1 Introdução
Os hábitos alimentares, como o seu padrão e o tempo dedicado às refeições, vêm sofrendo uma crescente mudança, especialmente ao longo das últimas décadas. Pode ser observada uma grande relação entre o nível econômico e o consumo de alimentos fora dos domicílios, demonstrando que a renda apresenta um papel importante na determinação desta escolha (Claro et al., 2014).
Com vistas a essa realidade, que demanda conveniência e praticidade para compra e consumo de alimentos, a população busca por produtos prontos para o consumo ou que exijam pouco ou nenhum preparo, para serem consumidos com segurança (Moretti, 2007).
Os vegetais minimamente processados (VMP) são alimentos que passam por procedimentos, como limpeza, lavagem, descascamento, corte, embalagem e armazenamento, e apresentam qualidade semelhante à do produto fresco. Devido à sua praticidade, possuem ótimo potencial de comércio, por serem alimentos naturais, de alta qualidade e adequadas condições higiênicas, para o consumo seguro da população (Chitarra, 2000). Atualmente, pesquisadores e a indústria vêm trabalhando em novas tecnologias, com a finalidade de garantir a qualidade sanitária e sensorial dos alimentos, e também para diminuir impactos ao meio ambiente (Alzamora et al., 2016).
O fornecimento de refeições para coletividades pode ocorrer em espaços denominados Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN). A função das UANs é promover alimentação e nutrição visando ao fornecimento de refeições balanceadas, seguindo padrões dietéticos e higiênicos, com o intuito de atender às necessidades nutricionais dos comensais.
Vegetais, como frutas, hortaliças e verduras, são utilizados na alimentação humana e, em uma UAN, fazem parte da elaboração dos cardápios em preparações, como saladas e guarnições. Devido aos diversos procedimentos envolvidos na produção e distribuição de refeições, as UANs são causadoras de impactos ambientais, destacando a utilização de grande quantidade de água e energia, e também a geração de volume de resíduos sólidos, especialmente por conta das diversas etapas envolvidas no uso in natura de frutas, verduras e legumes (Abreu & Spinelli, 2016; Almeida et al., 2015).
Por conta disso, é necessário que as UANs adotem práticas que preservem os recursos naturais e diminuam os danos ao ambiente. Uma dessas possibilidades é a utilização de VMP. Atualmente, o meio ambiente é uma preocupação central, atraindo o interesse mundial independentemente do regime político ou do sistema econômico de cada país (Barthichoto et al., 2013a).
Marques & Almeida (2013) definem que a produção, o comércio e o consumo de produtos alimentícios são contribuintes cruciais para inúmeros problemas ambientais. De Laurentiis et al. (2017) listaram o desperdício de alimentos como um dos principais itens que influenciam na emissão de gases de efeito estufa (GEE). Esse tipo de resíduo, se não for destinado corretamente para aterros sanitários, passará a se decompor e gerar emissões de metano, um GEE de efeitos potentes, que contribui para alterações climáticas de forma significativa (Pirani & Arafat, 2014).
Considerando os impactos ambientais, relacionados à produção de refeições, este estudo tem por objetivo avaliar e comparar a geração de resíduos provenientes da utilização de vegetais in natura e VMP, no fornecimento de refeições em um Serviço de Nutrição e Dietética (SND) de um hospital público federal, da cidade de Porto Alegre-RS.
2 Metodologia
O estudo é do tipo transversal descritivo, retrospectivo, de caráter quantitativo, com utilização de dados secundários (Prodanov & Freitas, 2013), realizado em um hospital público federal, no município de Porto Alegre-RS. Os dados de aquisição de gêneros foram obtidos dos relatórios gerenciais do serviço de nutrição e dietética (SND) do hospital, contemplando o período do ano de 2016 e primeiro semestre de 2017.
Foram avaliadas variáveis quantitativas relativas ao consumo de Vegetais Minimamente Processados (VMP) e in natura. Utilizou-se listagem dos vegetais utilizados nas refeições diárias, incluindo café da manhã, colação, almoço, café da tarde, jantar e ceia.
O cardápio das refeições – almoço e jantar – é composto por cereal (arroz branco ou integral), leguminosa (feijão ou lentilha), guarnição (hortaliças ou gêneros secos, como farináceos e massas), carnes (proteína animal: bovina, ave, suíno ou peixe), saladas (hortaliças) e fruta como sobremesa. As frutas também podem ser oferecidas, de acordo com prescrição dietética, para os pacientes, nas refeições: café da manhã, colação, café da tarde e ceia.
