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As classes verbais da língua Paresi (Aruák)

The verbal classes of the Paresi language (Arawak)

Resumo

O objetivo deste artigo é descrever as classes de verbos em Paresi, uma língua Aruák, falada por aproximadamente 3.000 pessoas no estado do Mato Grosso, Brasil. Em Paresi, os verbos são classificados como intransitivos, transitivos e bitransitivos. Em geral, verbos intransitivos em línguas Aruák são subclassificados em intransitivos ativos e intransitivos estativos. A divisão no grupo de intransitivos é morfologicamente marcada, já que sujeitos de intransitivos estativos e objetos de transitivos são marcados da mesma forma, enquanto os sujeitos de transitivos recebem uma forma diferente. A maioria das línguas Aruák exibem alinhamento semântico, isto é, a seleção da marcação de concordância depende do parâmetro de eventividade. Em Paresi, a divisão nos intransitivos é morfologicamente marcada da seguinte forma: a) alguns intransitivos recebem a mesma marca de sujeito do que os transitivos (proclíticos do grupo A); b) outros intransitivos recebem uma marcação diferente (proclíticos do grupo B). Semanticamente, os verbos são classificados em agentivos e não agentivos. Os traços semânticos de [agentividade] e de [controle] têm um papel fundamental na assignação dos verbos a subclasses. Os dados foram coletados durante pesquisa de campo e a análise tem por base uma abordagem funcionalista-tipológica.

Palavras-chave
Paresi; Classes verbais; Intransitividade cindida; Controle

Abstract

The goal of this paper is to describe the verb classes of Paresi, an Arawak language, spoken by approximately 3,000 people in the State of Mato Grosso, Brazil. In Paresi, verbs can be classified into intransitive, transitive and ditransitive. In general, intransitive verbs in Arawak languages are subclassified into: active intransitives, and stative intransitives. The division in the group of intransitives is syntactically marked, as subjects of stative intransitive and object of transitive are marked by the same form, while subjects of transitives take a different marking. The majority of Arawak languages exhibits semantic alignment, that is, the selection of agreement marking depends on the eventivity parameter. In Paresi, the division in the intransitives is morphologically marked as the following: a) some intransitive verbs take the same subject marking as transitive verbs (set A proclitics); b) other intransitive verbs take a different subject marking (set B proclitics). Semantically, verbs are classified into agentive and non-agentive. The semantic features of [agentivity] and [control] have an essential role in the assignment of verbos to subclasses. The data were collected during field research and the analysis is based on a functional-typological approach.

Keywords
Paresi; Verb classes; Semantic alignment; Control

INTRODUÇÃO

Paresi é uma língua pertencente à família Aruák, falada por aproximadamente 3.000 pessoas no estado do Mato Grosso. Em Paresi, verbos podem ser classificados como intransitivos, transitivos ou bitransitivos (Brandão, 2014BRANDÃO, Ana Paula. A reference grammar of Paresi-Haliti (Arawak). 2014. 457 f. Tese (Doutorado em Linguística) – University of Texas at Austin, Austin, 2014.). Segundo Brandão (2014)BRANDÃO, Ana Paula. A reference grammar of Paresi-Haliti (Arawak). 2014. 457 f. Tese (Doutorado em Linguística) – University of Texas at Austin, Austin, 2014., os verbos em Paresi exibem o sistema agentivo-paciente. A divisão no grupo de verbos intransitivos é marcada morfologicamente da seguinte forma: alguns destes verbos recebem a mesma marcação de sujeito que verbos transitivos, enquanto outros verbos recebem uma marcação de sujeito diferente. Semanticamente, Brandão (2014)BRANDÃO, Ana Paula. A reference grammar of Paresi-Haliti (Arawak). 2014. 457 f. Tese (Doutorado em Linguística) – University of Texas at Austin, Austin, 2014. classificou os verbos intransitivos do primeiro grupo como agentivos e os verbos do segundo grupo como não agentivos.

O objetivo deste trabalho é aprofundar a classificação dos verbos iniciada em Brandão (2010BRANDÃO, Ana Paula. Verb morphology in Paresi-Haliti (Aruák). 2010. 66 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – The University of Texas at Austin, Austin, 2010., 2014)BRANDÃO, Ana Paula. A reference grammar of Paresi-Haliti (Arawak). 2014. 457 f. Tese (Doutorado em Linguística) – University of Texas at Austin, Austin, 2014., principalmente os da classe de verbos intransitivos. Em 2010, Brandão propôs uma divisão entre verbos intransitivos estativos e ativos, já em 2014 os classifica entre agentivos e não agentivos. Em Brandão (2014)BRANDÃO, Ana Paula. A reference grammar of Paresi-Haliti (Arawak). 2014. 457 f. Tese (Doutorado em Linguística) – University of Texas at Austin, Austin, 2014., os traços [agentividade] e [controle] foram observados, mas não foi feita uma distinção entre os traços [eventividade] e [agentividade]. Alguns verbos foram classificados como não agentivos, quando, na verdade, são verbos que apresentam o traço [agentividade], mas não o traço [controle]. Além disso, este artigo apresenta a proposta de uma nova classe de verbos, os verbos não flexionáveis, com base no uso de proclíticos pronominais. Os dados foram coletados em trabalho de campo (por meio de textos e elicitações) e a análise tem por base a abordagem funcionalista-tipológica em autores como Donohue e Wichmann (2008)DONOHUE, Mark; WICHMANN, Soren (Ed.). The typology of semantic alignment. Oxford: Oxford University, 2008. e Mithun (1991)MITHUN, Marianne. Active/agentive case-marking and its motivations. Language, v. 67, n. 3, p. 510-546, 1991. DOI: http://dx.doi.org/10.2307/415036.
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O artigo está organizado em três partes. Na primeira, apresenta-se um panorama da gramática Paresi, com os principais aspectos morfossintáticos importantes para a compreensão das classes de verbos. Na segunda, descreve-se a classe de verbos e o sistema de marcação argumental em Paresi, apresentando os dois grupos de proclíticos verbais e mostrando como esses proclíticos funcionam com os diferentes tipos de verbos. Na terceira e última parte, há uma descrição morfossintática das quatro classes de verbos, sendo também apresentada uma descrição das motivações semântico-funcionais que são a base do sistema agentivo em Paresi.

