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Descrição e análise do prefixo {e-} intr da língua Wayoro (Ayuru, tronco Tupí)

Description and analysis of the {e-} intr prefix of the Wayoro language (Ayuru, Tupi stock)

Resumos

Evidências de que os verbos que apresentam o prefixo {e-} são monoargumentais, na língua Wayoro, são o uso dos prefixos pessoais absolutivos como marcadores do único argumento exigido pelo verbo e a possibilidade de coocorrência desses prefixos pessoais com o morfema causativo/transitivizador {mõ-~õ-} 'causativo', tal como ocorre com verbos intransitivos típicos da língua. O comportamento das construções intransitivas com prefixo {e-} pode ser associado a propriedades de sentenças anticausativas, reflexivas e médias. Em várias línguas, os valores anticausativo, reflexivo e médio podem ser expressos por um único morfema intransitivizador. Em Wayoro, os verbos intransitivizados por meio do prefixo {e-}podem apresentar valor anticausativo, quando o sujeito do verbo intransitivizado é [- animado], ou valor reflexivo, quando o sujeito do verbo é [+ animado]. Os verbos com prefixo {e-} inerente têm propriedades relacionadas à voz média (eventos espontâneos, eventos naturalmente recíprocos etc.).

Língua Wayoro (Ayuru ou Wayoró); Prefixo {e-} intransitivizador; Construções anticausativa, reflexiva e média


In Wayoro, verbs preceded by the intransitive {e-} prefix are one place verbs. The evidence for this is: use of absolutive personal prefixes as the sole argument markers required by the verb; and the ability of those personal prefixes to co-occur with the transitivizing morpheme {mõ-~õ-} 'causative'. The behavior of intransitive constructions with the {e-} prefix can be associated with properties of anticausative, reflexive and middle sentences. In many languages anticausative, reflexive and middle are expressed by only one intransitivizing morpheme. In Wayoro, verbs intransitivized by the {e-} prefix may have anticausative value, when the subject of the intranzitivized verb is [- animate], or reflexive value, when the subject of the intransitivized verb is [+ animate]. Verbs with an inherent {e-} prefix have properties related to the middle voice (spontaneous events, naturally reciprocal events etc.).

Wayoro (Ayuru or Wayoró) language; Intransitivizer {e-} prefix; Anticausative, reflexive and middle constructions


DOSSIÊ LÍNGUAS INDÍGENAS

Descrição e análise do prefixo {e-} intr da língua Wayoro (Ayuru, tronco Tupí)

Description and analysis of the {e-} intr prefix of the Wayoro language (Ayuru, Tupi stock)

Antonia Fernanda de Souza Nogueira

Universidade Federal do Pará. Breves, Pará, Brasil

Autor para correspondência Autor para correspondência: Antonia Fernanda de Souza Nogueira. Universidade Federal do Pará. Campus Universitário do Marajó-Breves. Conjunto Bandeirante, s/n. Bairro Aeroporto. Breves, PA, Brasil. CEP 68800-000 ( afernanda@ufpa.br).

RESUMO

Evidências de que os verbos que apresentam o prefixo {e-} são monoargumentais, na língua Wayoro, são o uso dos prefixos pessoais absolutivos como marcadores do único argumento exigido pelo verbo e a possibilidade de coocorrência desses prefixos pessoais com o morfema causativo/transitivizador {mõ-~õ-} 'causativo', tal como ocorre com verbos intransitivos típicos da língua. O comportamento das construções intransitivas com prefixo {e-} pode ser associado a propriedades de sentenças anticausativas, reflexivas e médias. Em várias línguas, os valores anticausativo, reflexivo e médio podem ser expressos por um único morfema intransitivizador. Em Wayoro, os verbos intransitivizados por meio do prefixo {e-}podem apresentar valor anticausativo, quando o sujeito do verbo intransitivizado é [- animado], ou valor reflexivo, quando o sujeito do verbo é [+ animado]. Os verbos com prefixo {e-} inerente têm propriedades relacionadas à voz média (eventos espontâneos, eventos naturalmente recíprocos etc.).

Palavras-chave: Língua Wayoro (Ayuru ou Wayoró). Prefixo {e-} intransitivizador. Construções anticausativa, reflexiva e média.

ABSTRACT

In Wayoro, verbs preceded by the intransitive {e-} prefix are one place verbs. The evidence for this is: use of absolutive personal prefixes as the sole argument markers required by the verb; and the ability of those personal prefixes to co-occur with the transitivizing morpheme {mõ-~õ-} 'causative'. The behavior of intransitive constructions with the {e-} prefix can be associated with properties of anticausative, reflexive and middle sentences. In many languages anticausative, reflexive and middle are expressed by only one intransitivizing morpheme. In Wayoro, verbs intransitivized by the {e-} prefix may have anticausative value, when the subject of the intranzitivized verb is [- animate], or reflexive value, when the subject of the intransitivized verb is [+ animate]. Verbs with an inherent {e-} prefix have properties related to the middle voice (spontaneous events, naturally reciprocal events etc.).

Keywords: Wayoro (Ayuru or Wayoró) language. Intransitivizer {e-} prefix. Anticausative, reflexive and middle constructions.

INFORMAÇÕES SOBRE O POVO WAYORO E A COLETA DOS DADOS

Os membros da etnia Wayoro (outras denominações são Ayuru, Ajuru, Wajuru, Wayoró) somam, aproximadamente, 215 pessoas. A grande maioria está localizada na Terra Indígena (TI) Rio Guaporé (município de Guajará-Mirim, Rondônia) e na comunidade de Rolim de Moura do Guaporé (município de Alta Floresta do Oeste, Rondônia) (Pinto, 2010; Denny Moore, comunicação pessoal, 2011).

Wayoro é classificada como língua 'sob severo perigo de extinção' pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) (Moseley, 2010), principalmente pelo fato de haver apenas cinco falantes (além de 11 semifalantes). As crianças desta etnia não aprendem mais a língua indígena. Atualmente, os Wayoro falam predominantemente a língua portuguesa (os mais idosos com menor proficiência) e alguns (geralmente filhos de casamentos interétnicos) também dominam outra língua indígena (Djeoromitxi e/ou Makurap).

A maioria dos falantes está na faixa etária de 80-89 anos. O trabalho de campo foi realizado na TI Rio Guaporé (aldeia Ricardo Franco) com os falantes da língua, nos seguintes períodos: junho/2008 e fevereiro-março-outubro/2010. Os dados aqui apresentados foram coletados, principalmente, com a mais jovem (62 anos) entre os falantes da língua Wayoro.

De modo geral, como procedimento para elicitação, utilizamos listas de verbos/paradigmas verbais em português e pedimos a tradução para nossa colaboradora na língua Wayoro. Observamos, então, as características da valência verbal e da mudança de valência verbal na língua. Adicionalmente, solicitamos o julgamento de sentenças quanto à coocorrência de morfemas identificados. Os verbos foram coletados em sentenças principais (não encaixadas).

