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Traços laringais em Latundê (Nambikwára do Norte)

Laryngeal features in Latundê (Northern Nambikwára)

Resumos

Este trabalho reflete o status dos traços laringais na língua Latundê, pertencente ao subgrupo Nambikwára do Norte, da família Nambikwára. Os dados foram coletados in loco pela autora entre os anos 1997-2001. Para a análise, considerou-se também a literatura disponível sobre outras línguas da família. O presente artigo está organizado em cinco seções: na primeira, são fornecidas informações sobre a família Nambikwára e os inventários segmentais de três línguas da família; na segunda, são apresentados os quadros fonológicos (consonantal e vocálico) do Latundê; na terceira, encontram-se dados que evidenciam a realização dos traços laringais existentes em consoantes Latundê (glotalização e aspiração) e o contraste do traço creaky voice, nas vogais; na quarta, são feitas considerações sobre a variação laringal no Latundê; finalmente, na quinta seção, são apresentadas reflexões sobre a correspondência entre segmentos com traço laringal do Latundê e do Mamaindê, outra língua Nambikwára do Norte. Os resultados do estudo evidenciaram que no Latundê as consoantes neutralizaram os traços laringais, enquanto que as vogais os mantêm contrastivamente. No interior do ramo do Norte, a correspondência entre consoantes Latundê e Mamaindê parece indicar que a primeira língua é mais inovadora no processo de mudança histórica.

Latundê; Nambikwára do Norte; Traços laringais


This paper is about the status of laryngeal features in Latundê, a language of the Northern Nambikwára subgroup. Data were collected in the field by the author between the years 1997-2001. The available literature on other languages of the family was also taken into consideration for the analysis. The article is organized in five sections: in the first section, information on the Nambikwára family and the segmental inventories of three languages of the family will be provided; in the second section, the phonological charts (consonants and vowels) of Latundê are presented; in the third section data that demonstrate the realization of laryngeal features in the consonants (glottalization and aspiration) and vowels (creaky voice) of Latundê can be found; considerations on laryngeal variation are provided in the fourth section; in the final section, correspondences between segments with laryngeal features in Latundê and Mamaindê, a closely related Northern Nambikwára language, will be considered. The research shows that in Latundê laryngeal features were neutralized for consonants, while for vowels, creaky voice remained contrastive. Within the Northern Nambikwára branch, the correspondence between Mamaindê and Latundê consonants seems to indicate that the latter language is the most innovative in the process of historical change.

Latundê; Northern Nambikwára; Laryngeal features


DOSSIÊ LÍNGUAS INDÍGENAS

Traços laringais em Latundê (Nambikwára do Norte)

Laryngeal features in Latundê (Northern Nambikwára)

Stella Telles

Universidade Federal de Pernambuco. Recife, Pernambuco, Brasil

Autor para correspondênciaAutor para correspondência: Stella Telles. Rua Itatiaia, 45. Apipucos. Recife, PE, Brasil. CEP 52071-410 (stellatelles@hotmail.com).

RESUMO

Este trabalho reflete o status dos traços laringais na língua Latundê, pertencente ao subgrupo Nambikwára do Norte, da família Nambikwára. Os dados foram coletados in loco pela autora entre os anos 1997-2001. Para a análise, considerou-se também a literatura disponível sobre outras línguas da família. O presente artigo está organizado em cinco seções: na primeira, são fornecidas informações sobre a família Nambikwára e os inventários segmentais de três línguas da família; na segunda, são apresentados os quadros fonológicos (consonantal e vocálico) do Latundê; na terceira, encontram-se dados que evidenciam a realização dos traços laringais existentes em consoantes Latundê (glotalização e aspiração) e o contraste do traço creaky voice, nas vogais; na quarta, são feitas considerações sobre a variação laringal no Latundê; finalmente, na quinta seção, são apresentadas reflexões sobre a correspondência entre segmentos com traço laringal do Latundê e do Mamaindê, outra língua Nambikwára do Norte. Os resultados do estudo evidenciaram que no Latundê as consoantes neutralizaram os traços laringais, enquanto que as vogais os mantêm contrastivamente. No interior do ramo do Norte, a correspondência entre consoantes Latundê e Mamaindê parece indicar que a primeira língua é mais inovadora no processo de mudança histórica.

Palavras-chave: Latundê. Nambikwára do Norte. Traços laringais.

ABSTRACT

This paper is about the status of laryngeal features in Latundê, a language of the Northern Nambikwára subgroup. Data were collected in the field by the author between the years 1997-2001. The available literature on other languages of the family was also taken into consideration for the analysis. The article is organized in five sections: in the first section, information on the Nambikwára family and the segmental inventories of three languages of the family will be provided; in the second section, the phonological charts (consonants and vowels) of Latundê are presented; in the third section data that demonstrate the realization of laryngeal features in the consonants (glottalization and aspiration) and vowels (creaky voice) of Latundê can be found; considerations on laryngeal variation are provided in the fourth section; in the final section, correspondences between segments with laryngeal features in Latundê and Mamaindê, a closely related Northern Nambikwára language, will be considered. The research shows that in Latundê laryngeal features were neutralized for consonants, while for vowels, creaky voice remained contrastive. Within the Northern Nambikwára branch, the correspondence between Mamaindê and Latundê consonants seems to indicate that the latter language is the most innovative in the process of historical change.

Keywords: Latundê. Northern Nambikwára. Laryngeal features.

