Acessibilidade / Reportar erro

Partículas de Final de Sentença (PFS): uma análise cartográfica por fases sobre o sistema da língua Tenetehára

Sentence-Final Particles (SFPs): a cartographic analysis by phases on the Tenetehára language system

Resumo

O objetivo deste artigo é analisar a distribuição das Partículas de Final de Sentença (PFS) em Tenetehára, as quais compõem um conjunto de itens funcionais que ocorrem em uma posição sintática rígida em posição sentencial final. A ordem das PFS nesta língua pode ser formalmente capturada se for considerada uma única estrutura de base, a partir da qual se deriva, por movimentos sintáticos, a ordem dessas categorias. Assim, a proposta é de que a linearização dessas partículas à direita é o resultado do movimento de uma partícula mais baixa, i.e., o alçamento de uma projeção contendo uma dessas partículas para o especificador de uma projeção dominante. A análise aqui apresentada tem o mérito de integrar harmoniosamente duas propostas teóricas da Teoria de Princípios e Parâmetros: a Hierarquia de Cinque (1999)CINQUE, Guglielmo. The syntax of adjectives: a comparative study. Cambridge: The MIT Press, 2010. (Linguistic Inquiry Monograph Fifty-Seven). e a Abordagem de Derivação por Fases (Chomsky, 2001).

Palavras-chave
Tupí-Guaraní; Tenetehára; Partículas; Hierarquia de Cinque; Fases

Abstract

The goal of this article is to analyze the distribution of sentence-final particles (SFPs) in Tenetehára. These particles comprise a set of functional items that occur in a rigid syntactic position at the end of the sentence. The order of SFPs in this language can be formally captured if one starts from a unique base structure from which their relative order can be derived. More specifically, we suggest that the linearization of the particles to the right is the result of raising the lowest particle, i.e. raising a projection with an agreement particle to the specifier of a dominating projection. This theory blends two hypotheses related to the Principles and Parameters Theory: Cinque’s Hierarchy (1999)CINQUE, Guglielmo. The syntax of adjectives: a comparative study. Cambridge: The MIT Press, 2010. (Linguistic Inquiry Monograph Fifty-Seven)., and the Derivation by Phase Approach (Chomsky, 2001).

Keywords
Tupí-Guaraní; Tenetehára; Particles; Cinque Hierarchy; Phases

INTRODUÇÃO

Assim como ocorre com algumas línguas da família linguística Tupí-Guaraní1 1 Ver Rodrigues (1953, 1984-1985), Boudin (1966), Rodrigues e Cabral (2002), Seki (2000), Monserrat (1994), Caldas (2001), Cruz (2011), Lopes (2009), Magalhães (2007), Pereira (2009), Praça (2007), Solano (2009), Silva (2010), Harrison, Carl e Harrison, Carole (2013), entre muitos outros. , a língua Tenetehára2 2 A língua Tenetehára, de acordo com Rodrigues (1984-1985) e Duarte (2007), pertence à família linguística Tupí-Guaraní, tronco Tupí. Os dados linguísticos aqui discutidos pertencem à variante linguística falada pelo povo Guajajára. apresenta um conjunto de partículas que se realiza no final da sentença. Como será visto, esses itens codificam funções gramaticais de tempo, aspecto, modalidade3 3 De acordo com Palmer (2001), a categoria de modalidade está intimamente associada a tempo e aspecto. Estas três categorias pertencem à oração verbal e geralmente são, mas nem sempre, marcadas dentro do complexo verbal. e gênero do falante (genderlect). Este artigo tem por objetivo propor uma análise teórica para essas Partículas de Final de Sentença (PFS) em Tenetehára, as quais são formadas por um conjunto de itens que ocorrem em uma posição sintática rígida, sendo linearizadas em posição sentencial final.

Recorrendo a Cinque (1999CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax)., 2009CINQUE, Guglielmo. The fundamental left-right asymmetry of natural languages. In: SCALISE, Sergio; MAGNI, Elisabetta; BISETTO, Antonietta (org.). Universals of language today. Dordrecht: Springer, 2009. p. 165-184., 2010CINQUE, Guglielmo; RIZZI, Luigi. The cartography of syntactic structures. In: HEINE, Bernd; NARROG, Heiko (org.). The Oxford Handbook of Linguistic Analysis. New York: Oxford University Press, 2010. p. 51-65., 2014CINQUE, Guglielmo. Again on tense, aspect, mood morpheme order and the ‘mirror principle’. In: SVENONIUS, Peter (ed.). Functional structure from top to toe: the cartography of syntactic structures. New York: Oxford University Press, 2014. v. 9, cap. 8., 2017CINQUE, Guglielmo. On the status of functional categories (heads and phrases). Language and Linguistics, Amsterdam, v. 18, n. 4, p. 521-576, Oct. 2017. DOI: https://doi.org/10.1075/lali.18.4.01cin.
https://doi.org/10.1075/lali.18.4.01cin...
), o ordenamento das PFS pode ser formalmente capturado se for considerada uma estrutura de base, a partir da qual, por meio de movimentos, derivam-se as ocorrências das PFS do Tenetehára. Trata-se de movimento snowball, no modo whose-pictures de pied-piping, ou seja, com inversão da ordem de Merge desses elementos. Vale ressaltar que essa estrutura de base, por hipótese, é válida para todas as línguas, sendo codificada na Gramática Universal (Cinque, 2005CINQUE, Guglielmo. Deriving Greenberg’s universal 20 and its exceptions. Linguistic Inquiry, Cambridge, v. 36, n. 3, p. 315-332, Summer 2005. DOI: https://doi.org/10.1162/0024389054396917.
https://doi.org/10.1162/0024389054396917...
, 2009CINQUE, Guglielmo. The fundamental left-right asymmetry of natural languages. In: SCALISE, Sergio; MAGNI, Elisabetta; BISETTO, Antonietta (org.). Universals of language today. Dordrecht: Springer, 2009. p. 165-184., 2013HARRISON, Carl; HARRISON, Carole. Dicionário Guajajara-Português. Anápolis: Associação Internacional de Linguística, 2013., 2017CINQUE, Guglielmo. On the status of functional categories (heads and phrases). Language and Linguistics, Amsterdam, v. 18, n. 4, p. 521-576, Oct. 2017. DOI: https://doi.org/10.1075/lali.18.4.01cin.
https://doi.org/10.1075/lali.18.4.01cin...
). Conforme será mostrado nas seções que tratam das restrições de ordenamento e da derivação das sentenças envolvendo estas partículas, a linearização das PFS nessa língua corresponde ao ordenamento de uma língua de núcleo final, em que tais categorias têm como spell-out uma ordem que é a imagem especular (Baker, 1985BAKER, Mark. The mirror principle and morphosyntactic explanation. Linguistic Inquiry, Cambridge, v. 16, n. 3, p. 373-415, Summer 1985.) desses elementos na hierarquia universal de projeções do middle field.

Será discutido, ainda neste artigo, que as PFS, em Tenetehára, apresentam uma boa contribuição empírica para o princípio do ‘One feature, one head’ – ‘Um traço, um núcleo’ –, de Kayne (2005)KAYNE, Richard S. Movement and silence. New York: Oxford University Press, 2005. (Oxford Studies in Comparative Syntax)., segundo o qual os traços sintáticos são categorias atômicas, de forma que cada núcleo carrega apenas um traço. Essa proposta certamente se coloca em oposição à proposição de que os átomos da sintaxe se reduziriam a morfemas ou palavras, que correspondem, na Teoria Gerativa, a categorias sintagmáticas (para as sentenças, vP, TP e CP4 4 Os rótulos que se referem a projeções sintáticas definidas dentro do arcabouço da Teoria Gerativa não serão apresentados por extenso. ; e para os nomes, NP e DP, por exemplo). Dessa forma, projeções como CP e DP são, na verdade, muito mais ricas. O fato de o Tenetehára apresentar um conjunto de partículas funcionais que coocorrem no domínio do middle field mostra que apenas dois núcleos, T e C, seriam insuficientes para codificar as propriedades gramaticais instanciadas pelas PFS. Desse modo, assume-se, neste artigo, a premissa de Kayne (2005)KAYNE, Richard S. Movement and silence. New York: Oxford University Press, 2005. (Oxford Studies in Comparative Syntax)., segundo a qual cada traço morfossintático corresponde a um núcleo sintático independente com um slot na hierarquia funcional. São razões como essa que fazem com que o princípio de Kayne (2005)KAYNE, Richard S. Movement and silence. New York: Oxford University Press, 2005. (Oxford Studies in Comparative Syntax). se torne seminal para os estudos cartográficos (Cinque; Rizzi, 2010CINQUE, Guglielmo; RIZZI, Luigi. The cartography of syntactic structures. In: HEINE, Bernd; NARROG, Heiko (org.). The Oxford Handbook of Linguistic Analysis. New York: Oxford University Press, 2010. p. 51-65.), uma vez que captura e compreende a ideia que tem impulsionado os estudos desse programa no âmbito da Teoria de Princípios e Parâmetros. No Quadro 1, são apresentadas as PFS presentes na língua Tenetehára, as quais, como será visto, correspondem a categorias funcionais que se ordenam da esquerda para a direita.

Quadro 1
Partículas de Final de Sentença (PFS).

O artigo está organizado em cinco seções, incluindo-se esta introdução. Na próxima seção, primeiramente são exibidos os paradigmas de concordância verbal na língua Tenetehára, visando a fornecer ao leitor uma compreensão mais abrangente dos dados linguísticos que serão apresentados aqui. Após isso, é realizada uma descrição do sistema das PFS nessa língua, apresentando o inventário das categorias descritas no Quadro 1, que serão organizadas por classes (PFS1-5).

Naturalmente, ao se adotar para essas partículas uma interpretação à la Cartografia Sintática, levando-se em conta as categorias funcionais de Cinque (1999CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax)., 2006CINQUE, Guglielmo. Restructuring and functional heads: the cartography of syntactic structures. New York: Oxford University Press, 2006. v. 4. (Oxford Studies in Comparative Syntax)., 2009CINQUE, Guglielmo. The fundamental left-right asymmetry of natural languages. In: SCALISE, Sergio; MAGNI, Elisabetta; BISETTO, Antonietta (org.). Universals of language today. Dordrecht: Springer, 2009. p. 165-184., 2017CINQUE, Guglielmo. On the status of functional categories (heads and phrases). Language and Linguistics, Amsterdam, v. 18, n. 4, p. 521-576, Oct. 2017. DOI: https://doi.org/10.1075/lali.18.4.01cin.
https://doi.org/10.1075/lali.18.4.01cin...
), isso nos levará, ao cabo do trabalho, a uma reinterpretação do Quadro 1. Conectado a isto, tendo em vista a Hierarquia de Cinque (1999)CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax). e o Princípio do Espelho (Baker, 1985BAKER, Mark. The mirror principle and morphosyntactic explanation. Linguistic Inquiry, Cambridge, v. 16, n. 3, p. 373-415, Summer 1985.), este artigo admite como verdadeiras, em Tenetehára, duas premissas relacionadas a esses dois fundamentos:

  1. Hierarquia de Cinque (1999)CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax).: a subdivisão em PFS corresponde, na verdade, a uma descrição da superfície das sentenças do Tenetehára; assim, deve-se reconhecer que as PFS2, por exemplo, correspondem, na verdade, a várias posições sintáticas do middle field;

  2. Princípio do Espelho (Baker, 1985BAKER, Mark. The mirror principle and morphosyntactic explanation. Linguistic Inquiry, Cambridge, v. 16, n. 3, p. 373-415, Summer 1985.): as PFS do Tenetehára aparecem em posição final, sendo esse ordenamento puramente epifenomenal; dessa forma, à medida que se avança da esquerda para a direita no Quadro 1, a ordem da série de movimentos sintagmáticos que são necessários para derivar a ordem superficial alcançada é refletida na morfologia.

