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A cronologia das pinturas rupestres da Caverna da Pedra Pintada, Monte Alegre, Pará: revisão histórica e novos dados

The chronology of the cave paintings in the Pedra Pintada Cave, Monte Alegre, Pará: historical review and new data

Resumo

O artigo apresenta uma síntese das diversas teorias sobre a cronologia das pinturas rupestres de Monte Alegre, assim como as características formais dos temas presentes no sítio Caverna da Pedra Pintada, a fim de identificar diferenças de estilos e, com isso, propor diferentes momentos na execução das pinturas. Para ajudar na contextualização das pinturas rupestres deste sítio, foram realizadas, em 2014, escavações próximo a uma das paredes com pinturas na caverna. Umconjunto de datações, associado a uma série de evidências materiais oriundas da escavação – tais como corantes, artefatos e fogueiras, além de manchas de fuligem sobre pinturas –, oferece possibilidades para ajudar na contextualização daatividade gráfica rupestre neste sítio.

Palavras-chave
Arte rupestre; Arqueologia amazônica; Ocupação humana; Monte Alegre

Abstract

This article presents a summary of the various theories about the chronology of the cave paintings from Monte Alegre, as well as the formal characteristics of the themes represented at the Caverna da Pedra Pintada site. The main goal is toidentify differences in style and consequently propose different periods for the execution of these paintings. To provide context for the cave paintings at this site, excavations were carried out in 2014 near one of the painted walls. A set ofdates were associated with the recovered material, such as pigments, artifacts, and charcoal, as well as soot stains over the paintings; this information offers possibilities to contextualize the rock art activity at this site.

Keywords
Rock art; Amazonian archaeology; Human occupation; Monte Alegre

As pinturas rupestres existentes nas serras de Monte Alegre, município localizado no oeste do Pará (Figura 1), são conhecidas desde o século XIX e desde essa época já se discutia o quão antigas podiam ser. As hipóteses lançadas tinham fundamentos diversos e variaram de acordo com o contexto da pesquisa. Em 1871, o geólogo Charles Hartt afirmou que essas pinturas já eram conhecidas há mais de duzentos anos e que, junto a elas, foram deixadas marcas mais recentes, como o ano de 1764 e a sigla I.H.S atribuída a padres jesuítas (Hartt, 1895HARTT, Charles Frederich. Inscripções em rochedos do Brasil. Revista do Instituto Archeológico e Histórico Pernambucano, Recife, n. 47, p. 301-329, 1895.). Em meados da década de 1980, Consens (1989)CONSENS, Mario. Arte rupestre no Pará: análise de alguns sítios de Monte Alegre. Dédalo, São Paulo, n. 1, p. 265-278, 1989. Número especial. considerou que as pinturas foram feitas em momentos diferentes devido à presença de manchas de sílica sobre algumas pinturas e de pinturas sobre essas manchas, o que indicaria diferença temporal na sua execução.

Figura 1
Localização de Monte Alegre. Mapa: Laboratório de Análises Espaciais/Museu Paraense Emílio Goeldi (2019).

No entanto, apenas em meados dos anos 1990 foram obtidas as primeiras datações radiocarbônicas oriundas de uma escavação arqueológica realizada no sítio Caverna da Pedra Pintada1 1 Sítio cadastrado no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) sob a sigla PA-MT-3: Gruta do Pilão. , em Monte Alegre, por Roosevelt et al. (1996)ROOSEVELT, Anna C.; COSTA, Marcondes Lima da; MACHADO, C. Lopes; MICHAB, M.; MERCIER, Norbert; VALLADAS, Hélène; FEATHERS, James; BARNETT, William K.; SILVEIRA, Maura Imázio da; HENDERSON, A.; SILVA, J.; CHERNOFF, B.; REESE, David S.; HOLMAN, J. A.; TOTH, Nicholas; SCHICK, Kathy. Paleoindian Cave Dwellers in the Amazon: the peopling of the Americas. Science, Washington, v. 272, n. 5260, p. 373-384, Apr. 1996. DOI: https://doi.org/10.1126/science.272.5260.373.
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. Um conjunto de datações revelou que a ocupação humana neste sítio se deu desde 11.200 anos AP e que se estendeu, de forma descontínua, até 430 anos AP.

Entre os diversos materiais encontrados nesta escavação, destacam-se os pigmentos de tinta que foram encontrados nos níveis mais antigos da escavação, em razão da associação indireta com as pinturas rupestres. A composição química desses pigmentos era a mesma das pinturas localizadas nas paredes, e isso levou Roosevelt et al. (1996)ROOSEVELT, Anna C.; COSTA, Marcondes Lima da; MACHADO, C. Lopes; MICHAB, M.; MERCIER, Norbert; VALLADAS, Hélène; FEATHERS, James; BARNETT, William K.; SILVEIRA, Maura Imázio da; HENDERSON, A.; SILVA, J.; CHERNOFF, B.; REESE, David S.; HOLMAN, J. A.; TOTH, Nicholas; SCHICK, Kathy. Paleoindian Cave Dwellers in the Amazon: the peopling of the Americas. Science, Washington, v. 272, n. 5260, p. 373-384, Apr. 1996. DOI: https://doi.org/10.1126/science.272.5260.373.
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a atribuírem uma antiguidade de 11.200 anos para as pinturas rupestres de Monte Alegre.

