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A ALTERNÂNCIA DE VERBOS COM ARGUMENTO MOTIVADOR NO PB: UM TIPO DE FATORAÇÃO DE ARGUMENTO

RESUMO

Neste artigo, analisamos um tipo de alternância que nos permite expressar um constituinte complexo, que originalmente ocupa a posição de objeto, em duas posições sintáticas distintas, como ocorre no par de sentenças: os alunos admiram o brilhantismo do professor/os alunos admiram o professor pelo (seu) brilhantismo. Para a análise desse fenômeno, utilizamos a proposta de papéis temáticos enquanto propriedades semânticas discretas de Cançado (2005)CANÇADO, M. Propriedades semânticas e posições argumentais. DELTA, São Paulo, v. 21, n. 1, p. 23- 56, 2005. e Cançado and Amaral (2016)CANÇADO, M.; AMARAL, L. Introdução à Semântica Lexical: Papéis Temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.. Propomos que a alternância analisada decorre da fatoração do argumento verbal complexo, sendo determinada por restrições semânticas de nível nominal e verbal. No primeiro nível, os argumentos complexos passíveis de serem fatorados devem denotar uma relação de posse, como no sintagma o brilhantismo do professor, ou uma relação entre um nome eventivo e seu agente, como no sintagma nominal a excelente atuação do artista em o público aplaudiu a excelente atuação do artista/o público aplaudiu o artista pela (sua) excelente atuação. No nível verbal, os verbos que realizam essa alternância podem ser agrupados em uma classe coarse-grained (LEVIN, 2010LEVIN, B. What is the best grain-size for defining verb classes?. World Classes Conference, 2010. Disponível em: https://web.stanford.edu/~bclevin/rome10grain.pdf. Acesso em: 26 abr. 2023.
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), pois todos atribuem as propriedades semânticas estativo, objeto de referência e objeto motivador para o seu argumento complexo passível de ser fatorado. Por fim, propomos que a alternância em questão é motivada por fatores pragmáticos relacionados à estrutura informacional dos enunciados analisados.

alternância verbal; fatoração de argumento; propriedades semânticas; posições sintáticas; estrutura Informacional

ABSTRACT

In this paper, we analyze a type of alternation that allows to express the complex constituent, which is originally in the object position, in two different syntactic positions, such as in the sentences: os alunos admiram o brilhantismo do professor [students admire the teacher’s brilliance]/os alunos admiram o professor pelo brilhantismo [students admire the teacher for his brilliance]. For the analysis of this phenomenon, we used the proposal of thematic papers as a cluster of discrete semantic properties of Cançado (2005)CANÇADO, M. Propriedades semânticas e posições argumentais. DELTA, São Paulo, v. 21, n. 1, p. 23- 56, 2005. and Cançado and Amaral (2016)CANÇADO, M.; AMARAL, L. Introdução à Semântica Lexical: Papéis Temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.). We propose that the analyzed alternation results from the factoring of the complex verb argument, being determined by semantic restrictions of nominal and verbal level. At the first level, the complex arguments which can be factored must denote a possession relationship, as in the phrase o brilhantismo do professor [the brilliance of the teacher] or the relationship between an eventive name and its agent, such as the nominal phrase a excelente atuação do artista [the excellent performance of the artist] in the alternation o público aplaudiu a excelente atuação do artista [the audience applauded the excellent performance of the artist]/o público aplaudiu o artista por sua excelente atuação [the audience applauded the artist for his excellent performance]. At the verbal level, the verbs that perform this alternation can be grouped into a coarse-grained class (LEVIN, 2010LEVIN, B. What is the best grain-size for defining verb classes?. World Classes Conference, 2010. Disponível em: https://web.stanford.edu/~bclevin/rome10grain.pdf. Acesso em: 26 abr. 2023.
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), as they all attribute the semantic properties estativo [estative], objeto de referência [reference object] and objeto motivador [motivating object] to their complex argument, which can be factored. Finally, we propose that the alternation is motivated by pragmatic factors related to the informational structure of the analyzed statements.

verb alternation; argument factoring; semantic properties; syntactic positions; informational structure

Introdução

O português brasileiro (PB), possui uma série de verbos que exibem o comportamento sintático a seguir:

  • (1)a. O fiel teme a força de Deus.

  • b. O fiel teme Deusi por suai/pela força.

  • (2)a. Os alunos admiram o brilhantismo do professor.

  • b. Os alunos admiram o professori por seui/pelo brilhantismo.

Em (1a) e (2a), os argumentos complexos a força de Deus e o brilhantismo do professor ocupam a posição sintática de objeto, enquanto nas sentenças em (b), esses argumentos estão fatorados em duas posições sintáticas distintas: em sua posição de origem, no caso dos sintagmas nominais (SNs) Deus e o professor, e na posição de adjunto, como um sintagma preposicionado (SP) encabeçado pela preposição por: por sua força/pela [por a] força e por seu brilhantismo/pelo [por o] brilhantismo.

Propomos que essa alternância verbal oriunda da possibilidade de fatoração do argumento complexo que ocupa a posição sintática de objeto.1 1 Entendemos por alternância verbal qualquer forma de reorganização da expressão dos argumentos de um verbo e não apenas a alternância entre uma forma transitiva e uma intransitiva (LEVIN, 1993; CANÇADO, 2010). Chamamos as formas em (a) de forma não fatorada e as formas em (b) de forma fatorada das sentenças.

Desde já, é interessante notar que, na forma fatorada, há uma relação anafórica, expressa pelo pronome possessivo seu ou pelo artigo definido a/o, entre os elementos do argumento fatorado. Essa relação é uma condição para a realização da alternância, como explicitaremos mais adiante.

Nosso objetivo é mostrar, seguindo a linha da Interface Sintaxe-Semântica Lexical (FILLMORE, 2003FILLMORE, C. The grammar of hitting and breaking. In: FILLMORE, C. Form and meaning in language: papers on semantics roles. Stanford: CSLI Publications, 2003 [1970]. p. 123-139. [1970]; PINKER, 1989PINKER, S. Learnability and Cognition: The acquisition of argument structure. Cambridge: MIT Press, 1989.; JACKENDOFF, 1990JACKENDOFF, R. Semantic structures. Cambridge: MIT Press, 1990.; LEVIN; RAPPAPORT HOVAV, 2005LEVIN, B.; RAPPAPORT HOVAV, M. Argument Realization. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.; BEAVERS, 2010BEAVERS, J. The Structure of Lexical Meaning: Why Semantics Really Matters. Language, Washington, v. 86, p. 821-864, 2010.; BEAVERS; KOONTZ-GARBODEN, 2020BEAVERS, J.; KOONTZ-GARBODEN, A. The Roots of Verbal Meaning. Oxford: Oxford University Press, 2020., entre vários outros autores), quais restrições semânticas determinam a realização dessa configuração sintática alternada das sentenças e qual a sua interpretação, além de fornecer uma motivação para a sua ocorrência. Todas essas questões serão exploradas parte a parte no decorrer do texto, começando pela discussão da estruturação sintática da forma fatorada.

Argumentos verbais em posição de adjunção

Iniciamos esta seção mostrando que os argumentos fatorados são realmente dois constituintes sintáticos distintos. É importante evidenciarmos isso, pois podemos pensar que, em uma sentença como os alunos admiram o professor pelo brilhantismo, a expressão pelo brilhantismo funciona como adjunto do SN o professor, constituindo um único sintagma complexo. Para provarmos que na forma fatorada das sentenças há dois constituintes distintos e não um só constituinte complexo, como na forma não fatorada, utilizaremos um conhecido teste de constituência, que é o teste da passivização:

  • (3)a. Os alunos admiravam o brilhantismo do professor.

  • b. O brilhantismo do professor era admirado pelos alunos.

  • (4)a. Os alunos admiravam o professor pelo (seu) brilhantismo.

  • b. O professor era admirado pelos alunos (pelo seu brilhantismo).

  • c. * O professor pelo seu brilhantismo era admirado pelos alunos.