Após a apresentação dos dados, aplicamos os testes de ordenamento, visando a verificar as restrições de distribuição do agrupamento das PFS, seu escopo e seu comportamento conectado aos demais processos sintáticos da língua. Como será visto, com base no Programa Cartográfico, foram identificadas cinco classes de PFS em Tenetehára, tendo em vista suas posições relativas.

Na seção que precede as conclusões, os dados apresentados ao longo do artigo são analisados à luz da proposta do Programa Cartográfico, sobretudo tendo em vista as versões de Cinque (1999CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax)., 2006CINQUE, Guglielmo. Restructuring and functional heads: the cartography of syntactic structures. New York: Oxford University Press, 2006. v. 4. (Oxford Studies in Comparative Syntax)., 2009CINQUE, Guglielmo. The fundamental left-right asymmetry of natural languages. In: SCALISE, Sergio; MAGNI, Elisabetta; BISETTO, Antonietta (org.). Universals of language today. Dordrecht: Springer, 2009. p. 165-184., 2010CINQUE, Guglielmo; RIZZI, Luigi. The cartography of syntactic structures. In: HEINE, Bernd; NARROG, Heiko (org.). The Oxford Handbook of Linguistic Analysis. New York: Oxford University Press, 2010. p. 51-65., 2013CINQUE, Guglielmo. Cognition, universal grammar, and typological generalizations. Lingua, Amsterdam, v. 130, p. 50-65, June 2013. DOI: https://doi.org/10.1016/j.lingua.2012.10.007.
https://doi.org/10.1016/j.lingua.2012.10...
, 2017CINQUE, Guglielmo. On the status of functional categories (heads and phrases). Language and Linguistics, Amsterdam, v. 18, n. 4, p. 521-576, Oct. 2017. DOI: https://doi.org/10.1075/lali.18.4.01cin.
https://doi.org/10.1075/lali.18.4.01cin...
) combinadas com ingredientes de Kayne (1994, seção 5) e Koopman e Szabolcsi (2000)KOOPMAN, Hilda; SZABOLCSI, Anna. Verbal complexes. Cambridge: The MIT Press, 2000. (Current Studies in Linguistics Series, n. 34)., bem como com a proposta de Derivação por Fases (Chomsky, 2001CHOMSKY, Noam. Derivation by phase. In: KENSTOWICZ, Michael (ed.). Ken Hale: a life in language. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p. 1-52.). Por fim, na última seção, são apresentadas as considerações finais e as questões em aberto.

APRESENTAÇÃO DOS DADOS

Antes de descrever as PFS, são apresentados, na subseção seguinte, os paradigmas de concordância verbal na língua Tenetehára, o que contribuirá para melhor compreensão dos dados a serem discutidos ao longo do artigo.

CONCORDÂNCIA EM TENETEHÁRA

Os sintagmas nominais, em Tenetehára, não recebem desinências de Caso para distinguir os DP na função sintática de sujeito e de objeto. De acordo com Duarte (2007)DUARTE, Fábio Bonfim. Estudos de morfossintaxe Tenetehára. Belo Horizonte: FALE: UFMG, 2007., Castro (2017)CASTRO, Ricardo Campos. Morfossintaxe Tenetehára (Tupí-Guaraní). 2017. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017. e Camargos (2017a)CAMARGOS, Quesler Fagundes. Aplicativização, causativização e nominalização: uma análise unificada de estruturas argumentais em Tenetehára-Guajajára (família Tupí-Guaraní). 2017. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017a., essas funções sintáticas são primordialmente codificadas por meio de dois grupos de marcadores pessoais que codificam estas funções sintáticas centrais.

Devido à sensibilidade à hierarquia de pessoa, formalizada em (1), o verbo aciona a série de prefixos do primeiro paradigma de concordância para codificar o argumento externo nos contextos em que o sujeito é mais alto do que o objeto nessa hierarquia. Por sua vez, quando o objeto é mais alto na hierarquia de pessoa, o verbo engatilha os prefixos do segundo paradigma de concordância, que se referem ao seu argumento interno.

No Quadro 2, a seguir, são exibidos sinopticamente os prefixos do paradigma 1, que se referem ao argumento externo, e os prefixos do paradigma 2, cuja codificação refere-se ao argumento interno, de acordo com a hierarquia de pessoa proposta em (1).

Quadro 2
Primeiro e segundo paradigmas de concordância.

Nos exemplos a seguir, pode-se notar que o argumento externo é mais alto do que o interno na hierarquia de pessoa – cf. (1). Por conseguinte, são acionados os prefixos do paradigma 1, correspondendo aos prefixos de concordância verbal com o argumento externo.

Nos exemplos a seguir, por sua vez, pode-se observar que o argumento interno é mais alto do que o externo na hierarquia de pessoa, apresentada em (1). Como consequência desse ranqueamento, é o argumento interno que passa a controlar a concordância no verbo, como fica evidenciado pela série de concordância do paradigma 2. Nesses exemplos, nota-se, ainda, que emerge à esquerda da raiz verbal o prefixo relacional5 5 Como não é o objetivo deste artigo, não será discutido o estatuto gramatical deste morfema em Tenetehára. Ressalta-se, no entanto, que os prefixos relacionais são amplamente discutidos na literatura Tupí-Guaraní e já foram propostas várias análises para eles. Para Payne (1994), por exemplo, o prefixo verbal {r-}, incluindo seus alomorfes, constitui, junto com os prefixos de pessoa e número, um sistema inverso. Em uma perspectiva gerativa, Duarte (2009, p. 125) afirma que “[...] a ocorrência do prefixo {r-} deve ser, então, entendida como sendo o reflexo da operação de valoração de Caso absolutivo que ocorre no domínio vP [...]”. Além disso, Freitas e Sândalo (2014), em relação ao Guarani, baseadas nos feixes de traços binários de pessoa ([participante] e [autor]) de Halle (1997), assumem que estes prefixos são a expressão de concordância com o argumento interno (objeto direto). Nesse sentido, nos contextos em que o objeto é [+participante], sendo, por isso, primeira ou segunda pessoa, os prefixos {ø- ~ r-} são engatilhados; contudo, se o argumento interno apresenta o traço [-participante], ou seja, terceira pessoa, os prefixos {i- ~ h-} emergem. {r-}.

Após a apresentação do sistema de concordância6 6 Para uma análise mais detalhada do sistema de concordância verbal em Tenetehára, ver a proposta de Camargos (2017b), na qual o autor assume que o fenômeno de deslocamento de concordância verbal em Tenetehára, sensível à hierarquia de pessoa, origina-se dos mecanismos da operação Agree (Béjar; Rezac, 2009), de modo que a ciclicidade e a localidade derivam preferencialmente por uma concordância controlada pelo argumento interno, ao invés de ser regulado pelo argumento externo. em Tenetehára, na próxima subseção, é descrita, uma a uma, cada PFS mencionada no Quadro 1.

PARTÍCULAS DE FINAL DE SENTENÇA (PFS)

PFS1

Em Tenetehára, embora não sejam obrigatórias7 7 De fato, essas partículas não são obrigatórias. Contudo, alguns falantes relatam que a ausência delas geralmente soa como ‘está faltando algo’ ou ‘a palavra está incompleta’. , é muito comum ocorrerem, na posição sentencial final, partículas8 8 Apesar de parte da literatura classificar estas partículas como pronomes, elas exercem uma função gramatical não argumental. Em termos formais, elas instanciam os traços-? de CP no domínio de TP. Por essa razão e por serem incapazes de ocorrer como formas plenas, propomos que pertençam à classe gramatical de partículas. cuja função é retomar os traços-φ do sujeito dos predicados verbais, concordando com ele em pessoa e número. É necessário ressaltar que, nessas posições, tais partículas não ocupam posições argumentais. Além disso, não refletem necessariamente os traços de pessoa e número codificados no verbo. Esse fenômeno é ilustrado com os seguintes exemplos:

Pode-se notar, à semelhança dos exemplos em (2), como foi visto na subseção que apresenta a morfologia de concordância em Tenetehára, que o predicado verbal exak ‘ver’, em (4a), seleciona dois argumentos nucleares: um DP sujeito de segunda pessoa do singular, que engatilha no verbo o morfema {ere-}, e um DP objeto kwaharer ‘menino’. Veja-se que, em termos descritivos, a partícula de segunda pessoa do singular ne se realiza no final da sentença e instancia os traços de pessoa e número do sujeito argumento externo. Destarte, constata-se que a agramaticalidade da sentença (4b) é explicada nos seguintes termos: a partícula de terceira pessoa a’e, cuja ocorrência se dá ao final da sentença não é compatível, em termos de traços de pessoa e número, com o sujeito de segunda pessoa da sentença.

Nos exemplos em (5), por sua vez, realiza-se o prefixo do segundo paradigma de concordância para codificar o argumento interno, consoante a hierarquia de pessoa apresentada em (1). Pode-se observar que, em (5a), o predicado verbal exak ‘ver’ introduz um DP sujeito kwaharer ‘menino’ e um DP objeto de segunda pessoa do singular, que engatilha o segundo paradigma de concordância, representado por {ne-}, uma vez que este objeto é mais alto na hierarquia de pessoa (2 > 3). Adicionalmente, a partícula de terceira pessoa a’e realiza ao fim da sentença os traços de pessoa e número do DP sujeito argumento externo, o qual necessariamente não controla a concordância no verbo. Assim, a boa formação da sentença (5a) e a agramaticalidade da sentença (5b) fornecem evidências morfossintáticas a favor da conjectura de que a partícula que ocorre ao final da sentença só pode ser controlada pelo argumento externo do predicado verbal transitivo, independentemente da concordância estabelecida no verbo. Mais especificamente, o fato de a codificação do argumento nuclear ser estabelecida pelos prefixos do paradigma 1 ou paradigma 2 não determina qual PFS1 ocorrerá, mas é o argumento externo da predicação transitiva que o estabelece. No Quadro 3, são apresentadas as PFS1 em Tenetehára.

Quadro 3
Partículas de Final de Sentença (PFS1).

PFS2

Segundo Costa (2009)COSTA, Sueli. Entre o deôntico e o epistêmico: o caráter camaleônico do verbo modal ‘poder’. Revista Eletrônica de Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Lingüística e Literatura, [S. l.], ano 5, n. 11, p. 1-22, sem. 2009., os modos verbais, tais como indicativo, subjuntivo e imperativo, são recursos gramaticais disponíveis cuja finalidade é expressar modalidade. Nessa linha de investigação, para Givón (2001, p. 300, tradução nossa), a modalidade9 9 Para Givón (2001), são essencialmente dois os tipos de julgamento a respeito das informações proposicionais realizados pelo falante, a saber: (i) julgamento epistêmico - verdade, probabilidade, certeza, crença e evidência; e (ii) julgamento avaliatório (deôntico) - desejo, preferência, intenção, habilidade e obrigação. é uma categoria linguística mais ampla que “...] codifica a atitude do falante em relação à proposição”. Assim, enquanto o modo é expresso tipicamente na morfologia verbal (nos morfemas livres e presos, por exemplo) (Cinque, 1999CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax)., cap. 3 e 4), a modalidade é expressa por meio de diferentes mecanismos linguísticos (Costa, 2009COSTA, Sueli. Entre o deôntico e o epistêmico: o caráter camaleônico do verbo modal ‘poder’. Revista Eletrônica de Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Lingüística e Literatura, [S. l.], ano 5, n. 11, p. 1-22, sem. 2009.), por exemplo, verbos de ‘reestruturação’ e AdvPs nas línguas românicas.

