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EDITORIAL

Trabalho, Educação e Saúde inicia o ano com duas novidades: a primeira é que a partir deste número publicaremos os resumos também em espanhol, logo após o final dos manuscritos. Acreditamos que assim estamos contribuindo para ampliar a divulgação de resultados de pesquisas brasileiras sobre educação profissional em saúde na América Latina. A segunda é que a revista passa a utilizar em 2014 um sistema próprio de submissão e gerenciamento de manuscritos, que poderá ser acessado na home page do site da revista www.revista.epsjv.fiocruz.br. Esperamos com isso alcançar a redução do tempo de avaliação dos artigos e aprimorar a comunicação com autores e pareceristas.

O discurso e as políticas com foco na humanização se difundiram no campo da atenção em saúde com maior intensidade no início deste século. Ao contestar a forma como se produz saúde, o debate sobre humanização inclui um pensamento crítico sobre a gestão, a relação entre usuário e profissional e as relações entre profissionais. No ensaio A cultura estética e a educação do gosto como caminho de formação e humanização na área da saúde, Marlon da Silva, Jacqueline Sakamoto e Dante Gallian formulam uma interessante articulação entre os processos históricos de supervalorização técnica que caracterizam o modelo biomédico de educação e trabalho e a desumanização do trabalhador da saúde. O texto proporciona uma reflexão sobre os efeitos da adoção de valores utilitários de verdade, assinalando o quanto isso afasta os sujeitos da possibilidade de ampliação da consciência e produção de sensações e significados singulares de suas experiências. Aborda ainda conceitos que sustentam a discussão sobre educação estética e argumenta fortemente pela inclusão da arte nos processos educacionais que tenham a intenção de promover integralmente as potencialidades humanas.

A ampliação dos objetivos e objetos da gestão com base na composição de coletivos que reflitam criticamente sobre a sua prática e as possibilidades de incorporação desses referenciais em um processo de educação permanente são o terreno por meio do qual se constituem as análises trazidas no artigo de Cristiane de Castro e Gastão Wagner, Apoio Institucional Paideia como estratégia para educação permanente em saúde. Pelo texto, acompanhamos a estruturação de um curso de extensão para profissionais de níveis médio e superior da Secretaria de Saúde de Campinas e os resultados da pesquisa que teve como sujeitos os alunos trabalhadores. A análise traz contribuições para pensar sobre o trabalho de apoiadores, o potencial e os limites da formação para transformação do SUS.

A diversidade de atividades que o técnico de enfermagem atualmente assume na atenção à saúde e sua participação na realização do diagnóstico médico por imagem estimularam Juliana Coelho e Franciele Vargas a construir uma investigação que discutisse simultaneamente o desenvolvimento do tema da radiação ionizante e elementos da inserção profissional desse trabalhador. Os resultados da pesquisa que deram origem ao artigo A capacitação discente no processo de trabalho em diagnóstico por imagem do técnico de enfermagem mostram que o assunto é insuficientemente abordado, ainda que sua importância seja reconhecida tanto por docentes quanto pelo projeto pedagógico deste curso técnico.

A inclusão de profissionais de saúde bucal na Estratégia Saúde da Família gerou uma significativa expansão do acesso a esse tipo de cuidado. Paralelamente, as questões relativas à qualificação desses profissionais ganharam maior espaço nos cenários de pesquisa. O artigo de Maria Patrícia Silva et al., Percepção de equipes de saúde bucal no norte de Minas Gerais sobre a formação de técnicos em saúde bucal no SUS, dirige questões aos egressos de cursos técnicos e coordenadores das equipes de saúde bucal. Nas conclusões, os autores defendem a implantação de uma política de formação de trabalhadores inseridos no Sistema Único de Saúde e assinalam a importância de promover uma aprendizagem que coloque em questão as situações do cotidiano.

O perfil profissional do agente comunitário de saúde (ACS) tem uma especificidade que lhe é exclusiva: o fato de ser morador da comunidade na qual atua profissionalmente. Isto encerra repercussões diversas, e o estudo de Juliana Menegussi, Márcia Ogata e Maria Helena Rosalini, O agente comunitário de saúde como morador, trabalhador e usuário em São Carlos, São Paulo, dialoga diretamente com os ACSs para entender as singularidades construídas com base nessa tripla inserção. Entre as conclusões destaca-se o fato de que os ACSs são acometidos de diversas formas de sofrimento emocional que lhes afetam tanto a qualidade de vida quanto o desenvolvimento do trabalho.

A formação em nível técnico dos ACSs é uma realidade ainda restrita a poucos municípios do Brasil. A pesquisa de Vera Joana Bornstein e Helena David investiga algumas repercussões dessa formação no processo de trabalho, com alunos de curso técnico e de sindicalistas da categoria, do Rio de Janeiro, e de profissionais de nível superior da Estratégia Saúde da Família. No artigo Contribuições da formação técnica do agente comunitário de saúde para o trabalho da Equipe de Saúde da Família, os resultados colocam em discussão a existência de uma contradição entre as expectativas dos ACSs e os demais membros da equipe quanto à atuação deste profissional após sua formação como técnico e também o espaço secundário que vem sendo atribuído à educação em saúde em detrimento das intervenções de caráter clínico.

O artigo (Re)Significando a educação em saúde: dificuldades e possibilidades da Estratégia Saúde da Família, de Silvia Oliveira e Águeda Wendhausen, apoia-se em conceitos de Paulo Freire para discutir as práticas de educação em saúde. Os resultados indicam a dificuldade de afastamento de uma prática balizada pela educação sanitária, medicalizadora e que se sustenta pela lógica da educação bancária. As autoras indicam que a própria pesquisa teve o papel de colocar suas práticas em questão aos profissionais entrevistados, sensibilizando-os para uma atuação mais crítica e emancipatória.

No estudo Um olhar sobre o trabalho de enfermagem e a ergologia, Tanise dos Santos e Silviamar Camponogara realizam uma análise bibliográfica sobre o trabalho de enfermagem a partir de dois enfoques: a dimensão da subjetividade e as análises pautadas pela ergologia. As autoras ressaltam a existência de uma lacuna nos estudos sobre a subjetividade do trabalhador da enfermagem no ambiente hospitalar e uma carência de análises sobre a atuação do enfermeiro no hiato entre trabalho real e trabalho prescrito.

A consideração de que o acesso ao trabalho é um direito de cidadania está na base da investigação de Vinicius Gaspar Garcia, Panorama da inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho no Brasil. O texto situa o leitor no contexto das políticas afirmativas e discute os dados que permitem concluir que as pessoas com deficiência ainda têm uma baixa participação no mercado de trabalho.

Trabalho, Educação e Saúde publica o relato de Larissa Silva et al., Oficinas de música e corpo como dispositivo na formação do profissional de saúde, em que os autores analisam uma prática de qualificação de trabalhadores centrada na experiência e tendo como horizonte a educação na perspectiva da integralidade em saúde.

Este número traz as resenhas de Rosangela Aquino Damasceno, sobre a obra A pesquisa histórica em trabalho e educação, organizada por Maria Ciavatta e Ronaldo Rosas Reis, e de Ary Carvalho de Miranda, que trata do livro Uma ecologia política dos riscos: princípios para integrarmos o local e o global na promoção da saúde e da justiça ambiental, de Marcelo Firpo de Souza Porto.

Angélica Ferreira Fonseca

Carla Macedo Martins

Marcela Alejandra Pronko

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Jan 2014
  • Data do Fascículo
    Abr 2014
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