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Conhecimento ecológico tradicional da ictiofauna pelos quilombolas no Alto Guaporé, Mato Grosso, Amazônia meridional, Brasil

Traditional ecological knowledge of fish fauna in quilombolas on the Alto Guaporé, Mato Grosso, Southern Amazonia, Brazil

Resumo

O objetivo desta pesquisa foi estudar o conhecimento ecológico tradicional (CET) relacionado à pesca feita por grupo étnico autoidentificado como quilombola, por meio da análise de fatores que influenciam o consenso cultural e as técnicas da pesca artesanal. Participaram 24 homens e sete mulheres dos quilombos Retiro, Boqueirão, Casalvasco e Manga. Os métodos de amostragem utilizados foram: bola de neve, lista livre e observação participante. Os resultados incluem 47 etnoespécies (46 peixes e um réptil). O consenso cultural é composto por: Hoplias malabaricus, Cichla sp., Pseudoplatystoma fasciatum, Astronotus ocellatus, Satanoperca pappaterra, Brycon cephalus, Piaractus mesopotamicus, P. corruscans, Pimelodus sp., Colossoma macropomum, Pygocentrus nattereri, Mylossoma aureum, Astyanax sp. e Leporinus freiderici. Embora tenha sido maior a riqueza do conhecimento entre pessoas que residiram temporariamente em outros estados brasileiros, este aspecto não esteve relacionado à idade dos entrevistados. A manutenção e a transmissão de CET é propiciada por contato diário com peixes e com o rio desde criança, bem como por observação das práticas de pesca em grupo. O CET é parte da identidade e representa uma herança cultural que deve ser valorizada. É necessária a participação desses atores sociais nos planos de decisão e de gerenciamento de áreas protegidas.

Palavras-chave
Amazônia; Pesca de subsistência; Quilombo

Abstract

The objective of this research was to study the traditional ecological knowledge (TEK) related to fishing among the ethnic group self-identified as quilombola people, and it included analysis of factors influencing the cultural consensus and techniques used in artisanal fishing. Twenty-four men and seven women from the Retiro, Boqueirão, Casalvasco and Manga quilombo communities participated. Sampling methods included snowball, free listing, and participant observation. The results include a list of 47 ethnospecies (46 fish and one reptile). The cultural consensus is composed of: Hoplias malabaricus, Cichla sp., Pseudoplatystoma fasciatum, Astronotus ocellatus, Satanoperca pappaterra, Brycon cephalus, Piaractus mesopotamicus, P. corruscans, Pimelodus sp., Colossoma macropomum, Pygocentrus nattereri, Mylossoma aureum, Astyanax sp., and Leporinus freiderici. While the wealth of knowledge tended to be greater among people who resided temporarily in other Brazilian states, this was not related to the age of the interviewees. The maintenance and transmission of TEK stems from daily contact with fish and the river, from childhood on, as well as observation of group fishing practices. TEK is part of their identity and represents a valuable cultural heritage. Participation by these social actors in decision-making and management plans for protected areas is necessary.

Keywords
Amazon; Subsistence fishing; Quilombo

INTRODUÇÃO

Proteínas de origem animal fazem parte da dieta alimentar nas mais diferentes culturas, desde o primórdio da evolução (Figueiredo; Barros, 2016), possibilitando a conquista de novos espaços. Entre as proteínas, as provenientes do peixe são alimento do cotidiano em várias partes do mundo, sobretudo em grupos tradicionais (Johannes, 1989; Da Silva; Silva, 1995; Toledo et al., 2003; Murrieta; Dufour, 2004; Adams et al., 2005; Begossi, 2006; Xu et al., 2006; Ramires et al., 2007; Silva, 2007; Begossi; Silvano, 2008; Murrieta et al., 2008; Barros, 2012), conferindo a eles a possibilidade de se fixarem em diferentes lugares.

Os grupos humanos habitantes da Amazônia e que conservam heranças tradicionais de conhecimentos têm na natureza o locus de onde retiram os recursos de origem vegetal e animal, necessários para a sua continuação no sistema cultural e ecológico. Johannes (1989, p. 40) descreve que “[...] atividades tradicionais decorrentes da relação de uso e dependência de recursos naturais incorporam conhecimentos dos processos do ambiente natural”. Segundo Diegues et al. (2000, p. 15), “[...] alguns consideram que as culturas e os saberes tradicionais podem contribuir para a manutenção da biodiversidade dos ecossistemas [...]”, ideia corroborada por Brandão e Da Silva (2008, p. 55), os quais afirmam que o “[...] conhecimento como o [resultante] da prática produtiva dos pescadores artesanais [...] traz consigo informações necessárias à sustentabilidade ecológica e econômica das comunidades [...]”.

O conhecimento advindo dos pescadores tradicionais acerca dos elementos relacionados à pesca e às transformações que acontecem na paisagem local pode ser útil, ao fornecer informações essenciais para o arranjo de leis ambientais eficientes, visando, sobretudo, a assegurar existência de biodiversidade para gerações futuras, especialmente em países culturalmente e biologicamente megadiversos, como é o caso do Brasil. A garantia de alimentos para as populações urbanas, os grupos indígenas e as comunidades tradicionais está diretamente ligada à disponibilidade e ao acesso à biodiversidade por grupos humanos locais (Da Silva; Silva, 1995; Begossi et al., 2002; Morais; Da Silva, 2010). Para Diegues et al. (2000, p. 15), “[...] esses saberes são o resultado de uma coevolução entre as sociedades e seus ambientes naturais, o que permitiu a conservação de um equilíbrio entre ambos [...]”.

Ao se pesquisar a extensão dos 6.915.000 km2 da bacia amazônica, estima-se que nela habitam 2.000 espécies de peixes (Winemiller et al., 2008), além de se observar a existência de grande diversidade cultural indígena (Ricardo, B.; Ricardo, F., 2006) e não indígena (Diegues et al., 2000) nesta região. Essa diversidade está presente também em Mato Grosso, mencionada, por exemplo, por Silva e Sato (2010), que registraram a ocorrência de 45 etnias indígenas e 42 grupos sociais, configurando este estado como um dos mais diversos do país. Diante de tamanha riqueza cultural, observa-se que ainda existem lacunas no que se refere ao conhecimento de determinados grupos, por exemplo no que concerne à pesca realizada por quilombolas na Amazônia, no estado de Mato Grosso.