De acordo com Haan (1999)HAAN, Ferdinand de. Evidentiality and epistemic modality: setting soundaries. Southwest Journal of Linguistics, El Paso, v. 18, p. 83-101, 1999., a modalidade epistêmica avalia provas. Com base nesta avaliação, atribui uma medida de (des)comprometimento do falante. Nesse sentido, o enunciado pode ser avaliado e mensurado de forma a ter evidência alta, diminuída ou baixa. Assim, a modalidade epistêmica será usada para expressar o grau de convicção do falante referente à veracidade do conteúdo proposicional explicitado por ele mesmo (Cinque, 1999CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax).). Já um evidencial assegura que existem indícios do fato ocorrido, mas nele o falante não avalia nem interpreta tais evidências de qualquer maneira, apenas indica a fonte de informação"10 10 De acordo com Hengeveld e Dall’Aglio-Hattnher (2015), a evidencialidade se subdivide, tendo em vista o escopo dos itens evidenciais, em quatro subcategorias, a saber: evidencialidade reportativa, inferência, dedução e percepção de evento. . Por fim, para Palmer (2001)PALMER, Frank R. Mood and modality. 2nd ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2001., a modalidade dinâmica/deôntica se refere a eventos que não estão atualizados, i.e., eventos que não têm um lugar no mundo, mas são apenas potenciais, sendo chamada de modalidade de eventos. Ainda mais especificamente, na modalidade dinâmica, os fatores condicionantes são externos ao sujeito da predicação, já na modalidade deôntica os fatores são internos a esse sujeito. Na língua Tenetehára, ocorrem as seguintes partículas finais que realizam essas funções:

(i) ri’i: modalidade epistêmica de certeza11 11 Pode ser que essa categoria esteja se gramaticalizando, deslocando-se, então, da projeção de TPast para a projeção de modalidade epistêmica mais alta, no espírito de Cinque (1999). Ver, a esse respeito, a proposta de Roberts e Roussou (2008), que recorrem a Cinque (1999) para avançarem uma proposta formal de gramaticalização.

De acordo com Boudin (1966)BOUDIN, Max Henry. Dicionário de Tupi Moderno: dialeto tembé-ténêtéhara do alto rio Gurupi. São Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1966. e Harrison, Carl e Harrison, Carole (2013), a partícula ri’i, na língua Tenetehára, marca o tempo passado recente. Para Silva (2010)SILVA, Tabita Fernandes da. História da língua Tenetehára: contribuição aos estudos histórico-comparativos sobre a diversificação da família Tupí-Guaraní do tronco Tupí. 2010. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2010., contudo, essa partícula veicula asseveração. Para nós, ri’i indica que o falante, ao proferir a asserção, assegura sua certeza. A partícula expressa, então, a modalidade epistêmica de certeza, conforme os exemplos abaixo.

Para todos os exemplos acima, a partícula ri’i exprime a atitude do falante ante os enunciados, atribuindo-lhes um valor epistêmico de certeza. Nos exemplos de (6) a (8), essa partícula se realiza em sentenças no tempo passado e, nos exemplos (9) e (10), ocorre no tempo futuro. Neste sentido, pode-se notar que esses últimos dois exemplos contrariam a descrição de Boudin (1966)BOUDIN, Max Henry. Dicionário de Tupi Moderno: dialeto tembé-ténêtéhara do alto rio Gurupi. São Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1966. e de Harrison, Carl e Harrison, Carole (2013), uma vez que esses autores associam esta partícula apenas ao tempo passado.

(ii) ra’a: modalidade epistêmica de dúvida

De acordo com Harrison, Carl e Harrison, Carole (2013), a partícula ra’a tem a função de marcar passado imediato em contexto de pergunta. Contudo, análises mais detalhadas indicam que a partícula ra’a é responsável por atribuir a modalidade epistêmica de dúvida à sentença, independentemente de seu eixo temporal. Dessa forma, a partícula opõe-se à ri’i, que denota modalidade epistêmica de certeza. Vejam-se os exemplos abaixo.

Pode-se perceber, nos exemplos acima, que a partícula ra’a confere um valor epistêmico de incerteza às sentenças, à medida que o falante manifesta dúvida em sua elocução. Isso fica particularmente evidente no exemplo (11), uma vez que a dúvida do falante condiz com o tipo de sentença interrogativa do tipo sim/não. No entanto, essa partícula não é exclusiva de sentenças interrogativas, tendo em vista que as sentenças (12) e (13) são construções declarativas. Note-se, ainda, que a análise de Harrison, Carl e Harrison, Carole (2013) também não encontra respaldo no exemplo (12), em virtude de a partícula ra’a não ter conexão com a noção de tempo passado nesta sentença; logo, não pode ser restringido a este tempo. Veja-se que a partícula de modalidade epistêmica de dúvida ocorre em sentenças tanto no tempo futuro, como em (12), quanto no tempo passado, como em (11) e (13). Uma evidência empírica de que esta partícula, de fato, tem por função marcar a modalidade epistêmica de dúvida que reside no exemplo agramatical abaixo.

Deve-se notar que a boa formação de (13), em contrapartida com a agramaticalidade da sentença (14), refere-se ao fato de que a partícula z(e)-aipo (partícula evidencial que indica uma situação não atestada pelo falante12 12 Esta mesma partícula {ze-} é analisada por Thomas (2018) na língua Mbyá (Tupí-Guaraní). Para o autor, a unidade gramatical {je} em Mbyá é um evidencial reportativo. Nesse sentido, trata-se de uma partícula de evidência comunicativa. Seu uso indica que os indícios que apoiam o enunciado do falante são boatos. Na ausência de evidências acerca destes boatos, ou se o falante tiver evidências diretas para apoiar seu enunciado, o uso de {je} é desautorizado. , mais a partícula de modalidade epistêmica de dúvida) possui em sua estrutura interna elementos que exprimem incerteza, e, por isso, compatível com a PFS2 ra’a, a qual, defende-se aqui, é uma partícula de modalidade epistêmica de dúvida. Nesse sentido, a sentença (14) é agramatical, porque a partícula rakwez, que marca o tempo passado atestado pelo falante, é incompatível com a partícula ra’a, de modalidade epistêmica de dúvida. Pode-se afirmar, então, que é inconcebível que uma partícula de modalidade de dúvida do falante (ra’a) e uma partícula de evidencialidade atestada pelo falante (rakwez) coocorram.

(iii) nehe: modalidade eventiva de intencionalidade

Para Boudin (1966)BOUDIN, Max Henry. Dicionário de Tupi Moderno: dialeto tembé-ténêtéhara do alto rio Gurupi. São Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1966. e Harrison, Carl e Harrison, Carole (2013), a partícula nehe marca o futuro próximo. Silva (2010)SILVA, Tabita Fernandes da. História da língua Tenetehára: contribuição aos estudos histórico-comparativos sobre a diversificação da família Tupí-Guaraní do tronco Tupí. 2010. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2010. apresenta uma análise mais refinada, pois, além de afirmar que essa partícula marca futuro, esclarece que também tem a função de marcar a modalidade intencional. De fato, essa última função pode ser corroborada pelos seguintes exemplos:

Nos exemplos em (15), a partícula nehe sinaliza que o falante, sujeito da sentença, tem a intenção de realizar o conteúdo proposicional do enunciado, conformando-se ao conceito de modalidade de eventos, conforme descrito no início desta seção. Além disso, a comparação entre os dois exemplos ora apresentados sinaliza que a coocorrência do morfema de futuro {-putar} com a PFS2 nehe é compatível, em razão de o traço semântico [+futuro] ser compartilhado pelos dois morfemas. No entanto, curiosamente, o exemplo (15b) aponta para o fato de que tal coocorrência não é obrigatória. A seguir, são apresentados mais exemplos com a partícula nehe.

Para os exemplos anteriores, a partícula nehe exprime a atitude do falante diante dos enunciados, atribuindo-lhes um valor eventivo de intenção. Nos exemplos (15), essa partícula realiza-se em sentenças no tempo futuro. No exemplo (16), ocorre em estruturas condicionais. E, nos exemplos (17) e (18), essa partícula coocorre com predicados verbais no modo imperativo. Deve-se ressaltar, no entanto, que em todos os exemplos as sentenças dizem respeito a eventos ainda não realizados, sendo-lhes atribuído um valor eventivo de intenção, constituindo-se, por isso, como eventos potenciais.

(iv) rihi: modalidade eventiva de possibilidade, permissão, exortação e pedido

De acordo com Boudin (1966)BOUDIN, Max Henry. Dicionário de Tupi Moderno: dialeto tembé-ténêtéhara do alto rio Gurupi. São Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1966., a partícula rihi tem função de marcar possibilidade, permissão e exortação. Harrison, Carl e Harrison, Carole (2013) afirmam que essa partícula exibe os seguintes significados e funções: (i) ainda e agora, (ii) exortativo e (iii) futuro. Silva (2010)SILVA, Tabita Fernandes da. História da língua Tenetehára: contribuição aos estudos histórico-comparativos sobre a diversificação da família Tupí-Guaraní do tronco Tupí. 2010. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2010., por fim, afirma que essa partícula marca aspecto imperfectivo, o que é oposto à função da partícula kwez, que codifica o aspecto perfectivo/realizado. Nota-se, sendo assim, certa diversidade de tratamento desta partícula entre esses três autores. Neste artigo, aventa-se a hipótese de que a partícula rihi tenha a função de marcar a modalidade eventiva de possibilidade e permissão, para as sentenças afirmativas, como de (19) a (21), e modalidade eventiva de exortação, pedido ou ordem, para as sentenças imperativas, como em (22) e (23).

Conforme Taylor (1989)TAYLOR, John R. Linguistic categorization: prototypes in Linguistic Theory. Oxford: Clarendon Press, 1989., o modo imperativo é decomposto em graus de imperatividade, a saber: imperativo propriamente dito, proibitivo, optativo, exortativo, premonitivo, súplica e conselho. A hipótese aqui defendida é de que a partícula rihi, quando expressa imperatividade, localiza-se no grau exortativo. Neste nível de imperatividade, existe uma forma de encorajamento de modo que o ouvinte seja incentivado, estimulado ou incitado a realizar uma ação13 13 Para os outros níveis de imperatividade, veja o trabalho de Taylor (1989). , tal como em (22) e (23). De toda forma, concordamos com Thomas (2018)THOMAS, Guillaume. Embedded imperatives in Mbyá. In: AMARAL, Luiz; MAIA, Marcus; NEVINS, Andrew I.; ROEPER, Tom (ed.). Recursion across Domains. Cambridge: Cambridge University Press, 2018. p. 86-109., segundo o qual, a partir de dados da língua Mbyá (Tupí-Guaraní), não há consenso na literatura acerca da denotação de sentenças imperativas e como isto se relaciona com o desempenho de atos diretivos de fala. Para ele, o que importa é que todos os autores concordam que os imperativos são um tipo de cláusula identificável por um traço morfossintático, que é, de forma canônica, usado para operar atos diretivos de fala, os quais, por sua vez, são os atos a partir dos quais o locutor tem como objetivo levar o alocutário a realizar alguma ação. Enfim, após a apresentação das PFS2, essas partículas e suas funções são resumidas no Quadro 4.

