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A construção da figura política de Bolsonaro no El País: um exercício metodológico para análise sobre produção de sentido no jornalismo

The construction of the political figure of Bolsonaro in El País: methodological exercise for analysis on meaning production in journalism

Resumo

A atividade, nas redes digitais, de diversos atores, movimenta a circulação de falsos conteúdos e notícias a partir de sites de redes sociais e aplicativos. Esses, por sua vez, têm mobilizado os estudos de produção de sentidos no âmbito do jornalismo. A campanha eleitoral de 2018 para presidente no Brasil gerou uma grande quantidade de materiais que fornecem dados para esse tipo de investigação. A partir do propósito de abstrair uma dimensão sobre sentidos produzidos pela imprensa atentando-se a uma figura política para cruzar as inferências obtidas com os sentidos produzidos pelos consumidores desses conteúdos jornalísticos, foi empreendido um exercício metodológico que conta com dados obtidos no site da versão brasileira do jornal espanhol El País e no Facebook. A coleta e análise dos dados observa e avalia a prática jornalística diante da produção de sentidos nas redes.

Palabras clave
produção de sentidos; jornalismo; redes digitais

Abstract

The activity, in digital networks, of several actors who disseminate false content and news through social networking sites and applications, has mobilized the studies on the interaction practices and meaning production in journalism. The 2018 presidential campaign in Brazil has generated a great amount of events that provide materials for this type of investigation. From the purpose of abstracting a scale on the meanings produced by the press around a political figure and, later, to cross the inferences obtained with the meanings produced by the consumers of these journalistic contents, a methodological exercise was undertaken in the site of the Brazilian version of the Spanish newspaper El País and on Facebook. Data collection and analysis observe and evaluate journalistic practice in relation to the production of meanings in the networks.

Keywords
meaning production; journalism; digital network

Contexto de investigação

A série de protestos que aconteceu em 2013 no Brasil provocou situações no cenário político do país que se desenrolam até hoje. Após a redução da tarifa do transporte e a tomada das ruas por manifestantes que reivindicaram outras pautas, a disputa em torno das mobilizações dividiu-se entre defensores da, na época presidenta, Dilma Rousseff, uma oposição de esquerda e contou com uma oposição conservadora, dividida em diferentes grupos (CALIL, 2013CALIL, G. Embates e disputas em torno das jornadas de junho. Projeto História, n. 47, p. 377-403, 2013.). Os acontecimentos políticos levaram o país a um cenário conturbado que repercutiu nas últimas eleições de 2018. No entanto, contextualizar, em poucas linhas, o que aconteceu nesses últimos anos é complexo e não é o objetivo neste momento.

Em fevereiro de 2014, o jornal El País Brasil publicou dois artigos jornalísticos sobre Jair Messias Bolsonaro, na época deputado federal. Nos dois textos, alertava-se sobre a homofobia, o radicalismo e o ataque aos direitos humanos como marcas notórias do discurso do deputado. Desde então, ficou evidente o posicionamento adotado com relação ao candidato. Ainda em 2014, foram publicados mais artigos, com tom crítico acentuado, como, por exemplo, em: “A inércia política conduz um militar homofóbico para os Direitos Humanos”. Posteriormente, a quantidade de caracteres sobre o deputado aumentou consideravelmente. São usados adjetivos nos títulos que desqualificam as suas declarações, como os presentes no texto de 2014: “As degradantes declarações de Bolsonaro chegam ao Supremo”. Ainda em 2013, Bolsonaro decidiu iniciar a construção de sua candidatura à presidência.

Em janeiro de 2018, o El País publicou “Bolsonaro, é isso que queremos?”. Falava-se sobre o deputado aparecer em uma pesquisa do Datafolha como segundo candidato mais cogitado para a presidência. Em seguida, apresentou uma série de citações do político sobre democracia. Incluiu-se temáticas voltadas aos impostos, mulheres, afrodescentes, tortura, cotas raciais, questão de gênero, segurança pública e o que faria se fosse presidente. Nas declarações, frases que destacam seu posicionamento misógino, racista, homofóbico, armamentista e conservador eram frequentes já nesta época. Entre os artigos jornalísticos coletados, nota-se que o veículo assume o posicionamento de criticar a postura política e o comportamento de Bolsonaro antes mesmo de sua candidatura se concretizar, devido às declarações e atitudes relacionadas a determinadas parcelas da população, como mulheres, negros e LGBTs e sobre questões sociais e culturais.