No art. 2º do decreto federal n. 4.887/2003, consta a definição de quilombola como “[...] grupos étnicos raciais, segundo critérios de auto atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra [...]” (Brasil, 2003, p. 4). Os primeiros afrodescendentes que chegaram à Vila Bela da Santíssima Trindade na condição de escravos vieram, sobretudo, de Angola, Guiné, Sudão, Congo e Cabo Verde, negociados pela companhia Grão Pará e Maranhão, entre 1755 e 1778 (Salles, 1971; Volpato, 1996). Desde a fundação da cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade (1752), os afrodescendentes interagem com o ambiente, conseguindo os recursos essenciais para sua sobrevivência e para sua resistência nos quilombos do século XVII. Vários recursos da flora (Arruda et al., 2014a, 2014b) e da fauna local estão intimamente ligados à dieta alimentar dos quilombolas.

Dada a alta diversidade da ictiofauna, o seu intensivo uso na Amazônia, em conjunto com a riqueza do conhecimento tradicional das comunidades, inclusive das comunidades quilombolas de Vila Bela da Santíssima Trindade, e o inexistente registro sobre os meios de utilização desta riqueza, o presente trabalho visa fazer um levantamento acerca do conhecimento ecológico tradicional destas comunidades, analisando os fatores relacionados ao consenso cultural e às técnicas empregadas na pesca artesanal.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

ÁREA DE ESTUDO

A pesquisa foi realizada com atores sociais das comunidades quilombolas Retiro, Boqueirão, Casalvasco e Manga, localizadas na zona rural do município de Vila Bela da Santíssima Trindade, estado de Mato Grosso, na Amazônia meridional, com coordenadas 14º 02’ 00”-16º 14’ 00” Sul e 59º 24’ 00”-60º 33’ 40” Oeste (Figura 1), às margens do rio Guaporé. As comunidades são formadas pelos descendentes dos escravos que chegaram na região no século XVIII (Salles, 1971; Volpato, 1996). Com a mudança da capital da capitania para Cuiabá no ano de 1835, ficaram na região apenas os escravos mais velhos, os doentes e as crianças (Bandeira, 1988). Segundo Arruda (2013), as comunidades apresentam alto grau de parentesco.

Figura 1
Localização da área de estudo, no município de Vila Bela da Santíssima Trindade, estado de Mato Grosso, Brasil.

O município de Vila Bela da Santíssima Trindade localiza-se no Alto Guaporé, região de transição entre os domínios morfoclimáticos Amazônico e Cerrado (Ab’Saber, 1967). De acordo com Ab'Saber (1967 apud Mariotti, 2015), a área caracteriza-se por exibir cobertura vegetal heterogênea com a seguinte composição: 30% de áreas de tensão ecológica, 50% de Floresta Estacional Semidecidual e 20% de Cerrado.

COLETA E ANÁLISE DE DADOS

A pesquisa de campo, junto às entrevistas, foi realizada com 31 atores sociais, com equivalência de 77,5% das habitações das comunidades. Esta foi uma amostragem significativa, segundo a análise da curva de rarefação, calculada por meio do programa Past. Constituíram a amostra 24 homens e sete mulheres, selecionados por meio da técnica chamada de ‘bola de neve’ (snowball) (Goodman, 1961; Biernacki; Waldorf, 1981; Bernard, 2006), “[...] de modo que o quadro de amostragem cresce a cada entrevista [...]” (Bernard, 2006, p. 193). A primeira entrevista nas comunidades foi realizada com um informante-chave (Albuquerque; Lucena, 2004; Albuquerque et al., 2010): “[...] trata-se de uma pessoa, selecionada dentre os informantes, para colaborar mais ativamente na pesquisa, escolhida por critérios definidos pelo pesquisador [...]” (Albuquerque et al., 2010, p. 24), isto é, uma “[...] pessoa que oferece facilidade em conversar e que tenha conhecimento no objeto de interesse e que esteja disposto a dividir seus conhecimentos [...]” (Arruda, 2013, p. 36).

O CET de peixes foi estudado por meio de entrevistas dos tipos livre e aberto, aprovada pelo comitê de ética em pesquisa (CEP), parecer número 1.693.970, nas quais constavam as seguintes perguntas: ‘o que é peixe?’; ‘tudo que tem na água é peixe?’; ‘quais peixes vocês conhecem?’; ‘quais peixes vocês pescam e quais iscas utilizam para pescar?’; ‘como vocês pescam?’; ‘como vocês usam esses peixes?’. Segundo Viertler (2002, p. 16), a entrevista:

[...] é um artifício em que acontece uma afinidade de concessão equilibrada entre a visão êmica (do pesquisado) e a visão ética (do pesquisador), aonde o linguajar empregado pode ser mais ou menos aberto, de acordo com as características do grupo social a ser entrevistado.

A lista de peixes do domínio cultural foi obtida com auxílio da lista livre (free list) (Weller; Romney, 1988), analisada pelo programa Anthropac 4.0 (Bernard, 2006), através do ranqueamento de Smith (1993), escala de 0-1, obtido pela combinação da frequência e da sequência de relevância dos itens do domínio cultural. Itens mencionados em primeiro lugar na lista e por mais pessoas (com maior frequência) compõem elementos mais importantes de um domínio (Smith, 1993), cujos valores ficam mais próximos de 1. Intervalos entre os valores são as rupturas da lista livre, sendo formados pelos itens citados com as mesmas frequências e ordens na lista livre. As categorias de uso compartilhadas entre espécies também podem explicar o agrupamento (Galdino; Da Silva, 2009; Morais et al., 2009).

