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Terminologias de parentesco dos grupos da família linguística Mondé

Kinship terminology of the groups of the Mondé language family

Resumo

Este artigo apresenta alguns resultados preliminares de estudos acerca da terminologia de parentesco usada pelos grupos indígenas da família linguística Mondé, do tronco Tupi. A investigação é mais detalhada no caso dos Gavião de Rondônia, cuja terminologia de parentesco é descrita e considerada em relação à nominação e ao casamento. São apresentados alguns dados da terminologia de parentesco para os povos Paiter (Suruí de Rondônia), Cinta Larga, Salamãy e Aruá. A terminologia das relações de parentesco básicas dos povos Gavião, Cinta Larga e Paiter é apresentada a fim de se investigar a variação dentro da família. A análise linguística dos termos revela aspectos do pensamento indígena sobre parentesco. Os métodos da linguística diacrônica são utilizados para fornecer evidências sobre a terminologia de parentesco do grupo ancestral, Proto-Mondé, e sobre a evolução dos sistemas terminológicos atuais.

Palavras-chave
Família linguística Mondé; Gavião de Rondônia; Paiter; Terminologia de parentesco; Proto-Mondé

Abstract

This article presents some preliminary results from studies on the kinship terminology used by indigenous groups of the Mondé branch of the Tupi language family. This investigation pays particular attention to the Gavião people of Rondônia, whose kinship terminology is described and considered in relation to naming and marriage pratices. Some kinship terminology data is also included for the Paiter (Suruí of Rondônia), Cinta Larga, Salamãy, and Aruá groups, and terminology for basic kinship relations in the Gavião, Cinta Larga, and Paiter are also presented to investigate variation within the family. Linguistic analysis of these terms reveals aspects of the indigenous view of kinship. Diachronic linguistic methods are utilized to generate findings on kinship terminology in the ancestral group, Proto-Mondé, and on the evolution of contemporary terminological systems.

Keywords
Mondé language family; Gavião of Rondônia; Paiter; Kinship terminology; Proto-Mondé

TERMINOLOGIA DE PARENTESCO GAVIÃO

A terminologia de parentesco dos Gavião é descrita a seguir como exemplo de um dos sistemas terminológicos dos grupos da família Mondé. Essa terminologia é discutida em relação à nominação e ao casamento entre os Gavião. Os símbolos usados para escrever palavras em Gavião geralmente são pronunciados tal como no português, estando as maiores diferenças nas vogais prolongadas, representadas por duas vogais, e o tom, representado por diacríticos. A transcrição dos dialetos e das línguas da família Mondé é explicada na seção sobre a transcrição dos dados.

OS GAVIÃO

Os Gavião, que preferem ser chamados de Ikõ’léèy, residem na Terra Indígena (TI) Igarapé Lourdes, em Rondônia, na Amazônia meridional. Falantes de uma língua do tronco Tupi, da família linguística Mondé, constituem um grupo étnico pouco conhecido da etnologia ameríndia. As etnografias disponíveis a seu respeito são recentes (Bento, 2013BENTO, Rodolpho. A flecha mata porque tem vida: um estudo etnográfico sobre os artefatos de caça dos Gavião Ikólóéhj. 2013. Dissertação (Mestrado em Ciências Humanas) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2013. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/232?show=full. Acesso em: set. 2014.
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; Felzke, 2007FELZKE, Lediane Fani. Quando os ouriços começam a cair: a coleta da castanha entre os Gavião de Rondônia. 2007. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente) – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, 2007. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp081286.pdf. Acesso em: mar. 2017.
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, 2017FELZKE, Lediane Fani. Dança e imortalidade: igreja, festa e xamanismo entre os Ikólóéhj Gavião de Rondônia. 2017. Tese (Doutorado em Antropologia) – Universidade de Brasília, Brasília, 2017. Disponível em: http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UNB_ae8a42b3ccb9e021d6b30400e96162b1. Acesso em: ago. 2017.
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) e o conhecimento a respeito de sua organização social e sobre as relações de parentesco que permeiam sua socialidade é ainda muito reduzido. Este artigo se propõe a expor dados preliminares a esse respeito, a fim de promover o debate e de estimular pesquisas sobre esse tema, considerado caro aos Ikõ’léèy.

Tais dados foram coletados pela coautora durante treze meses de pesquisa de campo realizada nas aldeias, entre os anos de 2013 e 2015, período no qual foi levantada a genealogia de aproximadamente 90% dos grupos familiares, e apenas uma pequena parte dos resultados desse levantamento foi analisada. Uma reflexão mais apurada demanda um tempo mais elástico, sobretudo tendo em vista as complexas relações de parentesco que orientam as relações sociais desse povo.

O PARENTESCO E AS RELAÇÕES SOCIAIS ‘ENTRE SI’ E COM OS ‘OUTROS’: REFLEXÕES INICIAIS

Embora estejam atualmente confinados nos 185.533 hectares da sua Terra Indígena, demarcada entre 1976 e 1977, nossos interlocutores habitavam, desde tempos imemoriais, os igarapés tributários dos rios Aripuanã, Roosevelt, Branco e Madeirinha. Narrativas orais e pesquisas bibliográficas dão conta de que os grupos familiares foram se deslocando para o sul, a partir do rio Aripuanã, até ocuparem os igarapés das cabeceiras dos rios Branco e Madeirinha e, mais recentemente, do igarapé Lourdes (Felzke, 2017FELZKE, Lediane Fani. Dança e imortalidade: igreja, festa e xamanismo entre os Ikólóéhj Gavião de Rondônia. 2017. Tese (Doutorado em Antropologia) – Universidade de Brasília, Brasília, 2017. Disponível em: http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UNB_ae8a42b3ccb9e021d6b30400e96162b1. Acesso em: ago. 2017.
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). Neste périplo de deslocamentos, as alianças dos Gavião com outros grupos eram frequentes, em especial com os Zoró e os Arara. As relações com as famílias Zoró oscilavam entre intercasamentos e guerras (Brunelli, 1989BRUNELLI, Gílio. De los espíritos a los micróbios: salud y sociedad em transformación entre los Zoró de la Amazonía Brasileña. Quito: Abya-Yala; Roma: MLAL, 1989. (Colección 500 años).). O contato com os Arara, inicialmente pacífico, foi abalado por um grave conflito envolvendo a morte de indígenas Arara, em decorrência de ação feita por guerreiros Gavião.