É sabido que um constituinte possui mobilidade sintática dentro da sentença. Assim, na forma passiva da sentença não fatorada em (3b), o SN complexo o brilhantismo do professor desloca-se por inteiro para a posição de sujeito. Já na forma passiva da sentença fatorada em (4b), apenas o SN o professor desloca-se para a posição de sujeito. Quando deslocamos o professor pelo seu brilhantismo, exemplo (4c), a sentença fica agramatical, o que mostra que o SN o professor e o SP pelo seu brilhantismo são dois constituintes distintos e não um SN complexo composto pelo núcleo o professor e o adjunto pelo brilhantismo. Constituintes complexos que apresentam relação de adjunção podem se locomover como uma unidade dentro da sentença, como em a menina de roupa preta era admirada pelos colegas, em que o SN complexo, formado pelo núcleo a menina e pelo adjunto de roupa preta, ocupa a posição de sujeito da sentença passiva.

Tendo mostrado que os sintagmas o professor e pelo brilhantismo são constituintes distintos, resta-nos determinar qual a posição sintática ocupada pelo SP. Como ele não é um adjunto do nome, propomos que o SP desmembrado do argumento complexo ocupa a posição de adjunto verbal. Nossa proposta baseia-se em Cançado (2009)CANÇADO, M. Argumentos: complementos e adjuntos. Alfa, São José do Rio Preto, v. 53, n. 1. 2009., que apoiada em autores como Baker (2001)BAKER, M. On the differences among the lexical categories. New Jersey: Rutgers University, 2001., Franchi (2003FRANCHI, C. Predicação. In: CANÇADO, M. (org.). Predição, Relações semânticas e papéis temáticos: anotações de Carlos Franchi. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v. 11, n.2, 2003 [1997]. [1997]), Santorini e Kroch (2007)SANTORINI, B.; KROCH, A. The syntax of natural language: an online introduction using the threes program. 2007. Disponível em: https://www.ling.upenn.edu/~beatrice/syntax-textbook/. Acesso em: 08 maio 2020.
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, propõe que argumentos verbais podem ocupar a posição de adjunção, de modo que as relações de predicação não correspondem diretamente às funções sintáticas de sujeito e objeto.

De acordo com Cançado (2009)CANÇADO, M. Argumentos: complementos e adjuntos. Alfa, São José do Rio Preto, v. 53, n. 1. 2009., os argumentos verbais são definidos através da relação de acarretamento lexical (DOWTY, 1991DOWTY, D. Thematic proto-roles and argument selection. Language, Washington, v. 67, n. 3, p. 547-619, 1991.). Assim, um verbo como vender toma quatro argumentos para ter o seu sentido saturado, pois acarreta a informação de que alguém (argumento 1) vende algo (argumento 2) para alguém (argumento 3) por um determinado valor (argumento 4). Essa informação semântica a respeito do verbo vender é associada à sintaxe da seguinte maneira: o argumento mais proeminente na Hierarquia Temática ocupa a posição de sujeito, o segundo mais proeminente ocupa a posição de objeto e os demais argumentos ocupam a posição de adjunto, sendo sempre preposicionados.2 2 Não entraremos em detalhes sobre as propostas existentes de Hierarquia Temática. Para este artigo, basta saber que esse é um princípio de ligação entre a semântica e a sintaxe, segundo o qual os papéis semânticos mais proeminentes (geralmente Agente e Causa), tendem a ocupar a posição de sujeito do verbo. Na ausência desses papéis, outros papéis semânticos da escala de proeminência ocupam essa posição. Para saber mais sobre o Princípio da Hierarquia Temática, ler Levin e Rappaport Hovav (2005) e Cançado e Amaral (2016). Neste artigo, não entraremos no mérito de discutir detalhadamente a proposta da autora nem tão pouco afirmaremos que, de fato, verbos como vender tomam quatro argumentos para ter seu sentido completo. O que fazemos é adotar a ideia de que, em alguns casos específicos, como o da alternância que analisamos, argumentos verbais podem ocupar uma posição de adjunção em uma forma derivada das sentenças.

Também adotaremos a classificação das preposições proposta por Cançado (2009)CANÇADO, M. Argumentos: complementos e adjuntos. Alfa, São José do Rio Preto, v. 53, n. 1. 2009.. Segundo a autora, as preposições para e por, que introduzem os argumentos do verbo vender, têm caráter funcional, pois aparecem somente para atribuir Caso sintático aos argumentos verbais, de modo que os papéis temáticos dos mesmos são atribuídos pelo próprio verbo. É importante ressaltar que, de acordo com Cançado (2009)CANÇADO, M. Argumentos: complementos e adjuntos. Alfa, São José do Rio Preto, v. 53, n. 1. 2009., o caráter lexical ou funcional das preposições é dado a partir da noção de predicação, o que difere de propostas de cunho gerativista, que muitas vezes adotam listas de preposições lexicais e funcionais. Para a autora, se a preposição encabeça um SN que é acarretado pelo sentido do verbo, então ela existe apenas para atribuir Caso a esse SN e, portanto, é funcional. No entanto, se a preposição encabeça um SN que não é acarretado pelo sentido do verbo, ela é lexical, aparecendo para atribuir não apenas Caso, mas também papel temático a esse SN, como é o caso da preposição em na sentença o artista cantou no Teatro Municipal, uma vez que o verbo cantar não pede um local para completar seu sentido.

Voltemos agora a atenção para a sentença fatorada os alunos admiram o professor pelo (seu) brilhantismo. Como mencionamos, nossa proposta é de que pelo (seu) brilhantismo ocupa a posição de adjunto verbal, mas esse adjunto não é um adjunto canônico, pois oriunda do desmembramento de um argumento do verbo. Portanto, a preposição por tem caráter funcional, já que o SN o brilhantismo recebe papel temático do próprio verbo admirar, como mostraremos no decorrer do artigo.4 4 Nos exemplos que analisamos nesta pesquisa, o artigo definido encontra-se expresso na contração da preposição ‘por + artigo’, o que dá origem às formas pelo ou pela.

Na seção seguinte, discutiremos a primeira restrição semântica para a ocorrência da alternância em análise, que é uma restrição de nível nominal.

Restrições semânticas de nível nominal para a fatoração do argumento complexo

De acordo com Levin (1993)LEVIN, B. English Verb Classes and Alternations: A Preliminary Investigation. Chicago: University of Chicago Press, 1993. e Cançado (1995)CANÇADO, M. Verbos psicológicos: a relevância dos papéis temáticos vistos sobre a ótica de uma semântica representacional. 1995. 229f. Tese (Doutorado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1995., o argumento complexo dos verbos que realizam a alternância que estamos analisando é passível de ser fatorado quando denota a relação entre um possuidor e um atributo. De fato, os exemplos que vimos até agora se encaixam nas propostas das autoras, pois são compostos por um possuidor, que em sua forma não fatorada é expresso pelo sintagma encabeçado pela preposição de, e por seu atributo, expresso na forma de um SN que vem logo após o verbo: em (1a), temos o SN a força de Deus e em (2a), temos o SN o brilhantismo do professor. Os atributos força e brilhantismo estão necessariamente ligados aos seus indivíduos possuidores, respectivamente Deus, e o professor. Portanto, podemos dizer que esses atributos são nomes basicamente relacionais, ou seja, funcionam como itens predicadores, o que faz com que a relação com seu possuidor seja uma relação de posse inalienável (FILLMORE, 2003FILLMORE, C. The grammar of hitting and breaking. In: FILLMORE, C. Form and meaning in language: papers on semantics roles. Stanford: CSLI Publications, 2003 [1970]. p. 123-139. [1970]; VERGNAUD; ZUBIZARRETA, 1992VERGNAUD, J.; ZUBIZARRETA, M. L. The definite determiner and the inalienable constructions in French and in English. Linguistic Inquiry, Cambridge, n. 23, p. 595–652, 1992.; ALEXIADOU, 2003ALEXIADOU, A. Some notes on the structure of alienable and inalienable possessors. In: COENE, M.; D’HULST, Y. (ed.). From NP to DP: The expression of possession in noun phrases. Amsterdam: Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2003. p. 167-188.; BRUYN, 2014BRUYN, B. L. Inalienable possession: the status of the definite article. In: GUEVARA, A.; BRUYN, B. L.; ZWARTS, J. (ed.). Weak referentiality. Amsterdam: Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2014. p. 311-334.).

No entanto, o caráter inalienável da relação de posse não é suficiente para determinar todos os casos em que a fatoração ocorre. Vejamos os exemplos a seguir:

  • (5)a. A inspetora criticou as carteiras desconfortáveis da escola.

