Acessibilidade / Reportar erro

Comunicação Rápida: Brasil Processed Food 2020: um projeto em defesa da industrialização de alimentos

Rapid-Communication: Brasil Processed Food 2020: a project to promote confidence in the food industry

A importância da indústria na sustentação e na sustentabilidade da produção de alimentos nas próximas décadas foi destacada em estudo elaborado para o projeto Alimentos, realizado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos e Embrapa (CGEE, 2014CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS – CGEE. Sustentabilidade e sustentação da produção de alimentos no Brasil: agroindústria de alimentos. Brasília, 2014. (v. 4).). O estudo identificou também que países da União Europeia, Canadá, Austrália, entre outros, têm desenhado políticas públicas calcadas na inovação tecnológica para o desenvolvimento de um setor de alimentos competitivo e abastecedor da população, com produtos processados de qualidade, seguros e saudáveis. Existe um entendimento de que as políticas relacionadas à alimentação necessitam estar integradas, de modo a harmonizar os interesses do setor produtivo com as áreas de saúde, meio ambiente e desenvolvimento social. Entretanto, a execução de tais políticas tem enfrentado um grande desafio, imposto pela crescente animosidade de determinados grupos em relação ao sistema de produção e distribuição de alimentos, com diversas manifestações radicalmente contrárias aos alimentos processados. No Brasil, a ideologia contrária à indústria pode ser reconhecida em várias partes das recentes publicações do Ministério da Saúde, como o “Guia alimentar para a população brasileira” e “Alimentos Regionais Brasileiros”, evidenciando que esse ativismo galgou as esferas governamentais. Em síntese, os movimentos radicais tentam influenciar a sociedade a rechaçar alimentos processados, rotulados arbitrariamente como não saudáveis, por meio de critérios que não se sustentam sob a ótica da Ciência e Tecnologia de Alimentos.

O ativismo tem fomentado a confusão entre os consumidores ao propagar críticas questionáveis aos alimentos processados, entre as quais as seguintes ideias: i) a saudabilidade de um alimento depende do grau de processamento; ii) os alimentos processados são nutricionalmente desequilibrados e principais responsáveis pelas doenças crônicas não transmissíveis; iii) os aditivos adicionados aos alimentos processados são nocivos à saúde e servem apenas para aumentar o lucro das empresas; iv) os alimentos processados causam impacto negativo ao meio ambiente e corrompem a cultura alimentar da sociedade, afastando-a da alimentação caseira tradicional, potencialmente mais nutritiva e saudável. Por outro lado, os ataques objetivam também orientar políticas públicas de cerceamento dos setores produtivos, com aumento de tributos, restrições a comercialização e comunicação de marketing, gerando despesas adicionais com relações públicas, recall e eventuais boicotes. Estas tentativas de intervenção no setor de alimentos colocam em cheque a idoneidade dos profissionais que, há décadas, se dedicam, de forma ética e responsável, ao desenvolvimento do conhecimento científico e tecnológico para a produção de alimentos. Sobretudo, ignoram o fato de que os ingredientes, as embalagens e os processos utilizados pelas indústrias são submetidos e aprovados pelas agências reguladoras como sendo seguros para o consumo.