Justifica-se a escolha do veículo por entender que a quantidade de conteúdos publicada pelo jornal, nesse período, é suficiente para identificar o viés crítico nas publicações e de forma transparente devido à linguagem empregada nos textos. Durante a campanha para o primeiro turno das eleições de 2018, uma grande quantidade de notícias falsas circulou pelos sites de redes sociais e em aplicativos de troca de mensagens. Um levantamento da Agência Lupa mostrou que as dez notícias falsas mais populares identificadas desde agosto tiveram, juntas, mais de 865 mil compartilhamentos pelo Facebook1 1 Fonte: https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2018/10/07/artigo-epoca-noticias-falsas-1-turno/Acesso: 13/02/19 . Esse volume de conteúdo também foi espalhado em sites e aplicativos como Twitter e Whatsapp. O período de campanha para o segundo turno não foi diferente.

A prevalência da estética foi notável e imagens foram produzidas e consumidas em alta velocidade, vide o compartilhamento de memes, que não foi novidade nas eleições de 2018 (SHIFMAN, 2013SHIFMAN, L. Memes in Digital Culture. Boston: The MIT Press, 2014.). A facilidade de propagação, por condições técnicas e impulso dado pela atividade dos usuários, ganhou força pelo interesse das empresas que fornecem aos usuários mais do que querem ver (PARISER, 2012PARISER, E. O filtro invisível: o que a internet está escondendo de você. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.). Após o fim da campanha e da recuperação de materiais observados no grupo, percebeu-se como o jornalismo foi, de certa forma, atingido pelas estratégias de campanha, pela atividade das redes e pela grande quantidade de falsas mensagens e notícias que circularam. A disputa foi marcada por acontecimentos que, por vezes, desviaram o foco dos veículos da discussão sobre propostas de governo para um debate sobre os ânimos das redes a respeito do cenário polarizado.

Em setembro, um grupo de mulheres organizou o grupo no Facebook Mulheres Unidas contra Bolsonaro e chegou a um milhão de participantes em menos de 15 dias. O grupo virou notícia pela grande quantidade de participantes, mas, também, foi muito questionado nas redes em relação à sua legitimidade. Na época, circularam boatos que tentavam desmentir o número de participantes e havia hashtags, grupos contrários e até ataques cibernéticos tentando destruir o grupo. A mobilização das mulheres, no entanto, fortaleceu-se e organizou manifestações nas ruas contra o candidato, diante das recorrentes declarações machistas e misóginas. Foi nesse entremeio que o atentado a Bolsonaro, em setembro, contribuiu ainda mais para a divisão entre seus apoiadores e opositores. O caso ainda divide a população: uns acham que ele foi mesmo esfaqueado, outros acham que a facada foi uma farsa.

As notícias envolvendo a compra de mensagens no Whatsapp também ocuparam o jornalismo enquanto a campanha acontecia, colocando, dessa forma, os eleitores em espaços de acusação e defesa de seus candidatos. Importante destacar que esses candidatos eram sempre os mesmos, de modo que a visibilidade dos outros, no primeiro turno, era sempre diminuída, principalmente em razão das questões envolvendo aqueles que estavam, supostamente, de acordo com as pesquisas, mais cotados para vitória. Assim, a captura do jornalismo por acontecimentos paralelos às questões políticas de fato interferiu na construção e na mediação de um debate sobre política de governo que deveria pesar para a decisão de voto, e, assim, acabou perdendo espaço para a visibilidade que se deu ao embate de grupos que não estavam dialogando, mas sim trocando ataques na tentativa de derrubar o candidato adversário.

Diante desse cenário, as questões que motivaram esse estudo foram definidas e serão apresentadas a partir de perguntas de pesquisa. Elas são as seguintes: como os sentidos produzidos nas redes digitais interferem na circulação de informações e notícias jornalísticas? Quais os rumos das práticas jornalísticas diante das apropriações que os consumidores fazem dos conteúdos em circulação nas redes? Considerando tais questões, este artigo resulta de um processo de coleta que mapeou o site da versão brasileira do jornal El País. Tem-se como objetivo entender a relação entre os conteúdos publicados sobre Bolsonaro a partir dos processso de veiculação e atribuição de sentidos pelo público que consome esses conteúdos.