A seleção dos itens investigados neste estudo considerou o critério da curva ABC, seguindo o modelo utilizado por Strasburg & Jahno (2017a). Foram elencadas todas as hortaliças e frutas adquiridas in natura ou VMP, sendo considerados todos os itens de aquisição, de cada grupo, até atingir a quantidade mínima de 85% do total dos alimentos, consumidos em quilogramas (kg), para cada período avaliado.
Para a realização dos cálculos de estimativa da geração de resíduo por meio do Índice de Parte Comestível (IPC), outrora denominado de Fator de Correção, foram utilizados os valores de referência do livro “Técnica Dietética” (Ornellas, 2007). Desses cálculos, são obtidos os percentuais de rendimento dos alimentos. O cálculo para a definição do IPC de um alimento se dá mediante a divisão do peso bruto pelo peso líquido, resultante da retirada das partes não comestíveis do alimento (Abreu & Spinelli, 2016).
Os dados quantitativos coletados foram transcritos para planilha eletrônica do programa Microsoft Office Excel 2010®. Foram descritas as frequências absolutas e, ainda, realizados cálculos percentuais, de médias e desvio padrão.
A realização deste estudo foi vinculada ao projeto n.º 29759/2014, cadastrado na Plataforma Brasil e aprovado pela Comissão de Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
3 Resultados e discussão
Do total de 46 alimentos, classificados como hortaliças e frutas, foram selecionados 21 itens pelo critério da curva ABC, agrupados, respectivamente, em frutas in natura, hortaliças in natura e hortaliças VMP, conforme apresentado na Tabela 1.
Tabela 1 Relação de frutas e hortaliças, e frequência de aquisição por SND hospitalar. Porto Alegre-RS, 2016-17.
Alimento | 2016 | 2017 | ||||
---|---|---|---|---|---|---|
Frequência (meses/ano)* |
Média (kg) | DP | Frequência (meses/ano)* |
Média (kg) | DP | |
Abacaxi | 12 | 793,3 | 303,0 | 6 | 902,0 | 170,0 |
Banana | 12 | 5760,7 | 2172,5 | 6 | 5948,5 | 1123,0 |
Laranja | 12 | 4027,3 | 1131,5 | 6 | 4428,3 | 483,5 |
Maçã | 12 | 2710,0 | 1675,0 | 6 | 2436,8 | 1369,0 |
Mamão | 12 | 1607,6 | 474,0 | 6 | 1526,8 | 393,0 |
Tangerina | 5 | 2809,0 | 1999,0 | 2 | 2772,5 | 1024.5 |
Caqui | 1 | 1865,0 | 0,0 | 3 | 1483,3 | 112,5 |
Abobrinha | 9 | 985,0 | 607,0 | 6 | 1120,7 | 247,0 |
Cenoura | 8 | 568,8 | 560,0 | 0 | 0,0 | 0,0 |
Repolho | 12 | 897,3 | 430,0 | 6 | 779,7 | 212,5 |
Tomate | 12 | 5687,3 | 1680,0 | 6 | 5475,5 | 829,0 |
Batata | 12 | 2573,8 | 1707,5 | 6 | 2040,5 | 696,0 |
Beterraba | 12 | 1057,9 | 559,0 | 6 | 1073,8 | 133,5 |
Cebola | 12 | 3246,1 | 1570,0 | 6 | 3099,8 | 448,5 |
Cenoura | 12 | 3614,2 | 1979,5 | 6 | 3018,8 | 485,5 |
Chuchu | 12 | 2545,8 | 3797,5 | 6 | 2546,2 | 259,0 |
Moranga | 12 | 2126,6 | 1063,0 | 6 | 2068,8 | 280,0 |
Alface | 8 | 294,9 | 603,5 | 6 | 1102,3 | 306,0 |
Chicória | 12 | 174,2 | 100,5 | 4 | 193,0 | 88,5 |
Couve | 8 | 182,6 | 244,0 | 5 | 193,4 | 133,0 |
Espinafre | 12 | 861,9 | 467,5 | 6 | 709,7 | 210,5 |
Legenda: DP: desvio padrão. Obs.: (*) refere-se ao número de meses em que o insumo foi adquirido. Fonte: Autores.
