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A cronologia Jê meridional e os novos dados para o alto curso do Arroio Cará, Coxilha Rica, Lages, Santa Catarina

The Meridional Jê chronology and new data for the upper reaches of Arroio Cará, Coxilha Rica, Lages, Santa Catarina

Resumo

Este trabalho apresenta os resultados do estudo arqueológico de dois conjuntos de estruturas subterrâneas relacionadas a grupos Jê meridionais, localizadas no alto curso do Arroio Cará, no território cultural da Coxilha Rica, situada no planalto dos Campos Gerais, em Santa Catarina, Sul do Brasil. A revisão dos dados cronológicos disponíveis para sítios Jê meridionais possibilitou identificar a maior concentração de datas entre 800 e 1.600 AD. Foram obtidas três novas datas em 14C para os sítios pesquisados: 680 +/- 30 anos 14C AP para o sítio SC.PQ.17 e 1.440 +/- 30 anos 14C AP e 350 +/- 30 14C anos AP para o sítio SC.PQ.18. A ocupação mais recente, do sítio arqueológico SC.PQ.18, pode estar relacionada ao grupo cartografado por Curt Nimuendajú, junto aos rios Canoas e Pelotas, como ‘Pinaré’.

Palavras-chave
Cronologia Jê; Estruturas subterrâneas; Aterros geométricos; Montículos; Planalto catarinense

Abstract

This work presents the archaeological findings from two sets of pit houses related to southern Jê groups located in the upper reaches of Arroio Cará, in the cultural territory of Coxilha Rica, located in the Campos Gerais Plateau in Santa Catarina, southern Brazil. Reviewing the chronological data available for southern Jê sites made it possible to identify the highest concentration of dates between 800 and 1,600 AD. Three new 14C dates were obtained for these sites: 680+/-30 years 14C BP for the SC.PQ.17 site, and 1,440 +/- 30 years 14C BP and 350 +/- 30 years 14C BP for the SC.PQ.18 site. The most recent occupation of the SC.PQ.18 site may be related to the group mapped by Curt Nimuendaju near the Canoas and Pelotas Rivers as 'Pinaré.'

Keywords
Jê Chronology; Pit houses; Enclosure complex; Mounds; Santa Catarina Plateau

INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta os resultados da pesquisa realizada nos sítios arqueológicos Fazenda Bananeiras I (SC.PQ.17) e Fazenda Bananeiras II (SC.PQ.18), localizados no alto curso do Arroio Cará, na região da Coxilha Rica, no planalto dos Campos Gerais, município de Lages, estado de Santa Catarina. O trabalho visa obter um quadro cronológico da ocupação dos povos Jê meridionais, durante o Holoceno superior, nas terras altas do planalto meridional. Integra o projeto interdisciplinar “Arqueologia e paleoambiente do Arroio Cará – ARCA”1 1 PERIN, Edenir Bagio. Arqueologia e paleoambiente do Arroio Cará. Exame de Qualificação (Doutorando em Geografia) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2016 , que objetiva investigar a justaposição temporal desses grupos com a franca expansão da floresta com araucária, em oposição à permanência de grandes núcleos campestres até o Holoceno superior.

As informações e as reconstruções linguísticas apresentadas em Guérios (1945)GUÉRIOS, R. F. M. O Xocrén é idioma Caingangue. Arquivos do Museu Paranaense, Curitiba, n. 4, p. 321-331, 1945., Davis (1966)DAVIS, I. Proto Jê phonology. Estudos Lingüísticos: Revista Brasileira de Lingüística Teórica e Aplicada, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 10-24, 1966., Maybury-Lewis (1979)MAYBURY-LEWIS, D. (ed.). Dialetical societies: the Gê and Bororo of Central Brazil. Cambridge: Harvard University Press, 1979. e Urban (1998)URBAN, G. A história da cultura brasileira segundo as línguas nativas. In: CUNHA, M. C. (org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. p. 87-102. indicam que o ‘proto-Jê’ tem origem em alguma área situada entre as nascentes dos rios Araguaia e São Francisco, e sua migração para o Sul remonta a 3.000 anos. Informações de Wiesemann (1978)WIESEMANN, U. Os dialetos da língua Kaingang e o Xokleng. Arquivos de Anatomia e Antropologia, Rio de Janeiro, v. 3, p. 199-217, 1978. indicam que o primeiro grupo a migrar foi o Xokleng, ocupando a encosta e a borda do planalto da Serra Geral catarinense. Outras migrações para o Sul chegaram ao planalto rio-grandense.

A presença desses grupos na região planáltica do Brasil meridional e nas encostas da Serra Geral consta também no mapa etnográfico de Curt Nimuendajú, de 1944 (IBGE, 1987INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Mapa etno-histórico do Brasil e regiões adjacentes. Adaptado do mapa de Curt Nimuendajú, 1944. Rio de Janeiro: IBGE, 1987.). Para Wiesemann (1978)WIESEMANN, U. Os dialetos da língua Kaingang e o Xokleng. Arquivos de Anatomia e Antropologia, Rio de Janeiro, v. 3, p. 199-217, 1978. e Veiga (2006)VEIGA, J. Aspectos fundamentais da cultura Kaingang. Campinas: Curt Nimuendajú, 2006., o processo de migração acabou por diferenciar também a língua falada, sendo a mais antiga a dos índios Xokleng, na porção leste de Santa Catarina, e a mais recente a Kaingang, nas porções oeste, sul e norte do planalto meridional. O Kaingang seria falado em cinco dialetos, o mais recente em São Paulo, seguido do que é usado no Paraná, no oeste de Santa Catarina e dos dois mais antigos falados no Rio Grande Sul.

Em contraponto, o estudo de Jolkesky (2010)JOLKESKY, M. P. de V. Reconstrução fonológica e lexical do proto-Jê meridional. 2010. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010., também fazendo uso da glotocronologia, indica que o proto-Jê meridional divergiu linguisticamente em dois grupos: o oriental, formado por Kaingang e Xokleng no Brasil meridional, e o ocidental, composto pelos grupos extintos Ingain e Kindá, que ocuparam territórios do alto Paraná. Os dados obtidos por Jolkesky (2010)JOLKESKY, M. P. de V. Reconstrução fonológica e lexical do proto-Jê meridional. 2010. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010. evidenciam que a divergência linguística a partir do ancestral comum ocorreu por volta de 840 AD, e a data de fissão dos idiomas falados pelos Kaingang e Xokleng é ainda mais recente, ao redor de 1.390 AD, final do século XIV.

Conforme Snow (1977)SNOW, C. T. Uma nota crítica sobre o uso da glotocronologia na Arqueologia. Arquivos do Museu de História Natural, Belo Horizonte, v. 2, p. 192-195, 1977., os estudos derivados do método da glotocronologia podem produzir informações importantes, desde que utilizadas com ressalva, pois comumente os dados linguísticos disponíveis não são suficientemente extensos para fazer datações adequadas. Portanto, é pouco prudente considerar tais informações, em detrimento de dados arqueológicos.

A hipótese de Schmitz et al. (2009)SCHMITZ, P. I.; ARNT, F. V.; BEBER, M. V.; ROSA, A. O.; ROGGE, J. H. Taió, no vale do rio Itajaí, SC. O encontro de antigos caçadores com as casas subterrâneas. Pesquisas, Antropologia, São Leopoldo, n. 67, p. 185-320, 2009. Disponível em: http://www.anchietano.unisinos.br/publicacoes/antropologia/antropologia67/Schmitz,%20Arnt,%20Beber,%20Rosa%20e%20Rogge.pdf. Acesso em: 09 set. 2018.
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sobre a imigração dos grupos Jê para o Sul sugere que ela ocorreu com a infiltração de sucessivas levas de pessoas, formadas por grupos pequenos, que não recusaram contatos ou mesmo associações com as populações existentes. A partir de 2.000 anos AP, as migrações Tupi-Guarani, caracterizadas pela colonização sistemática dos territórios, nos vales dos grandes rios e de seus principais afluentes, acabam por deslocar os grupos Jê para as terras mais altas e frias. Noelli (2000)NOELLI, F. S. A ocupação humana na região Sul do Brasil: arqueologia, debates e perspectivas - 1872-2000. Revista USP, São Paulo, n. 44, p. 218-269, 2000. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i44p218-269.
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também afirma que o avanço Tupi-Guarani pelo litoral, a partir de 700 anos AP, forçou o deslocamento dos grupos Jê para o interior.

Conforme Noelli e Souza (2017)NOELLI, F. S.; SOUZA, J. Novas perspectivas para a cartografia arqueológica Jê no Brasil meridional. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 12, n. 1, p. 57-84, jan./abr. 2017. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1981.81222017000100004.
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, a delimitação entre os territórios dos Jê meridionais e seus ancestrais ‘proto-Jê’ foi muito influenciada pelas disputas com grupos Tupi, que separaram as áreas em parte ocupadas da Serra do Mar de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Espírito Santo e também em áreas do interior de Minas Gerais e de São Paulo. Essas ocupações estabeleceram o vale do Ribeira como o limite litorâneo setentrional por volta de 2 mil AP. Os Guarani impuseram recortes territoriais ainda mais amplos, comprimindo os Jê meridionais nas terras altas da Serra Geral, desde o centro-sul do Paraná até o planalto rio-grandense.

Os dados arqueológicos apontam, ainda, que os Guarani isolaram os territórios Jê no alto Paranapanema e no médio Iguaçu em torno de 1.800 AP; os expulsaram do litoral meridional a partir de 1.200 a 1.000 AP; comprimiram grupos no alto rio Uruguai a aproximadamente 1.500 AP; os empurraram para os campos de Caxias do Sul a cerca de 1.900 AP; e separaram territórios dos vales do Ribeira e Tibagi por volta de 1.500 AP, criando duas áreas nucleares de ocupação Jê que duraram até o século XVII (Silva, F.; Noelli, 2016SILVA, F. A.; NOELLI, F. História indígena e arqueologia: uma reflexão a partir dos estudos sobre os Jê meridionais. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, n. 27, p. 5-20, 2016. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2016.137271.
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).

