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Tecnologias cerâmicas no alto rio Madeira: síntese, cronologia e perspectivas

Ceramic technologies on the upper Madeira River: summary, timeline, and perspectives

Resumo

A análise dos atributos que caracterizam as escolhas de pasta, técnicas de confecção, morfologias, acabamentos, queima e marcas de utilização, nas cadeias operatórias de confecção e uso dos artefatos cerâmicos, permitiu identificar ao menos cinco conjuntos tecnológicos distintos no alto rio Madeira, no período entre aproximadamente 3 mil anos antes do presente e o século XVIII da nossa era. Ao apresentar uma síntese da variabilidade tecnológica, pretende-se trazer reflexões sobre as classificações, o reconhecimento de tradições locais e regionais, as continuidades e mudanças nos conjuntos e os contextos arqueológicos. Tais dados possibilitam descrever as persistências e transformações culturais na longa trajetória de ocupação da região pelos povos que produziram cerâmicas.

Palavras-chave
Tecnologias cerâmicas; Variabilidade; Alto rio Madeira

Abstract

The characteristic choices of clay types, production techniques, shaping, finishes, firing, and use marks in the chains of production and use for ceramic artefacts indicate the presence of at least five distinct technological groups in the upper Madeira River region from about 3,000 BP to the eighteenth century. This article summarizes the technological variations in order to reflect on classifications, recognition of local and regional traditions, continuities and changes in the archaeological groups and contexts. This information make it possible to describe cultural transformations as well as persistence among the people who produced these ceramics during the long span of occupation in this region.

Keywords
Ceramic technology; Variability; Upper Madeira River

INTRODUÇÃO

O sudoeste amazônico é caracterizado pela grande diversidade linguística e cultural, sendo o rio Madeira uma importante rota de expansão antiga. Os Tupi teriam se originado na região entre os rios Guaporé e Aripuanã, em torno de 5.000 AP, fragmentando-se em dez famílias linguísticas, com mais de 70 línguas (Rodrigues, 1964Rodrigues, A. D. (1964). A classificação linguística do tronco Tupi. Revista de Antropologia, 12(1/2), 99-104., 2007Rodrigues, A. D. (2007). As consoantes do Proto-Tupí. In A. S. A. C. Cabral & A. D. Rodrigues (Orgs.), Línguas e Culturas Tupí (pp. 167-203). Campinas: Curt Nimuendajú.; Noeli, 1996Noelli, F. S. (1996). As hipóteses sobre os centros de origem e as rotas de expansão dos Tupi. Revista de Antropologia, 39(2), 7-53.; F. Silva & Noelli, 2017Silva, F. A., & Noelli, F. S. (2017). Arqueologia e linguística: construindo as trajetórias histórico-culturais dos povos Tupí. Revista Crítica e Sociedade, 7(1), 55-87. doi: https://doi.org/10.14393/RCS-v7n1-2017-39256
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). A região também compõe um bloco quase contínuo de povos Arawak, da chamada Periferia Meridional da Amazônia (Heckenberger, 2001Heckenberger, M. J. (2001). O Alto Xingu na longue durée. In B. Franchetto & M. Heckenberger (Org.), Os povos do Alto Xingu: história e cultura (pp. 21-62). Rio de Janeiro: Editora da UFRJ., 2002Heckenberger, M. J. (2002). Rethinking the arawakan diaspora: hierarchy, regionality, and the Amazonian Formative. In J. Hill & F. Santos-Granero (Eds.), Comparative arawakan histories: rethinking language family and culture area in Amazonia (pp. 99-122). Urbana: University of Illinois Press.), com interações e redes de comércio e comunicação (Eriksen, 2011Eriksen, L. (2011). Nature and culture in prehistoric Amazonia: using G.I.S. to reconstruct ancient ethnogenetic processes from archaeology, linguistics, geography, and ethnohistory (Tese de doutorado). Universidade de Lund, Lund, Dinamarca.). Além destes, situam-se povos de línguas Pano, Mura, Txapakura, entre outras (Leonel, 1995Leonel, M. (1995). Etnodicéia Uruéu-au-au. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.; Menéndez, 1992Menéndez, M. A. (1992). A área Madeira-Tapajós: situação de contato e relações entre colonizador e indígenas. In M. Carneiro da Cunha (Org.), História dos índios no Brasil (pp. 281-296). São Paulo: Companhia das Letras.; C. Silva & Costa, 2014Silva, C. G. P., & Costa, A. F. (2014). Um quadro histórico das populações indígenas no alto rio Madeira durante o séc. XVIII. Amazônica, 6(1), 136-165. doi: http://dx.doi.org/10.18542/amazonica.v6i1.1751
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). Ao buscar compreender a variabilidade nos assentamentos e na cultura material, a Arqueologia contribui com a história indígena de longa duração.

Em 1978, foram identificados trinta e dois sítios arqueológicos no alto rio Madeira e no baixo curso dos seus afluentes associados a antigas aldeias ou acampamentos (Miller, 1978Miller, E. T. (1978). Pesquisas arqueológicas no Território Federal de Rondônia. Porto Alegre: Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Sul.). Entre os sítios, destacam-se o Teotônio e Porto Seguro, hoje conhecido como Santa Paula, sítios-habitação associados à Subtradição Jatuarana, da Tradição Polícroma da Amazônia (TPA). Anos mais tarde, os sítios do rio Madeira foram classificados nas fases pré-cerâmicas Periquitos e Girau, e cerâmicas Jaciparaná, Ribeirão, Pederneiras, Jatuarana e Curequetê (Miller, 1987Miller, E. T. (1987). Inventário arqueológico da bacia e sub-bacias do rio Madeira, 1974-1987. Porto Velho: Consórcio Nacional de Engenheiros Construtores S.A.). No complexo Jatuarana, as cerâmicas apresentariam grande variação na pasta, morfologias e acabamentos, com predomínio de decorações plásticas na porção mediana inferior da estratigrafia e policromia na superior, situado entre 2.730 AP e o século XVIII, em sítios-habitação com terra preta. O único cemitério, com dez urnas funerárias, enterradas lado a lado, distava a 2,5 km do sítio-habitação. A cerâmica Jatuarana seria a mais antiga da TPA, com 3.000 AP, tendo como centro o Teotônio (Miller, 1978Miller, E. T. (1978). Pesquisas arqueológicas no Território Federal de Rondônia. Porto Alegre: Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Sul., 1987Miller, E. T. (1987). Inventário arqueológico da bacia e sub-bacias do rio Madeira, 1974-1987. Porto Velho: Consórcio Nacional de Engenheiros Construtores S.A., 1992Miller, E. T. (1992). Adaptação agrícola pré-histórica no Alto Rio Madeira. In B. J. Meggers (Org.), Prehistoria Sudamericana: nuevas perspectivas (pp. 219-229). Washington: Taraxacum.).

A retomada das pesquisas, após trinta anos, volta-se para a análise das tecnologias líticas e cerâmicas, caracterização dos contextos arqueológicos e estabelecimento da cronologia para as ocupações indígenas, as quais têm início em torno de 9.500 AP (Neves, 2012Neves, E. G. (2012). Sob os Tempos do Equinócio: oito mil anos de história na Amazônia Central (6.500 AC-1.500 DC) (Tese de livre docência). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.; Almeida, 2013Almeida, F. O. (2013). A Tradição Polícroma no Alto Rio Madeira (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.; Kipnis et al., 2013Kipnis, R., Santos, H. B. C., Tizuka, M. M., Almeida, M. J. G. T., & Corga, M. P. A. S. (2013). Aplicação das tecnologias de modelagem 3D conjugada às técnicas tradicionais para o registro das gravuras rupestres do rio Madeira, Rondônia, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 8(3), 605-619. doi: https://doi.org/10.1590/S1981-81222013000300008
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; Moraes, 2013Moraes, C. P. (2013). Amazônia ano 1000: territorialidade e conflito no tempo das chefias regionais (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, SP, São Paulo, Brasil.; Tizuka, 2013Tizuka, M. M. (2013). Geoarqueologia e paleoidrologia da planície aluvial holocênica do alto rio Madeira entre Porto Velho e Abunã-RO (Dissertação de mestrado). Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Rio Claro, SP, Brasil.; Zuse, 2014Zuse, S. (2014). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira, Rondônia (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil., 2016Zuse, S. (2016). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira. In C. Barreto, H. P. Lima & C. J. Betancourt (Orgs.), Cerâmicas arqueológicas da Amazônia: rumo a uma nova síntese (pp. 385-401). Belém: IPHAN.; Mongeló, 2015Mongeló, G. Z. (2015). O formativo e os modos de produção: ocupações pré-ceramistas no Alto Rio Madeira-RO (Dissertação de mestrado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil., 2019Mongeló, G. Z. (2019). Outros pioneiros do sudoeste amazônico: ocupações holocênicas na bacia do Alto Rio Madeira (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.; Pessoa, 2015Pessoa, C. (2015). Os contextos arqueológicos e a variabilidade artefatual da ocupação Jatuarana no alto rio Madeira (Dissertação de mestrado). Universidade Federal do Pará, PA, Belém, Brasil.; Costa, 2016Costa, A. F. (2016). A multifuncionalidade da cerâmica no sítio Ilha Dionísio, alto rio Madeira (Dissertação de mestrado). Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, Rio de Janeiro, Brasil.; Vassoler, 2016Vassoler, O. P. (2016). Do lago de leite ao rio dos cedros: análise da iconografia cerâmica em vasilhas da Tradição Polícroma Amazônica no alto rio Madeira (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, RO, Brasil.; Watling et al., 2018Watling, J., Shock, M. P., Mongeló, G. Z., Almeida, F. O., Kater, T., De Oliveira, P. E., & Neves, E. G. (2018). Direct archaeological evidence for Southwestern Amazonia as an early plant domestication and food production centre. PLos ONE, 13(7). doi: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0199868
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; Kater, 2018Kater, T. (2018). O sítio Teotônio e as reminiscências de uma longa história indígena no Alto Rio Madeira (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Sergipe, Laranjeiras, SE, Brasil.). A grande variabilidade nas cerâmicas e nos contextos arqueológicos resultou na definição de cinco conjuntos tecnológicos, por meio da análise das escolhas na cadeia operatória de confecção e uso das cerâmicas (Zuse, 2014Zuse, S. (2014). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira, Rondônia (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil., 2016Zuse, S. (2016). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira. In C. Barreto, H. P. Lima & C. J. Betancourt (Orgs.), Cerâmicas arqueológicas da Amazônia: rumo a uma nova síntese (pp. 385-401). Belém: IPHAN.), porém a continuidade das pesquisas tem demonstrado uma diversidade ainda maior (Kater, 2018Kater, T. (2018). O sítio Teotônio e as reminiscências de uma longa história indígena no Alto Rio Madeira (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Sergipe, Laranjeiras, SE, Brasil.; Santos Costa, 2019Santos Costa, M. S. (2019). Análise da tecnologia cerâmica no setor sul no sítio Santa Paula – Porto Velho/RO (Trabalho de conclusão de curso). Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, RO, Brasil.).