Quadro 4
Partículas de Final de Sentença (PFS2).

PFS3

A terceira posição (PFS3) instancia uma partícula que expressa mudança de estado ou de evento indicada pela predicação verbal. Além disso, ela pode introduzir uma asserção não esperada ou contrária à expectativa do falante. No mais, tudo indica que o aspecto proximativo está associado a essa partícula, razão pela qual esse item é comumente traduzido pelos falantes por meio do advérbio ‘agora’.

Pode-se constatar que, em (24) e (25), a partícula kury ocorre na segunda oração de cada sentença, introduzindo uma proposição que indica uma mudança no evento da oração anterior. Veja outros exemplos a seguir:

Nas sentenças acima, a realização da partícula kury indica que os predicados verbais introduzem uma proposição nova, de forma que a presença dessa partícula acarreta que o evento descrito pelo verbo se realizou sobre o sujeito exatamente naquele momento e não em um outro momento anterior.

PFS4

Para Boudin (1966)BOUDIN, Max Henry. Dicionário de Tupi Moderno: dialeto tembé-ténêtéhara do alto rio Gurupi. São Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1966., a partícula no deve ser traduzida como ‘também’ e, para Harrison, Carl e Harrison, Carole (2013), deve ser interpretada como ‘também’ e ‘novamente’. Para Silva (2010)SILVA, Tabita Fernandes da. História da língua Tenetehára: contribuição aos estudos histórico-comparativos sobre a diversificação da família Tupí-Guaraní do tronco Tupí. 2010. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2010., por sua vez, essa partícula codifica aspecto repetitivo. Na análise aqui delineada, essa posição sintática é preenchida por um elemento único, no, cuja função é indicar a manutenção da assertiva e o estado descrito pela predicação verbal. Geralmente ela assinala uma repetição de uma ação (ou evento) com outros sujeitos, podendo também estabelecer uma sequência de eventos realizados pelo mesmo sujeito. Via de regra, esta partícula é traduzida pelos falantes por meio do advérbio ‘também’ e realiza-se no final de cada sentença ou apenas no final da última oração. Veja o exemplo (29) que representa um diálogo, retirado de uma narrativa, entre a onça e outros animais.

Pode-se afirmar que o motivo de a partícula no ocorrer em (29b) tem a ver com o fato de que esta predicação repete o evento da oração (29a), alterando apenas seu sujeito. Assim, nesses exemplos, conserva-se o evento e modifica-se o seu sujeito. Veja-se a seguir outros exemplos retirados da mesma narrativa, em que o evento é mantido:

Pode-se perceber que os exemplos em (30) ilustram um contexto no qual o mesmo evento, oho ywykwar pupe ‘entrar no buraco’, foi realizado por diferentes personagens da narrativa. Por haver essa repetição, a segunda e a terceira ocorrências do evento repetido recebem a partícula no. Por fim, nos exemplos (31), diferentemente dos anteriores, além da manutenção do evento, conservam-se ainda os sujeitos da predicação:

Por fim, são apresentadas a seguir as partículas de gênero, que se encaixam na definição de genderlects, termo inicialmente proposto por Tannen (1990)TANNEN, Deborah. You just don’t understand: women and men in conversation. New York: Morrow, 1990. e utilizado a posteriori por Rose (2013ROSE, Françoise. On male and female speech and more: categorical gender indexicality in indigenous South American languages. International Journal of American Linguistics, Chicago, v. 81, n. 4, p. 495-537, Oct. 2015. DOI: https://doi.org/10.1086/683158.
https://doi.org/10.1086/683158...
, 2015)ROSE, Françoise. Los generolectos del mojeño. Revista LIAMES, Campinas, v. 13, n. 1, p. 115-134, nov. 2013. DOI: https://doi.org/10.20396/liames.v0i13.1534.
https://doi.org/10.20396/liames.v0i13.15...
, referindo-se a línguas indígenas da América do Sul. A chamada Genderlect Theory tem o intuito de evidenciar que tanto homens quanto mulheres de uma dada comunidade, apesar de falarem a mesma língua, falam, contudo, diferentes dialetos. De acordo com Tannen (1990)TANNEN, Deborah. You just don’t understand: women and men in conversation. New York: Morrow, 1990., cada gênero tem um conjunto de vocabulário e temas preferidos (muitas vezes inconscientes), que resultarão em diferenças em vários domínios, tais como na fonologia, no léxico e na morfologia. Nesse sentido, em Tenehehára, ocorrem partículas cuja função gramatical é marcar o gênero dos interlocutores, do falante e do ouvinte. Elas podem ser divididas em duas séries: uma com formas usadas por falantes do sexo masculino e outra com formas usadas por pessoas do sexo feminino, conforme o Quadro 5.

Quadro 5
Partículas de gênero (genderlects).

De acordo com Seki (2000)SEKI, Lucy. Gramática do Kamaiurá: língua do Tupi-Guarani do Alto Xingu. Campinas: UNICAMP, 2000., em relação ao Kamaiurá (família Tupí-Guaraní), algumas dessas partículas exibem caráter exclamativo e regularmente indicam emoção. De fato, de acordo com os falantes do Tenetehára, algumas dessas partículas têm forte peso emocional. A partícula zàkwà, por exemplo, embora tenha a função de marcar uma fala masculina com uma ouvinte mulher, é mais comumente utilizada por homens ao conversarem com suas esposas ou mães. Os exemplos (32) a (35) apresentam usos dessas partículas de gênero.

Diálogo entre um homem e uma mulher

Fala de uma mulher para outra mulher

Além do mais, note, nos exemplos (36) e (37), que, quando uma partícula de genderlect é utilizada em uma construção encabeçada pela conjunção ta’e ‘porque’, emerge a partícula xe para marcar o turno de falante do gênero masculino e a partícula kyn nos contextos em que a falante é mulher.

Na próxima seção, serão examinados os contextos de coocorrência das PFS e serão investigadas suas restrições de ordenamento.

RESTRIÇÕES DE ORDENAMENTO

Nos exemplos (38) a (41), foram utilizados testes cujo intuito é analisar a coocorrência de pelo menos duas partículas, a fim de verificar as restrições de ordenamento do agrupamento das PFS e seu escopo. Com fundamento no Programa Cartográfico, foram identificadas, em Tenetehára, cinco classes de PFS, tendo em vista suas posições relativas. Além disso, cada uma delas tem uma posição distinta de soldagem (Merge), conforme o princípio ‘Um traço, um núcleo’, de Kayne (2005)KAYNE, Richard S. Movement and silence. New York: Oxford University Press, 2005. (Oxford Studies in Comparative Syntax)., segundo o qual, a cada traço morfossintático, há correspondente um núcleo sintático independente com um slot específico na hierarquia funcional. Observe os dados e as análises subsequentes:

A gramaticalidade de (38a) em contrapartida com a agramaticalidade de (38b) aponta para o fato de que a’e precede ra’a. Assim, PFS1 > PFS2. O mesmo expediente metodológico será utilizado a seguir para testar a posição de PFS2 sobre PFS3, e assim por diante.

A boa formação de (39a), por um lado, mediante a má formação de (39b), por outro, indica que a partícula nehe (da mesma classe de ra’a e outras PFS2) deve vir antes da partícula kury, determinando o ordenamento: a’e > nehe > kury. Dessa maneira, PFS1 > PFS2 > PFS3.

A comparação entre os exemplos (40a) e (40b) tem o intuito de demonstrar que o item kury deve vir antes da unidade gramatical no na ordem superficial das sentenças em que eles coocorrem. Por conseguinte, por transitividade, chega-se ao extrato hierárquico: PFS1 > PFS2 > PFS3 > PFS4.

Por fim, a gramaticalidade de (41a) em comparação com a agramaticalidade de (41b) certifica que no precede ty. Dessa forma, combinando os resultados parciais do teste de precedência visto até agora, chega-se à seguinte hierarquia: PFS1 > PFS2 > PFS3 > PFS4 > PFS5.

Em (42), há respaldo para o ordenamento apresentado progressivamente por meio dos exemplos de (38) a (41), em que se evidencia um representante de cada grupo de partículas coocorrendo na mesma sentença.

Na próxima seção, os dados linguísticos apresentados nos tópicos anteriores são interpretados, tendo como suporte os trabalhos de Cinque (1999, 2006, 2009, 2010, 2013, 2017), Kayne (1994)KAYNE, Richard S. The antisymmetry of syntax. Cambridge: The MIT Press, 1994. (Linguistic Inquiry Monography Fifty-Seven)., Koopman e Szabolcsi (2000)KOOPMAN, Hilda; SZABOLCSI, Anna. Verbal complexes. Cambridge: The MIT Press, 2000. (Current Studies in Linguistics Series, n. 34). e Chomsky (2001)CHOMSKY, Noam. Derivation by phase. In: KENSTOWICZ, Michael (ed.). Ken Hale: a life in language. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p. 1-52..

DA DERIVAÇÃO DAS SENTENÇAS ENVOLVENDO PFS DA LÍNGUA TENETEHÁRA

Conforme foi mencionado na introdução deste artigo, nosso objetivo é analisar teoricamente as PFS em Tenetehára. Estas partículas são formadas por um conjunto de itens que ocorrem em uma posição sintática rígida em posição sentencial final, como já delineado. Tendo em vista a distribuição relativa dessas partículas, suas restrições sintáticas e suas implicações semântico-funcionais, a proposta deste artigo é de que as PFS entram na derivação na posição do núcleo funcional (Xo) semanticamente correspondente na Hierarquia de Cinque (1999)CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax)., conforme descrição do inventário dessas PFS. Portanto, estas partículas não são inseridas (Merged) em posição de Spec, como se fossem AdvPs. Além disso, tomando ainda como ponto inicial a ‘explosão’ das projeções sintáticas de IP/CP no espírito da Cartografia Sintática (Cinque, 1999CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax).; Kayne, 2005KAYNE, Richard S. Movement and silence. New York: Oxford University Press, 2005. (Oxford Studies in Comparative Syntax).; Cinque; Rizzi, 2010CINQUE, Guglielmo; RIZZI, Luigi. The cartography of syntactic structures. In: HEINE, Bernd; NARROG, Heiko (org.). The Oxford Handbook of Linguistic Analysis. New York: Oxford University Press, 2010. p. 51-65.), propomos que as PFS, em Tenetehára, realizam núcleos sintáticos no domínio de TP, que correspondem a posições rígidas e fixas na estrutura.