  • b. A inspetora criticou a escola pelas (suas) carteiras desconfortáveis.

  • (6)a. As meninas elogiaram as lojas modernas do shopping.

  • b. As meninas elogiaram o shopping pelas (suas) lojas modernas.

Os SNs as carteiras e as lojas não são nomes intrinsecamente relacionais, de modo que a relação de posse, respectivamente com os SNs a escola e o shopping, é estabelecida através da preposição de, que, portanto, é uma preposição predicadora ou lexical, nos termos de Cançado (2009)CANÇADO, M. Argumentos: complementos e adjuntos. Alfa, São José do Rio Preto, v. 53, n. 1. 2009.. A escola e o shopping são possuidores das carteiras e das lojas, mas trata-se de uma posse alienável.

Porém, ainda há argumentos complexos passíveis de serem fatorados que não expressam nenhuma relação de posse, seja ela alienável ou inalienável. Vejamos:

  • (7)a. A menina aplaudiu a atuação impecável do artista.

  • b. A menina aplaudiu o artista pela (sua) atuação impecável.

  • (8)a. O professor depreciou a apresentação malfeita do aluno.

  • b. O professor depreciou o aluno pela (sua) apresentação malfeita.

Os SNs a atuação impecável e a apresentação malfeita descrevem um tipo de atividade, ou seja, são nomes que denotam eventos no mundo e que predicam seus agentes, respectivamente o artista e o aluno. É importante ressaltar que o argumento desse nome que denota um evento deve ser necessariamente um agente, de modo que quando temos uma entidade afetada pelo evento descrito pelo nome, a fatoração não ocorre: a mãe teme a morte do filho/*a mãe teme o filho pela morte; os colegas maldosos aplaudiram o tombo do menino/*os colegas maldosos aplaudiram o menino pelo seu tombo. Nessas sentenças, os SNs a filha e o menino são afetados pelos nomes eventivos morte e tombo e, por isso, a fatoração não se realiza.

Outra restrição de nível nominal existente na forma fatorada das sentenças, já apontada por Cançado (1995)CANÇADO, M. Verbos psicológicos: a relevância dos papéis temáticos vistos sobre a ótica de uma semântica representacional. 1995. 229f. Tese (Doutorado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1995. e por Cançado, Godoy e Amaral (2017 [2013]), é a presença necessária de uma relação anafórica entre os constituintes desmembrados. Essa relação pode ocorrer via anáfora direta, com a presença do pronome anafórico seu/sua, ou através de uma anáfora indireta com artigo definido, chamada de anáfora associativa (MARCUSCHI, 2000MARCUSCHI, L. A. Aspectos da progressão referencial na fala e na escrita do português brasileiro. In: GÄRTNER, E. et al. (ed.). Estudos de linguística textual do português. Frankfurt am Main: TFM, 2000. p.79-107.; KLEIBER, 2002KLEIBER, G. The possessive via associative anaphor. In: COENE, M.; D’HULST, Y. (ed.). From NP to DP. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2002. Volume II: The expression of possession in noun phrases. p.43-71.; HAAG; OTHERO, 2003HAAG, C. R.; OTHERO, G. A. Anáforas associativas nas análises das descrições definidas. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL, Porto Alegre, v. 1, n. 1, 2003.)4 4 Nos exemplos que analisamos nesta pesquisa, o artigo definido encontra-se expresso na contração da preposição ‘por + artigo’, o que dá origem às formas pelo ou pela. .

Nas anáforas associativas, o elemento anafórico, chamado de “referente”, é ativado por outra entidade mencionada no texto, chamada de “âncora textual”, com a qual não estabelece uma relação de correferência. De acordo com Kleiber (2002)KLEIBER, G. The possessive via associative anaphor. In: COENE, M.; D’HULST, Y. (ed.). From NP to DP. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2002. Volume II: The expression of possession in noun phrases. p.43-71. e Haag e Othero (2003)HAAG, C. R.; OTHERO, G. A. Anáforas associativas nas análises das descrições definidas. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL, Porto Alegre, v. 1, n. 1, 2003., as anáforas associativas são desencadeadas por diferentes tipos de relações entre o referente e sua âncora textual. Umas dessas relações é a de propriedade, exemplificada a seguir:

  • (9)[Essa sobremesa]a é ótima. [O sabor]r é bem doce, mas não é enjoativo.5 5 A letra ‘a’, em subscrito, quer dizer âncora textual, enquanto a letra ‘r’, também em subscrito, quer dizer referente.

  • (HAAG; OTHERO, 2003HAAG, C. R.; OTHERO, G. A. Anáforas associativas nas análises das descrições definidas. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL, Porto Alegre, v. 1, n. 1, 2003., p.10)

Em (9), o SN o sabor, que é o referente (elemento anafórico), denota uma propriedade do SN essa sobremesa, que é a sua âncora textual. Essa mesma relação ocorre na forma fatorada, sem a presença do pronome seu, dos exemplos os alunos admiram o professor pelo brilhantismo e o fiel teme Deus pela força, nas quais o brilhantismo e a força denotam propriedades dos SNs o professor e Deus.

Outro tipo de relação expressa pelas anáforas associativas é a que Haag e Othero (2003)HAAG, C. R.; OTHERO, G. A. Anáforas associativas nas análises das descrições definidas. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL, Porto Alegre, v. 1, n. 1, 2003. classificam como “relação meronímica por parte integrante”. Nessa relação, o elemento anafórico é uma parte integrante de sua âncora textual, como podemos ver abaixo:

  • (10)[A Linguística]a é a ciência dos signos verbais. [A Pragmática]r estuda as relações entre os signos e a sociedade. [A Semântica]r, as relações entre os signos e seus referentes.

  • (HAAG; OTHERO, 2003HAAG, C. R.; OTHERO, G. A. Anáforas associativas nas análises das descrições definidas. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL, Porto Alegre, v. 1, n. 1, 2003., p.6)

No exemplo acima, os SNs a Pragmática e a Semântica são parte integrante de sua âncora textual a Linguística. Esse mesmo tipo de relação ocorre com as formas fatoradas, sem a anáfora direta com o pronome sua, presentes em (5b) e (6b), nas quais os SNs as carteiras desconfortáveis e as lojas modernas são os referentes integrantes das âncoras textuais a escola e o shopping.

Por fim, o último tipo de anáfora associativa que pode ser encontrado no fenômeno linguístico que estamos analisando é anáfora por papel temático, que ocorre quando o referente desempenha o papel de agente em relação à sua âncora textual.

  • (11)[Roubaram]a um quadro de Monet do museu. [Os ladrões]r ainda são desconhecidos.

  • (HAAG; OTHERO, 2003HAAG, C. R.; OTHERO, G. A. Anáforas associativas nas análises das descrições definidas. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL, Porto Alegre, v. 1, n. 1, 2003., p.12)

Em (11), o referente os ladrões é o agente de sua âncora textual, o verbo roubaram. Contudo, nas sentenças fatoradas que analisamos, há uma inversão dos sintagmas que desempenham o papel de âncora textual e de referente: o referente é o nome eventivo e a âncora é o SN que denota o agente do evento expresso pelo nome: a menina aplaudiu [o artista]a pela [atuação impecável]r.

Em suma, as restrições de nível nominal referem-se à relação semântica existente entre os componentes do argumento complexo e à relação anafórica existente entre os constituintes desmembrados na forma fatorada as sentenças. Os quadros a seguir resumem todas essas restrições.

Quadro 1
– Relação semântica entre os componentes do argumento complexo
Quadro 2
– Relação anafórica entre os constituintes desmembrados

Tendo mostrado as restrições de nível nominal que permitem a fatoração do argumento complexo das sentenças analisadas, passemos agora para a descrição das restrições de nível verbal que licenciam a ocorrência dessa alternância.