Procedimentos metodológicos e análises

Ao buscar pelo nome de Bolsonaro no site do El País, foram encontrados mais de 600 artigos jornalísticos. Pela impossibilidade de se trabalhar com todos os dados, foi feito um recorte. Para extrair os sentidos dos artigos publicados pelo jornal, optou-se pela análise de conteúdo (BARDIN, 2011BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.). Para estudar os sentidos produzidos pelos consumidores dos conteúdos, apoiou-se na análise de construção de sentidos (HENN, GONZATTI e SILVA, 2017HENN, R.; GONZATTI, C.; ESMITIZ, F. Pussy made of steel: os sentidos inaugurados por um cartaz da Women’s March na página Supergirl Brasil. Revista Fronteiras – Estudos Midiáticos, São Leopoldo, v. 19, n. 3, p. 401-414, set./dez. 2017.). A análise de construção de sentidos é um método desenvolvido a partir de estudos sobre ciberacontecimento (HENN, 2014HENN, R. El ciberacontecimiento: producción y semiosis. 1. ed. Barcelona: Editorial UOC, 2014.), conceito que se volta para processos em sites de redes sociais que reconfiguram o jornalismo. A semiótica é tomada como base epistêmica por Henn (2014)HENN, R. El ciberacontecimiento: producción y semiosis. 1. ed. Barcelona: Editorial UOC, 2014., que, ao ver os espaços em rede como propícios para geração e propagação de signos, apoia-se na noção de semiose (PEIRCE, 2002PEIRCE, C. S. The collected papers of Charles Sanders Peirce. EUA: InteLex Corporation, 2002.) para observar as dinâmicas dos acontecimentos tecidos na cultura digital.

A noção de semiosfera é recuperada em Lotman (1996)LOTMAN, Y. La semiosfera. Madrid: Catedra, 1996.. Este alude que os signos compõem um mundo simbólico que estrutura a cultura contemporânea e aponta múltiplos sentidos que emergem por vários atores. Fazendo uma transposição desse esquema reflexivo para pensar o jornalismo, Henn e Oliveira (2015)HENN, R.; OLIVEIRA, F. Jornalismo e movimentos em rede: a emergência de uma crise sistêmica. Revista FAMECOS (Online), v. 22, p. 1-19, 2015. apontam a constituição de uma crise sistêmica que é capaz de mover os lócus das semioses. Antes o jornalismo interpretava um acontecimento-objeto e publicava a notícia-signo. Com a multiplicação de atores nas redes, o signo se desprende da notícia, pois o acontecimento pode ser espalhado e repercutido sob a interpretação de diversas vozes.

Todas as microconexões que compõem essas processualidades nos sites de redes sociais são tidas como rastros semióticos, e, dessa forma, carregam diferentes sentidos. Na medida em que aumentam as possibilidades de microconexão e disseminação de conteúdos que disputam atenção com o jornalismo, as pessoas, por um lado, têm mais informação à disposição e também podem compartilhar e circular conteúdo. Por outro lado, não visualizam alguns conteúdos, em função de algoritmos, e, assim, ficam sujeitas a mais conteúdos falsos que circulam e são impulsionadas por sistemas automatizados e perfis falsos ou robôs. Um dos questionamentos que surge é sobre o futuro do jornalismo diante da expansão de mecanismos de produção de conteúdo que intensificam problemas como a circulação de notícias falsas.

O método funciona a partir de três movimentos: mapeamento, identificação e agrupamento de constelações de sentidos e inferências. Aqui o foco não foi compreender semioses desencadeadas por um ciberacontecimento específico, mas procurou-se refletir sobre uma dimensão sobre sentidos vindos das esferas da produção, circulação e consumo do jornalismo em torno de uma figura política que, ao longo dos anos, por meio de declarações e ações polêmicas, provocou ciberacontecimentos. Analisar os comentários das publicações do jornal permite identificar a construção dos sentidos que circulam nas redes em torno de abordagens jornalísticas sobre um vetor de ciberacontecimentos: a figura política de Bolsonaro.

Para tal, foi necessário fazer uma experiência metodológica, caminhando para além de um único método. Por meio da análise de conteúdo, extraiu-se um conjunto de categorias para verificar o sentido produzido pelo El País sobre Bolsonaro. A análise da construção de sentido tomou forma a partir de comentários sobre as publicações do jornal no Facebook. Esta foi feita para extrair as impressões dos leitores sobre Bolsonaro a partir de um conteúdo produzido pelo jornal, ou seja, o objetivo de usar os dois métodos é: primeiro identificar como o jornal produz sentido sobre uma figura política; segundo verificar quais os sentidos produzidos pelos leitores diante da forma como o jornal se posicionava sobre essa figura.

2.1. Análise de conteúdo sobre os artigos do El País

Para entender a produção de sentido produzida pelo El País Brasil, não havia possibilidade metodológica de aplicar a análise de construção de sentidos, já que não se tratava de múltiplas vozes, mas do posicionamento construído pelo jornal sobre temas e assuntos abordados em torno da figura política de Bolsonaro. Assim, optou-se por buscar aporte no método de análise de conteúdo (BARDIN, 2011BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.) para, em aproximação com as etapas da análise de construção de sentidos, tentar identificar categorias temáticas.

