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EDITORIAL

No presente número da Trabalho, Educação e Saúde, o ensaio "Determinação, história e materialidade", de Virgínia Fontes, critica, concomitantemente, as formas de determinismo dominantes e o pensamento pós-moderno, como interdições à intervenção consciente e efetiva no processo histórico. Para a autora, tal crítica exige que repensemos, em conjunto, a reflexão histórica, a dialética e o capitalismo contemporâneo.

Na seção Artigos, a formação do trabalhador da saúde é diretamente tematizada em três textos com perspectivas bastante diferenciadas, porém complementares. No artigo, "As identidades dos enfermeiros em cenários de mudanças curriculares no ensino da enfermagem", de Rogério Renovato, Maria Helena Bagnato, Lourdes Missio e Greicelene Bassinello, os autores partem de uma análise histórica para conduzir uma reflexão em que se articulam propostas curriculares, concepções que estruturam práticas de saúde e a construção de identidades dos enfermeiros, bem como os significados dessa dinâmica para a configuração de subjetividades desses profissionais. No segundo, de Ana Lúcia Abrahão e Luan Cassal, "Caminhos para a integralidade na educação profissional técnica de nível médio em saúde", encontramos uma discussão teórica, a partir de um conceito caro à saúde pública, o de integralidade, questionando as relações entre esse conceito e a educação profissional em saúde. No terceiro, "Espirais D'Ascese: formação para gestão de equipes e grupos na atenção básica em saúde", de Ana Maria Franklin de Oliveira e Jair Franklin de Oliveira, o foco se desloca do campo da educação, para pensar sobre a formação, contextualizada no desenvolvimento do trabalho em saúde. A indagação básica do artigo se desdobra a partir da análise de casos e se constrói em torno das possibilidades de apropriação de um método - Espirais D'Ascese -, derivado do método Paidéia, para simultaneamente formar/qualificar a gestão e efetivar o propósito de tornar os serviços de saúde um espaço de produção da saúde para usuários e trabalhadores.

A preocupação com a produção da saúde docente perpassa a discussão do artigo de Gideon Borges dos Santos, intitulado "Os professores e seus mecanismos de fuga e enfrentamento". De modo consistente com a base teórica da psicodinâmica, o autor investiga formas pelas quais os docentes implementam estratégias com o sentido de manter o equilíbrio psíquico, num ambiente de trabalho cotidianamente sob tensão, e nos localiza sobre repercussões desse movimento sobre o processo educacional.

O artigo de Marília Borborema Cerqueira, Maria Patrícia Silva, Zaida Ângela Crispim, Élika Garibalde, Eveline Castro, Daiane Almeida e Fabiano Maynart traz para o campo da pesquisa um objetivo frequentemente valorizado, mas não tão costumeiramente enfrentado: o de buscar conhecer os desdobramentos de processos de formação a partir da inserção de ex-alunos no mundo do trabalho. É assim que o artigo "O egresso da Escola Técnica de Saúde da Unimontes: conhecendo sua realidade no mundo do trabalho" nos permite pensar sobre como trabalhadores técnicos, oriundos desta instituição, compreendem as relações entre sua formação e os modos como se relacionam com o trabalho em saúde, produzindo um conhecimento relevante para o movimento permanente de se repensar, que caracteriza a educação.

O contexto no qual se ampliam as experiências que podem ser categorizadas como de economia popular, suas singularidades em termos de produzir formas de organizar o trabalho e as relações de trabalho e, ainda, suas inflexões sobre o processo de educação popular constituem os eixos de discussão a partir dos quais Ana Maria Santos e Neise Deluiz compõem a reflexão do artigo "Economia popular e educação: percursos de uma cooperativa de reciclagem de lixo no Rio de Janeiro". É a complexidade dessa experiência e a multiplicidade de seus significados que se destacam como contribuição para pensar sobre os caminhos que viabiliza a cidadania no mundo atual. É na trilha da discussão sobre cidadania e direitos sociais que situamos o texto de Felipe Machado, "O direito à saúde na interface entre sociedade civil e Estado", no qual o importante tema da saúde enquanto direito é retomado, a partir de uma revisão teórica e da discussão dos resultados de uma pesquisa que estabelece um diálogo em torno das concepções sobre o direito à saúde de atores fundamentais da atual configuração do setor, os conselheiros de saúde.

Este número da revista traz um relato, "Formação técnica de agente comunitário indígena de saúde: uma experiência em construção no Rio Negro", de Luiza Garnelo, Esron Rocha, Paulo Peiter, Sully Sampaio, Elciclei Santos, Ana Lúcia Pontes e Anakeila Stauffer, que nos coloca ante uma experiência que agrega a superação de importantes desafios: a formação de agentes de saúde na interface com as particularidades da organização social de povos indígenas e o compromisso de promover educação aliada à elevação de escolaridade.

Na entrevista deste número, com o professor André Malhão, temos a oportunidade de revisitar o tema da educação profissional em saúde de modo articulado às políticas públicas de educação e de saúde, com ênfase na compreensão da atuação do Estado em sociedades, como a brasileira, marcadas pela contradição.

Por fim, o leitor conta ainda com as resenhas de Eliza Bartolozzi Ferreira, sobre o livro Políticas públicas educacionais, e de Fabiane Santana Previtalli, a respeito da obra Capitalismo, Estado e Educação.

Isabel Brasil Pereira

Angélica Ferreira Fonseca

Carla Macedo Martins

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Out 2012
  • Data do Fascículo
    Out 2009
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