PANORAMA DA GRAMÁTICA

O Paresi é uma língua polissintética e aglutinativa, como outras da família Aruák. Sua morfologia consiste de vários morfemas com fronteiras bem delimitadas (sem morfemas cumulativos) e alguma variação alomórfica. As classes de palavras abertas incluem nomes e verbos. Já as classes fechadas são formadas por adjetivos, advérbios, pronomes, demonstrativos, indefinidos, numerais, quantificadores, posposições e ideofones (Brandão, 2014BRANDÃO, Ana Paula. A reference grammar of Paresi-Haliti (Arawak). 2014. 457 f. Tese (Doutorado em Linguística) – University of Texas at Austin, Austin, 2014.)1 1 Considerando-se os critérios de extensão numérica e de inclusão de novos itens na classe (Schachter; Shopen, 2007; Dixon, 1977). . A marcação de pessoa no verbo é feita por meio de clíticos, sendo determinada por traços semânticos. As categorias nominais em Paresi são: número (singular e plural), classificadores e tempo nominal. Entre as categorias verbais, estão valência, tempo, aspecto e modalidade.

Nomes e verbos são as duas classes de palavras principais que podem ser bem definidas em Paresi, de acordo com fatores sintáticos, semânticos e morfológicos. Nesta língua, os nomes têm morfemas que indicam o número (o sufixo -nae) e a posse (o proclítico possuidor e os sufixos possuídos), como visto no exemplo (1). A maioria dos proclíticos usados para possuidores de nomes também ocorre como proclíticos, indicando a pessoa e o número do sujeito nos verbos. A terceira pessoa nos verbos não é marcada, enquanto nos nomes é marcada por e= ou i=, uma propriedade que pode ser usada como parâmetro para separar os nomes dos verbos.

Os adjetivos formam uma classe muito pequena, com apenas oito palavras (Brandão, 2010BRANDÃO, Ana Paula. Verb morphology in Paresi-Haliti (Aruák). 2010. 66 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – The University of Texas at Austin, Austin, 2010., 2014BRANDÃO, Ana Paula. A reference grammar of Paresi-Haliti (Arawak). 2014. 457 f. Tese (Doutorado em Linguística) – University of Texas at Austin, Austin, 2014.), as quais são palavras para dimensões (kalore ‘grande’, kirane ‘pequeno’, wahahare ‘alto’), propriedades físicas (tihe ‘amargo’, katyala ‘azedo’, timena ‘pesado’), idade (waitare ‘velho’) e valor (waiye ‘bom’). Brandão (2010)BRANDÃO, Ana Paula. Verb morphology in Paresi-Haliti (Aruák). 2010. 66 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – The University of Texas at Austin, Austin, 2010. ressalta que é difícil definir a classe de adjetivos em Paresi porque, de modo semelhante a outras línguas Arawak, nela não há distinções claras entre palavras descritivas e as classes de verbos. A classe de adjetivos, em Paresi, é definida com base em critérios de codificação estrutural de marcação tipológica, encontrados em Croft (2000)CROFT, William. Parts of speech as language universals and as language-particular categories. In: VOGEL, Petra; COMRIE, Bernard. Approaches to the typology of word classes. Berlin: Mouton, 2000. p. 65-102.. De acordo com Croft (2000)CROFT, William. Parts of speech as language universals and as language-particular categories. In: VOGEL, Petra; COMRIE, Bernard. Approaches to the typology of word classes. Berlin: Mouton, 2000. p. 65-102., os adjetivos são apresentados como uma classe de palavras que é prototipicamente modificadora e refere-se a uma propriedade, não marcada nessa função.

Os adjetivos justapostos a um nome são interpretados como se estivessem modificando o nome, podendo vir antepostos ou pospostos3 3 Em futuros trabalhos, pretende-se estudar a sintaxe do adjetivo para saber quando este pode vir anteposto ou não. ; aqueles que estão em seus usos atributivos podem modificar um nome sem morfologia adicional, como mostrado em (2), enquanto que os verbos precisam ser nominalizados. Os adjetivos não recebem o marcador de plural ou marcadores relativos à possessão da mesma forma que os nomes, a não ser que sejam nominalizados. No entanto, essas palavras compartilham propriedades com verbos na medida em que assumem aspecto quando funcionam como predicados, como o aspecto imperfeito -ta, visto em (3).

