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EDITORIAL

Izabel dos Santos foi entrevistada pela Trabalho, Educação e Saúde em 2004, no volume 2, número 1, e, nesse mesmo número, parte de sua trajetória na saúde foi afetivamente recuperada por Rita Sório, na seção Memória. O periódico estava no início e tinha como pilar o propósito de consolidar um espaço de discussão acadêmica que contemplasse a educação em sua relação com o trabalho em saúde.

Essa proposta editorial significava a certeza de que Izabel nos era necessária. A palavra 'necessária' marca, portanto, o nosso reconhecimento de que, nos espaços onde a formação em saúde for objeto de debate, é premente a referência ao trabalho e ao conhecimento difundidos por Izabel.

Sintetizar o pioneirismo e o engajamento de Izabel na formulação, implantação e transformação das políticas de formação para os trabalhadores de nível médio em saúde consistiria em tarefa impossível. O espaço deste editorial também é insuficiente para discorrer sobre sua permanente certeza no protagonismo dos trabalhadores de saúde, sempre na perspectiva de que "não existem pessoas incapazes de aprender, e sim equívocos de determinadas propostas".

Não são esses os nossos propósitos aqui. Contudo, cumpre mais uma vez apontar a necessidade de revisitar a militância de Izabel, sobretudo para os leitores que não a conheceram. Afinal, é com base na luta de profissionais como Izabel dos Santos que se tece a história dos trabalhadores e do trabalho - em saúde e em educação.

O volume 8, número 3 da Trabalho, Educação e Saúde é aberto com um ensaio de Henrique Amorim. A crítica à teoria marxista e, em particular, ao trabalho como categoria central para pensar as sociedades capitalistas contemporâneas, aliada à apropriação do trabalho imaterial como força produtiva, constituem os eixos da análise do autor no texto Centralidade e imaterialidade do trabalho: classes sociais e luta política.

Na seção Artigos, dois textos priorizam o trabalho em saúde como núcleo de problematização. No primeiro, de autoria de Alexandre Santos e Raquel Maria Rigotto, intitulado Território e territorialização: incorporando as relações produção, trabalho, ambiente e saúde na Atenção Básica à Saúde, o território é compreendido como espaço da dinâmica social e da produção do processo saúde-doença e, com base nessa perspectiva, as relações saúde-ambiente e suas conexões com as intervenções pautadas na atenção básica são criticamente discutidas. No segundo, O sentido do trabalho para o adolescente trabalhador, os autores Catarina Rizzo e Edna Maria Chamon apresentam o desenvolvimento de uma pesquisa qualitativa com o propósito de investigar os significados que o trabalho assume entre adolescentes.

Compreender as especificidades da população rural quanto a se sentir saudável ou doente e, em especial, as dimensões subjetivas que integram a produção de narrativa sobre esta vivência é o objetivo principal do artigo A transitoriedade nos estados de saúde e doença: construção do cotidiano individual e coletivo em uma comunidade rural, de autoria de Deise Lisboa Riquinho e Tatiana Gerhardt.

A inclusão da odontologia no Sistema Único de Saúde (SUS) tem se acentuado na última década, mas a formação nessa área mantém uma ênfase aprofundada na atuação clínica. Assim, tendo esse contexto como cenário, o artigo de Luiz Roberto Augusto Noro e Sara Melo Torquato, Percepção sobre o aprendizado de Saúde Coletiva e o SUS entre alunos concludentes de curso de Odontologia, traz os resultados de uma investigação que indaga sobre o modo como esses trabalhadores da saúde se veem na relação com o SUS e suas compreensões sobre a saúde bucal coletiva. A continuidade dos questionamentos a respeito da formação em odontologia encontra-se no texto de Mirelle Finkler et al., Formação profissional ética: um compromisso a partir das diretrizes curriculares?, no qual aborda os imbricamentos entre ética e formação profissional, no contexto de implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais no Ensino Superior brasileiro. Os autores apontam a necessidade de se pensar em uma formação ética em conjunto com uma redescrição da atuação docente, no sentido de compor uma qualificação socialmente relevante e que se contraponha ao tecnicismo/mecanicismo que predomina no ensino de odontologia.

O tema saúde bucal é retomado, neste número, no artigo de Eliana Maria de Oliveira Sá et al., dessa vez privilegiando o trabalho do profissional de nível médio. Desta forma, os autores estabelecem um diálogo nos espaços de prática profissional dos técnicos de saúde bucal com usuários, técnicos e supervisores para mapear questões na interface ente o trabalho e a formação. Os resultados da pesquisa estão no texto As atribuições do técnico de saúde bucal: sistematização de práticas.

Concluindo a seção Artigos, temos o texto de Clecí Körbes e Noela Invernizzi, Educação não-formal sobre reprodução assistida: divulgação científica na Folha de S.Paulo. A educação por intermédio dos meios de comunicação tem sido problematizada em diversas produções científicas. Aqui, as autoras vão demonstrar que é necessário observar criticamente a construção de concepções sobre tecnologias de cuidado, como a reprodução assistida, promovidas a partir da mídia. Dos resultados da pesquisa ressaltamos a ausência de tematização das relações entre desigualdade social e acesso à saúde e a ênfase do caráter privado que o tratamento assume nessas matérias jornalísticas.

Neste número, na seção Debate, Trabalho, Educação e Saúde publica uma discussão sobre as neurociências, buscando mapear as relações dessas disciplinas com o trabalho na educação e na saúde. A argumentação dos autores destaca a emergência de concepções e práticas em torno do corpo, do cérebro, da mente e do sujeito, em sua vinculação com as formas de conhecimento e trabalho hodiernas. Portanto, o conjunto de textos, de autoria de Alfredo Pereira Jr.; Monah Winograd; Fernanda Antoniolo Hammes de Carvalho; Laymert Garcia dos Santos, Rafael Alves da Silva e Pedro P. Ferreira; e Rogerio Lopes Azize - pesquisadores inscritos em distintas perspectivas teóricas -, evidencia o mérito do tema para a análise do campo da educação e saúde, assim como a necessidade de aprofundar a questão, em suas dimensões epistemológicas, históricas e sociológicas.

Na seção Relato, o texto Sites sobre drogas de abuso: recursos para avaliação, de autoria de Vagner Santos et al., se insere criticamente no cenário em que a autonomia na aprendizagem e o acesso ao conhecimento por meio da internet ganham realce. Mostra ainda a produção de um protocolo que auxilia na identificação de sites de grande valor sobre o tema.

A entrevista deste número, realizada por Gracia Gondim, é com Luiz Odorico Monteiro de Andrade. O mote da conversa foi a integração da vigilância em saúde com atenção básica. Com base em sua grande experiência como gestor do SUS, Odorico amplia nossa visão sobre esse e outros desafios postos para o setor saúde.

Duas resenhas encerram este número: a primeira, de Dermeval Saviani, oferece reflexões sobre o livro Trabalho, educação e correntes pedagógicas no Brasil: um estudo a partir da formação dos trabalhadores técnicos da saúde, de autoria de Marise Ramos. A segunda, de Henrique Caetano Nardi, nos ajuda na leitura da obra Vocabulário de Foucault: um percurso pelos seus temas, conceitos e autores, de Edgardo Castro.

Isabel Brasil Pereira

Angélica Ferreira Fonseca

Carla Macedo Martins

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Maio 2011
  • Data do Fascículo
    Nov 2010
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