Ambos os casos, no entanto, evidenciam o interesse exogâmico dos Gavião, apesar do ideal endogâmico manifestado nas falas dos interlocutores e nas próprias regras matrimoniais, que prescrevem o casamento de ego masculino com a filha da irmã (ZD1 1 As siglas dos termos de parentesco utilizadas ao longo do artigo e também no Apêndice correspondem a letras iniciais dos vocábulos em inglês, em que: F = father (pai), M = mother (mãe), S = son (filho), D = daughter (filha), B = brother (irmão), Z (para diferenciar de son) = sister (irmã), W = wife (esposa), H = husband (marido). Dito isso, as siglas dos termos são apresentadas segundo sua ordem de escrita em inglês, qual seja: ZD = sister’s daughter (filha da irmã), FZ = father’s sister (irmã do pai), MBD = mother’s brother’s daughter (filha do irmão da mãe), e assim sucessivamente ), a irmã do pai (FZ) e a filha do irmão da mãe (MBD), o que é coerente com a afirmação de Viveiros de Castro (1995, p. 12)VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo (org.). Antropologia do parentesco: estudos ameríndios. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1995. em relação à Amazônia:

[...] onde domina uma morfologia de grupos locais pequenos e atomizados, o casamento de primos cruzados bilaterais se realiza comumente dentro de uma moldura de endogamia local. Sinais de uma preferência matrimonial avuncular (que coexiste com o casamento de primos) marcam várias terminologias do tronco Tupi e algumas terminologias da família Caribe.

A distinção dos Gavião em relação a esta configuração amazônica ocorre pela ausência de bilateralidade, pois, entre eles, na geração do ego, apenas a prima cruzada matrilateral (MBD) é considerada õ’barápit (primeira pessoa do singular), ou seja, uma mulher casável. A prima cruzada patrilateral (FZD) é considerada filha, ou seja, õ’di (primeira pessoa do singular), pois sua mãe é um dos casamentos preferenciais de ego (FZ = W). Os Gavião possuem uma terminologia de feições dravidianas, mas apresentam distinções importantes em relação ao dravidianato clássico. A similitude com a terminologia dravidiana fica por conta do uso do mesmo termo para pai (F) e irmão do pai (FB), enquanto utiliza-se termo distinto para o irmão da mãe (MB), que equivale ao WF para ego masculino, ou seja, o sogro. Do lado materno, o mesmo termo para mãe (M) é utilizado para irmã da mãe (MZ), enquanto a irmã do pai (FZ) leva termo distinto. No caso de ego masculino, a irmã do pai é uma mulher casável (FZ = W).

Intriga a versatilidade da categoria -sérat, o que parece ser uma distinção do sistema de parentesco Ikõ’léèy em relação ao dravidianato. O termo -sérat está presente em todas as gerações no caso de ego masculino, estando ausente apenas da geração do ego (∅) no caso de ego feminino, como pode ser conferido nas Figuras 1 e 2 e nos Quadros 1 e 2.

Figura 1
Categorias de parentesco a partir de ego masculino.
Figura 2
Categorias de parentesco a partir de ego feminino.
Quadro 1
Legenda dos vocativos e dos termos de referência em relação a ego masculino. O * indica quais mulheres são casáveis.
Quadro 2
Legenda dos vocativos e dos termos de referência em relação a ego feminino.

Trata-se de uma categoria de afinidade que define, para ego masculino, que o -sérat é o pai da mulher casável – o sogro – ou o irmão dela – o cunhado; e para ego feminino é o próprio homem casável. A literatura sobre os grupos da família Mondé informa que, para os homens, a configuração MB/ZD (irmão da mãe com a filha da irmã) é o casamento preferencial. Os Cinta Larga informaram para Dal Poz (1991, p. 110) que o “[...] casamento bom [...]” é aquele realizado com a filha da irmã, e que esta mulher (ZD) chama seu tio materno (MB) de kokó. Brunelli (1989)BRUNELLI, Gílio. De los espíritos a los micróbios: salud y sociedad em transformación entre los Zoró de la Amazonía Brasileña. Quito: Abya-Yala; Roma: MLAL, 1989. (Colección 500 años). informa que este também é o casamento preferencial entre os Zoró e que, entre eles, a filha da irmã chama o irmão da mãe de kur-kur. Entre os Gavião, ambos os termos equivalem à categoria -sérat para o caso do MB (irmão da mãe). Brunelli (1989)BRUNELLI, Gílio. De los espíritos a los micróbios: salud y sociedad em transformación entre los Zoró de la Amazonía Brasileña. Quito: Abya-Yala; Roma: MLAL, 1989. (Colección 500 años). ainda faz referência ao casamento com as primas cruzadas bilaterais, mas nenhum destes autores encontrou casamento da irmã do pai com o filho do irmão (FZ/BS), como ocorre entre os Gavião.

Ao ser perguntado se os Gavião não chamam o -sérat (MB) de kótkóòt – que, como vimos, parece ser comum aos outros grupos da família Mondé –, um interlocutor respondeu: “não muito, isso é mais costume Zoró” (informação verbal)2 2 Informação obtida em conversa com um interlocutor Gavião durante a pesquisa de campo da autora na aldeia Ikólóéhj, realizada entre os meses de agosto de 2013 e julho de 2015. As demais falas de indígenas citadas neste artigo ocorreram no mesmo contexto. , confirmando que este vocativo era mais utilizado ‘antigamente’.