Do ponto de vista tipológico, o Paresi é do tipo verbo final (SOV), como ilustrado no exemplo (4). Não há marcação de casos nos sintagmas nominais nas funções de sujeito e objeto. Outros argumentos e adjuntos do verbo são expressos por sintagmas posposicionais, tais como o dativo5 5 Brandão (2014) glosou o morfema como dativo, pois ele marca tanto o recipiente quanto o beneficiário. em (5).

OS VERBOS E A MARCAÇÃO DE ARGUMENTOS NOS PREDICADOS PARESI

A classe de verbos no Paresi pode ser definida de acordo com critérios semânticos, morfológicos e sintáticos. Verbos são palavras que fazem referência a processos, eventos, estados ou propriedades. Dentro desta classe, estão incluídas algumas palavras que, no português, são consideradas adjetivos, tais como referentes a cores, estados, valores e propriedades físicas. Os verbos podem apresentar afixos ou clíticos indicando aspecto, operações de mudança de valência, pessoa e número, por exemplo, o proclítico de primeira pessoa na= e a marca de aspecto perfectivo -heta no verbo mo ‘colocar’ em (6). Sintaticamente, verbos são diferentes de adjetivos, pois só podem funcionar como modificadores de nomes quando são nominalizados através de -re em uma oração relativa, como em (7).

A classificação de verbos em línguas Aruák geralmente é feita em três classes: transitivos, intransitivos ativos e intransitivos estativos. A divisão no grupo de verbos intransitivos é morfologicamente marcada, já que o sujeito de verbos intransitivos estativos e o objeto de verbos transitivos são marcados com a mesma forma, enquanto o sujeito de verbos transitivos recebe uma marcação diferente. Semanticamente, os termos ativo e estativo são usados, pois a escolha do tipo de marcação de concordância depende do parâmetro ‘eventividade’ (Aikhenvald, 1999AIKHENVALD, Alexandra Y. The Arawak language family. In: DIXON, R. M. W.; AIKHENVALD, Alexandra Y. (Ed.). The Amazonian languages. Cambridge, USA: Cambridge University, 1999. p. 65-106.; Danielsen; Granadillo, 2008DANIELSEN, Swintha; GRANADILLO, Tania. Agreement in two Arawak languages: Baure and Kurripako. In: DONOHUE, Mark; WICHMANN, Soren (Ed.). The typology of semantic alignment. Oxford: Oxford University, 2008. p. 396-411.), considerando-se estativos como não eventivos (a exemplo de ‘amar’, ‘estar cansado’) e ativos como eventivos (tais como ‘caminhar’, ‘comer’). Este sistema é encontrado em línguas com ergatividade cindida, como as citadas no trabalho de Mithun (1991)MITHUN, Marianne. Active/agentive case-marking and its motivations. Language, v. 67, n. 3, p. 510-546, 1991. DOI: http://dx.doi.org/10.2307/415036.
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No caso do Paresi, a marcação de concordância indica as classes verbais, porém esta língua não apresenta ergatividade cindida. Há dois grupos de proclíticos identificados como A e B, os quais diferem entre si de acordo com o papel semântico dos sujeitos dos verbos. O Quadro 1 ilustra os marcadores pronominais destes grupos.

Quadro 1
Grupos dos proclíticos em Paresi.

Morfologicamente, alguns verbos intransitivos recebem a mesma marcação de sujeito em comparação aos verbos transitivos (os proclíticos do grupo A com a vogal a), como nos exemplos em (8a) e (8b); enquanto outros verbos intransitivos recebem uma marcação de sujeito diferente (os proclíticos do grupo B)6 6 É importante observar que o Paresi não apresenta forma pronominal para objeto de verbo transitivo (com exceção do enclítico de terceira pessoa), como se verifica em línguas com ergatividade cindida. , como em (8c).

No caso de verbos que começam com vogais, a exemplo de (9), há a supressão da última vogal dos proclíticos, não sendo possível identificar se a vogal era a (do grupo A) ou o/i (do grupo B).

O uso simultâneo de marcadores de ambos os grupos de proclíticos com uma determinada raiz lexical não é possível. Por exemplo, o verbo naka ‘estar com fome’ em (10), do grupo B, não pode ser usado com marcadores do grupo A, e o verbo em (11) não pode ser usado com marcadores do grupo B.

Quando verbos são causativizados pelo morfema a-, como em (12), há a supressão da vogal dos proclíticos do grupo B. Uma hipótese é a de que o processo pode ter sido a fonte dos proclíticos do grupo A que têm a vogal a. Pode-se analisar o a no grupo A de marcadores como uma forma fossilizada do prefixo causativo a-. Sincronicamente, o morfema não pode ser analisado como separado, porque ele não ocorre com a terceira pessoa, como em (12e).