Restrições semânticas de nível verbal para a ocorrência da alternância

Para explicarmos as restrições verbais que delimitam a ocorrência da fatoração de argumento que estamos analisando, utilizaremos a proposta de papéis temáticos enquanto um conjunto de propriedades semânticas discretas de Cançado e Amaral (2016)CANÇADO, M.; AMARAL, L. Introdução à Semântica Lexical: Papéis Temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016., que é a versão mais recente da proposta de Cançado (2005)CANÇADO, M. Propriedades semânticas e posições argumentais. DELTA, São Paulo, v. 21, n. 1, p. 23- 56, 2005.. As autoras baseiam-se em trabalhos como os de Dowty (1991)DOWTY, D. Thematic proto-roles and argument selection. Language, Washington, v. 67, n. 3, p. 547-619, 1991., Franchi (2003FRANCHI, C. Predicação. In: CANÇADO, M. (org.). Predição, Relações semânticas e papéis temáticos: anotações de Carlos Franchi. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v. 11, n.2, 2003 [1997]. [1997]) e de Franchi e Cançado (2003FRANCHI, C.; CANÇADO, M. Teoria generalizada dos papéis temáticos. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v. 11. n. 2, 2003 [1997]. [1997]) e assumem que os papéis temáticos atribuídos pelos verbos são grupos de propriedades semânticas oriundas de “acarretamentos lexicais estabelecidos na relação entre o predicador verbal e o argumento na posição de complemento e na relação entre o predicador expresso pelo sintagma verbal e o argumento na posição de sujeito” (CANÇADO, AMARAL, 2016, p. 107).

Através de um processo empírico de análise, feito por Cançado (2005)CANÇADO, M. Propriedades semânticas e posições argumentais. DELTA, São Paulo, v. 21, n. 1, p. 23- 56, 2005., entre as funções sintáticas e semânticas de sentenças do PB que continham os papéis temáticos mais investigados na literatura, Cançado e Amaral (2016)CANÇADO, M.; AMARAL, L. Introdução à Semântica Lexical: Papéis Temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016. propõem a existência de seis propriedades semânticas relevantes para o mapeamento entre os papéis temáticos e as funções sintáticas de sujeito e objeto. Esse mapeamento é chamado pelas autoras, com base em Dowty (1991)DOWTY, D. Thematic proto-roles and argument selection. Language, Washington, v. 67, n. 3, p. 547-619, 1991., de Seleção Argumental e é feito a partir da existência de dois eixos: o eixo das eventualidades, que contém as propriedades semânticas desencadeador, afetado e estativo; e o eixo estativo, que contém as propriedades semânticas condição mental, possuidor e objeto de referência. Cançado e Amaral (2016)CANÇADO, M.; AMARAL, L. Introdução à Semântica Lexical: Papéis Temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016. ressaltam que é possível haver outras propriedades semânticas oriundas da relação de acarretamento lexical estabelecido entre os verbos e seus argumentos. Contudo, para as autoras, as propriedades citadas anteriormente são suficientes para o estabelecimento do Princípio de Seleção Argumental. Em nosso artigo, mostramos que ainda há pelo menos mais uma propriedade semântica relevante para o estabelecimento do Princípio.

De acordo com Cançado e Amaral (2016)CANÇADO, M.; AMARAL, L. Introdução à Semântica Lexical: Papéis Temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016., no eixo eventivo, a propriedade desencadeador é a mais proeminente, sendo seguida pela propriedade afetado e posteriormente, pela estativo. Isso quer dizer que o argumento que recebe o papel temático de desencadeador é o mais propenso a ocupar a posição sintática de sujeito. Em sua ausência, o argumento afetado é o mais propenso a ocupar essa posição, seguido do argumento estativo. No eixo estativo, as propriedades condição mental e possuidor são igualmente proeminentes, uma vez que não são atribuídas, ao mesmo tempo, a um mesmo argumento verbal. Isso quer dizer que o argumento que as recebe tem mais propensão a ocupar a posição de sujeito do que aquele que recebe a propriedade objeto de referência.

A cada argumento verbal deve ser atribuída pelo menos uma propriedade semântica do eixo eventivo e essa propriedade pode combinar-se com outras do eixo estativo ou até mesmo do próprio eixo eventivo. Vejamos alguns exemplos:

  • (12)A pedrada quebrou a janela.

  • (13)A provas preocupam Maria.

  • (14)O aluno sabe matemática.

Na sentença em (12), o verbo quebrar atribui a propriedade afetado para o argumento a janela e a propriedade semântica desencadeador para o argumento a pedrada. Como o argumento desencadeador é o mais proeminente, o SN a pedrada ocupa a posição de sujeito.

Em (13), o verbo preocupar atribui as propriedades afetado e condição mental para o argumento Maria, pois esse argumento sofre um tipo de mudança de estado psicológico, enquanto o argumento as provas recebe a propriedade de desencadeador dessa mudança. Assim como em (12), em (13), o argumento desencadeador ocupa a posição de sujeito.

Em (14), por denotar uma situação estativa, o verbo saber só atribui propriedades do eixo estativo para seus argumentos. O argumento o aluno recebe as propriedades estativo/condição mental, enquanto o argumento matemática recebe as propriedades estativo/objeto de referência. Por ser mais proeminente no eixo estativo, o argumento que recebe a propriedade condição mental ocupa a posição de sujeito.

Tendo explicado, de modo geral, como funciona a proposta de Cançado e Amaral (2016)CANÇADO, M.; AMARAL, L. Introdução à Semântica Lexical: Papéis Temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016., retomemos alguns exemplos de fatoração apresentados no decorrer deste artigo:

  • (15)a. O fiel teme a força de Deus.

  • b. O fiel teme Deus pela (sua) força.

  • (16)a. Os alunos admiravam o brilhantismo do professor.

  • b. Os alunos admiravam o professor pelo (seu) brilhantismo.

  • (17)a. A menina aplaudiu a atuação impecável do artista.

  • b. A menina aplaudiu o artista pela (sua) atuação impecável.

  • (18)a. As meninas elogiaram as lojas modernas do shopping.

  • b. As meninas elogiaram o shopping pelas (suas) lojas modernas.

De acordo com Cançado (1995)CANÇADO, M. Verbos psicológicos: a relevância dos papéis temáticos vistos sobre a ótica de uma semântica representacional. 1995. 229f. Tese (Doutorado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1995., os verbos temer e admirar pertencem à classe dos verbos psicológicos que apresentam um sujeito Experienciador. De modo geral, a autora define verbos psicológicos como aqueles que “denotam um estado emocional e têm, obrigatoriamente, um argumento Experienciador” (CANÇADO, 1995CANÇADO, M. Verbos psicológicos: a relevância dos papéis temáticos vistos sobre a ótica de uma semântica representacional. 1995. 229f. Tese (Doutorado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1995., p. 6). Por Experienciador entende-se o “ser animado que está ou passa a estar em determinado estado mental, perceptual ou psicológico” (CANÇADO; AMARAL, 2016CANÇADO, M.; AMARAL, L. Introdução à Semântica Lexical: Papéis Temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016., p. 43). Esse papel temático equivale às propriedades semânticas estativo e condição mental, que são definidas da seguinte maneira: “estativo é a propriedade relacionada ao indivíduo que está em um determinado estado permanente” e “condição mental denota o estado mental, seja psicológico, seja cognitivo, seja perceptual de um indivíduo” (CANÇADO; AMARAL, 2016CANÇADO, M.; AMARAL, L. Introdução à Semântica Lexical: Papéis Temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016., p. 111). A atribuição dessas propriedades para o argumento que ocupa a posição de sujeito dos verbos do tipo temer e admirar é evidenciada através de testes de acarretamento lexical, como mostramos a seguir:

  • (19)a. Os alunos admiravam o brilhantismo do professor.

  • b. ~├ Os alunos desencadearam essa situação.6 6 O símbolo ‘├’ indica relação de acarretamento e o símbolo ‘ ~’ indica negação. Assim, ‘~├’ significa ausência de relação de acarretamento (CANN, 1993).

  • c. ~├ Os alunos foram afetados por essa situação.

  • d. ╞ Os alunos admiravam o brilhantismo do professor, mas os alunos não se encontram em nenhuma condição mental, seja psicológica, cognitiva ou perceptual.

A existência da propriedade estativo é evidenciada pela ausência das propriedades desencadeador e afetado, de modo que “aquilo que não desencadeia algo ou não é afetado por algo é um estado” (CANÇADO; AMARAL, 2016CANÇADO, M.; AMARAL, L. Introdução à Semântica Lexical: Papéis Temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016., p. 115). Em (19a), os alunos não iniciam, geram ou causam nenhuma situação, o que é evidenciado por (19b), nem tão pouco são afetados pela admiração que sentem pelo professor, como mostrado por (19c). Eles encontram-se apenas na condição mental de admiração por alguma entidade, como mostra (19d).