De acordo com Souza et al. (2016a)SOUZA, J. G. D.; CORTELETTI, R.; ROBINSON, M.; IRIARTE, J. The genesis of monuments: resisting outsiders in the contested landscapes of southern Brazil. Journal of Anthropological Archaeology, Amsterdam, v. 41, p. 196-212, Mar. 2016a. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jaa.2016.01.003.
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, foi nos territórios do alto Uruguai, a leste dos rios Canoas e Pelotas, que surgiram os aterros geométricos como monumentos marcadores territoriais, refletindo também maior complexidade social. Vis-à-vis, tais dinâmicas territoriais e demográficas marcam a ocorrência de conflitos e também de trocas, a ponto de encontrarmos, no ‘léxico Kaingang’, várias palavras de origem Guarani.

Diante desse cenário, este trabalho estabelece um quadro geral dos dados cronológicos disponíveis para os sítios arqueológicos relacionados aos grupos Jê meridionais, suas implicações em termos de ocupação do território, da cultura material e da tipologia dos assentamentos. Por intermédio das datações radiocarbônicas obtidas nas estruturas subterrâneas (pit house) dos sítios pesquisados (SC.PQ.17 e SC.PQ.18), foi possível situar temporalmente parte da ocupação Jê no território conhecido como Coxilha Rica. Os resultados demostram que sua ocupação alcança 1.440 anos AP, estendendo-se até metade do século XVII.

CULTURA MATERIAL

A cerâmica é o principal marcador da cultura material Kaingang e Xokleng. Seu estudo comparativo indica que ela guarda elementos de continuidade com seus ascendentes pré-coloniais em relação ao processo de manufatura e de construção dos recipientes, sendo impossível diferenciar esses povos por intermédio da cerâmica pré-colonial (Silva, F., 1999SILVA, F. A. As cerâmicas dos Jê do Sul do Brasil e os seus estilos tecnológicos: elementos para uma etnoarqueologia Kaingang e Xokleng. Revista do CEPA, Santa Cruz do Sul, v. 23, n. 30, p. 57-73, 1999.). Noelli (2000)NOELLI, F. S. A ocupação humana na região Sul do Brasil: arqueologia, debates e perspectivas - 1872-2000. Revista USP, São Paulo, n. 44, p. 218-269, 2000. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i44p218-269.
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indica que tanto a tecnologia quanto a aparência da cerâmica são comuns e derivadas da mesma matriz cultural dos povos Jê. Também são escassas as informações arqueológicas para diferenciar arqueologicamente a cultura material Kaingang e Xokleng dos povos extintos Ingain e Kindá, que ocuparam territórios no alto Paraná (Jolkesky, 2010JOLKESKY, M. P. de V. Reconstrução fonológica e lexical do proto-Jê meridional. 2010. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010.; Corteletti, 2012CORTELETTI, R. Projeto arqueológico Alto Canoas – PARACA: um estudo da presença Jê no planalto catarinense. 2012. Tese (Doutorado em Arqueologia) – Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.).

Durante a década de sessenta do século XX, Brochado et al. (1969)BROCHADO, J. J. J. P.; CALDERÓN, V.; CHMYZ, I.; DIAS JR., O. F.; EVANS, C.; MARANCA, S.; MEGGERS, B. J.; MILLER, E. T.; NASSER, N. A. S.; PEROTA, C.; PIAZZA, W. F.; RAUTH, J. W.; SIMÕES, M. F. Arqueologia brasileira em 1968: um relatório preliminar sobre o Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas. Publicações Avulsas do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, n. 12, p. 3-33, 1969., no âmbito do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA), utilizaram o conceito de tradição arqueológica de Willey e Phillips (1958)WILLEY, G.; PHILLIPS, P. Method and theory in American Archaeology. Chicago: University of Chicago Press, 1958., focados na dispersão temporal e nos dados morfológicos dos vestígios culturais para agrupar os sítios ‘proto Jê’ em três tradições arqueológicas: Casa de Pedra, Taquara e Itararé.

Os vestígios cerâmicos que foram relacionados à Tradição Casa de Pedra possuem superfícies lisas e polidas, com coloração que varia entre amarela, marrom e preta. Os utensílios cerâmicos apresentam formas típicas de grandes tigelas arredondadas, com paredes delgadas, base espessa e lábios biselados.

A cultura material dos sítios relacionados à Tradição Taquara foi caracterizada por recipientes cerâmicos pequenos com superfície lisa e coloração escura ou marrom. As técnicas decorativas são diagnósticas dessa cultura, apresentando vários padrões plásticos, como o ponteado, combinações de ungulado, pinçado e inciso. Os elementos decorativos podem cobrir toda a superfície exterior dos objetos, ou de forma zonal, geralmente na porção superior da vasilha. Os recipientes são pequenos, com paredes delgadas, em tigelas rasas e jarros cilíndricos fundos, com a base arredondada, levemente aplanada (Brochado et al., 1969BROCHADO, J. J. J. P.; CALDERÓN, V.; CHMYZ, I.; DIAS JR., O. F.; EVANS, C.; MARANCA, S.; MEGGERS, B. J.; MILLER, E. T.; NASSER, N. A. S.; PEROTA, C.; PIAZZA, W. F.; RAUTH, J. W.; SIMÕES, M. F. Arqueologia brasileira em 1968: um relatório preliminar sobre o Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas. Publicações Avulsas do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, n. 12, p. 3-33, 1969.).

A cerâmica característica da Tradição Itararé apresenta formas simples, lisas, de cor marrom-avermelhada a cinza-escura. A única técnica decorativa é um engobo vermelho, presente em menos de 10% dos fragmentos. Os recipientes possuem base arredondada, plana ou côncava, com a boca ampliada, relacionados a tigelas ou jarros (Brochado et al., 1969BROCHADO, J. J. J. P.; CALDERÓN, V.; CHMYZ, I.; DIAS JR., O. F.; EVANS, C.; MARANCA, S.; MEGGERS, B. J.; MILLER, E. T.; NASSER, N. A. S.; PEROTA, C.; PIAZZA, W. F.; RAUTH, J. W.; SIMÕES, M. F. Arqueologia brasileira em 1968: um relatório preliminar sobre o Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas. Publicações Avulsas do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, n. 12, p. 3-33, 1969.).

Revisões posteriores sugerem que essas diferenças morfológicas e decorativas não são significativas, propondo sua junção e identificação como uma única tradição arqueológica, denominada de Taquara-Itararé (Miller, 1971MILLER, E. T. Pesquisas arqueológicas efetuadas no Planalto Meridional, Rio Grande do Sul (rios Uruguai, Pelotas e das Antas). Publicações Avulsas do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, v. 4, n. 15, p. 37-60, 1971.; Araujo, 2007ARAUJO, A. G. M. A tradição cerâmica Itararé-Taquara: características, área de ocorrência e algumas hipóteses sobre a expansão dos grupos Jê no sudeste do Brasil. Revista de Arqueologia, São Paulo, n. 20, p. 9-38, 2007. Disponível em: http://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/ra/article/view/1678/1320. Acesso em: 09 set. 2018.
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). Para Noelli (2000)NOELLI, F. S. A ocupação humana na região Sul do Brasil: arqueologia, debates e perspectivas - 1872-2000. Revista USP, São Paulo, n. 44, p. 218-269, 2000. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i44p218-269.
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, a sistematização das tradições arqueológicas do PRONAPA desconsiderou dados históricos e etnográficos, avaliando erroneamente que estas seriam a continuidade regional e temporal da Tradição Humaitá, após a adoção por difusão da cerâmica, da horticultura e da técnica de polimento em artefatos líticos.

A análise comparativa da cerâmica Jê meridional realizada por Souza (2009)SOUZA, J. G. A cerâmica da Tradição Itararé-Taquara (RS/SC/PR) e a difusão das línguas Jê meridionais: uma análise dos dados. 2009. Monografia de Conclusão de Curso (Bacharelado em História) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009. sugere a existência de estilos locais representativos de territórios mais ou menos extensos, similares às fases criadas no âmbito do PRONAPA. Porém, não são percebidas mudanças abruptas no registro arqueológico ‘proto-Jê’ até o início do período colonial. A análise indica que a adoção da cerâmica parece estar relacionada ao processo de sedentarização, decorrente do crescimento demográfico, do manejo florestal e da adoção da horticultura.

Nesse contexto, são importantes as observações de Oppitz (2015)OPPITZ, G. Coisas que mudam: os processos de mudança nos sítios conchíferos catarinenses e um olhar isotópico sobre o caso do sítio Armação do Sul, Florianópolis/SC. 2015. Dissertação (Mestrado em Arqueologia) – Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. sobre a antiguidade dos vestígios cerâmicos nos sítios litorâneos de Santa Catarina, onde ocorrem comumente sobrepostos a sambaquis e alcançam, aproximadamente, 1.400 anos AP, permanecendo até cerca de 600 AP, pouco antes do surgimento dos primeiros sítios Guarani conhecidos na costa. A produção de cerâmica e sua presença no registro arqueológico tradicionalmente foi associada ao surgimento da agricultura e da complexidade social, acarretando mudanças no modo de vida das populações. Contudo, para o litoral central de Santa Catarina, os dados de Oppitz (2015)OPPITZ, G. Coisas que mudam: os processos de mudança nos sítios conchíferos catarinenses e um olhar isotópico sobre o caso do sítio Armação do Sul, Florianópolis/SC. 2015. Dissertação (Mestrado em Arqueologia) – Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. indicam que o papel da cerâmica esteve mais ligado à manutenção de padrões de dieta, e não de sua mudança.