Semanticamente, a classe dos intransitivos é subdividida em intransitivos agentivos e não agentivos, pois a escolha do tipo de marcação de concordância depende do parâmetro [agentividade] (Brandão, 2014BRANDÃO, Ana Paula. A reference grammar of Paresi-Haliti (Arawak). 2014. 457 f. Tese (Doutorado em Linguística) – University of Texas at Austin, Austin, 2014.). A seção sobre verbos intransitivos apresenta com mais detalhes outros parâmetros semânticos que estão envolvidos nesta escolha. Sendo assim, verbos inergativos e pouco estativos são agentivos que recebem proclíticos do grupo A (a exemplo de tona ‘andar’ e waiyezehare ‘ser bondoso’), enquanto a maioria dos estativos e verbos inacusativos são não agentivos que recebem os proclíticos do grupo B (a exemplo de kirahare ‘estar cansado’ e kaoka ‘chegar’).

Os verbos transitivos e bitransitivos serão descritos brevemente nas próximas seções, já que o foco do artigo serão os verbos intransitivos.

CLASSIFICAÇÃO DOS VERBOS

VERBOS TRANSITIVOS

Verbos transitivos, diferentemente dos intransitivos, selecionam dois argumentos sintáticos. A ordem dos constituintes nas orações transitivas é (S)OV (sujeito-objeto-verbo), como foi visto em (4). O sujeito pode ser realizado por um sintagma nominal ou proclítico; já o objeto é realizado por um sintagma nominal (nominal ou pronominal), sendo que apenas a terceira pessoa do objeto apresenta a forma enclítica =ene, como em (13).

De acordo com o conceito semântico de verbo transitivo desenvolvido por Givón (2001)GIVÓN, T. Syntax: a functional-typological introduction. Amsterdam: John Benjamins, 2001. v. I., o sujeito funciona como agente ou ator, enquanto o objeto exerce a função de paciente, undergoer ou afetado. O sujeito desse tipo de verbo, em Paresi, por ser agente, é marcado com proclíticos do grupo A, com poucas exceções. Como será visto na seção sobre intransitivos, verbos intransitivos cujos sujeitos são mais agentivos também recebem os proclíticos do grupo A.

Como já mencionado anteriormente, o sistema encontrado em Paresi não é considerado ergatividade cindida. O sistema é melhor descrito como intransitividade cindida, e pode também ser considerado como alinhamento semântico. O termo alinhamento semântico foi proposto por Donohue e Wichmann (2008)DONOHUE, Mark; WICHMANN, Soren (Ed.). The typology of semantic alignment. Oxford: Oxford University, 2008., e tenta ser mais genérico do que os termos ergatividade cindida (‘split-S’) e intransitividade cindida. Segundo os autores, estas expressões só fazem sentido caso as línguas com alinhamento semântico sejam de alguma forma tratadas como derivadas de línguas acusativas ou ergativas7 7 Dixon (1979) trata as línguas com alinhamento semântico como um subtipo de línguas ergativas . O termo alinhamento semântico assume apenas que os fatores que afetam o tratamento diferencial dos sujeitos de verbos intransitivos são semânticos, podendo envolver papéis semânticos, aspecto e aspecto lexical ou Aktionsart (ver próxima seção). Iremos utilizar aqui a expressão intransitividade cindida, em razão de a considerarmos mais neutra, já que alinhamento semântico pode implicar a ideia de que outros fatores puramente lexicais não estejam envolvidos na divisão dos intransitivos (o que não se pode confirmar até então).

Além da marcação pronominal ser diferente em verbos transitivos e intransitivos, outras diferenças encontradas entre as duas classes são os usos do sufixo temático8 8 O termo sufixo temático é usado em outras línguas da família Aruák para sufixos que têm pouco ou nenhum conteúdo semântico. -tya~-tsa9 9 O sufixo temático -ka ocorre com poucos transitivos e com a maioria dos intransitivos. e do nominalizador passivo -ka10 10 Ver Brandão (2014). . O nominalizador -ka11 11 Este sufixo é homônimo do sufixo temático -ka. É possível o uso simultâneo tanto do sufixo temático quanto do nominalizador em um mesmo verbo, como em mala-ka-ka (arrancar-th-nmlz) ‘o que foi arrancado’. é restrito a verbos transitivos e bitransitivos. A impossibilidade de ocorrência de um verbo com -ka constitui evidência morfossintática para classificá-lo como intransitivo. O Quadro 2 fornece mais exemplos de verbos transitivos.

Quadro 2
Exemplos de verbos transitivos.

VERBOS INTRANSITIVOS

Tipologicamente, muitas línguas exibem apenas duas subclasses de verbos intransitivos, nas quais dois tipos de critérios semânticos têm papel importante: [agentividade] e telicidade (Wunderlich, 2006WUNDERLICH, Dieter. Towards a structural typology of verb classes. In: WUNDERLICH, Dieter (Ed.). Advances in the theory of the lexicon. Berlin: Mouton de Gruyter, 2006. p. 57-166.). Mithun (1991)MITHUN, Marianne. Active/agentive case-marking and its motivations. Language, v. 67, n. 3, p. 510-546, 1991. DOI: http://dx.doi.org/10.2307/415036.
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apresenta dados de várias línguas que exibem sistemas tratados como ativo-inativo, agentivo ou agentivo-paciente e intransitividade/ergatividade cindida. Nestes sistemas, alguns argumentos de verbos intransitivos são marcados da mesma forma do que agente de verbos transitivos, e outros são marcados da mesma maneira do que pacientes de verbos transitivos (a exemplo do Guarani).