Das sete frutas de maior aquisição, apenas duas variedades (tangerina e caqui) não foram adquiridas em todos os meses do ano de 2016 e no primeiro semestre de 2017, por conta de sua sazonalidade e safra. A utilização de produtos de safra e, no caso específico da tangerina, a qual o estado do Rio Grande do Sul produz o suficiente para a demanda interna, auxilia na redução do impacto ambiental. Pode ser destacado que a produção de alimentos da época requer menor gasto energético, tendo em conta a não necessidade de aquecimento em estufas ou de outros sistemas de proteção, ou favorecimento ambiental para o cultivo fora de safra (Agol et al., 2014). Além disso, a aquisição sazonal evita que os alimentos tenham percorrido longas distâncias, dentro do mesmo país, diminuindo os impactos ambientais relacionados ao transporte (Sustainable Development Commission, 2009).
Dos 14 itens classificados como hortaliças, quatro deles foram adquiridos in natura e os outros 10, na modalidade de VMP. Os itens adquiridos in natura são produtos que exigem pouca manipulação, em relação à retirada de partes não comestíveis. Das hortaliças adquiridas como VMP, somente alface e chicória são utilizados exclusivamente como saladas, sendo as demais utilizadas também como preparo de guarnições, sopas, consomês, saladas cozidas ou, ainda, como tempero (cebola).
A aquisição das frutas in natura, nos períodos de investigação, com a estimativa de geração de resíduos de partes não comestíveis, é apresentada na Tabela 2.
Tabela 2 Aquisição de frutas in natura por um SND hospitalar e estimativa de geração de resíduos. Porto Alegre-RS, 2016-17.
Frutas in natura | IPC | 2016 | 2017 | ||
---|---|---|---|---|---|
Qtde (kg) |
Total RG (kg) |
Qtde (kg) |
Total RG (kg) |
||
Abacaxi | 1,89 | 9519 | 4473,9 | 5412 | 2543,6 |
Banana | 1,53 | 69128 | 23503,5 | 35691 | 12134,9 |
Laranja | 1,76 | 48328 | 20781,0 | 26570 | 11425,1 |
Maçã | 1,25 | 32520 | 6504,0 | 14621 | 2924,2 |
Mamão | 1,63 | 19291 | 7523,5 | 9684 | 3776,8 |
Tangerina | 1,36 | 14045 | 3651,7 | 5545 | 1441,7 |
Caqui | 1,06 | 1865 | 111,9 | 4450 | 267,0 |
Total | 155887 | 66594,6 | 101973 | 34513,3 |
Legenda: IPC: índice de Parte Comestível; Qtde: quantidade; Total RG: total de resíduos gerados. Fonte: Autores.
Das frutas elencadas, o abacaxi e o mamão devem ser porcionadas para o atendimento dos pacientes. O abacaxi destaca-se na literatura como a fruta que apresenta o maior fator de IPC, visto que, além da casca, o mesmo apresenta a coroa (Ornellas, 2007). Dentre as frutas entregues, de maneira unitária, e utilizadas também como opção de sobremesa no restaurante do hospital, a banana teve a maior aquisição anual e a maior quantidade de geração de resíduos.
A média mensal estimada da geração de resíduos das partes não comestíveis de frutas foi de 5.545,8 kg, correspondendo a 34,2% do total adquirido no ano de 2016. No primeiro semestre de 2017, a estimativa da média mensal foi de 5.752,2 kg, ou seja, um acréscimo de 3,7% no total de resíduos. Seguindo essa tendência, ao final do ano de 2017, o resíduo total, proveniente do IPC das frutas, poderia alcançar o montante de 69.026,7 kg. As frutas higienizadas foram adquiridas eventualmente pelo SND, no entanto, representaram apenas 1,2% do total em quilogramas de frutas adquiridas, no ano de 2016, e 1,5% no primeiro semestre de 2017. Deve ser realçado que esse desperdício das partes não consumidas implicou, ainda, na perda dos recursos que foram necessários para produzir esses alimentos, entre os quais, água e energia (Pirani & Arafat, 2014).
Das hortaliças in natura, apresentadas na Tabela 3, o tomate representou 73,8% do total adquirido. Esse item é utilizado como ingrediente para molhos das preparações e, ainda, como salada, sendo oferecido tanto para os usuários do restaurante do hospital quanto para os pacientes. A média mensal de resíduos de IPC das hortaliças no ano de 2016 apresentou um valor apenas 3,1% superior, quando comparado ao primeiro semestre de 2017.
Tabela 3 Aquisição de hortaliças in natura por um SND hospitalar e estimativa de geração de resíduos. Porto Alegre-RS, 2016-17.
