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Geografia Econômica: (re) leituras contemporâneas

RESENHA

Geografia Econômica: (re) leituras contemporâneas

Maria Terezinha Serafim Gomes

Profa. Dra. do Departamento de Geografia/IELACHS/UFTM Uberaba/MG - Brasil. serafimgomes@hotmail.com

VIDEIRA, Sandra Lúcia; COSTA, Pierre Alves; FAJARDO, Sérgio. (org). Geografia Econômica: (re) leituras contemporâneas. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2011. 193 p.

O livro aqui apresentado "Geografia Econômica: (re) leituras contemporâneas" é uma coletânea com 9 capítulos, reunindo pesquisadores das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, que se debruçam sobre a temática da Geografia Econômica. No prefácio, os organizadores apresentam ao leitor a riqueza de temas relacionados à Geografia Econômica abordados no livro, a saber: América do Sul, economia mundial, crise energética, indústria do petróleo, tradings agroindústrias, cooperativas, informação, internacionalização do capital, empresas internacionais, capital estrangeiro, dinâmica econômica, logística e reestruturação produtiva.

O primeiro capítulo intitulado "Crise, mudanças globais e inserção da América do Sul na economia mundial", elaborado por Cláudio A. G. Egler traz elementos importantes para se pensar a relação da crise, mudanças globais e a inserção da América do Sul a partir da contribuição da Geoeconomia. O autor destaca que "A Geoeconomia oferece um instrumental importante para a análise das contradições vigentes no mundo atual e contribui para a busca de vias alternativas para sua superação" (p.11). Neste capítulo, ao tratar da crise atual que afeta a Europa Oriental e os Estados Unidos, o autor afirma que ela resulta de decisões tomadas no início dos anos 1980, que estimularam a desregulamentação dos sistemas financeiros nacionais e aceleram a circulação dos títulos imobiliários no mercado global, tendo duas principais fontes: o mercado imobiliário e o grande capital de poupança da China, que detém a maior parte dos títulos do governo norte-americano. Ao mostrar a importância da contribuição da Geoeconomia, Egler assevera que suas contribuições "não se restringem aos estudos das relações entre Estado e mercado e aos mecanismos utilizados para projetar o poderio econômico" (p.15), e acrescenta também a análise da dinâmica dos sistemas globais, envolvendo questões sobre as relações entre sociedade e natureza, exemplificando as questões das mudanças climáticas. Ao trazer para o debate tais questões, o autor destaca que o desafio colocado para o futuro da América do Sul "está na geoeconomia da exploração, produção e consumo das grandes reservas de petróleo do pré-sal na costa brasileira e a faixa do Orenoco Venezuelana". (p.18). Com este capítulo o autor desperta ao leitor o interesse na compreensão da inserção do Brasil na economia mundial, a partir das contribuições da Geoeconomia.

O segundo capítulo: "Análise geohistórica da indústria de refino de petróleo no Brasil", de autoria de Pierre Alves Costa, centra suas análises numa abordagem geohistórica, apresentando a evolução da atividade de refino de petróleo no Brasil. Ao tecer suas considerações acerca do refino do petróleo no Brasil, o autor destaca que ele iniciou-se em 1932, por iniciativa privada, com a construção da Refinaria Riograndense (Uruguaiana-RS), com processamento de petróleo importado de países vizinhos (Uruguai e Argentina). Em 1936 entram em operação duas refinarias em Rio Grande-RS e em 1938 foi criado o Conselho Nacional de Petróleo pelo governo federal, para regulação do setor petrolífero. Em 1953 foi criada a Petrobrás, detendo a prospecção e a exploração do petróleo. Costa assevera que o papel e monopólio da Petrobrás foram fundamentais durante a crise do petróleo de 1973, garantindo a reestruturação do mercado nacional de combustíveis, bem como a redução dos impactos na economia nacional das oscilações do mercado internacional do petróleo. Deste modo, o capítulo traz importantes contribuições ao estudo histórico de refino de petróleo, atividade estratégica para a economia do país.

O terceiro capítulo "A ação territorial corporativa no espaço rural", de autoria de Sérgio Fajardo, traz à baila a discussão da ação territorial das grandes empresas agroindustriais, as cooperativas agropecuárias e das tradings do setor, observadas no Brasil a partir dos anos 1970, com ênfase no Estado do Paraná, seu principal objeto de pesquisa. O autor enfatiza que "as empresas exercem no espaço geográfico ações territoriais que são materializadas não apenas na constituição de suas unidades de produção, comercialização e armazenamento, mas também estão representadas nas áreas onde seus mercados se estabelecem" (p.48). Fajardo analisa a ação territorial das tradings Bunge e Cargill no Estado do Paraná, destacando que o espaço rural é afetado pelas lógicas globais dessas empresas. O autor assevera que é nítida a ação territorial das empresas na estrutura produtiva presente no espaço rural, destacando que, no caso paranaense, a presença das cooperativas agropecuárias e das tradings agrícolas manifesta a disputa territorial da produção e de mercado. Ainda, neste capítulo, o autor nos chama a atenção para o fato de a ação das empresas agroindustriais estar em consonância com os interesses do Estado, ocorrendo no território de forma concentradora e seletiva. O autor avalia a fundo a ação territorial das empresas agroindustriais na organização do espaço, levando o leitor a vários questionamentos: quais os papéis dessas empresas na organização territorial? Quais as implicações espaciais, sociais e ambientais dessas grandes empresas agroindustriais?