Abordagens semânticas sobre o tema apresentam possíveis parâmetros neste viés que podem governar a intransitividade cindida, tais como o Aktionsart (aspecto lexical) e [agentividade]; outros parâmetros podem estar envolvidos, tais como controle, volição e afetamento (Mithun, 1991MITHUN, Marianne. Active/agentive case-marking and its motivations. Language, v. 67, n. 3, p. 510-546, 1991. DOI: http://dx.doi.org/10.2307/415036.
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). Neste trabalho, apresentaremos apenas uma análise inicial dos traços semânticos envolvidos na classificação de verbos12 12 A relação desses traços com a Aktionsart de verbos como ‘ir’, o que parece ser exceção à regra apresentada, será objeto de investigação futura. , mostrando que o traço do [controle] é aquele que possui papel muito importante nesta classificação.

De acordo com Mithun (1991)MITHUN, Marianne. Active/agentive case-marking and its motivations. Language, v. 67, n. 3, p. 510-546, 1991. DOI: http://dx.doi.org/10.2307/415036.
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, o aspecto lexical seria relevante na marcação pronominal em línguas como o Guarani, uma vez que predicados intransitivos relacionados a atividades são marcados por pronomes diferentes de predicados referentes a estados. Considerando-se o aspecto lexical, observamos que, em Paresi, verbos intransitivos que tomam marcadores do grupo A são de atividades, enquanto verbos intransitivos que tomam marcadores do grupo B são estativos (referem-se a cor, estados, alguns valores e propriedades físicas13 13 Outras palavras descritivas referentes a dimensão, idade, certos valores e propriedades físicas são adjetivos. ), semelhante ao que ocorre na língua Guarani.

Em (14), os pronomes de primeira pessoa assumem a forma na=, por estarem relacionados aos eventos holikoa ‘dançar’, kawitsa ‘bater’, tona ‘andar’ e maira ‘pescar’. Nas sentenças em (15), os pronomes de primeira pessoa assumem a forma no=. Esta forma marca os argumentos aos quais se atribuem as propriedades wahahare ‘ser alto’, mazahare ‘ser preguiçoso’ e waxirahare ‘ser feio’, ou aos quais se atribui o estado maira ‘estar com medo’. O Quadro 3 mostra alguns exemplos de verbos intransitivos de atividades que recebem marcação pronominal do grupo A.

Quadro 3
Exemplos de verbos intransitivos do grupo A.

O Quadro 4 mostra exemplos de verbos intransitivos estativos que recebem a marcação pronominal do grupo B.

Quadro 4
Exemplos de verbos intransitivos do grupo B.

O aspecto lexical, no entanto, não é suficiente para explicar sistemas de outras línguas, citadas por Mithun (1991)MITHUN, Marianne. Active/agentive case-marking and its motivations. Language, v. 67, n. 3, p. 510-546, 1991. DOI: http://dx.doi.org/10.2307/415036.
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(como o Caddo), e nem o Paresi (como veremos mais adiante), pois a marcação pronominal associada aos predicados estativos pode ser atribuída a alguns predicados eventivos, como em (16).

Em Paresi, o traço [agentividade]14 14 Um caso semelhante de escolha de marcadores pronominais baseada no traço semântico da [agentividade] é encontrado em Pilaga, da família Guaykuruan (Vidal, 2008). De acordo com Donohue e Wichmann (2008), este tipo de alinhamento semântico – no qual há dois marcadores (ou conjunto de marcadores) diferentes que podem ser usados tanto para sujeito de verbos intransitivos quanto transitivos – é tipologicamente raro. é mais relevante do que [eventividade], como visto nos exemplos anteriores, nos quais [agentividade] não coincide com eventividade, já que participantes de eventos como ‘morrer’ e ‘acordar’ não são agentivos ou controladores.

O traço [agentividade] não coincide com o [controle] em verbos que se referem normalmente a eventos não controlados, tais como os relacionados a processos corporais tiya ‘chorar’, txiraka ‘vomitar’ e koeza ‘rir’ (exceção: tonokoa ‘tossir’), que recebem marcadores do grupo B.

Alguns verbos estativos com o traço [+ controle] indicam que não só [agentividade] é relevante, mas principalmente o traço [controle]. Nos exemplos em (17), observa-se que a marcação pronominal associada aos predicados eventivos pode ser também atribuída a alguns predicados estativos, em contraste com outros predicados estativos em (15), que não recebem a mesma marcação.

Os proclíticos do grupo A que aparecem com predicados eventivos ocorrem com predicados estativos, como ‘ser prudente’ e ‘ser bondoso’, que possuem argumentos classificados como agentes gramaticais, já que são passíveis de [controle], como argumentam Rech e Giachin (2014)RECH, Núbia Saraiva Ferreira; GIACHIN, Amanda e Sá. As interpretações disponíveis para os modais pode e deve em construções com predicados adjetivais. ReVEL, n. 8, p. 21-49, 2014., em relação ao português; enquanto os proclícticos do grupo B ocorrem com predicados estativos cujos argumentos não agem ou controlam.