O ESTUDO DAS TECNOLOGIAS CERÂMICAS

As tecnologias são produto social e compõem os sistemas culturais e simbólicos. Através da análise dos atributos de fragmentos e objetos cerâmicos, busca-se compreender as escolhas tecnológicas na sua confecção e uso, desde o preparo da pasta, as técnicas de confecção, morfologias, acabamentos de superfície, queima, usos, reusos, até o descarte. As decisões de como usar ou não os materiais, instrumentos e ações são escolhas culturais, embasadas nos sistemas de representações sociais e simbólicos, portanto podem evidenciar a variabilidade formal dos conjuntos cerâmicos e fornecer elementos para a compreensão dos estilos tecnológicos e as tradições culturais (Lemonnier, 1992Lemonnier, P. (1992). Elements for an anthropology of technology. Ann Arbor: University of Michigan Press., 1993Lemonnier, P. (1993). Technological choices: transformation in material cultures since the Neolithic. London: Routledge.; Schiffer & Skibo, 1992Schiffer, M. B., & Skibo, J. (1992). Theory and experiment in the study of technical change. In M. B. Schiffer (Org.), Technological perspectives on behavioral change (pp. 40-76). Tucson: University of Arizona Press., 1997Schiffer, M. B., & Skibo, J. M. (1997). The explanation of artefact variability. American Antiquity, 62(1), 27-50.; Dietler & Herbich, 1998Dietler, M., & Herbich, I. (1998). Hábitus, tecniques, style: an integrated approach to the social understanding of material culture and boundaries. In M. T. Stark (Ed.), The Archaeology of social boundaries (pp. 233-263). Washington: Smithsonian Institution Press.; F. Silva, 2000Silva, F. A. (2000). As tecnologias e seus significados: um estudo da cerâmica dos Assurini do Xingu e da cestaria dos Kaiapó-Xikrin sob uma perspectiva etnoarqueológica (Tese de doutorado). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil., 2016Silva, F. A. (2016). Tipos cerâmicos ou modos de vida? Etnoarqueologia e as tradições arqueológicas cerâmicas na Amazônia. In C. Barreto, H. P. Lima & C. J. Betancourt (Orgs.), Cerâmicas arqueológicas da Amazônia: rumo a uma nova síntese (pp. 40-49). Belém: IPHAN.; David & Kramer, 2001David, N., & Kramer, C. (2001). Style and the marking of boundaries: contrasting regional studies. In N. David & C. Kramer (Org), Etnoarchaeology in action (pp. 169-224). Cambridge: University Press.; Dias & F. Silva, 2001Dias, A. S., & Silva, F. A. (2001). Sistema tecnológico e estilo: as implicações desta inter-relação no estudo das indústrias líticas do sul do Brasil. Revista do MAE, (11), 95-108. doi: https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2001.109412
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; Skibo & Schiffer, 2001Skibo, J., & Schiffer, M. B. (2001). Understanding artifact variability and change: a behavioral framework. In M. B. Schiffer (Ed.), Anthropological perspectives on technology (pp. 139-149). Albuquerque: University of New Mexico Press.).

A análise das características formais dos artefatos evidencia as permanências e as mudanças nas escolhas culturais e as diferenças entre os conjuntos de cultura material. Um dos principais objetivos da arqueologia é compreender os significados das variações nos estilos tecnológicos. Escolhas técnicas semelhantes, adotadas por diferentes sociedades que interagem e têm acesso a tipos similares de informações tecnológicas, não possuem o mesmo significado (Chilton, 1998Chilton, E. S. (1998). The cultural origins of the technical choice: unraveling Algonquian and Iroquian ceramic tradictions in the northeast. In M. T. Stark (Ed.), The Archaeology of social boundaries (pp. 132-160). Washington: Smithsonian Institution Press.). Povos ceramistas que compartilham ferramentas e técnicas semelhantes podem criar estilos distintos. Mudanças nas técnicas resultam do habitus, que estrutura as respostas aos problemas técnicos e sociais, forma e transforma identidades nas trajetórias históricas específicas (Dietler & Herbich, 1998Dietler, M., & Herbich, I. (1998). Hábitus, tecniques, style: an integrated approach to the social understanding of material culture and boundaries. In M. T. Stark (Ed.), The Archaeology of social boundaries (pp. 233-263). Washington: Smithsonian Institution Press.; Bourdieu, 1977Bourdieu, P. (1977). Outline of a theory of practice. Cambridge: Cambridge University Press., 2006Bourdieu, P. (2006). O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.).

Os conjuntos de cultura material podem apresentar variações estilísticas derivadas de um reservatório simbólico compartilhado, ou seja, uma representação social comum a partir de pressões internas e externas (David & Kramer, 2001David, N., & Kramer, C. (2001). Style and the marking of boundaries: contrasting regional studies. In N. David & C. Kramer (Org), Etnoarchaeology in action (pp. 169-224). Cambridge: University Press.). Inovações tecnológicas surgem em processos de expressão estética e criativa e de (re)criação cultural na afirmação da identidade em relação ao outro (F. Silva, 2007Silva, F. A. (2007). O significado da variabilidade artefatual: a cerâmica dos Asurini do Xingu e a plumária dos Kayapó-Xikrin do Catete. Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi. Ciências Humanas, 2(1), 91-103. doi: https://doi.org/10.1590/S1981-81222007000100007
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).

A compreensão da diversidade regional e a reconstrução de grupos e fronteiras culturais no passado requerem a comparação contextual dos conjuntos tecnológicos e o estabelecimento de cronologias (Dias & F. Silva, 2001Dias, A. S., & Silva, F. A. (2001). Sistema tecnológico e estilo: as implicações desta inter-relação no estudo das indústrias líticas do sul do Brasil. Revista do MAE, (11), 95-108. doi: https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2001.109412
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). Entretanto, nem sempre a distribuição espacial dos estilos de cerâmica é bom indicador de identidade social. Às vezes, zonas de estilos homogêneas atravessam fronteiras tradicionalmente hostis, outras vezes, as fronteiras no registro arqueológico podem dividir grupos com um forte sentido de identidade mútua. Portanto, a definição de fronteiras e limites deve levar em consideração as dimensões políticas e econômicas dos processos de interação e a fluidez nas construções das identidades culturais (Dietler & Herbich, 1998Dietler, M., & Herbich, I. (1998). Hábitus, tecniques, style: an integrated approach to the social understanding of material culture and boundaries. In M. T. Stark (Ed.), The Archaeology of social boundaries (pp. 233-263). Washington: Smithsonian Institution Press.).

No alto rio Madeira, região de grande diversidade cultural e linguística, a análise das cerâmicas e dos contextos arqueológicos busca evidenciar as permanências e mudanças nas escolhas culturais e definir os conjuntos tecnológicos. À medida que os estudos avançam, a variabilidade fica mais evidente, desde as primeiras ocupações ceramistas, tornando-se mais acentuada no decorrer do tempo, quando as fronteiras evidenciam-se mais no registro arqueológico.

TECNOLOGIAS CERÂMICAS NO ALTO RIO MADEIRA

Na área da Usina Hidrelétrica (UHE) Santo Antônio, entre as cachoeiras de Santo Antônio e Caldeirão do Inferno, foram pesquisados 52 sítios pré-coloniais, todos com camadas de ocupação ceramistas, sendo a maioria caracterizada como unicomponencial. A análise das cerâmicas de dezesseis sítios (Figura 1), porém, tem evidenciado grande variabilidade nos contextos arqueológicos em sítios majoritariamente multicomponenciais (Scientia Consultoria Científica, 2008Scientia Consultoria Científica. (2008). Projeto de Arqueologia preventiva nas áreas de intervenção do AHE Santo Antônio, RO.; Zuse, 2014Zuse, S. (2014). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira, Rondônia (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.; C. Silva, 2015Silva, C. G. P. (2015). Os contextos arqueológicos e a variabilidade artefatual da ocupação Jatuarana no alto rio Madeira (Dissertação de mestrado). Universidade Federal do Pará. Belém, PA, Brasil.; Costa, 2016Costa, A. F. (2016). A multifuncionalidade da cerâmica no sítio Ilha Dionísio, alto rio Madeira (Dissertação de mestrado). Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, Rio de Janeiro, Brasil.).

Figura 1
Localização dos sítios arqueológicos abordados no artigo

A escolha das amostras cerâmicas analisadas priorizou as unidades de escavação (todas de 1 m2) datadas e os possíveis contextos funerários, com vasilhas cerâmicas inteiras (Tabela 1).

Tabela 1
Relação da amostra analisada por sítio (*fragmentos diagnósticos e não diagnósticos; nos demais, somente os diagnósticos).

Inicialmente, foram definidos cinco conjuntos tecnológicos, porém nem todos possuíam cronologia estabelecida e alguns receberam denominações provisórias (Zuse, 2014Zuse, S. (2014). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira, Rondônia (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil., 2016Zuse, S. (2016). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira. In C. Barreto, H. P. Lima & C. J. Betancourt (Orgs.), Cerâmicas arqueológicas da Amazônia: rumo a uma nova síntese (pp. 385-401). Belém: IPHAN.). A continuidade das análises e as novas datações (Tabela 2) permitem avançar nas interpretações sobre a variabilidade nas tecnologias cerâmicas da região, discussão que será apresentada no decorrer deste artigo.

Tabela 2
Conjuntos tecnológicos com sítios e datações (*OSL; as demais são radiocarbônicas).

CERÂMICAS ANTIGAS: POCÓ-AÇUTUBA, MORRO DOS MACACOS E OUTRAS

Uma das constatações é de que possivelmente nem todas as cerâmicas antigas são ‘semelhantes a Saladoide, Pocó e Açutuba’. Cerâmicas da tecnologia Pocó-Açutuba, como têm sido chamadas, estão bem caracterizadas nos sítios VEN, VAL (setor 3) e SPA. Em outros, como BOV (setor 1), FJ e VAL (setor 1), cerâmicas do mesmo período ou mais antigas, em baixa frequência e erodidas, possuem poucos atributos identificados. No GAR e ILD, ocorre alta variabilidade nas escolhas tecnológicas. Nesses sítios, há dificuldade em associar essas cerâmicas aos conjuntos Pocó-Açutuba ou Morro dos Macacos, como está sendo definida a cerâmica inicialmente chamada ‘em torno de 1.800 AP’ (Zuse, 2016Zuse, S. (2016). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira. In C. Barreto, H. P. Lima & C. J. Betancourt (Orgs.), Cerâmicas arqueológicas da Amazônia: rumo a uma nova síntese (pp. 385-401). Belém: IPHAN.).