A FAMÍLIA NAMBIKWÁRA

O Nambikwára é um isolado linguístico. Até o momento, não há evidências plausíveis que possam atestar a relação genética da família com outras línguas. A família Nambikwára é formada por dois grupos de línguas/dialetos e mais uma língua sem divisão dialetal. As línguas e a sua distribuição nos três ramos seguem apresentadas na Tabela 1. No ramo do Norte, encontra-se a língua Latundê, objeto deste estudo. Nesse ramo, há mais três línguas, sendo o Lakondê11 Entre as décadas de 1940 e 1950, o grupo étnico falante do Lakondê se desintegrou, perdendo sua unidade política. Os remanescentes passaram a viver entre outros grupos Nambikwára ou migraram para núcleos urbanos localizados nas proximidades da fronteira entre os estados do Mato Grosso e de Rondônia. Atualmente, há uma lembradora da língua, nascida na antiga aldeia Lakondê. Essa indígena, desde muito cedo, passou a conviver com parentes de outras línguas, tendo posteriormente casado com um não índio, e, na sequência, com um indígena Sabanê, com quem falava apenas em Sabanê (língua Nambikwára mais distante geneticamente) ou em português (Telles, 2002). Diante desse quadro, considera-se a possibilidade de interferência fonológica no Lakondê, proveniente do contato constante com outras línguas (Sabanê, Tawandê, Manduca (subgrupo do ramo Sul), Mamaindê e inclusive o português). Por essa razão, os dados do Lakondê, coletados pela autora entre 1999 e 2001, não foram incluídos neste estudo. a que mais se assemelha ao Latundê, enquanto que as duas restantes são mais próximas entre si.

Das línguas apresentadas na Tabela 1, o Kithãulhú, do ramo do Sul, o Mamaindê (do ramo do Norte) e o Sabanê são as que dispõem de registros prévios, os quais datam, pelo menos, dos anos 1970. Esses trabalhos foram utilizados no presente estudo, os quais permitem generalizações tipológicas sobre a família Nambikwára.

A LOCALIZAÇÃO DOS GRUPOS NAMBIKWÁRA E OS LATUNDÊ

A localização das Terras Indígenas (TI) onde vivem os grupos Nambikwára pode ser observada na Figura 1. As áreas pontilhadas no mapa correspondem às extensões demarcadas nas quais os povos Nambikwára vivem tradicionalmente.


Historicamente, os grupos políticos Nambikwára eram formados por poucos indivíduos que tinham o costume de subdivisão interna para permanecer com um contingente populacional pequeno (entre 30 e 40 pessoas), mais viável frente às práticas de uma cultura pouco sedentária (comunicação pessoal com anciãos Nambikwára, em janeiro de 1999). Ainda assim, os pequenos agrupamentos mantinham contatos uns com os outros, os quais nem sempre eram amistosos (Price, 1972b).

Com relação aos Latundê, até fins da década de 1970, a sua existência não era conhecida por outros indígenas da região e nem pelas agências oficiais, como a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e instâncias governamentais do estado de Rondônia.

O silêncio histórico dos Latundê deve ter sido decorrente do afastamento da sua área tradicional, de onde migraram e onde provavelmente conviviam com outros grupos Nambikwára. A memória dessa subdivisão deve ter se perdido na dinâmica de reestruturação social, constante em culturas mais nômades, associada aos contatos invasivos com não índios, os quais desintegraram muitos grupos da região desde meados do século XIX (Price, 1972b). A evasão dos Latundê pode ter favorecido um isolamento com consequências diretas no processo de distanciamento linguístico da língua homônima.

Como pode ser visto na Figura 1, a TI Tubarão-Latundê, onde o grupo foi contactado oficialmente em 1978 e onde vive até hoje, é a área que se encontra mais a oeste do território Nambikwára do Norte, situada fora do estado do Mato Grosso.

Os dados Latundê utilizados neste trabalho foram coletados pela autora em visitas à TI Tubarão-Latundê, entre os anos de 1997 e 2001. O corpus é constituído por mais de 200 horas de gravação em formato digital.

Até o ano de 2001, o grupo Latundê era formado por duas famílias nucleares, as quais somavam 23 indivíduos. Desses, apenas sete nasceram antes do contato com a sociedade não índia, iniciado em 1978.

ASPECTOS TIPOLÓGICOS

Do ponto de vista tipológico, a família Nambikwára pode ser considerada um agrupamento de línguas que apresenta fonologia e gramática bastante complexa. Na fonologia segmental da família, observam-se inventários vocálicos extensos de unidades contrastivas, que podem alcançar número superior a quinze segmentos fonológicos. Um dos contrastes que justifica o tamanho dos inventários nas línguas da família é a especificação laringal para todas as vogais (creaky voice), que refere um tipo de fonação não modal aos segmentos vocálicos, ao lado de suas correspondentes modais.

Os inventários das consoantes, embora menores que os vocálicos, também apresentam contraste que envolve traços laringais, alguns dos quais são bem ocorrentes nas línguas do mundo, tais como os responsáveis pela aspiração e pelo vozeamento. Além desses, a glotalização22 De acordo com Maddieson (2011, p. 1-2), a glotalização em consoantes define três categorias de segmentos: na primeira, estão as consoantes plosivas ejetivas, caracterizadas pela oclusão glotal e supraglotal, associada à elevação da laringe. Na segunda classe, encontram-se as consoantes implosivas, nas quais a oclusão supraglotal se associa a um abaixamento vigoroso da laringe, possibilitando um fluxo de ar brevemente ingressivo. As implosivas são frequentemente sonoras, devido à posição característica de vozeamento que as membranas vocais assumem durante a sua produção. A terceira categoria refere-se às sonorantes glotalizadas, as quais são produzidas sem impedimento da saída do ar na cavidade oral ou nasal, de forma que esses segmentos são naturalmente vozeados. Diferentes, entretanto, das ejetivas e das implosivas, as sonorantes glotalizadas não apresentam movimento de elevação ou abaixamento da laringe durante a sua produção. Na literatura linguística, a simbolização desses sons nem sempre é coincidente. Para Maddieson, esses segmentos podem ser representados da seguinte forma: a utilização de uma apóstrofe após os símbolos correspondentes às consoantes plosivas surdas e às sonorantes, para simbolizar as ejetivas e as sonorantes glotalizadas, respectivamente, tal como p' e n'; e a escolha de letras particulares para simbolizar as implosivas: ɓ, ɗ, ɠ. das consoantes é um fato observado em várias línguas da família, sendo que sua confirmação em nível do léxico é variável de língua para língua.