Desde 2010, a Plataforma de Inovação Tecnológica do ITAL desenvolve diversas atividades em defesa do setor de alimentos no país, particularmente quanto ao papel inovador da indústria de alimentos e bebidas, destacado nas publicações Brasil Food Trends 2020 (ITAL, 2010INSTITUTO DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS – ITAL. Brasil Food Trends 2020. São Paulo: ITAL/FIESP, 2010. 173 p. Disponível em: <www.brasilfoodtrends.com.br>. Acesso em: 18 nov. 2015.
http://www.brasilfoodtrends.com.br>...
), realizada em parceria com a FIESP, Brasil Pack Trends 2020 (SARANTÓPOULOS; REGO, 2012SARANTÓPOULOS, C. I. G. L.; Rego, R. A. (Eds.). Brasil Pack Trends 2020. Campinas: ITAL, 2012. 228 p. Disponível em: <www.brasilpacktrends.com.br>. Acesso em: 18 nov. 2015.
http://www.brasilpacktrends.com.br>...
), Brasil Ingredients Trends 2020 (VIALTA; REGO, 2014VIALTA, A.; Rego, R. A. (Eds.). Brasil Ingredients Trends 2020. Campinas: ITAL, 2014. 389 p. Disponível em: <www.brasilingredientstrends.com.br>. Acesso em: 18 nov. 2015.
http://www.brasilingredientstrends.com.b...
) e Brasil Bakery & Confectionery Trends 2020 (QUEIROZ et al., 2014QUEIROZ, G. C.; Rego, R. A.; Jardim, D. C. P. (Eds.). Brasil Bakery & Confectionery Trends 2020. São Paulo: ITAL, 2014. 324 p. Disponível em: <www.bakeryconfectionerytrends.com.br>. Acesso em: 18 nov. 2015.
http://www.bakeryconfectionerytrends.com...
). A partir destes estudos, houve o reconhecimento da existência de um hiato de comunicação da comunidade técnico-científica com a sociedade, no sentido de conferir maior transparência sobre as inovações tecnológicas que foram sendo incorporadas na produção dos alimentos processados. Informações que podem soar como óbvias para os cientistas não aparentam ser comuns entre os consumidores. É importante mostrar que a indústria de alimentos e bebidas é vital para o abastecimento da população nos centros urbanos, considerando-se toda a logística de armazenamento, distribuição e comercialização nos estabelecimentos atacadistas e varejistas. A produção industrial é eficiente no uso de recursos naturais e de energia, e reduz a geração de resíduos e o impacto ambiental. Apesar de os ativistas atacarem as grandes empresas líderes da indústria de alimentos, a mesma congrega dezenas de milhares de estabelecimentos de micro e pequeno porte, distribuídos regionalmente, com grande contribuição na geração de empregos e tributos, além de ter forte potencial para o empreendedorismo como instrumento de inclusão social.

Sobre a Ciência e Tecnologia de Alimentos, parece fundamental esclarecer suas funções essenciais para a alimentação humana, no sentido de viabilizar a oferta de alimentos e bebidas de qualidade, seguros e saudáveis, produzidos de forma eficiente e sustentável, bem como demonstrar um pouco das tarefas cotidianas dos profissionais de C&T de Alimentos. Observe-se que eles estão envolvidos com: i) a garantia da qualidade e segurança dos ingredientes, processos e embalagens; ii) a preservação das propriedades sensoriais dos alimentos; iii) a preservação das propriedades nutricionais dos alimentos; iv) as tecnologias de redução/substituição de sódio, gorduras e açúcares nos produtos, entre outros papéis importantes para a sociedade, como a colaboração com organismos nacionais e internacionais na formulação de políticas públicas.

Diante disso, a equipe de pesquisadores da Plataforma de Inovação Tecnológica do ITAL idealizou o projeto “Brasil Processed Food 2020: a Importância dos Alimentos Processados para a Sociedade Brasileira”, visando à elaboração de um documento que será divulgado amplamente, de forma gratuita, nas formas impressa e eletrônica, para o público em geral, os stakeholders do setor de alimentos e para os formuladores de políticas públicas, legisladores e mídias de maior penetração. Mais especificamente, o projeto “Brasil Processed Food 2020” tem como objetivos: a) disponibilizar informações técnicas e científicas que demonstrem a importância, saudabilidade, qualidade, segurança e sustentabilidade dos alimentos processados, em contraposição aos argumentos que têm classificado os “alimentos industrializados” como nocivos para a saúde; b) contribuir para a construção de uma imagem positiva e favorável da sociedade acerca do processamento de alimentos, da nutrição e da saúde; c) apresentar uma análise comparativa das melhores práticas globais nas seguintes áreas: regulatória; de fomento à CT&I; de cooperação internacional; de comunicação com stakeholderse sociedade, entre outras práticas, de modo a identificar propostas para aprimoramento de políticas públicas.