MORFOLOGIA VERBAL WAYORO

Os verbos da língua Wayoro consistem de uma raiz, um sufixo verbalizador variável e uma vogal temática invariável {-a}:

(1)

Formadores do radical verbal Wayoro

e ɨka

'arrotar' (intransitivo):

e ɨ

+

-k

+

-a

raiz

+

verbalizador

+

vogal temática

Os morfemas verbalizadores {-k}, {-g}, {-kw}, {-ŋg} e {-Ø} não ocorrem somente em uma estrutura argumental. Estão associados tanto a verbos transitivos como a intransitivos. Apenas o verbalizador {-kat} foi encontrado associado a uma única estrutura argumental (a estrutura intransitiva). A raiz à qual um sufixo verbalizador é adicionado pode ser uma forma livre (pertencente a uma categoria lexical) ou uma forma dependente dos morfemas verbais. Por exemplo, a raiz eɨ 'arroto', do verbo eɨka 'arrotar', ocorre como um nome livre, mas a raiz *ta1 1 Usaremos o símbolo asterisco (*) para indicar palavras ou construções mal formadas ou agramaticais. do verbo taka 'derramar' não ocorre como palavra independente em Wayoro. Após a vogal temática, podem ser afixados morfemas temporais, como {-t} 'passado'. Tanto os verbalizadores quanto a vogal temática têm a função de formar o radical verbal em Wayoro. Nos dados apresentados no presente artigo, não segmentaremos os verbalizadores e a vogal temática da raiz verbal, pois não se trata de informação relevante para o trabalho.

Os verbos transitivos selecionam dois argumentos. O sujeito pode ser realizado por sintagmas nominais (conforme exemplos 2a, ɲã 'mamãe', e 2b, põ:m 'carapanã') ou por pronomes (conforme 2c, õn 'eu', e 2d, ndeat 'eles')2 2 Quando, em uma sentença transitiva, não há um sintagma nominal ou pronome como sujeito, a interpretação é de que o sujeito é uma terceira pessoa. Veja exemplos: . O argumento objeto pode ser realizado por sintagma nominal (conforme 2c, mbogop 'criança', e 2d, te-pe 'roupas deles') ou por prefixos pessoais (conforme 2a e 2b, o- '1s'). A ordem objeto (O) – verbo (V) é fixa na língua Wayoro. O sujeito pode vir antes ou depois de OV.

(2)

Verbos transitivos

a)

ɲ ã

o-mõka-t

b)

põ:m

o-pɨrɨkwa-t

mamãe

1s-chamar-pass

carapanã

1s-picar-pass

'Mamãe me chamou'

'O carapanã me picou'

c)

õn

mbogop

mõka-t

d)

ndeat

te-pe

mbokwa-t

eu

criança

chamar-pass

eles

3-roupa

lavar-pass

'Eu chamei a criança'

'Eles lavaram as roupas deles'

Os verbos intransitivos selecionam apenas um argumento, o qual é realizado obrigatoriamente por prefixos pessoais (de acordo com os exemplos 3a e 3b). Adicionalmente, podem ocorrer sintagmas nominais ou pronomes concordando com o prefixo pessoal sujeito (3c e 3d).

(3)

Verbos intransitivos

a)

o-tera-t

b)

te-ŋõjã-n

1s-ir-pass

3-sentar-pass

'Eu fui'

'Ele(s)/ela(s) sentou (sentaram)'

c)

õn

o-tera-t

d)

ndeke

te-ŋõjã-n

eu

1s-ir-pass

ele

3-sentar-pass

'Eu fui'

'Ele/ela sentou'

Dessa forma, os prefixos pessoais podem ser considerados uma ferramenta para diagnosticar a valência do verbo na língua Wayoro, visto que refletem os traços do sujeito do verbo intransitivo ou do objeto do verbo transitivo (argumento absolutivo).

Prefixos pessoais nunca exercem a função de sujeito do verbo transitivo, como mostra o dado agramatical em 4b, a seguir.

(4)

Agramaticalidade: prefixo pessoal como sujeito do verbo transitivo

a)

ndeat

mbogop

mõka-t

b)

*mbogop

te-mõka-t

eles

criança

chamar-pass

criança

3-chamar-pass

'Eles chamaram a criança'

O dado em 4b, embora com prefixo pessoal de 3ª pessoa do singular ou plural, não pode ter o sentido expresso em 4a, tampouco o sentido de 'a criança chamou alguém' (e, de fato, nenhum outro sentido). O sujeito de um verbo transitivo só pode ser expresso por pronomes (nunca por prefixos pessoais), por isso a sentença é agramatical.

Verbos intransitivos nunca ocorrem sem o prefixo pessoal e não aceitam um argumento na função de objeto.Veja os dados agramaticais no exemplo 5.

(5)

Agramaticalidade: ausência de prefixo pessoal e presença de sintagma nominal objeto

a)

mbogop

te-eɨka-t

b)

*ŋgwajkɨp

mbogop

eɨka-t

criança

3-arrotar-pass

homem

criança

arrotar-pass

'A criança arrotou'

c)

õ-ŋõjã-n

õn

d)

*õn

mbogop

ŋõjã-n

1s-sentar-pass

eu

eu

criança

sentar-pass

'Eu sentei'

Na Tabela 1, elencamos os prefixos pessoais da língua Wayoro.

Vimos nos dados presentes nos exemplos 2c e 2d que os pronomes funcionam como sujeito do verbo transitivo. Este fato revela um padrão de distribuição ergativo-absolutivo entre prefixos pessoais e pronomes: uma mesma série de prefixos pessoais funciona como sujeito do verbo intransitivo e objeto do verbo transitivo (argumento absolutivo)5 5 Vale ressaltar que a série de prefixos pessoais tem ainda função possessiva. Veja o paradigma para a palavra tak 'filha (fala masculina)': o-tak 'minha filha', e-tak 'sua filha', ndeke-tak 'filha dele', ʧ i-tak 'nossa filha (inclusiva)', ote-tak 'nossa filha (exclusiva)', ɲʤ at-tak 'filha de vocês', ndeat-tak 'filha deles'. , enquanto pronomes realizam o sujeito do verbo transitivo (argumento ergativo). A Tabela 2 elenca os pronomes livres da língua Wayoro.

Outra maneira de identificar a transitividade é observar o comportamento do radical verbal com relação ao prefixo causativo {mõ-~õ-}. O prefixo {mõ-~õ-} ocorre somente com verbos intransitivos e causa uma mudança na estrutura argumental, adicionando um argumento sujeito à sentença, ou seja, tornando o verbo transitivo.