Sincronicamente, diferentes línguas da família têm demonstrado a perda crescente de alguns dos traços laringais, sendo esse processo bastante perceptível de uma geração para outra (Kroeker, 2001; Telles, 2002; Eberhard, 2009). Esse fenômeno pode favorecer a necessidade de um reajuste interno no sistema fonológico de cada língua, com vistas à manutenção dos contrastes no léxico, o qual é também motivado pelo contato linguístico. Os arranjos que vêm se dando nas línguas Nambikwára parecem promover mais rapidamente o distanciamento entre elas, de forma que várias correspondências históricas de traços laringais não são verificadas nos dados atuais.

Em nível suprassegmental, segundo os estudos disponíveis, as línguas da família utilizam o pitch como correlato do tom, como é o caso do Mamaindê (Eberhard, 2009), Latundê e Lakondê (Telles, 2002) e Kithãulhú (Kroeker, 2001), ou como correlato do acento, como é o caso do Sabanê (Araújo, 2004). Na língua Kithãulhú (língua do Sul), é relatado um sistema tonal com três tons contrastivos. Para o Mamaindê (língua do Norte), em estudos prévios, considerou-se um sistema tonal com quatro tons (Kingston, 1976) e, mais recentemente, foi proposto um sistema tonal com dois contrastes (Eberhard, 2009). A língua Latundê foi inicialmente interpretada com sistema acentual do tipo pitch-accent (Telles, 2002), entretanto a pesquisa em curso, desenvolvida pela mesma autora, parece sinalizar a existência de um sistema misto, no qual coexistem o padrão acentual e tonal, esse último avaliado a partir do funcionamento do pitch para fins lexicais em morfemas verbais.

ESTUDOS PRÉVIOS SOBRE A FONOLOGIA SEGMENTAL DE LÍNGUAS NAMBIKWÁRA

As Tabelas 2 a 4 apresentam os inventários dos segmentos consonantais e vocálicos de três línguas Nambikwára sobre as quais se dispõe de estudos: o Kithãulhú, do ramo Nambikwára do Sul, o Mamaindê, língua do ramo do Norte, e o Sabanê. Nas Tabelas, observa-se a presença de segmentos com articulação laringal.

Entre as consoantes Mamaindê, verifica-se o contraste entre fonemas plosivos aspirados, sonoros e glotalizados33 Neste trabalho, a simbolização dos segmentos consonantais glotalizados segue a representação adotada pelos autores referenciados no texto. O uso do termo 'glotalizado', em segmentos surdos, não implica necessariamente sua interpretação como sons ejetivos.. No Kithãulhú, além da implosiva alveolar, há segmentos glotalizados e aspirados.

Sabanê é a língua da família que apresenta maior distanciamento genético. Entre outras características que a distinguem das demais línguas da família, encontra-se a fonologia menos complexa, tanto segmental quanto suprassegmental. Em nível segmental, os inventários são mais simples em termos dos traços presentes nos segmentos, e menores do que os inventários observados nas línguas aparentadas. Quanto à glotalização, Araújo (2004), que realizou um estudo mais recente sobre o Sabanê, apresenta dados que diferem daqueles apresentados por Price, em 1978, por incluir no inventário da língua as consoantes implosivas /ɓ/ e /ɗ/.

Na família Nambikwára, ocorre o contraste fonológico de vogais modais orais e nasais e de suas correspondentes não modais, com o tipo de fonação laringal creaky voice. Generalizações interlinguísticas apontam para a existência de correspondentes vocálicas creaky voice, para as séries modal-oral e modal-nasal, sendo as correspondentes nasais restritas às vogais baixa /a/ e altas /i, u/.

Nos estudos desenvolvidos desde as décadas de 1960 e 1970 sobre línguas Nambikwára (Kingston, 1976; Kroeker, 2001; Price, 1978, entre outros), observa-se a presença marcante de segmentos com traços laringais nas línguas Kithãulhú e Mamaindê. A língua Kithãulhú também apresenta uma implosiva (/ɗ/), que, atualmente, está em desuso, sendo restrita à fala dos mais velhos. Nessa língua, a glotalização das consoantes surdas é foneticamente pós-segmental nas plosivas e pré-segmental nas continuantes (Kroeker, 2001, p. 108).

Os dados disponíveis sobre essas línguas, de acordo com o apresentado anteriormente, evidenciam a ocorrência de traços laringais na família e servem como parâmetro para se verificar a correspondência do traço com as ocorrências encontradas na língua Latundê. Na próxima seção, encontram-se dados referentes à fonologia segmental dessa última língua.

ESBOÇO DA FONOLOGIA SEGMENTAL DO LATUNDÊ

Os dados apresentados nesta seção fazem parte do corpus coletado in loco pela autora.

CONSOANTES

As consoantes no Latundê se distribuem nas classes labial, alveolar, velar e glotal. Dessas, a última, na qual se encontra a consoante plosiva glotal, corresponde a um ponto de articulação cuja fonação é laringal. Entretanto, consoantes plenas do Latundê, que não são laringais na subjacência, podem ser realizadas com alguma manifestação laringal. Comparando-se com os quadros prévios das línguas Kithãulhú e Mamaindê (ver Tabela 2), as alofonias laringais ocorrentes no Latundê (ver a próxima seção) correspondem, em alguma medida, aos segmentos laringais assumidos nos estudos mais remotos para as duas primeiras línguas.