Para que haja consenso cultural a respeito da lista, o valor do Pseudo-Reliability deve ficar mais próximo de 1.0 (Caulkins; Hyatt, 1999), possibilitando descobrir se as respostas foram culturalmente consensuadas; para isto, o primeiro fator tem que ser duas vezes maior do que o segundo (Borgatti, 1996; Bernard, 2006). Isso fornece, segundo Weller e Romney (1988, p. 9), um claro entendimento da definição e da fronteira do que está sendo estudado. Foi usado o escalonamento multidimensional (MDS). De acordo com Romney e Weller (1984), por meio das representações gráficas, pode-se evidenciar as similaridades, bem como o distanciamento dos entrevistados, com base nas respostas dadas por eles. Ainda segundo Romney e Weller (1984, p. 73), “[...] indivíduos mais parecidos ficam próximos no centro da imagem e menos parecidos, separados pela periferia da imagem”. O MDS foi calculado através do programa estatístico, utilizando-se o software PAST, versão 1.79 (Hammer et al., 2001).

Para conhecer as práticas da pesca tradicional nas comunidades quilombolas, foram adotados os benefícios da observação participante (Geertz, 1989). O uso deste método permite ao pesquisador conviver com o grupo social estudado, conferindo uma vivência real dos acontecimentos. Nesta pesquisa, o primeiro autor participou de incursões de pescas entre os anos de 2015 a 2017, em períodos de cheias e de estiagens, junto a um informante ou em grupos compostos por duas a três pessoas. Os métodos e as análises ora mencionados demonstraram-se eficientes em trabalhos etnobiológicos realizados com comunidades tradicionais matogrossenses (Galdino; Da Silva, 2009; Morais et al., 2009; Morais; Da Silva, 2010; Ferraz; Da Silva, 2012; Arruda et al., 2014a, 2014b).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa registrou 47 etnoespécies conhecidas nas três comunidades quilombolas, entre as quais 46 são peixes e um réptil (sucuri), considerada por uma interlocutora como sendo peixe. Este número representa 28,77% do total inventariado na sub-bacia do Guaporé por Muniz et al. (2018). A curva de rarefação (Figura 2) indica que o número de entrevistas realizadas é satisfatório, com estabilização para ingresso de novas espécies na décima oitava entrevista.

Figura 2
Curva de acumulação das etnoespécies de peixes citadas pelos quilombolas de Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso, Brasil.

A lista livre apresentou cinco grupos ou rupturas (Apêndice). Nas três primeiras rupturas, encontram-se registradas quatorze espécies do consenso cultural. Na primeira, está a traíra (Hoplias malabaricus) e o tucunaré (Cichla sp.); na segunda, consta o cachara (Pseudoplatystoma fasciatum), o caravaçu (Astronotus ocellatus), o cará (Satanoperca pappaterra) e o matrinchã (Brycon cephalus); e na terceira, está o pacu (Piaractus mesopotamicus), o pintado (Pseudoplatystoma corruscans), o bagre (Pimelodus sp.), o tambaqui (Colossoma macropomum), a piranha-vermelha (Pygocentrus nattereri), a pacupeva (Mylossoma aureum), o lambari (Astyanax sp.) e o piau-três-pintas (Leporinus freiderici) (Apêndice). São as espécies que apresentam os mais elevados índices de Smith, configurando-se, assim, como as que constam do consenso cultural (Caulkins; Hyatt, 1999).

A Tabela 1, que representa a análise do consenso cultural, indicou haver concordância entre as respostas dos quilombolas sobre a diversidade de peixes do Guaporé, cuja probabilidade é de 83%, caracterizando, assim, um consenso do domínio cultural. Entre os fatores que possibilitam a ocorrência deste consenso estão inclusos o alto grau de parentescos e as condições econômicas similares entre os entrevistados. Estas condições também foram observadas por Morais et al. (2009)MORAIS, Fernando Ferreira; MORAIS, Rodrigo Ferreira; DA SILVA, Carolina Joana. Conhecimento ecológico tradicional sobre plantas cultivadas pelos pescadores da comunidade Estirão Comprido, Pantanal matogrossense, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 4, n. 2, p. 277-294, maio-ago. 2009. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1981-81222009000200005.
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, em comunidades pantaneiras, e por Arruda et al. (2014a), em comunidades quilombolas no vale do Guaporé.

Tabela 1
Análise de consenso sobre o domínio cultural de peixes na comunidade quilombola de Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso, Brasil. Pseudo-Reliability = 0.830.

A análise do escalonamento multidimensional (MDS) (Figura 3) fornece uma representação das espécies do consenso cultural mais ao centro da imagem, com as demais espécies figurando no entorno da figura, a qual indica que houve semelhanças nas respostas dos homens e das mulheres acerca dos peixes consumidos pelas comunidades.

Figura 3
Diagrama de escalonamento multidimensional (MDS), índice de Bray-Curtis, representando agrupamento do conhecimento das etnoespécies de peixes na comunidade quilombola de Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso, Brasil. Os significados das siglas para os nomes de espécies de peixes constam no Apêndice.

Essas concordâncias explicam-se pelas relações estabelecidas entre todos os atores, como ocorreu nas indicações de local, de equipamentos e de iscas adequadas. Assim, a pesca praticada tanto pelos homens quanto pelas mulheres nestas comunidades é oposta à descrita por Barros (2012)BARROS, Flávio Bezerra. Etnoecologia da pesca na reserva extrativista Riozinho do Anfrísio – Terra do Meio, Amazônia, Brasil. Amazônica, Belém, v. 4, n. 2, p. 286-312, 2012. DOI: http://dx.doi.org/10.18542/amazonica.v4i2.958.
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, realizada pelos ribeirinhos do Riozinho do Anfrísio, em Altamira, Pará, a qual se configura como uma atividade masculina, na qual as mulheres ficam responsáveis apenas pelo preparo do pescado.