ESTRUTURAS SUBTERRÂNEAS E ATERROS GEOMÉTRICOS

A tipologia mais numerosa dos sítios arqueológicos atribuídos aos Jê meridionais é a das estruturas subterrâneas e semi-subterrâneas (Figura 1), comumente denominadas como casas subterrâneas (Schmitz, 1988SCHMITZ, P. I. As tradições ceramistas do planalto sul-brasileiro. Documentos, São Leopoldo, n. 2, p. 74-130, 1988.) ou estruturas escavadas (Caldarelli; Herberts, 2005CALDARELLI, S. B.; HERBERTS, A. L. A contribuição das pesquisas no AHE Quebra-Queixo à problemática dos assentamentos em casas subterrâneas no extremo-oeste catarinense e à arqueologia Kaingang. In: COLÓQUIO SOBRE SÍTIOS CONSTRUÍDOS: CASAS SUBTERRÂNEAS, 1., 2005, Santa Maria. Anais [...]. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 2005. p. 85-128.; Copé, 2015COPÉ, S. M. A gênese das paisagens culturais do planalto sul brasileiro. Estudos Avançados, São Paulo, v. 29, n. 83, p. 149-171, 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142015000100007.
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). Essas estruturas são caracterizadas por depressões topográficas de formato circular a ovalado, apresentando dimensões variadas. Ocorrem isoladas, aos pares, geminadas ou em agrupamentos que, no planalto catarinense, ultrapassam uma centena.

Figura 1
Representação de uma estrutura subterrânea (pit house) com três esteios centrais de sustentação do telhado.

Em menor número, ocorrem também os montículos (mounds) funerários (Figura 2) e complexos de estruturas muradas anelares ou aterros geométricos, geralmente circulares, sítios líticos e litocerâmicos. Foram identificadas também ocupações em abrigos rochosos e em galerias subterrâneas, estas escavadas pela fauna pleistocênica (Buchmann et al., 2009BUCHMANN, F. S.; LOPES, F. C.; CARON, F. Icnofósseis (Paleotocas e Crotovinas) atribuídos a mamíferos extintos no Sudeste e Sul do Brasil. Revista Brasileira de Paleontologia, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 247-256, set./dez. 2009.).

Figura 2
Sepultura circular Kaingang. Gravura publicada em Métraux (1946, p. 466)MÉTRAUX, A. The Caingang. In: STEWARD, J. H. (ed.). Handbook of South American Indians. Washington: Smithsonian Institution, 1946. v. 1, p. 445-447., redesenhada a partir da ilustração de Manizer (1930, p. 767)MANIZER, H. Les Kaingang de São Paulo. In: CONGRESS INTERNATIONAL OF AMERICANISTS, 23., 1930, New York. Proceedings […]. New York: ICA, 1930. p. 760-791..

Hipótese corrente na arqueologia Jê considera os conjuntos de estruturas subterrâneas como o resultado de longos ciclos de abandono e de reocupação. Todavia, ela é fundamentada apenas na interpretação de perfis estratigráficos, na tipologia dos artefatos e em número reduzido de datações por radiocarbono (14C), para cada estrutura investigada.

Outra hipótese é apresentada por Souza et al. (2016b)SOUZA, J. G. D.; ROBINSON, M.; CORTELETTI, R.; CÁRDENAS, L. C.; WOLF, S.; MAYLE, F.; DEBLASIS, P. Understanding the chronology and occupation dynamics of oversized pit houses in the Southern Brazilian highlands. Plos One, São Francisco, v. 11, n. 7, p. e0158127, July 2016b. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0158127.
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, decorrente do estudo sistemático de uma estrutura subterrânea no sítio Bagio I, no município de Campo Belo do Sul, no planalto catarinense. Nessa estrutura, foram identificados e datados doze níveis de ocupação, cujas idades em14C demonstram que a estrutura subterrânea pesquisada foi ocupada por três séculos. As datações indicaram, de fato, uma ocupação temporal contínua, que se estende de, aproximadamente, 630 a 280 AP, sem evidências de grandes períodos de abandono, segundo os autores.

As informações etno-históricas atribuem aos grupos Xokleng a prática da cremação dos mortos (Montoya, 1951MONTOYA, Pe. A. R. D. Carta de Pe. Antonio Ruiz, superior da Missão do Guairá, ao Pe. Nicolau Duran, provincial da Companhia de Jesus, 02.07.1628. In: JESUÍTAS e bandeirantes no Guairá (1549-1640). Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1951. p. 259-298. (Manuscritos da Coleção de Angelis, v. 1).; Henry, 1964HENRY, J. Jungle people: a Kaingang tribe of the highlands of Brazil. 2nd ed. New York: Vintage Books, 1964.), que passa a ocorrer em decorrência da desterritorialização, o que os obrigou a viverem em pequenos grupos em constante mobilidade, ocupando acampamentos provisórios (Noelli, 2000NOELLI, F. S. A ocupação humana na região Sul do Brasil: arqueologia, debates e perspectivas - 1872-2000. Revista USP, São Paulo, n. 44, p. 218-269, 2000. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i44p218-269.
https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036....
). Os Kaingang também cobriam seus enterramentos com montículos e estruturas anelares de terra (Manizer, 2006MANIZER, H. Os Kaingáng de São Paulo. Tradução de Juracilda Veiga. Campinas: Ed. Curt Nimuendajú, 2006.).

Os sítios de estrutura anelar, contendo ou não montículos no interior de muros de terra em relevo, foram documentados inicialmente por Menghin (1957)MENGHIN, O. El poblamiento Prehistorico de Misiones. Anales de Arqueologia y Etnologia, Mendoza, v. 12, p. 19-40, 1957., em Missiones (Argentina), e, posteriormente, por Rohr (1971)ROHR, J. A. Os sítios arqueológicos do planalto catarinense, Brasil. Pesquisas, Antropologia, São Leopoldo, n. 24, p. 1-56, 1971., Chmyz e Sauer (1973)CHMYZ, I.; SAUER, Z. C. P. Nota prévia sobre as pesquisas arqueológicas no Vale do Rio Piquiri. Dédalo, São Paulo, v. 7, n. 13, p. 7-31, 1973. e Mentz Ribeiro e Ribeiro (1985)MENTZ RIBEIRO, P. A.; RIBEIRO, C. T. Levantamentos arqueológicos no município de Esmeralda, RS, Brasil. Revista do CEPA, Santa Cruz do Sul, v. 12, n. 14, p. 49-105, 1985., nos três estados do Sul do Brasil. As interpretações dos autores oscilavam entre ‘danceiros’ e estruturas funerárias (ou ambos associados, sendo as danças a parte do ritual funerário), pois, até aquele momento, não havia sido encontrado material ósseo no interior das estruturas pesquisadas que comprovassem atividades funerárias. Apenas recentemente, em pesquisas realizadas nos vales dos rios Canoas e Pelotas, foi comprovada a presença de ossos humanos calcinados em estruturas semelhantes (De Masi, 2003DE MASI, M. A. N. Arqueologia das Terras Altas do Sul do Brasil: o baixo vale do rio Canoas, SC. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE DE ARQUEOLOGIA BRASILEIRA, 12., 2003, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: SAB, 2003. 1 CD-ROM.; Copé et al., 2002COPÉ, S. M.; SALDANHA, J. D. M. Em busca de um sistema de assentamento para o Planalto Sul Rio-Grandense: escavações no sítio RS-NA-03, Bom Jesus, RS. Pesquisas, Antropologia, São Leopoldo, n. 58, p. 107-120, 2002.; Caldarelli, 2002CALDARELLI, S. B. (org.). Projeto de levantamento arqueológico na área de inundação e salvamento arqueológico no canteiro de obras da UHE Barra Grande, SC/RS. Relatório Final 1: Salvamento arqueológico no canteiro de obras, margem direita e esquerda do rio Pelotas: resultados dos trabalhos de campo. [S. l.]: Scientia Ambiental, dezembro de 2002.).

Os dados arqueológicos apresentados por Müller (2011)MÜLLER, L. M. (org.). Estudo e valorização do patrimônio arqueológico do vale do rio Pelotas, SC: a contribuição da UHE Barra Grande. Florianópolis: Scientia Consultoria Científica, 2011. Disponível em: https://scientiaconsultoria.com.br/site2009/pdf/estudos/Estudo-e-Valorizacao-Pat-Arqueo-UHE-Barra-Grande.pdf. Acesso em: 09 set. 2018.
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em sítios funerários, na bacia do rio Pelotas, revelaram que, tanto nos aterros murados quanto no interior dos montículos, não existem indícios materiais que remetam à função de habitação. As estruturas de cremação estão localizadas na base dos montículos, indicando que sua construção ocorre após a cremação. A análise dos fragmentos ósseos identificados revelou fissuras ósseas decorrentes da ação do fogo: durante o ritual, os corpos foram cremados em alta temperatura, conferindo aos fragmentos a coloração branca, decorrente da calcinação (Müller, 2008MÜLLER, L. M. Sobre índios e ossos: estudo de três sítios de estruturas anelares construídos para enterramento por populações que habitavam o vale do rio Pelotas no período pré-contato. 2008. Dissertação (Mestrado em História) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008., 2011MÜLLER, L. M. (org.). Estudo e valorização do patrimônio arqueológico do vale do rio Pelotas, SC: a contribuição da UHE Barra Grande. Florianópolis: Scientia Consultoria Científica, 2011. Disponível em: https://scientiaconsultoria.com.br/site2009/pdf/estudos/Estudo-e-Valorizacao-Pat-Arqueo-UHE-Barra-Grande.pdf. Acesso em: 09 set. 2018.
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).

As escavações do sítio RS-PS-21, em Pinhal da Serra, no planalto rio-grandense, realizadas por Copé e Saldanha (2002)COPÉ, S. M.; SALDANHA, J. D. M.; CABRAL, M. P. Contribuições para a pré-história do planalto: estudo da variabilidade de sítios arqueológicos de Pinha da Serra, RS. Pesquisas, Antropologia, São Leopoldo, n. 58, p. 121-138, 2002., também apontam para a função funerária do montículo pesquisado. Essas informações, em parte, estão de acordo com as descrições etno-históricas de Kempf (1947)KEMPF, W. G. Notas sobre um grupo de indígenas de Santa Catarina. Revista do Arquivo Municipal, São Paulo, v. 113, p. 25-34, 1947. e Henry (1964)HENRY, J. Jungle people: a Kaingang tribe of the highlands of Brazil. 2nd ed. New York: Vintage Books, 1964..