Contudo, o mesmo não pode ser dito em relação aos sujeitos dos verbos aplaudir e elogiar, pois eles iniciam/desencadeiam um processo e o fazem intencionalmente. Essa intenção é representada pela propriedade semântica controle, que pode se combinar à propriedade desencadeador (CANÇADO, 2005CANÇADO, M. Propriedades semânticas e posições argumentais. DELTA, São Paulo, v. 21, n. 1, p. 23- 56, 2005.; CANÇADO; AMARAL, 2016CANÇADO, M.; AMARAL, L. Introdução à Semântica Lexical: Papéis Temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.). Vejamos os testes que evidenciam a atribuição dessas duas propriedades para o verbo aplaudir:

  • (20)a. A menina aplaudiu a atuação impecável do artista.

  • b. ╞ A menina aplaudiu a atuação impecável do artista, mas não foi a menina que desencadeou esse evento.

  • c. ╞ A menina aplaudiu a atuação impecável do artista, mas a menina não teve controle sobre esse evento.

As sentenças em (20 b,c) são contraditórias, o que evidencia que o SN a menina recebe, do verbo aplaudir, as propriedades semânticas desencadeador e controle.

Tendo mostrado as propriedades atribuídas aos sujeitos dos verbos, resta-nos analisar as atribuídas aos argumentos que ocupam a posição de objeto. Tanto o argumento o brilhantismo do professor quanto a atuação impecável do artista recebem a propriedade estativo, pois não desencadeiam nenhuma situação nem sofrem nenhum tipo de afetação. Além dessa propriedade, propomos que os verbos que estamos analisando atribuem mais duas propriedades, pertencentes ao eixo estativo, ao argumento que ocupa a posição sintática de objeto. Uma delas é a propriedade objeto de referência e a outra é a que denominamos, baseadas em Franchi e Cançado (2003FRANCHI, C.; CANÇADO, M. Teoria generalizada dos papéis temáticos. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v. 11. n. 2, 2003 [1997]. [1997]), de objeto motivador. Essa propriedade remete ao papel temático de Estímulo, muito estudado na literatura sobre os verbos psicológicos (GRIMSHAW, 1990GRIMSHAW, J. Argument Structure. Cambridge: MIT Press, 1990.; ARAD, 1998ARAD, M. Psych-notes. UCL Working Papers in Linguistics, London, v.10, p. 203–223, 1998.; PESETSKY, 1995PESETSKY, D. Zero Syntax: Experiences and cascades. Cambridge: MIT Press, 1995.; PUSTEJOVSKY, 1995PUSTEJOVSKY, J. The Generative Lexicon. Cambridge: MIT Press, 1995.; GRAFMILLER, 2013GRAFMILLER, J. The semantics of syntactic choice: An analysis of English emotion verbs. 2013. 305f. (Doutorado em Filosofia) – Department of Linguistics, Stanford University, Stanford, 2013.; ALEXIADOU; IORDĂCHIOAIA, 2014ALEXIADOU, A; IORDĂCHIOAIA, G. The psych causative alternation. Lingua, Amsterdam, v. 148, p. 53–79, 2014., entre vários outros). De modo geral, esse papel é atribuído àquele argumento responsável pelo estado emocional do argumento Experienciador. Isso quer dizer que, na sentença os alunos admiravam o brilhantismo do professor, o argumento o brilhantismo do professor é o responsável pelo estado de admiração dos alunos. Em nossa análise, propomos estender a ideia do papel de Estímulo para verbos do tipo aplaudir e elogiar e, para tanto, utilizaremos a nomenclatura objeto motivador, que abarca tanto verbos estativos quanto verbos que denotam eventos. Ao propormos que os verbos aplaudir e elogiar também atribuem a propriedade objeto motivador para o argumento que ocupa a posição de objeto, estamos dizendo que nas sentenças a menina aplaudiu a atuação impecável do artista e as meninas elogiaram as lojas modernas do shopping, os argumentos a atuação impecável do artista e as lojas modernas do shopping motivam os aplausos e elogios das meninas.

Neste ponto, é importante diferenciarmos ‘desencadear uma situação’ de ‘motivar uma situação’. Em uma sentença do tipo a menina aplaudiu a atuação impecável do artista, podemos dizer que a menina recebe a propriedade desencadeador, pois ela inicia a ação de aplaudir a atuação do artista. Contudo, na sentença os alunos admiravam o brilhantismo do professor, o argumento o brilhantismo do professor não inicia a ação de admirar, ou seja, ele não realiza nenhuma ação, seja voluntária ou involuntariamente. Esse argumento funciona como a motivação, ou seja, aquilo que motiva a admiração dos alunos e, por isso recebe a propriedade objeto motivador. O mesmo vale para o SN a atuação impecável do artista, que é argumento do verbo aplaudir. Esse SN não inicia a ação de aplaudir, mas motiva a realização dos aplausos pela menina.

A seguir, evidenciamos a atribuição das propriedades estativo, objeto de referência e objeto motivador para o objeto dos verbos analisados:

  • (21)a. A menina aplaudiu a atuação impecável do artista.

  • b. ~├ A atuação impecável do artista desencadeou essa situação.

  • c. ~├ A atuação impecável do artista foi afetada por essa situação.

  • d. ╞ A menina aplaudiu a atuação impecável do artista, mas a atuação impecável do artista não é o objeto de referência ao qual se direciona os aplausos da menina.

  • e. ╞ A menina aplaudiu a atuação impecável do artista, mas a atuação impecável do artista não é o objeto motivador dos aplausos da menina.

  • (22)a. Os alunos admiravam o brilhantismo do professor.

  • b. ~├ O brilhantismo do professor desencadeou essa situação.

  • c. ~├ O brilhantismo do professor foi afetado por essa situação.

  • d. ╞ Os alunos admiravam o brilhantismo do professor, mas o brilhantismo do professor não é o objeto de referência ao qual se direciona a admiração dos alunos.

  • e. ╞ Os alunos admiravam o brilhantismo do professor, mas o brilhantismo do professor não é o objeto motivador da admiração dos alunos.

O fato de as sentenças em (a) não acarretarem as sentenças em (b) e (c), nos exemplos acima, evidencia a atribuição da propriedade estativo para o argumento que ocupa a posição de objeto dos verbos aplaudir e admirar. Já a contradição presente nas sentenças em (21d,e) e em (22d,e) prova a atribuição das propriedades objeto de referência e objeto motivador para esses mesmos argumentos. É a combinação dessas propriedades, atribuídas aos argumentos que ocupam a posição de objeto, que caracteriza os verbos que realizam a fatoração que descrevemos neste artigo.

Ainda é importante notar que a alternância que estamos analisando não ocorre apenas com verbos transitivos diretos, mas também com verbos que apresentam objeto preposicionado7 7 Para uma descrição sobre os tipos de preposições do PB e sobre as preposições que ocorrem com verbos do tipo gostar e verbos do tipo protestar, ler Godoy (2008) e Cançado (2009). :

  • (23)a. O rapaz gostava da beleza da namorada.

  • b. O rapaz gostava da namorada por sua beleza.

  • (24)a. A população protestou contra as medidas econômicas do novo governante.

  • b. A população protestou contra o novo governante pelas suas medidas econômicas.

Os verbos gostar e protestar atribuem respectivamente as propriedades estativo/ condição mental e desencadeador/controle para os seus sujeitos, enquanto seus argumentos que ocupam a posição de objeto preposicionado recebem as propriedades estativo, objeto de referência e objeto motivador.

  • (25)a. O rapaz gostava da beleza da namorada.

  • b. ~├ O rapaz desencadeou essa situação.

  • c. ~├ O rapaz foi afetado por essa situação.

  • d. ╞ O rapaz gostava da beleza da namorada, mas o rapaz não se encontra em nenhuma condição mental, seja psicológica, cognitiva ou perceptual.

  • e. ~├ A beleza da namorada desencadeou essa situação.

  • f. ~├ A beleza da namorada foi afetada por essa situação.

  • g. ╞ O rapaz gostava da beleza da namorada, mas a beleza da namorada não é o objeto de referência ao qual se direciona o estado psicológico/o gostar do rapaz.

  • h. ╞ O rapaz gostava da beleza da namorada, mas a beleza da namorada não é o objeto motivador do estado psicológico do rapaz.