No entanto, as variações temáticas e estilísticas existentes nas pinturas rupestres dessa região não foram levadas em conta nos estudos de Roosevelt et al. (1996)ROOSEVELT, Anna C.; COSTA, Marcondes Lima da; MACHADO, C. Lopes; MICHAB, M.; MERCIER, Norbert; VALLADAS, Hélène; FEATHERS, James; BARNETT, William K.; SILVEIRA, Maura Imázio da; HENDERSON, A.; SILVA, J.; CHERNOFF, B.; REESE, David S.; HOLMAN, J. A.; TOTH, Nicholas; SCHICK, Kathy. Paleoindian Cave Dwellers in the Amazon: the peopling of the Americas. Science, Washington, v. 272, n. 5260, p. 373-384, Apr. 1996. DOI: https://doi.org/10.1126/science.272.5260.373.
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, o que gerou a falsa ideia de que todas as pinturas de Monte Alegre tivessem a mesma antiguidade. Na região, existem vários sítios onde as pinturas apresentam semelhanças, mas também diferenças temáticas e estilísticas importantes e que precisam ser levadas em consideração, pelas informações subjacentes que oferecem sobre diferenças de autoria e de momentos da ocupação humana na região.

Foi a partir da identificação e da classificação dos temas e dos estilos presentes nas pinturas de Monte Alegre (Pereira, 1992PEREIRA, Edithe. Análise preliminar das pinturas rupestres de Monte Alegre (PA). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Série Antropologia, Belém, v. 8, n. 1, p. 5-24, 1992., 1996PEREIRA, Edithe. Las pinturas y los grabados rupestres del noroeste de Pará - Amazônia - Brasil. 1996. Tese (Doutorado em Arqueologia e Pré-História) – Universidade de Valencia, Valencia, 1996., 2012PEREIRA, Edithe. A arte rupestre de Monte Alegre: Pará, Amazônia, Brasil. Belém: MPEG, 2012.) que Pereira (2010)PEREIRA, Edithe. Arte rupestre e cultura material na Amazônia brasileira. In: PEREIRA, Edithe; GUAPINDAIA, Vera (org.). Arqueologia amazônica. Belém: MPEG: IPHAN: SECULT, 2010. p. 259-283. fez uma análise comparativa entre os motivos pintados nas rochas e aqueles que decoram a cerâmica oriunda de Monte Alegre e dos arredores, como forma de obter uma datação relativa para as pinturas rupestres dessa região.

Uma série de semelhanças temáticas e estilísticas foi identificada nas pinturas rupestres e na decoração da cerâmica dessa região, o que levou Pereira (2010)PEREIRA, Edithe. Arte rupestre e cultura material na Amazônia brasileira. In: PEREIRA, Edithe; GUAPINDAIA, Vera (org.). Arqueologia amazônica. Belém: MPEG: IPHAN: SECULT, 2010. p. 259-283. a associar a autoria de alguns motivos pintados nas rochas, particularmente os antropomorfos, a grupos ceramistas tardios. Dessa forma, tais pinturas teriam sido feitas no máximo há dois mil anos atrás.

Essa hipótese se contrapõe àquela defendida por Roosevelt et al. (1996)ROOSEVELT, Anna C.; COSTA, Marcondes Lima da; MACHADO, C. Lopes; MICHAB, M.; MERCIER, Norbert; VALLADAS, Hélène; FEATHERS, James; BARNETT, William K.; SILVEIRA, Maura Imázio da; HENDERSON, A.; SILVA, J.; CHERNOFF, B.; REESE, David S.; HOLMAN, J. A.; TOTH, Nicholas; SCHICK, Kathy. Paleoindian Cave Dwellers in the Amazon: the peopling of the Americas. Science, Washington, v. 272, n. 5260, p. 373-384, Apr. 1996. DOI: https://doi.org/10.1126/science.272.5260.373.
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sobre a cronologia das pinturas rupestres de Monte Alegre. Para esses autores, a maior parte das pinturas é antiga e apenas algumas poderiam ser relacionadas a períodos mais recentes, uma vez que são raras as evidências materiais relacionadas à produção de pigmentos encontrados nas camadas tardias da escavação (Roosevelt et al., 1996ROOSEVELT, Anna C.; COSTA, Marcondes Lima da; MACHADO, C. Lopes; MICHAB, M.; MERCIER, Norbert; VALLADAS, Hélène; FEATHERS, James; BARNETT, William K.; SILVEIRA, Maura Imázio da; HENDERSON, A.; SILVA, J.; CHERNOFF, B.; REESE, David S.; HOLMAN, J. A.; TOTH, Nicholas; SCHICK, Kathy. Paleoindian Cave Dwellers in the Amazon: the peopling of the Americas. Science, Washington, v. 272, n. 5260, p. 373-384, Apr. 1996. DOI: https://doi.org/10.1126/science.272.5260.373.
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).

Os estudos realizados até o momento não deixam dúvidas sobre a antiguidade da prática gráfica rupestre e nem sobre a sua presença em tempos mais recentes em Monte Alegre, porém o grande desafio ainda é identificar quais motivos pintados podem ser realmente atribuídos ao final do período pleistocênico.

Na procura por novos dados arqueológicos e visando melhor contextualizar a arte rupestre de Monte Alegre, um projeto de pesquisa com enfoque na diversidade de sítios representativos de diferentes períodos da ocupação humana na região vem sendo executado desde 2012. Como parte dessa pesquisa, foi realizada, em 20142 2 Pesquisa realizada no âmbito do projeto “A ocupação pré-colonial de Monte Alegre”, projeto financiado pelo Edital Universal 14/2011 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Além dos autores deste artigo, integram a equipe deste projeto os pesquisadores: Anne Rapp Py-Daniel, Cristiana Barreto, Marcos Magalhães, Maria Jacqueline Rodet, Myrtle Schok, Déborah Duarte, Trinidad Martinez y Rubio, Carlos Barbosa e Hannah Nascimento. O projeto contou também com a colaboração dos pesquisadores Vinicius Honorato, Daniel Vieira de Sousa, João Carlos Ker, Carlos Ernesto R. G. Schafer, Luciano Moura e vários estudantes do curso de graduação em arqueologia da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). , uma nova escavação no sítio Caverna da Pedra Pintada.