Aterros geométricos e montículos surgem a partir do último milênio (Iriarte et al., 2008IRIARTE, J.; GILLAM, J. C.; MAROZZI, O. Monumental burials and memorial feasting: an example from the southern Brazilian highlands. Antiquity, Cambridge, v. 318, n. 82, p. 947-961, Dec. 2008. DOI: https://doi.org/10.1017/S0003598X00097702.
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; Corteletti, 2012CORTELETTI, R. Projeto arqueológico Alto Canoas – PARACA: um estudo da presença Jê no planalto catarinense. 2012. Tese (Doutorado em Arqueologia) – Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.), caracterizados por estruturas circulares, elípticas, retangulares ou com anexos, que conferem formato próximo a uma fechadura. Seus aterros possuem até 1 m de altura com 1 a 6 m de largura, e o diâmetro varia entre 10 e 180 m (Mentz Ribeiro; Ribeiro, 1985MENTZ RIBEIRO, P. A.; RIBEIRO, C. T. Levantamentos arqueológicos no município de Esmeralda, RS, Brasil. Revista do CEPA, Santa Cruz do Sul, v. 12, n. 14, p. 49-105, 1985.; Souza et al., 2016aSOUZA, J. G. D.; CORTELETTI, R.; ROBINSON, M.; IRIARTE, J. The genesis of monuments: resisting outsiders in the contested landscapes of southern Brazil. Journal of Anthropological Archaeology, Amsterdam, v. 41, p. 196-212, Mar. 2016a. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jaa.2016.01.003.
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).

Apesar das imprecisões apontadas em D’Angelis (2006)D’ANGELIS, W. R. Mabilde e seus “apontamentos” sobre os coroados selvagens: tentando separar informação de mistificação e preconceitos. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA, 25., 2006, Goiânia. Anais [...]. Goiânia: ABA, 2006. p. 1-19. Disponível em: https://docplayer.com.br/7577471-Mabilde-e-seus-apontamentos-sobre-os-coroados-selvagens-tentando-separar-informacao-de-mistificacao-e-preconceitos-1-wilmar-da-rocha-d-angelis.html. Acesso em: 09 set. 2018.
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, os dados etnográficos relatados por Mabilde (1897)MABILDE, P. A. B. Apontamentos sobre os indígenas selvagens da nação Coroados que habitam os sertões do Rio Grande do Sul. Anuário do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 13, p. 145-167, 1897. indicam que os Kaingang históricos do Rio Grande do Sul sepultavam apenas os caciques das tribos em montículos. As informações disponíveis para os Xokleng de Santa Catarina indicam que também sepultavam seus líderes em montículos, de forma secundária, após cremar os corpos (Lavina, 1994LAVINA, R. Os Xokleng de Santa Catarina: uma etno-história e sugestões para os arqueólogos. 1994. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 1994.). Essas informações estão de acordo com a proposta de Binford (1971)BINFORD, L. Mortuary practices: their study and their potential. Society for American Archaeology, Washington, n. 25, p. 6-29, 1971., que, ao interpretar sociedades pré-históricas, por intermédio das práticas funerárias, indica que a importância e o status social do indivíduo em vida serão materializados no tratamento recebido após a morte.

PADRÃO DE ASSENTAMENTO

As primeiras tentativas de explicar o sistema de assentamento dos construtores de casas subterrâneas, baseadas em dados etno-históricos, pressupõem a existência de ocupações sazonais para as terras altas, realizadas por pequenos grupos seminômades. Os assentamentos seriam distintos, conforme as diferenças ambientais sazonais, principalmente relacionadas à disponibilidade de alimentos. No verão e no outono, época de abundância de recursos, os assentamentos estariam localizados na proximidade de rios e de lagos. No inverno, seriam ocupadas as terras altas, em função da disponibilidade de pinhão. Na primavera, ocorreriam dispersões de grupos menores, devido à escassez de recursos (Schmitz; Becker, 1991SCHMITZ, P. I.; BECKER, Í. I. B. Os primitivos engenheiros do planalto e suas estruturas subterrâneas: a tradição Taquara. Documentos, São Leopoldo, v. 5, p. 67-105, 1991.).

O padrão de mobilidade para os grupos Xokleng proposto por Lavina (1994)LAVINA, R. Os Xokleng de Santa Catarina: uma etno-história e sugestões para os arqueólogos. 1994. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 1994., com base em dados etno-históricos, sugere alta mobilidade para o período da primavera e do verão, quando os grupos ocupavam as encostas da Serra Geral, e baixa mobilidade para o outono e o inverno, nas terras altas. Ao contrário, Farias (2005)FARIAS, D. S. E. Distribuição e padrão de assentamento – propostas para os sítios da Tradição Umbu na encosta de Santa Catarina. 2005. Tese (Doutorado em História) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005. sugere que a encosta constitui espaço amplo e diverso, abrigando áreas de ecótono, com significativa quantidade de recursos, disponíveis durante o ano todo, que possibilitava estabilidade para os grupos pré-históricos habitantes da região em momento anterior ao contato com a sociedade europeia. A cultura material presente nos sítios pesquisados sugere também a possibilidade de continuidade entre sociedades de grupos caçadores-coletores antigos e a ocupação Jê da encosta atlântica de Santa Catarina.

O modelo Xokleng proposto por Farias (2005)FARIAS, D. S. E. Distribuição e padrão de assentamento – propostas para os sítios da Tradição Umbu na encosta de Santa Catarina. 2005. Tese (Doutorado em História) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.para esta região sugere a existência de assentamentos estáveis, com cabanas equidistantes em 50 a 100 metros, onde habitariam de 50 a 100 pessoas, distribuídas em aproximadamente uma dezena de unidades, as quais eram ligadas por trilhas a outras cabanas menores e menos elaboradas, ocupadas por até vinte pessoas, durante incursões de caça e de coleta. Cabanas amplas e mais elaboradas eram necessárias para rituais de perfuração dos lábios, que atraíam pessoas de outras regiões. A comparação entre o modelo Xokleng com os dados arqueológicos disponíveis, a distribuição espacial dos sítios e as informações orais e documentais, realizada por Claudino (2011)CLAUDINO, D. C. Arqueologia na encosta catarinense: em busca dos vestígios materiais Xokleng. 2011. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2011., indica que o modelo não é totalmente compatível com a realidade arqueológica da área de rio Fortuna, região do alto curso do rio Tubarão, sudeste de Santa Catarina.

Estudos sistêmicos recentes identificam contemporaneidade e sobreposição espacial das diferentes tipologias de sítios arqueológicos, indicando que a variabilidade está relacionada à função dos sítios arqueológicos dentro de sistemas de assentamentos regionais complexos (De Masi, 2009DE MASI, M. A. N. Centros cerimoniais do planalto meridional: uma análise intrassítio. Revista de Arqueologia, Pelotas, v. 22, n. 1, p. 99-113, 2009. DOI: https://doi.org/10.24885/sab.v22i1.263.
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; Corteletti et al., 2015CORTELETTI, R.; DICKAU, R.; DEBLASIS, P.; IRIARTE, J. Revisiting the economy and mobility of southern proto-jê (Taquara-Itararé) groups in the southern Brazilian highlands: starch grain and phytoliths analyses from the Bonin site, Urubici, Brazil. Journal of Archaeological Science, Amsterdam, v. 58, p. 46-61, June 2015. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jas.2015.03.017.
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; Copé, 2015COPÉ, S. M. A gênese das paisagens culturais do planalto sul brasileiro. Estudos Avançados, São Paulo, v. 29, n. 83, p. 149-171, 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142015000100007.
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; Souza, 2015SOUZA, J. G. Centros cerimoniais e sistemas de assentamento Jê do Sul. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, v. 20, p. 49-55, 2015. Suplemento.; Souza et al., 2016aSOUZA, J. G. D.; CORTELETTI, R.; ROBINSON, M.; IRIARTE, J. The genesis of monuments: resisting outsiders in the contested landscapes of southern Brazil. Journal of Anthropological Archaeology, Amsterdam, v. 41, p. 196-212, Mar. 2016a. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jaa.2016.01.003.
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). No baixo vale do rio Canoas, De Masi (2009)DE MASI, M. A. N. Centros cerimoniais do planalto meridional: uma análise intrassítio. Revista de Arqueologia, Pelotas, v. 22, n. 1, p. 99-113, 2009. DOI: https://doi.org/10.24885/sab.v22i1.263.
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sugere baixa mobilidade para os grupos ‘proto-Jê’ durante o ano todo, incluindo a prática da agricultura e a produção cerâmica, em um horizonte cronológico entre 1.440-1.640 anos AD.

A pesquisa de microfósseis vegetais desenvolvida por Corteletti et al. (2015)CORTELETTI, R.; DICKAU, R.; DEBLASIS, P.; IRIARTE, J. Revisiting the economy and mobility of southern proto-jê (Taquara-Itararé) groups in the southern Brazilian highlands: starch grain and phytoliths analyses from the Bonin site, Urubici, Brazil. Journal of Archaeological Science, Amsterdam, v. 58, p. 46-61, June 2015. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jas.2015.03.017.
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em fragmentos cerâmicos provenientes de uma estrutura subterrânea do sítio Bonin no alto Canoas, em Urubici, Santa Catarina, revelou o consumo de mandioca (Manihot esculenta), feijão (Phaseolus sp.), milho (Zea mays), abóbora (Cucurbita sp.) e possivelmente inhame (Dioscorea sp.). Os dados mostram que os grupos ‘proto-Jê’ tinham, em sua dieta, uma série de alimentos vegetais e praticaram a horticultura antes do período colonial, permitindo sua permanência nas terras altas durante o ano todo, sem a necessidade de deslocamentos para a encosta e o litoral.

O estudo dos centros cerimoniais e dos sistemas de assentamentos apresentado por Souza (2015)SOUZA, J. G. Centros cerimoniais e sistemas de assentamento Jê do Sul. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, v. 20, p. 49-55, 2015. Suplemento. propõe que os territórios Jê eram organizados a partir de: 1) conjuntos densos de casas subterrâneas que funcionaram como lugares centrais, distantes até meio dia de caminhada de outros conjuntos de casas isoladas; 2) aterros circulares de pequenas dimensões com montículos funerários, servindo a grupos que habitavam conjuntos de casas subterrâneas próximas; e 3) aterros circulares de grandes dimensões, como centros cerimoniais nas fronteiras dos territórios.