Propomos, assim, que a linearização das partículas à margem direita da sentença, nessa língua, seja o resultado do movimento de uma partícula mais baixa, i.e., de uma das PFS1 instanciadoras de concordância, a um especificador da projeção que domina imediatamente a partícula mais alta na hierarquia, i.e., PFS2, PFS3 etc. Um indício de que esta seja a derivação correta pode ser vislumbrado pelas seguintes propriedades morfossintáticas do Tenetehára: primeiramente, o complexo verbal formado pelo V temático mais sufixos aglutinantes é ‘fechado’ pela negação verbal, conforme (43), curiosamente uma categoria funcional que, de acordo com Cinque (1999, cap. 5)CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax)., não tem lugar fixo na hierarquia universal de projeções funcionais14 14 Neste artigo, conjectura-se que a negação entre, na derivação, na borda da fase, i.e., na borda de vP. Há razões para supor que essa fase corresponda a uma posição relativamente alta do middle field, i.e. TP (TPast ou TFuture), uma vez que a negação verbal aparece imediatamente à direita de um sufixo verbal de tempo (passado/futuro). As PFS não podem se aglutinar ao lexema verbal como as partículas de tempo, por exemplo – por hipótese, as categorias da fase baixa em Tenetehára. . Em segundo lugar, a concordância aparece justamente como sendo a primeira partícula no início da nova fase, sendo o elemento que desencadeará a derivação – a ‘força motriz’, no espírito de Cinque (2009CINQUE, Guglielmo. The fundamental left-right asymmetry of natural languages. In: SCALISE, Sergio; MAGNI, Elisabetta; BISETTO, Antonietta (org.). Universals of language today. Dordrecht: Springer, 2009. p. 165-184., 2013)CINQUE, Guglielmo. Cognition, universal grammar, and typological generalizations. Lingua, Amsterdam, v. 130, p. 50-65, June 2013. DOI: https://doi.org/10.1016/j.lingua.2012.10.007.
https://doi.org/10.1016/j.lingua.2012.10...
. Observe-se em (43) um dado em que a negação ‘fecha’ o V temático.

Em Cinque (1999)CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax)., a concordância é referida como sendo, ao lado da Negação, a categoria funcional que não tem posição fixa na hierarquia de categorias funcionais da oração. Contudo, há aqui indícios interessantes para propor que, na língua Tenetehára, a negação marca a margem da fase baixa (vP) e a concordância o início da zona, na Hierarquia de Cinque (1999)CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax)., correspondente à fase alta (CP). Isso é corroborado pelo fato de a negação e as PFS1s aparecerem imediatamente à direita do complexo verbal. Observe-se o seguinte exemplo em que ocorre o lexema verbal ze’eg ‘falar’ e a unidade gramatical de negação imperativa zo:

Conforme foi mostrado nas seções anteriores, as PFS são linearizadas como ‘morfemas livres’ ao final da sentença, o que sugere uma derivação que envolve movimento sintagmático (não nuclear) da PFS mais baixa, i.e., PFS1. Tendo em vista os exemplos apresentados nas seções anteriores, o ‘lugar’ em que essas partículas entram na derivação é justamente acima da fase baixa, vP. Fechado o ciclo da fase de vP com a negação, se presente, um morfema de concordância passa a ser a ‘força motriz’ (no sentido de Cinque, 2009CINQUE, Guglielmo. The fundamental left-right asymmetry of natural languages. In: SCALISE, Sergio; MAGNI, Elisabetta; BISETTO, Antonietta (org.). Universals of language today. Dordrecht: Springer, 2009. p. 165-184., 2017) do movimento sintático iniciado pelo lexema verbal que foi juntando às categorias funcionais da fase baixa (Tempo, Aspecto etc.). Esse expediente derivacional é ilustrado em (27) e (30b), reproduzidos a seguir como (45) e (46), respectivamente. A concordância (Agr), morfofonologicamente realizada por ne em (45) e por a’e em (46), desempenha um papel importante na derivação dessas ocorrências, marcando a fronteira ‘baixa’, i.e., o TP (o início) da fase alta (CP), passando a ser a força motriz do movimento, conforme a seguir:

Tendo em vista a descrição das PFS feita até o momento, cabe agora propor, no espírito de Cinque (2009CINQUE, Guglielmo. The fundamental left-right asymmetry of natural languages. In: SCALISE, Sergio; MAGNI, Elisabetta; BISETTO, Antonietta (org.). Universals of language today. Dordrecht: Springer, 2009. p. 165-184., 2013CINQUE, Guglielmo. Cognition, universal grammar, and typological generalizations. Lingua, Amsterdam, v. 130, p. 50-65, June 2013. DOI: https://doi.org/10.1016/j.lingua.2012.10.007.
https://doi.org/10.1016/j.lingua.2012.10...
, 2017)CINQUE, Guglielmo. On the status of functional categories (heads and phrases). Language and Linguistics, Amsterdam, v. 18, n. 4, p. 521-576, Oct. 2017. DOI: https://doi.org/10.1075/lali.18.4.01cin.
https://doi.org/10.1075/lali.18.4.01cin...
– e revisitado aqui com elementos de Kayne (1994, seção 5)KAYNE, Richard S. The antisymmetry of syntax. Cambridge: The MIT Press, 1994. (Linguistic Inquiry Monography Fifty-Seven). e Koopman e Szabolcsi (2000)KOOPMAN, Hilda; SZABOLCSI, Anna. Verbal complexes. Cambridge: The MIT Press, 2000. (Current Studies in Linguistics Series, n. 34). – uma derivação para as ocorrências do Tenetehára (envolvendo PFS).

Aventa-se aqui a hipótese de que as PFS sejam inseridas em posição nuclear na derivação, nucleando, portanto, as projeções semanticamente correspondentes na Hierarquia de Cinque (1999)CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax).. Por exemplo, a PFS de modalidade epistêmica ra’a (que indica dúvida), aqui classificada como PFS2, seria inserida no núcleo da modalidade epistêmica de Cinque (1999)CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax)., projeção que domina imediatamente a projeção de TPast. Abaixo, é retomado o exemplo (12), reapresentado como (47), em que essa partícula aparece justamente à direita do morfema de concordância a’e, uma categoria Agr.

(47) o-ho-putar Hikar Amarante ø-pe a’e ra’a   3-ir-PROX Hikar Amarante RLT-para 3 DBT   ‘Não se sabe se o Hikar vai para Amarante.’

Para derivar (47), o VP, nucleado pelo lexema verbal ho ‘ir’, move-se ao especificador acima da projeção máxima responsável pelo aspecto proximativo putar, fazendo o pied-piping – no modo pictures-of-whom de pied-piping (Cinque, 2005CINQUE, Guglielmo. Deriving Greenberg’s universal 20 and its exceptions. Linguistic Inquiry, Cambridge, v. 36, n. 3, p. 315-332, Summer 2005. DOI: https://doi.org/10.1162/0024389054396917.
https://doi.org/10.1162/0024389054396917...
, 2009CINQUE, Guglielmo. The fundamental left-right asymmetry of natural languages. In: SCALISE, Sergio; MAGNI, Elisabetta; BISETTO, Antonietta (org.). Universals of language today. Dordrecht: Springer, 2009. p. 165-184.) – do morfema {o-}, que nucleia a projeção do argumento externo. Assim, a projeção AgentP (mnemônica para projeção do agente) é carregada junto com o VP para um especificador acima da projeção do aspecto proximativo, tão logo putar entra na derivação, nucleando o AspProximative da Hierarquia de Cinque (1999)CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax).. Não tendo categorias mais altas de TP, a fase baixa se fecha com o Merge de putar. Esses passos da derivação são apresentados na Figura 1, a seguir15 15 A derivação das ocorrências da língua Tenetehára combina elementos de Kayne (1994, seção 5), Cinque (1999, cap. 3), Koopman e Szabolcsi (2000) com a proposta de derivação por fases de Chomsky (2001). .

Figura 1
Da derivação de (47): fase baixa.

Fechado o ciclo da fase baixa, a derivação continua, desta vez com o Merge do morfema de concordância de 3a pessoa a’e, inserido logo acima, na borda do vP. Será a’e, agora, a força motriz do movimento que carregará as PFS a posições mais altas16 16 Cinque (1999, p. 187) apresenta o dado em (i), do coreano, que pode iluminar a discussão geral abordada aqui. O coreano é uma língua aglutinante. Há, nesta língua, não obstante seu comportamento aglutinante, sufixos ‘livres’ que, uma vez inseridos, não toleram afixação ulterior, como o sufixo {-mos} (um núcleo modal ‘negativo’) que, em (i), bloqueia a adjunção de ka, o lexema verbal. Ora, diante dos dados apresentados para o Tenetehára, não é difícil concluir que a razão para {-mos} não tolerar afixação ulterior possa ser interpretada à luz da Abordagem por Fases. Assim, {-mos}, como os morfemas negativos do Tenetehára, ‘fecharia’ a fase baixa, impedindo que o lexema verbal se juntasse a núcleos superiores. O coreano opta, então, pelo Merge de um auxiliar, ha (‘fazer’), que passará a ser a força motriz do movimento já na fase de CP, adjungindo-se aos sufixos de passado e de modalidade declarativa {-ess-} e {-ta}, respectivamente. . Uma vez que esse morfema passa a ser a força motriz, tão logo entre na derivação, ele assume a tarefa de desencadear o movimento de seu complemento – o remanescente – para o especificador de um núcleo inserido acima. Tal expediente é similar ao procedimento de ‘ pushing up’, de Koopman e Szabolcsi (2000)KOOPMAN, Hilda; SZABOLCSI, Anna. Verbal complexes. Cambridge: The MIT Press, 2000. (Current Studies in Linguistics Series, n. 34)., detalhado na Figura 2. Isolada, então, a concordância, ela pode agora se mover a um especificador acima de cada PFS (se presente na numeração), a exemplo do lexema verbal (cuja derivação foi representada na Figura 1). Uma vez que há, em (47), duas PFS, sendo uma delas a concordância (PFS1), dessa vez a força motriz do movimento no domínio da fase de CP é a PFS1 a’e (Figura 2), que desencadeará o movimento ao especificador acima da projeção nucleada pela PFS epistêmica ra’a (Figura 3).

Figura 2
Da derivação de (47): Merge da partícula de concordância a’e.
Figura 3
Da derivação de (47): Merge do morfema epistêmico ra’a.

Na sequência, o complemento de ra’a, i.e., o-ho-putar, move-se a um especificador acima, derivando, portanto, o-ho-putar... a’e ra’a.

Derivada a ocorrência (47), faz-se necessário explicitar como o mecanismo derivacional aqui proposto dá conta de casos complexos, como os descritos na seção que aborda as restrições de ordenamento das PFS em que há a coocorrência de, por exemplo, cinco PFS, cada uma pertencente a um dos subgrupos de PFS descritos na seção de apresentação de dados. Veja-se, então, a sentença (42), repetida a seguir como (48).

A derivação da sentença acima envolve primeiramente o Merge do VP hem ‘chegar’, seguido pelo Merge do afixo {u-}, de terceira pessoa, que é carregado junto com o VP – no modo pictures-of-whom de pied-piping (i.e., sem inversão de ordem) – a um especificador acima da projeção nucleada pela partícula de aspecto proximativo putar (Figura 4).

Figura 4
Da derivação de (48): fase baixa.

À parte detalhes irrelevantes concernentes ao Merge dos sintagmas Tukàn e tàpuz, está ‘fechado’, então, o ciclo da fase baixa, vP. A derivação continua agora com o Merge das PFS, iniciando-se com o Merge da partícula mais baixa (PFS1), a’e, que nucleia uma projeção de concordância, inserida na borda da fase baixa. Segue-se o movimento do remanescente (o complemento de a’e), i.e., u-hem-putar, que tem o efeito de isolar a’e, que se moverá não nuclearmente, mas como sintagma, com estatuto de forma livre, portanto. Na sequência, tem-se o Merge da PFS2, nehe, que desencadeia o Merge de novo núcleo acima, e o movimento ulterior da projeção de concordância nucleada pela PFS1 a’e (Figura 5). Novamente, o complemento da PFS é movido como remanescente para o especificador da projeção dominante (Figura 6).

Figura 5
Da derivação de (48): Merge da PFS2 nehe.
Figura 6
Da derivação de (48): pushing up do remanescente u-hem-putar.