(6)

Transitivização

a)

mbogop

te-ɨkara-t

b)

ãrãmĩrã

mbogop

mõ-ɨkara-p

criança

3-chorar-pass

mulher

criança

caus-chorar-p6 6 O morfema {-p} (alomorfe [-m] após vogal nasal) possivelmente é cognato ao morfema nominalizador {-ap} das línguas da família Tupari (Alves, 2004, p. 67; Aragon, 2008, p. 113; Braga, 2005, p. 72; Galúcio, 2001, p. 101). Contudo, até esta fase da investigação, tal morfema ainda não foi submetido a uma análise específica na língua Wayoro, que nos confirme suas propriedades.

fut

'A criança chorou'

'A mulher vai fazer a criança chorar'

c)

mb-era

d)

ẽn

o-mõ-ẽrã-n

1s-dormir

você

1s-caus-dormir-pass

'Eu durmo'

'Você me fez dormir'

As provas morfossintáticas de que o verbo se transitivizou são a inserção de um sintagma nominal objeto imediatamente antes do verbo (ordem canônica da língua) (conforme exemplo 6b) e a realização dos prefixos pessoais como objeto do verbo (6d)7 7 Sentenças em que não há sintagma nominal ou prefixo pessoal objeto antes do verbo transitivizado têm o objeto interpretado como uma terceira pessoa. Veja exemplo: . O morfema causativo tem comportamento agramatical quando adicionado a verbos transitivos: *õ-pɨrɨkwa 'picar', *õ-mõka 'chamar' etc.

INTRANSITIVIZAÇÃO NA FAMÍLIA LINGUÍSTICA TUPARÍ (TUPÍ)

Pertencente à família linguística Tuparí (tronco Tupí), a língua Wayoro compartilha com as línguas irmãs Makurap e Sakurabiat (ou Mekens) a presença, em seu repertório gramatical, de um operador de intransitivização, ou seja, um morfema que torna um verbo biargumental (transitivo) em um verbo monoargumental (intransitivo). Em Makurap, esta função gramatical é realizada pelo morfema reflexivo {et} (Braga, 2005) e, em Mekens, pelo morfema intransitivizador {e-} (Galúcio, 2001). Veja um exemplo em Makurap (dados extraídos de Braga, 2005, p. 155).

(7)

Makurap (família Tuparí, tronco Tupí)

a)

Verbo transitivo

on

u

wik-ng-a

mewora

pat

1s

água

acabar-eff-imperf

panela

posp

'Eu acabei a água da panela'

b)

Verbo intransitivizado pelo morfema {et} reflexivo

u

mewora

pat

et

wik-ng-a

água

panela

posp

refl

acabar-eff-imperf

'A água da panela se acabou'

De maneira semelhante, na língua Wayoro, o morfema cognato {e-} torna um verbo biargumental em um verbo monoargumental, cujo único argumento exigido é o sujeito, realizado pelo prefixo pessoal absolutivo, tal como se dá com verbos intransitivos típicos.

(8)

Wayoro (família Tuparí, tronco Tupí)

a)

Verbo transitivo

b)

Verbo intransitivizado pelo morfema {e-}

ŋgwajk ɨp

pokwa

ãrãmĩrã

ŋgwajk ɨp

te-e-pokwa-t

homem

queimar

mulher

homem

3-intr-queimar-pass

'A mulher queimou o homem'

'O homem se queimou (sozinho)'

Nos exemplos 7 e 8, o verbo transitivo passa a exigir apenas um argumento, após a inserção do morfema {et}, em Makurap, e {e-}, em Wayoro.

VERBOS COM MORFEMA {e-} INERENTE

Há outro grupo de verbos em Wayoro no qual o morfema {e-} aparece. São verbos intransitivos, cujo radical não ocorre como forma livre na língua, ou seja, não apresentam uma versão biargumental ou monoargumental correspondente.

(9)

{e-} verbo sem contraparte transitiva

a)

Verbo embɨra: 'voar (monoargumental)'

b)

m-embɨra:-t8 8 Uma vogal oral seguida por uma consoante nasal ou nasal pós-oralizada torna-se parcialmente nasalizada, foneticamente. Por esse motivo, neste dado, o alomorfe nasal [m-] da 1ª pessoa singular foi selecionado.

ɲ õkira

te-embɨra:-t

1s-voar-pass

pássaro

3-voar-pass

'Eu estou voando'

'O pássaro voou'

c)

Radical *mbɨra:

(não apresenta contraparte verbal independente)

Em dados como embɨra: 'voar', não há como ter certeza de que a vogal e- é um morfema intransitivizador, uma vez que o verbo transitivo correspondente, sem o prefixo vocálico, não existe (ou tem outro sentido, caso ainda a ser investigado). Contudo, consideraremos tais casos como acompanhados do prefixo {e-} com base em verbos intransitivos, como eɲdʒiraka 'clarear, embranquecer' e epaβaka 'secar', iniciados pela vogal e-, que também não contam com um radical verbal livre correspondente, mas apresentam raiz verbal independente na língua, sem a vogal e-.

(10)

Raiz

{e-} Verbo

ɲdʒira

'branco'

eɲdʒiraka

'clarear'

*ɲdʒiraka

paβa

'seco'

epaβaka

'secar'

*paβaka

EVIDÊNCIAS DE INTRANSITIVIDADE

Uma das evidências da intransitividade dos verbos com o prefixo {e-} é a ocorrência dos prefixos pessoais absolutivos como sujeitos do verbo intransitivizado e a impossibilidade de ocorrência de um argumento objeto (seja prefixo pessoal absolutivo ou sintagma nominal), exceto mediante adição de morfologia transitivizadora {mõ-~õ-}. No exemplo 11, é evidenciado o comportamento de um verbo transitivo após a intransitivização via morfema {e-}.

(11)

Verbo pokwa 'queimar'

a)

Transitivo

b)

Intransitivização: prefixos absolutivos como sujeito do verbo

o-βo

pokwa-t

õn

mb-e-pokwa-t

1s-mão

queimar-pass

eu

1s-intr-queimar-pass

'Eu queimei meu dedo'

'Eu me queimei'

c)

mbogop

te-e-pokwa-t

criança

3-intr-queimar-pass

'A criança se queimou'

Os dados no exemplo 12 ilustram o comportamento monoargumental de verbos com prefixo {e-} inerente. Os exemplos 12b e 12d mostram, respectivamente, a impossibilidade de inserção de sintagma nominal objeto e a ausência de prefixo absolutivo nos verbos com prefixo {e-} inerente.