O quarto capítulo intitulado "A internalização da categoria "informação" na Geografia Econômica: da Teoria da localização à escola de Geografia Sueca.", de autoria de Fábio Contel, avalia a contribuição da incorporação da categoria "informação" no conhecimento geográfico, particularmente na Geografia Econômica, buscando apresentar ao leitor a teoria clássica da localização, com Johann Heinrich Von Thünen (1826), Alfred Weber (1909), Walter Christaller (1933), August Lösch (1950) e Edgar M. Hoover (1937, 1943, 1948 e 1971), bem como a escola de geografia sueca com Torsten Hägerstand, destacando dois temas de estudos: "difusão espacial das inovações" e "mobilidade" (com destaque para a análise das "migrações"), na teoria da "difusão das inovações", aproximando-se do conceito de informação. Traz à crítica de Gunnar Törnqvist à teoria da localização clássica, por considerá-la insuficiente, destacando que a mesma não conseguira fazer frente, na década de 1960, à nova realidade das atividades econômicas. Contel mostra, também, a contribuição do geógrafo norte-americano Allan Pred (1936-2007) na consolidação do uso da categoria "informação" no conhecimento geográfico. Destaca que a influência do legado Hägerstrand e a obra de Pred em importantes intelectuais da passagem século XX para o XXI, como Anthony Giddens (1984 e 1989), Milton Santos (1996) e Paul Krugman (1993 e 1997). O capítulo leva o leitor a refletir sobre necessidade de se pensar a categoria "informação" na análise da organização do espaço.

No quinto capítulo intitulado "A internacionalização do capital. Abordagens para a leitura das dinâmicas das grandes empresas internacionais", de Eliseu Savério Sposito e Leandro Bruno Santos, os autores buscam expor e contrapor as diversas teorias que procuram explicar o avanço de empresas no exterior, demonstrando seus pontos fortes e frágeis. Os autores chamam a atenção para o número de trabalhos sobre a temática da expansão das grandes empresas, que ultrapassam as fronteiras de seus territórios de origem, no entanto não há uma resposta analítica unificada e coerente para várias questões, entre elas: para onde são direcionados os investimentos diretos estrangeiros e as atividades das multinacionais? Por que as empresas se tornam multinacionais e quais seus impactos nas economias nacional e mundial? Em suas análises, os autores asseveram que: "nenhuma das correntes teóricas fornece uma resposta integrada da localização dos determinantes, das estratégias e das conseqüências globais das MN" (p.87).

Neste capítulo, a partir das análises de teóricos, os autores expõem suas análises em três diferentes dimensões: macro, meso e micro. Partindo de uma análise da dimensão macro, consideram a compreensão do sistema capitalista como um todo, destacando a perspectiva neoclássica, perspectiva marxista, nova divisão internacional do trabalho, destruição criativa; na dimensão meso trazem as contribuições da Economia Industrial, destacando a "Teoria do Ciclo de Vida do Produto", o papel dos oligopólios, a estratégia competitiva e, na dimensão micro, focam a análise na empresa e no empresário, com destaque para a abordagem comportamental, abordagem econômica e abordagem empresarial.

O capítulo permite uma leitura crítica do papel das multinacionais, trazendo uma reflexão sobre os impactos dos investimentos estrangeiros na economia nacional e internacional.

O sexto capítulo intitulado "Território e dinâmica econômica" de Lizandra Pereira Lamoso, aborda sobre a relação "Território - Dinâmica econômica", buscando compreender a natureza geográfica das dinâmicas econômicas. Para isso, a autora considera a "dinâmica econômica" "a partir de processos mais amplos de produção, circulação e consumo, incluindo de forma abrangente qualquer ação ou intencionalidade, que são dimensões não-materiais, assim como as ações e políticas públicas e privadas" (p.110). A autora reforça que utiliza o termo "dinâmicas econômicas" incorporando a dimensão territorial das atividades e não apenas as atividades em si. Destaca que ela pode ser compreendida nas três escalas: local, nacional e global. Ao tratar de "território" e "dinâmica econômica", a autora prioriza a "economia de exportação" para discutir como a inserção da economia brasileira no mercado internacional, define estruturas produtivas internas, bem como orienta determinadas frações do território nacional quanto ao papel de fornecedor de commodities. O artigo traz elementos importantes para compreensão do território brasileiro a partir das dinâmicas econômicas.