Percebe-se que, dos Cinta Larga aos Gavião, passando pelos Zoró, a categoria -sérat foi assumindo mais posições, embora não soubéssemos inferir o significado disso em termos sociológicos. Poderíamos falar em uma idiossincrasia do caso Gavião, por conta desta terminologia incomum? Pensamos que não. Ao que parece, a nominação pode estar na base da disseminação do vocativo -sérat para todas as gerações. Hugh-Jones (2002, p. 45) já dizia, em texto sobre nominação no noroeste amazônico, que “A relevância dos nomes pessoais e dos sistemas de nominação é uma das marcas distintivas da literatura etnográfica sobre as terras baixas da América do Sul”; nos Gavião, ela está ligada à continuidade do tîì – o princípio vital –, às relações de afinidade e ainda constitui um emblema de prestígio ao nomeador, pois, ao nomear, ele está produzindo um ‘outro’ de si mesmo, um ‘xerox’, como afirmam os interlocutores.

NOMINAÇÃO ENTRE OS GAVIÃO

Dizem os Gavião que qualquer um pode dar um nome (seu nome) a uma criança, mas, na vida ordinária, percebe-se algumas regras. Prioritariamente, as mulheres nominam as meninas e os homens, os meninos. Normalmente, esses nomes são dados pelos avós, materno ou paterno, ou pelo irmão da mãe, o -sérat. Vejamos alguns exemplos masculinos.

O termo de referência e’-zérat (seu -sérat) contém e’-zét, ‘seu nome’, e um nominalizador -t. De fato, são os homens da posição -sérat, preferencialmente o tio materno (MB), mas eventualmente também os avôs materno (MF) e paterno (FF), os que nomeiam os meninos ao nascerem. Há, portanto, uma tendência de um sogro nominar um genro potencial. Isso ocorre tanto no casamento de ego com a prima cruzada matrilateral (MBD), no casamento amital (FZ), aquele efetivado entre ego e a irmã do pai, e no casamento avuncular (ZD), que ocorre entre ego e a filha da irmã, ou seja, os três tipos de casamento preferencial. Embora seja menos comum, um pai pode nominar o próprio filho, mas não poderíamos afirmar em que situação isso ocorre.

Antes de entrarmos nos exemplos de nominação propriamente ditos, indicamos alguns pontos sobre esta ação para os Gavião, que, assim como para os outros ameríndios, não se trata apenas de dar um nome, como já analisaram Gonçalves (1993)GONÇALVES, Marco Antônio. O significado do nome. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1993. e Hugh-Jones (2002)HUGH-JONES, Stephen. Nomes secretos e riqueza visível: nominação no noroeste amazônico. Mana, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 45-68, out. 2002. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-93132002000200002.
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, entre outros. Quando a criança recebe o primeiro nome, é o tîì, o princípio vital, a alma verdadeira, do seu nominador que passa a fazer parte dela. Essa é uma forma de este homem se duplicar no mundo. Como disse Sebirop, chefe dos Gavião e um dos principais interlocutores desta pesquisa, “quando meu zêrat dá seu nome pra mim, eu sou ele, sou a cópia dele” (informação verbal). Para os nominadores, nominar crianças é sinal de prestígio porque isso amplia a sua influência. Ao se referir a um nominado que mora hoje entre os Zoró, Sebirop afirma: “é um de mim que mora lá nos Zoró” (informação verbal). Entre os nominados, o respeito e o orgulho prevalecem por receberem o nome de uma pessoa prestigiada, de um zavijaày.

No decorrer da vida, uma pessoa vai adquirindo nomes – o nome dado pelo seu -sérat, nomes comuns, incorporados diante de acontecimentos importantes (tais como festas e viagens), e também nomes jocosos, atribuídos por amigos –, algo similar com o que Hugh-Jones (2002)HUGH-JONES, Stephen. Nomes secretos e riqueza visível: nominação no noroeste amazônico. Mana, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 45-68, out. 2002. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-93132002000200002.
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encontrou no noroeste amazônico. Os mais velhos possuem um arsenal de nomes, que são repassados por ocasião do nascimento dos seus -séraréèy (sobrinhos, netos). Quanto mais prestigiado for o -sérat, mais nomes ele agregará e, portanto, mais nomes entregará.

Partindo-se do pressuposto ora pontuado, de que o sogro nomeia seu genro potencial, vejamos quais são as relações entre nominador/nominado e as regras dos casamentos preferenciais Gavião (Figuras 3 a 5).

Figura 3
Relação entre nominação e casamento com a MBD.
Figura 4
Relação entre nominação e casamento amital.
Figura 5
Relação entre nominação e casamento avuncular.

Na Figura 3, o irmão da mãe, o -sérat (1) é o nominador do filho da irmã (3), chamado igualmente de -sérat. O nomeado é um possível noivo para a filha de 1. A linha dupla diagonal refere-se à relação de nominação. De 29 casamentos analisados que são considerados ‘corretos’, treze seguiram esta configuração – casamento de ego com a MBD –, embora não fosse possível afirmar, com certeza, que em todos esses casos foi o irmão da mãe quem nomeou o genro.

Na Figura 4, é o avô paterno (1) quem nomeia o filho do seu filho (5), cujo casamento com a irmã do pai, a boyá (4), é uma das possibilidades matrimoniais para os homens, embora este seja o casamento ‘correto’ do ponto de vista das mulheres mais velhas.

A Figura 5 traz o modelo para o casamento avuncular (MB/ZD). Também neste caso o nominador é potencialmente um sogro, mas também um cunhado, na medida em que o nominador pode casar com a irmã do nominado, seguindo a equação MB/ZD. O -sérat (1) nomeia o filho de sua irmã (3/1), que é potencialmente um noivo para sua filha (2). Este noivo, por sua vez, é o -sérat (3/1), que nomeia igualmente o filho de sua irmã (3), o qual será seu genro ao casar com sua filha (2), e assim sucessivamente.

Sugerimos, outrossim, que o -sérat, ao nomear seu genro potencial, esteja assegurando seu prestígio através do marido de sua filha, seu ‘xerox’, afinal, com o ‘atrator uxorilocal’ operando, este homem irá morar com o sogro. Toda essa operação possibilita aos zavijaày (donos de maloca) atrair ‘afins’ que sejam ‘como ele’, próximos a ele, que possuam seu tîì.