Na Tabela 5 observa-se a ausência de segmentos aspirados, implosivos ou glotalizados.

VOGAIS

O inventário vocálico do Latundê é mais extenso do que o consonantal e é caracterizado, assim como em outras línguas da família, por apresentar vogais laringalizadas para as séries oral e nasal, resultando em um número de 16 segmentos (Tabela 6).

O contraste entre as vogais creaky voice pode ser verificado na seção a seguir.

REALIZAÇÃO DE TRAÇOS LARINGAIS EM LATUNDÊ: GLOTALIZAÇÃO, ASPIRAÇÃO, CREAKY VOICE

Em nível da superfície, as consoantes podem ocorrer com glotalização e aspiração. A descrição da ocorrência desses traços, associada à verificação dos dados provenientes das línguas aparentadas, pode fornecer pistas para que se entendam os caminhos da mudança histórica no Latundê.

As vogais, por seu turno, apresentam contraste laringal. Para cada vogal modal, há uma não modal correspondente, nomeadamente com articulação creaky voice.

GLOTALIZAÇÃO

As consoantes plosivas bilabial, alveolar e velar /p, t, k/, nasais bilabial e alveolar /m, n/, fricativa alveolar /s/ e lateral /l/ podem, variavelmente, apresentar realização laringal em início de palavra. Seguem exemplos ilustrativos da realização laringal dessas consoantes.

a) Plosivas glotalizadas: [ɓ, ɗ, ɠ, kʔ]44 Embora os dados apenas tenham sido interpretados de oitiva, consideram-se as consoantes sonoras como implosivas, pelo fato de o vozeamento ser um traço característico desse tipo de consoante. A glotalização nas consoantes surdas é indicada pela presença de uma oclusiva glotal, precedendo ou seguindo os sons glotalizados.

(1)

ɓa:'nãn] ~ [ˌba:'nãn]

(2)

[ɗiklnde] ~ [diklnde]

/pan-tãn/

/ti-kln-te/

ser.dois-impf

pássaro-ser.pintado-refr

'são dois'

'pássaro pintado, espécie de pássaro'

(3)

['ɗ:ʰˌgɾãn] ~ ['d:ʰˌgɾãn]

(4)

[kʔo'lo:ˌɾe] ~ [ko'lo:ˌɾe]

/th-ka-tãn/

/koloh-te/

procurar-ben-impf

barata-refr

'ele procurou'

'barata'

(5)

[kʔaˌkʔa'la:ˌɾe] ~ [kaˌka'la:ˌɾe]

(6)

['ɠ:'nãna] ~ ['k:'nãna]

/kalaʔkalaʔ-te/

/kn-tãn-ta/

galinha-refr

coçar-impf-ant

'galinha'

'tem coçado'

b) Nasais [ˀm, ˀn]

As consoantes nasais apresentam realização laringal em três diferentes situações. A primeira diz respeito a uma restrição de ocorrência, quando a nasal se encontra em posição inicial da palavra. Nesse contexto, a pré-glotalização da nasal é opcional. As duas seguintes decorrem de processo fonológico. No primeiro caso, a glotalização ocorre no segmento nasal, que ocupa o onset da segunda sílaba de radicais dissilábicos, sendo motivado pela aférese da primeira sílaba, a qual tem uma fricativa glotal na posição de onset. No segundo caso, a glotalização nasal é resultado da dissimilação, motivada pela continuidade nasal em fronteira de morfema, como pode ser visto no exemplo (12).

(7)

[ˌˀmã:'ndãn] ~ [ˌmã:'ndãn]

(8)

[ˌˀmãʔhũ:'ndãn] ~ [ˌmãʔhũ:'ndãn]

/mãn-tãn/

/mãn-hũn-tãn/

queimar-impf

mandar-2ª.suj-impf

'está queimando'

'você está mandando'

(9)

['ˀmĩ:ˌde]~ [hã'mĩ:ˌde]

(10)

['ˀnãˌnãnɐ] ~ ['nãˌnãnɐ]

/hamĩn-te/

/nãn-tãn-ta/

couro-refr

chorar-impf-ant

'couro'

'tem chorado'

(11)

['ʔn:ˌde] ~ [hã'n:ˌde]

(12)

['udˌˀna] ~ ['u:ˌˀna]

/hann-te/

/un-n/

folha-refr

ser.vivo-est

'folha'

'está vivo'

A pré-glotalização nas sonorantes também é relatada para o Kithãulhú (Kroeker, 2001).

c) Fricativas [ˀs, ˀ∫] e Lateral [ˀl]

As consoantes fricativas e a lateral frequentemente ocorrem com realização glotalizada, em posição inicial de palavra em sílaba acentuada.

(13)

['ˀsi:ˌɾãn]

(14)

[ˌˀsi:'tãn]

(15)

[ˌˀ∫o:'ɾãnɐ]

(16)

['ˀl:ˌɾε]

(17)

['ˀlo:ˌtãn] ~ [a'lo:ˌtãn]

/sih-tãn/

/set-tãn/

/soh-tãn-ta/

/lh-te/

/ã-loʔ-tãn/

ser.liso-impf

trovejar-impf

ser.preto-impf-ant

jacucaca-refr

res-afundar-impf

'está liso'

'trovejou'

'tem estado sujo'

'jacucaca'

'ele foi afundado, atolado'

ASPIRAÇÃO (GLOTE ESPRAIADA)

a) Fricativa glotal /h/

A fricativa glotal em coda é produzida com fricção muito fraca. Quando ocorre em coda de sílaba acentuada, a fricativa motiva frequentemente o alongamento da vogal que a precede, a qual poderá se realizar como uma vogal longa com leve aspiração. Além do alongamento compensatório que ocorre com a vogal tautossilábica, devido à redução ou ao apagamento da consoante fricativa, observou-se também que a fricativa pode assimilar o traço supralaríngeo da consoante em onset seguinte (exemplo 20) ou ser realizada como oclusiva glotal (exemplo 22), preservando, nesse caso, sua natureza laringal.

