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Carta do editor

A grande maioria das contribuições ao Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas vem das áreas de antropologia e arqueologia. Por isso, é reconfortante que o Boletim também está sendo procurado por linguistas. A linguística é uma das ciências humanas que desempenha um papel importante na Amazônia, região que conta com um tesouro de mais de 300 línguas indígenas, muitas delas sendo ameaçadas de extinção. Além de abordagens técnicas e teóricas puramente linguísticas, uma grande parte da disciplina interage com as outras ciências humanas, o que resulta em estudos linguísticos, antropológicos, sociológicos, históricos entre outros. Com isso, a linguística tem a possibilidade de contribuir significativamente à documentação e entendimento científico de conceitos culturais, classificações etno-ambientais, culturas ancestrais e migrações demográficas pré-históricas. E por fim, embora não menos significante, a linguística possui uma tarefa fundamental de desenvolver soluções práticas para o uso escrito das línguas indígenas por seus falantes maternos, e na conscientização sobre a diversidade linguística, que faz parte do dia-a-dia em contatos interétnico e inter-regionais.

O número atual do Boletim Ciências Humanas contem um dossiê sobre as línguas do tronco Tupi, uma das grandes famílias linguísticas da América do Sul, cuja distribuição não se limita a Amazônia. O dossiê é organizado por Wolf Dietrich (Universidade de Münster, Alemanha) e Sebastian Drude (CLARIN ERIC, Universidade de Utrecht, Países Baixos), e representa um resultado do simpósio Variação histórica e variação devido a contato nas línguas Tupi, realizado pelos organizadores no 54º Congresso Internacional de Americanistas, em Viena, 2012. O dossiê contem dez artigos escritos por especialistas, que em grande parte baseiam-se nas suas próprias investigações de campo, abrindo novos caminhos para o estudo das línguas Tupi.

Além do dossiê, este número ainda contem quatro artigos, referentes às áreas de antropologia e arqueologia. O primeiro destes trabalhos trata da relação entre os pesquisadores do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia e as comunidades quilombolas de Salvaterra, Ilha do Marajó (Brasil), considerando-as ferramentas importantes na luta pelos direitos territoriais dessas comunidades tradicionais. O segundo procura reajustar a perspectiva vigente na interpretação da vida dos moradores de sambaquis, no litoral fluminense (Brasil), com datação entre 4.500 e 1.000 anos antes do tempo atual, tentando identificar caraterísticas que resultam de escolhas e não apenas respostas adaptativas às circunstâncias. O terceiro enfoca as práticas funerárias em base de restos mortais esqueléticos encontrados em um sítio monticular ocupado entre 1227 e 560 anos antes do tempo atual, no departamento de Victoria, Argentina. O último artigo é uma contribuição na área da etnoarqueologia e aborda o estudo das circunstâncias materiais das populações vivas, focalizando na mobilidade, sazonalidade e uso dos espaços em uma comunidade pesqueira, no litoral norte de Rio Grande do Sul (Brasil).

Gostaria de agradecer aos autores, organizadores e avaliadores, por seu compromisso com a qualidade do conteúdo dos artigos. E agradeço muito à equipe editorial por sua dedicação e empenho em garantir a qualidade da produção deste número, o que tem representado um certo desafio moroso especialmente com relação aos artigos linguísticos, que contêm sua quantidade característica de símbolos fonéticos e particularidades de estilo.

Hein van der Voort

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Ago 2015
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