SOBREVISÃO

Por fim, embora haja regras de casamento, de nominação e de residência, elas são bastante flexíveis, e sua observância ocorre muito em função do contexto. Vários casamentos considerados como ‘errados’ pelos interlocutores desta pesquisa são justificados por outras vias, diferentes das regras matrimoniais. Seguidas à risca mesmo são apenas as regras com relação aos parentes próximos, lineares e colaterais, à medida que as pessoas são pensadas como próximas ou distantes, tanto pelo cálculo genealógico quanto pelo residencial. Dizem os Gavião que “é melhor casar com o ‘de fora’ do que com ‘parente’” (informação verbal), “Deus me livre de casar com parente” (informação verbal), disse alguém. Nessas falas, parente é sinônimo de consanguíneo. Há, portanto, duas forças operando na socialidade Gavião: um ideal endogâmico, que deseja o casamento ‘entre si’ (Lima, 2005LIMA, Tânia Stolze. Um peixe olhou para mim: o povo Yudjá e a perspectiva. São Paulo: UNESP: ISA; Rio de Janeiro: NuTI, 2005.) para manter o sangue forte, como afirmaram alguns, e fortalecer o grupo diante dos ‘outros’, e o desejo exogâmico, que os leva estrategicamente a estabelecer alianças com todos os que cruzaram os seus caminhos e, assim, trazer pessoas para o grupo, a fim de aparentá-las, consanguinizá-las.

É essa equação que tenta equilibrar a relação ‘entre si’ e com os ‘outros’, que norteia a forma como os Gavião se constituíram enquanto povo. Atualmente, a relação com o ‘outro’ está em processo de ampliação, o que repercute na preocupação de que o povo está se misturando demais e, portanto, enfraquecendo.

Sugerimos, outrossim, que a busca por prestígio dos homens da aldeia seja uma importante característica da organização social Ikõ’léèy. Os homens nomeiam seus genros potenciais para ampliar a possibilidade de ter ‘outros de si’ liderando, futuramente, unidades residenciais, uxorilocais ou não. Nominar, organizar festas e ter ‘boa conduta’ caracteriza um homem de prestígio, um zavijaày póòy (literalmente, grande dono de maloca).

LINGUÍSTICA COMPARATIVA DA TERMINOLOGIA DE PARENTESCO NA FAMÍLIA MONDÉ

Por meio dos métodos da linguística diacrônica, é possível obter inferências sobre o passado de línguas e de culturas (Moore; Storto, 2002MOORE, Denny; STORTO, Luciana R. As línguas indígenas e a pré-história. In: PENA, Sérgio D. J. (ed.). Homo brasilis: aspectos científicos, linguísticos, históricos e socioantropológicos da formação do povo brasileiro. Ribeirão Preto: Editora FUNPEC, 2002. p. 73-92.). Podemos apresentar uma comparação em relação à terminologia de parentesco com base em três grupos que falam línguas da família Mondé, a fim de procurar cognatos e correspondências regulares de som. Sem entrar em questões maiores de parentesco Tupi, podemos consultar alguns estudos comparativos que incluem dados de outras famílias do tronco, para detectar termos que existiam no tronco antes do tempo de Proto-Mondé. Nesse ponto, não é possível apresentar uma reconstrução da terminologia de parentesco Proto-Mondé, mas podemos focalizar os termos de parentesco mais básicos, verificar a variabilidade entre os grupos e procurar evidências para a existência de termos básicos na protolíngua, bem como buscar entender a evolução das terminologias atuais.

OS GRUPOS E AS LÍNGUAS DA FAMÍLIA MONDÉ

Na classificação interna da família Mondé (Moore, 2005MOORE, Denny. Classificação interna da família linguística Mondé. Estudos Linguísticos, São José do Rio Preto, v. 34, p. 515-520, 2005. Disponível em: http://etnolinguistica.wdfiles.com/local--files/journal:estudos/moore_2005_monde.pdf. Acesso em: abr. 2018.
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), os Gavião, os Zoró, os Aruá e os Cinta Larga falam dialetos mutuamente inteligíveis de uma língua, enquanto a língua dos Paiter não é mutuamente inteligível (Figura 6). A língua dos Salamãy – erradamente chamados de Mondé por Lévi-Strauss (1985)LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes tropiques. Paris: Pocket, 1985. – é parecida, em alguns aspectos, com a dos Paiter e, em outros, com a dos Gavião, dos Zoró, dos Aruá e dos Cinta Larga.

Figura 6
Diagrama da classificação interna da família linguística Mondé.

No Apêndice, apresentamos dados de três grupos indígenas da família Mondé: Gavião, Cinta Larga e Paiter (Suruí). Os dados dos Gavião são os já apresentados neste texto, coletados e analisados pela primeira autora e analisados linguisticamente pelo segundo autor do artigo. Os dos Cinta Larga são oriundos da tese de Dal Poz (2004)DAL POZ, João. Dádivas e dívidas na Amazônia: parentesco, economia e ritual nos Cinta-Larga. 2004. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2004. Disponível em: http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/279928. Acesso em: mar. 2013.
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, às vezes inconsistentes com as informações de terminologia de parentesco constantes em sua dissertação (Dal Poz, 1991DAL POZ, João. No país dos Cinta Larga: uma etnografia do ritual. 1991. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1991. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-07112006-101647/pt-br.php. Acesso em: mar. 2013.
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). Sem ter materiais originais para resolver as inconsistências, optamos por considerar aquilo que foi fornecido pela tese como a análise mais madura do autor. Os dados da dissertação são mais próximos aos de Gavião e Paiter, e os termos de afinidade usados aqui são oriundos dessa fonte. Um ponto de partida para a coleta de informações acerca dos Paiter foi a leitura de um artigo elaborado por Bontkes e Merrifield (1985)BONTKES, Carolyn; MERRIFIELD, William R. On Surui (Tupian) social organization. In: MERRIFIELD, W. R. (ed.). South American kinship. Dallas: The International Museum of Cultures, 1985. p. 5-33. (Publications in Ethnography, 18).. Outro ponto de partida foi a consulta a uma lista de termos de parentesco apresentada na tese de Yvinec (2011)YVINEC, Cédric. Les monuments lyriques des Suruí du Rondônia (Amazonie méridionale): chants, événements et savoirs. 2011. Tese (Doutorado em Antropologia Social e Etnologia) – École des Hautes Études em Sciences Sociales, Paris, 2011., a qual focaliza outros aspectos da cultura Paiter, sendo que a lista de termos constantes nela difere em alguns pontos em relação aos resultados do estudo de Bontkes e Merrifield (1985)BONTKES, Carolyn; MERRIFIELD, William R. On Surui (Tupian) social organization. In: MERRIFIELD, W. R. (ed.). South American kinship. Dallas: The International Museum of Cultures, 1985. p. 5-33. (Publications in Ethnography, 18)..

