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Carta do Editor

Este número do Boletim do Museu Paraense emílio Goeldi. Ciências Humanas contém 14 artigos. Os oito primeiros artigos constituem um dossiê de antropologia, Dinâmicas das agriculturas amazônicas, organizado por Laure Emperaire (Institut de Recherche pour le Développement, Brasília) e Claudia Leonor López Garcés (Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém). Tratando de agriculturas indígenas, com ênfase na agricultura amazônica, o dossiê retoma o tema de um dossiê anterior, publicado no Boletim v.7, n.2, de 2012, organizado por Pascale de Robert e Claudia López.

Além do dossiê, outros seis artigos são publicados e relatam pesquisas em disciplinas diferentes. O primeiro destes artigos é do antropólogo Felipe Vander Velden e trata sobre o Mapinguari, o monstro lendário da Amazônia, cuja existência é considerada na literatura como crença, mas que faz parte da realidade da vida indígena da região, e que certos cientistas tentam ligar com a possibilidade de animais pré-históricos remanescentes. Qualquer que seja a realidade do Mapinguari, a abordagem do Vander Velden permite um melhor entendimento do seu papel no mundo indígena.

O artigo seguinte, dos especialistas em desenvolvimento sustentável Elcio Costa do Nascimento e Gutemberg Armando Diniz Guerra, mostra como vários fatores interdependentes de produção agrícola em uma comunidade quilombola paraense resultam em um aumento da dependência de comércio e geração de renda. A redução de recursos naturais como caça e pesca combinada ao aumento do valor econômico de certos produtos específicos diminui a diversidade da produção agrícola e, consequentemente, a autosufficiência da comunidade.

Já o artigo do arqueólogo André Strauss, relata uma investigação pioneira de práticas funerárias no centro-leste do Brasil no período do Holoceno Inicial, aproximadamente 10.000 anos atrás. Achados raros e recentes em um sítio arqueológico em Lagoa Santa (MG) mostram uma diversidade grande de práticas mortuárias e até permitem reconstruir mudanças nestas práticas ao longo dos tempos.

O linguista Fernando de Carvalho é autor do artigo que revisa certos aspectos da reconstrução do Proto-Arawak e a hipótese atual sobre a classificação das línguas Arawak com base em uma investigação histórico-comparativo de palavras para ‘mão’ e conceitos relacionados nas línguas do ramo Xinguano da família Arawak. O artigo mostra também a significância da documentação primórdia de línguas Xinguanas por Karl von den Steinen no século XIX.

O artigo do historiador Geraldo Mártires Coelho trata da abordagem pelo filósofo de geografia e ensaísta Eidorfe Moreira dos sermões de Padre Antônio Vieira em Belém no século XVII. Moreira, que foi um dos maiores intelectuais paraenses do século passado e a quem foi dedicado um pequeno dossiê no número anterior do Boletim v.10, n.3, de 2015, reivindica a importância política e retórica dos sermões de Padre Vieira na históriografia da Amazônia colonial.

O último artigo deste número é uma tradução para o português feita pelos arqueólogos Fernando Ozorio de Almeida e Bruna Rocha do famoso artigo de Warren R. DeBoer e Donald W. Lathrap, “The making and breaking of Shipibo-Conibo ceramics”. O artigo tem sido de importância crucial para uma arqueologia comportamental na Amazônia, esclarecendo os processos envolvidos na criação e destruição dos objetos manifestados no registro arqueológico num estudo de caso sobre a cerámica dos Shipibo-Conibo. Apesar dos grandes desenvolvimentos atuais na arqueologia brasileira existe pouca literatura acessível na língua portuguesa sobre o assunto e a tradução deste artigo preenche uma lacuna.

É uma honra o Boletim de novo poder contar com tantos trabalhos de significância para as ciências humanas e com a boa vontade dos autores, organizadores e avaliadores, para garantir a qualidade intransigente do conteúdo. Por último, mas não menos importante, agradeço à equipe editorial, reforçada desde março pela co-editora científica, a cientista social e jornalista Jimena Felipe Beltrão; seus esforços foram consideráveis na produção sob circunstâncias difíceis deste novo número.

Hein van der Voort
Editor científico

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2016
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