AS PINTURAS RUPESTRES DA CAVERNA DA PEDRA PINTADA

As pinturas rupestres da Caverna da Pedra Pintada ocupam diversos espaços dentro e fora da cavidade. A maioria dos painéis está distribuída na entrada principal da cavidade e nas paredes internas e externas, desde as proximidades do solo atual até o teto. Elas estão presentes também, mas em menor quantidade, em galerias com baixa luminosidade, onde são visíveis apenas com auxílio de luz artificial.

Parte do painel localizado na parede à direita da entrada da caverna foi danificada pela ação humana, resultando na destruição de pinturas e na presença de vários pequenos blocos caídos no solo. Há também pichações sobre algumas pinturas neste mesmo painel.

O inventário realizado por Pereira (1996)PEREIRA, Edithe. Las pinturas y los grabados rupestres del noroeste de Pará - Amazônia - Brasil. 1996. Tese (Doutorado em Arqueologia e Pré-História) – Universidade de Valencia, Valencia, 1996. para as pinturas desse sítio revelou pelo menos 143 motivos, entre os quais a maioria é representada por motivos geométricos, seguidos quantitativamente pelas mãos em positivo, bem como por antropomorfos, zoomorfos e biomorfos3 3 Foram classificados como biomorfas “[...] figuras cujos traços não permitem distinguir se se tratam de representações humanas ou de animais” (Pereira, 2012 p. 174). .

Os motivos geométricos apresentam uma diversidade de formas, no entanto, há pelo menos três temas recorrentes: os círculos, as cruzes e as volutas. Os círculos apresentam-se com diferentes variações de preenchimento (Figura 2), enquanto as volutas (Figura 3) aparecem na sua forma básica, espelhada ou constituindo a base para a elaboração de motivos com diferentes graus de complexidade. As cruzes aparecem representadas duas vezes, sendo uma concêntrica e a outra com um círculo no seu interior (Figura 4).

Figura 2
Círculos e suas diferentes formas de preenchimento. Fonte: Pereira (1996)PEREIRA, Edithe. Las pinturas y los grabados rupestres del noroeste de Pará - Amazônia - Brasil. 1996. Tese (Doutorado em Arqueologia e Pré-História) – Universidade de Valencia, Valencia, 1996..
Figura 3
Volutas: (A) simples; (B) espelhada; (C, D, E) motivos complexos estruturados a partir de voluta. Fonte: Pereira (1996)PEREIRA, Edithe. Las pinturas y los grabados rupestres del noroeste de Pará - Amazônia - Brasil. 1996. Tese (Doutorado em Arqueologia e Pré-História) – Universidade de Valencia, Valencia, 1996..
Figura 4
Cruzes e suas variações de preenchimento. Fonte: Pereira (1996)PEREIRA, Edithe. Las pinturas y los grabados rupestres del noroeste de Pará - Amazônia - Brasil. 1996. Tese (Doutorado em Arqueologia e Pré-História) – Universidade de Valencia, Valencia, 1996..

Além dos motivos recorrentes ora descritos, há também figuras cuja má conservação não permite identificar com clareza as formas e outras bem conservadas que permitem vê-las de forma completa. Estas últimas serão o foco desta análise. Considerando, portanto, este universo de análise e o fato de serem formas que não se repetem – o que constitui uma dificuldade em termos classificatórios –, centramos a análise não no motivo em si, mas na maneira como ele é estruturado. Assim, foi possível distinguir duas formas de representação gráfica: a) motivos diferentes entre si, mas que têm em comum, na sua estrutura, a simetria bilateral (Figura 5); b) motivos diferentes entre si e elaborados a partir de conjunto de linhas retas e pontos (Figura 6).

Figura 5
Figuras com simetria bilateral. Fonte: Pereira (1996)PEREIRA, Edithe. Las pinturas y los grabados rupestres del noroeste de Pará - Amazônia - Brasil. 1996. Tese (Doutorado em Arqueologia e Pré-História) – Universidade de Valencia, Valencia, 1996..
Figura 6
Motivos elaborados a partir de linhas retas, curvas e pontos. Fonte: Pereira (1996)PEREIRA, Edithe. Las pinturas y los grabados rupestres del noroeste de Pará - Amazônia - Brasil. 1996. Tese (Doutorado em Arqueologia e Pré-História) – Universidade de Valencia, Valencia, 1996..

As mãos em positivo ocorrem em número expressivo, ainda que algumas, devido à falta de clareza nas formas pela perda de tinta, deixam margem para dúvida. Elas medem, na sua maioria, entre 10 e 15 cm, suas cores são a vermelha e a amarela e ocorrem de forma isolada ou em conjunto.

As figuras zoomorfas passíveis de reconhecimento são poucas (Figura 7). Foram identificadas representações de peixe, cobras, sapos e um peixe-boi.

Figura 7
Figuras zoomorfas: (A) sapos; (B) cobras; (C) peixe-boi; (D) peixe. Fonte: Pereira (1996)PEREIRA, Edithe. Las pinturas y los grabados rupestres del noroeste de Pará - Amazônia - Brasil. 1996. Tese (Doutorado em Arqueologia e Pré-História) – Universidade de Valencia, Valencia, 1996..