A cooperação transcende o compartilhamento de informações acerca de locais e de iscas a serem usadas. As pessoas da comunidade também compartilham equipamentos de pesca e espécimes de peixes capturados. Isso faz parte do cotidiano desses locais, configurando-se como uma prática cultural de reciprocidade, o que também foi observado no compartilhamento de pescados em comunidades ribeirinhas no Pantanal (Da Silva; Silva, 1995DA SILVA, Carolina Joana; SILVA, Joana A. Fernandes. No ritmo das águas do Pantanal. 1. ed. São Paulo: NUPAUB/USP, 1995.), no Riozinho do Anfrísio, Pará (Barros, 2012BARROS, Flávio Bezerra. Etnoecologia da pesca na reserva extrativista Riozinho do Anfrísio – Terra do Meio, Amazônia, Brasil. Amazônica, Belém, v. 4, n. 2, p. 286-312, 2012. DOI: http://dx.doi.org/10.18542/amazonica.v4i2.958.
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) e na partilha de produtos de caças na comunidade quilombola de Joana Peres, no Pará (Figueiredo; Barros, 2016FIGUEIREDO, Rodrigo Augusto Alves de; BARROS, Flávio Bezerra. Caçar, preparar e comer o ‘bicho do mato’: práticas alimentares entre os quilombolas na Reserva Extrativista Ipaú-Anilzinho (Pará). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 11, n. 3, p. 691-713, set.-dez. 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1981.81222016000300009.
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).

Percebeu-se, por meio da lista livre, uma diferença significativa entre os gêneros e as condições de migrações temporárias dos entrevistados. De modo geral, as espécies obtiveram valores de Smith diferentes entre homens e mulheres, sendo que, via de regra, listaram menos espécies de peixes (Figura 4). A traíra (Tr), o tucunaré (Tu), o matrinchã (Mt), o piau-três-pintas (Pt) e a piranha-vermelha (Ph) obtiveram maiores índices, sendo, de certa forma, pescados mais acessíveis à captura, não demandando equipamentos, iscas ou técnicas específicas.

Figura 4
Etnoespécies de peixes do Guaporé ranqueadas pelo índice de Smith por gênero. Os significados das siglas para os nomes de espécies de peixes constam no Apêndice.

Entre os homens, cachara (Ch), caravaçu (Cç), cará (Cr), pacu (Pc), pintado (Pd), bagre (Br), tambaqui (Tb), pacupeva (Pv) e lambari (Lb) obtiveram maiores índices. Em geral, são espécimes com demanda de artifícios, técnicas e tempo para a escolha de iscas, lugares e equipamentos adequados. Ainda se observam os seis espécimes que não foram citados pelas mulheres – curimbatá (Co), jejum (Jj), piapara (Pb), abotoado (Ab), camboatá (Ct) e piau-onça (Po) –, principalmente usados como iscas, necessitando de técnicas e de equipamentos específicos para a sua captura, como redes e tarrafas. Isso é diferente do que ocorre em Ponta do Corumbau, na Bahia, onde 90% das mulheres relataram usar a rede como equipamento de pesca, de acordo com Di Ciommo (2007)DI CIOMMO, Regina Célia. Pescadoras e pescadores: a questão da equidade de gênero em uma reserva extrativista marinha. Ambiente & Sociedade, Campinas, v. 10, n. 1, p. 151-163, jan.-jun. 2007. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1414-753X2007000100010.
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.

A riqueza de conhecimento representada pelo número de peixes indicado pelos quilombolas não teve relação com a idade dos entrevistados, havendo uma diferença perceptível entre os entrevistados que já residiram em outros estados. As pessoas com a mesma faixa de idade que residiram em outras regiões tendem a conhecer maior número de espécies (Figura 5). No entanto, nota-se que o maior conhecimento foi apresentado por BL (62 anos), responsável pela listagem de 39 das 47 espécies da lista livre. Este ator não residiu em outras regiões do país, mas está em constante interação com turistas advindos de diferentes partes do Brasil e também de outros países, por desempenhar a função de guia local. Segundo Foladori e Taks (2004), as mudanças se originam do contato de uma cultura com outra.

Figura 5
Diversidade de conhecimento de etnoespécies de peixes em Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso, Brasil. Em vermelho, está assinalado o grupo de pessoas que já residiram em outro estado do país. As siglas são correspondentes às iniciais dos nomes dos entrevistados.

O entrevistado IB (36 anos), o mais jovem desta amostra, apresentou conhecimento singular para a sua faixa de idade, sendo o terceiro na amostra geral, contribuindo com indicação de 28 espécies. O conhecimento verificado entres os jovens na atividade pesqueira foi observado também por Chamy (2004), na Reserva Extrativista do Mandira, em São Paulo, e por Clauzet et al. (2005), em comunidades caiçaras, evidenciando que este tema foi consistente entre diferentes faixas etárias, aspecto também observado por Costa-Neto e Marques (2000).

Dessa forma, o conhecimento tende a ser mantido por meio de relatos orais, segundo Geertz (1989). A pesca é realizada em grupos de duas a quatro pessoas, contando com a participação de atores de diferentes idades. Este é o momento da pesca, onde são compartilhadas informações sobre as técnicas utilizadas, o que favorece a manutenção do conhecimento e a interação entre todos os envolvidos.

Os quilombolas expressaram profundo conhecimento ecológico na prática da pesca tradicional, observado in loco durante as pescarias e também nas respostas aos questionamentos apresentados no tópico sobre coleta e análise de dados deste texto. Algumas respostas a essas indagações estão expressas nos relatos:

Peixes são os bichos que vivem o tempo todo na água. O jiju consegue viver um tempo fora d’água, inclusive ele vai de uma represa para outra. A sucuri também é, acho que é peixe, ela vive na água com o peixe elétrico, que parece uma cobra, mas é peixe.

(MF, 62 anos, ♀).

Nem tudo que vive na água são peixes. Há bastantes bichos que vivem na água que não são peixes. Tem o jacaré, o caimãm, o tracajá, a capivara, a lontra, a ariranha, a sucuri, o boto. Todos esses vivem na água, mas não são peixes.

(JL, 37 anos, ♂).