Sobre as etapas de pré-análise e exploração, Bardin (2011)BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. menciona a organização e a seleção do material, processos esses que se aproximam do mapeamento e da identificação na análise da construção de sentidos. Essa etapa toma forma a partir da busca e da organização: em pesquisa pelo sobrenome Bolsonaro na busca do site, identificou-se que a primeira vez que havia sido mencionado foi dia 14 de fevereiro de 2014.

Delimitou-se que a coleta recolheria todos os artigos entre 14 de fevereiro de 2014 e 28 de outubro de 2018, período em que foi anunciado o resultado das eleições. Foram levantados 689 textos. Na constituição do corpus, ao estabelecer regras de exaustividade, representatividade, homogeneidade e pertinência, Bardin (2011)BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. estabelece parâmetros para o refinamento da organização. Para viabilidade de análise e recorte dos dados, foi feita uma seleção para excluir conteúdos que não tivessem o candidato como foco central ou que o tratassem de modo pouco representativo, apenas citando seu nome, exemplificando alguma questão ou ilustrando seus argumentos em outras pautas. Priorizou-se artigos em que ele fosse pauta central assim como a sua candidatura, atos e demais situações relacionadas à sua figura política.

Cerca de 185 artigos, entre matérias, reportagens, colunas de opinião e entrevistas foram selecionados; sete foram excluídos por tratarem de pesquisa eleitoral, restando o corpus de 178 textos. Na análise de conteúdo, é possível criar hipóteses e objetivos. Teve-se como objetivo o agrupamento dos artigos jornalísticos por temáticas para depois cruzar com comentários sobre os artigos compartilhados no Facebook. Passada a fase de pré-análise, é chegado o momento de exploração, em que ocorre a categorização qualitativa e quantitativa na análise de conteúdo. Optou-se por aproximar os dois métodos para preservar a subjetividade da análise de construção de sentido. Isso permite a inserção de signos em mais de uma constelação de sentido. Mais de um dos artigos jornalísticos analisados poderiam encaixar-se em mais de uma categoria.

O que na análise de conteúdo é considerado como categorização e na análise de construção de sentidos, como agrupamento de construção de sentidos é entendido aqui como categorização: analisou-se os 178 artigos publicados para organizar as categorias que indicassem como o El País produziu sentido sobre Bolsonaro de 2014 até sua candidatura à presidência. Ambos os métodos dedicam uma etapa à realização de inferências, que, na análise de construção de sentidos, se dá quando cada constelação é desdobrada textualmente. A seguir, discorre-se sobre as dez categorias geradas a partir da análise dos 178 artigos:

  1. Persona política e articulação da candidatura à presidência: vinte e quatro artigos sobre o indivíduo. Todos comportam o período em que Bolsonaro era deputado federal até se tornar candidato à presidência. Esses textos revelam ideias e comportamentos no exercício de cargos políticos, em atos públicos e em movimentos de articulação para candidatura à presidência.

  2. Alertas sobre características conservadoras, extremistas e negativas: vinte e oito artigos relatavam a predominância de características conservadoras como a proibição do aborto, a não legalização das drogas, o apoio à pena de morte, a redução da maioridade penal e as declarações de machismo, racismo e homofobia. São artigos que alertam sobre a ascensão e potencial candidatura à presidência bem como sobre a possibilidade de vitória na eleição.

  3. Pautas sobre conservadorismo, o avanço da direita conservadora e tópicos negativos: trinta e dois textos abordam temas relacionados ao avanço do conservadorismo, sobre ditadura, extrema direita e tópicos, geralmente, negativos. Artigos que não têm Bolsonaro como pauta central, mas o acabam citando, de modo que ele acaba relacionado a alguma situação que trata sobre conservadorismo ou tópico negativo.

  4. Protestos e manifestações da direita e o antipetismo: quatro artigos falam sobre protestos, atos e manifestações organizados pela direita, não necessariamente a favor da candidatura, pois alguns aconteceram antes de 2018, mas também há aqueles que discorrem sobre eventos que aconteceram enquanto foi candidato. Mobilizações de apoiadores de Bolsonaro e também de pessoas contrárias ao Partido dos Trabalhadores, motivadas pelo desejo de retirar o partido do governo, são frequentes.

  5. Formação e evolução da polarização entre esquerda e direita: nove artigos cuja narrativa constitui caráter histórico ao narrar fatos e acontecimentos que revelam movimentos e características que marcam, ao longo dos meses/anos, o fortalecimento da polarização entre direita e esquerda, e, posteriormente, de apoiadores e opositores do candidato Bolsonaro.