Os antropomorfos são representados por figuras completas (Figura 8) e por representações exclusivas de cabeça4 4 Este tipo de representação é chamado por outros autores como cefalomorfo (Cavallini, 2014) e antropocéfalo-mórfico (Valle, 2012). (Figura 9). Entre os primeiros, destacamos três figuras pelas características em comum que apresentam e por constituírem formas bastante particulares entre os antropomorfos da região de Monte Alegre. O preenchimento do tronco com formas geométricas é uma dessas características e sugere a representação de pintura corporal. Nas Figuras 8A e 8B, a forma de representação dos braços e das pernas foi classificada por Pereira (1996, p. 82, tradução nossa) como “[...] duplo ângulo para cima e para baixo [...]”, respectivamente. Trata-se de uma forma pouco convencional de representação dos membros superiores e inferiores, tendo sido identificada até o momento apenas neste sítio. A forma de representação dos dedos dos pés e das mãos das Figuras 8B, 8C e 8D é pouco comum na região, sendo encontrada, além da Caverna da Pedra Pintada, apenas em duas outras figuras na região, uma no sítio Abrigo do Irapuá e outra no Painel da Baixa Fria (Pereira, 2012PEREIRA, Edithe. A arte rupestre de Monte Alegre: Pará, Amazônia, Brasil. Belém: MPEG, 2012.).

Figura 8
Antropomorfos completos. Fonte: Pereira (1996)PEREIRA, Edithe. Las pinturas y los grabados rupestres del noroeste de Pará - Amazônia - Brasil. 1996. Tese (Doutorado em Arqueologia e Pré-História) – Universidade de Valencia, Valencia, 1996..
Figura 9
Representações de cabeça. Fonte: Pereira (1996)PEREIRA, Edithe. Las pinturas y los grabados rupestres del noroeste de Pará - Amazônia - Brasil. 1996. Tese (Doutorado em Arqueologia e Pré-História) – Universidade de Valencia, Valencia, 1996..

Com relação aos elementos faciais, eles estão presentes nas Figuras 8B e 8C, não sendo observados nas demais. As orelhas e a indicação do sexo masculino estão presentes apenas na Figura 8B. A Figura 8C apresenta outras particularidades além das já mencionadas, como de ter sido representada de cabeça para baixo, apresentar um adorno na cabeça e ter dois apêndices em ambos os lados do tronco.

As demais figuras antropomorfas identificadas neste sítio apresentam problemas de conservação, não permitindo maior detalhamento na análise formal.

As representações de cabeça (Figura 9), identificadas na Caverna da Pedra Pintada, apresentam características comuns às pinturas de outros sítios da região, como as Figuras 9A, 9B e 9C, onde apenas os elementos faciais estão representados. Outras figuras apresentam traços que não encontram paralelo na anatomia humana, e que sugerem ser algum tipo de adorno facial (Figuras 9D e 9E). Três figuras apresentam diferentes contornos de cabeça (Figuras 9F, 9G e 9H) e, em todas elas, olhos e boca estão presentes. A Figura 9H destaca-se das demais por apresentar, na sua parte superior e inferior, duas linhas em cujas extremidades há dois traços verticais similares à forma de representação dos dedos da Figura 9C.

Para além das características formais das pinturas rupestres, outras particularidades devem ser ressaltadas, como o aproveitamento do suporte para a composição de motivos (Pereira, 1996PEREIRA, Edithe. Las pinturas y los grabados rupestres del noroeste de Pará - Amazônia - Brasil. 1996. Tese (Doutorado em Arqueologia e Pré-História) – Universidade de Valencia, Valencia, 1996., 2004PEREIRA, Edithe. Arte rupestre na Amazônia: Pará. São Paulo: UNESP; Belém: MPEG, 2004., 2012PEREIRA, Edithe. A arte rupestre de Monte Alegre: Pará, Amazônia, Brasil. Belém: MPEG, 2012.) e a posição das figuras no suporte em relação ao solo atual. No primeiro caso, há pelo menos uma figura antropomorfa cujo contorno da cabeça é dado por uma saliência da rocha (Figura 10). No segundo caso, há uma figura de cabeça para baixo (Figura 8C). A posição das pinturas em relação ao solo atual é bastante diversificada, pois são encontradas desde 0,70 cm a 4,60 m de altura, inclusive no teto da caverna (Pereira, 1996PEREIRA, Edithe. Las pinturas y los grabados rupestres del noroeste de Pará - Amazônia - Brasil. 1996. Tese (Doutorado em Arqueologia e Pré-História) – Universidade de Valencia, Valencia, 1996.).

Figura 10
Aproveitamento do suporte para composição de uma cabeça. Foto: Edithe Pereira (2012)PEREIRA, Edithe. A arte rupestre de Monte Alegre: Pará, Amazônia, Brasil. Belém: MPEG, 2012..

AS PINTURAS DA CAVERNA DA PEDRA PINTADA NO CONTEXTO DE MONTE ALEGRE

Quase todas as figuras da Caverna da Pedra Pintada encontram paralelo com outras existentes em vários sítios da região de Monte Alegre, particularmente aqueles situados nas serras do Ererê e Paituna.

Entre as formas geométricas, o círculo, com suas variações de preenchimento, as volutas e as figuras que têm em comum a simetria bilateral são temas recorrentes na região. Os zoomorfos identificados na Caverna da Pedra Pintada estão presentes também em outros sítios da região, sendo representados de forma similar.

Entre os antropomorfos, as similaridades encontradas com outros sítios da região estão relacionadas principalmente às representações de cabeça. A única exceção é a Figura 9H, cuja estrutura encontra similaridade com um dos antropomorfos completos (Figura 8C).