(12)

Verbo epaga 'acordar' e enɨ͂nkara 'respirar'

a)

mb-epaga-t

b)

*mbogop

epaga-t

õn

1s-acordar-pass

criança

acordar-pass

eu

'Eu acordei'

c)

ndeat

te-enɨ͂nkara-t

d)

*mbogop

enɨ͂nkara-t

eles

3-respirar-pass

criança

respirar-pass

'Eles respiraram'

Caracterizamos, dessa maneira, o morfema {e-} como formador de verbos intransitivos, que pode afixar-se a (i) radicais (livres) transitivos, tornando-os intransitivos; (ii) radicais presos (sem categoria previamente comprovada), comportando-se como formas verbais intransitivas. Portanto, nem todas as ocorrências deste prefixo têm função intransitivizadora. No estágio atual de investigação da língua, apenas os casos em (i) podem ser descritos como exercendo esta função. Em (ii), o prefixo é apenas um formador de verbo intransitivo.

Uma evidência adicional para o valor intransitivizador do morfema {e-} é o seu comportamento agramatical quando prefixado a verbos tipicamente intransitivos, como podemos observar a seguir:

(13)

Intransitivo

Inserção do Morfema {e-}9 9 Testes realizados em sentenças simples, por exemplo, * mbetãnɲdʒ orat 'eu engravidei'.

Engravidar

tãnɲdʒora

*e-tãnɲdʒora

Subir

ŋgwea

*e-ŋgwea

Envelhecer (fem)

kod ʒikara

*e-kod ʒikara

Chorar (intr)

ɨ kara

*e-ɨkara

LEITURA ANTICAUSATIVA

Os testes aplicados mostraram que verbos intransitivizados via {e-} apresentam restrições semânticas quanto ao seu argumento sujeito. Os verbos transitivos de Wayoro t∫atoka 'acabar', eβaka 'acender', tĩŋã 'apagar', ŋgiri:ra 'rasgar', tɨ͂mŋga 'pingar', kɨrɨja 'arrebentar' permitem, na forma intransitivizada, como sujeito apenas um argumento [-animado]. Os exemplos a seguir mostram que um argumento pessoal, portanto [+ animado], é agramatical como sujeito do verbo eβaka 'acender', na forma intransitivizada.

(14)

Verbo eβaka 'acender'

a)

Transitivo

b) Intransitivizado via {e-}

õn

agopkap

eβaka

agopkap

te-e-eβaka-t

eu

fogo/lenha

acender

fogo/lenha

3-intr-acender-pass

'Eu acendo o fogo'

'O fogo acendeu'

c)

Dado agramatical: sujeito [+ animado]

*mb-e-eβa-k-a

1s-intr-acender-verblzr-v.t

Em outras palavras, podemos afirmar que os verbos discutidos nesta seção permitem, como sujeito do verbo intransitivizado, apenas um argumento afetado pelo evento. Na versão intransitiva, a causa externa (sujeito da sentença transitiva) não é identificada.

De acordo com Dixon e Aikhenvald (2000, p. 7), várias línguas apresentam como estratégia de redução de valência uma operação em que o sujeito do verbo intransitivo derivado corresponde ao objeto direto subjacente (ou seja, o objeto do verbo transitivo não derivado) e não há marca (ou implicação de existência) do sujeito do verbo transitivo. Conforme os autores, tal operação é efetivamente o inverso de uma causativa e é geralmente denominada 'anticausativa'.

Amberber (2000) analisa, na língua amárica, o prefixo intransitivizador tə- (alomorfe t- antes de vogais) como operador de redução de valência a partir de um verbo transitivo. Os processos derivados através da afixação de tə- são: passiva, anticausativa e reflexiva. Segundo o autor, as construções anticausativas simplesmente derivam verbos intransitivos: o argumento objeto de um verbo transitivo torna-se sujeito do verbo intransitivo, e não há indicação do sujeito do verbo transitivo (nem demovido, nem implícito).

Os verbos transitivos de Wayoro em análise admitem que seu objeto se torne sujeito do verbo intransitivizado pelo prefixo {e-}.

(15)

Verbo tĩŋã 'apagar': prefixo {e-} com leitura anticausativa

a)

ɨ

agopkap

tĩŋã-n

b)

agopkap

te-e-tĩŋã-n

água/chuva

fogo/lenha

apagar-pass

fogo/lenha

3-intr-apagar-pass

'A chuva apagou o fogo/a lenha'

'O fogo/a lenha apagou'

Na versão intransitiva destes verbos, o sujeito do verbo intransitivizado só pode ser realizado por um argumento afetado pelo evento. Morfossintaticamente, não há qualquer indício do sujeito do verbo transitivo na forma derivada. Assim, do ponto de vista tipológico, tais construções, em Wayoro, podem ser interpretadas como anticausativas, dado que o argumento objeto do verbo transitivo torna-se sujeito do verbo intransitivizado e o papel semântico do sujeito do verbo transitivo está ausente (e, portanto, não pode ser representado por um argumento oblíquo). Vale ressaltar que, como são eventos em que não há intervenção de uma causa externa, na forma intransitivizada, tais construções são passíveis de interpretação como eventos espontâneos ('acender', 'apagar' etc.).

LEITURA REFLEXIVA

Os verbos pikarẽŋka 'entortar', pãrãŋã 'quebrar' e pokwa 'queimar' permitem que o sujeito do verbo intransitivizado seja tanto [- animado] quanto [+ animado]. No exemplo 16, tanto o sintagma nominal kɨβi 'pauzinho' [- animado], quanto mb- '1ª pessoa singular' [+ animado] podem ser sujeitos do verbo pikarẽŋka 'entortar' intransitivizado.

(16)

Verbo pikarẽŋka 'entortar'

a)

Transitivo

b)

Verbo intransitivizado: sujeito [- animado]

õn

kɨβi

pikarẽŋka-t

k ɨβi

te-e-pikarẽŋka-t

eu

pauzinho

entortar-pass

pauzinho

3-intr-entortar-pass

'Eu entortei o pauzinho'

'O pauzinho entortou'

c)

Verbo intransitivizado: sujeito [+ animado]

mb-e-pikarẽŋka-t

1s-intr-entortar-pass

'Eu entortei'

Os verbos pɨrɨga 'furar' e pɨ̃nkwa 'atirar', por sua vez, permitem apenas um sujeito [+ animado], na forma intransitivizada (conforme o exemplo 17).

(17)

Verbo pɨrɨga 'furar'

a)

Transitivo

b)

Intransitivizado: sujeito [+ animado]

ãrãmĩrã

iko-ɲẽrã/ŋgwajkɨp

pɨrɨga-t

ŋgwajkɨp

te-e-pɨrɨga-t

mulher

caça-carne/homem

furar-pass

homem

3-intr-furar-pass

'A mulher furou a carne/o homem'

'O homem se furou'

c)

mb-e-pɨrɨga-t

d)

Dado agramatical: sujeito [- animado]

1s-intr-furar-pass

*iko-ɲẽrã

te-e-pɨrɨga-t

'Eu me furei'

caça-carne

3-intr-furar-pass

O verbo pɨ͂nkwa 'atirar, matar (a tiro)' conta com uma especificidade semântica adicional: admite apenas um sujeito [+ animado] e [+ humano] na forma intransitivizada. O dado agramatical, em 18c, mostra que um argumento como amẽko 'cachorro', embora seja [+ animado], não pode ser sujeito do verbo pɨ͂nkwa 'atirar' intransitivizado. As características semânticas do sujeito do verbo intransitivizado devem ser compatíveis com as exigidas pelas propriedades semânticas do verbo.