Ainda em relação às áreas com sepultamentos no alto Uruguai, Saldanha (2008)SALDANHA, J. D. Paisagem e sepultamentos nas Terras Altas do sul do Brasil. Revista de Arqueologia, Juiz de Fora, v. 21, n. 1, p. 85-95, 2008. indica a ocorrência de dois padrões distintos para as áreas de Bom Jesus e Pinhal da Serra, no planalto rio-grandense. Os sepultamentos de Bom Jesus estão localizados em abrigos rochosos, locais abertos que permitem o contato e o manuseio dos restos mortais. Nestes sítios, os mortos estão ‘junto dos vivos’, permitindo encontros físicos e sepultamentos coletivos que proporcionariam laços comunais amplos. Em Pinhal da Serra, os sepultamentos estão cremados e encerrados em montículos cercados por aterros geométricos. Essas estruturas separam a pessoa sepultada de sua comunidade, marcando a ancestralidade em um ponto da paisagem, e a identidade dos indivíduos vivos passaria por sua descendência.

A pesquisa de Souza et al. (2016a)SOUZA, J. G. D.; CORTELETTI, R.; ROBINSON, M.; IRIARTE, J. The genesis of monuments: resisting outsiders in the contested landscapes of southern Brazil. Journal of Anthropological Archaeology, Amsterdam, v. 41, p. 196-212, Mar. 2016a. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jaa.2016.01.003.
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sobre os processos de expansão populacional, contatos e estabelecimentos de fronteiras no planalto catarinense indica que os complexos de aterros murados surgem paulatinamente como resposta à migração de grupos Tupi-Guarani e suas primeiras incursões sobre territórios ‘proto-Jê’ do Sul, pelo vale do rio Uruguai. Os dados indicam que montículos estão concentrados em áreas onde o contato foi evitado. Assim, esses sítios constituíam um elemento importante na definição das fronteiras dos territórios, funcionando como marcos de resistência aos grupos invasores (Souza et al., 2016aSOUZA, J. G. D.; CORTELETTI, R.; ROBINSON, M.; IRIARTE, J. The genesis of monuments: resisting outsiders in the contested landscapes of southern Brazil. Journal of Anthropological Archaeology, Amsterdam, v. 41, p. 196-212, Mar. 2016a. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jaa.2016.01.003.
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). Não pode ser desconsiderada também a possibilidade de contatos interétnicos com outros grupos, conforme informações apresentadas por DeBlasis et al. (2014)DEBLASIS, P.; FARIAS, D. S.; KNEIP, A. Velhas tradições e gente nova no pedaço: perspectivas longevas de arquitetura funerária na paisagem do litoral sul-catarinense. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, n. 24, p. 109-136, 2014. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2014.109328.
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, Iriarte et al. (2017)IRIARTE, J.; DEBLASIS, P.; SOUZA, J. G. Emergent complexity, changing landscapes, and spheres of interaction in Southeastern South America during the Middle and Late Holocene. Journal of Archaeological Research, Berlin, v. 25, n. 3, p. 251-313, Sept. 2017. DOI: https://doi.org/10.1007/s10814-016-9100-0.
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e Reis, L. et al. (2018)REIS, L. B.; ALMEIDA, F. S.; BUENO, L. R. Entre ‘estruturas e pontas’: o contexto arqueológico do Alto Vale do Itajaí do Sul e o povoamento do Brasil meridional. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 13, n. 3, p. 597-623, set./dez. 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1981.81222018000300007.
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.

CRONOLOGIA

Os dados cronológicos disponíveis na bibliografia para os sítios ‘proto-Jê’ (Quadros 1 a 3) alcançam 2.858 +/- 35 anos AP para o Abrigo Jaguariaíva, no segundo planalto paranaense (Parellada, 2016PARELLADA, C. I. Paisagens transformadas: a arqueologia de povos Jê no Paraná, Sul do Brasil. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, n. 27, p. 158-167, 2016.), e 2.640 +/- 40 anos AP, no sítio SC.CL.43, escavado por Schmitz et al. (2010)SCHMITZ, P. I.; ARNT, F. V.; BEBER, M. V.; ROSA, A. O.; FARIAS, D. S. Casas subterrâneas no planalto de Santa Catarina: São José do Cerrito. Pesquisas, Antropologia, São Leopoldo, n. 68, p. 7-78, 2010., em São José do Cerrito, no planalto catarinense. Esses dados poderiam confirmar, em parte, a proposta de Urban (1998)URBAN, G. A história da cultura brasileira segundo as línguas nativas. In: CUNHA, M. C. (org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. p. 87-102., contudo, sua associação com grupos Jê meridionais é incerta, pois não existem muitos dados a respeito do seu contexto arqueológico, que pode estar relacionado a grupos caçadores-coletores.

Quadro 1
Datas em 14C e termoluminescência (TL) disponíveis para os sítios Jê no estado do Paraná.
Quadro 2
Datas em 14C disponíveis para os sítios Jê no estado de Santa Catarina.
Quadro 3
Datas em 14C e termoluminescência (TL) disponíveis para os sítios Jê no estado do Rio Grande do Sul

Uma data de 690 AC (2.640 ± 40 AP) obtida por Schmitz et al. (2010)SCHMITZ, P. I.; ARNT, F. V.; BEBER, M. V.; ROSA, A. O.; FARIAS, D. S. Casas subterrâneas no planalto de Santa Catarina: São José do Cerrito. Pesquisas, Antropologia, São Leopoldo, n. 68, p. 7-78, 2010. em uma fogueira sob o aterro, associado a uma estrutura subterrânea do sítio SCCL43, em São José do Cerrito, Santa Catarina, é interpretada pelos pesquisadores apenas como uma ocupação recuada, sem filiação cultural. De Masi (2005)DE MASI, M. A. N. Projeto de salvamento arqueológico Usina Hidrelétrica Campos Novos. Relatório Final. Florianópolis: Campos Novos Energia – Enercan, 2005. também obteve uma data de 560 AC (2.510 ± 40 anos AP) para um sítio litocerâmico a céu aberto no município de Anita Garibaldi, em Santa Catarina. O horizonte cronológico revelado por essas datas marca ocupações com poucas informações arqueológicas, sendo difícil estabelecer sua relação com os Jê meridionais, cujos sítios são mais frequentes a partir do início da era cristã.

As datações em14C obtidas por Caldarelli e Herberts (2002)CALDARELLI, S. B.; HERBERTS, A. L. Estruturas habitacionais escavadas na bacia do rio Chapecó, extremo oeste catarinense. Pesquisas, Antropologia, São Leopoldo, n. 56, p. 139-156, 2002. para o sítio Quebra Queixo-22, às margens do rio Chapecó, no município de Ipuaçu, oeste de Santa Catarina, indicam que a ocupação do planalto por esses grupos estendeu-se até o período histórico entre 1.800 e 1.850 anos AD.

As pesquisas arqueológicas realizadas nas últimas cinco décadas produziram uma quantidade substancial de datações14C para os sítios relacionados aos Jê meridionais, sendo necessária uma ampla revisão para definir os períodos de expansão demográfica dos grupos. A região da Coxilha Rica, no planalto dos Campos Gerais, ao sul da cidade de Lages, representa um hiato no que tange à cronologia Jê para o Sul do Brasil. Esse problema demandou pesquisas de campo e prospecções arqueológicas em sítios que forneceram datas em14C as quais situam cronologicamente os sítios Jê ou ‘proto-Jê’ na região.

Os objetivos específicos deste trabalho foram direcionados para obter idades14C para os sítios identificados pela Scientia Ambiental (Caldarelli; Herberts, 2004CALDARELLI, S. B.; HERBERTS, A. L. Levantamento arqueológico na área diretamente afetada da UHE Pai Querê, Rio Pelotas, SC/RS. Relatório final. Florianópolis: Scientia Ambiental, 2004. (Levantamento Arqueológico da Margem Direita do Rio Pelotas, v. 2).), a saber: Fazenda Bananeiras I (SC.PQ.17) e Fazenda Bananeiras II (SC.PQ.18), localizados no alto curso do Arroio Cará, na Coxilha Rica, Lages, em Santa Catarina.

O contato mais frequente entre os colonizadores europeus e grupos Jê no planalto meridional remonta ao início do século XVII, quando as bandeiras paulistas de captura e de aprisionamento já alcançavam essas terras. Somadas às incursões bandeirantes, o século XVII também marca as iniciativas missioneiras da Companhia de Jesus no estabelecimento de reduções na região (Possamai, 1992POSSAMAI, O. As relações entre São Francisco de Paula e os povoados dos municípios de Santo Antônio da Patrulha. In: BARROSO, V. L. M. (org.). Raízes de Santo Antônio da Patrulha, São Francisco de Paula e Tramandaí. Porto Alegre: EST, 1992. p. 126-129.). Dada a cronologia desses eventos, a hipótese apresentada neste trabalho indica que a presença de grupos Jê meridionais na região que é objeto deste estudo estendeu-se até o início do século XVII.

MATERIAIS E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO

O território cultural da Coxilha Rica localiza-se no município de Lages, no estado de Santa Catarina, Sul do Brasil, entre os vales dos rios Pelotas, Lava-Tudo e Pelotinhas, onde a altitude varia entre 800 e 1.300 m (Figura 3). A bacia hidrográfica do Arroio Cará situa-se ao sul da cidade de Lages, no planalto dos Campos Gerais, unidade geomorfológica descontínua, pouco dissecada a planar, marcada por colinas e morros convexos. A unidade é delimitada pelos planaltos dissecados dos rios Iguaçu e Uruguai, sendo limitada a leste pelas escarpas erosivas da Serra Geral (Santa Catarina, 1986SANTA CATARINA. Gabinete de Planejamento e Coordenação Geral, Subchefia de Estatística, Geografia e Informática, Atlas de Santa Catarina. Rio de Janeiro: Aerofoto Cruzeiro, 1986.).

Figura 3
Área de estudo e localização dos sítios arqueológicos estudados. Mapa elaborado por Edenir Bagio Perin (2018).