Os antropomorfos completos merecem destaque por algumas características que, até o momento, só foram observadas na Caverna da Pedra Pintada. São elas a forma dos braços e das pernas, as representações dos pés/dedos (Figura 8) e os desenhos no interior do tronco, que sugerem se tratar de pintura corporal (Figuras 8A, 8B e 8C). As representações humanas nas pinturas de Monte Alegre parecem estar relacionadas a períodos mais recentes (Pereira, 2010PEREIRA, Edithe. Arte rupestre e cultura material na Amazônia brasileira. In: PEREIRA, Edithe; GUAPINDAIA, Vera (org.). Arqueologia amazônica. Belém: MPEG: IPHAN: SECULT, 2010. p. 259-283.), portanto, essa particularidade de estilo não contribui como indicativo de maior antiguidade, mas sim de variabilidade de estilos dentro da região.

A análise formal das pinturas não nos permitiu reconhecer quais poderiam ser as mais antigas e as mais recentes. Procuramos, então, outras evidências que pudessem ajudar nos aspectos cronológicos. Uma delas é a existência de pinturas em uma área onde houve desplacamento da rocha. Tal situação é exemplificada na Figura 11, onde é possível ver, à esquerda, uma figura mais escura, parcialmente danificada pela queda do suporte, e no centro e à direita, duas figuras com tonalidade mais clara e que foram feitas após o desplacamento da rocha. Neste caso, há uma diferença temporal entre a figura da esquerda (mais escura) e as duas da direita (mais claras), onde a primeira seria a mais antiga e as outras, mais recentes. No entanto, ainda não é possível definir o tempo entre a execução destas figuras.

Figura 11
Área com desplacamento no teto da caverna, onde se observam pinturas em dois níveis, antes e depois da queda do suporte. Foto: Anne Rapp Py-Daniel (2018).

Nas escavações realizadas em 2014, em outra área do sítio, foi constatada uma camada que registra um evento de desabamento do teto da gruta. Carvões associados aos restos de placas de um arenito muito friável foram datados e apresentaram uma antiguidade de 9 mil anos AP (datas calibradas). Na sequência desta camada, aparecem os primeiros vestígios de cerâmica, com datas de até 3.345 anos AP (datas calibradas). Futuras escavações poderão confirmar se estes dois contextos de desabamento fazem parte do mesmo evento.

Em termos gráficos, esse exemplo reforça a hipótese de Pereira (2010)PEREIRA, Edithe. Arte rupestre e cultura material na Amazônia brasileira. In: PEREIRA, Edithe; GUAPINDAIA, Vera (org.). Arqueologia amazônica. Belém: MPEG: IPHAN: SECULT, 2010. p. 259-283. sobre a relação temporal entre alguns temas pintados – particularmente os antropomorfos – e a cerâmica, considerando que uma das imagens pintadas na área do desplacamento é uma representação de rosto (Figura 9E), sem contorno da cabeça e com traços que sugerem algum tipo de adorno facial.

Ainda neste exemplo, observa-se diferença na intensidade da cor das pinturas. As figuras supostamente mais recentes têm a cor mais clara em relação à mais antiga. Essa diferença pode estar associada à forma de confecção do pigmento em diferentes momentos. Essa mesma situação ocorre em outras partes da gruta onde não há desplacamento, como as pinturas representadas na Figura 12. Nela, nota-se a diferença de cor entre dois motivos pintados, sendo o superior uma representação de rosto sem o contorno da cabeça e abaixo dela, uma figura geométrica.

Figura 12
Diferença na cor do pigmento entre as figuras. Foto: Edithe Pereira (2006).

Novas escavações em locais situados abaixo das áreas de desplacamento são bastante promissoras em relação à procura de informações que contribuam para determinar a cronologia das pinturas rupestres da Caverna da Pedra Pintada. Por outro lado, é necessário também que haja uma documentação mais minuciosa das pinturas deste sítio, visto que a análise aqui apresentada está baseada nos decalques feitos no início dos anos 90. As novas tecnologias de documentação das pinturas rupestres (Pereira et al., 2013PEREIRA, Edithe; MARTINEZ I RUBIO, Trinidad; BARBOSA, Carlos Augusto Palheta. Documentação digital da arte rupestre: apresentação e avaliação do método em dois sítios de Monte Alegre, Amazônia, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 8, n. 3, p. 585-603, set./dez. 2013. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1981-81222013000300007.
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) oferecem um grau de precisão e detalhe bem maior do que a documentação anterior e, certamente, possibilitarão encontrar novos elementos que possam ajudar na identificação de figuras e de traços com maior antiguidade.

A CRONOLOGIA DA ARTE RUPESTRE NA CAVERNA DA PEDRA PINTADA – NOVOS DADOS

Face às dificuldades encontradas até o momento para identificar as pinturas relacionadas aos contextos mais antigos de ocupação da Caverna da Pedra Pintada, apresentamos algumas evidências que, apesar de não poderem ser associadas diretamente à produção da arte rupestre, estão fortemente relacionadas ao contexto simbólico, principalmente em algumas áreas da escavação5 5 Unidades N 2253 L 5302, N 2254 L 5302 e N 2253 L 5303. que realizamos em 2014.

Nessas áreas, foram evidenciados materiais que estão relacionados à produção das pinturas (pigmentos, corantes e objetos com tinta) e que, por associação com as camadas onde foram encontrados, permitem tecer algumas considerações sobre a cronologia das pinturas rupestres do sítio Caverna da Pedra Pintada.

Os vestígios mais abundantes são as hematitas de variadas tonalidades de vermelho, mas aparecem também suportes para produção de pigmento preto, provavelmente manganês.

Essas duas variedades de cor estão presentes na arte rupestre de Monte Alegre e no próprio sítio, porém outros vestígios também aparecem pigmentados com as mesmas cores, como a cerâmica, um pedaço de madeira carbonizada (Figura 13) encontrado na escavação e algumas lascas associadas às indústrias líticas mais antigas da ocupação do sítio.