  • (26)a. A população protestou contra as medidas econômicas do novo governante.

  • b. ╞ A população protestou contra as medidas econômicas do novo governante, mas não foi a população que desencadeou esse evento.

  • c. ╞ A população protestou contra as medidas econômicas do novo governante, mas a população não teve controle sobre esse evento.

  • d. ~├ As medidas econômicas do novo governante desencadearam essa situação.

  • e. ~├ As medidas econômicas do novo governante foram afetadas por essa situação.

  • f. ╞ A população protestou contra as medidas econômicas do novo governante, mas as medidas econômicas do novo governante não são o objeto de referência ao qual se direciona o do protesto da população.

  • g. ╞ A população protestou contra as medidas econômicas do novo governante, mas as medidas econômicas do novo governante não são o objeto motivador do protesto da população.

Os testes de (25b) a (25d) evidenciam a atribuição das propriedades estativo e condição mental para o sujeito do verbo gostar, enquanto os testes de (25e) a (25h) mostram que o argumento que ocupa a posição de objeto recebe as propriedades estativo, objeto de referência e objeto motivador. Os testes em (26b) a (26c), mostram que o sujeito do verbo protestar recebe as propriedades semânticas desencadeador e controle, enquanto as sentenças de (26d) a (26g), mostram que o objeto desse verbo recebe as propriedades estativo, objeto de referência e objeto motivador.

O que podemos concluir dos exemplos com os verbos gostar e protestar é que a transitividade verbal não é relevante para o fenômeno da fatoração que analisamos neste artigo.

Os verbos que realizam essa fatoração apresentam as seguintes estruturas argumentais em termos de propriedades semânticas discretas:

  • (27)Verbos do tipo admirar e gostar – 30 verbos (abominar, adorar, amar, antipatizar, apreciar, detestar, menosprezar, subestimar, temer, etc.)8 8 Os verbos do tipo admirar e gostar e suas sentenças nas formas fatorada e não fatorada podem ser encontrados no apêndice do trabalho de Cançado (1995), enquanto os verbos do tipo aplaudir e protestar e suas respectivas sentenças estão no apêndice do trabalho de Meirelles (2018).

  • v: {estativo/condição mental, estativo/objeto de referência/objeto motivador}

  • (28)Verbos do tipo aplaudir e protestar – 37 verbos (abençoar, advertir, agradecer, censurar, criticar, depreciar, discordar, elogiar, zombar, etc.)

  • v: {desencadeador/controle, estativo/objeto de referência/objeto motivador}

Mesmo apresentando grandes temáticas distintas, podemos agrupar os verbos do tipo admirar/gostar e os do tipo aplaudir/protestar em uma única classe composta por verbos que atribuem as mesmas propriedades semânticas para o argumento que ocupa a posição de objeto. Essa classe pode ser representada da seguinte maneira, na qual a variável X representa o argumento que ocupa a posição de sujeito e sua não influência na realização da alternância:

  • (29)v: {X, estativo/objeto de referência/objeto motivador}

Cançado e Gonçalves (2016)CANÇADO, M.; GONÇALVES, A. Lexical Semantics: verb classes and alternations. In: WETZELS, L.; MENUZZI, S.; COSTA, J. The Handbook of Portuguese Linguistics. Hoboken: Willey-Blackwell, 2016. p. 374-391. e Cançado e Amaral (2016)CANÇADO, M.; AMARAL, L. Introdução à Semântica Lexical: Papéis Temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016. propõem, baseadas em Levin (2010)LEVIN, B. What is the best grain-size for defining verb classes?. World Classes Conference, 2010. Disponível em: https://web.stanford.edu/~bclevin/rome10grain.pdf. Acesso em: 26 abr. 2023.
https://web.stanford.edu/~bclevin/rome10...
, que as classes verbais podem ser analisadas em diferentes níveis, de acordo com seu grau de especificidade. Em nosso trabalho, é interessante fazermos a distinção entre dois desses níveis: o medium-grained, que é um nível mediano, e o coarse-grained, que é um nível mais genérico. Classes no nível medium-grained são aquelas formadas por verbos que possuem a mesma estrutura argumental, como é o caso das classes dos verbos mostradas em (27) e (28). Já classes no nível coarse-grained são aquelas compostas por verbos que compartilham apenas uma parte de sua estrutura argumental, como é o caso da junção dos verbos do tipo admirar/gostar com os verbos do tipo aplaudir/protestar. Essa junção resulta na estrutura mais genérica em (29). Assim, a fatoração do argumento verbal que recebe as propriedades semânticas estativo, objeto de referência e objeto motivador proporciona uma análise das classes verbais em um nível mais geral, que é o nível coarse-grained.

Para finalizar essa seção, resta-nos explicitar como ficam as propriedades semânticas na forma fatorada das sentenças. De acordo com Brunson (1992)BRUNSON, B. Thematic Discontinuity. Toronto Working Papers in Linguistics, Toronto, 1992., fenômenos como o que apresentamos neste artigo são exemplos de descontinuidade temática, de modo que um mesmo papel temático distribui-se por duas posições sintáticas distintas. De fato, isso é o que ocorre nas sentenças fatoradas que analisamos: o papel temático composto pelas propriedades estativo, objeto de referência e objeto motivador distribuem-se pelas duas partes do sintagma desmembrado. O argumento que permanece na posição de objeto carrega as propriedades estativo e objeto de referência, enquanto o argumento que passa a ocupar a posição de adjunto, encabeçado pela preposição por, mantém as três propriedades semânticas estativo, objeto de referência e objeto motivador. Vejamos os testes que corroboram nossa proposta:

  • (30)a. Os alunos admiram o professor pelo (seu) brilhantismo.

  • b. ~├ O professor desencadeou/iniciou essa situação.

  • c. ~├ O professor foi afetado por essa situação.

  • d. ╞ Os alunos admiram o professor pelo (seu) brilhantismo, mas o professor não é o objeto de referência ao qual se direciona a admiração dos alunos.

  • e. Os alunos admiram o professor pelo (seu) brilhantismo, mas o professor, em si/ enquanto pessoa, não é o objeto motivador da admiração dos alunos.

  • (31)a. Os alunos admiram o professor por o (seu) brilhantismo.

  • b. ~├ O brilhantismo desencadeou/iniciou essa situação.

  • c. ~├ O brilhantismo foi afetado por essa situação.

  • d. ╞ Os alunos admiram o professor pelo (seu) brilhantismo, mas o brilhantismo não é o objeto de referência ao qual se direciona a admiração dos alunos.

  • e. ╞ Os alunos admiram o professor pelo (seu) brilhantismo, mas o brilhantismo não é o objeto motivador da admiração dos alunos.

A relação de contradição existente em (30d) e a ausência dessa relação em (30e) evidenciam que o argumento o professor, na forma fatorada da sentença, recebe apenas as propriedades estativo e objeto de referência, não recebendo a propriedade objeto motivador. Já o argumento o (seu) brilhantismo continua recebendo as três propriedades estativo, objeto de referência e objeto motivador, como evidenciam os testes em (31). Neste ponto, vale ressaltar que a preposição por, que ocorre na forma fatorada, é de caráter funcional, pois encabeça um argumento verbal desmembrado de seu constituinte original.

Ainda é importante ressaltar que, em Semântica Lexical, assume-se que as propriedades temáticas são atribuídas aos argumentos na entrada lexical dos verbos, ou seja, em sua forma básica, que, no fenômeno em questão equivale à forma não fatorada das sentenças. Assim, na forma fatorada há apenas uma reorganização das propriedades semânticas já atribuídas pelo verbo ao seu argumento complexo. Não há atribuição de novas propriedades temáticas.

Em relação ao Princípio de Seleção Argumental, propomos que a propriedade objeto motivador integra a lista de propriedades semânticas do eixo estativo que são relevantes para o estabelecimento de um mapeamento entre a semântica e a sintaxe. Em nossa proposta, a propriedade objeto motivador é menos proeminente do que a propriedade objeto de referência. Assim, embora tanto o professor quanto o (seu) brilhantismo recebam as propriedades estativo e objeto de referência, o constituinte o (seu) brilhantismo é que ocupa uma posição mais baixa hierarquicamente, que é a posição de adjunto do verbo, pois combina-se com a propriedade menos proeminente objeto motivador. Os dois esquemas a seguir representam, respectivamente, a redistribuição das propriedades temáticas na forma fatorada das sentenças e o funcionamento do Princípio de Seleção Argumental para esses casos.