Hortaliças in natura |
IPC | 2016 | 2017 | ||
---|---|---|---|---|---|
Qtde | Total RG (kg) | Qtde | Total RG (kg) | ||
Abobrinha | 1,35 | 8865 | 2127,6 | 6724 | 1613,8 |
Cenoura | 1,17 | 4550 | 682,5 | 0,0 | 0 |
Repolho | 1,72 | 10768 | 3768,8 | 4678 | 1637,3 |
Tomate | 1,25 | 68248 | 17062,0 | 32853 | 8213,3 |
TOTAL | 92431 | 23640,9 | 44255 | 11464,3 | |
MÉDIA | 1970,1 | 1910,7 |
Legenda: IPC: índice de Parte Comestível; Qtde: quantidade; Total RG: total de resíduos gerados. Fonte: Autores.
De acordo com a Tabela 4, se os insumos que foram adquiridos como VMP fossem comprados in natura, seriam necessários 25,6% a mais de matérias-primas tanto no ano de 2016 como no primeiro semestre de 2017.
Tabela 4 Aquisição de hortaliças higienizadas por um SND hospitalar e estimativa da não geração de resíduos. Porto Alegre, RS, 2016-17.
Hortaliças | IPC | 2016 | 2017 | ||
---|---|---|---|---|---|
higienizadas | Qtde (kg) | RNG (kg) | Qtde (kg) | RNG (kg) | |
Batata | 1,06 | 30885 | 1853,1 | 12243 | 734,6 |
Beterraba | 1,75 | 12695 | 4951,1 | 6443 | 2512,8 |
Cebola | 1,74 | 38953 | 15191,7 | 18599 | 7253,6 |
Cenoura | 1,17 | 37708 | 5656,2 | 18113 | 2717,0 |
Chuchu | 1,47 | 30549 | 9775,7 | 15277 | 4888,6 |
Moranga | 1,4 | 25519 | 5869,4 | 12413 | 2855,0 |
Alface | 1,21 | 2359 | 401,0 | 6614 | 1124,4 |
Chicória | 1,4 | 2090 | 543,4 | 772 | 200,7 |
Couve | 1,91 | 1461 | 482,1 | 967 | 319,1 |
Espinafre | 1,78 | 10343 | 4550,9 | 4258 | 1873,5 |
TOTAL | 192562 | 49274,6 | 95699 | 24479,3 | |
MÉDIA | 16046,8 | 4106,2 | 15949,8 | 4079,9 |
Legenda: kg: quilogramas; IPC: índice de Parte Comestível; Qtde: quantidade; Total RNG: total de resíduos não gerados. Fonte: Autores.
Os vegetais in natura geram uma grande quantidade de resíduos por partes não aproveitáveis. Com a aquisição das hortaliças folhosas, na modalidade VMP, a estimativa de não geração de resíduos, nesse período de 18 meses, é de 9.495,2 kg. O estudo de Redin & Strasburg (2016) apontou que, no caso dos folhosos, o maior período de armazenamento relacionou, também, um maior valor no IPC destes produtos. A utilização dos insumos in natura também foi responsável pela maior quantidade de resíduos, em estudo que avaliou o cálculo de ecoeficiência nos insumos, utilizados em restaurantes universitários (Strasburg & Jahno, 2017a)
Para essa quantidade extra de insumos, haveria a necessidade, também, de se utilizar mais espaço físico para armazenamento, incluindo câmaras refrigeradas. Além disso, para o processamento dos alimentos, ocorreria uma maior necessidade de pessoas e maior uso de água e saneantes, os quais irão gerar efluentes (Redin & Strasburg, 2016).
Embora o preço dos VMP seja superior, o custo final torna-se semelhante ao da aquisição dos alimentos in natura, em consequência do menor investimento com área física e equipamentos, mão de obra e energia (Proença, 2009). A aquisição desses alimentos atenua a carga de trabalho dos funcionários do setor de pré-preparo, visto que as etapas iniciais são eliminadas, diminuindo a área necessária para a disposição temporária de alimentos. Outra vantagem é a diminuição de possíveis problemas no recebimento dos gêneros alimentícios de qualidade inferior à solicitada (Degiovanni et al., 2010).
Em vários países da Europa Ocidental e nos Estados Unidos da América, processos produtivos com inovação tecnológica, como o uso de vegetais pré-elaborados, são mais comumente utilizados, por empresas de alimentação para coletividades (Proença, 1999; Rodgers, 2007). No Brasil, no entanto, tem-se maior aquisição dos vegetais na forma in natura (Kawasaki et al., 2007). Com a maior utilização dos VMP, seriam reduzidos os resíduos gerados nas UANs.