(18)

Verbo pɨ͂nkwa 'atirar'

a)

Transitivo

b)

Intransitivizado via {e-}

ŋgwajk ɨp

amẽko

pɨ̃nkwa-t

te-nẽmõ

te-e-pɨ̃nkwa-t

homem

cachorro

atirar-pass

3-mesmo

3-intr-atirar-pass

'O homem matou o cachorro'

'Ele mesmo se atirou'

c)

Dado agramatical: argumento [+ animado, - humano]10 10 Provavelmente, a mesma restrição semântica se mantém para o sujeito do verbo em questão na versão transitiva.

*amẽko

te-e-pɨ̃nkwa-t

cachorro

3-intr-atirar-pass

Todos os verbos discutidos nesta seção permitem que o argumento objeto transitivo torne-se sujeito do verbo intransitivo, respeitando as exigências semânticas lexicais de cada verbo (argumento [+/- animado]). Uma generalização possível para estes dados é a de que o sujeito da sentença é semanticamente expresso como o participante afetado pelo evento e também o desencadeador do evento, quando [+ animado]. Ou seja, também são eventos em que há uma ausência de causa externa.

As construções em que o sujeito é [+ animado] podem ser analisadas como construções reflexivas11 11 O guia de descrição morfossintática de Payne (1997, p. 198) nos dá a seguinte definição de construção reflexiva: "a prototypical reflexive construction is one in which subject and object are the same entity, e.g., English she saw herself". ('furar-se', 'atirar-se' etc.). Kemmer (1993) apresenta uma proposta semanticamente mais refinada para o conceito de verbos reflexivos, que pode ser útil para o entendimento do comportamento do prefixo {e-}. Conforme a autora, verbos reflexivos descrevem eventos que são geralmente direcionados a outro participante e que, apenas eventualmente, apresentam sujeito e objeto correferenciais.

Dessa forma, no modelo teórico da autora, os verbos pikarẽŋka 'entortar', pãrãŋã 'quebrar', pokwa 'queimar', pɨrɨga 'furar' e pɨ͂nkwa 'atirar', quando apresentam sujeito [+ animado], na forma intransitivizada, podem ser considerados verbos reflexivos, pois, geralmente, eventos como 'queimar' e 'atirar' não são direcionados ao próprio sujeito da ação. Em outras palavras, não é natural alguém 'queimar' ou 'atirar' a si mesmo; tais eventos são geralmente direcionados a outro participante.

Eventos naturalmente direcionados ao próprio sujeito podem receber morfema específico de voz média em algumas línguas. Conforme Maldonado (2007, p. 853), a voz média indica ações, eventos ou estados pertencentes à esfera do próprio sujeito (por exemplo, eventos cognitivos, como na língua pangwa -i- sala 'refletir, considerar'; eventos espontâneos, como em francês s'evatiouir 'desaparecer').

Vimos que, quando o sujeito do verbo intransitivizado é [- animado], uma consequência é a leitura do evento como espontâneo, como pikarẽŋka 'entortar'. Eventos espontâneos, comumente, são expressos com morfema de voz média nas línguas (por exemplo, húngaro kelet-kez- 'originar, ocorrer', espanhol romperse 'romper-se') (tópico a ser aprofundado no item sobre "Verbos com prefixo {e-} inerente: voz média").

Portanto, na língua Wayoro, o mesmo prefixo intransitivizador {e-} está relacionado tanto a construções com leitura anticausativa (conforme seção sobre "Leitura anticausativa") quanto a sentenças reflexivas e a sentenças que descrevem eventos espontâneos (médias) (conforme seção sobre "Verbos com prefixo {e-} inerente: voz média"). Assim, um mesmo verbo transitivo, quando usado com o morfema {e-}, poderá ter valor reflexivo (quando o sujeito do verbo intransitivizado é [+ animado]) ou valor médio (quando o sujeito do verbo intransitivizado é [- animado] e o evento é interpretado como espontâneo).

OUTRA VIA PARA CONSTRUÇÃO DE SENTENÇAS REFLEXIVAS

Outra maneira de obter uma leitura reflexiva a partir de verbos transitivos, em Wayoro, é por meio da adição dos prefixos pessoais absolutivos diretamente ao verbo.

Durante o teste de inserção do prefixo {e-} a verbos transitivos, verificamos que alguns verbos transitivos rejeitaram a inserção do prefixo {e-} e realizaram uma versão intransitiva por meio do uso de prefixos absolutivos (sujeito de verbos intransitivos prototípicos).

(19)

Verbo ndoega 'esfregar'(tr.): intransitivização por meio de prefixos pessoais absolutivos12 12 É possível questionar qual a valência básica dos verbos aqui discutidos, uma vez que poderiam ser analisados como intransitivos que foram transitivizados pelo uso de pronomes independentes. Contudo, os exemplos 5b e 5d mostram que o uso de verbos intransitivos em estrutura biargumental é agramatical, inclusive quando os argumentos são pronomes independentes. Por outro lado, testes também mostraram que verbos transitivos típicos não aceitam a ocorrência dos prefixos absolutivos como sujeito do verbo (conforme exemplo 4b). Por esse motivo, investigaremos, futuramente, se tais verbos poderiam ser classificados como neutros quanto à valência.

a)

Transitivo

b)

Intransitivizado: leitura reflexiva

õn

mbogop

ndoega-t

mbogop

te-ndoega-t

eu

criança

esfregar-pass

criança

3-esfregar-pass

'Eu esfreguei a criança (para limpá-la)'

'A criança se esfregou'

c)

õ-ndoega

1s-esfregar

'Eu me esfrego'

(20)

Verbo ŋwãrãkwa 'pintar, listrar (horizontalmente)' (tr.)

a)

Transitivo

b)

Intransitivizado: leitura reflexiva

õn

o-pe

ŋwãrãkwa-t

(õ-nẽmõ)

õ-ŋwãrãkwa-p

õn

eu

1s-roupa/pele

listrar-pass

1s-mesmo

1s-listrar-p

fut

eu

'Eu listrei (horizontalmente) minha roupa/minha pele'

'Eu (mesmo) vou me listrar'

Nesta interpretação dos dados, os verbos transitivos agramaticais com o morfema {e-} não admitiriam que a sentença tivesse apenas um argumento sujeito, caracterizado semanticamente como argumento afetado pelo evento descrito pelo verbo13 13 Verbos transitivos que não aceitam o prefixo {e-}: p ɨrɨkwa 'morder, picar, beliscar', kɨ͂ nkwa 'arranhar', mõka 'chamar', ɲdʒ apŋga 'olear', mbika 'vestir', pãŋga 'cortar', ndera 'moer', tɨ: βa 'dar à luz'. .

