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EDITORIAL

O primeiro texto do volume 11, número 3 da Trabalho, Educação e Saúde é o ensaio Propostas inovadoras na formação profissional para o Sistema Único de Saúde. De autoria de Dinair da Hora et al., tem como temática central as propostas da Comissão Independente, formada por profissionais de diversos países, cujo propósito é produzir orientação para a formação com foco na promoção à saúde. A associação entre a mercantilização da educação superior e o emprego de estruturas gerenciais orientadas pela lógica da competitividade constituem o cenário em que se constrói as indagações do artigo Terceirização do trabalho docente à luz da responsabilidade social da educação superior, de Adolfo Ignácio Calderon. O autor coloca em debate até que ponto existe coerência ética entre o que é ensinado em sala de aula e as práticas gerenciais.

A proposta de adoção de referenciais pedagógicos inovadores é algo que perpassa diversos documentos de formação na área da saúde. O artigo Inovações do século passado: origens dos referenciais pedagógicos na formação profissional em saúde, de Solange Reis e Roseli Esquerdo Lopes, investiga os princípios pedagógicos mais recorrentes em documentos oficiais e explora a relação desses princípios com as pedagogias não diretivas formuladas com base na educação infantil.

O desenho do perfil social e de atuação do agente comunitário de saúde remete a experiências e debates políticos que tiveram espaço ao longo do século XX e que contaram com a participação de atores institucionais internacionais. No artigo Atenção primária à saúde e o perfil social do trabalhador comunitário em perspectiva histórica, de Angélica Ferreira Fonseca, Marcia Valéria Morosini e Maria Helena Mendonça, temas importantes dessa disputa são recuperados e discutidos, contribuindo para a compreensão das características que atualmente, no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), se delineiam para esse trabalhador.

Representações sociais da educação em saúde pelos profissionais da equipe de saúde da família é o artigo de Maria Flávia Gazinelli et al. No estudo, os autores tematizam as representações sobre a prática educativa efetivada e a educação em saúde. Os sujeitos da pesquisa são 240 profissionais de 20 unidades básicas de saúde. Os resultados mostram que entre os médicos e os enfermeiros destacamse 'capacitação' e 'prevenção' como prováveis elementos centrais dessa representação. No grupo de agentes comunitários de saúde e de auxiliares de enfermagem, os elementos centrais de representação se referem aos termos 'educação' e 'prevenção'. Os autores assinalam que, de acordo com a pesquisa, a educação em saúde continua objetivando a prevenção da doença por meio da transmissão de informações sobre higiene e hábitos saudáveis.

As interfaces entre o contexto de luta e a vida cotidiana de mulheres camponesas e os processos de saúde-adoecimento, aliados à educação popular, são temas que se articulam, gerando a reflexão do artigo Contribuições do movimento de mulheres camponesas para a formação em saúde, de Vanderléia Laodete Pulga. A perspectiva de que a resistência popular conjugada com a afirmação de modos próprios de pensar as práticas e as políticas de saúde, bem como o SUS, são elementos centrais na discussão éticopolítica desenvolvida pela autora.

A desconstrução de direitos sociais que permeia a lógica das sociedades capitalistas indica a necessidade permanente de mobilização e participação da população na construção e implementação de políticas públicas. Partindo desse pressuposto, Danúbia Rocha Vieira et al., no artigo Participação, cidadania e políticas públicas: a construção da saúde em espaços de organização popular, analisam características da participação de algumas organizações populares no âmbito da saúde. Dentre as várias discussões trazidas no texto, os autores chamam atenção para o fato de que em instâncias de participação ligadas ao setor saúde ocorre um distanciamento da concepção ampliada de saúde em favor de um olhar biologicista. Observam ainda a necessidade de avançar para que a participação seja entendida como autonomia dos sujeitos e ampliação do poder coletivo de decisão.

Os avanços tecnológicos na área da saúde têm possibilitado o aumento das chances de nascimento de crianças e, ao mesmo tempo, do número de neonatos graves nas unidades de tratamento intensivo, as UTIs. Decorre desse quadro a necessidade de qualificação profissional. No estudo Programa educacional para unidades de terapia intensiva neonatais e pediátricas brasileiras, Edna Aparecida Bussotti et al. avaliam 13 hospitais da rede pública das regiões Norte, Nordeste e CentroOeste, com base na análise de conformidade de dez critérios. Na discussão, os autores refletem sobre a importância da implementação do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do SUS (PROADISUS), concluindo que ele contribuiu para o aumento dos índices de conformidade da maior parte dos critérios que balizaram a avaliação.

A tensão entre uma formação técnicocientífica e uma formação que valorize as relações humanas está presente no ensino das profissões que têm foco no cuidado. No estudo de Josiane Bernart Ferla, Ênfase nas relações interpessoais na formação inicial do enfermeiro sob o paradigma éticohumanista, os egressos e docentes de um curso de enfermagem são abordados em entrevistas e por questionário para colocar em discussão a formação. Com base na análise das entrevistas, foram constituídas três categorias: totalidade/multidimensionalidade, interdisciplinaridade/disciplinaridade/dicotomia teoriaprática e relações interpessoais/competência interpessoal. A discussão da autora sintetiza alguns desafios postos para a formação do enfermeiro ante a importância deste profissional estabelecer com o usuário uma relação menos mecanizada e na qual ambos possam se posicionar como sujeitos valorizados em suas múltiplas dimensões.

No artigo Percepções e práticas de cuidadoras comunitárias no cuidado de crianças menores de três anos, de Aida Victoria Montrone et al., os pesquisadores ressaltaram uma situação frequente na realidade brasileira - o cuidado de crianças em espaços não institucionalizados exercido por cuidadoras comunitárias - para investigar as percepções dessas mulheres sobre o cuidado de crianças. O estudo revela que as cuidadoras entendem que esse cuidar equivale a suprir necessidades de higiene, alimentação e proteção afetiva e física.

Este número traz ainda um relato de autoria de Maria Socorro Linhares et al., Programa de educação para trabalho e vigilância em saúde, no qual a experiência de formação de estudantes de medicina, odontologia e enfermagem, de Sobral, Ceará, é posta em discussão.

Psicanálise e política são temas centrais na entrevista concedida por Christian Dunker a Hellington Chianca Couto.

O número se encerra com duas resenhas. A primeira, de Marco Aurélio Santana, examina o livro A construção da sociedade do trabalho no Brasil: uma investigação sobre a persistência secular das desigualdades, de autoria de Adalberto Cardoso, que trata da desigualdade social no Brasil. A segunda, de Milena Silva dos Santos, Lucia Hisako Takase Gonçalves e Marília de Fátima Vieira de Oliveira, analisa a obra O que é saúde?, de Naomar de Almeida Filho, na qual o autor enfrenta os desafios postos em diversos planos pela ampliação do conceito de saúde.

Angélica Ferreira Fonseca

Carla Macedo Martins

Marcela Alejandra Pronko

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Set 2013
  • Data do Fascículo
    Dez 2013
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