Entre os peixes mais citados, tucunaré, cachara, matrinchã, pacu, pintado e tambaqui são considerados nobres e de grande procura na pesca comercial, em razão do valor recebido, e na pesca esportiva, por serem caracterizados por diferentes grupos sociais no Brasil como agressivos e brigadores quando fisgados

(Kitamura et al., 1999KITAMURA, Paulo Choji; LOPES, Ruy Bessa; CASTRO JÚNIOR, Fernando Gomes de; QUEIROZ, Júlio Ferraz de. Avaliação ambiental e econômica dos lagos de pesca esportiva na bacia do rio Piracicaba. Boletim de Indústria Animal, Nova Odessa, v. 56, n. 1, p. 95-107, 1999.; Moraes; Seidl, 2000MORAES, André Steffens; SEIDL, Andrew Fredrick. Perfil dos pescadores esportivos do Sul do Pantanal. Embrapa Pantanal. Circular Técnica, n. 24, p. 1-41, 2000.; Rotta, 2004ROTTA, M. A. Aspectos biológicos e reprodutivos para a criação da Tuvira (Gymnotus sp.) em cativeiro-I. Embrapa Pantanal. Documento, n. 74, p. 1-30, 2004.;

Freitas; Rivas, 2006; Ferraz; Da Silva, 2012). Para as comunidades pesquisadas, a carne desses pescados apresenta um sabor agradável, exceto em determinadas ocasiões nas quais certos peixes são evitados na alimentação.

Quanto à restrição alimentar, os quilombolas consideram tucunaré, piranha, caravaçu e bagre como remosos1 1 São alimentos que, na crença popular, apresentam energias negativas, sendo carregados. Por essa razão, devem ser consumidos com restrições por pessoas que se encontram debilitadas, pois acredita-se que dificultam a recuperação da saúde. , os quais não são consumidos por mulheres grávidas ou que estão seguindo dietas alimentares, nem por pessoas enfermas. A traíra, por sua vez, é considerada um peixe manso2 2 Oposto de remoso. e sem restrições para o consumo, como descreveu ML (64 anos, ♀):

Se engana quem acha que pode comer todo tipo de peixe, tucunaré, piranha, caravaçu e os peixes de couro são remosos. Se a pessoa estiver fraca e comer esses peixes, fica de cama mesmo. A traíra tem uma carne saborosa, pode comer frita, cozida ou ensopada, [...] qualquer pessoa pode comer, não faz mal para ninguém, até mesmo para quem está doente.

Costa-Neto (2000)COSTA-NETO, Eraldo Medeiros. Conhecimento e usos tradicionais de recursos faunísticos por uma comunidade afro-brasileira. Resultados preliminares. Interciencia, Caracas, v. 25, n. 9, p. 423-431, mensual 2000., em uma comunidade afrodescendente na Bahia, obteve resultados similares com relação ao consumo de traíra. Já no que se refere ao consumo de piranha, houve divergência entre o presente artigo e a contribuição de Costa-Neto (2000)COSTA-NETO, Eraldo Medeiros. Conhecimento e usos tradicionais de recursos faunísticos por uma comunidade afro-brasileira. Resultados preliminares. Interciencia, Caracas, v. 25, n. 9, p. 423-431, mensual 2000., pois neste último os quilombolas a descreveram como mansa, enquanto no presente artigo registrou-se que a comunidade pesquisada a considera como um peixe remoso, sendo geralmente utilizado como isca, quando capturada.

Segundo Marques (1991)MARQUES, José Geraldo Wanderley. Aspectos ecológicos na etnoictiologia dos pescadores do complexo estuarino-lagunar Mandau-Manguaba, Alagoas. 1991. 296 f. Tese (Doutorado em Ecologia) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1991. Disponível em: <http://repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/315947>. Acesso em: 13 mar. 2017.
http://repositorio.unicamp.br/handle/REP...
, o sucesso de uma pescaria depende, em boa parte, do conhecimento sobre o comportamento e a cadeia trófica do peixe-presa. Nas comunidades quilombolas, a pescaria ocorre principalmente no início da noite, por meio do uso de iscas vivas em locais mais profundos do rio. Sobre as táticas para captura de peixes e as suas preferências alimentares, os quilombolas descrevem:

Os peixes de couro (bagres) são melhores para pegar a noite, [quando] eles saem para caçar na praia (lugares rasos). Pode usar minhoca e isca de peixe vivo ou morto. De dia, são mais enjoados, ficam dormindo nos poços (lugares mais profundos), aí tem que usar iscas vivas.

(AR, 67 anos, ♂).

A traíra é encontrada em qualquer lugar, represa, lagoa, canal. As do Guaporé e Alegre [rios locais] são maiores ficam embaixo dos tarope3 3 Nome atribuído pelos quilombolas para comunidades de vegetações aquáticas flutuantes e fixas, nativas ou introduzidas pelo homem. . É um peixe que não tem frescura quando está com fome, [se] pega com qualquer isca [de] peixe vivo (lambari, cará ou outro peixe pequeno), pedaços de outros peixes ou carne. Agora, quando pescar com iscas mortas tem que ficar mexendo a isca, para ela [a traíra] pensar que a isca está viva ou doente.

(ML, 64 anos, ♀).

Conhecer em detalhes a ecologia trófica dos peixes tem um caráter utilitário, “[...] uma vez que a inserção correta do item alimentar/isca otimizará o esforço da pesca [...]” (Marques, 1995MARQUES, José Geraldo Wanderley. Pescando pescadores: etnoecologia abrangente no baixo São Francisco. São Paulo: NUPAUB/USP, 1995., p. 211). O conhecimento sobre as cadeias tróficas pesqueiras apresentadas por comunidades locais foi descrito por Costa-Neto (2000)COSTA-NETO, Eraldo Medeiros. Conhecimento e usos tradicionais de recursos faunísticos por uma comunidade afro-brasileira. Resultados preliminares. Interciencia, Caracas, v. 25, n. 9, p. 423-431, mensual 2000., Costa-Neto e Marques (2000)COSTA-NETO, Eraldo Medeiros; MARQUES, José Geraldo Wanderley. Etnoictiologia dos pescadores artesanais de Siribinha, município de Conde (Bahia): aspectos relacionados com a etologia dos peixes. Acta Scientiarum. Biological Sciences, Maringá, v. 22, n. 2, p. 553-560, 2000., Costa-Neto et al. (2008)COSTA-NETO, Eraldo Medeiros; DIAS, Cristiano Villela; DE MELO, Márcia Nogueira. O conhecimento ictiológico tradicional dos pescadores da cidade de Barra, região do médio São Francisco, estado da Bahia, Brasil. Acta Scientiarum. Biological Sciences, Maringá, v. 24, n. 2, p. 561-572, 2008., Clauzet et al. (2005)CLAUZET, Mariana; RAMIRES, Milena; BARRELLA, Walter. Pesca artesanal e conhecimento local de duas populações caiçaras (enseada do Mar Virado e Barra do Una) no litoral de São Paulo, Brasil. MultiCiência, Campinas, v. 4, p. 1-22, 2005. e Brandão e Da Silva (2008)BRANDÃO, Fernanda Colares; DA SILVA, Luis Mauricio Abdon. Conhecimento ecológico tradicional dos pescadores da Floresta Nacional do Amapá. UAKARI, Tefé, v. 4, n. 2, p. 55-66, 2008. DOI: https://doi.org/10.31420/uakari.v4i2.43.
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. Os pescadores acumularam, portanto, informações relevantes sobre as espécies, especialmente quanto à sua participação na cadeia trófica do ecossistema aquático, sendo essas informações repassadas adiante.