O passo seguinte é o Merge da PFS3 kury no núcleo imediatamente acima. A inserção de kury desencadeia, à semelhança do Merge da PFS2P nehe, o movimento da força motriz (encabeçada agora pelo complexo a’e nehe), conforme a Figura 7, ao qual segue, como esperado, o movimento do remanescente u-hem-putar (Figura 8).

Figura 7
Da derivação de (48): Merge de kury e movimentos associados (I).
Figura 8
Da derivação de (48): Merge de kury e movimentos associados (II).

Segue-se o Merge da PFS4 no, que desencadeia o movimento do complexo de partículas [PFS1 a’e [PFS2 nehe [PFS3 kury]]] a um núcleo acima (Figura 9), seguido pela subida do remanescente u-hem-putar (Figura 10).

Figura 9
Da derivação de (48): Merge de no e movimentos associados (I).
Figura 10
Da derivação de (48): Merge de no e movimentos associados (II).

A próxima e última partícula a entrar na derivação é a PFS5 ma, de gênero feminino, que, à semelhança das outras PFS, desencadeia o movimento do complexo formado pelas partículas anteriormente inseridas, a saber: a’e nehe kury no. Tais PFS, conforme foi visto, ocupam posições rígidas, linearizando-se ao fim da sentença em uma ordem que corresponde à imagem especular dessas categorias na Hierarquia de Cinque (1999)CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax).. Na sequência, o complexo formado pelo lexema verbal e sufixos aglutinativos é movido como remanescente (Figura 11), derivando, portanto, (48).

Figura 11
Da derivação de (48): Merge de ma e movimentos associados.

A riqueza dos dados da língua Tenetehára, interpretada, agora, à luz desses dois ingredientes teórico-conceituais principais (Cartografia de Cinque e Abordagem Derivacional por Fases), permite uma compreensão abrangente do complexo sistema gramatical (‘misto’) da projeção estendida do verbo ou da oração em Tenetehára.

O mecanismo derivacional proposto aqui guardaria alguma semelhança com o sistema de Duarte (2012)DUARTE, Fábio Bonfim. Tenetehára: a predicate-fronting language. The Canadian Journal of Linguistics, Cambridge, v. 57, n. 3, p. 359-386, Nov. 2012. DOI: https://doi.org/10.1353/cjl.2012.0042.
https://doi.org/10.1353/cjl.2012.0042...
sobre a língua Tenetehára. Este autor, ao examinar principalmente as partículas de segunda posição e as orações encaixadas, propõe que essa língua exibe um movimento de predicado (possivelmente vP) para a posição de especificador de TP17 17 Há ainda, para outras línguas Tupí-Guaraní, investigações formais sobre a periferia esquerda da sentença, como pode ser visto em Thomas (2018), para a língua Mbyá, e também em Seki e Nevins (2018), para a língua Kamaiurá. No primeiro trabalho, o autor investiga diferentes tipos de atos de fala encaixados na língua Mbyá, que ele denomina como imperativos encaixados. O autor examina as estruturas imperativas encaixadas como instâncias recursivas do núcleo funcional ForceP, que denota um tipo de semântica conhecido como Ato de Fala Potencial. No segundo, os autores assumem que as partículas de tipo complementizador em Kamaiurá devem ser analisadas em termos de projeções funcionais distintas, e não simplesmente como recursividade de CP. Assim, eles adotam uma proposta cartográfica para a periferia esquerda da sentença, com a qual é possível capturar as distribuições dessas partículas com os tipos de complementos com as quais coocorrem. .

A discussão aqui apresentada tem o mérito de integrar harmoniosamente duas propostas teóricas recentes da Teoria de Princípios e Parâmetros: a Hierarquia de Cinque (1999)CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax). e a Abordagem de Derivação por Fases (Chomsky, 2001CHOMSKY, Noam. Derivation by phase. In: KENSTOWICZ, Michael (ed.). Ken Hale: a life in language. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p. 1-52.). Análises alternativas que consideram as PFS, em Tenetehára, como adjunções de advérbios à direita seriam insustentáveis por duas razões empíricas: (i) advérbios não são linearizados à direita nas sentenças do Tenetehára e (ii) as partículas da classe das PFS estão em distribuição complementar com outras partículas da mesma classe.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O percurso neste artigo se iniciou com uma descrição pormenorizada do inventário de PFS do Tenetehára (tanto na “Introdução” como na seção de descrição dos dados). Na seção que tratou das restrições de ordenamento das PFS, foi mostrado que elas se ordenam rigidamente, respeitando a hierarquia universal de Cinque (1999)CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax)..

Os dados do Tenetehára, interpretados à luz da Abordagem de Derivação por Fases (Chomsky, 2001CHOMSKY, Noam. Derivation by phase. In: KENSTOWICZ, Michael (ed.). Ken Hale: a life in language. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p. 1-52.), combinada com ingredientes cartográfico-cinquenianos acerca da estrutura da oração e sua derivação, permitem-nos sugerir que, na verdade, Neg e Agr não teriam uma posição ‘livre’ na hierarquia das categorias gramaticais da oração, conforme conjecturado por Cinque (1999)CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax).. Antes, essas categorias entram na derivação justamente ao final e início de uma fase18 18 Pelo menos em Tenetehára. Ver também nota 16, com nossa interpretação sobre os dados do coreano, apresentados em Cinque (1999). . Assim, Neg, se presente na derivação, marca a margem da fase baixa (vP), que, em Tenetehára, é bem alta (correspondendo a TPast). Agr, aqui representado pelas PFS1, entra na derivação justamente quando o ciclo da fase baixa é enviado para as interfaces, ou seja, em posições do middle field (i.e. TP/IP) que já contam no cálculo da fase alta, CP.

O mergulho aqui feito nos dados da projeção estendida do verbo ou da oração, em Tenetehára, sobretudo nos dados sobre as PFS, permitiu unificar harmoniosamente duas grandes correntes da Teoria de Princípios e Parâmetros, a saber: a Derivação por Fases (Chomsky, 2001CHOMSKY, Noam. Derivation by phase. In: KENSTOWICZ, Michael (ed.). Ken Hale: a life in language. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p. 1-52.) e a Hierarquia Universal Cartográfica (Cinque, 1999CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax).). Isso sugere, à semelhança do que já tem sido proposto por vários autores (Cinque; Rizzi, 2010CINQUE, Guglielmo; RIZZI, Luigi. The cartography of syntactic structures. In: HEINE, Bernd; NARROG, Heiko (org.). The Oxford Handbook of Linguistic Analysis. New York: Oxford University Press, 2010. p. 51-65. e referências lá citadas), a compatibilidade desses dois programas de investigação (Cartografia e Minimalismo).

Adicionalmente, será necessário, em investigação ulterior, determinar a posição relativa das PFS2 entre si, uma vez que, sob esse mesmo rótulo, são propostas neste artigo categorias que, a julgar pela Hierarquia de Cinque (1999)CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax)., espera-se, possam coocorrer. Se tal coocorrência for rejeitada por falantes de Tenetehára, abre-se caminho a uma investigação semântica que seja capaz de explicar por que determinadas ocorrências, legitimadas pela morfossintaxe, são rejeitadas por falantes dessa língua.