Em várias línguas, o único morfema intransitivizador existente está associado à voz passiva. Na língua Karitiana (família Arikem, Tupí), por exemplo, o morfema {a-} é marcador de passivas impessoais. As sentenças em que o morfema {a-} ocorre são descritas por Storto (2001) como intransitivas com um sujeito afetado (paciente ou tema). Considerando que são morfemas cognatos dentro do tronco Tupí14 14 Storto e Baldi (1994) descrevem uma mudança histórica anti-horária no quadro vocálico do Proto-Tupí para o Proto-Arikém, que se reflete nas correspondências (cognatos) entre a língua Karitiana e as demais línguas do tronco Tupí. Assim, a vogal anterior média-baixa ε nas línguas Tupí corresponde à vogal central baixa a em Karitiana (por exemplo, 'arara' Karitiana pat: Wayoro pεra). Portanto, o prefixo {e-} [ε] de Wayoro corresponde fonologicamente ao prefixo {a-} da língua Karitiana. , investigamos se haveria uma causa externa ao evento descrito por verbos intransitivizados pelo prefixo {e-}. Como resultado, quando solicitamos a descrição da situação, nossa colaboradora enfatizou que, nos eventos expressos pelos verbos intransitivizados, o sujeito atua "sozinho" (expressão usada pela colaboradora). Interpretamos o termo "sozinho" como ausência de uma força externa. O teste foi realizado com os verbos transitivos mberekwa 'derrubar' e ŋẽnŋga 'engolir', que são traduzidos como 'cair' e 'afundar'15 15 Há, em nosso corpus, outra unidade lexical para o verbo 'afundar' mã: (intransitivo). Este verbo, contudo, não foi submetido aos testes de transitividade e mudança de valência. , respectivamente, na forma intransitivizada.

VERBOS COM PREFIXO {e-} INERENTE: VOZ MÉDIA

Há, em Wayoro, uma série de verbos iniciados pela vogal e- que não apresentam uma forma verbal (biargumental ou monoargumental) independente: eɲdʒiraka 'clarear', radical verbal sem e- não existe (*ɲdʒiraka).

Tais verbos são monoargumentais e, portanto, têm o sujeito expresso por prefixos pessoais absolutivos e podem ser transitivizados via {mõ-~õ-}.

(21)

Verbo eɲdʒiraka 'embranquecer, clarear'

a)

m-e-ɲdʒirakat

õn

b)

ŋgiat

te-e-ɲdʒirakat

1s-intr-branco-pass

1s

céu

3-intr-branco-pass

'Eu estou embranquecendo'

'O céu clareou'

(Situação: a falta de exposição ao sol está me tornando mais branco)

c)

ɨ

ŋgiat

mõ-e-ɲdʒirakat

chuva

céu

caus-intr-branco-pass

'A chuva clareou o céu'

Os verbos que apresentaram comportamento semelhante estão listados naTabela 3.

Podemos observar que a grande maioria dos verbos da Tabela 3 descreve eventos espontâneos, que podem acontecer naturalmente (sem a presença de uma força externa), como 'acordar', 'boiar', 'aparecer', 'anoitecer' etc.

O contraste entre os exemplos abaixo pode ser indicativo do caráter espontâneo dos verbos nos quais o prefixo {e-} está presente.

(22)

paga

'morrer/embriagar-se'

(intransitivo)

epaga

'acordar'

(intransitivo)

O evento de 'acordar' não necessita de uma causa externa e acontece, em geral, naturalmente, ao passo que os eventos de 'morrer/embriagar-se', geralmente, não ocorrem espontaneamente. Ambos os verbos podem apresentar uma versão transitiva a partir da adição do prefixo causativo/transitivizador {mõ-~õ-}.

(23)

epaga 'acordar'

a)

mbogop

te-epaga-t

b)

t∫j-epaga-t

t∫ire

criança

3-acordar-pass

1pincl-acordar-pass

nós

'A criança acordou'

'Nós acordamos'

c)

ãrãmĩrã

mbogop

mõ-epaga-t

mulher

criança

caus-acordar-pass

'A mulher acordou a criança'

(24)

paga 'morrer/embriagar-se'

a)

ãrãmĩrã

te-paga-t

b)

ɲdʒat-paga-t

nẽn

ɲdʒat

mulher

3-morrer/embriagar.se-pass

2p-morrer/embriagar.se-pass

interr

vocês

'A mulher morreu/embriagou-se'

'Vocês estão bêbados?'

c)

ŋgwajk ɨp

ãrãmĩrã

õ-paga-t

homem

mulher

caus-morrer/embriagar.se-pass

'O homem fez a mulher morrer/embriagar-se'

VOZ MÉDIA

Verbos que descrevem eventos transitivos têm como característica dois participantes nitidamente diferentes: uma entidade atua volitivamente sobre outra, que é direta e completamente afetada pelo evento (Kemmer, 1993, p. 191). A voz média, por outro lado, está relacionada a ações, eventos ou estados em que uma entidade (sujeito) é tanto desencadeadora do evento verbal quanto afetada pelo mesmo. Contrasta com a voz ativa-direta pelo fato de a ação ou a mudança de estado ser direcionada ao sujeito.

Kemmer (1993, p. 182-183) propõe um conjunto de situações em que se espera marcação média nas línguas: "grooming or body care; benefactive middle; non-translational motion ~ change in body posture; translational motion; naturally reciprocal events; emotion middle; emotive speech actions; cognition middle; spontaneous events". Segundo Kemmer (1993, p. 213), uma consequência natural da semântica média é a correspondência dos marcadores de voz média à intransitividade morfossintática.

Vimos que, em Wayoro, um verbo transitivo pode apresentar uma versão intransitiva por meio da adição do prefixo {e-}. O verbo intransitivizado pelo prefixo {e-} recebe os prefixos pessoais absolutivos, que realizam o sujeito de verbos prototipicamente intransitivos. Em um grupo de dados, o sujeito do verbo intransitivizado pode ou deve ser [- animado] e o evento adquire uma leitura espontânea. Vimos anteriormente que, segundo Kemmer (1993, p. 183), eventos espontâneos tendem a receber uma marca de voz média nas línguas.