  6. Crimes, incitações e processos: dezoito textos noticiam sobre processos nos quais Bolsonaro foi envolvido, sobre discursos que proferiu em tom de ameaça, sobre incitações sobre protestos envolvendo seus apoiadores e não apoiadores.

  7. Fake news e esquemas de campanha: reuniu-se dezessete textos sobre esquemas de campanha e mecanismos de fake news nos quais Bolsonaro foi citado como envolvido.

  8. Artigos sobre o atentado e decorrências: dezessete artigos discorrem sobre o atentado à faca que Bolsonaro sofreu, sobre as repercussões do mesmo e sobre impactos do ocorrido na campanha do candidato.

  9. Análises: dezoito textos opinativos analisam as características do candidato, acontecimentos e situações que envolvem a sua figura como deputado federal e candidato à presidência bem como sobre fatos da campanha e possível vitória na eleição.

  10. Mulheres e mobilizações pontuais: onze artigos abordam declarações sobre mulheres, protestos e manifestações organizados pelas mulheres a favor e contra o candidato.

Os textos analisados revelam, em linha do tempo (tabela 1), características da figura política de Bolsonaro e sobre seus posicionamentos em relação a temas como saúde, economia, educação e relações sociais.

Tab. 1
Linha do tempo.

A compreensão e o enquadramento na visão dos sujeitos da pesquisa é característica de métodos qualitativos, de modo que as categorias não são excludentes entre si, pois refletem questões que permitem o deslocamento dos artigos entre elas. Estas categorias situam Bolsonaro como um ator político que merece atenção pelas atitudes e discurso sobre questões sociais e políticas. Com o tempo, a quantidade de textos em que seu nome aumenta assim como as pautas em que sua figura política é foco também, de modo que outros acontecimentos passam a compor a esfera eleitoral quando uma possível candidatura ganha força. A intensidade dessa caracterização do alerta sobre suas características conservadoras são cada vez mais explorados, gerando, nesse sentido, textos que abordam temas como ditadura, nazismo, violência, conservadorismo, entre outros que não têm Bolsonaro como pauta, mas que não seriam publicados caso não tivesse a representatividade que atingiu ao longo dos anos.

2.2. Análise de construção de sentidos nas publicações no Facebook do El País

Para entender os sentidos inaugurados pela reverberação dos conteúdos do jornal no site e no Facebook, aplicou-se a análise de construção de sentidos a partir de um conjunto de publicações e comentários no site da rede social.

  • Mapeamento e identificação: pela inviabilidade de analisar os comentários de todas as publicações do El País no Facebook com as matérias selecionadas no corpus, optou-se por realizar uma investigação mais detalhada a partir de três publicações: uma publicação de um artigo sobre Bolsonaro ainda em 2014, quando não se falava sobre sua candidatura à presidência e duas publicações de artigos que abordavam fatos marcantes durante o período de campanha presidencial. Entendeu-se que haveria possibilidade de identificar a diversidade de constelações. Considerou-se, portanto, uma maior representatividade de sentido nos comentários, o mesmo não aconteceria se tivesse focado apenas em artigos voltados a um único assunto, como fake news, por exemplo.

  • Agrupamento de constelações de sentido: as constelações de sentido foram constituídas a partir da análise dos comentários que considerou três publicações que o El País fez em sua fanpage. Foram definidos apenas três, seguindo o critério de representatividade, como descrito acima. Mais do que três não seria viável para demonstrar no espaço de um artigo, mas a combinação dos métodos não inviabiliza a aplicação com mais dados.

  • Inferências: foram realizadas durante as análises dos comentários, na medida em que foram analisados os prints das threads, já que na segunda e na terceira publicação havia uma grande quantidade a ser analisada. O número de constelações foi oscilando na medida em que as inferências iam acontecendo. Um conjunto de inferências sobre as constelações obtidas nas duas etapas de análises consta no item 3.3.

Fig. 1.
Publicação de fevereiro de 2014

O artigo foi publicado no site do El País em 14 de fevereiro de 2014 e postado na fanpage do jornal no dia 18 do mesmo mês e ano. Trata-se de uma entrevista de Bolsonaro à jornalista Maria Martin. Na época, o deputado federal pleiteava a presidência da Comissão de Direitos Humanos. A entrevista é direcionada para essa questão, e, assim, abordava políticas sobre direitos humanos e a opinião do deputado sobre homossexualidade. Os 25 comentários analisados foram divididos em três constelações de sentido que variam entre apoiadores e não apoiadores2 2 Todos os comentários foram transcritos da mesma forma como foram encontrados no Facebook, sem qualquer correção de ortografia, pontuação ou gramática. .