Esquema 1 – Descontinuidade temática na forma fatorada


Esquema 2 – Princípio de Seleção Argumental

Neste ponto do artigo, finalizamos a descrição das restrições semânticas que delimitam a ocorrência da fatoração de argumentos que nos propusemos a analisar. Na seção seguinte, mostramos como funciona a interpretação da forma fatorada as sentenças.

Interpretação semântica da forma fatorada e motivação pragmática para a alternância

Alguns tipos de fatoração de argumentos verbais ocorrem sem alterar a interpretação semântica das sentenças, como podemos ver nos exemplos a seguir:

  • (32)a. O braço do menino (se) quebrou no acidente.

  • b. O menino quebrou o braço no acidente.

  • c. ╞ O braço do menino (se) quebrou no acidente, mas o menino não quebrou o braço no acidente.

  • (33)a. O cachorro mordeu a perna da menina.

  • b. O cachorro mordeu a menina em a perna.

  • c. ╞ O cachorro mordeu a perna da menina, mas não mordeu a menina na perna.

Meirelles (2018)MEIRELLES, L. A fatoração de argumentos verbais no PB. 2018. 203f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Faculdade de Letras, Univesidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2018. propõe que as sentenças em (32b) e (33b) oriundam da fatoração do argumento verbal que denota a relação de parte-todo (CANÇADO, 2010CANÇADO, M. Verbal alternations in Brazilian Portuguese: a lexical semantic approach. Studies in Hispanic and Lusophone Linguistics, Berlin, v. 3, n. 1, p. 1-23, 2010.; MEIRELLES, 2018MEIRELLES, L. A fatoração de argumentos verbais no PB. 2018. 203f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Faculdade de Letras, Univesidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2018.; MEIRELLES; CANÇADO, 2020MEIRELLES, L.; CANÇADO, M. A alternância parte-todo com verbos transitivos no PB: um caso de fatoração de argumento. DELTA, São Paulo, 2020.). Não entraremos em detalhes sobre a ocorrência dessas alternâncias. Para os objetivos deste artigo, basta-nos observar que as formas fatorada e não fatorada das sentenças são sinônimas, como evidenciado nos exemplos em (c).

Contudo, vejamos agora a fatoração que estamos analisando:

  • (34)a. Os alunos admiram o brilhantismo do professor.

  • b. Os alunos admiram o professor pelo (seu) brilhantismo.

  • c. Os alunos admiram o brilhantismo do professor, mas não admiram o professor pelo (seu) brilhantismo. Eles não admiram o professor enquanto pessoa.

  • (35)a. O fiel teme a força de Deus.

  • b. O fiel teme Deus pela (sua) força.

  • c. O fiel teme a força de Deus, mas não teme Deus pela (sua) força. O fiel não teme Deusi, pois sabe que Elei é bondoso.

  • (36)a. As meninas elogiaram as lojas modernas do shopping.

  • b. As meninas elogiaram o shopping pelas (suas) lojas modernas.

  • c. As meninas elogiaram as lojas modernas do shopping, mas não elogiaram o shopping por suas lojas modernas. Elas não elogiaram o shopping, pois acharam todo o restante da estrutura muito ruim.

  • (37)a. A menina aplaudiu a excelente atuação do artista.

  • b. A menina aplaudiu o artista pela (sua) excelente atuação.

  • c. A menina aplaudiu a excelente atuação do artista, mas não aplaudiu o artista por sua excelente atuação. Ela não aplaudiu o artista, pois o detesta enquanto pessoa.

O fato de as sentenças em (c) não serem contraditórias é evidência de que as formas fatorada e não fatorada não são sinônimas. Trata-se, portanto, de um tipo de alternância que não preserva a interpretação semântica das sentenças. Isso não é inédito na literatura sobre alternâncias verbais, haja vista os inúmeros estudos sobre a alternância com os verbos spray e load do inglês, que também apresentam interpretações semânticas distintas em suas formas alternadas: Jessica loaded boxes on the wagon [Jessica carregou caixas no vagão]/Jessica loaded the wagon with boxes [Jessica carregou o vagão com caixas]. De acordo com autores como Fillmore (1968)FILLMORE, C. Lexical Entries for Verbs. Foundations of Language, Amsterdam, v.4, p. 373-393, 1968., Croft (1991)CROFT, W. Syntactic Categories and Grammatical Relations. Chicago, IL: University of Chicago Press, 1991., Dowty (1991)DOWTY, D. Thematic proto-roles and argument selection. Language, Washington, v. 67, n. 3, p. 547-619, 1991., e Levin (1993)LEVIN, B. English Verb Classes and Alternations: A Preliminary Investigation. Chicago: University of Chicago Press, 1993., a forma com a preposição with [com] denota maior afetação do argumento the wagon [o vagão], de modo que a sentença pode ser interpretada como se o vagão tivesse ficado cheio de caixas.

Contudo, é importante ressaltar que o fato de a alternância que analisamos não apresentar a mesma interpretação semântica nas duas possíveis formas de realização dos argumentos verbais não faz com que estejamos lidando com um fenômeno estritamente sintático. Como mostramos no decorrer do artigo, há uma série de restrições semânticas de nível nominal e verbal que delimitam a ocorrência da alternância.

Acreditamos que a motivação para a ocorrência da fatoração do argumento verbal que recebe as propriedades semânticas estativo, objeto de referência e objeto motivador, encontra-se na pragmática, mais especificamente, na organização da estrutura informacional do enunciado.

De acordo com Rosenberg e Menuzzi (2011)ROSENBERG, G. R.; MENUZZI, S. M. Articulação Informacional. In: PIRES DE OLIVEIRA, R.; MIOTO, C. (org.). Percursos em Teoria da Gramática. Florianópolis, SC: Ed. da UFSC, 2011. p. 205-236., um enunciado é composto por conteúdo proposicional, estritamente semântico, e por conteúdo pragmático, que envolve, dentre outros fatores, a maneira como o falante organiza o enunciado em termos de informações velhas, geralmente chamadas de tópico, e novas, chamadas de foco (GUNDEL; FRETHEIM, 2004). Essa organização da fala é nomeada “articulação informacional do enunciado”. Assim, tanto o conteúdo proposicional de uma sentença quanto a articulação informacional de um enunciado estão relacionados ao fenômeno da significação. Contudo, enquanto a proposição refere-se ao significado da menção (expressão linguística estudada fora de um contexto efetivo de comunicação), a articulação informacional diz respeito ao significado do enunciado, que é o uso efetivo de uma determinada sentença.

Um mesmo conteúdo proposicional, veiculado por um conjunto específico de itens lexicais, pode ser expresso de diversas formas sem que as condições de verdade da sentença sejam alteradas. Vejamos os seguintes exemplos:

  • (38)a. O Ricardo beijou a Gisela no cinema.9 9 Essa sentença deve ser enunciada sem que nenhuma entonação especial seja dada a um de seus constituintes.

  • b. Foi no cinema que o Ricardo beijou a Gisela.

  • c. Foi a Gisela que o Ricardo beijou no cinema.

As sentenças em (38), embora apresentadas de diferentes formas, possuem o mesmo conteúdo proposicional, ou seja, todas elas descrevem uma situação em que ‘o Ricardo beija a Gisela no cinema’. Porém, embora possuam o mesmo significado semântico, o seu significado pragmático não é o mesmo: (38a) parece informar o acontecimento do evento, ou seja, toda a sentença carrega uma informação nova; em (38b), o foco informacional está no SP no cinema; e em (38c), esse foco encontra-se no sintagma a Gisela. Os testes a seguir corroboram essas afirmações:

  • (39)O que aconteceu?

  • a. O Ricardo beijou a Gisela no cinema.

  • # b. Foi no cinema que o Ricardo beijou a Gisela.10 10 De acordo com Rosenberg e Menuzzi (2011), o símbolo ‘#’ indica inadequação da sentença como resposta à pergunta em questão.

  • # c. Foi a Gisela que o Ricardo beijou no cinema.

  • (40)Onde o Ricardo beijou a Gisela? Foi na praça?

  • #a. O Ricardo beijou a Gisela no cinema.

  • b. Foi no cinema que o Ricardo beijou a Gisela.