A cerâmica Pocó-Açutuba está melhor caracterizada no sítio VEN, unicomponencial, em área de forma elipsoidal de 204 m x 340 m e camadas de 50 a 110 cm, com sedimento marrom e cinza muito escuro. As vasilhas foram elaboradas com pasta contendo caraipé, geralmente associado ao carvão, e raramente contendo cauixi ou somente mineral. Bases e flanges foram confeccionadas com a técnica modelada, e o corpo das vasilhas foi feito através da sobreposição de roletes (Tabela 3).

Tabela 3
Síntese dos atributos dos conjuntos tecnológicos, com as variáveis em ordem crescente de frequência.

Entre os diagnósticos, predominam os fragmentos de borda em relação aos de parede, e também são frequentes as bases, carenas e flanges. A espessura varia entre 2 e 40 mm. A maioria das bordas é direta vertical e inclinada externamente, seguida pelas bordas diretas inclinadas internamente, extrovertidas (com e sem ponto angular) e introvertidas. Possuem espessamento predominantemente linear, mas são características as expandidas, reforçadas e contraídas. Os lábios são arredondados, planos e apontados. As vasilhas com boca circular possuem diâmetro entre 8 e 26 cm, e dois assadores com 54 e 76 cm. Outras apresentam boca com formatos irregulares. As bases são majoritariamente plano-côncavas e biplanas, raramente convexas-côncavas. Entre as morfologias, destacam-se contornos simples e compostos (Figura 2).

Figura 2
Cerâmica Pocó-Açutuba.

As vasilhas são alisadas, polidas, com barbotina e raramente com brunidura. Boa parte possui engobo vermelho na face interna, externa ou em ambas as faces, ou pintura majoritariamente na face externa, nas cores branca, vermelha, vinho e laranja. A pintura vermelha é recorrente no lábio, e a vermelha e branca algumas vezes está associada a incisões. Entre os tratamentos plásticos, predominam os incisos, seguidos pelos escovados; e, em menor número, o ungulado, serrungulado, acanalado, roletado, exciso, ponteado, espatulado, inciso-ponteado, aplique e modelado, principalmente na face externa das vasilhas, mas também nos lábios e na face interna das bordas. As linhas incisas horizontais paralelas são comuns, e há também motivos curvilíneos, angulares, triangulares, linhas verticais e entrecruzadas, em forma de ‘J’ e um aplique figurativo zoomorfo.

Os núcleos das cerâmicas são tanto escuros quanto claros, em ambiente oxidante e redutor. As vasilhas com bordas diretas inclinadas externamente, verticais e extrovertidas, com diâmetro de abertura entre 20 e 22 cm, alisadas e raramente com engobo, incisões e escovados, têm vestígios de fuligem. Possivelmente outras, decoradas, eram utilizadas para armazenar, servir e consumir alimentos.

No sítio SPA, cerâmicas Pocó-Açutuba apareceram sobrepostas por cerâmicas Barrancoide e TPA, especialmente no setor sul (Zuse, 2014Zuse, S. (2014). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira, Rondônia (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.; Santos Costa, 2019Santos Costa, M. S. (2019). Análise da tecnologia cerâmica no setor sul no sítio Santa Paula – Porto Velho/RO (Trabalho de conclusão de curso). Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, RO, Brasil.). No sítio ILH, cerâmicas com pasta e morfologias semelhantes a Pocó-Açutuba aparecem nos níveis mais profundos, porém pinturas estão ausentes e sua frequência é baixa. No sítio VAL (setor 3), a cerâmica Pocó-Açutuba aparece nos níveis mais profundos (40 a 80 cm), associadas a uma estrutura de combustão, datada em 2.080 ± 30 AP, sobreposta por cerâmicas de outros dois conjuntos, Morro dos Macacos e TPA.

A cerâmica Morro dos Macacos foi identificada primeiramente no sítio MI, em camada arqueológica com sedimento bruno, entre 140 e 160 cm de profundidade junto a carvões datados em 1.810 ± 40 AP. Os fragmentos remontam três vasilhas, rasas e abertas, duas com flange labial, uma com boca elíptica (Figura 3). Foram elaboradas com pasta contendo alta inclusão de quartzo e óxido de ferro. Possuem coloração avermelhada (queima oxidante), e são decoradas com incisões compondo linhas largas, modelados e ponteados. Essa mesma cerâmica ocorre nos sítios VAL (setor 3) e FJ, circunscritos no entorno da corredeira dos Macacos, conhecida desde o século XVIII (Fonseca, 1881Fonseca, J. S. (1881). Viagem ao redor do Brasil - 1875-1878 (Vol. 2). Rio de Janeiro: Typographia de Pinheiro & C.).

Figura 3
Cerâmica Morro dos Macacos e antiga sem filiação. Imagem: Angislaine Freitas Costa (2019).

No sítio FJ, a cerâmica concentrava-se entre a superfície e 80 cm de profundidade, em área de 300 x 250 m, sendo coletados apenas 703 fragmentos em 21 m2 escavados. A cerâmica Morro dos Macacos ocorre especialmente no nível 30-40 cm de algumas escavações, associada a outra, de núcleo escuro e espessura mais fina, presente em toda estratigrafia. Nos níveis mais profundos (50 a 80 cm), foram coletados poucos fragmentos cerâmicos, já que a maioria estava erodida e agregada ao sedimento argiloso. A ‘cerâmica escura’ com caraipé não possui atributos suficientemente identificáveis (morfologias e acabamentos) para associá-la aos conjuntos tecnológicos. Pode ser Pocó-Açutuba, devido às datações contemporâneas de 2.780 ± 40 AP e 2.267 ± 29 AP. Outras duas, de 1.890 ± 30 AP e 1.113 ± 27 AP, se aproximam mais àquela do Morro dos Macacos e a outros conjuntos do rio Madeira, respectivamente.

No setor 1 do sítio BOV, somente cinco, das doze unidades escavadas, apresentaram cerâmica (3 a 20 fragmentos), em camadas de 20 a 60 cm, com exceção de uma unidade (136 fragmentos, entre a superfície e 220-230 cm), na qual foram obtidas as datações de 4.470 ± 40, 2.010 ± 30 e 1.560 ± 220 AP. Possui caraipé e carvão, e raramente somente mineral ou mineral e cauixi. Os núcleos são escuros (queima redutora). Aparecem duas bordas com flange labial e uma base convexa-côncava. Entre os fragmentos de parede, cinco possuem engobo e dois apresentam incisões. Apesar das semelhanças na pasta, na queima e nos poucos atributos morfológicos identificados, estes aspectos não são suficientes para associá-la ao conjunto Pocó-Açutuba, tampouco para caracterizá-la como uma tecnologia distinta.

No setor 1 do sítio VAL, as cerâmicas (superfície a 1,20 m), erodidas, possuem grande variação nas escolhas de pasta, porém poucos atributos morfológicos e de acabamentos são identificados. A datação de 3.140 ± 40 AP (130-140 cm) foi obtida a partir de carvões coletados dois níveis abaixo do que continha cerâmicas, podendo ser a base da ocupação ceramista.

No sítio GAR, foram coletados menos de três mil fragmentos cerâmicos em 50 m2 de escavação. Há grande variação de escolhas de pasta, com presença de minerais, isolados ou em associação com caraipé, carvão, cauixi, combinados de diferentes formas. As vasilhas possuem bordas diretas verticais, inclinadas externamente e extrovertidas, algumas com flanges labiais ou mesiais (logo abaixo do lábio) e pontos angulares, com diâmetro entre 12 e 28 cm. As bases são convexas-côncavas, planas e uma em pedestal. Na decoração plástica, há inciso, inciso e ponteado, entalhado e aplique. Poucos fragmentos têm engobo vermelho e raros possuem pintura vermelha sobre engobo branco (Romano, 2016Romano, V. (2016). Variabilidade cerâmica no sítio arqueológico Garbin, Porto Velho, Rondônia (Trabalho de conclusão de curso). Universidade de Rondônia, Porto Velho, RO, Brasil.). Na unidade datada em 1.710 ± 40 AP (75 cm), a cerâmica entre 40-50 e 60-70 cm possui pasta e queima características do conjunto Morro dos Macacos. Outras possuem morfologias Pocó-Açutuba, porém é baixa a frequência de tratamentos crômicos e plásticos, se comparado ao sítio VEN. No período mais recente, a variação nas escolhas de pasta é maior. A ‘mistura’ de cerâmicas com aspectos de distintos conjuntos é característica nesse sítio. É possível que esse lugar tenha sido frequentado por distintas populações, tendo em vista sua localização em terraço fluvial, em frente à Cachoeira de Santo Antônio e com visibilidade para ela.

No sítio ILD, foram identificadas duas ocupações ceramistas, separadas por uma camada estéril. A mais antiga, com baixa frequência de fragmentos, em camadas de 50 a 90 cm, possui diversos tipos de pasta, predominando mineral, caraipé e carvão, seguida de mineral e caraipé, mineral e cauixi ou somente mineral. Os núcleos são escuros (queima reduzida). As bordas são diretas inclinadas externamente, internamente e verticais, poucas são extrovertidas e introvertidas, e algumas possuem flanges labiais. As expandidas são mais frequentes do que as lineares e as contraídas, e os lábios são arredondados, planos e raramente apontados. Os diâmetros variam entre 10 e 20 cm. Uma vasilha temperada com cauixi possui borda modelada e forma alongada de canoa. Esse material se mistura à cerâmica inicialmente identificada como Pocó, datada no sítio em 2.510 ± 30 AP (Costa, 2016Costa, A. F. (2016). A multifuncionalidade da cerâmica no sítio Ilha Dionísio, alto rio Madeira (Dissertação de mestrado). Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, Rio de Janeiro, Brasil.). Aparecem três bases, duas convexas-côncavas e uma plana. Ocorre raramente engobo vermelho e os tratamentos plásticos variam pouco (incisos na face externa, escovado e modelado). Essa cerâmica, com datas de 2.871 ± 28 AP e 2.510 ± 30 AP, no setor sul, e 1.811 ± 34 AP, no setor norte, possui algumas características Pocó-Açutuba, como as bordas expandidas e flanges, porém se distingue pela diversidade de pastas, ausência de pinturas e baixa frequência e diversidade de tratamentos plásticos. Essas características, presentes nos sítios GAR, VAL (setor 1) e ILD, parecem indicar uma variabilidade nas cerâmicas antigas no rio Madeira, com algumas técnicas semelhantes às de Pocó-Açutuba e Morro dos Macacos, porém com variações, o que reforça a hipótese de diversidade nas tecnologias regionais (Figura 3).