(18)

['lo:ʰ'tãˌn]

(19)

['∫:ʰˌɾe]

(20)

[na'kad 'ˀn:ˌn]

/loh-tãn-n/

/sih-te/

/nakah

nn-n/

onça-impf-est

casa-refr

ainda

chorar-est

'é onça'

'casa'

'ainda está chorando'

(21)

['ka:ˌɾãn]

(22)

[we'd:ˌɾe] ~ [we'dʔˌɾe]

/kah-tãn/

/wath-te/

ser.azedo-impf

tamanduá-refr

'está azedo'

'tamanduá, espécie de'

b) Fricativa alveolar surda /s/ (com realização aspirada [tʰ])

O segmento fricativo alveolar surdo /s/, no contexto inicial de palavra, ou em sílaba medial acentuada, apresenta uma larga variação entre as articulações combinadas alvéolo-palato-glotal, sendo a mais frequente a realização palatal /∫/. As realizações atestadas envolvem o fortalecimento da fricativa, sendo elas: [t∫, tʰ]. Essas realizações são marginais no Latundê, sugerindo se tratar de fenômenos sem maiores implicações para a fonologia da língua. Segmentos plosivos aspirados são considerados fonológicos no Mamaindê, língua irmã do Latundê (Eberhard, 2009). Embora seja plausível considerar que a fricativa alveolar decorra da plosiva aspirada, em Latundê, o comportamento dos dados sincrônicos sinaliza a fricativa como subjacente.

(23)

[tʰa'tʰaʔiˌnãnɐ] ~ [∫a'∫aʔiˌnãnaɐ] ~ [∫a't∫aʔiˌnãnaɐ]

(24)

[ke'jɔ̰ʔheˌneʔtʰoˌɾeʔ] ~ [ke'jɔʔheˌneʔtʰoˌɾeʔ]

/sasan-tãn-ta/

/kejw-haniʔ-sw-te/

ser.mole-impf-ant

não.índio-gordura-líquido-refr

'estava mole'

'óleo'

(25)

['tʰo:ˌdãˌn] ~ ['to:ˌdãˌn]

/so-'tãn-n/

guarantã-impf-est

'é guarantã' (espécie de árvore)

CREAKY VOICE

Das dezesseis vogais do Latundê, oito apresentam o traço creaky voice. Na Tabela 7, são apresentados dados com oposição laringal entre as vogais.

No Latundê, a glotalização consonantal e a articulação secundária aspirada em plosivas não se confirmam fonologicamente. Esse fato diferencia o Latundê das línguas aparentadas geneticamente. Por outro lado, as vogais Latundê, igualmente ao que ocorre nas demais línguas Nambikwára, mantêm o contraste laringal, apesar de se observar uma tendência para o enfraquecimento, relatada na seção seguinte.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A VARIAÇÃO LARINGAL E REFLEXÕES SOBRE A FALA DE TRÊS GERAÇÕES DO LATUNDÊ

ASPECTOS DA VARIAÇÃO DOS TRAÇOS LARINGAIS

O Latundê, assim como outras línguas da família, se caracteriza por um estilo de fala marcado pela laringalização, que se espraia por vocábulos e enunciados inteiros, fazendo com que as vogais não laringais tenham realização laringal e consoantes não implosivas/glotalizadas sejam realizadas como consoantes implosivas/glotalizadas. Apesar da variação, o estilo de fala com laringalização é apreciado pelos falantes, caracterizando-se como um registro de prestígio na comunidade. Na fala rápida, é habitual ocorrerem contrações em final de palavra, resultando numa produção fonética fortemente caracterizada por glotalizações para as consoantes, laringalizações e conjunções laringais/nasais para as vogais, que se combinam aos efeitos melódicos do suprassegmento tonal.

Se, por um lado, o estilo de fala laringalizado é muito ocorrente e apreciado entre os falantes, por outro lado, a variação que resulta da não realização laringal, entre as vogais, também é frequente, sobretudo entre os falantes das gerações mais novas. Mesmo entre os falantes mais velhos, observa-se a realização não laringal, em particular, quando a fala é lenta. Quanto às vogais, o apagamento do traço laringal, derivando vogais não laringais na superfície, dificulta, muitas vezes, a depreensão do segmento laringal subjacente.

O traço laringal não integra o conjunto de traços maiores das vogais (Ladefoged e Maddieson, 1996, p. 298). Quanto a esse traço, Gordon e Ladefoged (2001, p. 387) chamam atenção para o fato de que o tipo de fonação laringal é encontrado em vogais de certas línguas, do que resulta, portanto, uma ocorrência mais limitada interlinguisticamente. Dentro de um mesmo sistema, a restrição de ocorrência das laringais com relação às não laringais também se repete. Sons menos frequentes e mais raros nas línguas do mundo, portanto mais marcados, sobretudo em situações de línguas em contato, tendem a mudar com o passar do tempo, caminhando em direção à perda dos traços menos naturais.

Ao se observar o Latundê, pode-se considerar que as vogais laringais, apesar de contrastivas, podem se encontrar num processo de mudança. As mais novas gerações Latundê, que nasceram após o contato com o não índio (a partir de 1978), realizam o traço laringal nas vogais, em palavras que o têm distintivamente, com muito menor frequência e saliência do que os mais velhos, os quais adquiriram o Latundê antes do contato.