Recentemente, o segundo autor deste artigo reavaliou os dados das duas fontes junto a um colaborador Paiter, entretanto, ainda não houve tempo para a realização de uma investigação mais profunda. Os resultados diferem parcialmente do que consta nas outras duas fontes sobre Paiter, Bontkes e Merrifield (1985)BONTKES, Carolyn; MERRIFIELD, William R. On Surui (Tupian) social organization. In: MERRIFIELD, W. R. (ed.). South American kinship. Dallas: The International Museum of Cultures, 1985. p. 5-33. (Publications in Ethnography, 18). e Yvinec (2011)YVINEC, Cédric. Les monuments lyriques des Suruí du Rondônia (Amazonie méridionale): chants, événements et savoirs. 2011. Tese (Doutorado em Antropologia Social e Etnologia) – École des Hautes Études em Sciences Sociales, Paris, 2011., ou no sistema de terminologia ou na transcrição. Algumas informações sobre termos de parentesco dos Aruá e dos Salamãy foram disponibilizadas em listas de palavras desses grupos, coletadas pelo segundo autor, as quais estão ainda incompletas, e a transcrição não foi subsidiada por estudos fonológicos. Porém, os dados serão mencionados quando forem relevantes para embasar conclusões.

A TRANSCRIÇÃO DOS DADOS

A transcrição dos termos em Gavião e Paiter foi regularizada para facilitar a comparação dos termos e para que fique mais transparente para linguistas. É basicamente a mesma transcrição que vem sendo usada ao longo de três décadas por Denny Moore. Nesse contexto, pode ser útil entender as transcrições missionárias, utilizadas em algumas publicações. A ortografia da língua dos Gavião foi criada pelo missionário Horst Stute e foi influenciada pela escrita alemã. Por exemplo, ele usou a letra h para representar prolongamento vocálico, e as consoantes finais -p, -t e -k são representadas pelas letras v, r e g. Na língua dos Gavião, dois tons prolongados caem para baixo no fim da sílaba quando nada seguir. A ortografia missionária só marca prolongamento nesses casos; nos tons constantes altos, baixos e ascendentes, o contraste entre vogais curtas e prolongadas não está sendo marcado. Por exemplo, o verbo aka, ‘matar’, e o verbo com prefixo aa-kaà, ‘3-ir’, saem iguais: aka (Stute, 1985STUTE, Horst. Os auxiliares dinâmicos da língua Gavião. In: FORTUNE, David (ed.). Porto Velho Workpapers. Brasília: SIL, 1985. p. 1-41.). O autor sublinhou vogais nasais. Possivelmente, o missionário Willem Bontkes foi influenciado por Stute (1985)STUTE, Horst. Os auxiliares dinâmicos da língua Gavião. In: FORTUNE, David (ed.). Porto Velho Workpapers. Brasília: SIL, 1985. p. 1-41. no uso da letra h para representar prolongamento vocálico em Paiter. Também as letras b, d e g, ao final da palavra, representam oclusivas surdas -p, -t e -k.

Os símbolos da transcrição usada aqui geralmente têm o seu valor fonético usual. Todavia, deve ser esclarecido que, na língua dos Gavião, c e j indicam africadas palatais, e s e z indicam africadas alveolares. Em Gavião, a nasalização de segmentos nasais espalha-se à direita sob certas condições. A consoante s, em Paiter, pode ser pronunciada como fricativa interdental, lateral ou laringeal sem voz, e x indica uma fricativa palatal, como no português. Nas duas línguas vogais prolongadas, elas são marcadas com duas vogais. O acento agudo marca tom alto, enquanto tom baixo não é marcado. Adicionalmente, em Gavião, o circunflexo indica tom ascendente e o acento grave indica um tom que varia de acordo com o que segue.

No Quadro 3, os termos de referência são apresentados na forma básica do radical, para minimizar confusão decorrente das alternações consonantais no início do radical. Por exemplo, a palavra para ‘irmão do mesmo sexo’ tem variações nas línguas Gavião e Paiter (Quadro 3).

Quadro 3
Variações para a palavra que designa ‘irmão do mesmo sexo’ nas línguas Gavião e Paiter.

Em Gavião e Paiter, um prefixo, ma-, ‘posse’, deriva radicais nominais de nomes livres. O radical pode ser possuído, por exemplo, na palavra para ‘avó’ em Gavião: boyá, ‘avó, vocativo’, e’-má-boyá, ‘sua avó’. As fronteiras entre morfemas são marcadas com um hífen, como no exemplo ora apresentado. Dessa forma, a composição morfológica de um termo pode ajudar a entender o pensamento indígena.

Já a transcrição das palavras dos Cinta Larga foi mantida no Apêndice, uma vez que não foi possível realizar uma análise fonológica da língua (que deve ser parecida com a língua dos Gavião), nem a elicitação dos termos.

As correspondências de som regulares entre Gavião e Paiter são estabelecidas (informação verbal)3 3 Notícia fornecida por Denny Moore, em comunicação apresentada no V Congresso Internacional de Línguas Amazônicas, intitulada “Aspects of the Proto-Mondé sound inventory”, realizado em Belém, no ano de 2014. , e as palavras cognatas (as descidas da mesma palavra na protolíngua) podem ser identificadas nessa base. Não há indicações de empréstimos entre as línguas dos três grupos (Gavião, Cinta Larga e Paiter), que geralmente mantinham relações hostis.