Comentário 1

Esta constelação não só o apoiava como também deixava indiretas para os contrários ou discordantes de suas ideias. Não apoiadores declaravam discordância ou repulsa pelas palavras ditas pelo deputado:

Comentário 2

Em tom de alerta, os comentários na constelação Haters descendem dos não apoiadores, mas são mais incisivos nos xingamentos e nas indiretas, replicando, dessa forma, alertas sobre as características de Bolsonaro, sobre o comportamento de seus apoiadores e sobre a situação do país e da possibilidade de os direitos humanos serem chefiados pelo deputado:

Comentário 2

Comentário 3

Por fim, há um constelação de Crítica ao jornal:

Comentário 4

Fig. 2
Publicação de setembro de 2018.Fonte: https://www.facebook.com/elpaisbrasil/

A matéria, assinada por Regiane Oliveira, foi publicada no El País em 06 de setembro, mesmo dia do atentado, e publicada na fanpage do dia 07 de setembro. Traz como base um levantamento da Fundação Getúlio Vargas feito no Twitter a partir de 1.702.949 tuítes entre quinta (06) e sexta (07). No texto são abordadas questões sobre interações que aconteceram no Twitter e resumidas no mapa que aparece na matéria. O destaque em laranja agrega os que desconfiam da veracidade do atentado e ironizam críticas da direita quanto à falta de empatia da esquerda.

Nos 171 comentários desta publicação no Facebook foram identificadas seis constelações. Entre apoiadores e não apoiadores, há falas que revelam sentidos que passam pelo deboche e lições sobre o comportamento dos apoiadores, que, na opinião dos não apoiadores, são agressivos e mal intencionados, de modo que há uma recuperação de ações passadas e uma repulsa ao discurso de ódio proferido tanto pelo candidato quanto pelos apoiadores. Na constelação em que Apoiadores de Bolsonaro acusam a esquerda, há ironia e acusação, recuperação de atos do passado e muitas citações a Lula:

Comentário 5

Nesta constelação não há dúvidas sobre a veracidade do atentado. O fato fez com que pessoas decidissem ou mudassem o voto, configurando, dessa forma, a constelação de Definição do voto.

Comentário 6

Nessa linha há a constelação Impacto na campanha, que agrupa comentários sobre como o atentado gerou impacto na campanha:

Comentário 7

Na constelação Hashtags existem pessoas chamando outras nos comentários para que vejam a matéria e, talvez, os comentários que estão sendo feitos. Como são apenas citações a outros usuários, não há como identificar a intenção desses chamamentos. Outras hashtags como #vempramassa; #queropaz; identificam desejos e palavras de ordem, além de outras que demonstram campanha pelos candidatos como #bolsonaro17; #ciro12; #haddad13, #joaoamoedo30, entre outras. Na constelação de Crítica ao jornal diferentes acusações, questionamentos e apontamentos são feitos ao veículo:

Comentário 8

Outros comentários criticando não só o El País, mas também a imprensa em geral foram inseridos na constelação Sobre fake news, girando, assim, em torno de questões como veracidade, manipulação, objetividade.

Comentário 9

É visível, pelo alto número de comentários, uma constelação de Especulação, na qual as pessoas especulam sobre o atentado, confiando e desconfiando do que aconteceu, achando ou não estranho, levantando suspeitas e aspectos para confirmar a veracidade do acontecimento.

Comentário 10

Fig. 3.
Publicação de outubro de 2018.

No dia 19 de outubro de 2018, a jornalista Almudena Barragán assinou a matéria Cinco ‘fake news’ que beneficiaram a candidatura de Bolsonaro, publicada na fanpage do jornal na mesma data. O artigo fala sobre como ele aparecia nas pesquisas como favorito para vencer e que a campanha, à medida que ia crescendo, aumentavam, também, os boatos nas redes a seu favor. O jornal entrevistou Tai Nalon, diretora do site Aos Fatos, mantido por um grupo de jornalistas do Rio de Janeiro e São Paulo. Esse grupo verificava os discursos de políticos e a sua circulação nas redes sociais. Nalon afirma que a circulação de informações falsas e boatos contra adversários de Bolsonaro aumentou muito na campanha, principalmente pela divulgação de matérias no Whatsapp. O texto mostrou as cinco fake news que mais beneficiaram o candidato, na opinião de Tai Nalon. Foram analisados, nesta publicação, todos os 983 comentários, menos as respostas a estes.