Ainda com relação aos falantes jovens, pôde-se verificar o comportamento da laringalização no processo de aquisição do Latundê na fala de crianças de dois a 12 anos de idade, durante três visitas realizadas entre os anos 1997-2001. De acordo com o observado in loco e com os relatos dos adultos, as crianças, expostas simultaneamente ao Latundê e ao português, desenvolviam a habilidade da fala primeiramente no português, enquanto que permaneciam como falantes passivos do Latundê durante a primeira infância. Essas crianças só começavam a apresentar fluência no Latundê e utilizar essa língua para se comunicar com os adultos e entre si na pré-adolescência, quando se encontravam na faixa dos 12 anos. Com essa idade, segundo o julgamento dos adultos, os adolescentes ainda não eram falantes plenamente competentes no Latundê.

Uma explicação possível para essa situação diz respeito à aquisição tardia de traços fonológicos mais marcados, tais como a laringalização e o tom. Isso pode ser exemplificado a partir da situação de um adolescente Latundê, que, em 1997, com aproximadamente 14 anos, apesar de fazer uso preferencial do Latundê e utilizar o português em momentos esparsos de contato com pessoas de fora da comunidade, neutralizava as vogais laringais de forma bastante notável. Já na geração imediatamente posterior à dele (crianças/pré-adolescentes), não foi observada a produção de vogais laringais, o que confirma a hipótese da aquisição mais tardia deste traço. Essa situação também está de acordo com a assunção de que traços linguísticos menos naturais, não apenas fonológicos, tanto apresentam aquisição mais tardia pelos falantes nativos de uma determinada língua, como também são os primeiros a se perder no processo de línguas em contato ou de obsolescência linguística.

Para ilustrar um tipo de ocorrência em outro domínio da gramática, pode-se citar o que Mithun (1986, p. 381-382) relata quanto aos estágios de uso de incorporação nominal, o último dos quais teria a função relativa à "organização da informação no discurso". Este, por seu turno, representaria "one of the last linguistic skills to be acquired by children. It is one of the first to disappear in language death".

Quanto à realização de consoantes implosivas, glotalizadas e aspiradas, não fonológicas no Latundê, salienta-se que apenas foram observadas na fala dos indígenas mais velhos, nascidos antes do contato com o não índio. Tal fato está de acordo com o comportamento das vogais laringais, relatado anteriormente, segundo o qual se observa uma tendência ao enfraquecimento da creaky voice nas gerações pós-contato, sendo esse enfraquecimento também favorecido pelo fato de a aquisição desse traço ser tecnicamente mais tardia com relação às demais vogais.

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O LATUNDÊ A PARTIR DO CONFRONTO COM OS DADOS DISPONÍVEIS DA FAMÍLIA

Na literatura disponível sobre outras línguas da família Nambikwára, há divergências e alterações ao longo do tempo quanto à interpretação do fenômeno da glotalização consonantal (Kingston, 1976; Eberhard, 1995, 2004, 2009; Price, 1972a; Lowe, 1999)55 Ver, ainda, KINGSTON, Peter. "Mamaindê Syllabes", 1970 [manuscrito]. Arquivo do SIL, Cuiabá, Brasil..

Segundo análise mais recente sobre o Mamaindê, uma língua também do grupo Nambikwára do Norte, Eberhard (2009, p. 55-56) afirma que as plosivas surdas /p, t/ apresentam alofonia com realização implosiva [ɓ, ɗ]:

Two of the plosives, /p/ and /t/, are in some environments realized as their imploded voiced variants [ɓ, ɗ] in the speech of the more mature speakers (over 40 years of age or so). The imploded forms usually occur as onsets to stressed syllables and mostly before back vowels. They also tend to occur word initially, although they may occur word internally after a glottal stop.

Essas observações são válidas para o Latundê, exceto quanto ao condicionamento da plosiva bilabial, que apresenta, para o Latundê, realização condicionada à vogal seguinte, além da posição acentuada. Além disso, Eberhard não faz menção à existência de variante velar implodida no Mamaindê.

Para o Latundê, interpreta-se a série de plosivas /p, t, k/ como segmentos surdos na subjacência, enquanto que a série sonora /b, d, g/ é condicionada contextualmente. Embora as realizações sonoras das plosivas no Latundê sejam muito frequentes, critérios relativos à marcação e à naturalidade também foram utilizados para se considerar as surdas como fonemas.

Assim como no Mamaindê (Eberhard, 2009) e no Kithãulhú (Kroeker, 2001), no Latundê, as consoantes glotalizadas são mais frequentes na produção dos falantes mais velhos. Em fala lenta, eles também realizam suas correspondentes não glotalizadas. Os falantes jovens, da geração pós-contato (início dos anos 1980), que adquiriram o português simultaneamente ao Latundê, neutralizam o contraste entre esses sons, realizando preferencialmente o som menos marcado, não implodido. Sobre isso, Eberhard (2009, p. 56) esclarece que, entre os falantes da língua Mamaindê, "the implosives seem to be limited to the elderly, however, as they have fallen out of use with the younger generation, which is being heavily influenced by Portuguese".

Os fonemas segmentais das línguas irmãs podem ser verificados nas Tabelas 8 e 9.

Os estudos sobre as línguas do Norte (Mamaindê e Latundê) consideram a glotalização como fenômeno alofônico. As aspiradas apenas são fonológicas no Mamaindê. A existência de vogais laringais (creaky voice), atestada para as línguas do Norte e do Sul, é confirmada igualmente para as duas línguas irmãs (Latundê e Mamaindê), como contraparte da série de vogais orais e nasais que não apresentam a articulação modal.