Sítios com baixa frequência de fragmentos foram inicialmente classificados como ‘acampamento’, a exemplo do Água Azul (Miller, 1987Miller, E. T. (1987). Inventário arqueológico da bacia e sub-bacias do rio Madeira, 1974-1987. Porto Velho: Consórcio Nacional de Engenheiros Construtores S.A.). Seriam esses sítios áreas de atividades específicas ou seriam estas ocupações caracterizadas pela baixa frequência de vasilhas cerâmicas, associadas a tecnologias regionais diversificadas? As datações no FJ demonstram uma continuidade nas ocupações, desde 2.780 ± 40 AP. A implantação dos sítios FJ, BOV, VAL (setor 1) e ILD, em planície de inundação, periodicamente atingidas pelas enchentes, influencia a conservação das cerâmicas, erodidas ou em decomposição. Diante disso, qual seria a visibilidade dos contextos cerâmicos mais antigos no rio Madeira? Seria a datação de 4.470 ± 40 AP, no BOV, a única mais antiga e isolada para as ocupações ceramistas na região, ou contextos do mesmo período não estão sendo identificados em função da baixa frequência, da ocorrência em áreas mais restritas e da conservação das cerâmicas?

A presença de vasilhas com cauixi, de formas simples, alisadas, escuras e com fuligem, nos níveis mais profundos e abaixo da cerâmica Pocó-Açutuba no setor sul do Santa Paula (Santos Costa, 2019Santos Costa, M. S. (2019). Análise da tecnologia cerâmica no setor sul no sítio Santa Paula – Porto Velho/RO (Trabalho de conclusão de curso). Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, RO, Brasil.), reforça a ideia de que as populações indígenas que viviam no rio Madeira, antes da chegada dos portadores da Tradição Pocó-Açutuba, elaboravam artefatos cerâmicos de tecnologia(s) mais antiga(s), que precisam ser melhor definidas a partir da ampliação de escavações, análises e datações.

CERÂMICA BARRANCOIDE

Em torno de 1.600 AP, povos portadores de uma variação regional do estilo Barrancoide chegaram na região, ocupando as cachoeiras e ilhas e empreendendo transformações bastante visíveis na paisagem, com a formação de aterros e montículos de terra preta, associados à alta frequência de material (fragmentos de vasilhas, fusos, bolotas de argila, líticos lascados e polidos, incluindo lâminas e adornos, carvões, restos faunísticos). As cerâmicas foram identificadas em seis sítios arqueológicos (ILH, BRJ, SPA, ILF, ILC e ILJ), localizados nas três primeiras cachoeiras subindo o rio Madeira: Santo Antônio, Teotônio e Morrinhos (Zuse, 2014Zuse, S. (2014). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira, Rondônia (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.).

O sítio ILH é referencial na caracterização dessas ocupações. A cerâmica ocorreu em uma área de 300 x 320 m de extensão de terra preta, associada a líticos lascados em alta frequência, adornos e lâminas polidas e carvões, da superfície a 120 cm de profundidade. Verificou-se a presença de fragmentos da TPA, em baixa frequência nos níveis superiores, entretanto, a maior parte da amostra está associada ao conjunto Barrancoide, com duas datações de 1.037 ± 26 AP e 990 ± 40 AP.

Predomina a pasta com caraipé, às vezes junto ao carvão, e raramente somente mineral, ou cauixi associado ou não ao caraipé. As vasilhas, com espessura entre 4 e 25 mm (a maioria entre 4 e 10 mm), foram elaboradas com a técnica modelada (bases planas e anelares) e acordelada (corpo e bases convexas-côncavas). As bordas são diretas verticais, inclinadas externamente e extrovertidas, sendo menos frequentes as diretas inclinadas internamente e verticais. Possuem espessamento linear e contraído, raramente expandido ou reforçado. Os lábios são majoritariamente arredondados, seguidos pelos planos e apontados, alguns irregulares. O diâmetro de abertura varia entre 6 e 46 cm, e um assador possui 50 cm (Figura 4). As bases são, na maioria, biplanas (4 a 20 cm), mas também convexas-côncavas (4 a 15 cm), anelares (6 e 16cm), plano-côncavas (3 a10 cm), raramente em pedestal (8 a 9 cm). Predominam vasilhas de contorno simples, infletido e com gargalo. Foram encontrados três fragmentos de alça, cinco asas e uma trípode.

Figura 4
Cerâmica Barrancoide. Imagem: Angislaine Freitas Costa (2019).

As vasilhas são, na maioria, polidas, mesmo quando as paredes são irregulares, e raramente brunidas. Muitas possuem engobo em várias tonalidades de vermelho. Os fragmentos com pintura vermelha e branca (menos de 1% dos diagnósticos), entre os níveis 0-10 a 30-40 cm, estão misturados a cerâmica Barrancoide, e foram associados a TPA, enquanto outros, dos níveis mais profundos, provavelmente são Pocó-Açutuba. Os tratamentos plásticos são frequentes, especialmente incisos (linhas horizontais, curvilíneas, entrecruzadas, oblíquas, onduladas, triangulares e em zigue-zague) e roletados, na face externa das bordas, mas também incisos e ponteados (incisões paralelas interrompidas por uma sequência de três ou quatro ponteados), modelados (bicos nos lábios) e apliques (esferas com ponteados no centro que, aos pares, formam olhos).

As queimas, oxidante e reduzida, ocorrem em proporções semelhantes. A fuligem é frequente, no bojo e em bordas diretas verticais, inclinadas externamente e extrovertidas, e o depósito de carbono nas bases biplanas, anelares e algumas convexas-côncavas e plano-côncavas. Marcas de fermentação são recorrentes nas bordas extrovertidas e diretas inclinadas externamente, pescoço e bases biplanas.

As bolotas de argila são recorrentes e possuem apenas mineral, possivelmente restos de argila utilizada na cerâmica ou em fogueiras, construção das casas e demais estruturas. Rodelas de fuso foram feitas com polimento e perfuração de fragmentos de vasilhas, e algumas rodelas não são perfuradas. Uma borda parece ter sido utilizada como calibrador. Uma peça possui dois orifícios, possível pingente, outra é zoomorfa independente e duas têm formato tubular (4 cm de diâmetro).

O sítio BRJ localizava-se próximo à Ilha de Santo Antônio, na margem direita. O setor 1, mais próximo ao rio, apresentou cinco camadas arqueológicas, com datações entre 1.120 ± 40 e 760 ± 40 AP, intercaladas por camadas depositadas pelas enchentes do rio. O setor 5, a 50 m do rio, foi datado em 940 ± 30 AP, e o setor 3, na parte mais alta, em 1.390 ± 40 AP. Apesar de algumas variações na pasta (no período mais antigo, mineral, caraipé e carvão; no mais recente, mineral e caraipé, e às vezes apenas mineral ou mineral e cauixi), há uma continuidade em técnicas, acabamentos e morfologias das vasilhas cerâmicas. O engobo vermelho, em diversas tonalidades, os tratamentos plásticos e as descamações (fermentação) são menos frequentes e variados, se comparados com ILH, ao passo que a fuligem é mais recorrente. Apesar disso, as morfologias das vasilhas e o acabamento polido são semelhantes, sendo as particularidades relacionadas às atividades realizadas nos dois espaços, compondo um mesmo sistema de assentamento. Os fragmentos com pintura vermelha e branca são raros, e inicialmente foram associados a TPA.

No sítio SPA, na margem esquerda da cachoeira do Teotônio, cerâmicas Barrancoide ocorrem em uma camada espessa de terra preta, sobre a cerâmica Pocó-Açutuba. Possuem características de pasta, morfologia, acabamentos e queima semelhantes às do ILH, porém o engobo é menos frequente e os tratamentos plásticos são mais recorrentes e variados. As datações em torno de 1.550 AP, inicialmente relacionadas à ocupação Pocó-Açutuba ou a um período de transição desta para a Barrancoide (Zuse, 2014Zuse, S. (2014). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira, Rondônia (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.), podem ser associadas ao contexto de um montículo, portanto à ocupação Barrancoide1 1 Os carvões datados (1124.2, 1124.4 e 1124.4) são do contexto da feição identificada no quadrante NW, e visível no perfil oeste da unidade E382631 N9021469. A topografia do sítio permite situar essa escavação no contexto de um montículo, e a feição é muito semelhante à do montículo 1 (Bespalez et al., 2020).

Nos sítios ILF, ILC e ILJ, a cerâmica Barrancoide ocorre na camada arqueológica mais escura, sobreposta pela cerâmica Dionísio. No sítio ILJ, onde são comuns bolotas de argila, rodelas de fuso e adornos líticos polidos, entre 50 a 90 cm de profundidade, foi datada entre 1.218 ± 26 e 1.323 ± 26 AP. Uma área com material lítico lascado foi datada em 1.608 ± 27, 1.193 ± 27 e 1.098 ± 26 AP, possivelmente relacionada às ocupações ceramistas no sítio. No ILC, a ocupação Barrancoide, entre os níveis 40-50 e 100-110 cm, foi datada entre 1.392 ± 30 e 1.449 ± 27 AP. No sítio ILF, ocorre entre 30-40 e 80-90 cm, enquanto nos níveis mais profundos de algumas escavações, entre 70-80 e 200 cm, aparecem apenas líticos, com datações de 1.355 ± 27 e 1.222 ± 27, possivelmente Barrancoide.

CERÂMICA DIONÍSIO

Após ter sido caracterizada como um conjunto tecnológico distinto, em quatro ilhas do rio Madeira (Zuse, 2014Zuse, S. (2014). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira, Rondônia (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil., 2016), a cerâmica Dionísio foi assim denominada por ter sido inicialmente identificada no sítio homônimo, ILD, junto à foz do rio Jaci-Paraná (Costa & Gomes, 2018Costa, A. F., & Gomes, D. M. C. (2018). A multifuncionalidade das vasilhas cerâmicas do alto rio Madeira (séculos X-XII d.C): comensalidade cotidiana e ritual. Revista de Antropologia, 61(3), 52-85. doi: https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2018.152040
https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.20...
). Nesse sítio, a cerâmica Dionísio ocorreu em área de formato semicircular, entre a superfície e 50 ou 90 cm de profundidade, em sedimento bruno escuro. Foram evidenciadas estruturas com fragmentos de vasilhas, trempes, bolotas de argila, líticos lascados e polidos, placas de laterita, seixos e carvões marcando o início da ocupação. A norte e a sul, em áreas próximas aos barrancos, duas áreas com contextos funerários possuem vasilhas cerâmicas inteiras, estruturas de combustão, de fragmentos cerâmicos e de seixos, adornos e lâminas polidas. As datas de 924 ± 29, 930 ± 30 e 1.005 ± 26 AP foram obtidas na camada de ocupação, a de 882 ± 25 no setor funerário norte e outras duas, 1.001 ± 31e 780 ± 30 AP, no setor funerário sul.