  • 1
    Ver Rodrigues (1953, 1984-1985)RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Relações internas na família linguística Tupí-Guaraní. Revista de Antropologia, Brasília, v. 27-28, p. 33-53, sem. 1984-1985., Boudin (1966)BOUDIN, Max Henry. Dicionário de Tupi Moderno: dialeto tembé-ténêtéhara do alto rio Gurupi. São Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1966., Rodrigues e Cabral (2002)RODRIGUES, Aryon Dall’Igna; CABRAL, Ana Suelly Arruda Câmara. Revendo a classificação da família Tupí-Guaraní. In: CABRAL, Ana Suelly Arruda Câmara; RODRIGUES, Aryon Dall’Igna (org.). Línguas indígenas brasileiras: fonologia, gramática e história: atas do I Encontro Internacional do Grupo de Trabalho sobre Línguas Indígenas da ANPOLL. Belém: Editora da UFPA, 2002. p. 327-337., Seki (2000)SEKI, Lucy. Gramática do Kamaiurá: língua do Tupi-Guarani do Alto Xingu. Campinas: UNICAMP, 2000., Monserrat (1994)MONSERRAT, Ruth Maria Fonini. Línguas indígenas no Brasil contemporâneo. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (org.). Índios no Brasil. Brasília: MEC, 1994. p. 93-104., Caldas (2001)CALDAS, Raimunda Benedita. Aspecto, modo de ação e modalidade na língua Ka’apor. 2001. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal do Pará, Belém, 2001., Cruz (2011)CRUZ, Aline da. Fonologia e gramática do Nheengatú: a língua geral falada pelos povos Baré, Warekena e Baniwa. 2011. Tese (Doutorado em Linguística) – Vrije Universiteit, Amsterdam, 2011., Lopes (2009)LOPES, Mário Alexandre Garcia. Aspectos gramaticais da língua Ka’apor. 2009. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009., Magalhães (2007)MAGALHÃES, Marina Maria Silva. Sobre a morfologia e a sintaxe na língua Guajá (família Tupí-Guaraní). 2007. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2007., Pereira (2009)PEREIRA, Antônia Alves. Estudo morfossintático do Asurini do Xingu. 2009. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009., Praça (2007)PRAÇA, Walkíria Neiva. Morfossintaxe da língua Tapirapé (família Tupí-Guaraní). 2007. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2007., Solano (2009)SOLANO, Eliete de Jesus Bararuá. Descrição gramatical da língua Araweté. 2009. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2009., Silva (2010)SILVA, Tabita Fernandes da. História da língua Tenetehára: contribuição aos estudos histórico-comparativos sobre a diversificação da família Tupí-Guaraní do tronco Tupí. 2010. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2010., Harrison, Carl e Harrison, Carole (2013), entre muitos outros.
  • 2
    A língua Tenetehára, de acordo com Rodrigues (1984-1985)RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Morfologia do verbo Tupi. Letras, Santa Maria, v. 1, p. 121-152, sem. 1953. e Duarte (2007)DUARTE, Fábio Bonfim. Estudos de morfossintaxe Tenetehára. Belo Horizonte: FALE: UFMG, 2007., pertence à família linguística Tupí-Guaraní, tronco Tupí. Os dados linguísticos aqui discutidos pertencem à variante linguística falada pelo povo Guajajára.
  • 3
    De acordo com Palmer (2001)PALMER, Frank R. Mood and modality. 2nd ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2001., a categoria de modalidade está intimamente associada a tempo e aspecto. Estas três categorias pertencem à oração verbal e geralmente são, mas nem sempre, marcadas dentro do complexo verbal.
  • 4
    Os rótulos que se referem a projeções sintáticas definidas dentro do arcabouço da Teoria Gerativa não serão apresentados por extenso.
  • 5
    Como não é o objetivo deste artigo, não será discutido o estatuto gramatical deste morfema em Tenetehára. Ressalta-se, no entanto, que os prefixos relacionais são amplamente discutidos na literatura Tupí-Guaraní e já foram propostas várias análises para eles. Para Payne (1994)PAYNE, Doris. The Tupí-Guaraní inverse. In: FOX, Barbara; HOPPER, Paul J. (ed.). Voice: form and function. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1994. p. 313-340., por exemplo, o prefixo verbal {r-}, incluindo seus alomorfes, constitui, junto com os prefixos de pessoa e número, um sistema inverso. Em uma perspectiva gerativa, Duarte (2009, p. 125)DUARTE, Fábio Bonfim. Fonte de valoração do Caso ergativo e do Caso absolutivo em línguas indígenas brasileiras. Revista Linguística, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, p. 111-135, bianual 2009. afirma que “[...] a ocorrência do prefixo {r-} deve ser, então, entendida como sendo o reflexo da operação de valoração de Caso absolutivo que ocorre no domínio vP [...]”. Além disso, Freitas e Sândalo (2014)FREITAS, Maria Luisa; SÂNDALO, Filomena. Uma hipótese morfofonológica para hierarquia de pessoa. In: MAGALHÃES, José Sueli de (org.). Fonologia. Uberlândia: EDUFU, 2014. p. 37-50. (Linguística in Focus, n. 10)., em relação ao Guarani, baseadas nos feixes de traços binários de pessoa ([participante] e [autor]) de Halle (1997)HALLE, Morris. Distributed morphology: impoverishment and fission. In: BRUENING, Benjamin; KANG, Yoonjung; MAGINNIS, Martha (ed.). PF: papers at the interface. Cambridge: MITWPL, 1997. p. 425-449. (MIT working papers in linguistics, v. 30)., assumem que estes prefixos são a expressão de concordância com o argumento interno (objeto direto). Nesse sentido, nos contextos em que o objeto é [+participante], sendo, por isso, primeira ou segunda pessoa, os prefixos {ø- ~ r-} são engatilhados; contudo, se o argumento interno apresenta o traço [-participante], ou seja, terceira pessoa, os prefixos {i- ~ h-} emergem.
  • 6
    Para uma análise mais detalhada do sistema de concordância verbal em Tenetehára, ver a proposta de Camargos (2017b)CAMARGOS, Quesler Fagundes. Exploring agreement displacement from the internal to the external argument in the Tenetehára Language (Tupí-Guaraní Family). Revista Diadorim, Rio de Janeiro, v. 19, p. 325-342, out. 2017b. Número especial., na qual o autor assume que o fenômeno de deslocamento de concordância verbal em Tenetehára, sensível à hierarquia de pessoa, origina-se dos mecanismos da operação Agree (Béjar; Rezac, 2009BÉJAR, Susana; REZAC, Milan. Cycle agree. Linguistic Inquiry, Cambridge, v. 40, n. 1, p. 35-73, Winter 2009. DOI: https://doi.org/10.1162/ling.2009.40.1.35.
    https://doi.org/10.1162/ling.2009.40.1.3...
    ), de modo que a ciclicidade e a localidade derivam preferencialmente por uma concordância controlada pelo argumento interno, ao invés de ser regulado pelo argumento externo.
  • 7
    De fato, essas partículas não são obrigatórias. Contudo, alguns falantes relatam que a ausência delas geralmente soa como ‘está faltando algo’ ou ‘a palavra está incompleta’.
  • 8
    Apesar de parte da literatura classificar estas partículas como pronomes, elas exercem uma função gramatical não argumental. Em termos formais, elas instanciam os traços-? de CP no domínio de TP. Por essa razão e por serem incapazes de ocorrer como formas plenas, propomos que pertençam à classe gramatical de partículas.
  • 9
    Para Givón (2001)GIVÓN, Talmy. Syntax: an introduction. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2001. v. 1., são essencialmente dois os tipos de julgamento a respeito das informações proposicionais realizados pelo falante, a saber: (i) julgamento epistêmico - verdade, probabilidade, certeza, crença e evidência; e (ii) julgamento avaliatório (deôntico) - desejo, preferência, intenção, habilidade e obrigação.
  • 10
    De acordo com Hengeveld e Dall’Aglio-Hattnher (2015)HENGEVELD, Kees; DALL’AGLIO-HATTNHER, Marize Mattos. Four types of evidentiality in the native languages of Brazil. Linguistics, Berlin, v. 53, n. 3, p. 479-524, May 2015. DOI: https://doi.org/10.1515/ling-2015-0010.
    https://doi.org/10.1515/ling-2015-0010...
    , a evidencialidade se subdivide, tendo em vista o escopo dos itens evidenciais, em quatro subcategorias, a saber: evidencialidade reportativa, inferência, dedução e percepção de evento.
  • 11
    Pode ser que essa categoria esteja se gramaticalizando, deslocando-se, então, da projeção de TPast para a projeção de modalidade epistêmica mais alta, no espírito de Cinque (1999)CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax).. Ver, a esse respeito, a proposta de Roberts e Roussou (2008)ROBERTS, Ian; ROUSSOU, Anna. Syntactic change: a minimalist approach to grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press, 2008. (Cambridge Studies in Linguistics, 100)., que recorrem a Cinque (1999)CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax). para avançarem uma proposta formal de gramaticalização.
  • 12
    Esta mesma partícula {ze-} é analisada por Thomas (2018)THOMAS, Guillaume. Embedded imperatives in Mbyá. In: AMARAL, Luiz; MAIA, Marcus; NEVINS, Andrew I.; ROEPER, Tom (ed.). Recursion across Domains. Cambridge: Cambridge University Press, 2018. p. 86-109. na língua Mbyá (Tupí-Guaraní). Para o autor, a unidade gramatical {je} em Mbyá é um evidencial reportativo. Nesse sentido, trata-se de uma partícula de evidência comunicativa. Seu uso indica que os indícios que apoiam o enunciado do falante são boatos. Na ausência de evidências acerca destes boatos, ou se o falante tiver evidências diretas para apoiar seu enunciado, o uso de {je} é desautorizado.
  • 13
    Para os outros níveis de imperatividade, veja o trabalho de Taylor (1989)TAYLOR, John R. Linguistic categorization: prototypes in Linguistic Theory. Oxford: Clarendon Press, 1989..
  • 14
    Neste artigo, conjectura-se que a negação entre, na derivação, na borda da fase, i.e., na borda de vP. Há razões para supor que essa fase corresponda a uma posição relativamente alta do middle field, i.e. TP (TPast ou TFuture), uma vez que a negação verbal aparece imediatamente à direita de um sufixo verbal de tempo (passado/futuro). As PFS não podem se aglutinar ao lexema verbal como as partículas de tempo, por exemplo – por hipótese, as categorias da fase baixa em Tenetehára.
  • 15
    A derivação das ocorrências da língua Tenetehára combina elementos de Kayne (1994, seção 5)KAYNE, Richard S. The antisymmetry of syntax. Cambridge: The MIT Press, 1994. (Linguistic Inquiry Monography Fifty-Seven)., Cinque (1999, cap. 3)CINQUE, Guglielmo. The fundamental left-right asymmetry of natural languages. In: SCALISE, Sergio; MAGNI, Elisabetta; BISETTO, Antonietta (org.). Universals of language today. Dordrecht: Springer, 2009. p. 165-184., Koopman e Szabolcsi (2000)KOOPMAN, Hilda; SZABOLCSI, Anna. Verbal complexes. Cambridge: The MIT Press, 2000. (Current Studies in Linguistics Series, n. 34). com a proposta de derivação por fases de Chomsky (2001)CHOMSKY, Noam. Derivation by phase. In: KENSTOWICZ, Michael (ed.). Ken Hale: a life in language. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p. 1-52..
  • 16
    Cinque (1999, p. 187)CINQUE, Guglielmo. The fundamental left-right asymmetry of natural languages. In: SCALISE, Sergio; MAGNI, Elisabetta; BISETTO, Antonietta (org.). Universals of language today. Dordrecht: Springer, 2009. p. 165-184. apresenta o dado em (i), do coreano, que pode iluminar a discussão geral abordada aqui. O coreano é uma língua aglutinante. Há, nesta língua, não obstante seu comportamento aglutinante, sufixos ‘livres’ que, uma vez inseridos, não toleram afixação ulterior, como o sufixo {-mos} (um núcleo modal ‘negativo’) que, em (i), bloqueia a adjunção de ka, o lexema verbal. Ora, diante dos dados apresentados para o Tenetehára, não é difícil concluir que a razão para {-mos} não tolerar afixação ulterior possa ser interpretada à luz da Abordagem por Fases. Assim, {-mos}, como os morfemas negativos do Tenetehára, ‘fecharia’ a fase baixa, impedindo que o lexema verbal se juntasse a núcleos superiores. O coreano opta, então, pelo Merge de um auxiliar, ha (‘fazer’), que passará a ser a força motriz do movimento já na fase de CP, adjungindo-se aos sufixos de passado e de modalidade declarativa {-ess-} e {-ta}, respectivamente.
  • 17
    Há ainda, para outras línguas Tupí-Guaraní, investigações formais sobre a periferia esquerda da sentença, como pode ser visto em Thomas (2018)THOMAS, Guillaume. Embedded imperatives in Mbyá. In: AMARAL, Luiz; MAIA, Marcus; NEVINS, Andrew I.; ROEPER, Tom (ed.). Recursion across Domains. Cambridge: Cambridge University Press, 2018. p. 86-109., para a língua Mbyá, e também em Seki e Nevins (2018)SEKI, Lucy; NEVINS, Andrew. Strategies of embedding and the complementizer layer in Kamaiurá. In: MEDEIROS, Alexandre Boechat de; NEVINS, Andrew Ira (org.). O apelo das árvores: estudos em homenagem a Miriam Lemle. Campinas: Pontes, 2018. p. 417-444., para a língua Kamaiurá. No primeiro trabalho, o autor investiga diferentes tipos de atos de fala encaixados na língua Mbyá, que ele denomina como imperativos encaixados. O autor examina as estruturas imperativas encaixadas como instâncias recursivas do núcleo funcional ForceP, que denota um tipo de semântica conhecido como Ato de Fala Potencial. No segundo, os autores assumem que as partículas de tipo complementizador em Kamaiurá devem ser analisadas em termos de projeções funcionais distintas, e não simplesmente como recursividade de CP. Assim, eles adotam uma proposta cartográfica para a periferia esquerda da sentença, com a qual é possível capturar as distribuições dessas partículas com os tipos de complementos com as quais coocorrem.
  • 18
    Pelo menos em Tenetehára. Ver também nota 16, com nossa interpretação sobre os dados do coreano, apresentados em Cinque (1999)CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax)..

ABREVIATURAS

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi apresentado, pelo primeiro e segundo autores, inicialmente no “Encontro de Partículas”, na Universidade de Brasília (UnB), em Brasília (dezembro de 2013), realizado pelo Núcleo de Tipologia Linguística (NTL/UnB). Agradecemos aos comentários das vozes que se pronunciaram. Em uma nova versão, com algumas alterações, a pesquisa foi também apresentada no “Encontro sobre sintaxe cartográfica: teoria e experimentação” (1º SINCAR), na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro (agosto de 2018), pelos dois primeiros autores. Na ocasião, o terceiro autor fez vários comentários à versão apresentada. O debate muito entusiasmado do evento do Rio de Janeiro rendeu o presente artigo, com importantes contribuições do terceiro autor, que se uniu ao grupo. Parte desta investigação foi desenvolvida durante os trabalhos de campo realizados nas Terras Indígenas Caru e Arariboia, localizadas no estado do Maranhão, entre os anos de 2010 e 2018. Gostaríamos de agradecer o importante apoio do povo indígena Guajajára, que tem nos ajudado no levantamento dos dados linguísticos que compõem esta pesquisa. Agradecemos ainda à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), cujas pesquisas desenvolvidas por Aquiles Tescari Neto (Processo 2016/20853-6) e Ricardo Campos Castro – processos 2017/09615-9 (Brasil) e 2018/06203-4 (EUA) – iluminaram questões teóricas aqui desenvolvidas. Por fim, agradecemos também ao Grupo de Pesquisa em Educação na Amazônia da Universidade Federal de Rondônia (GPEA/UNIR), pelo suporte e apoio às pesquisas desenvolvidas pelo primeiro autor deste artigo.