O inventário consonantal do Mamaindê é mais extenso do que o do Latundê, exatamente pela presença de segmentos com traço laringal (a aspiração). Entretanto, se a Tabela 8, com as consoantes Mamaindê, for confrontada com o inventário segmental proposto por Kingston, em 1976 (ver Tabela 2), verifica-se a redução dos segmentos glotalizados no estágio atual da língua. Devido à variação consonantal no Latundê, conforme foi apresentado na seção anterior, supõe-se que essa mesma redução possa ter ocorrido no Latundê.

Além disso, o comportamento alofônico das consoantes alveolares nas línguas Latundê e Mamaindê e o contraste entre elas permitem uma reflexão acerca do processo de mudança nessas línguas, no que tange ao traço laringal (aspiração) nas alveolares. Comparando-se o Latundê com o Mamaindê, e utilizando-se os dados do dicionário experimental Mamaindê-Português66 Ver KINGSTON, Peter. "Dicionário Mamaindê/Português: edição experimental", 1991 [manuscrito]. Arquivo do SIL, Cuiabá, Brasil., pode-se chegar à seguinte correspondência fonológica no que se refere à série alveolar [t, s, tʰ], a qual evidencia uma provável neutralização diacrônica no âmbito da família Nambikwára:

Partindo dessa reflexão, ao se estabelecer uma comparação entre os dados sincrônicos das línguas Latundê e Mamaindê, pode-se hipotetizar uma generalização da neutralização laringal na série das plosivas, que possivelmente resultou na seguinte correspondência:

Essa correspondência, que pode explicar o fato de o inventário fonológico consonantal do Latundê ser menor do que o do Mamaindê (ver Tabela 8), traz evidências também para que se considere o Latundê como a língua mais inovadora. Por outro lado, o contraste entre vogais plenas (modais) e vogais creaky voice (não modais/laringalizadas), que era historicamente referido para a família linguística, permanece operante e se confirma no Latundê.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo a descrição dos traços laringais no Latundê. Para isso, inicialmente, foram apresentados os segmentos consonantais e vocálicos de três línguas Nambikwára e, em seguida, foi fornecido um confronto entre o Latundê e sua língua irmã, o Mamaindê, a fim de se refletir o possível processo de desaparecimento desses traços (decorrente da neutralização) na língua Latundê.

Estudos prévios, realizados nos anos 1960 e 1970, em duas das três línguas observadas, notadamente o Kithãulhú e o Mamaindê, quando os grupos estavam com contato menos sistemático com a sociedade dominante, de língua portuguesa, demonstraram uma larga presença de segmentos laringais. Entretanto, no caso do Mamaindê, estudo mais recente (Eberhard, 2009) indica a perda de consoantes glotalizadas e/ou aspiradas nessa língua.

No Latundê, uma língua sem registros históricos anteriores aos anos 1990, também se observa o que ocorreu com as consoantes glotalizadas do Mamaindê. Os dados sincrônicos do Latundê confirmam a perda de traços laringais nas consoantes, apesar de eles ainda serem atestados como variação na fala dos mais velhos.

Por outro lado, as vogais se mantêm contrastivas, tanto no Latundê como nas demais línguas da família. Mesmo fonológicas, as vogais apresentam larga variação no Latundê e são menos salientes na fala dos mais jovens. Isso pode sinalizar o enfraquecimento das vogais creaky voice, o qual decorre, por sua vez, de pelo menos dois fatores associados: 1) a natureza mais marcada dos traços laringais, que favorece sua aquisição tardia; 2) a interferência do português (que não tem esses traços) e que se coloca como a língua de prestígio para a comunidade.

Para finalizar a apresentação dos fatos constantes neste trabalho, que reflete o quadro da variação e possível mudança na fonologia segmental do Latundê, é oportuno lembrar as palavras de Ladefoged (2003, p. 1):

Nothing more ephemeral than the sounds of a language. The sounds will live only as long as the language is spoken. When the sounds are those of elderly speakers whose children belong to another world, then soon those sounds will be gone forever. All that can remain are whatever records we have been able to archive.

AGRADECIMENTOS

Registro meus agradecimentos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo apoio financeiro, e aos pareceristas anônimos, por suas fundamentais contribuições. As falhas que permanecerem no trabalho são da minha inteira responsabilidade.