A cerâmica possui uma diversidade de escolhas de pasta, com predomínio de mineral e cauixi; em menor frequência, somente mineral ou mineral junto ao caraipé; e raramente mineral, caraipé e carvão ou mineral, caraipé e cauixi (Tabela 3). Os núcleos são, na maioria, claros, com queima oxidante. As vasilhas, confeccionadas com as técnicas acordelada, modelada e em placas, têm espessuras (3 e 30 mm) e tamanhos variados (4 a 50 cm de diâmetro de boca). São majoritariamente alisadas, polidas e às vezes brunidas. O engobo, nas cores vermelho, laranja, vinho e branco, aparece raramente. Foram identificadas duas pinturas: 1) vermelha ou preta, em traços finos, diretamente sobre a superfície, com motivos complexos, em vasilhas com cauixi; e 2) branca e vermelha, em traços largos, mais espessa, às vezes associada a incisões, quando têm caraipé. Estas últimas são manifestações típicas de sítios das cachoeiras de Santo Antônio e Teotônio (Costa, 2016Costa, A. F. (2016). A multifuncionalidade da cerâmica no sítio Ilha Dionísio, alto rio Madeira (Dissertação de mestrado). Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, Rio de Janeiro, Brasil.). Os tratamentos plásticos na cerâmica Dionísio são raros (incisos na face externa).

As mesmas vasilhas aparecem nas áreas domésticas e funerárias (Costa, 2016Costa, A. F. (2016). A multifuncionalidade da cerâmica no sítio Ilha Dionísio, alto rio Madeira (Dissertação de mestrado). Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, Rio de Janeiro, Brasil.) e apresentam corpo com formas geométricas cilíndricas, esféricas, semiesféricas e elipsoides, e em menor proporção formas de cálices e vasilhas com corpo cônico (Figura 5). As trempes possuem cauixi e, às vezes, somente minerais. Possuem formato cilíndrico e são alisadas ou polidas. Entre as bolotas de argila, a maioria apresenta apenas minerais, porém muitas contêm cauixi e, possivelmente, constituem restos da pasta utilizada na elaboração de vasilhas e trempes.

Figura 5
Cerâmica Dionísio

Nos outros três sítios, ILJ, ILC e ILF, essa ocupação sobrepõe a Barrancoide, na camada entre a superfície e 40 ou 50 cm. No sítio ILJ, também foram evidenciadas estruturas na base da ocupação, entre os níveis 40-60 cm, com fragmentos grandes de vasilhas, em geral na posição horizontal, associados a trempes, líticos lascados e polidos e carvão. A datação de 890 ± 29 AP pode estar associada à ocupação com cerâmica Dionísio, assim como a de 1.098 ± 262 2 A associação dos materiais líticos, nessa área da ILJ e nos níveis mais profundos da ILF, às ocupações ceramistas Barrancoide e Dionísio poderá ser feita através da análise da tecnologia lítica. , na área com líticos lascados.

CERÂMICA DA TRADIÇÃO POLÍCROMA DA AMAZÔNIA (TPA)

Cerâmicas da Tradição Policroma da Amazônia ocorrem em três contextos distintos na região: 1) em áreas de ocupação, nos sítios BOV, VAL, NEV, SÃO e CAP; 2) sobrepostas ou ‘misturadas’ a cerâmicas de outras tecnologias, nos níveis superiores (0-40 cm), nos sítios ILH, BRJ, SPA, ILJ e ILD; 3) em contextos funerários nos sítios ILH, MI e COR.

O setor 3 do sítio BOV apresenta essa cerâmica em superfície e na camada de sedimento marrom-avermelhado até 60 cm de profundidade, associada a poucos líticos brutos e lascados, lateritas com marcas de polimento e carvões, em área alta e de declive acentuado. Predomina a pasta com mineral e caraipé, seguida de mineral, caraipé e carvão. Menos frequente foi o uso de cauixi, raramente associado ao caraipé. Elaboradas com a técnica acordelada, essas cerâmicas possuem bordas extrovertidas e diretas inclinadas externamente, espessamento linear ou expandido, lábio plano, arredondado ou biselado e diâmetro de abertura entre 8 e 32 cm. As bases são convexas-côncavas. Uma vasilha pintada de contorno composto possui desgaste na face interna, do preparo e/ou consumo de fermentados (n. 6 da Figura 6). Outra, alisada, possui contorno infletido e fuligem na face externa, do preparo de alimentos no fogo. A maioria tem a superfície polida e algumas apresentam pintura preta e branca, raramente vermelha e branca. São comuns as incisões finas sobre a parte branca da pintura. A queima é predominantemente reduzida.

No setor 3 do sítio VAL, cerâmicas TPA sobrepõem ocupações mais antigas, como a Pocó-Açutuba e Morro dos Macacos, ao passo que o setor 2 é unicomponencial da TPA (Lima Costa, 2015Lima Costa, K. (2015). As ocupações indígenas no sítio arqueológico Vista Alegre: análise da cultura material cerâmica (Trabalho de conclusão de curso). Universidade de Rondônia, Porto Velho, RO, Brasil.). As escolhas de pasta, técnicas, morfologias e acabamentos são semelhantes às do BOV. Destacam-se as vasilhas de contorno infletido com fuligem (n. 26 da Figura 6), bases convexas-côncavas com depósito de carbono e as vasilhas de contorno simples, algumas pintadas. Diâmetros de abertura variam entre 8 e 38 cm. Nesse sítio, a pintura é vermelha e branca ou vermelha sobre a superfície alisada, algumas vezes com incisões finas sobre a pintura branca. Foi encontrado um fragmento de rodela de fuso. A data de 730 AP foi obtida de um fragmento de panela do contexto em que predomina cerâmica TPA.

Nos sítios NEV, SAO e CAP, cujas datas sustentam ocupações entre os séculos XV e XVIII, as cerâmicas possuem minerais e caraipé. Ocorrem variações, como no predomínio de bases plano-côncavas e biplanas e menor frequência de convexas-côncavas. Predomina a pintura vermelha sobre engobo branco ou diretamente sobre a superfície alisada, e às vezes branca, vermelha e preta na mesma vasilha. Os tratamentos plásticos são mais recorrentes, especialmente os incisos finos, médios e largos, na face interna das bordas ou na face externa das vasilhas. Bordas recortadas estão presentes no NEV e SAO. No primeiro, incisões e apliques podem estar cobertos por pintura ou engobo, entre eles um aplique de tiara e outro de membros (braços e/ou pernas), semelhantes à cerâmica Guarita da Amazônia central (C. Silva, 2015Silva, C. G. P. (2015). Os contextos arqueológicos e a variabilidade artefatual da ocupação Jatuarana no alto rio Madeira (Dissertação de mestrado). Universidade Federal do Pará. Belém, PA, Brasil.; Tamanaha, 2012Tamanaha, E. K. (2012). Ocupação Polícroma no baixo e médio rio Solimões, estado do Amazonas (Dissertação de mestrado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.). NEV e CAP possuem montículos, com contextos de fogueiras e materiais estruturados, encobertos por camadas formadas pela queda das estruturas habitacionais (Pessoa et al., 2020Pessoa, C., Zuse, S., Costa, A., Kipnis, R., & Neves, E. (2020). Aldeia circular e os correlatos da ocupação indígena na margem esquerda da Cachoeira de Santo Antônio. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 15(2), e20190083. doi: 10.1590/2178-2547-BGOELDI-2019-0083
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). A persistência nas escolhas de pasta, morfologias (bordas expandidas, lábios planos e biselados) e acabamentos (pintura bicrômica ou policrômica) permite associar estas cerâmicas a TPA (Figura 6), apesar das variações temporais, possivelmente decorrentes das relações históricas estabelecidas entre os povos na região.

Figura 6
Cerâmica da Tradição Polícroma

Em outros sítios, multicomponenciais, ocorrem fragmentos com características TPA, em baixa frequência e ‘misturados’ aos de outros conjuntos tecnológicos, principalmente nos níveis superiores (0-40 cm). Alguns possuem pintura vermelha e branca, outros são bordas expandidas com lábios planos e biselados. Esse é o caso da ILH, onde menos de 1% dos fragmentos analisados possui pintura vermelha e branca. No sítio do BRJ, eles são raros (Santos, 2015Santos, F. C. L. (2015). Ocupação indígena no sítio do Brejo, alto rio Madeira, Rondônia: análise da cerâmica arqueológica (Trabalho de conclusão de curso). Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, RO, Brasil.). Na ILJ e ILD, ocorrem em baixa frequência, nos níveis superiores e misturados com a cerâmica Dionísio. No SPA, fragmentos dessa tradição são mais frequentes em diversas áreas do sítio, configurando-se como uma ocupação posterior à Barrancoide.

Na Ilha de Santo Antônio, foram escavadas três vasilhas com pintura vermelha e branca, enterradas no latossolo e na terra preta, inicialmente associadas a TPA. Uma delas, a R1, cujo contexto foi melhor evidenciado, apresentou também três feições de buracos de estaca no latossolo. Não apresentou, no seu interior, fragmentos de tampa, mas somente terra preta, cerâmicas Barrancoide, líticos, incluindo um adorno polido, e carvões, que possivelmente preencheram a vasilha após o seu enterramento. Foi utilizada na fermentação de bebidas e possui furos de amarração dos fragmentos, em dois lados opostos. Na base, apresenta uma perfuração, feita também após a queima, possivelmente no momento em que foi enterrada. As particularidades na morfologia e no acabamento das vasilhas, em relação a outros contextos TPA, geram dúvidas quanto à sua associação a esta tradição, especialmente na composição da pintura (camadas espessas de pigmentos, que não se sobrepõem) e nos motivos (cruciformes escalonados). Recentemente, a data de 3.740 ± 560 AP foi obtida de um fragmento da vasilha R3, com a hipótese de que estas cerâmicas podem ter sido enterradas no sítio durante a ocupação Barrancoide, ou pelos povos portadores da Tradição Pocó-Açutuba, que ocuparam a cachoeira de Santo Antônio anteriormente. De qualquer forma, a TPA no alto Madeira é caracterizada por grande variação na tecnologia e nos contextos arqueológicos.

Contextos funerários com vasilhas pintadas foram evidenciados nos sítios MI e COR. Este último possuía cinco urnas e cinco tampas, enterradas em depósito laterítico, fora da área de habitação. O material orgânico de uma das vasilhas foi datado em 818 ± 27 AP, única datação disponível no momento para contextos funerários TPA no alto Madeira, e um pouco mais recuada do que as outras quatro existentes para contextos funerários TPA na Amazônia (Belletti, 2016Belletti, J. S. (2016). A Tradição Polícroma da Amazônia. In C. Barreto, H. P. Lima & C. J. Betancourt (Eds.), Cerâmicas arqueológicas da Amazônia: rumo a uma nova síntese (pp. 348-364). Belém: IPHAN.).

No sítio COR, as urnas e tampas possuem mineral, caraipé e carvão, superfícies polidas, pintura vermelha no lábio e vermelha (ou vermelha e preta) sobre engobo branco, na face externa em traços finos (Figura 6). As urnas têm bordas diretas inclinadas externamente, verticais e extrovertidas, espessamento linear e reforço externo, lábios planos e biselados, espessura entre 5 e 11 mm e diâmetro entre 13 e 22 cm (n. 1, 3 e 5 na Figura 6). As cinco tampas apresentam bordas diretas inclinadas externamente, espessamento linear, expandido e contraído, lábio plano e arredondado, espessura entre 5 e 10 mm e diâmetro de 16 a 24 cm (n. 2 na Figura 6). A queima é reduzida na maioria delas.