Figura 13
Madeira carbonizada com pigmento vermelho; B) pigmento realçado através do programa photoshop. Foto: Claide de Paula Moraes (2014).

Ainda que não seja possível afirmar que as pinturas rupestres estejam relacionadas desde as primeiras ocupações, os resultados obtidos permitem considerar que manifestações simbólicas estavam presentes no cotidiano das populações desde as primeiras evidências da presença humana na região. De modo geral, podemos afirmar que os vestígios da produção de pigmento estão presentes em todos os momentos com indícios da presença humana no contexto do sítio. As evidências mais antigas correspondem a duas lascas com tinta (Figura 14) provenientes da camada V (níveis J2 e I), que foi datada entre 12.160 a 11.390 anos AP (Quadro 1).

Figura 14
Lasca com tinta vermelha encontrada no nível J2 da camada V; B) lasca com tinta vermelha encontrada na camada I; C e D) tinta vermelha destacada através do programa photoshop. Fotos: Edithe Pereira (2017).
Quadro 1
Datações da Caverna da Pedra Pintada (CPP).

Discutir o significado destes vestígios é importante para a questão. As duas lascas são refugos da produção de artefatos bifaciais em uma indústria lítica sofisticada com presença de pontas de projétil. Os vestígios associados a essa indústria lítica estão muito bem definidos e preservados dentro de uma camada datada entre 11.400 e 12.400 anos AP (Quadro 2). As lascas não possuem marcas de uso nem qualquer evidência de preparação para utilização como artefato prático/simbólico. A presença de tinta em suas faces não denota uma intencionalidade de decorá-las. O mais provável é que a presença de tinta nas mesmas decorra de uma atividade indireta de uso/preparo de tinta na superfície onde as mesmas estavam depositadas já como refugo. Como existem pinturas na parede acima da superfície onde as lascas restaram depositadas, a possibilidade de correlação é bastante grande.

Quadro 2
Relação de corantes e objetos com marcas de tinta encontrados na escavação da Caverna da Pedra Pintada.

As evidências materiais relacionadas à prática gráfica rupestre (corantes e corante com marca de uso) continuam aparecendo nos níveis superiores da escavação. Na camada VI, datada entre 9.005 a 8.770 anos AP, foram encontrados três corantes, sendo que um deles apresenta marcas de uso (Figura 15).

Figura 15
Corante com marcas de uso. Foto: Edithe Pereira (2017).

Na camada VII (nível D2), foram encontrados vários suportes com marca de uso de retirada de corante e, na quadra N-2254 E-5302, apareceu um grande fragmento de madeira carbonizada que preservou pigmento vermelho em uma de suas faces (Figura 13). A maior quantidade de materiais relacionados à produção de pigmentos é proveniente dessa camada, que foi datada entre 3.345 a 3.160 anos AP, sugerindo que, nesse período, a atividade gráfica rupestre pode ter sido mais intensa do que em períodos anteriores. A camada VII corresponde também ao período onde a produção cerâmica foi mais intensa (Quadro 2), o que corrobora a hipótese de Pereira (2010)PEREIRA, Edithe. Arte rupestre e cultura material na Amazônia brasileira. In: PEREIRA, Edithe; GUAPINDAIA, Vera (org.). Arqueologia amazônica. Belém: MPEG: IPHAN: SECULT, 2010. p. 259-283., de que parte das pinturas rupestres de Monte Alegre está associada a grupos ceramistas.

Na camada VIII, foi encontrada a maior das quatro fogueiras evidenciadas durante a escavação. Na parede acima do local, há uma grande mancha de fuligem sobrepondo alguns grafismos pintados (Figura 16). A data de carvões provenientes dessa fogueira é de 625 a 605 AP, portanto, as pinturas que estão abaixo da mancha de fuligem são anteriores a essa data.

Figura 16
Manchas de fuligem no suporte. Foto: Claide de Paula Moraes (2014).

Existem outras manchas de fuligem na parede da Caverna da Pedra Pintada, e um dos desafios que temos é identificar a possível presença de pinturas abaixo dessas manchas e novas escavações para identificação de elementos que permitam melhor contextualizar as pinturas rupestres e seu contexto.

A questão que ainda perdura é saber quais os motivos que correspondem às pinturas mais antigas. As mais recentes, de acordo com a hipótese de Pereira (2010)PEREIRA, Edithe. Arte rupestre e cultura material na Amazônia brasileira. In: PEREIRA, Edithe; GUAPINDAIA, Vera (org.). Arqueologia amazônica. Belém: MPEG: IPHAN: SECULT, 2010. p. 259-283., seriam os antropomorfos completos, as representações de cabeça e alguns motivos geométricos, como as volutas, as espirais e os círculos, que apresentam similaridades com as decorações da cerâmica dessa região. Considerando uma das áreas onde houve desplacamento e que já mencionamos, figuras geométricas elaboradas de cor mais escura, como as representadas nas Figuras 11 e 12, poderiam estar relacionadas a períodos mais antigos. Essa afirmação, no entanto, fica ainda no campo das hipóteses.