DADOS DE TRÊS GRUPOS MONDÉ COMPARADOS

Os dados apresentados no Apêndice incluem só termos básicos de interesse comparativo. Não são incluídos os menos centrais, como, do Paiter, -páxãn, ‘alguém respeitado de um outro clã’. Os termos são apresentados, de maneira geral, por geração. Porém, a discussão de uma expressão pode incluir a sua distribuição em outras faixas etárias. Não foi sempre possível confirmar as extensões dessas palavras ou o uso feminino delas. Falantes masculinos são indicados por (fm) e falantes femininas por (ff). Os referentes de cada vocábulo são indicados por símbolos-padrão de parentesco, conforme explicitado na nota de rodapé 1.

Discussão e reconstrução de terminologia

A seguir, os termos são comparados e analisados, sendo sugeridos cognatos para reconstruções de forma e semântica. Os termos seguem a ordem do Apêndice, organizados, de forma geral, em gerações. Os termos indígenas apresentados, geralmente, são formas básicas muito parecidas entre as línguas e os dialetos, provavelmente, sendo também muito parecidas com as formas presentes na protolíngua.

Geração G+2/-2

Serão considerados a princípio os termos da geração dos avôs. O primeiro desses também aparece em outras gerações.

-sér-a-t, ‘avô, tio, neto’

Este termo contém a raiz -sét, ‘nome’. O consoante final, -t, pode ser o sufixo de agente. Não se sabe o que é a vogal -a-: não existe hoje uma forma *-ser-a. Nos três grupos, o termo refere-se aos netos, que podem receber nomes do avô ou do tio materno. Na ausência de maiores informações, não podemos explicar por que o termo dos Cinta Larga, zerit, tem a última vogal diferente, nem por que há diferença na primeira consoante no termo terit.

Entre os Cinta Larga e os Paiter, o termo para MB é possivelmente uma construção sintática, e não um lexema. Em Paiter, esse termo é -ti sóa, ‘mãe irmão’. O termo entre os Aruá é parecido: -ti sóa. Então, tem-se como hipótese a ideia de que o termo -sérat foi originalmente aplicado aos netos, sendo subsequentemente aplicado pelos Gavião ao MB e aos avós. Todos os grupos têm um vocativo para MB (Gavião kótkóòt, Cinta Larga koko, Paiter kokó), possivelmente existindo uma palavra parecida, com esse sentido, na protolíngua. Porém, as correspondências não são regulares (a forma Gavião tem uma consoante t no final das sílabas e a última sílaba é prolongada) e as formas podem ser empréstimos, especialmente porque, por razões desconhecidas, formas parecidas, com sentido parecido, ocorrem em vários troncos linguísticos.

A hipótese de que o sentido original da palavra -ser-a-t foi ‘neto’ e, depois, se estendeu para ‘avô’ e ‘tio materno’ seria fortalecida se houvessem cognatos em outras línguas Tupi para o termo ãmõ’, em Paiter, comprovando a sua antiguidade. De fato, Mello (2000)MELLO, Antônio Augusto Souza. Estudo histórico da família linguística Tupi-Guaraní: aspectos fonológicos e lexicais. 2000. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2000. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/78560/170082.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: abr. 2018.
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reconstrói uma forma parecida, *amõy para ‘avô’, em Proto-Tupi-Guarani. Também Rodrigues (2010)RODRIGUES, Aryon D. Linguistic reconstruction of elements of Prehistoric Tupi Culture. In: CARLIN, Eithne B; VAN DE KERKE, Simon (ed.). Linguistics and Archaeology in the Americas: the historization of language and society. Leiden: Brill, 2010. p. 1-10. (Brill’s Studies in the Indigenous Languages of the Americas, 2). DOI: https://doi.org/10.1163/9789047427087.
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reconstrói a forma **amõy, em Proto-Tupi, para ‘avô’. Ele parece considerar a palavra moyá, ‘avó’, em Paiter, como também descendente da mesma protoforma, **amõy, sem explicar as diferenças na forma e no sentido. Uma certa cautela é necessária para se chegar a conclusões sobre quais palavras são cognatas, uma vez que outras formas parecidas existem, por exemplo: a palavra Cinta Larga amoj, ‘irmão genérico’, que deve ser cognata com Aruá ãbóy, ‘irmão mais idoso’, e Gavião ãbóy, ‘amigo’.

boyá, moyá, ‘avó’

Para ‘avó’, os cognatos Gavião boyá e Paiter moyá, que mostram correspondências regulares de som, indicam que a forma em Proto-Mondé era *moyá, evidenciando que a consoante inicial da palavra, em Gavião, foi afetada pela desnasalização, atestada em vários outros pares de cognatos (informação verbal)4 4 Notícia fornecida por Denny Moore, em comunicação apresentada no V Congresso Internacional de Línguas Amazônicas, intitulada “Aspects of the Proto-Mondé sound inventory”, realizado em Belém, no ano de 2014. . Não está claro por que a palavra em Cinta Larga é mamoj.

Geração G+1

-sop ‘pai’

Os termos para F e FB, Gavião -sop, Cinta Larga zop e Paiter -sop, são cognatos e seguramente descendentes de uma forma parecida na protolíngua. Reconstruções confirmam a antiguidade do termo. Mello (2000)MELLO, Antônio Augusto Souza. Estudo histórico da família linguística Tupi-Guaraní: aspectos fonológicos e lexicais. 2000. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2000. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/78560/170082.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: abr. 2018.
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postula *uβ, em Proto-Tupi-Guarani, e Rodrigues (2010)RODRIGUES, Aryon D. Linguistic reconstruction of elements of Prehistoric Tupi Culture. In: CARLIN, Eithne B; VAN DE KERKE, Simon (ed.). Linguistics and Archaeology in the Americas: the historization of language and society. Leiden: Brill, 2010. p. 1-10. (Brill’s Studies in the Indigenous Languages of the Americas, 2). DOI: https://doi.org/10.1163/9789047427087.
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tem **-up como ‘pai’, em Proto-Tupi. Observamos que os dados da família Mondé criam dúvidas sobre essas duas reconstruções, visto que ambos os alomorfes das formas Mondé (por exemplo, em Gavião, livre: zop, ‘relacional’: sop) têm consoantes iniciais que obviamente não são prefixos (inexiste *-op), indicando que as reconstruções devem ter consoantes iniciais também.