Quando estou pescando fico observando se tem fruteiras maduras que estão caindo na água. Nem todo peixe gosta de comer carne, tem uns que só comem frutas. Cada um tem preferência por um tipo de isca. A gente usa minhoca, essa não falha [usada para diversos tipos de peixes], gafanhoto, milho, fruteiras do rio, massinha, carne, peixes pequenos e iscas artificiais. (IB, 36 anos, ♂).

Dá para pescar com um monte de coisas: antigamente nós usávamos pedaço de sacolas coloridas, palha de milho seco, borracha de chinelo, para pescar tucunaré e matrinchã. Agora, para pescar, vai na cidade e compra iscas. Tem de vários tipos, umas até parecem com peixinho mesmo.

(MC, 57 anos, ♂).

Quanto ao uso de iscas artificias, Costa-Neto e Marques (2000, p. 557)COSTA-NETO, Eraldo Medeiros; MARQUES, José Geraldo Wanderley. Etnoictiologia dos pescadores artesanais de Siribinha, município de Conde (Bahia): aspectos relacionados com a etologia dos peixes. Acta Scientiarum. Biological Sciences, Maringá, v. 22, n. 2, p. 553-560, 2000. descrevem que o “[...] modo de influenciar o comportamento alimentar dos peixes provém da inserção de cadeias tróficas artificiais, resultantes do conhecimento da interação presa/predador”. Este tipo de comportamento foi definido como coevolução por Diegues et al. (2000)DIEGUES, Antonio Carlos S.; ARRUDA, Rinaldo Sergio Vieira; DA SILVA, Viviane Capezzuto Ferreira; FIGOLS, Francisca Aida Barboza; ANDRADE, Daniela. Os saberes tradicionais e a biodiversidade no Brasil. São Paulo: NUPAUB-USP/PROBIO-MMA/CNPq, 2000., pois possibilita a organismos distintos a adaptação a diversos ambientes.

Destaca-se que, para os quilombolas desta pesquisa, a pesca não tem efeitos diretos na fonte de renda, uma vez que não há pescadores profissionais nas comunidades. Esta atividade é caracterizada como uma importante fonte de proteína animal e tem um papel-chave na autossubsistência, já que os peixes, na maioria das vezes, representam a maior oferta de proteína animal advinda das espécies nativas da Amazônia, segundo Murrieta e Dufour (2004)MURRIETA, Rui Sergio Sereni; DUFOUR, Darna L. Fish and farinha: protein and energy consumption in Amazonian rural communities on Ituqui Island, Brazil. Ecology of Food and Nutrition, London, v. 43, n. 3, p. 231-255, 2004. DOI: https://doi.org/10.1080/03670240490447550.
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, Adams et al. (2005)ADAMS, Cristina; MURRIETA, Rui Sérgio Sereni; SANCHES, Rosely A. Agricultura e alimentação em populações ribeirinhas das várzeas do Amazonas: novas perspectivas. Ambiente & Sociedade, Campinas, v. 8, n. 1, p. 65-86, jan.-jun. 2005. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1414-753X2005000100005.
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, Silva (2007)SILVA, Andréa Leme da. Comida de gente: preferências e tabus alimentares entre os ribeirinhos do médio rio Negro (Amazonas, Brasil). Revista de Antropologia, São Paulo, v. 50, n. 1, p. 125-179, jan.-jun. 2007. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-77012007000100004.
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, Murrieta et al. (2008)MURRIETA, Rui Sérgio Sereni; BAKRI, Maissa Salah; ADAMS, Cristina; OLIVEIRA, Perpétuo Socorro de Souza; STRUMPF, Roberto. Consumo alimentar e ecologia de populações ribeirinhas em dois ecossistemas amazônicos: um estudo comparativo. Revista de Nutrição, Campinas, v. 21, p. 123s-133s, jul.-ago. 2008. Suplemento. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1415-52732008000700011.
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e Figueiredo e Barros (2016)FIGUEIREDO, Rodrigo Augusto Alves de; BARROS, Flávio Bezerra. Caçar, preparar e comer o ‘bicho do mato’: práticas alimentares entre os quilombolas na Reserva Extrativista Ipaú-Anilzinho (Pará). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 11, n. 3, p. 691-713, set.-dez. 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1981.81222016000300009.
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.

Segundo informações repassadas e observadas in loco, o consumo de peixes pelos quilombolas está diretamente vinculado com as variações sazonais dos rios da região. A frequência do consumo é maior na seca, quando os rios apresentam pouco volume de água e há formações de lagos, deixando muitas espécies isoladas do canal principal. Já no período da cheia, de novembro a fevereiro, que coincide com a piracema, o consumo diminui. Em Mato Grosso, esse fenômeno é regulamentado pela resolução do Conselho Estadual da Pesca (CEPESCA) de n. 2, de 05/08/2016 (Mato Grosso, 2016MATO GROSSO. Resolução CEPESCA n. 2, de 05 de agosto de 2016. Estabelece o período de defeso da piracema nos rios das bacias hidrográficas do Paraguai, Amazonas e Araguaia-Tocantins, em Mato Grosso. Diário Oficial [do] Estado de Mato Grosso, Cuiabá, 5 ago. 2016. Edição n. 26834, p. 51-52.), e pela lei n. 9.893, que autoriza “[...] a pesca artesanal de subsistência, desembarcada por populações ribeirinhas e/ou tradicionais [...]” (Mato Grosso, 2013MATO GROSSO. Lei n. 9893 de 01 de março de 2013. Modifica dispositivos da Lei n. 9.096, de 16 de janeiro de 2009, alterada pela Lei n. 9.794, de 30 de julho de 2012, e dá outras providências. Diário Oficial [do] Estado de Mato Grosso, Cuiabá, 1 mar. 2013. Edição n. 25996, p. 1-2., p. 1). Esse tipo de pescaria usualmente é efetivado individualmente ou por grupos de duas a três pessoas, com uso de equipamentos não sofisticados (Diegues, 1988).