No sítio MI, moradores identificaram um contexto com cinco vasilhas enterradas, em sedimento marrom-claro, sem presença de outros vestígios. De acordo com os relatos, uma urna encontrava-se coberta com tampa (n. 4 na Figura 6). Três vasilhas apresentam pintura preta e branca (n. 9 na Figura 6), entre as quais uma possui incisões finas sobre a pintura branca (n. 4 na Figura 6). Outra vasilha alisada possui fuligem, e uma quinta, a única com cauixi, não apresenta marcas de uso. Entre as cinco, três possuem forma infletida, uma composta e uma simples (tampa). Três lábios são biselados, um plano e um arredondado, com diâmetro entre 12 e 31 cm. As bases são convexas-côncavas, com exceção da anelar na vasilha 5, com pasta e morfologia que destoam das demais e das características TPA na região. A espessura é mais fina nas bordas (entre 5 e 12 mm) do que nas bases (12 a 16 mm) das vasilhas.

TECNOLOGIAS CERÂMICAS E DINÂMICAS CULTURAIS NA REGIÃO DO ALTO MADEIRA

As pesquisas arqueológicas desenvolvidas no alto rio Madeira na última década evidenciaram grande variabilidade nos contextos arqueológicos, especialmente nas tecnologias cerâmicas, antes associadas à Subtradição Jatuarana, da Tradição Polícroma da Amazônia (Miller, 1992Miller, E. T. (1992). Adaptação agrícola pré-histórica no Alto Rio Madeira. In B. J. Meggers (Org.), Prehistoria Sudamericana: nuevas perspectivas (pp. 219-229). Washington: Taraxacum.).

Há evidências de que a região apresenta grande variabilidade desde períodos recuados, com estilos ceramistas regionais e/ou locais mais antigos e contemporâneos ao Pocó-Açutuba. A cerâmica Santa Paula, como tem sido chamada (Santos Costa et al., no preloSantos Costa, M. S., Zuse, S., & Kipnis, R. (no prelo). Ocupações ceramistas no setor sul do sítio arqueológico Santa Paula, Porto Velho/RO. Caderno 4 campos.), identificada no setor sul e no montículo 1 do sítio homônimo (Santos Costa, 2019Santos Costa, M. S. (2019). Análise da tecnologia cerâmica no setor sul no sítio Santa Paula – Porto Velho/RO (Trabalho de conclusão de curso). Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, RO, Brasil.; Venere, 2019Venere, P. P. (2019). Variabilidade artefatual e processos de formação do montículo 1 do sítio Santa Paula – Porto Velho/RO (Trabalho de conclusão de curso). Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, RO, Brasil.), apresenta escolhas de pasta, acabamentos e morfologia distintas da Pocó-Açutuba, que a sucede na estratigrafia. Além disso, datações recuadas, de 4.470 ± 40 AP, no sítio Boa Vista, e 3.140 ± 40 AP, no Vista Alegre, sugerem ocupações ceramistas mais antigas; entretanto o desgaste e a fragmentação dificultam a caracterização das escolhas tecnológicas.

Kater (2018)Kater, T. (2018). O sítio Teotônio e as reminiscências de uma longa história indígena no Alto Rio Madeira (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Sergipe, Laranjeiras, SE, Brasil., ao revisar o mapa de distribuição dos conjuntos cerâmicos elaborado por Zuse (2014)Zuse, S. (2014). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira, Rondônia (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil., definiu o conjunto ‘cerâmica antiga’, o qual estaria presente no sítio Boa Vista. No sítio Teotônio, objeto da sua pesquisa, a presença dessa cerâmica não foi confirmada. Trata-se de uma hipótese, mais do que a definição de um conjunto tecnológico, tendo em vista a adoção somente de critérios cronológicos e a ausência da caracterização da cadeia operatória. É necessário ampliar as escavações, as análises e as datações destes contextos para melhor compreender os estilos ceramistas regionais e/ou locais antigos e suas relações com as ocupações pré-ceramistas anteriores. Cerâmicas antigas têm sido caracterizadas em diferentes locais na bacia do rio Madeira, como no rio Ji-Paraná, com datações em torno de 5.000 AP (Miller, 2009aMiller, E. T. (2009a). A cultura cerâmica do Tronco Tupi no Alto Ji-Paraná, Rondônia, Brasil: algumas reflexões teóricas, hipotéticas e conclusivas. Revista Brasileira de Lingüística Antropológica, 1(1), 35-136. doi: https://doi.org/10.26512/rbla.v1i1.12288
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; Zimpel Neto, 2009Zimpel Neto, C. A. (2009). Na direção das periferias extremas da Amazônia: arqueologia na bacia do rio Ji-Paraná, Rondônia (Dissertação de mestrado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.), no rio Guaporé, desde o Holoceno médio (Miller, 2009bMiller, E. T. (2009b). Pesquisas arqueológicas no Pantanal do Guaporé-RO, Brasil: a sequência seriada da cerâmica da fase Bacabal. In B. J. Meggers (Org.). Arqueologia interpretativa - o método quantitativo para estabelecimento de sequências cerâmicas: estudos de caso (pp. 103-117). Porto Nacional: UNITINS.; Pugliese, 2018Pugliese, F. A. (2018). A história indígena profunda do sambaqui Monte Castelo: um ensaio sobre a longa duração da cerâmica e das paisagens no sudoeste amazônico (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.; Zimpel Neto, 2018Zimpel Neto, C. A. (2018). A fase Bacabal e seus correlatos arqueológicos na Amazônia (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.), e no baixo curso do Madeira, em torno de 5.200 AP (Moraes & Neves, 2012Moraes, C. P., & Neves, E. G. (2012). O ano 1000: adensamento populacional, interação e conflito na Amazônia Central. Amazônica, 4(1), 122-148. doi: http://dx.doi.org/10.18542/amazonica.v4i1.884
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; Moraes, 2013Moraes, C. P. (2013). Amazônia ano 1000: territorialidade e conflito no tempo das chefias regionais (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, SP, São Paulo, Brasil.).

A chegada dos povos portadores da tecnologia cerâmica Pocó-Açutuba no alto rio Madeira ocasionou novas transformações na paisagem e no registro arqueológico. Essa cerâmica, com dispersão na calha do baixo e médio Amazonas, tem sido associada às primeiras dispersões dos povos de matriz cultural Arawak na Amazônia (Lathrap, 1970Lathrap, D. W. (1970). The Upper Amazon. New York: Praeger Publishers.; P. Hilbert & K. Hilbert, 1980Hilbert, P. P., & Hilbert, K. (1980). Resultados preliminares da pesquisa arqueológica realizada nos rios Nhamundá e Trombetas, baixo Amazonas. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Nova Série Antropologia, 75, 1-15.; Lima, 2008Lima, H. P. (2008). História das caretas: a Tradição Borda Incisa na Amazônia central (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, SP, São Paulo, Brasil.; Guapindaia, 2008Guapindaia, V. L. (2008). Além da margem do rio: as ocupações Konduri e Pocó na região de Porto Trombetas, PA (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.; Neves et al., 2014Neves, E. G., Guapindaia, V., Lima, H. P., Costa, B., & Gomes, J. (2014). A tradição Pocó-Açutuba e os primeiros sinais visíveis de modificações de paisagens na calha do Amazonas. In S. Rostain (Ed.), Amazonia memorias de las conferencias magistrales del 3er Encuentro Internacional de Arqueologia Amazónica (pp. 137-158). Quito: Ikiam.). Possuem muitas semelhanças com as cerâmicas Saladoide da costa da Venezuela, baixo e médio Orinoco e Antilhas, conforme destacou Lathrap (1970)Lathrap, D. W. (1970). The Upper Amazon. New York: Praeger Publishers., ao comparar com os complexos cerâmicos antigos no Ucayali, Tutishcainyo e Shakimu, aferindo possíveis relações históricas entre as duas regiões. No alto rio Madeira, a datação mais antiga, de 3.250 AP, foi obtida e discutida por Kater (2018, pp. 184-185)Kater, T. (2018). O sítio Teotônio e as reminiscências de uma longa história indígena no Alto Rio Madeira (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Sergipe, Laranjeiras, SE, Brasil., no sítio Teotônio, datado anteriormente por Miller (1992)Miller, E. T. [outros não especificados]. (1992). Arqueologia nos empreendimentos hidreléctricos da Electronorte: resultados preliminares. Brasília: Electronorte. em 2.700 AP.

Os dados que obtivemos caracterizam as ocupações Pocó-Açutuba no período de 2.000 a 1.400 AP, entre as duas primeiras cachoeiras, Santo Antônio e Teotônio, mas é provável que outras datações mais recuadas sejam obtidas no decorrer das pesquisas. Os sítios onde foram melhor caracterizadas, Veneza, Vista Alegre e Santa Paula, encontram-se em áreas elevadas, e o primeiro, unicomponencial, possui formato elipsoidal. No sítio Santa Paula, essas cerâmicas se sobrepõem ou estão misturadas à mais antiga, dando indícios do estabelecimento de processos de interação social entre os povos ceramistas recém-chegados com os que ocupavam a região.

Outros elementos indicam o estabelecimento de relações de contato cultural nesse período. Nos sítios Foz do Jatuarana, Boa Vista e Ilha Dionísio, com ocupações contemporâneas às Pocó-Açutuba, ocorrem semelhanças nas escolhas de pasta, presença de barbotina, bordas expandidas e flanges, mas também distinções, a exemplo da ausência ou da raridade de acabamentos crômicos e da menor frequência e variação nos acabamentos plásticos e morfologias das vasilhas. Em parte, essas distinções são ocasionadas pela dificuldade na caracterização das cerâmicas, bastante erodidas e fragmentadas. Porém, no sítio Garbin, onde está bem conservada, não somente as semelhanças e diferenças em relação ao conjunto Pocó-Açutuba, mas também a associação de cerâmicas de distintos estilos na mesma camada estratigráfica, reforçam a ideia de que as continuidades e transformações nos estilos ceramistas são decorrentes das relações estabelecidas entre as distintas populações. A cerâmica Morro dos Macacos, com data de 1.810 ± 40 AP, produzida por povos que ocuparam sítios no entorno da corredeira dos Macacos, possui algumas escolhas tecnológicas semelhantes e outras diferentes a Pocó-Açutuba, além de ocorrer associada àquela em diversos sítios, como no Garbin, Foz do Jatuarana e Santa Paula.