Relatamos ainda que há verbos que podem (ou devem) apresentar um sujeito [+ animado], em sua versão intransitivizada. Tais construções podem ser associadas a sentenças reflexivas. Na proposta de Kemmer, a diferença entre verbos médios e verbos reflexivos é a seguinte: conceitualmente, nas situações reflexivas se mantém uma separação entre os participantes, apesar de estes serem correferenciais17 17 Maldonado (2006, p. 20) cita como um argumento para diferenciação entre médias e reflexivas, em espanhol, o fato de que apenas as reflexivas aceitam a expressão 'sí mismo' (média: *'me imagino a mi mismo que sí'). Em nosso corpus, registramos a forma nẽmõ com sentido 'mesmo, de verdade, realmente'. Embora ainda não tenhamos realizado testes sobre esta forma, é interessante observar que ela só ocorreu com os verbos intransitivizados via {e-} com sujeito [+ animado] e os verbos intransitivizados por meio da adição de prefixos pessoais absolutivos, ou seja, construções associadas a uma leitura reflexiva, como vimos anteriormente. Os verbos intransitivizados que permitem apenas sujeito [- animado] e os que apresentam o prefixo {e-} inerente à forma verbal não foram registrados com nẽmõ. . Verbos reflexivos descrevem eventos naturalmente não direcionados ao próprio sujeito da sentença, apenas eventualmente os participantes culminam na mesma entidade, ao passo que os verbos médios descrevem ações tipicamente voltadas ao próprio sujeito.

Conforme Kemmer (1993, p. 188-189), há dois tipos básicos de sistemas de voz média: um em que os marcadores reflexivo e médio são idênticos (one-form middle system) e outro em que as marcas de voz média e de voz reflexiva são diferentes (two-form language)18 18 Kemmer ressalta que sistemas nos quais marcas média e reflexiva são idênticas parecem ser mais frequentes: "One-form languages appear to be the most frequent among the various types of middle-marking languages" (Kemmer, 1993, p. 188). .

Dessa maneira, neste modelo teórico, os verbos da língua Wayoro 'entortar', 'quebrar', 'queimar', 'furar', 'atirar', intransitivizados via {e-} e que ocorrem com sujeito [+ animado], teriam uma leitura reflexiva, considerando-os como eventos tipicamente não direcionados ao próprio sujeito.

Os verbos intransitivos que não apresentam uma forma verbal independente sem o prefixo {e-} (verbos com prefixo {e-} inerente) podem ser comparados com as seguintes situações médias propostas por Kemmer (1993):

(25)

Situações semânticas médias em Wayoro

a)

Eventos espontâneos

epakĩnŋga 'escorregar', etɨroβa 'boiar', epaga 'acordar', ekẽntakwa 'vomitar', epaβaka 'secar', eŋõnĩã 'engasgar-se', et∫ĩkwa 'afogar-se', eraora 'aparecer', epĩ:βã 'anoitecer', endiga 'esfriar', etãŋga 'engrossar', eɲdʒiraka 'clarear', enɨ̃nkara 'respirar', eŋgwajkwa 'gritar', eŋgɨkwa 'suar'

b)

Mudança na postura corporal

embera 'abaixar-se', eŋgwetikia 'levantar-se'

c)

Eventos naturalmente recíprocos

eɲdʒara 'casar'

d)

Mudança de local

embɨra: 'voar', eŋgwaβika 'correr'

Assim, a língua Wayoro seria uma das muitas línguas em que a marca média e a reflexiva são morfologicamente idênticas. Também nas línguas indígenas Sateré-Mawé (tronco Tupí) e Mundurukú (tronco Tupí), os valores médio e reflexivo estão presentes em um mesmo morfema: /-we-/ 'médio-reflexivo', em Sateré-Mawé (Franceschini, 2007), eje-+we- 'reflexivo/recíproco', uma das formas médias da língua Mundurukú (Gomes, 2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do ponto de vista morfossintático, as sentenças cujo núcleo são verbos com prefixo {e-} são claramente construções intransitivas, uma vez que exigem apenas um argumento indicado pelos prefixos pessoais absolutivos, não admitem objeto e podem coocorrer com o prefixo causativo/transitivizador {mõ-~õ-}.

Do ponto de vista semântico, tais construções podem ser analisadas segundo diferentes propostas teóricas, como as anticausativas, em que o objeto torna-se sujeito do verbo intransitivizado (e não há indicação do sujeito do verbo transitivo original); reflexivas, em que sujeito e objeto são correferenciais e que, segundo Kemmer, descrevem eventos basicamente direcionados a outro participante; e médias, verbos com sujeito [- animado] com leitura de evento espontâneo, bem como verbos com prefixo {e-} inerente, os quais fazem parte de situações médias propostas por Kemmer.

AGRADECIMENTOS

Aos membros da etnia Wayoro (Wajuru), especialmente a Paulina Makuráp e aos outros falantes, aos caciques Odair Ajuru e Adão Wajuru e à comunidade da Terra Indígena Rio Guaporé, pela colaboração durante os trabalhos de campo; à Fundação Nacional do Índio (FUNAI), pela autorização 56/CGEP/08 e autorização 119/AAEP/10; à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); e ao Museu Paraense Emílio Goeldi, pelo financiamento dos trabalhos de campo.

ABREVIATURAS

Recebido em 18/06/2012

Aprovado em 14/05/2013

a)

mbi

pɨrɨga-t

b)

o-mõ-ẽ-ŋẽnŋga-t

furar-pass

1s-caus-intr-engolir-pass

'(Ele) furou o pé'

'(Alguém) me afundou'

3 O alomorfe /m-/ ocorre com verbos iniciados por vogal e /o-/ com verbos iniciados por consoante. O alomorfe /m-/ ocorre como consoante nasal plena [m] diante de vogais nasais e como nasal pós-oralizada [mb] diante de vogais orais.

4 Na 3ª pessoa objeto singular e plural, o alomorfe /ɲ-/ ocorre com raízes verbais iniciadas por vogais e /ndeke-/ e /ndeat-/ com raízes que começam por consoante. O fonema /ɲ/ é realizado como [j] ~ [ɲdʒ] ~ [dʒ] diante de vogais orais. Veja exemplos:

a)

dʒ-itoaga-t

õn

b)

Jeorgete

ndeke-mõka-t

c)

Jeorgete

ndeat-mõka-t

3-chorar-pass

eu

Jeorgete

3s-chamar-pass

Jeorgete

3p-chamar-pass

'Eu chorei por ele'

'A Jeorgete o chamou'

'Jeorgete os chamou'

a)

mõ-ãmõjã-m

õn

caus-dançar-m

fut

eu

'Eu fiz (alguém) dançar'

k ɨpe

te-mã:-n

canoa

3-afundar-pass

'A canoa afundou'

16 Identificamos dois verbos com raízes documentadas como forma livre já com a vogal e inicial. A raiz eŋgɨ do verbo 'suar' significa 'caldo, líquido, chicha', como em (i), sentido aparentemente não correspondente ao verbo, embora possivelmente tais palavras estejam relacionadas à forma reconstruída para 'água' *ʔɨ no Proto-Tupí (Rodrigues, 2007). A parte da raiz ekẽn 'vômito' do verbo ekẽntakwa 'vomitar' foi registrada em Santos (2010) e Caspar (2009), item (ii). Pelo fato de se comportarem como verbos intransitivos, são considerados, a princípio, como verbos com o prefixo {e-} inerente.