A Coxilha Rica está inserida no domínio fitogeográfico dos campos, que ocorre quase em sobreposição à unidade geomorfológica do planalto dos Campos Gerais. A vegetação é marcada pela ocorrência de campos com capões, matas ciliares e bosques de pinheiros, com predominância de ervas, gramíneas, ciperáceas e leguminosas (Klein, 1978KLEIN, R. M. Mapa fitogeográfico de Santa Catarina. In: REITZ, R. (ed.). Flora ilustrada catarinense. Itajaí: Herbário Barbosa Rodrigues, 1978. p. 1-24.).

Nessa área do planalto, ocorre estacionalidade fisiológica da vegetação por ação do frio. Matas de galeria acompanham rios e arroios em faixas estreitas, limitadas pelos campos ou pela umidade. Em alguns locais, pouco degradada, principalmente devido ao seu isolamento geográfico e ao aproveitamento histórico dos campos naturais para pecuária extensiva, que não exigiu alterações significativas da paisagem.

O clima da região Sul do Brasil é mesotérmico temperado. Sua homogeneidade é alterada somente pela ocorrência de verões quentes nas áreas mais baixas e de verões amenos nas terras altas do interior. A pluviosidade do Sul do Brasil é influenciada pela ação do anticiclone do Atlântico Sul, que é um sistema semipermanente de alta pressão que transporta umidade do oceano para o interior. Avanços de frentes frias também causam pluviosidade na área, determinando a ausência de estações secas marcadas.

A existência de sítios arqueológicos na área de estudo já foi atestada em levantamentos pretéritos de Reis, M. (1980)REIS, M. J. A problemática das estruturas subterrâneas no planalto catarinense. 1980. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1980. e de Caldarelli e Herberts (2004)CALDARELLI, S. B.; HERBERTS, A. L. Levantamento arqueológico na área diretamente afetada da UHE Pai Querê, Rio Pelotas, SC/RS. Relatório final. Florianópolis: Scientia Ambiental, 2004. (Levantamento Arqueológico da Margem Direita do Rio Pelotas, v. 2).. Porém, essas ocupações ainda não estão datadas, havendo um hiato espacial no que tange à cronologia do povoamento das terras altas de Santa Catarina por grupos Jê meridionais.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O levantamento de dados cronológicos disponíveis para o planalto meridional teve como base publicações e periódicos especializados, relacionados à arqueologia. A pesquisa foi sistematizada para os estados do Paraná, de Santa Catarina e de Rio Grande do Sul, de modo a obter as seguintes informações: nome ou sigla do sítio arqueológico, município, datas em14C AP ou luminescência, código do laboratório que datou a amostra e a respectiva fonte consultada.

Nas estruturas arqueológicas selecionadas para este estudo (SC.PQ.17 e SC.PQ.18), foram executadas pequenas sondagens por amostragem probabilística (Renfreew; Bahn, 1998RENFREEW, C.; BAHN, P. Arqueologia: teorías, métodos y práticas. Madrid: Akal, 1998.), com o objetivo de identificar vestígios arqueológicos em subsolo. A escolha das intervenções também foi guiada pelas características físicas de cada área prospectada, por alterações topográficas e por ocorrência de estruturas de combustão e demais vestígios.

As datas em14C foram obtidas por intermédio de fragmentos de madeira carbonizada, coletadas nas estruturas arqueológicas e encaminhadas ao laboratório Beta Analytic. A documentação das intervenções arqueológicas foi realizada mediante o uso de aparelho receptor GPS Garmim Legend e os dados foram sistematizados em um Sistema de Informação Geográfica (SIG) por intermédio do software Esri ArcGIS 10.4. Todos os procedimentos foram realizados com autorização das instituições governamentais responsáveis2 2 INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN). Portaria n. 64, de 02 de dezembro de 2016; Parecer técnico n. 17/2018/DIVTEC/IPHAN/SC, de 24 de janeiro de 2018. Processo IPHAN n. 01510.002018/2016-24. , mediante apresentação de projetos e de relatórios de pesquisa (Herberts; Perin, 2016HERBERTS, A. L.; PERIN, E. B. Projeto de pesquisa arqueológica pré-histórica e paleoambiental no Vale do Arroio Cará, município de Lages, estado de Santa Catarina. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2016., 2017).

RESULTADOS

As prospecções realizadas possibilitaram atestar o caráter arqueológico de nove estruturas subterrâneas investigadas (Quadro 4). O sítio arqueológico SC.PQ.17 é formado por três estruturas escavadas com diâmetro de aproximadamente 10 m e profundidade entre 1,5 a 2,8 m. No sítio SC.PQ.18, foram identificadas seis estruturas escavadas com diâmetro entre 8 e 11,2 m, e profundidade entre 1,9 e 0,3 m. Ambos estão implantados em altitude superior a 1.100 m, situados no interflúvio direito do Arroio Cará.

Quadro 4
Localização e dimensões das estruturas arqueológicas identificadas nos sítios SC.PQ.17 e SC.PQ.18.

As três estruturas subterrâneas do sítio SC.PQ.17 estão implantadas na encosta de uma pequena colina. A distância entre elas não ultrapassa 10 m, e a posição rebaixada da estrutura A causa acúmulo de água no seu interior, impedindo a execução de intervenções controladas. No sítio SC.PQ.18, as estruturas estão dispostas no topo de uma elevação sob um bosque com Araucária, a aproximadamente 200 m do sítio SC.PQ.17. As estruturas A, B, C e D estão próximas, quase sobrepostas, enquanto que as estruturas E e F estão localizadas a aproximadamente 15 m a Sudeste (Figura 4).

A execução das sondagens possibilitou identificar fragmentos de madeira carbonizada concentradas a partir de 60 cm de profundidade em todas as estruturas subterrâneas investigadas. A escolha das amostras para datações em14C foi guiada pela concentração dos vestígios (Figura 5).

Figura 4
Modelo digital de elevação da bacia hidrográfica do Arroio Cará e localização dos sítios arqueológicos identificados por Caldarelli e Herberts (2004); B) planta topográfica e localização das estruturas subterrâneas que compõem os sítios arqueológicos SC.PQ.17 e SC.PQ.18; C) perfil topográfico da bacia do Arroio Cará; D) perfil topográfico de implantação dos sítios SC.PQ.17 e SC.PQ.18. Mapa elaborado por Edenir Bagio Perin (2018).
Figura 5
Gráficos de distribuição do peso de madeira carbonizada identificada nas sondagens. Gráfico elaborado por Edenir Bagio Perin (2018).

As três idades em14C obtidas nos sítios arqueológicos mostram que o alto curso do Arroio Cará foi ocupado há mais de um milênio. A amostra obtida no centro da estrutura B do sítio SC.PQ.17, a 80 cm de profundidade, possui 680 +/- 30 anos14C AP (Beta 487449) ou 1.293-1.393 cal AD. Para o sítio SC.PQ.18, foram obtidas duas datas para a estrutura C: a primeira amostra entre 30-40 cm de profundidade alcança 1.440 +/- 30 anos14C AP (Beta 499966) ou 598-677 cal AD; a segunda a 80-90 cm de profundidade é recente, 350 +/- 3014C AP (Beta 487450) e 1.492-1.646 cal AD, contemporânea à colonização europeia (Quadro 5).

Quadro 5
Idades em 14C obtidas via acelerador de espectrometria de massa (AMS) nos sítios arqueológicos Fazenda Bananeiras I - SC.PQ.17 e Fazenda Bananeiras II - SC.PQ.18.

O sedimento evidenciado nas sondagens apresentou pouca variação de cor (10YR2/2-10YR3/3) e textura, permanecendo argiloso e compactado, marcado apenas pela variação da quantidade de fragmentos de carvão. A camada superficial apresenta coloração ligeiramente mais escura, decorrente de matéria orgânica em decomposição.

A inversão das datas obtidas na estrutura C do sítio SC.PQ.18 deve estar relacionada a processos de bioturbação do sítio arqueológico pelas raízes da vegetação que ocupa sua área, de toca de animais ou decorrente de algum processo de reorganização do espaço intra-sítio, realizado nas reocupações mais recentes da estrutura subterrânea. Esses processos podem ter invertido as seções de solo sondadas. Apesar da inversão, a associação das amostras com material arqueológico, especificamente um fragmento cerâmico entre 80 e 100 cm de profundidade, não parece comprometer os dados cronológicos obtidos, devendo ser tratados, contudo, como uma informação deslocada de sua posição original no sítio arqueológico. Intervenções mais amplas são necessárias para entender melhor a consequência desses processos na estratigrafia da estrutura investigada (Figura 6).

Figura 6
Implantação dos sítios arqueológicos SC.PQ.17 e SC.PQ.18, sendo suprimida a vegetação do bosque de pinheiros que ocupa sua área. Imagem adaptada da ilustração original de Philipe Sidartha Razeira; B) corte representativo do contexto onde foram obtidas as amostras de carvão datadas na estrutura C do sítio SC.PQ.18. As medidas de altitude estão conforme Oliveira (2012)OLIVEIRA, E. R. D. Método de levantamento topográfico e cadastral aplicado ao patrimônio cultural. 2012. Monografia de Conclusão de Curso (Bacharelado em Geografia) – Universidade Estadual de Santa Catarina, Florianópolis, 2012.; C) face externa e interna do fragmento cerâmico recolhido. Figura elaborada por Edenir Bagio Perin (2018)

Foram identificados poucos vestígios materiais relacionados ao ethos Jê. A execução da sondagem na estrutura escavada B do sítio SC.PQ.18 revelou, no nível superficial, um núcleo lascado sobre rocha de basalto e, na estrutura C, foi recolhido um fragmento de cerâmica entre 80 e 100 cm, sem decoração, com características relacionadas à Tradição Taquara-Itararé.