As diásporas dos povos de matriz cultural Arawak, ao longo dos grandes rios da Amazônia, envolveram relações históricas com a maioria das famílias linguísticas, resultando em contextos multiétnicos e processos etnogênicos de recriação e transformação das identidades sociais e dos componentes tradicionais, tais como as narrativas orais e a cultura material (Heckenberger, 2001Heckenberger, M. J. (2001). O Alto Xingu na longue durée. In B. Franchetto & M. Heckenberger (Org.), Os povos do Alto Xingu: história e cultura (pp. 21-62). Rio de Janeiro: Editora da UFRJ., 2002Heckenberger, M. J. (2002). Rethinking the arawakan diaspora: hierarchy, regionality, and the Amazonian Formative. In J. Hill & F. Santos-Granero (Eds.), Comparative arawakan histories: rethinking language family and culture area in Amazonia (pp. 99-122). Urbana: University of Illinois Press., 2005Heckenberger, M. J. (2005). The ecology of power: culture, place, and personhood in the southern Amazon, AD 1000-2000. New York: Routledge.; Hill & Santos-Granero, 2002Hill, J. D., & Santos-Granero, F. (Eds.). (2002). Comparative arawakan histories: rethinking language family and culture area in Amazonia. Urbana: University of Illinois Press.; Hornborg & Hill, 2011Hornborg, A., & Hill, J. D. (Eds.). (2011). Ethnicity in ancient Amazonia: reconstructing past identities from archaeology, linguistics, and ethnohistory. Boulder: University of Colorado Press.; Eriksen, 2011Eriksen, L. (2011). Nature and culture in prehistoric Amazonia: using G.I.S. to reconstruct ancient ethnogenetic processes from archaeology, linguistics, geography, and ethnohistory (Tese de doutorado). Universidade de Lund, Lund, Dinamarca.).

Os contextos Pocó-Açutuba e Barrancoide no alto Madeira têm sido caracterizados como resultantes desse processo. A variação regional Barrancoide no alto Madeira apresenta persistências e transformações em relação às manifestações desta tradição nas outras regiões da Amazônia e em relação a Pocó-Açutuba, que a antecedeu. As mudanças na tecnologia cerâmica e lítica Barrancoide, nos contextos arqueológicos e na demografia, reforçam a hipótese de uma segunda expansão de povos de matriz cultural Arawak, os quais teriam subido o rio Madeira e se instalado nas primeiras cachoeiras, em torno de 1.600 AP.

As primeiras ocupações Barrancoide concentraram-se principalmente nas cachoeiras do Teotônio e Morrinhos, entre 1.600 e 1.400 AP, ao passo que em Santo Antônio permaneciam majoritariamente os povos portadores da cerâmica Pocó-Açutuba, até pelo menos 1.400 AP, conforme datações obtidas para o sítio Veneza. As relações estabelecidas entre os povos portadores destas duas cerâmicas, Pocó-Açutuba e Barrancoide, precisam ser melhor compreendidas. No sítio Santa Paula, cerâmicas inicialmente consideradas de um período de transição entre as duas ocupações (Zuse, 2014Zuse, S. (2014). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira, Rondônia (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil., pp. 303, 382) possivelmente refletem estas relações culturais.

Em torno de 1.000 AP, povos que se expandiram no sentido oposto, descendo o rio Madeira, portadores da cerâmica Dionísio, dominaram a área acima da cachoeira do Teotônio, substituindo as ocupações Barrancoide nas ilhas, inclusive na cachoeira de Morrinhos, as quais passaram a se concentrar na área entre as cachoeiras de Santo Antônio e Teotônio.

As ocupações dos portadores da variação regional do estilo Barrancoide se estenderam até aproximadamente 800 AP, com evidências de aumento na demografia e intensificação das relações interétnicas em torno de 1.000 AP. As variações entre os sítios com ocupações Barrancoide parecem ser tanto temporais quanto decorrentes das atividades desempenhadas nesses locais e das interações com as distintas populações na região. Entre estes povos possivelmente estavam os da tradição regional Jamari, identificada no médio rio Jamari, entre 2.500 ± 90 e 420 ± 80 AP (Miller et al., 1992Miller, E. T. [outros não especificados]. (1992). Arqueologia nos empreendimentos hidreléctricos da Electronorte: resultados preliminares. Brasília: Electronorte.), no sítio Jacarezinho, baixo Jamari, entre 980 ± 40 e 660 ± 40 AP (Almeida, 2013Almeida, F. O. (2013). A Tradição Polícroma no Alto Rio Madeira (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.), e no sítio Teotônio, no Madeira, em torno de 1.000 AP, onde Kater (2018)Kater, T. (2018). O sítio Teotônio e as reminiscências de uma longa história indígena no Alto Rio Madeira (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Sergipe, Laranjeiras, SE, Brasil. caracterizou contextos que refletem a interação social entre essas populações.

A expansão dos povos portadores da cerâmica Dionísio, em torno de 1.000 AP, delineou uma nova fronteira cultural, ocupando as ilhas acima do Teotônio, ao passo que as cachoeiras a jusante, Teotônio e Santo Antônio, continuaram habitadas principalmente pelos povos portadores da cerâmica Barrancoide. Trabalhamos com a hipótese de a cerâmica Dionísio, situada entre 1.005 ± 26 AP a 780 ± 30 AP, estar relacionada às ocupações dos povos de língua Pano, que dominaram as cachoeiras a montante do rio Madeira no século XVIII, de acordo com as fontes históricas (C. Silva & Costa, 2014Silva, C. G. P., & Costa, A. F. (2014). Um quadro histórico das populações indígenas no alto rio Madeira durante o séc. XVIII. Amazônica, 6(1), 136-165. doi: http://dx.doi.org/10.18542/amazonica.v6i1.1751
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). Evidências de interações sociais estabelecidas entre as populações indígenas nesse período são a presença de vasilhas e fragmentos cerâmicos Dionísio nos sítios Teotônio, Vista Alegre, Morro dos Macacos e Brejo (Zuse, 2014Zuse, S. (2014). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira, Rondônia (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil., pp. 292, 321, 390, 402), bem como de fragmentos tipicamente Barrancoide misturados à cerâmica Dionísio no sítio homônimo (Costa, 2016Costa, A. F. (2016). A multifuncionalidade da cerâmica no sítio Ilha Dionísio, alto rio Madeira (Dissertação de mestrado). Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, Rio de Janeiro, Brasil.).

As ocupações da Tradição Polícroma da Amazônia analisadas neste artigo estão situadas entre os séculos XII e XVIII, caracterizadas por variações contextuais, tecnológicas, temporais e espaciais, nos sítios-habitação e funerários. Uma datação mais antiga, obtida no sítio Teotônio, de 1.250 AP (Almeida, 2013Almeida, F. O. (2013). A Tradição Polícroma no Alto Rio Madeira (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.), sustentou a hipótese de um centro de origem dessa tradição na região, de onde os seus produtores, povos falantes de línguas do tronco Tupi, teriam se expandido descendo o rio Madeira (Neves, 2012Neves, E. G. (2012). Sob os Tempos do Equinócio: oito mil anos de história na Amazônia Central (6.500 AC-1.500 DC) (Tese de livre docência). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.; Moraes & Neves, 2012Moraes, C. P., & Neves, E. G. (2012). O ano 1000: adensamento populacional, interação e conflito na Amazônia Central. Amazônica, 4(1), 122-148. doi: http://dx.doi.org/10.18542/amazonica.v4i1.884
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).

Recentemente, datações mais antigas, em torno de 1.550 AP, foram obtidas para as ocupações TPA no médio Solimões (Belletti, 2015Belletti, J. S. (2015). A Arqueologia do Lago Tefé e a expansão Polícroma (Dissertação de mestrado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil., 2016; Lopes, 2018Lopes, R. C. A. (2018). A Tradição Polícroma da Amazônia no contexto do médio rio Solimões (AM) (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Sergipe, SE, Laranjeiras, Brasil.). Assim como no alto rio Madeira, naquela região a cerâmica é caracterizada pela diversidade na morfologia e decorações, em contraponto à padronização da Amazônia central (Tamanaha, 2012Tamanaha, E. K. (2012). Ocupação Polícroma no baixo e médio rio Solimões, estado do Amazonas (Dissertação de mestrado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.; Oliveira, 2016Oliveira, E. (2016). Potes que encantam: estilo e agência na cerâmica polícroma da Amazônia Central (Dissertação de mestrado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.; Belletti, 2015Belletti, J. S. (2015). A Arqueologia do Lago Tefé e a expansão Polícroma (Dissertação de mestrado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.; Lopes, 2018Lopes, R. C. A. (2018). A Tradição Polícroma da Amazônia no contexto do médio rio Solimões (AM) (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Sergipe, SE, Laranjeiras, Brasil.), com evidências de interações entre produtores de cerâmicas TPA e Borda Incisa, tanto pela associação de cerâmicas dos dois estilos no mesmo contexto, quanto pelo fluxo de escolhas tecnológicas, especialmente na morfologia (Belletti, 2015Belletti, J. S. (2015). A Arqueologia do Lago Tefé e a expansão Polícroma (Dissertação de mestrado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.; Lopes, 2018Lopes, R. C. A. (2018). A Tradição Polícroma da Amazônia no contexto do médio rio Solimões (AM) (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Sergipe, SE, Laranjeiras, Brasil.). Belletti (2015)Belletti, J. S. (2015). A Arqueologia do Lago Tefé e a expansão Polícroma (Dissertação de mestrado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil., ao comparar as diferentes manifestações TPA na Amazônia, interpretou as variações em algumas fases, como Caimito, Nofurei e Jatuarana, como resultantes de fluxos de tecnologias entre o material TPA e outros. Nesse sentido, propõe que a dispersão da tecnologia TPA na Amazônia tenha ocorrido através de diferentes mecanismos, e não somente pela expansão de um grupo linguístico e como consequência da ocupação desses sítios. Almeida e Moraes (2016)Almeida, F. O., & Moraes, C. P. (2016). A cerâmica Polícroma do Alto rio Madeira. In C. Barreto, H. P. Lima & C. J. Betancourt (Eds.), Cerâmicas arqueológicas da Amazônia: rumo a uma nova síntese (pp. 402-413). Belém: IPHAN. concordam que é possível que a TPA não represente uma correlação literal entre cultura e língua, mas que grupos não Tupi poderiam produzir essa cerâmica, ou que, mesmo relacionada aos Tupi, a cerâmica pode ser heterogênea.

No alto curso do rio Madeira, a complexidade na tecnologia cerâmica TPA é evidenciada na grande variação e na falta de padronização, diferente do baixo curso do Madeira, onde é caracterizada pela baixa variabilidade e padronização, de tal forma que lá não é necessário distingui-la da cerâmica Guarita identificada na Amazônia central (Almeida & Moraes, 2016Almeida, F. O., & Moraes, C. P. (2016). A cerâmica Polícroma do Alto rio Madeira. In C. Barreto, H. P. Lima & C. J. Betancourt (Eds.), Cerâmicas arqueológicas da Amazônia: rumo a uma nova síntese (pp. 402-413). Belém: IPHAN.). No alto Madeira, as variações são tanto espaciais, entre os sítios a montante e a jusante da cachoeira do Teotônio, quanto temporais, entre as ocupações em torno de 800 AP e as do período entre 500 e 360 AP.