REFERÊNCIAS

  • BAKER, Mark. The mirror principle and morphosyntactic explanation. Linguistic Inquiry, Cambridge, v. 16, n. 3, p. 373-415, Summer 1985.
  • BÉJAR, Susana; REZAC, Milan. Cycle agree. Linguistic Inquiry, Cambridge, v. 40, n. 1, p. 35-73, Winter 2009. DOI: https://doi.org/10.1162/ling.2009.40.1.35.
    » https://doi.org/10.1162/ling.2009.40.1.35
  • BOUDIN, Max Henry. Dicionário de Tupi Moderno: dialeto tembé-ténêtéhara do alto rio Gurupi. São Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1966.
  • CALDAS, Raimunda Benedita. Aspecto, modo de ação e modalidade na língua Ka’apor 2001. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal do Pará, Belém, 2001.
  • CAMARGOS, Quesler Fagundes. Aplicativização, causativização e nominalização: uma análise unificada de estruturas argumentais em Tenetehára-Guajajára (família Tupí-Guaraní). 2017. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017a.
  • CAMARGOS, Quesler Fagundes. Exploring agreement displacement from the internal to the external argument in the Tenetehára Language (Tupí-Guaraní Family). Revista Diadorim, Rio de Janeiro, v. 19, p. 325-342, out. 2017b. Número especial.
  • CASTRO, Ricardo Campos. Morfossintaxe Tenetehára (Tupí-Guaraní) 2017. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.
  • CHOMSKY, Noam. Derivation by phase. In: KENSTOWICZ, Michael (ed.). Ken Hale: a life in language. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p. 1-52.
  • CINQUE, Guglielmo; RIZZI, Luigi. The cartography of syntactic structures. In: HEINE, Bernd; NARROG, Heiko (org.). The Oxford Handbook of Linguistic Analysis New York: Oxford University Press, 2010. p. 51-65.
  • CINQUE, Guglielmo. On the status of functional categories (heads and phrases). Language and Linguistics, Amsterdam, v. 18, n. 4, p. 521-576, Oct. 2017. DOI: https://doi.org/10.1075/lali.18.4.01cin.
    » https://doi.org/10.1075/lali.18.4.01cin
  • CINQUE, Guglielmo. Again on tense, aspect, mood morpheme order and the ‘mirror principle’. In: SVENONIUS, Peter (ed.). Functional structure from top to toe: the cartography of syntactic structures. New York: Oxford University Press, 2014. v. 9, cap. 8.
  • CINQUE, Guglielmo. Cognition, universal grammar, and typological generalizations. Lingua, Amsterdam, v. 130, p. 50-65, June 2013. DOI: https://doi.org/10.1016/j.lingua.2012.10.007.
    » https://doi.org/10.1016/j.lingua.2012.10.007
  • CINQUE, Guglielmo. The syntax of adjectives: a comparative study. Cambridge: The MIT Press, 2010. (Linguistic Inquiry Monograph Fifty-Seven).
  • CINQUE, Guglielmo. The fundamental left-right asymmetry of natural languages. In: SCALISE, Sergio; MAGNI, Elisabetta; BISETTO, Antonietta (org.). Universals of language today Dordrecht: Springer, 2009. p. 165-184.
  • CINQUE, Guglielmo. Restructuring and functional heads: the cartography of syntactic structures. New York: Oxford University Press, 2006. v. 4. (Oxford Studies in Comparative Syntax).
  • CINQUE, Guglielmo. Deriving Greenberg’s universal 20 and its exceptions. Linguistic Inquiry, Cambridge, v. 36, n. 3, p. 315-332, Summer 2005. DOI: https://doi.org/10.1162/0024389054396917.
    » https://doi.org/10.1162/0024389054396917
  • CINQUE, Guglielmo. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. (Oxford Studies in Comparative Syntax).
  • COSTA, Sueli. Entre o deôntico e o epistêmico: o caráter camaleônico do verbo modal ‘poder’. Revista Eletrônica de Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Lingüística e Literatura, [S. l], ano 5, n. 11, p. 1-22, sem. 2009.
  • CRUZ, Aline da. Fonologia e gramática do Nheengatú: a língua geral falada pelos povos Baré, Warekena e Baniwa. 2011. Tese (Doutorado em Linguística) – Vrije Universiteit, Amsterdam, 2011.
  • DUARTE, Fábio Bonfim; CAMARGOS, Quesler Fagundes; CASTRO, Ricardo Campos; SILVA, Cíntia Maria Santana; GUAJAJARA, Marina da Silva. Coletânea de narrativas Guajajára Belo Horizonte: FALE: UFMG, 2018. v. 1.
  • DUARTE, Fábio Bonfim. Tenetehára: a predicate-fronting language. The Canadian Journal of Linguistics, Cambridge, v. 57, n. 3, p. 359-386, Nov. 2012. DOI: https://doi.org/10.1353/cjl.2012.0042.
    » https://doi.org/10.1353/cjl.2012.0042
  • DUARTE, Fábio Bonfim. Fonte de valoração do Caso ergativo e do Caso absolutivo em línguas indígenas brasileiras. Revista Linguística, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, p. 111-135, bianual 2009.
  • DUARTE, Fábio Bonfim. Estudos de morfossintaxe Tenetehára Belo Horizonte: FALE: UFMG, 2007.
  • FREITAS, Maria Luisa; SÂNDALO, Filomena. Uma hipótese morfofonológica para hierarquia de pessoa. In: MAGALHÃES, José Sueli de (org.). Fonologia Uberlândia: EDUFU, 2014. p. 37-50. (Linguística in Focus, n. 10).
  • GIVÓN, Talmy. Syntax: an introduction. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2001. v. 1.
  • HAAN, Ferdinand de. Evidentiality and epistemic modality: setting soundaries. Southwest Journal of Linguistics, El Paso, v. 18, p. 83-101, 1999.
  • HALLE, Morris. Distributed morphology: impoverishment and fission. In: BRUENING, Benjamin; KANG, Yoonjung; MAGINNIS, Martha (ed.). PF: papers at the interface. Cambridge: MITWPL, 1997. p. 425-449. (MIT working papers in linguistics, v. 30).
  • HARRISON, Carl; HARRISON, Carole. Dicionário Guajajara-Português Anápolis: Associação Internacional de Linguística, 2013.
  • HENGEVELD, Kees; DALL’AGLIO-HATTNHER, Marize Mattos. Four types of evidentiality in the native languages of Brazil. Linguistics, Berlin, v. 53, n. 3, p. 479-524, May 2015. DOI: https://doi.org/10.1515/ling-2015-0010.
    » https://doi.org/10.1515/ling-2015-0010
  • KAYNE, Richard S. Movement and silence New York: Oxford University Press, 2005. (Oxford Studies in Comparative Syntax).
  • KAYNE, Richard S. The antisymmetry of syntax Cambridge: The MIT Press, 1994. (Linguistic Inquiry Monography Fifty-Seven).
  • KOOPMAN, Hilda; SZABOLCSI, Anna. Verbal complexes Cambridge: The MIT Press, 2000. (Current Studies in Linguistics Series, n. 34).
  • LOPES, Mário Alexandre Garcia. Aspectos gramaticais da língua Ka’apor 2009. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.
  • MAGALHÃES, Marina Maria Silva. Sobre a morfologia e a sintaxe na língua Guajá (família Tupí-Guaraní) 2007. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2007.
  • MONSERRAT, Ruth Maria Fonini. Línguas indígenas no Brasil contemporâneo. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (org.). Índios no Brasil Brasília: MEC, 1994. p. 93-104.
  • PALMER, Frank R. Mood and modality 2nd ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.
  • PAYNE, Doris. The Tupí-Guaraní inverse. In: FOX, Barbara; HOPPER, Paul J. (ed.). Voice: form and function. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1994. p. 313-340.
  • PEREIRA, Antônia Alves. Estudo morfossintático do Asurini do Xingu 2009. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.
  • PRAÇA, Walkíria Neiva. Morfossintaxe da língua Tapirapé (família Tupí-Guaraní) 2007. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2007.
  • ROBERTS, Ian; ROUSSOU, Anna. Syntactic change: a minimalist approach to grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press, 2008. (Cambridge Studies in Linguistics, 100).
  • RODRIGUES, Aryon Dall’Igna; CABRAL, Ana Suelly Arruda Câmara. Revendo a classificação da família Tupí-Guaraní. In: CABRAL, Ana Suelly Arruda Câmara; RODRIGUES, Aryon Dall’Igna (org.). Línguas indígenas brasileiras: fonologia, gramática e história: atas do I Encontro Internacional do Grupo de Trabalho sobre Línguas Indígenas da ANPOLL. Belém: Editora da UFPA, 2002. p. 327-337.
  • RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Relações internas na família linguística Tupí-Guaraní. Revista de Antropologia, Brasília, v. 27-28, p. 33-53, sem. 1984-1985.
  • RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Morfologia do verbo Tupi. Letras, Santa Maria, v. 1, p. 121-152, sem. 1953.
  • ROSE, Françoise. On male and female speech and more: categorical gender indexicality in indigenous South American languages. International Journal of American Linguistics, Chicago, v. 81, n. 4, p. 495-537, Oct. 2015. DOI: https://doi.org/10.1086/683158.
    » https://doi.org/10.1086/683158
  • ROSE, Françoise. Los generolectos del mojeño. Revista LIAMES, Campinas, v. 13, n. 1, p. 115-134, nov. 2013. DOI: https://doi.org/10.20396/liames.v0i13.1534.
    » https://doi.org/10.20396/liames.v0i13.1534
  • SEKI, Lucy; NEVINS, Andrew. Strategies of embedding and the complementizer layer in Kamaiurá. In: MEDEIROS, Alexandre Boechat de; NEVINS, Andrew Ira (org.). O apelo das árvores: estudos em homenagem a Miriam Lemle. Campinas: Pontes, 2018. p. 417-444.
  • SEKI, Lucy. Gramática do Kamaiurá: língua do Tupi-Guarani do Alto Xingu. Campinas: UNICAMP, 2000.
  • SILVA, Tabita Fernandes da. História da língua Tenetehára: contribuição aos estudos histórico-comparativos sobre a diversificação da família Tupí-Guaraní do tronco Tupí. 2010. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2010.
  • SOLANO, Eliete de Jesus Bararuá. Descrição gramatical da língua Araweté 2009. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2009.
  • TANNEN, Deborah. You just don’t understand: women and men in conversation. New York: Morrow, 1990.
  • TAYLOR, John R. Linguistic categorization: prototypes in Linguistic Theory. Oxford: Clarendon Press, 1989.
  • THOMAS, Guillaume. Embedded imperatives in Mbyá. In: AMARAL, Luiz; MAIA, Marcus; NEVINS, Andrew I.; ROEPER, Tom (ed.). Recursion across Domains Cambridge: Cambridge University Press, 2018. p. 86-109.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Dez 2019
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2019

Histórico

  • Recebido
    28 Fev 2019
  • Aceito
    27 Jun 2019
MCTI/Museu Paraense Emílio Goeldi Coordenação de Pesquisa e Pós-Graduação, Av. Perimetral. 1901 - Terra Firme, 66077-830 - Belém - PA, Tel.: (55 91) 3075-6186 - Belém - PA - Brazil
E-mail: boletim.humanas@museu-goeldi.br