No sétimo capítulo "Capital estrangeiro no Brasil: parâmetros para/de uma internacionalização", Sandra Lúcia Videira aborda o processo de internacionalização da economia brasileira, dando ênfase à participação do capital estrangeiro no país. Ao analisar a trajetória do capital estrangeiro no Brasil, a autora afirma que na dinâmica atual de internacionalização da economia, o papel do Brasil tem se dado muito mais de forma receptiva que expansiva, pois o país recebeu mais empresas estrangeiras do que inseriu empresas nacionais em outros países. Destaca-se que uma das estratégias para esta acumulação pode ser identificada através de fusões e incorporações de empresas. A autora nos chama a atenção para mudanças na internacionalização da economia brasileira nas últimas décadas, destacando que " enquanto essa troca, parceria entre diferentes países seja no setor produtivo ou de serviços, tem revelado algumas mudanças quando comparada com outros momentos desse fenômeno, principalmente no que tange ao destaque de outros atores que não mais os tradicionais como o capital britânico e norte-americano, entre outros, mas novas figuras começam a se destacar, como o capital espanhol, o holandês, o mexicano por exemplo. Mudam-se os atores, mas permanece "a lógica mundial"em que os lugares são demarcados e escolhidos estrategicamente pelo capital hegemônico. (p.141)

Com este capítulo o leitor compreenderá a ação do capital estrangeiro no Brasil e suas alterações nas últimas décadas.

No oitavo capítulo:"Dinâmicas produtivas, logística e desenvolvimento territorial" de Frédéric Monié, o autor busca analisar a evolução do pensamento e das práticas logísticas à luz das dinâmicas que reestruturam permanentemente as economias e as sociedades e também suas conseqüências sobre as formas de organização e gestão dos espaços pelos atores econômicos e as autoridades políticas. Para ele, "a geografia econômica pode contribuir aos debates atuais a respeito do papel da logística na definição das arquiteturas e de transporte características do processo de globalização (p.145).

O autor assevera que "na literatura geográfica, com exceção dos países anglo-saxônicos, a logística é, na maioria dos casos, assimilada ao transporte, ao armazenamento e à gestão dos entrepostos. Esta dimensão é também a mais freqüente entre as autoridades políticas encarregadas de capacitar e ordenar uma base produtiva - local, nacional e, cada vez mais, macrorregional - mediante investimentos infraestruturais" (p.165). Neste capítulo, o autor comprende a logística como um componente central do planejamento, da organização, da gestão e da estratégia das empresas. Dessa forma, acrescenta que "A logística pode, com efeito, constituir uma das ferramentas para o crescimento das economias, a transformação das sociedades e da gestão dos espaços" (p.165). O capítulo traz elementos importantes para compreensão da logística para além do transporte, do armazenamento e escoamento, considerando-a como importante instrumento no planejamento, na organização e na gestão das empresas.

No nono e último capítulo "Reestruturação produtiva e suas implicações na indústria do Oeste Paulista", Maria Terezinha Serafim Gomes discute o processo de reestruturação produtiva e suas implicações na indústria do Oeste Paulista, particularmente nas cidades médias, tendo como referência as cidades de Araçatuba, Birigui, Marília, Presidente Prudente e São José do Rio Preto. A autora vê a reestruturação produtiva como transformações de ordem técnica ou do ponto de vista do trabalho e espacial, que vêm ocorrendo na indústria. Assevera que o processo de reestruturação produtiva nas indústrias do Oeste Paulista ocorreu, principalmente, após a abertura econômica dos anos 1990 e se aprofundou nos anos 2000. A autora apresenta uma riqueza de dados empíricos da pesquisa de campo junto a 55 empresas industriais na região Oeste Paulista. Chama-nos a atenção ao tratar da reestruturação produtiva, já que não se pode afirmar que todas as empresas são flexíveis, pois todas elas convivem com o "novo" e o "velho". Destaca-se que a incorporação de inovações tecnológicas, métodos e técnicas ocorrem de forma diferenciada segundo o porte da empresa, sendo mais expressiva nas médias e grandes empresas, bem como naquelas que exportam seus produtos e também nas empresas que foram instaladas recentemente. Além dessas mudanças, destacam-se mudanças na articulação dessas cidades, nas diferentes escalas geográficas, a inserção na divisão territorial do trabalho. O capítulo traz uma riqueza de dados empíricos para análise do processo de reestruturação produtiva nas cidades médias do Oeste Paulista.

O livro ora apresentado traz contribuições de temas ligados à Geografia Econômica, com uma riqueza teórica e metodológica apresentada pelos autores, alguns capítulos buscam expor resultados de pesquisas dos autores, que trazem em cada capítulo referências bibliográficas para aprofundamento dos temas. Fica aqui um convite à leitura do livro, tanto aos pesquisadores da área de Geografia Econômica quanto aos interessados pelos temas abordados.

Recebido em 17/04/2012 e aceito para publicação em 30/04/2012

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Jun 2012
  • Data do Fascículo
    Abr 2012
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