ABREVIATURAS

Recebido em 29/06/2012

Aprovado em 11/06/2013

  • ARAÚJO, Gabriel Antunes de. A Grammar of Sabanê, a Nambikwaran language 2004. Tese (Doutorado em Linguística) Vrije Universiteit, Amsterdam, 2004.
  • BRAGA, Ana G. M. Fonologia segmental Lakondê (Família Nambikwára) 2012. Dissertação (Mestrado em Letras) Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2012.
  • EBERHARD, David. Mamaindê Grammar: a Northern Nambikwara language and its cultural context. 2009. Tese (Doutorado em Linguística) Vrije Universiteit, Amsterdam, 2009.
  • EBERHARD, David. Mamaindê pré-stopped nasals: an optimality account of vowel dominance and a proposal for the identical Rhyme Constraint. Dallas: The Summer Institute of Linguistics, 2004. Disponível em: <http://www-01.sil.org/silewp/2004/silewp2004-002.pdf>. Acesso em: 25 set. 2005.
  • EBERHARD, David. Mamaindê stress: the need for strata. Dallas: The University of Texas/The Summer Institute of Linguistics, 1995.
  • GORDON, Matthew; LADEFOGED, Peter. Phonation types: a cross-linguistic overview. Journal of Phonetics, v. 29, n. 4, p. 383-406, 2001.
  • KINGSTON, Peter. Sufixos referenciais e o elemento nominal na Língua Mamaindê Brasília: Summer Institute of Linguistics, 1976. (Série Linguística, 5). Disponível em: <http://www.sil.org/americas/brasil/publcns/ling/MDSufx.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2013.
  • KROEKER, Meno. A descriptive grammar of Nambikuara. International Journal of American Linguistics, v. 67, n. 1, p. 1-87, 2001.
  • LADEFOGED, Peter. Preserving the sounds of disappearing languages 2003. Disponível em: <http://www.linguistics.ucla.edu/people/ladefoge/Preserving%20sounds.pdf>. Acesso em: 6 set. 2010.
  • LADEFOGED, Peter; MADDIESON, Ian. The sounds of the world's languages Cambridge: Blackwell, 1996.
  • LOWE, Ivan. Nambiquara. In: DIXON, Robert M.; AIKHENVALD, Alexandra (Orgs.). The Amazonian Languages Cambridge: Cambridge University Press, 1999. p. 268-291.
  • MADDIESON, Ian. Glottalized consonants. In: DRYER, Matthew S.; HASPELMATH, Martin (Orgs.). The World Atlas of Language Structures Online Munique: Max Planck Digital Library, 2011. Disponível em: <http://wals.info/chapter/7>. Acesso em: 1 mar. 2013.
  • MITHUN, Marianne. The convergence of noun classification systems. In: CRAIG, Colette (Ed.). Noun classes and categorization Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 1986. p. 379-397.
  • PRICE, David. The Nambiquara Linguistic family. Anthropological Linguistics, v. 20, n. 1, p. 14-35, 1978.
  • PRICE, David. Southern Nambiquara Phonology. International Journal of American Linguistics, v. 42, n. 4, p. 338-348, 1972a.
  • PRICE, David. Nambikwara society 1972. Tese (Doutorado em Antropologia) University of Chicago, Chicago, 1972b.
  • TELLES, Stella. Fonologia e gramática Latundê/Lakondê 2002. Tese (Doutorado em Linguística) Vrije Universiteit, Amsterdam, 2002.
  • Autor para correspondência:

    Stella Telles.
    Rua Itatiaia, 45. Apipucos.
    Recife, PE, Brasil. CEP 52071-410
    (
  • 1
    Entre as décadas de 1940 e 1950, o grupo étnico falante do Lakondê se desintegrou, perdendo sua unidade política. Os remanescentes passaram a viver entre outros grupos Nambikwára ou migraram para núcleos urbanos localizados nas proximidades da fronteira entre os estados do Mato Grosso e de Rondônia. Atualmente, há uma lembradora da língua, nascida na antiga aldeia Lakondê. Essa indígena, desde muito cedo, passou a conviver com parentes de outras línguas, tendo posteriormente casado com um não índio, e, na sequência, com um indígena Sabanê, com quem falava apenas em Sabanê (língua Nambikwára mais distante geneticamente) ou em português (Telles, 2002). Diante desse quadro, considera-se a possibilidade de interferência fonológica no Lakondê, proveniente do contato constante com outras línguas (Sabanê, Tawandê, Manduca (subgrupo do ramo Sul), Mamaindê e inclusive o português). Por essa razão, os dados do Lakondê, coletados pela autora entre 1999 e 2001, não foram incluídos neste estudo.
  • 2
    De acordo com Maddieson (2011, p. 1-2), a glotalização em consoantes define três categorias de segmentos: na primeira, estão as consoantes plosivas ejetivas, caracterizadas pela oclusão glotal e supraglotal, associada à elevação da laringe. Na segunda classe, encontram-se as consoantes implosivas, nas quais a oclusão supraglotal se associa a um abaixamento vigoroso da laringe, possibilitando um fluxo de ar brevemente ingressivo. As implosivas são frequentemente sonoras, devido à posição característica de vozeamento que as membranas vocais assumem durante a sua produção. A terceira categoria refere-se às sonorantes glotalizadas, as quais são produzidas sem impedimento da saída do ar na cavidade oral ou nasal, de forma que esses segmentos são naturalmente vozeados. Diferentes, entretanto, das ejetivas e das implosivas, as sonorantes glotalizadas não apresentam movimento de elevação ou abaixamento da laringe durante a sua produção. Na literatura linguística, a simbolização desses sons nem sempre é coincidente. Para Maddieson, esses segmentos podem ser representados da seguinte forma: a utilização de uma apóstrofe após os símbolos correspondentes às consoantes plosivas surdas e às sonorantes, para simbolizar as ejetivas e as sonorantes glotalizadas, respectivamente, tal como
    p' e
    n'; e a escolha de letras particulares para simbolizar as implosivas:
    ɓ
    , ɗ, ɠ.
  • 3
    Neste trabalho, a simbolização dos segmentos consonantais glotalizados segue a representação adotada pelos autores referenciados no texto. O uso do termo 'glotalizado', em segmentos surdos, não implica necessariamente sua interpretação como sons ejetivos.
  • 4
    Embora os dados apenas tenham sido interpretados de oitiva, consideram-se as consoantes sonoras como implosivas, pelo fato de o vozeamento ser um traço característico desse tipo de consoante. A glotalização nas consoantes surdas é indicada pela presença de uma oclusiva glotal, precedendo ou seguindo os sons glotalizados.
  • 5
    Ver, ainda, KINGSTON, Peter. "Mamaindê Syllabes", 1970 [manuscrito]. Arquivo do SIL, Cuiabá, Brasil.
  • 6
    Ver KINGSTON, Peter. "Dicionário Mamaindê/Português: edição experimental", 1991 [manuscrito]. Arquivo do SIL, Cuiabá, Brasil.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Set 2013
    • Data do Fascículo
      Ago 2013

    Histórico

    • Recebido
      29 Jun 2012
    • Aceito
      11 Jun 2013
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