
  • 13
    No original: “an action, which may itself be internally complex, consisting of distinguishable smaller actions.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1093/acprof:oso/97801...
    , p. 47).
  • 14
    Para simplificação, nesta e nas próximas representações não instanciadas, a possibilidade de ocorrência de mais de uma unidade por camada não é representada, tampouco os slots para operadores, modificadores e funções.
  • 15
    No original: “[w]hereas the Interpersonal Level takes care of evocation, the Representational Level is responsible for designation.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2010HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L Functional Discourse Grammar. In: HEINE, B.; NARROG, H. (eds.). The oxford handbook of linguistic analysis. Oxford: Oxford University Press, 2010. p. 367-400. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199544004.013.0015. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199...
    , p. 377).
  • 16
    No original: “the meanings of lexical units (lexical semantics) and complex units (compositional semantics).” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1093/acprof:oso/97801...
    , p. 129).
  • 17
    No original: “linguistically relevant manifestations of ontological categories”. (HENGEVELD; MACKENZIE, 2010HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L Functional Discourse Grammar. In: HEINE, B.; NARROG, H. (eds.). The oxford handbook of linguistic analysis. Oxford: Oxford University Press, 2010. p. 367-400. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199544004.013.0015. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199...
    , p. 377).
  • 18
    No original: “the possible combinations of Subacts with pragmatic functions that may fill the head position of the Communicated Content”. (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1093/acprof:oso/97801...
    , p. 100).
  • 19
    Nesta e nas próximas representações, apenas o que estiver em negrito nas ocorrências sob análise é representado.
  • 20
    No original: “are always Focus by default.” (MACKENZIE, 2018MACKENZIE, J. L. Testing for constituents: a response from Functional Discourse Grammar. Language Under Discussion, Ithaca, v. 5, n. 1, p. 45-51, abr. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.31885/lud.5.1.225. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.31885/lud.5.1.225...
    , p. 47).
  • 21
    No original: “in terms of propositional attitudes (certainty, doubt, disbelief) and/or in terms of their source or origin (shared common knowledge, sensory evidence, inference).” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2010HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L Functional Discourse Grammar. In: HEINE, B.; NARROG, H. (eds.). The oxford handbook of linguistic analysis. Oxford: Oxford University Press, 2010. p. 367-400. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199544004.013.0015. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199...
    , p. 377).
  • 22
    Entendemos que, nesses casos, sim codifica o operador de modalidade epistêmica subjetiva doxástica. A Palavra Gramatical sim, no entanto, também marca o operador de polaridade positiva (pos), frequentemente utilizado em resposta a perguntas polares. De qualquer maneira, sim especifica Conteúdo Proposicional.
  • 23
    No original: “permits the Speaker to indicate that s/he believes that the Propositional Content s/he is presenting is true.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1093/acprof:oso/97801...
    , p. 153).
  • 24
    Não se prevê a formulação das camadas do Episódio e do Estado de Coisas entre o Conteúdo Proposicional e a Propriedade Configuracional porque, nos membros coordenados analisados, não há qualquer modificador ou operador que modifique ou especifique essas camadas, como os que indicam tempo absoluto e relativo, por exemplo.
  • 25
    O Componente Contextual tem um quinto Estrato, alimentado pelo Nível Fonético. Esse nível não compõe, no entanto, o Componente Gramatical, mas sim o Componente de Saída.
  • 26
    Nesta e nas próximas representações do Componente Contextual, apenas o Estrato correspondente ao Nível Representacional é explicitado.
  • 27
    No original: “The important thing here is that horizontally the hierarchical structure is respected, while vertically the stack-relations between units of like rank are represented.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2014HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Grammar and context in Functional Discourse Grammar, Pragmatics, Amsterdam, v. 24, n. 2, p. 203-227, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1075/prag.24.2.02hen. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1075/prag.24.2.02hen...
    , p. 213).
  • 28
    A relação entre o estatuto discursivo da informação a ser substituída com a posição de não na coordenação adversativa substitutiva corrobora a tese de Schwenter (2005)SCHWENTER, S. A. The pragmatics of negation in Brazilian Portuguese. Lingua, Amsterdam, v. 115, n. 10, p. 1427-1456, 2005. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.lingua.2004.06.006. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1016/j.lingua.2004.06...
    , para quem, no contexto de negações verbais do português brasileiro, NEG3, isto é, a negação pós-verbal, como em quero não, em contraste com NEG1 e NEG2, exemplificados por não quero e não quero não, respectivamente, é “empregado especificamente para negar uma proposição do discurso velho que é explicitamente ativada no contexto discursivo” (SCHWENTER, 2005SCHWENTER, S. A. The pragmatics of negation in Brazilian Portuguese. Lingua, Amsterdam, v. 115, n. 10, p. 1427-1456, 2005. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.lingua.2004.06.006. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1016/j.lingua.2004.06...
    , p. 1452).No original: “employed specifically to deny a discourse-old proposition that has been explicitly activated in the discourse context.”
  • 29
    No original: “a phrase marked with a relator such as an adposition or a case marker is used ascriptively.” (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J. L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001. Acesso em: 3 abr. 2023.
    https://doi.org/10.1093/acprof:oso/97801...
    , p. 190).
  • 30
    Nesta ocorrência, assim não é um advérbio, mas uma pausa preenchida.
  • 31
    As expressões diz que, quase e pelo menos são operadores do Nível Interpessoal: reportativo, ironia e mitigação, respectivamente.
  • 32
    Cf. Nota de rodapé 29, p. 24.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    10 Set 2021
  • Aceito
    13 Out 2021
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