A ARTE RUPESTRE NO CONTEXTO DAS OCUPAÇÕES HUMANAS ANTIGAS NA AMÉRICA DO SUL

Mesmo diante das dificuldades de contextualização cronológica dos vestígios rupestres, estudos como o empreendido no sítio Caverna da Pedra Pintada mostram a importância de abordar contextos arqueológicos de maneira integrada. Sítios importantes para a discussão das ocupações humanas mais antigas na América do Sul, como os da Serra da Capivara (Guidon, 2004GUIDON, Niède. Arqueologia da região do Parque Nacional Serra da Capivara. In: GUIDON, Niède; PESSIS, Anne-Marie; MARTIN, Gabriela (org.). Antes: histórias da pré-história. Rio de Janeiro: CCBB Rio, 2004. p. 122-141.), Santa Elina (Vialou, A.; Vialou, D., 2019VIALOU, Águeda Vilhena; VIALOU, Denis. Manifestações simbólicas em Santa Elina, Mato Grosso, Brasil: representações rupestres, objetos e adornos desde o pleistoceno ao holoceno recente. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 14, n. 2, p. 343-365, maio/ago. 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1981.81222019000200006.
https://doi.org/10.1590/1981.81222019000...
), Lapa do Santo (Neves et al., 2012NEVES, Walter A.; ARAUJO, Astolfo G. M.; BERNARDO, Danilo V.; KIPNIS, Renato; FEATHERS, James K. Rock Art at the Pleistocene/Holocene Boundary in Eastern South America. Plos One, São Francisco, v. 7, n. 2, p. e32228, Feb. 2012. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0032228.
https://doi.org/10.1371/journal.pone.003...
), Abrigo do Sol (Miller, 2009MILLER, Eurico Theofilo. A cultura cerâmica do tronco Tupi no alto Ji-Paraná, Rondônia, Brasil: algumas reflexões teóricas, hipotéticas e conclusivas. Revista Brasileira de Linguística Antropológica, Brasília, v. 1, n. 1, p. 35-136, dez. 2009.), Pedra do Sol (Valle, 2015VALLE, Raoni. Rock art on geological frontier: the problem of co-variation between rock art graphic behavior and geo-lithological settings. In: IFRAO CONGRESS, 19., 2015, Cáceres. Proceedings [...]. Tomar: Instituto Terra e Memória, 2015. p. 570-585.), possuem em comum a expressiva manifestação de arte rupestre, sejam elas pinturas ou gravuras. A obtenção de dados cronológicos e de possibilidades de contextualização associadas aos estudos técnicos e temáticos da produção dos grafismos pode contribuir para pensarmos na variabilidade comportamental dos primeiros povoadores do continente. Associar os estudos de arte rupestre à temática do povoamento, uma vez que tenhamos possibilidades de contextualização cronológica, pode ajudar a pensar nos tão debatidos caminhos de povoamento. As indústrias líticas e cerâmicas sempre foram utilizadas para discutir onde surge uma inovação de técnica ou de tecnologia, bem como os caminhos, as influências e as abrangências dessas manifestações. Esses dados são utilizados para falar de territórios e de fluxos de deslocamentos de pessoas e ideias. A maior facilidade de contextualização cronológica dessas evidências favorece tais interpretações. Nas pesquisas sobre arte rupestre, muitas vezes uma constatação feita a priori elimina a possiblidade de discussão sobre cronologia. Sugerimos que em muitos dos casos essa limitação de potencial está mais associada à falta de diálogo entre os diferentes especialistas do que uma limitação dos contextos em si.

A Caverna da Pedra Pintada apresenta-se como um contexto difícil para esta tarefa, pois o local possui uma sequência longa e diversificada de momentos de ocupação. Ainda assim, a experiência mostra que é produtivo tentar correlacionar esses dados. De posse de uma sequência cronológica e estratigráfica de vestígios arqueológicos que podem estar associados à produção de arte rupestre, o investimento em um estudo detalhado do que pode ser uma sequência ‘estratigráfica’ das pinturas nas paredes e mais escavações arqueológicas poderá produzir propostas melhor definidas de momentos gráficos distintos nos painéis rupestres de Monte Alegre. Projetos em sítios arqueológicos com sequências cronoculturais mais simples ou mais curtas, que adotem perspectivas integradas de estudo como esta, podem produzir dados interessantes para uma escala comparativa regional e para o melhor entendimento das sequências de manifestações da presença humana no tempo e no espaço.

  • 1
    Sítio cadastrado no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) sob a sigla PA-MT-3: Gruta do Pilão.
  • 2
    Pesquisa realizada no âmbito do projeto “A ocupação pré-colonial de Monte Alegre”, projeto financiado pelo Edital Universal 14/2011 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Além dos autores deste artigo, integram a equipe deste projeto os pesquisadores: Anne Rapp Py-Daniel, Cristiana Barreto, Marcos Magalhães, Maria Jacqueline Rodet, Myrtle Schok, Déborah Duarte, Trinidad Martinez y Rubio, Carlos Barbosa e Hannah Nascimento. O projeto contou também com a colaboração dos pesquisadores Vinicius Honorato, Daniel Vieira de Sousa, João Carlos Ker, Carlos Ernesto R. G. Schafer, Luciano Moura e vários estudantes do curso de graduação em arqueologia da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).
  • 3
    Foram classificados como biomorfas “[...] figuras cujos traços não permitem distinguir se se tratam de representações humanas ou de animais” (Pereira, 2012PEREIRA, Edithe. A arte rupestre de Monte Alegre: Pará, Amazônia, Brasil. Belém: MPEG, 2012. p. 174).
  • 4
    Este tipo de representação é chamado por outros autores como cefalomorfo (Cavallini, 2014CAVALLINI, Marta. As gravuras rupestres da bacia do baixo rio Urubu: levantamento e análise gráfica do sítio Caretas, Itacoatiara – estado do Amazonas. Uma proposta de contextualização. 2014. Dissertação (Mestrado em Arqueologia) – Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.) e antropocéfalo-mórfico (Valle, 2012VALLE, Raoni. Mentes graníticas, mentes areníticas: fronteira geo-cognitiva nas gravuras rupestres do baixo rio Negro, Amazônia Setentrional. 2012. Tese (Doutorado em Arqueologia) – Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.).
  • 5
    Unidades N 2253 L 5302, N 2254 L 5302 e N 2253 L 5303.