  • # c. Foi a Gisela que o Ricardo beijou no cinema.

  • (41)Quem o Ricardo beijou no cinema? Foi a Carol?

  • #a. O Ricardo beijou a Gisela no cinema.

  • #b. Foi no cinema que o Ricardo beijou a Gisela.

  • c. Foi a Gisela que o Ricardo beijou no cinema.

No exemplo em (39), a pergunta ‘o que aconteceu?’ pede a ocorrência de um evento como informação nova e, por isso, a sentença em (a), que focaliza o próprio acontecimento, é uma resposta adequada. Em (40), a informação nova pedida é o local onde o evento ocorre, e por isso, a sentença (b), que focaliza e contrasta o constituinte no cinema com na praça, é a que funciona como resposta. Por fim, em (41), a informação nova pedida é a respeito da pessoa que foi beijada por Ricardo e, portanto, a sentença (c), que focaliza e contrasta Gisela com o indivíduo Carol, é a que responde adequadamente à pergunta.

Passando para a análise da alternância que estamos lidando neste artigo, propomos que ela existe como uma maneira de se focalizar o constituinte extraído do argumento complexo na forma fatorada das sentenças. Evidenciamos isso mostrando que o que diferencia as formas não fatorada e fatorada é a articulação informacional de cada uma delas. Retomemos o exemplo os alunos admiram o brilhantismo do professor/ os alunos admiram o professor pelo (seu) brilhantismo e vejamos como essas sentenças se comportam em relação às perguntas a seguir:

  • (42)Por que os alunos admiram o professor?

  • # a. Os alunos admiram o brilhantismo do professor.

  • b. Os alunos admiram o professor pelo brilhantismo.

  • (43)O que os alunos admiram?

  • a. Os alunos admiram o brilhantismo do professor.

  • # b. Os alunos admiram o professor pelo brilhantismo.

Em (42), a sentença (b) responde adequadamente à pergunta, pois focaliza a informação nova pedida: o motivo pelo qual os alunos admiram o professor. Assim, pelo (seu) brilhantismo é o foco do enunciado. Já em (43), há uma mudança na informação nova requerida e isso faz com que a sentença (b), que focaliza todo o argumento complexo, responda à pergunta de maneira adequada.

Tendo mostrado a motivação pragmática para a ocorrência do fenômeno da fatoração do argumento complexo verbal que recebe as propriedades semânticas estativo, objeto de referência e objeto motivador, finalizamos nosso artigo.

Considerações finais

Neste artigo descrevemos uma alternância no PB que oriunda da fatoração do argumento verbal que recebe as propriedades semânticas estativo, objeto de referência e objeto motivador. Mostramos que esse fenômeno decorre do desmembramento do argumento verbal que ocupa a posição de objeto em duas posições sintáticas distintas: na posição original de objeto e na posição de adjunto do verbo.

As restrições semânticas que delimitam a realização dessa fatoração são de dois níveis: argumental/nominal e verbal. No nível nominal, o argumento passível de ser fatorado deve ser um constituinte complexo formado por duas entidades que estabelecem uma relação de posse, alienável ou inalienável, entre si, ou uma relação entre um nome eventivo e seu agente. No nível verbal, os verbos devem atribuir as propriedades semânticas estativo, objeto de referência e objeto motivador ao seu argumento complexo que ocupa a posição de objeto.

Por fim, propusemos que essa fatoração de argumento existe no PB para propiciar uma mudança do foco informacional, de modo que a forma fatorada da sentença focaliza o constituinte sintático extraído do argumento complexo.

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  • 1
    Entendemos por alternância verbal qualquer forma de reorganização da expressão dos argumentos de um verbo e não apenas a alternância entre uma forma transitiva e uma intransitiva (LEVIN, 1993LEVIN, B. English Verb Classes and Alternations: A Preliminary Investigation. Chicago: University of Chicago Press, 1993.; CANÇADO, 2010CANÇADO, M. Verbal alternations in Brazilian Portuguese: a lexical semantic approach. Studies in Hispanic and Lusophone Linguistics, Berlin, v. 3, n. 1, p. 1-23, 2010.).
  • 2
    Não entraremos em detalhes sobre as propostas existentes de Hierarquia Temática. Para este artigo, basta saber que esse é um princípio de ligação entre a semântica e a sintaxe, segundo o qual os papéis semânticos mais proeminentes (geralmente Agente e Causa), tendem a ocupar a posição de sujeito do verbo. Na ausência desses papéis, outros papéis semânticos da escala de proeminência ocupam essa posição. Para saber mais sobre o Princípio da Hierarquia Temática, ler Levin e Rappaport Hovav (2005)LEVIN, B.; RAPPAPORT HOVAV, M. Argument Realization. Cambridge: Cambridge University Press, 2005. e Cançado e Amaral (2016)CANÇADO, M.; AMARAL, L. Introdução à Semântica Lexical: Papéis Temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016..
  • 3
    Deixamos em aberto a violação do Princípio A de Ligação das anáforas (CHOMSKY, 1981CHOMSKY, N. Lectures on Government and Binding. Dordrecht: Foris, 1981.), que decorre do fato de o SN extraído do argumento complexo ocupar a posição de adjunto. Há trabalhos, como os de Giorgi (1984)GIORGI, A. Toward a theory of long-distance anaphors: a GB approach. The Linguistic Review, Berlin, v.3, p. 307–361, 1984., Lebeaux (1985)LEBEAUX, D. Localit y an d anaphoric binding. The Linguistic Review, Berlin, n.4, p. 343–363, 1985. e, para o PB, o trabalho de Cançado e Franchi (1999)CANÇADO, M.; FRANCHI, C. Exceptional Binding with Psych-Verbs?. Linguistic Inquiry, Cambridge, v. 30, n.1, 1999., que discutem a possibilidade de o Princípio A não abranger todos os casos de anáforas existentes, de modo que explicações de outra natureza determinam o funcionamento das anáforas.
  • 4
    Nos exemplos que analisamos nesta pesquisa, o artigo definido encontra-se expresso na contração da preposição ‘por + artigo’, o que dá origem às formas pelo ou pela.
  • 5
    A letra ‘a’, em subscrito, quer dizer âncora textual, enquanto a letra ‘r’, também em subscrito, quer dizer referente.
  • 6
    O símbolo ‘├’ indica relação de acarretamento e o símbolo ‘ ~’ indica negação. Assim, ‘~├’ significa ausência de relação de acarretamento (CANN, 1993CANN, R. Formal Semantics: an introduction. Cambridge: Cambridge University Press, 1993.).
  • 7
    Para uma descrição sobre os tipos de preposições do PB e sobre as preposições que ocorrem com verbos do tipo gostar e verbos do tipo protestar, ler Godoy (2008)GODOY, L. Preposições e os verbos transitivos indiretos: interface sintax e semântica lexical. Revista da Abralin, João Pessoa, v.7, n.1, p.49-68, 2008. e Cançado (2009)CANÇADO, M. Argumentos: complementos e adjuntos. Alfa, São José do Rio Preto, v. 53, n. 1. 2009..
  • 8
    Os verbos do tipo admirar e gostar e suas sentenças nas formas fatorada e não fatorada podem ser encontrados no apêndice do trabalho de Cançado (1995)CANÇADO, M. Verbos psicológicos: a relevância dos papéis temáticos vistos sobre a ótica de uma semântica representacional. 1995. 229f. Tese (Doutorado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1995., enquanto os verbos do tipo aplaudir e protestar e suas respectivas sentenças estão no apêndice do trabalho de Meirelles (2018)MEIRELLES, L. A fatoração de argumentos verbais no PB. 2018. 203f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Faculdade de Letras, Univesidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2018..
  • 9
    Essa sentença deve ser enunciada sem que nenhuma entonação especial seja dada a um de seus constituintes.
  • 10
    De acordo com Rosenberg e Menuzzi (2011)ROSENBERG, G. R.; MENUZZI, S. M. Articulação Informacional. In: PIRES DE OLIVEIRA, R.; MIOTO, C. (org.). Percursos em Teoria da Gramática. Florianópolis, SC: Ed. da UFSC, 2011. p. 205-236., o símbolo ‘#’ indica inadequação da sentença como resposta à pergunta em questão.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Jun 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    10 Jun 2020
  • Aceito
    23 Maio 2022
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