Há uma forte Citação ao PT, e, assim, os comentários o apontam como responsável pela ascensão de Bolsonaro, no sentido de que o tempo em que o partido esteve no governo teria cometido tanto atos de desonestidade e crimes bem como produzido fake news. Dessa forma, a sua imagem estaria tão negativa que tudo isso teria aumentado a credibilidade e a confiança da população em Bolsonaro. Há várias menções a Lula e Haddad, ao mensalão e ao petrolão, como tópicos que fariam parte de notícias que o PT acusa de serem fake news quando citadas pela direita. Há comentários que atribuem ao tempo que o partido ficou no governo a culpa pelos problemas do país. Há, também, a desqualificação de Haddad.

Comentário 11

A constelação sobre fake news agrupa críticas à imprensa e aos partidos políticos, no sentido de que os veículos seriam responsáveis por criarem notícias e informações falsas para atingir Bolsonaro. Surgem comentários de apelo ao Judiciário, descrença no que foi veiculado, em tom de deboche e em tom de desconfiança de fatos, como o caso do atentado. Aparecem, ainda, comentários de pessoas que questionam outras que não investigam o teor das informações que consomem e “assim” compartilham conteúdos falsos.

Comentário 12

Em relação mais específica aos candidatos, a constelação Candidaturas e eleições gerou comentários com declarações de eleitores de Bolsonaro voltados à sua campanha assim como à de Haddad, que cobram a punição de Bolsonaro pelo suposto impulso da campanha a partir das fake news expostas na matéria assim como sua ida aos debates. Em muitos comentários, hashtags a favor e contra Bolsonaro são acompanhadas de críticas e elogios ao candidato.

Comentário 13

Em Hashtags agrupam-se aqueles que apenas marcam pessoas, sem qualquer outra frase ou palavra, de modo que não se pode inferir qual o posicionamento sobre o que está posto no artigo. Há, também, muitas hashtags que acompanham os posts, a favor e contra Bolsonaro, e, também, outras que apoiam outros candidatos. Aqui aparecem hashtags que transparecem o sentimento de antipetismo: #caixa2dobolsonaro; #bolsonaronão; #haddadsim; #votohaddad; #eusoumarketeirodojair; #bolsonaropresidente; #vemprodebatecovarde; #lulapresobabaca. Assim como nas outras publicações, aqui também se formou a constelação de Crítica ao jornal, questionando o viés do veículo, cobranças de imparcialidade e por que não abordavam outras fake news.

Comentário 14

Nessa publicação surge a constelação de Comentários ao jornalismo. Ela reúne elogios ao El País e outros veículos que, para algumas pessoas, estão produzindo “jornalismo de qualidade”. Não se referem ao assunto da matéria em si, mas às práticas jornalísticas, à linha editorial, entre outros elementos dos veículos que citam nos comentários:

Comentário 15

3. Inferências sobre as duas etapas de análise

As dez categorias desdobradas na análise de conteúdo dos 178 artigos traduzem uma linha do tempo da figura política de Bolsonaro. Não se encontra, nos textos, pontos positivos sobre suas ações e posicionamentos, pelo contrário, são destacadas atitudes polêmicas com ênfase em características rechaçadas pela linha editorial do veículo. A transparência do veículo se confirma, permitindo, aos consumidores, verificar a crítica presente nos textos. O conservadorismo é, frequentemente, associado à Bolsonaro, muitas vezes em tom de alerta, com termos como “ultraconservador” e “extremista”, juntamente com “direita” e “ditadura”. A importância da análise retrospectiva garantiu a visualização de como sua figura foi associada a protestos e manifestações da direita e ao fortalecimento da polarização, o que mostrou como artigos que tratavam sobre alguma questão envolvendo Bolsonaro também tentavam mostrar o avanço da direita conservadora e o crescimento do sentimento de antipetismo.

Outra categoria que agregou artigos foi a de crimes, incitações e processos, que, necessariamente, recuperavam questões relacionadas a características de sua figura política, e que, vez por outra, mencionavam a possibilidade de uma candidatura à presidência. Quando o atentado foi noticiado, aumentou-se, também, a quantidade de artigos com o tema sobre as fake news, tornando-se ainda mais latente com a proximidade das eleições. Nas constelações de sentido, desdobradas nos comentários no Facebook, o tom de crítica a um jornalismo que se posiciona é evidente. Esse posicionamento é tomado como afronta por alguns consumidores do jornal. Essa crítica vai além desses espaços; está nos cursos de jornalismo; numa cultura que exige do jornalismo a isenção. Alunos que entram nas universidades acreditam que o jornalismo deve ser uma prática baseada em princípios de isenção, imparcialidade e neutralidade.