A elaboração do documento “Brasil Processed Food 2020” terá como base a mesma metodologia adotada para viabilizar os estudos da série Trends 2020, ou seja, o mapeamento e a sistematização de informações relacionadas ao escopo do estudo, coletadas por meio de consultas a especialistas e outros stakeholders do setor industrial, e da pesquisa documental, abrangendo publicações técnicas e científicas. O documento será editado em três partes distintas. A primeira parte, sobre a importância dos alimentos processados para a sociedade, contemplará capítulos sobre: a origem e os benefícios dos alimentos processados incorporados nos hábitos alimentares dos países desenvolvidos; a importância da Ciência e Tecnologia de Alimentos; a evolução da indústria de alimentos no Brasil e no mundo; os alimentos processados e qualidade; os alimentos processados e saudabilidade; os alimentos processados e conveniência; os alimentos processados e sustentabilidade e redução de perdas; a segurança das tecnologias de processamento, dos ingredientes e dos aditivos utilizados na formulação e nas embalagens; a importância do processamento para a segurança alimentar. A segunda parte abordará os instrumentos de estímulo e suporte à inovação em alimentos e bebidas, com destaque para o sistema regulatório; as linhas de fomento e os recursos para inovação tecnológica; a integração da indústria com as instituições de ensino e pesquisa em C&T; a adequação da carga tributária dos alimentos e bebidas processados; a proposta de diretrizes para formulação de plano nacional para o setor industrial de alimentos e bebidas. Finalmente, a parte três consistirá num conjunto de módulos executivos contendo propostas de políticas para as seguintes áreas: regulatória; de fomento à pesquisa; de desenvolvimento e inovação; de formação profissional; de cooperação internacional; de plano nacional para a indústria de alimentos e bebidas, e de comunicação com a sociedade.

Referências

  • CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS – CGEE. Sustentabilidade e sustentação da produção de alimentos no Brasil: agroindústria de alimentos. Brasília, 2014. (v. 4).
  • INSTITUTO DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS – ITAL. Brasil Food Trends 2020. São Paulo: ITAL/FIESP, 2010. 173 p. Disponível em: <www.brasilfoodtrends.com.br>. Acesso em: 18 nov. 2015.
    » http://www.brasilfoodtrends.com.br>
  • QUEIROZ, G. C.; Rego, R. A.; Jardim, D. C. P. (Eds.). Brasil Bakery & Confectionery Trends 2020. São Paulo: ITAL, 2014. 324 p. Disponível em: <www.bakeryconfectionerytrends.com.br>. Acesso em: 18 nov. 2015.
    » http://www.bakeryconfectionerytrends.com.br>
  • SARANTÓPOULOS, C. I. G. L.; Rego, R. A. (Eds.). Brasil Pack Trends 2020. Campinas: ITAL, 2012. 228 p. Disponível em: <www.brasilpacktrends.com.br>. Acesso em: 18 nov. 2015.
    » http://www.brasilpacktrends.com.br>
  • VIALTA, A.; Rego, R. A. (Eds.). Brasil Ingredients Trends 2020. Campinas: ITAL, 2014. 389 p. Disponível em: <www.brasilingredientstrends.com.br>. Acesso em: 18 nov. 2015.
    » http://www.brasilingredientstrends.com.br>

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2015

Histórico

  • Recebido
    14 Jan 2016
  • Aceito
    22 Jan 2016
Instituto de Tecnologia de Alimentos - ITAL Av. Brasil, 2880, 13070-178 Campinas - SP / Brasil, Tel 55 19 3743-1762 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: bjftsec@ital.sp.gov.br