O estudo de Colares & Figueiredo (2012) identificou que os resíduos de alimentos, provenientes de sobras, restos e rejeitos de pré-preparo, corresponderam a 88% do total da composição gravimétrica em uma UAN, na cidade do Rio de Janeiro-RJ. Em uma UAN de Goiânia, foi identificado que, do total da geração dos resíduos orgânicos, a etapa de preparo foi responsável por 55,2% e a distribuição das refeições, por mais 39% (Araújo & Carvalho, 2015). Van Waning (2010) descreveu, em seu estudo, que os restos de alimentos representaram 60,3% do total de geração de resíduos de serviços de hotelaria e restauração.
Spinelli & Cale (2009) descreveram que 87,8% do total de resíduos produzidos em uma UAN tinha como destino aterros sanitários e lixões, e os outros 12,2% eram descartados em coleta seletiva para reciclagem. Porém, com um programa de avaliação e destino dos resíduos, 74,5% dos resíduos, que eram encaminhados para os aterros e lixões, poderiam ser utilizados para a compostagem, e apenas os 13,36% restantes poderiam ser encaminhados para os aterros sanitários. Os resíduos, caracterizados como orgânicos, são grandes geradores de chorume. O chorume é um líquido escuro, que contém alta carga orgânica em decomposição e provoca um impacto ambiental acentuado, principalmente em relação à poluição das águas, podendo prejudicar a fauna e a flora aquática (Sousa et al., 2015).
Barthichoto et al. (2013b), descreveram em sua pesquisa, que, dos 32 restaurantes pesquisados, 25% realizavam coleta seletiva. Destes, 87,5% faziam separação de latas, plásticos, papel, metal e resíduos orgânicos, e 12,5% fazia a separação dos resíduos sólidos recicláveis dos resíduos orgânicos.
Um estudo de Pospischek et al. (2014), que avaliou as ações de sustentabilidade ambiental em restaurantes comerciais, mostrou que, em 56,2% dos casos, o destino dos resíduos orgânicos era para cooperativas e 43,8% para a prefeitura. Araújo & Carvalho (2015) identificaram, num estudo numa UAN da cidade de Goiânia, que 73,2% dos resíduos orgânicos gerados foram destinados para ração animal. Esses registros corroboram com Strasburg & Jahno (2017b), que destacaram, no contexto de produções científicas brasileiras, que as abordagens, relacionadas com questões de desperdício de alimentos, estão envolvidas especialmente com as etapas de preparação e de consumo de refeições. Colares et al. (2018) destacam, em seu estudo sobre boas práticas ambientais para serviços de alimentação, um bloco específico para avaliar 33 itens relacionados com a gestão de resíduos sólidos.
Segundo o artigo de Peregrin (2011), as decisões realizadas por gerentes de operações de serviços de alimentação podem ter impactos significativos na economia e no meio ambiente. Dessa forma, especialmente para UANs de grande porte localizadas em centros urbanos, o uso de VMP passa a ser uma alternativa viável, na gestão do serviço, por otimizar as etapas de trabalho nas cozinhas e, também, por diminuir a quantidade de resíduos relacionados com as etapas de preparação de refeições.
A American Dietetic Association incentiva as práticas ambientais que visam a preservação dos recursos naturais, minimização da quantidade de resíduos e sustentabilidade no sistema alimentar. A conservação e a proteção dos recursos naturais contribuem para a sustentabilidade no presente e no futuro (Harmon & Gerald, 2007).
4 Conclusões
O presente estudo comparou a estimativa da geração de resíduos, nas modalidades de aquisição de vegetais in natura e minimamente processados, para o fornecimento de refeições de um Serviço de Nutrição e Dietética (SND) hospitalar.
Os resultados deste estudo mostraram que a maior quantidade de aquisição de hortaliças minimamente processadas proporcionou uma menor geração de resíduos orgânicos na produção de refeições, o que implica numa melhor logística de coleta de resíduos nesse hospital. Além disso, a aquisição dos VMP contribui para a redução do uso de água e produtos saneantes, provocando, assim, menos impactos ambientais por parte do SND. Como limitação deste estudo, deve ser considerado o fato de se utilizarem referências da literatura para a realização dos cálculos. Nesse sentido, muitos fatores estão envolvidos nas etapas de preparo dos alimentos, como a qualidade dos insumos, os utensílios utilizados e a habilidade dos manipuladores.
A utilização de vegetais minimamente processados por serviços de alimentação para coletividade, especialmente nos locais com grande demanda de insumos, passa a ser uma alternativa interessante para a redução de resíduos e impactos ambientais, localizados em grandes centros urbanos. Sugere-se que mais estudos, dessa natureza, possam ser realizados por outros serviços de alimentação, a fim de aprimorar a abordagem desse tema de investigação.