Quando há início da temporada das chuvas, os rios transbordam, diminuindo as áreas acessíveis. Durante a piracema, segundo as legislações citadas (Mato Grosso, 2013MATO GROSSO. Lei n. 9893 de 01 de março de 2013. Modifica dispositivos da Lei n. 9.096, de 16 de janeiro de 2009, alterada pela Lei n. 9.794, de 30 de julho de 2012, e dá outras providências. Diário Oficial [do] Estado de Mato Grosso, Cuiabá, 1 mar. 2013. Edição n. 25996, p. 1-2., 2016), não é permitida a pesca embarcada nos rios e nos lagos. Os quilombolas pescam nos escassos locais acessíveis, onde há reduzida disponibilidade de espécies, o que afeta diretamente o consumo desses alimentos nas comunidades. Isso é diferente do que ocorre na ilha do Ituqui, no Pará, onde o consumo de peixe permaneceu estável em ambas as estações do ano em todos os domicílios pesquisados por Murrieta e Dufour (2004)MURRIETA, Rui Sergio Sereni; DUFOUR, Darna L. Fish and farinha: protein and energy consumption in Amazonian rural communities on Ituqui Island, Brazil. Ecology of Food and Nutrition, London, v. 43, n. 3, p. 231-255, 2004. DOI: https://doi.org/10.1080/03670240490447550.
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.

De modo geral, a pesca nas comunidades quilombolas ocorre com uso de equipamentos artesanais, que, para eles, são eficientes, já que geralmente a pesca transcorre entre uma a duas horas, principalmente quando são capturadas traíras e piranhas. Nascimento e Guerra (2016)NASCIMENTO, Elcio Costa do; GUERRA, Gutemberg Armando Diniz. Do avortado ao comprado: práticas alimentares e a segurança alimentar da comunidade quilombola do baixo Acaraqui, Abaetetuba, Pará. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 11, n. 1, p. 225-241, jan.-abr. 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1981.81222016000100012.
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relatam que, em Abaetetuba, no estado do Pará, os peixes estão se tornando escassos, ocasionando maior tempo de deslocamento para encontrar os cardumes. Esta redução está ligada às práticas predatórias não seletivas na captura utilizada por alguns pescadores da região.

O equipamento mais empregado na pesca pelos quilombolas é, no geral, uma linha resistente, cuja espessura varia entre 0,50-0,60 mm, sendo que, em uma das extremidades, é inserido um peso no anzol, feito com encastalho de metal, e na outra é amarrada uma vara de madeira resistente, leve e flexível, usualmente confeccionada com bambu. Equipamentos similares a este foram observados em uso por pescadores da Floresta Nacional do Amapá (Brandão; Da Silva, 2008BRANDÃO, Fernanda Colares; DA SILVA, Luis Mauricio Abdon. Conhecimento ecológico tradicional dos pescadores da Floresta Nacional do Amapá. UAKARI, Tefé, v. 4, n. 2, p. 55-66, 2008. DOI: https://doi.org/10.31420/uakari.v4i2.43.
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). Quase sempre são materiais de menor impacto, cujo uso em longo prazo não tende a afetar rudemente a disponibilidade do estoque pesqueiro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conhecimento demonstrado neste estudo pelos quilombolas é amplo, caracterizado pela diversidade de espécies de peixes mencionada por eles, bem como pelas práticas e pelos artifícios empregados na pesca. Evidências notadas in loco sugerem que essas informações estão sendo transmitidas há gerações entre os quilombolas.

O método empregado permitiu constatar concordância cultural com relação às informações contidas na lista de peixes e também no que se refere às afinidades das respostas acerca da pesca. As relações de consanguinidade existentes entre os quilombolas das três comunidades desta pesquisa destacam a coparticipação na pesca e o compartilhamento de pescados capturados e de informações sobre os ambientes onde estão mais acessíveis, bem como sobre quais equipamentos devem ser usados, aspectos que tranquilamente corroboram a proposição deste artigo.

Os quilombolas possuem extenso conhecimento ancestral no que diz respeito aos procedimentos empregados na pesca tradicional nas comunidades, aos ambientes e às espécies encontradas, bem como aos engodos mais apropriados para cada espécie. A proximidade com os peixes e os rios da região desde criança e a convivência com os mais experientes, aliada à observação de suas estratégias, corroboram a percepção quanto à afinidade que os quilombolas apresentam com a paisagem, evidenciada na forma como usam e manejam a biodiversidade local há décadas.

O saber tradicional e as regras culturais, demarcadores de uma identidade, não são meros conhecimentos estanques, sendo, na realidade, uma herança cultural que deve ser valorizada por gestores, os quais precisam garantir o direito de participação das populações nos planos de manejo e de conservação que demandem a observação do conhecimento local e sua potencial contribuição, a fim de facilitar a efetivação de estratégias de conservação.

  • 1
    São alimentos que, na crença popular, apresentam energias negativas, sendo carregados. Por essa razão, devem ser consumidos com restrições por pessoas que se encontram debilitadas, pois acredita-se que dificultam a recuperação da saúde.
  • 2
    Oposto de remoso.
  • 3
    Nome atribuído pelos quilombolas para comunidades de vegetações aquáticas flutuantes e fixas, nativas ou introduzidas pelo homem.