O aparecimento da cerâmica TPA nessa região ocorre em meio a um contexto multiétnico estabelecido pelos produtores das cerâmicas Barrancoide, Dionísio e Jamari. A interação desses diferentes povos, por meio de trocas de conhecimentos, circulação de objetos ou outras relações interculturais, está materializada no registro arqueológico. As ocupações identificadas no período mais recente, entre os séculos XV e XVIII, apresentam uma associação de elementos espaciais, deposicionais e tecnológicos de diferentes conjuntos da região. O sítio Novo Engenho Velho parece ser resultado dessa dinâmica interétnica, pois apresenta cerâmicas TPA com semelhanças e diferenças em relação às mais recuadas no tempo, mas emula padrões de assentamentos dos produtores da cerâmica Barrancoide (Pessoa et al., 2020Pessoa, C., Zuse, S., Costa, A., Kipnis, R., & Neves, E. (2020). Aldeia circular e os correlatos da ocupação indígena na margem esquerda da Cachoeira de Santo Antônio. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 15(2), e20190083. doi: 10.1590/2178-2547-BGOELDI-2019-0083
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). É necessário compreender se tamanha variação nas cerâmicas TPA no alto rio Madeira caracteriza um estilo regional ‘Jatuarana’, de uma tradição com ampla dispersão na Amazônia, ou se representa processos históricos mais complexos em um contexto de grande diversidade cultural.

Conforme mencionado anteriormente, os componentes cerâmicos das tradições Jamari e TPA foram contemporâneos às tecnologias cerâmicas Barrancoide e Dionísio. Miller (2009a)Miller, E. T. (2009a). A cultura cerâmica do Tronco Tupi no Alto Ji-Paraná, Rondônia, Brasil: algumas reflexões teóricas, hipotéticas e conclusivas. Revista Brasileira de Lingüística Antropológica, 1(1), 35-136. doi: https://doi.org/10.26512/rbla.v1i1.12288
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classificou a cerâmica da Tradição Jamari e a associou com populações falantes da família linguística Tupi-Arikém, particularmente os povos Karitiana e Arikemê conhecidos etnograficamente. Desde Lathrap (1970)Lathrap, D. W. (1970). The Upper Amazon. New York: Praeger Publishers., uma longa discussão envolveu as origens da cerâmica da Tradição Polícroma da Amazônia e os povos da família linguística Tupi-Guarani. Neves (2012)Neves, E. G. (2012). Sob os Tempos do Equinócio: oito mil anos de história na Amazônia Central (6.500 AC-1.500 DC) (Tese de livre docência). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. arguiu a favor desta hipótese, associando o registro arqueológico da cerâmica Guarita a uma suposta expansão dos Omágua/Kambeba que se estendeu até o período histórico. Almeida (2013Almeida, F. O. (2013). A Tradição Polícroma no Alto Rio Madeira (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil., 2017)Almeida, F. O. (2017). A arqueologia do rio Jamari e a possível relação com os grupos Tupi-Arikém – Alto Madeira (RO). Especiaria: Cadernos de Ciências Humanas, 17(30), 63-91., que estudou sítios com cerâmicas das tradições Jamari e TPA, aponta evidências de um movimento de povos Tupi desde a confluência do rio Jamari com o Madeira até o trecho encachoeirado, um fenômeno que poderia também ter persistido até a colonização europeia. Esses dois conjuntos cerâmicos foram encontrados no sítio Teotônio, o primeiro com morfologias mais simples e pouca decoração, e o segundo com vasilhas de morfologias variadas e altamente decoradas em motivos pretos e vermelhos sobre engobo branco (Kater, 2018Kater, T. (2018). O sítio Teotônio e as reminiscências de uma longa história indígena no Alto Rio Madeira (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Sergipe, Laranjeiras, SE, Brasil.).

A presença dos indígenas falantes dessas línguas, argumentada na Arqueologia, encontra correspondências nas evidências históricas. As fontes documentam que o quadro etnográfico de populações falantes das línguas do tronco Tupi predomina na área Madeira-Tapajós, as quais tiveram suas unidades sociais e as esferas de interações gradativamente desarticuladas por diferentes processos oriundos da colonização do século XVII ao XX, o que provocou intensa movimentação desses povos (Menéndez, 1992Menéndez, M. A. (1992). A área Madeira-Tapajós: situação de contato e relações entre colonizador e indígenas. In M. Carneiro da Cunha (Org.), História dos índios no Brasil (pp. 281-296). São Paulo: Companhia das Letras.).

CONCLUSÃO

As primeiras pesquisas arqueológicas realizadas no rio Madeira revelavam variações na cerâmica ao longo da estratigrafia de sítios profundos, nas áreas com terra preta e em solos amarelos e avermelhados de camadas que a ultrapassam. O arqueólogo Eurico Miller foi o primeiro a caracterizar e classificar essas cerâmicas, por meio da análise de poucos atributos formais, nas fases Jaciparaná, Ribeirão, Pederneiras, Jatuarana e Curequetê (Miller, 1978Miller, E. T. (1978). Pesquisas arqueológicas no Território Federal de Rondônia. Porto Alegre: Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Sul., 1987Miller, E. T. (1987). Inventário arqueológico da bacia e sub-bacias do rio Madeira, 1974-1987. Porto Velho: Consórcio Nacional de Engenheiros Construtores S.A., 1992Miller, E. T. [outros não especificados]. (1992). Arqueologia nos empreendimentos hidreléctricos da Electronorte: resultados preliminares. Brasília: Electronorte.). Na última década, estudos que versam sobre uma abordagem contextual das tecnologias cerâmicas delinearam a variabilidade nos conjuntos artefatuais e as fronteiras no registro arqueológico (Almeida, 2013Almeida, F. O. (2013). A Tradição Polícroma no Alto Rio Madeira (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil., 2017; Zuse, 2014Zuse, S. (2014). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira, Rondônia (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil., 2016; C. Silva, 2015Silva, C. G. P. (2015). Os contextos arqueológicos e a variabilidade artefatual da ocupação Jatuarana no alto rio Madeira (Dissertação de mestrado). Universidade Federal do Pará. Belém, PA, Brasil.; Costa, 2016Costa, A. F. (2016). A multifuncionalidade da cerâmica no sítio Ilha Dionísio, alto rio Madeira (Dissertação de mestrado). Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, Rio de Janeiro, Brasil.; Kater, 2018Kater, T. (2018). O sítio Teotônio e as reminiscências de uma longa história indígena no Alto Rio Madeira (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Sergipe, Laranjeiras, SE, Brasil.).

De início, a análise de amostras pequenas de cada sítio e a escassez ou ausência de datações para alguns contextos, aliadas à cautela dos pesquisadores, os levaram a identificar conjuntos que receberam rótulos provisórios, como no caso das cerâmicas mais antigas, chamadas ‘Inciso-Pintadas’ (Almeida, 2013Almeida, F. O. (2013). A Tradição Polícroma no Alto Rio Madeira (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.) ou ‘semelhantes a Saladoide, Pocó e Açutuba’ (Zuse, 2014Zuse, S. (2014). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira, Rondônia (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.), das cerâmicas ‘pré-Jatuarana’ (Almeida, 2013Almeida, F. O. (2013). A Tradição Polícroma no Alto Rio Madeira (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.), ‘em torno de 1.800 AP’ e ‘das ilhas a montante’ (Zuse, 2014Zuse, S. (2014). Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no alto rio Madeira, Rondônia (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.). Outros possuem elementos comuns a tradições com ampla dispersão na Amazônia, a exemplo da cerâmica Barrancoide e da Tradição Polícroma da Amazônia. As demais tecnologias correspondem a cerâmicas locais e regionais ainda não documentadas na literatura, como é o caso da cerâmica Dionísio, Santa Paula e Morro dos Macacos. Essas duas últimas, em geral, são pouco visíveis no registro arqueológico, especialmente no período mais antigo, pela baixa frequência e conservação dos fragmentos.

Abordagens intrassítio realizadas nos últimos anos, com novas datações arqueológicas, permitiram avançar nas interpretações a respeito das continuidades e mudanças no registro arqueológico (C. Silva, 2015Silva, C. G. P. (2015). Os contextos arqueológicos e a variabilidade artefatual da ocupação Jatuarana no alto rio Madeira (Dissertação de mestrado). Universidade Federal do Pará. Belém, PA, Brasil.; Costa, 2016Costa, A. F. (2016). A multifuncionalidade da cerâmica no sítio Ilha Dionísio, alto rio Madeira (Dissertação de mestrado). Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, Rio de Janeiro, Brasil.; Kater, 2018Kater, T. (2018). O sítio Teotônio e as reminiscências de uma longa história indígena no Alto Rio Madeira (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Sergipe, Laranjeiras, SE, Brasil.). Apesar disso, muitas questões continuam latentes. É necessário mapear e compreender melhor a distribuição espacial das ocupações em sítios multicomponenciais, assim como identificar e interpretar as variações em cada um dos conjuntos tecnológicos, para compreender os processos de interação cultural e de construção de identidades e fronteiras culturais no alto rio Madeira.

AGRADECIMENTOS

À Scientia Consultoria Científica, pelo financiamento das pesquisas no âmbito do Projeto de Arqueologia preventiva na área da UHE Santo Antônio. A todos(as) pesquisadores(as), técnicos e estudantes que atuaram nas pesquisas de campo e laboratório dos sítios arqueológicos abordados no artigo. Aos estudantes, técnicos e docentes do Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de Rondônia (DARQ/UNIR) e do Grupo de Pesquisa Arqueologia na Amazônia Meridional (GPAAM-UNIR-CNPq), que colaboraram nas pesquisas. Aos pesquisadores do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE/USP), do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e de outras instituições que apoiaram nas pesquisas dos autores. Aos organizadores do dossiê Arqueologia do alto Madeira, pelo convite para publicação. Aos editores e revisores do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas.

  • 1
    Os carvões datados (1124.2, 1124.4 e 1124.4) são do contexto da feição identificada no quadrante NW, e visível no perfil oeste da unidade E382631 N9021469. A topografia do sítio permite situar essa escavação no contexto de um montículo, e a feição é muito semelhante à do montículo 1 (Bespalez et al., 2020Bespalez, E., Zuse, S., Pessoa, C., Venere, P. P., & Santi, J. R. (2020). Arqueologia no sítio Santa Paula, alto Madeira, Porto Velho, Rondônia, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 15(2), e20190076. doi: 10.1590/2178-2547-BGOELDI-2019-0076
    https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELD...
    ).
  • 2
    A associação dos materiais líticos, nessa área da ILJ e nos níveis mais profundos da ILF, às ocupações ceramistas Barrancoide e Dionísio poderá ser feita através da análise da tecnologia lítica.
  • Zuse, S., Costa, A. F., Pessoa, C., & Kipnis, R. (2020). Tecnologias cerâmicas no alto rio Madeira: síntese, cronologia e perspectivas. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 15(2), e20190082. doi: 10.1590/2178-2547-BGOELDI-2019-0082

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jul 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    20 Ago 2019
  • Aceito
    03 Abr 2020
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