Os termos para ‘pai’ diferem da palavra para ‘esperma’ somente no tom: -sóp, em Gavião e Paiter. Em Gavião, uma palavra relacionada é o verbo transitivo -soò, ‘ter relações sexuais com objeto’. O sufixo -p é um nominalizador, na língua Gavião e em várias línguas Tupi. Dada a antiguidade do termo, a sua análise pode ser menos transparente em outras línguas. Essa relação, ‘pai’ e ‘esperma’, pode ser atribuída à copaternidade: entre os Gavião e os Paiter, todos os homens que mantiveram relações sexuais com uma mulher antes do nascimento do filho são considerados pais do filho. A antiguidade do termo que deu origem à palavra -sop sugere que a copaternidade foi reconhecida entre os falantes do Proto-Tupi.

O termo õ’-jop, ‘meu filho’, estendido para outros jovens em Gavião, é o diminutivo de õ’-zop, primeira pessoa do singular de -sop. De maneira semelhante, o vocativo para ‘pai’, em Paiter, ba, pode ser usado para filho. A forma original do vocativo para ‘pai’, em Proto-Mondé, não pode ser determinada a partir dos dados disponíveis. A forma é papá em Gavião e em Salamay, mas varia entre Paiter e Cinta Larga.

-ti, ‘mãe’

O termo de referência para ‘mãe’ em Proto-Mondé foi seguramente *-ti, forma que aparece em todas as línguas e os dialetos da família Mondé. Cognatos aparecem em várias famílias Tupi, por exemplo, *-tsɨ, em Proto-Tupi-Guarani (Mello, 2000MELLO, Antônio Augusto Souza. Estudo histórico da família linguística Tupi-Guaraní: aspectos fonológicos e lexicais. 2000. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2000. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/78560/170082.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: abr. 2018.
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). Uma questão é a existência de uma possível relação entre -ti e a palavra para um tipo de alma, -tîì, em Gavião. Porém, consultores Gavião e Paiter negam a relação – o que não elimina a possibilidade da existência disso antigamente. É provável que *-ti tenha sido estendido em Proto-Mondé para incluir MZ, como é o caso agora entre os Gavião, os Zoró, os Aruá e os Paiter. Atualmente, os Cinta Larga e os Salamãy usam uma expressão para MZ que é composta da palavra para ‘mãe’, seguida pela palavra para ‘irmã’. A forma vocativa (gaáy em Gavião, com formas parecidas entre os Cinta Larga, os Aruá e os Zoró) refere também a MZ – fato que reforça a ideia de que houve extensão de M para MZ na protolíngua. O vocativo para M em Paiter, ayá, estende-se para incluir MZ. Não está claro qual seria a forma do vocativo na protolíngua.

Geração G-1

-nétóp, ‘filho de homem’

A palavra para ‘filho’ (S) entre os Gavião e os Cinta Larga é -nétóp, utilizada para falantes masculinos. O termo é largamente estendido entre os Gavião. Não se acha uma palavra claramente cognata entre os Paiter, mas há um termo parecido, ne’’m. Curiosamente, essa palavra possuída, -ma-ne’’m, significa ‘vagina’.

-va’ít, -maít, ‘filha’

O termo -va’ít refere-se basicamente à filha de um homem, em Gavião e em Cinta Larga. Em Paiter, a filha pode ser de uma mulher também, segundo um informante. As formas entre os três povos são cognatas e o termo deve ter existido em Proto-Mondé. Evidência disso é uma palavra provavelmente cognata, **aʔɨt, ‘man’s son’, que foi reconstruída em Proto-Tupi por Rodrigues (2010)RODRIGUES, Aryon D. Linguistic reconstruction of elements of Prehistoric Tupi Culture. In: CARLIN, Eithne B; VAN DE KERKE, Simon (ed.). Linguistics and Archaeology in the Americas: the historization of language and society. Leiden: Brill, 2010. p. 1-10. (Brill’s Studies in the Indigenous Languages of the Americas, 2). DOI: https://doi.org/10.1163/9789047427087.
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. Porém, o sentido é muito variado nas várias famílias Tupi e o sentido original, em Proto-Tupi e em Proto-Mondé, não pode ser determinado com certeza. Pelo menos em Gavião a palavra tem uma análise parcial: a segunda sílaba deve ser um adjetivo, -ít ou íri, ‘jovem’. O outro morfema, -va, é possivelmente o mesmo da primeira sílaba da palavra para ‘mulher’: vãzet, em Gavião.

-mápit, ‘filho’

O termo -mápit, ‘filho (de ambos os sexos)’, ocorre entre os Gavião, os Cinta Larga e os Paiter. Entre os Gavião, o termo refere-se somente aos filhos de uma mulher; entre os Cinta Larga e os Paiter, a palavra pode se referir aos filhos de um homem também. A referência na protolíngua pode ter sido somente aos filhos de uma mulher, uma vez que esse é o sentido reconstruído do termo cognato *memir (Mello, 2000MELLO, Antônio Augusto Souza. Estudo histórico da família linguística Tupi-Guaraní: aspectos fonológicos e lexicais. 2000. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2000. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/78560/170082.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: abr. 2018.
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), em Proto-Tupi-Guarani, e do termo cognato **mempit, em Proto-Tupi (Rodrigues, 2010RODRIGUES, Aryon D. Linguistic reconstruction of elements of Prehistoric Tupi Culture. In: CARLIN, Eithne B; VAN DE KERKE, Simon (ed.). Linguistics and Archaeology in the Americas: the historization of language and society. Leiden: Brill, 2010. p. 1-10. (Brill’s Studies in the Indigenous Languages of the Americas, 2). DOI: https://doi.org/10.1163/9789047427087.
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).