Nos comentários, a cobrança por tais valores é feita por meio de acusações e questionamentos sobre essa transparência do viés editorial. Não há uma cultura amadurecida a esse ponto que sabe lidar com um jornalismo voltado para a democracia, que, efetivamente, aproveita-se das práticas interacionais. A polarização ganha, então, mais espaço de enfrentamento. Pelas hashtags, os candidatos em oposição são fortemente apoiados ou rechaçados e o conteúdo dos artigos, praticamente, nem é comentado. O que importa é defender e exaltar uma candidatura em detrimento da outra. Fortalece-se crenças e opiniões pessoais diante de dados e fatos devidamente apurados.

O cruzamento dos dados auxiliou a verificação de como o sentido produzido pelo jornalismo do El País aconteceu num modo de alerta aos leitores sobre os aspectos negativos de uma possível candidatura de Bolsonaro, nos anos anteriores a 2018. Quando se identifica como os conteúdos são interpretados pelos leitores, percebe-se que por muitas vezes é a linha crítica adotada nos textos do jornal que é foco de discussão nos comentários. O conteúdo em si, que posteriormente viria a afetar debates públicos no contexto político do governo de Bolsonaro, ficou em segundo ou nenhum plano nos debates travados nos comentários.

Considerações finais

Desde 2013, com a ocorrência de protestos que se desdobraram em outras pautas para além da redução da tarifa do transporte público; com o impeachment de Dilma Rousseff; com a operação Lava Jato que prendeu e processou diversas figuras políticas; com a prisão do ex-presidente Lula, entre outros acontecimentos, fizeram com que temas impulsionados pela parcela conservadora da política e da população ganhassem destaque nas redes e, consequentemente, nas pautas que acabavam citando, direta ou indiretamente o atual presidente. Em 2014, artigos de alerta sobre as características conservadoras de Bolsonaro se destacam no El País, mas foi apenas em 2016 que a intensidade dessa cobertura aumentou. Durante a campanha, grupos de Whatsapp formaram a força-tarefa que mobilizou a circulação de conteúdo nas redes sociais, levando, dessa forma, o congresso a criar uma CPI para investigar as fake news nas eleições de 2018.

A atividade de robôs potencializou o fluxo de conteúdo falso e teve atuação significativa nas interações, influenciando, assim, em muitos casos, a produção de sentidos sobre os acontecimentos. Por outro lado, iniciativas de verificação, jornalismo de qualidade, tudo que é percebido como parte do que se entende como imprensa, foram interpretados como parte de um jornalismo baseado na retórica que combate um candidato anti-establishment. O movimento de propagação de fake news que se levantou contra o jornalismo na campanha foi, em grande parte, em prol de uma persona, um mito capaz de resolver os problemas do país. Essa mobilização contribuiu para a polarização que impede que iniciativas de desmantelamento da desinformação atinjam, justamente, o público que deveria: aquele que dissemina as mensagens falsas desenfreadamente. Não há eficácia dessas iniciativas com esses públicos pois estes não consomem o jornalismo dito de qualidade, não acessam notícias da grande imprensa, bem como não possuem iniciativas preocupadas com conteúdo que adquirem, e, principalmente, consomem. Quando acessam, como se pode perceber pelos comentários questionadores e de tom acusatório, estes públicos não os vêem como defensores de suas crenças, pois se concentram, apenas, no valor da estética para confirmar sentenças sobre aquilo que querem ver e ouvir sobre o que acreditam, mesmo que não seja verdade, mas que confirme um discurso há muito tempo velado e que agora ganha visibilidade e força na voz de um anti-herói.

A imprensa acabou capturada por muitos acontecimentos que pouca importância tinham diante da realidade dos fatos, pois eram criados para gerar interesse e desviar a atenção para tópicos como a fragilidade de projetos políticos, a representatividade de outras candidaturas e uma ausência na campanha que durou praticamente dois turnos. A estética dos memes e a polêmica que boatos e especulações provocaram em torno das fake news geraram uma mobilização muito intensa, exacerbando, assim, a polarização alimentada pelo sentimento de ódio a um único partido. Hoje, ainda, não há letramento midiático e senso crítico suficientes para fazer frente à necessidade de colocar em circulação e gerar visibilidade a crenças individuais. É mais importante argumentar com base no que foi repassado por um grupo de conversa do que buscar informações baseadas em fatos e evidências, com respaldo do jornalismo.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Mar 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2020

Histórico

  • Recebido
    23 Maio 2019
  • Aceito
    22 Jul 2019
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