Ainda com relação à classificação dos verbos, sintaticistas os distinguem em ‘inacusativos’ e ‘inergativos’. Segundo a hipótese gerativista, um verbo inacusativo é aquele que possui um objeto subjacente, o qual não pode receber o caso acusativo; já um verbo inergativo é aquele que possui um sujeito subjacente que não pode receber o caso ergativo (os casos ergativo e acusativo são usados apenas com verbos transitivos) (Perlmutter, 1978PERLMUTTER, David M. Impersonal passives and the unaccusative hypothesis. Proceedings of the Annual Meeting of the Berkeley Linguistics Society, Berkeley, n. 4, p. 157-189, Annual 1978.; Burzio, 1986BURZIO, L. Italian syntax. Dordrecht: Reidel, 1986.). Esta definição não dá conta dos dados apresentados para o Paresi, já que verbos de movimento, como ‘chegar’ e ‘ir’, que não possuem um sujeito paciente, são tratados como inacusativos.

No Paresi, segundo Silva (2013SILVA, Glauber Romling da. Morfossintaxe da língua Paresi-Haliti (Arawak). 2013. 602 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013., 2014)SILVA, Glauber Romling da. Nomes, verbos e posposições em Paresi-Haliti: uma generalização exocêntrica. Veredas: Sintaxe das Línguas Brasileiras, Juiz de Fora, v. 18, n. 1, p. 302-317, 2014., os verbos intransitivos podem ser classificados como inergativos e inacusativos. Esta classificação é verificada com base na presença do sufixo de concordância -i, que distingue a primeira pessoa do singular em relação ao restante do paradigma. O sufixo de concordância, que também ocorre com alguns nomes e posposições, ocorreria apenas com verbos inacusativos. Segundo dados do meu próprio corpus, os verbos de movimento zane ‘ir’ e kaoka ‘chegar’, e um número pequeno de verbos estativos terminados em a/e15 15 Com exceção de inacusativos que terminem em -oa e estativos que terminem em -(ha)re. (Quadro 5), são marcados com o sufixo -i16 16 Para uma análise formalista do sufixo -i, ver Silva (2014). , além de receberem os marcadores do grupo B, como em (18). Futuras pesquisas serão necessárias para averiguar se há outras diferenças morfossintáticas entre as duas classes, tais como relativas ao uso de nominalizadores ou de causativizadores.

Quadro 5
Verbos intransitivos que tomam -i ‘1SG’

De acordo com a análise semântica proposta aqui, estes verbos inacusativos fazem parte do grupo de verbos não agentivos17 17 Ainda estamos investigando se isto está relacionado ao fenômeno de marcação diferencial ou marcação não canônica do sujeito. Este fenômeno caracteriza-se pelo fato de o sujeito ter uma marcação de caso, concordância ou posição diferente de outros (Woolford, 2009). No caso do Paresi, a semântica do verbo pode fazer com que a concordância na primeira pessoa com alguns verbos (verbos com sujeito afetado e de movimento) seja diferente, recebendo uma marca em particular. . Verbos de movimento, apesar de serem eventivos, teriam um sujeito com papel semântico de tema, e não de agente18 18 Pode-se ainda considerar que verbos inacusativos possuem um agente afetado, como em Saksena (1980). Porém, esta hipótese não explicaria os dados de Paresi, já que verbos de movimento ocorrem com proclíticos do grupo B, que indica não [controle]. , como defendem alguns autores (Jackendoff, 1990JACKENDOFF, Ray. Semantic structures. Cambridge, USA: The MIT, 1990.; Van Valin Junior, 1993VAN VALIN JUNIOR, Robert D. A synopsis of role and reference grammar. In: VAN VALIN JUNIOR, Robert D. (Ed.). Advances in role and reference grammar. Amsterdam: John Benjamins Publishing, 1993. p. 1-158.).

VERBOS BITRANSITIVOS

Tipologicamente, verbos bitransitivos são aqueles que selecionam dois argumentos, além de um sujeito (Haspelmath, 2013HASPELMATH, Martin. Ditransitive constructions: the verb ‘Give’. In: DRYER, Matthew S.; HASPELMATH, Martin (Ed.). The world atlas of language structures online. Leipzig: Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology, 2013. Available in: <http://wals.info/chapter/105>. Access in: 22 Dec. 2016.
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). No Paresi, há verbos que podem selecionar três argumentos, mas a ocorrência dos três argumentos é rara (um dos argumentos é implícito). O tema é marcado como o paciente de um verbo transitivo e o recipiente, por uma posposição. Apenas três verbos foram descritos por Brandão (2014)BRANDÃO, Ana Paula. A reference grammar of Paresi-Haliti (Arawak). 2014. 457 f. Tese (Doutorado em Linguística) – University of Texas at Austin, Austin, 2014. como bitransitivos: aotyakitsa19 19 O verbo aotyakitsa é bitransitivo derivado a partir da afixação dos causativos a- e -ki no verbo otya ‘lembrar’. ‘ensinar’, hotikitsa ‘mostrar’ e itsa ‘dar’.