Geração de ego

-sáno, ‘irmão do mesmo sexo’

A palavra -sáno, em Gavião e Paiter, refere-se basicamente aos irmãos do mesmo sexo, que deve ter o mesmo sentido na protolíngua. Em Dal Poz (2004)DAL POZ, João. Dádivas e dívidas na Amazônia: parentesco, economia e ritual nos Cinta-Larga. 2004. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2004. Disponível em: http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/279928. Acesso em: mar. 2013.
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, parece que os Cinta Larga usam a palavra zano para irmão de ambos os sexos, enquanto em Dal Poz (1991)DAL POZ, João. No país dos Cinta Larga: uma etnografia do ritual. 1991. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1991. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-07112006-101647/pt-br.php. Acesso em: mar. 2013.
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os termos são parecidos com os de Gavião e os de Paiter. Seria mais provável que a distinção entre irmãos do mesmo sexo e os do sexo oposto tenha sido perdida pelos Cinta Larga, do que ter sido inventada independentemente pelos Gavião e pelos Paiter.

-paàt, ‘irmã do homem’

Paralelamente, -paàt, em Gavião e Paiter, indica basicamente a irmã de um homem, com sentido sendo também estendido para primos paralelos, enquanto os Cinta Larga usam -sano como termo geral, que também engloba a irmã do homem.

-sóa, ‘irmão da mulher’

O termo de referência para o irmão de uma mulher, em Gavião e Paiter, é -sóa. Entre os Cinta Larga, o termo geral, -sáno, cobre esse irmão também. Observamos, de novo, que a evolução mais provável desses termos atuais seria a perda de termos entre os Cinta Larga, ao invés da inovação de termos idênticos independentemente entre os Gavião e os Paiter. É interessante observar que o vocativo para ‘irmão’ entre os Cinta Larga é zoakyp, que parece ser -sóa com um outro morfema, talvez cognato com Gavião kɨ’p, ‘curto, baixo’. Pode ser que o termo esteja sendo conservado entre os Cinta Larga no vocativo após a sua substituição, como termo de referência, por -sáno.

-parápit, -paarápit, ‘filha da irmã, esposa potencial’

O casamento preferencial entre os povos Mondé, com a filha da irmã, é refletido nesse termo, que é composto de -paàt, ‘irmã do homem’, e -mápit, ‘filha’. Com a queda de m, resulta uma composta morfológica: paar-ápit. Entre os Paiter, a referência pode ser ao filho da irmã também. O termo para ‘esposa’, em Salamãy, é -pati, cuja análise é provavelmente -paàt, ‘irmã’, e -ti, ‘filha’.

Afinidade

Três termos de afinidade devem ser mencionados. O termo para ‘marido’ entre os Gavião, -met, deve ser o original em Proto-Mondé, uma vez que tem cognatos em várias famílias linguísticas Tupi, sendo reconstruído em Proto-Tupi como **men (Rodrigues, 2010RODRIGUES, Aryon D. Linguistic reconstruction of elements of Prehistoric Tupi Culture. In: CARLIN, Eithne B; VAN DE KERKE, Simon (ed.). Linguistics and Archaeology in the Americas: the historization of language and society. Leiden: Brill, 2010. p. 1-10. (Brill’s Studies in the Indigenous Languages of the Americas, 2). DOI: https://doi.org/10.1163/9789047427087.
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). Gavião e Paiter têm a palavra -say como ‘esposa’, e este termo deve ser descendente de uma palavra parecida em Proto-Mondé. O termo para os parentes de marido/esposa entre os Gavião e os Paiter, -õp, é interessante por ser homófono com -õp, ‘defunto, falecido’. A palavra parece ser uma nominalização, com o sufixo -p, do verbo intransitivo -õò, ‘não existir’.

Experiência preliminar

O presente artigo é uma experiência preliminar em combinar a antropologia de parentesco e a linguística comparativa/diacrônica da terminologia de parentesco no estudo dos grupos de uma família linguística. Para avançar esse estudo, seria útil ter dados confiáveis (antropológica e linguisticamente) acerca dos Aruá e dos Zoró, bem como aprofundar o conhecimento sobre a terminologia dos grupos incluídos aqui, eliminando inconsistências. A procura de cognatos nas outras famílias Tupi pode render mais evidências sobre o passado. As reconstruções no tronco Tupi são obras em andamento e o seu refinamento pode iluminar mais as terminologias de parentesco Mondé.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos povos Gavião e Paiter, pelo apoio aos estudos que subsidiam este artigo, especialmente a Sebirop da Silva Gavião, João Sebirop da Silva Gavião e Gatagon Suruí.

Apêndice


Terminologia de parentesco comparada: Gavião, Cinta Larga e Paiter.
  • 1
    As siglas dos termos de parentesco utilizadas ao longo do artigo e também no Apêndice correspondem a letras iniciais dos vocábulos em inglês, em que: F = father (pai), M = mother (mãe), S = son (filho), D = daughter (filha), B = brother (irmão), Z (para diferenciar de son) = sister (irmã), W = wife (esposa), H = husband (marido). Dito isso, as siglas dos termos são apresentadas segundo sua ordem de escrita em inglês, qual seja: ZD = sister’s daughter (filha da irmã), FZ = father’s sister (irmã do pai), MBD = mother’s brother’s daughter (filha do irmão da mãe), e assim sucessivamente
  • 2
    Informação obtida em conversa com um interlocutor Gavião durante a pesquisa de campo da autora na aldeia Ikólóéhj, realizada entre os meses de agosto de 2013 e julho de 2015. As demais falas de indígenas citadas neste artigo ocorreram no mesmo contexto.
  • 3
    Notícia fornecida por Denny Moore, em comunicação apresentada no V Congresso Internacional de Línguas Amazônicas, intitulada “Aspects of the Proto-Mondé sound inventory”, realizado em Belém, no ano de 2014.
  • 4
    Notícia fornecida por Denny Moore, em comunicação apresentada no V Congresso Internacional de Línguas Amazônicas, intitulada “Aspects of the Proto-Mondé sound inventory”, realizado em Belém, no ano de 2014.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Abr 2019
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2019

Histórico

  • Recebido
    29 Jun 2018
  • Aceito
    23 Jan 2019
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