(i)

m-eŋgɨ

(ii)

ε'kẽn ̚

1s-chicha

'vômito' (Santos, 2010, p. 116)

'minha chicha'

̌kn

'vomitar' (Caspar, 2009, p. 29)

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  • SANTOS, Jarde F. Documentação da língua Wayoró: para a preservação das línguas indígenas amazônicas. 2010. Dissertação (Mestrado em Ciência da Linguagem) Fundação Universidade de Rondônia, Guajará-Mirim, 2010.
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  • STORTO, Luciana R.; BALDI, Philip. The Proto-Arikém vowel shift. In: BERKELEY LINGUISTIC SOCIETY, 28., Berkeley, 1994. Anais... Berkeley: Berkeley Linguistics Society, 1994.
  • Autor para correspondência:

    Antonia Fernanda de Souza Nogueira.
    Universidade Federal do Pará.
    Campus Universitário do Marajó-Breves.
    Conjunto Bandeirante, s/n. Bairro Aeroporto.
    Breves, PA, Brasil. CEP 68800-000
    (
  • 1
    Usaremos o símbolo asterisco (*) para indicar palavras ou construções mal formadas ou agramaticais.
  • 2
    Quando, em uma sentença transitiva, não há um sintagma nominal ou pronome como sujeito, a interpretação é de que o sujeito é uma terceira pessoa. Veja exemplos:
  • 5
    Vale ressaltar que a série de prefixos pessoais tem ainda função possessiva. Veja o paradigma para a palavra
    tak 'filha (fala masculina)':
    o-tak 'minha filha',
    e-tak 'sua filha',
    ndeke-tak 'filha dele',
    ʧ
    i-tak 'nossa filha (inclusiva)',
    ote-tak 'nossa filha (exclusiva)', ɲʤ
    at-tak 'filha de vocês',
    ndeat-tak 'filha deles'.
  • 6
    O morfema {-p} (alomorfe [-m] após vogal nasal) possivelmente é cognato ao morfema nominalizador {-ap} das línguas da família Tupari (Alves, 2004, p. 67; Aragon, 2008, p. 113; Braga, 2005, p. 72; Galúcio, 2001, p. 101). Contudo, até esta fase da investigação, tal morfema ainda não foi submetido a uma análise específica na língua Wayoro, que nos confirme suas propriedades.
  • 7
    Sentenças em que não há sintagma nominal ou prefixo pessoal objeto antes do verbo transitivizado têm o objeto interpretado como uma terceira pessoa. Veja exemplo:
  • 8
    Uma vogal oral seguida por uma consoante nasal ou nasal pós-oralizada torna-se parcialmente nasalizada, foneticamente. Por esse motivo, neste dado, o alomorfe nasal [m-] da 1ª pessoa singular foi selecionado.
  • 9
    Testes realizados em sentenças simples, por exemplo, *
    mbetãnɲdʒ
    orat 'eu engravidei'.
  • 10
    Provavelmente, a mesma restrição semântica se mantém para o sujeito do verbo em questão na versão transitiva.
  • 11
    O guia de descrição morfossintática de Payne (1997, p. 198) nos dá a seguinte definição de construção reflexiva: "a prototypical reflexive construction is one in which subject and object are the same entity, e.g., English
    she saw herself".
  • 12
    É possível questionar qual a valência básica dos verbos aqui discutidos, uma vez que poderiam ser analisados como intransitivos que foram transitivizados pelo uso de pronomes independentes. Contudo, os exemplos 5b e 5d mostram que o uso de verbos intransitivos em estrutura biargumental é agramatical, inclusive quando os argumentos são pronomes independentes. Por outro lado, testes também mostraram que verbos transitivos típicos não aceitam a ocorrência dos prefixos absolutivos como sujeito do verbo (conforme exemplo 4b). Por esse motivo, investigaremos, futuramente, se tais verbos poderiam ser classificados como neutros quanto à valência.
  • 13
    Verbos transitivos que não aceitam o prefixo {e-}:
    p
    ɨrɨkwa 'morder, picar, beliscar',
    kɨ͂
    nkwa 'arranhar',
    mõka 'chamar', ɲdʒ
    apŋga 'olear',
    mbika 'vestir',
    pãŋga 'cortar',
    ndera 'moer',
    tɨ:
    βa 'dar à luz'.
  • 14
    Storto e Baldi (1994) descrevem uma mudança histórica anti-horária no quadro vocálico do Proto-Tupí para o Proto-Arikém, que se reflete nas correspondências (cognatos) entre a língua Karitiana e as demais línguas do tronco Tupí. Assim, a vogal anterior média-baixa
    ε nas línguas Tupí corresponde à vogal central baixa
    a em Karitiana (por exemplo, 'arara' Karitiana
    pat: Wayoro
    pεra). Portanto, o prefixo {e-} [ε] de Wayoro corresponde fonologicamente ao prefixo {a-} da língua Karitiana.
  • 15
    Há, em nosso
    corpus, outra unidade lexical para o verbo 'afundar'
    mã: (intransitivo). Este verbo, contudo, não foi submetido aos testes de transitividade e mudança de valência.
  • 17
    Maldonado (2006, p. 20) cita como um argumento para diferenciação entre médias e reflexivas, em espanhol, o fato de que apenas as reflexivas aceitam a expressão 'sí mismo' (média: *'me imagino a mi mismo que sí'). Em nosso
    corpus, registramos a forma
    nẽmõ com sentido 'mesmo, de verdade, realmente'. Embora ainda não tenhamos realizado testes sobre esta forma, é interessante observar que ela só ocorreu com os verbos intransitivizados via {e-} com sujeito [+ animado] e os verbos intransitivizados por meio da adição de prefixos pessoais absolutivos, ou seja, construções associadas a uma leitura reflexiva, como vimos anteriormente. Os verbos intransitivizados que permitem apenas sujeito [- animado] e os que apresentam o prefixo {e-} inerente à forma verbal não foram registrados com
    nẽmõ.
  • 18
    Kemmer ressalta que sistemas nos quais marcas média e reflexiva são idênticas parecem ser mais frequentes: "One-form languages appear to be the most frequent among the various types of middle-marking languages" (Kemmer, 1993, p. 188).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Set 2013
    • Data do Fascículo
      Ago 2013

    Histórico

    • Recebido
      18 Jun 2012
    • Aceito
      14 Maio 2013
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