No exemplo em (19), observa-se que o verbo bitransitivo recebe proclíticos do grupo A, sendo o tema marcado pelo proclítico ene e o recipiente pelo dativo ana. Estes verbos poderiam ser considerados uma subclasse de transitivos, porém os dados em Brandão (2014)BRANDÃO, Ana Paula. A reference grammar of Paresi-Haliti (Arawak). 2014. 457 f. Tese (Doutorado em Linguística) – University of Texas at Austin, Austin, 2014. apontam para um comportamento morfossintático diferente, quando causativizados. Os verbos transitivos podem ser causativizados pelos morfemas a- e -ki, quando o objeto direto não é expresso na sentença, e pela construção perisfrásica com o verbo moka ‘colocar’, quando o objeto é expresso, como ilustrado nos exemplos (20) e (21); já os verbos bitransitivos podem ser causativizados apenas pela construção perifrástica, já que há dois objetos na sentença, como pode ser visto em (23) 20 20 A não ocorrência com os afixos causativos pode estar relacionada ao fato de que o verbo aotyakitsa já é derivado a partir dos causativos. . A causativização através da construção perifrástica tem ocorrência muito rara em textos, sendo este um tópico que precisa ser investigado com mais detalhes futuramente.

VERBOS NÃO FLEXIONÁVEIS

Poucos verbos intransitivos não agentivos, que se referem a condições físicas (tais como watya ‘estar quente’, tiha ‘estar frio’), exibem um beneficiário marcado pela posposição hiye, mas não podem receber marcas pronominais de sujeito. O participante único marcado como objeto da posposição apresenta propriedades de sujeito, recebendo os proclíticos do grupo B. A marcação diferenciada do sujeito desses verbos e a sua determinação como uma classe à parte ou uma subclasse de verbos ainda estão sendo investigadas. O fenômeno da marcação diferencial do sujeito na posposição é semelhante à concordância com -i, vista anteriormente, que ocorre apenas com alguns verbos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste artigo, apresentaram-se as quatro classes de verbos do Paresi: intransitivos, transitivos, bitransitivos e não flexionáveis. Argumentou-se que o Paresi possui um sistema de intransitividade cindida. Em resumo, morfologicamente, em Paresi, há uma marcação pronominal que figura com alguns sujeitos de verbos intransitivos chamados inacusativos e com a maioria dos estativos, que não está na classe de inacusativos de Silva (2014)SILVA, Glauber Romling da. Nomes, verbos e posposições em Paresi-Haliti: uma generalização exocêntrica. Veredas: Sintaxe das Línguas Brasileiras, Juiz de Fora, v. 18, n. 1, p. 302-317, 2014.. A marcação pronominal correspondente ao sujeito de verbos transitivos coincide com a que figura com verbos intransitivos de ação ou chamados inergativos, e com poucos verbos estativos de [controle]. Semanticamente, há dois grupos básicos de verbos intransitivos: I) os agentivos, que tomam os marcadores do grupo A, cujos participantes são agentes (que performam, efetivam, instigam ou controlam a situação denotada pelo predicado); e II) os não agentivos, que tomam os marcadores do grupo B, cujos participantes são pacientes ou não têm [controle], porque os participantes desses verbos podem se referir a conceitos de propriedade ou a alguns eventos não performados ou controlados por eles.

O Quadro 6 apresenta a distribuição dos marcadores (grupos A e B) de acordo com os traços semânticos de [eventividade], [agentividade] e [controle], mostrando que o traço [controle] é o mais relevante, já que os marcadores do grupo A restringem-se a verbos que apresentam [+ controle].

Quadro 6
Resumo da distribuição dos marcadores. Fonte: adaptado de Mithun (1991, p. 524)MITHUN, Marianne. Active/agentive case-marking and its motivations. Language, v. 67, n. 3, p. 510-546, 1991. DOI: http://dx.doi.org/10.2307/415036.
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.

Além das classes de verbos intransitivos, transitivos e bitransitivos, observa-se, em Paresi, a existência de uma quarta classe de verbos não flexionáveis, a qual foi descrita para outra língua da família Aruák, Tariana (Aikhenvald, 2003AIKHENVALD, Alexandra Y. A grammar of Tariana, from Northwestern Amazonia. Cambridge, USA: Cambridge University, 2003.), e para línguas da família Tupi (Galucio, 2014GALUCIO, Ana Vilacy. Estrutura argumental e alinhamento gramatical em Mekens. In: STORTO, Luciana; FRANCHETTO, Bruna; LIMA, Suzi (Org.). Sintaxe e semântica do verbo em línguas indígenas do Brasil. Campinas: Mercado das Letras, 2014. p. 167-196.).