AGRADECIMENTOS

Somos gratos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (processo 471365/2011-4), pelo financiamento do projeto “A ocupação pré-colonial de Monte Alegre”; a toda a equipe que fez parte do projeto, bem como aos estudantes e pesquisadores que integraram a equipe como voluntários. Ao Sr. Carlos Baia e ao Sr. Osias e família, pela ajuda no trabalho de campo. Agradecemos também ao Museu Paraense Emílio Goeldi, pelo apoio e pela infraestrutura disponibilizada para realização das atividades do projeto. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ao Comitê Francês de Avaliação da Cooperação Universitária com o Brasil (COFECUB) (edital n. 19/2014) e à UFOPA, por proporcionarem a organização de um simpósio em Santarém/ Monte Alegre, onde algumas questões apresentadas neste artigo puderam ser discutidas e amadurecidas. Agradecemos aos editores e aos pareceristas, pelas sugestões que ajudaram a melhorar a versão final do artigo.

REFERÊNCIAS

  • CAVALLINI, Marta. As gravuras rupestres da bacia do baixo rio Urubu: levantamento e análise gráfica do sítio Caretas, Itacoatiara – estado do Amazonas. Uma proposta de contextualização. 2014. Dissertação (Mestrado em Arqueologia) – Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.
  • CONSENS, Mario. Arte rupestre no Pará: análise de alguns sítios de Monte Alegre. Dédalo, São Paulo, n. 1, p. 265-278, 1989. Número especial.
  • GUIDON, Niède. Arqueologia da região do Parque Nacional Serra da Capivara. In: GUIDON, Niède; PESSIS, Anne-Marie; MARTIN, Gabriela (org.). Antes: histórias da pré-história. Rio de Janeiro: CCBB Rio, 2004. p. 122-141.
  • HARTT, Charles Frederich. Inscripções em rochedos do Brasil. Revista do Instituto Archeológico e Histórico Pernambucano, Recife, n. 47, p. 301-329, 1895.
  • MILLER, Eurico Theofilo. A cultura cerâmica do tronco Tupi no alto Ji-Paraná, Rondônia, Brasil: algumas reflexões teóricas, hipotéticas e conclusivas. Revista Brasileira de Linguística Antropológica, Brasília, v. 1, n. 1, p. 35-136, dez. 2009.
  • NEVES, Walter A.; ARAUJO, Astolfo G. M.; BERNARDO, Danilo V.; KIPNIS, Renato; FEATHERS, James K. Rock Art at the Pleistocene/Holocene Boundary in Eastern South America. Plos One, São Francisco, v. 7, n. 2, p. e32228, Feb. 2012. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0032228.
    » https://doi.org/10.1371/journal.pone.0032228.
  • PEREIRA, Edithe; MARTINEZ I RUBIO, Trinidad; BARBOSA, Carlos Augusto Palheta. Documentação digital da arte rupestre: apresentação e avaliação do método em dois sítios de Monte Alegre, Amazônia, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 8, n. 3, p. 585-603, set./dez. 2013. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1981-81222013000300007.
    » https://doi.org/10.1590/S1981-81222013000300007.
  • PEREIRA, Edithe. A arte rupestre de Monte Alegre: Pará, Amazônia, Brasil. Belém: MPEG, 2012.
  • PEREIRA, Edithe. Arte rupestre e cultura material na Amazônia brasileira. In: PEREIRA, Edithe; GUAPINDAIA, Vera (org.). Arqueologia amazônica Belém: MPEG: IPHAN: SECULT, 2010. p. 259-283.
  • PEREIRA, Edithe. Arte rupestre na Amazônia: Pará. São Paulo: UNESP; Belém: MPEG, 2004.
  • PEREIRA, Edithe. Las pinturas y los grabados rupestres del noroeste de Pará - Amazônia - Brasil 1996. Tese (Doutorado em Arqueologia e Pré-História) – Universidade de Valencia, Valencia, 1996.
  • PEREIRA, Edithe. Análise preliminar das pinturas rupestres de Monte Alegre (PA). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Série Antropologia, Belém, v. 8, n. 1, p. 5-24, 1992.
  • ROOSEVELT, Anna C.; COSTA, Marcondes Lima da; MACHADO, C. Lopes; MICHAB, M.; MERCIER, Norbert; VALLADAS, Hélène; FEATHERS, James; BARNETT, William K.; SILVEIRA, Maura Imázio da; HENDERSON, A.; SILVA, J.; CHERNOFF, B.; REESE, David S.; HOLMAN, J. A.; TOTH, Nicholas; SCHICK, Kathy. Paleoindian Cave Dwellers in the Amazon: the peopling of the Americas. Science, Washington, v. 272, n. 5260, p. 373-384, Apr. 1996. DOI: https://doi.org/10.1126/science.272.5260.373.
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  • VALLE, Raoni. Rock art on geological frontier: the problem of co-variation between rock art graphic behavior and geo-lithological settings. In: IFRAO CONGRESS, 19., 2015, Cáceres. Proceedings [...]. Tomar: Instituto Terra e Memória, 2015. p. 570-585.
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  • VIALOU, Águeda Vilhena; VIALOU, Denis. Manifestações simbólicas em Santa Elina, Mato Grosso, Brasil: representações rupestres, objetos e adornos desde o pleistoceno ao holoceno recente. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 14, n. 2, p. 343-365, maio/ago. 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1981.81222019000200006.
    » https://doi.org/10.1590/1981.81222019000200006.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Ago 2019
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2019

Histórico

  • Recebido
    31 Jan 2019
  • Aceito
    29 Mar 2019
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