AGRADECIMENTOS

Ao programa de doutorado da Rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal (BIONORTE); à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT), pela bolsa de doutorado (edital n. 002/2015); à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa do programa de doutorado sanduíche no exterior (PDSE) (processo 88881.133724/2016-01); ao programa de pós-graduação em Biodiversidade e Conservação, do Centro de Investigações Biológicas, da Universidade Autónoma do Estado de Hidalgo, México, por receber o primeiro autor, em intercâmbio (doutorado sanduíche); aos quilombolas das comunidades Casalvasco e Manga, Boqueirão e Retiro, pelo conhecimento partilhado e pelas receptividades.

Apêndice Lista livre das etnoespécies de peixes conhecidas e usadas nas comunidades quilombolas de Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso, Brasil. Legendas: A = alimentar; I = isca; M = medicinal; Aq = aquarismo. Os números em negrito na lista indicam as rupturas ou os agrupamentos.

N Etnoespécies Abreviação Nome científico Frequência (%) Ranque Índice de Smith (S) Categorias de uso 1 Traíra Tr Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) 94 3,83 0,807 A, I, M 2 Tucunaré Tu Cichla sp. 87 3,22 0,781 A 3 Cachara Ch Pseudoplatystoma fasciatum (Linnaeus, 1766) 68 5,71 0,532 A 4 Caravaçu Cç Astronotus ocellatus (Agassiz, 1831) 81 9,16 0,505 A, I 5 Cará Cr Satanoperca pappaterra (Heckel, 1840) 77 9,21 0,481 A, I, Aq 6 Matrinchã Mt Brycon cephalus (Günther, 1869) 68 6,90 0,479 A 7 Pacu Pc Piaractus brachypomus (G. Cuvier, 1818) 68 9,38 0,400 A 8 Pintado Pd Pseudoplatystoma corruscans (Spix & Agassiz, 1829) 55 8,00 0,384 A 9 Bagre Br Pimelodus sp. 58 9,06 0,380 A, I, M 10 Tambaqui Tb Colossoma macropomum (Cuvier, 1818) 52 8,06 0,361 A 11 Piranha-vermelha Ph Pygocentrus nattereri (Kner, 1860) 65 11,15 0,351 A, I 12 Pacupeva Pv Mylossoma aureum (Spix & Agassiz, 1829) 68 11,52 0,342 A 13 Lambari Lb Astianax sp. 58 11,44 0,314 A, I 14 Piau-três-pintas Pt Leporinus freiderici (Bloch, 1794) 65 13,75 0,284 A, I 15 Jatuarana Jt Brycon melanopterus (Cope, 1872) 32 7,10 0,238 A 16 Piranha-preta Pp Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1766) 52 13,88 0,231 A, I 17 Arraia Ar Potamotrygon falkneri (Castex & Maciel, 1963) 45 12,14 0,229 A, M, Aq 18 Jaú Ju Zungaro zungaro (Humboldt & Valenciennes, 1821) 39 9,75 0,229 A 19 Caparari Cp Pseudoplatystoma tigrinum (Valenciennes, 1840) 39 10,75 0,221 A 20 Corvina Cv Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840) 52 13,0 0,217 A, I 21 Curimbatá Co Prochilodus nigricans (Spix & Agassiz, 1829) 45 14,21 0,204 A, I 22 Piauçu Pç Leporinus macrocephalus (Garavello & Britski, 1988) 52 14,50 0,200 A 23 Cachorra-facão Cf Hydrolycus scomberoides (G. Cuvier, 1819) 45 14,36 0,197 A 24 Peixe-novo Pn Pellona castelnaeana (Valenciennes, 1847) 48 14,60 0,181 A 25 Peixe-elétrico Pe Electrophoridae eletricus (Linnaeus, 1766) 55 16,59 0,177 M 26 Palmito Pl Ageneiosus brevifilis (Valenciennes, 1840) 39 13,67 0,173 A 27 Jiju Jj Erythrinus erythrinus (Bloch & Schneider, 1801) 32 13,80 0,160 A, I 28 Muçum Mç Synbranchus marmoratus (Bloch, 1795) 42 14,62 0,152 I 29 Guenza Gz Crenicichla lepidota (Heckel, 1840) 29 13,78 0,145 A, I 30 Cardinal Cd Paracheirodon axelrodi (Schultz, 1956) 39 15,17 0,144 Aq 31 Piapara Pb Schyzodon borelli (Boulenger, 1900) 35 13,70 0,139 A, I 32 Pirarara Pi Phractocephalus hemioliopterus (Bloch & Schneider, 1801) 32 14,45 0,139 A 33 Abotoado Ab Oxydoras niger (Valenciennes, 1821) 35 14,91 0,138 A, I 34 Cará-boi Cb Geophagus proximus (Calstenau, 1855) 35 14,73 0,137 A, I 35 Gorro Gr Liposarcus multiradiatus (Hancock, 1828) 32 16,80 0,119 A 36 Camboatá Ct Hoplosternum littorale (Hancock, 1828) 29 13,78 0,116 I 37 Piau-onça Po Leporinus fasciatus (Bloch, 1794) 29 15,44 0,115 A, I, Aq 38 Piranha-amarela Pm Serrasalmus maculatus (Kner, 1858) 29 15,78 0,101 A, I 39 Bagre-sapo Bs Trachelyopterus teaguei (Devincenzi, 1942) 19 14,33 0,086 A, I, M 40 Saicanga Sg Acestrorrynchus sp. 32 19,10 0,079 A, I 41 Sauá Sh Tetragonopterus argenteus (Cuvier, 1816) 29 16,89 0,077 A, I 42 Cará-bandeira Bd Pterophyllum scalare (Schultze, 1823) 13 14,25 0,055 Aq 43 Tuvira Tv Sternopygus macrurus (Bloch & Schneider, 1801) 29 21,22 0,053 I 44 Cachorra Ca Acestrorhynchus falcatus (Bloch, 1794) 13 16,50 0,052 A 45 Sardinha Sr Triportheus angulares (Spix & Agassiz, 1829) 39 19,58 0,048 A, I 46 Peixe-agulha Pa Loricaria sp. 19 21,17 0,047 I, Aq 47 Sucuri Su Eunetes sp. 3 23,00 0,001 A, M Total/Média: 21.000

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2018

Histórico

  • Recebido
    27 Set 2017
  • Aceito
    21 Mar 2018
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