BEN benefactivo NMLZ nominalizador CAUS causativo O objeto COM comitativo PFV perfectivo COM conectivo PL plural DAT dativo PURP propósito DEM demonstrativo POSS possuído IFV imperfectivo SG singular LK morfema de ligação TH sufixo temático M masculino TRS aspecto transicional MM voz média
  • 1
    Considerando-se os critérios de extensão numérica e de inclusão de novos itens na classe (Schachter; Shopen, 2007SCHACHTER, Paul; SHOPEN, Timothy. Parts-of-speech systems. In: SHOPEN, Timothy (Ed.). Language typology and syntactic description. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. v. 2, p. 141-170.; Dixon, 1977DIXON, R. M. W. Where have all the adjectives gone? Studies in Language, Amsterdam, v. 1, n. 1, p. 19-80, Quarterly 1977.).
  • 2
    A fonte dos exemplos pode ser observada nos seguintes códigos: T indica que os exemplos são de textos e o nome do texto; E indica que os exemplos são de elicitação.
  • 3
    Em futuros trabalhos, pretende-se estudar a sintaxe do adjetivo para saber quando este pode vir anteposto ou não.
  • 4
    Também é possível a ordem kalore hati. Outra análise possível sobre esses adjetivos seria considerá-los como uma subclasse de nomes, já que hati pode ser modificador de kalore no exemplo (hipótese que foi mencionada por um parecerista). Não temos dados suficiente no momento para confirmar ou descartar esta hipótese.
  • 5
    Brandão (2014)BRANDÃO, Ana Paula. A reference grammar of Paresi-Haliti (Arawak). 2014. 457 f. Tese (Doutorado em Linguística) – University of Texas at Austin, Austin, 2014. glosou o morfema como dativo, pois ele marca tanto o recipiente quanto o beneficiário.
  • 6
    É importante observar que o Paresi não apresenta forma pronominal para objeto de verbo transitivo (com exceção do enclítico de terceira pessoa), como se verifica em línguas com ergatividade cindida.
  • 7
    Dixon (1979)DIXON, R. M. W. Ergativity. Language, v. 55, n. 1, p. 59-138, 1979. trata as línguas com alinhamento semântico como um subtipo de línguas ergativas
  • 8
    O termo sufixo temático é usado em outras línguas da família Aruák para sufixos que têm pouco ou nenhum conteúdo semântico.
  • 9
    O sufixo temático -ka ocorre com poucos transitivos e com a maioria dos intransitivos.
  • 10
    Ver Brandão (2014)BRANDÃO, Ana Paula. A reference grammar of Paresi-Haliti (Arawak). 2014. 457 f. Tese (Doutorado em Linguística) – University of Texas at Austin, Austin, 2014..
  • 11
    Este sufixo é homônimo do sufixo temático -ka. É possível o uso simultâneo tanto do sufixo temático quanto do nominalizador em um mesmo verbo, como em mala-ka-ka (arrancar-th-nmlz) ‘o que foi arrancado’.
  • 12
    A relação desses traços com a Aktionsart de verbos como ‘ir’, o que parece ser exceção à regra apresentada, será objeto de investigação futura.
  • 13
    Outras palavras descritivas referentes a dimensão, idade, certos valores e propriedades físicas são adjetivos.
  • 14
    Um caso semelhante de escolha de marcadores pronominais baseada no traço semântico da [agentividade] é encontrado em Pilaga, da família Guaykuruan (Vidal, 2008VIDAL, Alejandra. Affectedness and viewpoint in Pilagá (Guaykuruan): a semantically aligned case-marking system. In: DONOHUE, Mark; WICHMANN, Soren (Ed.). The typology of semantic alignment. Oxford: Oxford University, 2008. p. 412-430.). De acordo com Donohue e Wichmann (2008)DONOHUE, Mark; WICHMANN, Soren (Ed.). The typology of semantic alignment. Oxford: Oxford University, 2008., este tipo de alinhamento semântico – no qual há dois marcadores (ou conjunto de marcadores) diferentes que podem ser usados tanto para sujeito de verbos intransitivos quanto transitivos – é tipologicamente raro.
  • 15
    Com exceção de inacusativos que terminem em -oa e estativos que terminem em -(ha)re.
  • 16
    Para uma análise formalista do sufixo -i, ver Silva (2014)SILVA, Glauber Romling da. Nomes, verbos e posposições em Paresi-Haliti: uma generalização exocêntrica. Veredas: Sintaxe das Línguas Brasileiras, Juiz de Fora, v. 18, n. 1, p. 302-317, 2014..
  • 17
    Ainda estamos investigando se isto está relacionado ao fenômeno de marcação diferencial ou marcação não canônica do sujeito. Este fenômeno caracteriza-se pelo fato de o sujeito ter uma marcação de caso, concordância ou posição diferente de outros (Woolford, 2009WOOLFORD, E. Differential subject marking at argument structure, syntax, and PF. In: HOOP H.; SWART P. (Ed.). Differential subject marking. Dordrecht: Springer, 2009. p. 17-40. (Studies in Natural Language and Linguistic Theory, v. 72).). No caso do Paresi, a semântica do verbo pode fazer com que a concordância na primeira pessoa com alguns verbos (verbos com sujeito afetado e de movimento) seja diferente, recebendo uma marca em particular.
  • 18
    Pode-se ainda considerar que verbos inacusativos possuem um agente afetado, como em Saksena (1980)SAKSENA, Anuradha. The affected agent. Language, v. 56, n. 4, p. 812-826, 1980.. Porém, esta hipótese não explicaria os dados de Paresi, já que verbos de movimento ocorrem com proclíticos do grupo B, que indica não [controle].
  • 19
    O verbo aotyakitsa é bitransitivo derivado a partir da afixação dos causativos a- e -ki no verbo otya ‘lembrar’.
  • 20
    A não ocorrência com os afixos causativos pode estar relacionada ao fato de que o verbo aotyakitsa já é derivado a partir dos causativos.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2017

Histórico

  • Recebido
    27 Mar 2017
  • Aceito
    19 Set 2017
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