DISCUSSÃO

A distribuição temporal do conjunto de dados cronológicos disponíveis para os sítios relacionados aos grupos Jê meridionais permite identificar que as datas estão concentradas no período entre os anos 800 e 1.600 AD, e indica expansão demográfica dos grupos que passam a ocupar os diversos ambientes do planalto após o ano 1.000 AD (Figura 7). É a partir desse período que aparecem datas relacionadas aos centros cerimoniais de enterramento dos mortos, em paralelo à chegada das populações Tupi-Guarani que adentram o vale do rio Uruguai e seus afluentes maiores.

Figura 7
Datas cal BC/AD disponíveis para os sítios Jê do Sul. Elaborado com o software Calib 7.0.4. Gráfico elaborado por Edenir Bagio Perin (2018).

Segundo as datações disponíveis para a região Sul do Brasil, apenas três sítios arqueológicos apresentam datas anteriores ao ano 9 AD. O abrigo Jaguariaíva, na região nordeste do Paraná, pesquisado por Laming-Emperaire e Emperaire (1959)LAMING-EMPERAIRE, A.; EMPERAIRE, J. A jazida José Vieira: um sítio Guaraní e pré-cerâmico do interior do Paraná. Arqueologia, Curitiba, v. 1, n. 1, p. 1-148, 1959., teve um nível cerâmico que foi datado em 908 AC (2.858 ± 035 AP), dado que também deve ser tomado com cautela, devido à carência de informações disponíveis sobre seu contexto.

A diversificação de sítios arqueológicos Jê está bem marcada após o ano 1.000 AD. As idades em14C relacionadas a montículos e aterros geométricos (Figura 8) corroboram a hipótese de Souza et al. (2016a)SOUZA, J. G. D.; CORTELETTI, R.; ROBINSON, M.; IRIARTE, J. The genesis of monuments: resisting outsiders in the contested landscapes of southern Brazil. Journal of Anthropological Archaeology, Amsterdam, v. 41, p. 196-212, Mar. 2016a. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jaa.2016.01.003.
https://doi.org/10.1016/j.jaa.2016.01.00...
referente ao surgimento dessas estruturas funerárias, construídas em resposta à expansão Tupi-Guarani pelo vale do rio Uruguai.

Figura 8
Datas cal AD para montículos e aterros geométricos. Elaborado com o software Calib 7.0.4. Gráfico elaborado por Edenir Bagio Perin (2018).

Corteletti (2012)CORTELETTI, R. Projeto arqueológico Alto Canoas – PARACA: um estudo da presença Jê no planalto catarinense. 2012. Tese (Doutorado em Arqueologia) – Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. indica que o aparecimento das estruturas arquitetônicas constitui evidência de uma ruptura, em detrimento do que acontecia no passado. Podem ter ocorrido dois processos de ruptura, o primeiro em torno de 1.800 anos atrás, quando surgem as estruturas subterrâneas, e o segundo há 1.000 anos, com a construção dos aterros anelares. Em contraponto, Reis, L. (2015)REIS, L. B. Para uma história Jê meridional na longa duração: o contexto em Alfredo Wagner (SC) e a sua inserção regional. 2015. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015. aponta que essas mudanças constituem parte da historicidade das sociedades Jê meridionais, e podem ter origem em questões internas e externas dos grupos, resultado de um processo histórico contínuo, e não de rupturas.

Em termos ambientais, esse lapso temporal marca também a franca expansão das matas com araucária sobre terras até então dominadas por campos, conforme indicam estudos de paleoecologia (Behling, 1995BEHLING, H. Investigations into the Late Pleistocene and Holocene history of vegetation and climate in Santa Catarina (S Brazil). Vegetation History and Archaeobotany, Berlin, v. 4, n. 3, p. 127-152, Sept. 1995. DOI: https://doi.org/10.1007/BF00203932.
https://doi.org/10.1007/BF00203932...
, 2002BEHLING, H. South and southeast Brazilian grasslands during Late Quaternary times: a synthesis. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, Amsterdam, v. 177, n. 1-2, p. 19-27, Jan. 2002. DOI: https://doi.org/10.1016/S0031-0182(01)00349-2.
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). A coincidência temporal entre a expansão demográfica dos grupos Jê meridionais com os registros polínicos do planalto meridional, aliada à relação espacial entre a floresta com araucária e os sítios arqueológicos, aponta para a ocorrência de estratégias de manejo da floresta pelos grupos (Bitencourt; Krauspenhar, 2006BITENCOURT, A. L. V; KRAUSPENHAR, P. M. Possible prehistoric anthropogenic effect on Araucaria angustifolia (Bert.) O. Kuntze expansion during the late holocene. Revista Brasileira de Paleontologia, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 109-116, jan./abr. 2006.; Iriarte; Behling, 2007IRIARTE, J.; BEHLING, H. The expansion of Araucaria forest in the southern Brazilian highlands during the last 4000 years and its implications for the development of the Taquara/Itararé Tradition. Environmental Archaeology, Londres, v. 12, n. 2, p. 115-127, July 2007. DOI: https://doi.org/10.1179/174963107x226390.
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).

A localização das datas regionalmente mais recuadas permite identificar que, no ano 210 AD, as migrações Jê já haviam alcançado o planalto rio-grandense. A data mais recuada está situada na região nordeste paranaense, 1.941 +/- 35 anos AP (9 AD) para o sítio Caverna do Morro Azul 1 (Parellada, 2016PARELLADA, C. I. Paisagens transformadas: a arqueologia de povos Jê no Paraná, Sul do Brasil. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, n. 27, p. 158-167, 2016.). Para a região de Urubici, no vale do rio Canoas, no planalto catarinense, De Masi (2001)DE MASI, M. A. N. Pescadores coletores da costa sul do Brasil. Pesquisas, Antropologia, São Leopoldo, n. 57, p. 1-125, 2001. apresenta uma data de 1.840 +/- 40 AP (110 AD). Na região de Bom Jesus, no Rio Grande do Sul, Schmitz e Brochado (1972)SCHMITZ, P. I.; BROCHADO, J. P. Datos para una secuencia cultural del Estado de Rio Grande do Sul, Brasil. Gabinete de Arqueologia, Porto Alegre, n. 2, p. 118-146, 1972. obtiveram data de 1.810 +/- 35 anos AP (140 AD), que demonstra que as migrações alcançam o planalto rio-grandense em pouco mais de um século.

A interpolação das datas regionalmente mais recuadas pelo método Inverse Distance Weighting (IDW) (Figura 9) permite traçar uma hipótese para as migrações dos grupos no Sul do Brasil. A dispersão parece ter origem no sudoeste de São Paulo e no nordeste do Paraná, posteriormente alcançando a borda leste dos planaltos catarinense e sul-rio-grandense e, na sequência, o litoral dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Os resultados obtidos estão de acordo com as hipóteses já levantadas por Noelli (2004)NOELLI, F. S. O mapa arqueológico dos povos Jê no sul do Brasil. In: TOMMASINO, K.; MOTA, L.; NOELLI, F. S. (org.). Novas contribuições aos estudos interdisciplinares dos Kaingang. Londrina: EDUEL, 2004. p. 19-55. e Araujo (2007)ARAUJO, A. G. M. A tradição cerâmica Itararé-Taquara: características, área de ocorrência e algumas hipóteses sobre a expansão dos grupos Jê no sudeste do Brasil. Revista de Arqueologia, São Paulo, n. 20, p. 9-38, 2007. Disponível em: http://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/ra/article/view/1678/1320. Acesso em: 09 set. 2018.
http://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index....
, as quais foram reapresentadas por Noelli e Souza (2017)NOELLI, F. S.; SOUZA, J. Novas perspectivas para a cartografia arqueológica Jê no Brasil meridional. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 12, n. 1, p. 57-84, jan./abr. 2017. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1981.81222017000100004.
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.

Figura 9
Interpolação das datas regionalmente mais recuadas para a ocupação Jê no Brasil meridional. Mapa elaborado por Edenir Bagio Perin (2018).

Existem 20 idades em14C conhecidas dentro do limite de erro da datação mais recente, obtida para o sítio SC.PQ.18, dispostas em um raio de aproximadamente 100 km do sítio, sendo que dez foram obtidas em estruturas subterrâneas e dez, em aterros geométricos (Figura 10).

Figura 10
Localização dos sítios arqueológicos com datas em 14C próximas ao horizonte cronológico do sítio SC.PQ.18. Mapa elaborado por Edenir Bagio Perin (2018).

Neste segmento espacial do planalto meridional, existe apenas uma data dentro do limite de erro do horizonte mais antigo do sítio SC.PQ.18 (1.440 350 +/- 30 anos AP). Trata-se de uma idade de 1.400 +/- 40 anos AP obtida por Schmitz e Rogge (2011)SCHMITZ, P. I.; ROGGE, J. H. 107 ‘casas subterrâneas’ no início do povoamento Jê Meridional em Santa Catarina: Rincão dos Albinos. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, n. 21, p. 185-204, 2011., no sítio Rincão dos Albinos, em São José do Cerrito, em Santa Catarina. Os dados cronológicos indicam que, neste recorte temporal e espacial, a demografia das populações Jê não era tão expressiva quanto nos séculos XV e XVI.

