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EDITORIAL

As abordagens educativas inovadoras na perspectiva da humanização do trabalhador constituem um dos temas centrais na formação em saúde. Assim, este número da Trabalho, Educação e Saúde reúne uma série de textos sobre a temática.

Ronaldo Rosas, no ensaio "Trabalho e conhecimento estético", renova a discussão sobre a formação estética da classe trabalhadora, ao se contrapor à(s) ideologia(s) burguesa(s) da arte no Brasil e ao ensino da arte proposto pela legislação educacional. O autor indica, como um ponto de partida, a retomada, numa perspectiva marxista, da origem - história - do conhecimento estético. O artigo "Integralidade: dispositivo para a formação crítica de profissionais de saúde", de José Paulo da Silva e Claudia Tavares, amplia o princípio da integralidade, colocando-o como um conceito fundante das transformações propugnadas para o trabalho em saúde e, portanto, também como um elemento essencial para a formação do trabalhador em saúde. Antônio Cyrino, Edy Nakamoto, Geni Rollo, Marta Andrade e Paula Freire, no relato intitulado "O projeto 'Cuidando do Cuidador': a experiência de educação permanente em saúde do Centro de Saúde Escola de Botucatu", narram uma experiência educativa desenvolvida com ênfase nas relações intersubjetivas e institucionais dos trabalhadores de uma unidade de saúde, relações geralmente ignoradas nos projetos de educação em serviço. Por fim, os dois textos da seção Debate - um, de autoria de Claudia Marques e Estela Padilha e outro, de Maria Helena Mendonça - remetem à discussão de como a regulação da (nova?) profissão de agente comunitário de saúde pode problematizar os princípios hoje vigentes na educação profissional em saúde e na própria forma de produzir saúde.

É relevante observar que, na maior parte das vezes, tais abordagens educativas inovadoras se orientam numa perspectiva da transformação do trabalho que entra em choque com os sentidos assumidos pelas relações concretas do trabalho em saúde contemporâneo. No entanto, a análise do processo de trabalho em saúde constitui uma questão fundamental para se refletir sobre o contexto com o qual tais propostas educacionais entram em diálogo - ou em conflito. O processo de trabalho em saúde, portanto, na sua dimensão mais taylorizada - a hospitalar - se apresenta como um segundo tema deste número da revista. Denise Pires, Eliane Matos e Francine Gelbcke, no texto "Organização do trabalho em enfermagem: implicações no fazer e viver dos trabalhadores de nível médio", demonstram, a partir da produção acadêmica na área de enfermagem, que a organização do trabalho da assistência em saúde é influenciada pela lógica do taylorismo, apesar da ocorrência de mudanças em sentido inverso. A partir de um estudo de caso sobre a incorporação de novas tecnologias em um hospital privado, Maria Inês Martins, no artigo "A transição tecnológica na saúde: desafios para a gestão do trabalho", aponta na mesma direção, indicando ainda que a reificação e a massificação da tecnologia na saúde têm ocasionado falta de motivação e sofrimento no trabalho, e reforçado a fragmentação, a alienação e a divisão social do conhecimento.

Trabalho, Educação e Saúde, ainda nesse número, aborda o tema da saúde do trabalhador e suas implicações na educação. O artigo "A educação para a saúde dos trabalhadores no contexto da acumulação flexível: novos desafios", de Elizabeth Araújo, discute como as novas tecnologias impedem que o nexo causal entre doença e ferramenta de trabalho seja vislumbrado pelo trabalhador, o que coloca novas questões pedagógicas no campo da educação para a saúde. Ligia Tumolo e Paulo Tumolo, no artigo "A vivência do desempregado: um estudo crítico do significado do desemprego no capitalismo", analisam o processo de perda da humanidade na situação descrita no título. Inevitável apontar como os dois textos, mesmo explorando faces aparentemente opostas do trabalho contemporâneo, demonstram sua centralidade no campo da educação para a saúde.

Atilio Borón, Secretário Executivo do Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais (CLACSO), é o entrevistado deste número. Borón, na entrevista, explora a questão da democracia no capitalismo contemporâneo, especialmente na América Latina, e sua relação com as políticas de saúde e de educação.

O presente número publica três resenhas: A miragem da pós-modernidade, de Silvia Gerschman e Maria Lucia Vianna, por Rosimary de Souza; Qualificação profissional: uma tarefa de Sísifo, de Claudia Mattos Kober, por Lucia Neves; e O trabalho em saúde: olhando e experenciando o SUS no cotidiano, de Emerson Merhy et al, por Maristella de Araújo.

A editoria

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Nov 2012
  • Data do Fascículo
    Set 2004
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