Entre as estruturas subterrâneas, os sítios com horizonte cronológico mais próximo da amostra datada a 90 cm de profundidade (350 +/- 30 anos AP) do sítio SC.PQ.18 são: Baggio 1 (Souza et al., 2016bSOUZA, J. G. D.; ROBINSON, M.; CORTELETTI, R.; CÁRDENAS, L. C.; WOLF, S.; MAYLE, F.; DEBLASIS, P. Understanding the chronology and occupation dynamics of oversized pit houses in the Southern Brazilian highlands. Plos One, São Francisco, v. 11, n. 7, p. e0158127, July 2016b. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0158127.
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), em Campo Belo do Sul, em Santa Catarina; RSPE10B (Mentz Ribeiro; Ribeiro, 1985MENTZ RIBEIRO, P. A.; RIBEIRO, C. T. Levantamentos arqueológicos no município de Esmeralda, RS, Brasil. Revista do CEPA, Santa Cruz do Sul, v. 12, n. 14, p. 49-105, 1985.), em Pinhal da Serra, no Rio Grande do Sul. Para os aterros geométricos: RSPE21 e RSPE29 (Souza; Copé, 2010SOUZA, J. G.; COPÉ, S. M. Novas perspectivas sobre a arquitetura ritual do planalto meridional brasileiro: pesquisas recentes em Pinhal da Serra, RS. Revista de Arqueologia, Belo Horizonte, v. 23, n. 2, p. 98-111, dez. 2010. DOI: https://doi.org/10.24885/sab.v23i2.301.
https://doi.org/10.24885/sab.v23i2.301...
), em Pinhal da Serra, no Rio Grande do Sul; SC-AG-108 (Herberts; Müller, 2007HERBERTS, A. L.; MÜLLER, L. M. Os sítios funerários do ‘Projeto de Arqueologia Compensatória UHE Barra Grande - SC’. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE DE ARQUEOLOGIA BRASILEIRA, 14., 2007, Erechim. Anais [...]. Erechim: SAB, 2007. p. 1-16.), em Anita Garibaldi, em Santa Catarina, e Abreu e Garcia (Souza et al., 2016aSOUZA, J. G. D.; CORTELETTI, R.; ROBINSON, M.; IRIARTE, J. The genesis of monuments: resisting outsiders in the contested landscapes of southern Brazil. Journal of Anthropological Archaeology, Amsterdam, v. 41, p. 196-212, Mar. 2016a. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jaa.2016.01.003.
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), em Campo Belo do Sul, também em Santa Catarina.

A ocupação mais recente, do sítio arqueológico SC.PQ.18 pode estar relacionada ao grupo cartografado por Curt Nimuendajú (IBGE, 1987INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Mapa etno-histórico do Brasil e regiões adjacentes. Adaptado do mapa de Curt Nimuendajú, 1944. Rio de Janeiro: IBGE, 1987.) junto aos rios Canoas e Pelotas como ‘Pinaré’ (Figura 11). Na literatura do grupo Jê, além de Kaingang, existem muitas outras denominações, entre as quais Camé, Cayere, Cayrucré, Coroado, Dorin, Goyaná, Guayaná, Gualacho, Kadnyerú, Pinaré, Votôro etc. (Jolkesky, 2010JOLKESKY, M. P. de V. Reconstrução fonológica e lexical do proto-Jê meridional. 2010. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010.). Há referência a ‘Pinares’ no fragmento do mapa do Pe. José Quiroga, de 1749 (Serrano, 1936SERRANO, A. Etnografía de la antigua Provincia del Uruguay. Paraná: Melchior, 1936., figura 4). “Pinarés” ou “Pinaris”, segundo Martius (1867, p. 187)MARTIUS, C. F. P. V. Beiträge zur Ethnographie und Sprachenkunde Amerika’s zumal Brasiliens. I. Zur Ethnographie. Leipzig: Friedrich Fleischer, 1867., são situados ao sul da nascente do Uruguai.

Figura 11
Famílias linguísticas cartografadas por Curt Nimuendajú na porção sul do planalto catarinense e no nordeste do planalto riograndense. Adaptado de IBGE (1987). Figura elaborada por Edenir Bagio Perin (2018).

O número de sítios com datas dentro do limite de erro do horizonte cronológico do sítio SC.PQ.17 680 +/- 30 anos AP também indica que o aumento demográfico na região estudada foi tardio. São conhecidas onze datas neste limite temporal, dez em oito estruturas subterrâneas: RSPE26A e RSPE28A (Mentz Ribeiro; Ribeiro, 1985MENTZ RIBEIRO, P. A.; RIBEIRO, C. T. Levantamentos arqueológicos no município de Esmeralda, RS, Brasil. Revista do CEPA, Santa Cruz do Sul, v. 12, n. 14, p. 49-105, 1985.); RSA29 (Schmitz et al., 2002SCHMITZ, P. I.; ROGGE, J. H.; ROSA, A. O.; BEBER, M. V.; MAUHS, J.; ARNT, F. V. O Projeto Vacaria: casas subterrâneas no Planalto Rio-Grandense. Pesquisas, Antropologia, São Leopoldo, n. 58, p. 11-105, 2002.; Grespan; Schmitz, 2003GRESPAN, C. A.; SCHMITZ, P. I. Arqueologia do planalto sul-rio-grandense: o estudo da ocupação de duas casas subterrâneas. Revista de Iniciação Científica da ULBRA, Canoas, n. 2, p. 137-143, 2003.); RSAN03 (Copé, 2006COPÉ, S. M. Les grands constructeurs précoloniaux du plateau du sud du Brésil: étude de paysages archéologiques à Bom Jesus, Rio Grande do Sul, Brésil. 2006. Tese (Doutorado em Arqueologia) – Université de Paris I, Paris, 2006.); RSA27 (Schmitz et al., 2002SCHMITZ, P. I.; ROGGE, J. H.; ROSA, A. O.; BEBER, M. V.; MAUHS, J.; ARNT, F. V. O Projeto Vacaria: casas subterrâneas no Planalto Rio-Grandense. Pesquisas, Antropologia, São Leopoldo, n. 58, p. 11-105, 2002.); Bagio I (Souza et al., 2016bSOUZA, J. G. D.; ROBINSON, M.; CORTELETTI, R.; CÁRDENAS, L. C.; WOLF, S.; MAYLE, F.; DEBLASIS, P. Understanding the chronology and occupation dynamics of oversized pit houses in the Southern Brazilian highlands. Plos One, São Francisco, v. 11, n. 7, p. e0158127, July 2016b. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0158127.
https://doi.org/10.1371/journal.pone.015...
); SC.CL.43 (Schmitz et al., 2010SCHMITZ, P. I.; ARNT, F. V.; BEBER, M. V.; ROSA, A. O.; FARIAS, D. S. Casas subterrâneas no planalto de Santa Catarina: São José do Cerrito. Pesquisas, Antropologia, São Leopoldo, n. 68, p. 7-78, 2010.) e SCAB93 (De Masi, 2005DE MASI, M. A. N. Projeto de salvamento arqueológico Usina Hidrelétrica Campos Novos. Relatório Final. Florianópolis: Campos Novos Energia – Enercan, 2005.). E uma em aterro geométrico: SCAG12 (De Masi, 2005DE MASI, M. A. N. Projeto de salvamento arqueológico Usina Hidrelétrica Campos Novos. Relatório Final. Florianópolis: Campos Novos Energia – Enercan, 2005.).

Os dados cronológicos disponíveis indicam como ocorreu o processo de ocupação regional do planalto meridional, mas o erro das idades em14C não permite conclusões objetivas acerca de aspectos como sedentarismo e mobilidade dos grupos durante o ano. Mesmo no sítio Bagio I, um dos mais bem datados e com estratigrafia melhor compreendida, foram datadas 11 ocupações para um período superior a cinco séculos. A escala temporal para mensurar o que constitui um período longo ou curto de abandono ou ocupação dos sítios arqueológicos Jê meridionais, via datações em14C, ainda é arqueologicamente difícil de ser definida. Esforços recentes de Machado (2016)MACHADO, J. Caminhos e paradas. Perspectivas sobre o território Laklãnõ (Xokleng). Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, n. 27, p. 179-196, 2016. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2016.137298.
https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750....
, com base em informações orais obtidas com grupos indígenas remanescentes, permitem entender melhor os conceitos de estabilidade e de mobilidade, apontando para um significado difuso desses termos entre os Xokleng aldeados em Ibirama, Santa Catarina. Contudo, é ainda matéria a ser vencida.

As evidências relacionadas à prática de agricultura, obtidas por Corteletti (2012)CORTELETTI, R. Projeto arqueológico Alto Canoas – PARACA: um estudo da presença Jê no planalto catarinense. 2012. Tese (Doutorado em Arqueologia) – Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. no alto vale do rio Canoas, em Santa Catarina, constituem, até o momento, o principal indicador de sedentarização dos grupos Jê, o que não necessariamente ocorreu em todo o planalto e com todos os grupos. O planalto meridional tem sido tratado, em muitos estudos arqueológicos, como uma área geográfica uniforme, ignoradas as distintas formações geológicas, unidades geomorfológicas e características fitogeográficas que influenciaram na sua ocupação.

Áreas com maior concentração de terras férteis, como as planícies e os terraços do alto vale do rio Canoas, e as áreas densamente florestadas da encosta atlântica de Santa Catarina podem ter sido ocupadas com estratégias distintas das terras mais altas, abertas e frias, como a Coxilha Rica, no planalto dos Campos Gerais. As pesquisas desenvolvidas na Coxilha Rica ainda não produziram dados arqueológicos que permitem refutar completamente a hipótese de deslocamentos sazonais, proposta por Lavina (1994)LAVINA, R. Os Xokleng de Santa Catarina: uma etno-história e sugestões para os arqueólogos. 1994. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 1994..

CONCLUSÃO

Os dados cronológicos disponíveis permitem identificar que as ocupações Jê meridionais remontam ao início da era cristã, com maior concentração após o ano 1.000 AD, corte temporal que marca o surgimento de aterros geométricos e montículos. As datações obtidas neste trabalho documentam uma ocupação para estrutura B do sítio SC.PQ.17 em 1.293-1.393 Cal AD. Para a estrutura C do sítio SC.PQ.18, as datas indicam que a mesma ‘casa’ foi ocupada durante dois cortes cronológicos afastados, o primeiro alcança 598-677 cal AD e o segundo está posicionado entre os anos 1.492-1.646 cal AD. Escavações amplas e um maior número de idades14C são necessários para traçar, com maior segurança, a cronologia dos sítios arqueológicos investigados.

  • 1
    PERIN, Edenir Bagio. Arqueologia e paleoambiente do Arroio Cará. Exame de Qualificação (Doutorando em Geografia) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2016
  • 2
    INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN). Portaria n. 64, de 02 de dezembro de 2016; Parecer técnico n. 17/2018/DIVTEC/IPHAN/SC, de 24 de janeiro de 2018. Processo IPHAN n. 01510.002018/2016-24.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (processo n. 563307/2010-2) e à Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Santa Catarina (FAPESC) (processo n. 14846/2011-6), pelo apoio à pesquisa.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Ago 2019
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2019

Histórico

  • Recebido
    05 Nov 2018
  • Aceito
    31 Jan 2019
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