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Cana-de-Açúcar e Café na Região Extremo Sul da Bahia, Brasil: Uma Análise Espaço-Temporal e dos Fatores Socioeconômicos

Resumo

A Região Extremo Sul da Bahia (RESB) possui aptidão agrícola para diversas culturas e já foi sujeita à expansão da cana-de-açúcar e do café. Assim, esse trabalho analisa a dinâmica espacial e temporal das monoculturas da cana-de-açúcar e do café na RESB e sua relação com índices socioeconômicos. A metodologia consiste em coleta e análise dos dados junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que é o principal provedor de informações geográficas e estatísticas do Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), que é responsável por fornecer informações técnicas para apoiar a tomada de decisão sobre a elaboração de políticas voltadas para a agricultura, e a Plataforma Atlas Brasil. Foram coletados dados sobre a área plantada e a quantidade produzida de cana-de-açúcar e de café na região entre os anos 1988 e 2019. Para compreender a relação entre a expansão e os fatores socioeconômicos, foram levantados dados referentes ao Produto Interno Bruto (PIB) e Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). Este trabalho identificou os principais municípios produtores de cana-de-açúcar (Caravelas, Mucuri, Medeiros Neto, Nova Viçosa, Lajedão, Ibirapuã e Santa Cruz Cabrália) e de café (Prado, Itamaraju, Porto Seguro, Eunápolis, Teixeira de Freitas e Itabela), e a expansão desses cultivos apresenta importância econômica para a região, porém apresenta pouca contribuição para a melhoria dos diversos fatores que compõem o IDHM dos municípios. Esse estudo concluiu que a expansão desses cultivos alterou a matriz agrícola da região devido a sua especialização na produção desses cultivos em detrimento de outros como o cacau, por exemplo.

Palavras-chave:
Expansão agrícola; Monocultura; Fronteira agrícola; Índices socioeconômicos

Abstract

The região extremo sul da Bahia (RESB - Extreme Southern Region of Bahia) has agricultural aptitude for several crops and has already been subjected to the expansion of sugarcane and coffee. Thus, this work analyzes the spatial and temporal dynamics of sugarcane and coffee monocultures in the RESB and their relationship with socioeconomic indices. The methodology consists of collection and analysis of data from the Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), which is the main provider of geographic information and statistics in Brazil, the Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), which is responsible for providing technical information to support decision-making regarding the elaboration of policies aimed at agriculture and the Atlas Brasil platform. Data were collected regarding the planted area and the amount of sugarcane and coffee produced in the region between 1988 and 2019. To understand the relationship between expansion and socioeconomic factors, data related to gross domestic product (GDP) and municipal human development index (MHDI) were collected. This study identified the main sugarcane-producing municipalities (Caravelas, Mucuri, Medeiros Neto, Nova Viçosa, Lajedão, Ibirapuã and Santa Cruz Cabrália) and coffee (Prado, Itamaraju, Porto Seguro, Eunapolis, Teixeira de Freitas and Itabela). The expansion of these crops presents economic importance for the region, but presents a little contribution to the improvement of the various factors that make up the MHDI of the municipalities. This study concluded that the expansion of these crops changed the agricultural matrix of the region due to its specialization in the production of these crops to the detriment of others such as cocoa, for example.

Keywords
Agricultural expansion; Monoculture; Agricultural frontier; Socio-economic indices

INTRODUÇÃO

A Região Econômica Extremo Sul da Bahia (RESB) apresenta fatores favoráveis a expansão da cana-de-açúcar e do café, pois limita-se com a Mesorregião do Vale do Mucuri, localizada no nordeste do estado de Minas Gerais, que se destaca na produção da cana-de-açúcar; e com o Espírito Santo, responsável pela produção de cerca de 72,45% do café conilon nacional (FASSIO; SILVA, 2007FASSIO, L. H.; SILVA, A. E. S. Importância econômica e social o café Conilon. 2007. In: FERRÃO, R. G.; FONSECA, A. F. A.; BRAGANÇA, S. M.; FERRÃO, M. A. G.; DE MUNER, L. H. (Ed.). Café Conilon. Vitória: Incaper, 38-40 p., 2007. Disponível em: https://biblioteca.incaper.es.gov.br/digital/handle/item/694. Acesso em: 08 out. 2022.
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). Isso pode ser explicado pelo fato de que as microrregiões brasileiras próximas àquelas que possuem alta concentração na produção da mesma commoditie apresentam maiores oportunidades de manterem sua produção elevada durante um bom tempo, além de formar clusters produtores regionais (SOUZA; PEROBELLI, 2007SOUZA. R. M.; PEROBELLI, F. S. Diagnóstico espacial da concentração produtiva do café no Brasil, no período de 1991 a 2003. Revista de Economia e Agronegócio. v. 5, p. 353-377. 2007. https://doi.org/10.25070/rea.v5i3.109.
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).

A monocultura da cana-de-açúcar foi o primeiro grande ciclo econômico da RESB até meados do século XVI, fato que contribuiu para o seu povoamento (DOMPIERI et al., 2020DOMPIERI, M. H. G. et al., 2020. Análise do avanço e retração de cultivos agrícolas no extremo sul da Bahia, a partir do modelo Shift-Share. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 51, n. 3, p. 9-24, jul./set. 2020. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/218597/1/5373.pdf. Acesso em: 10 maio 2021.
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). Essa região é uma das principais produtoras de cana-de-açúcar da Bahia, apresentando sete dos dez municípios que tiveram maior área colhida de cana-de-açúcar em 2017 (IBGE, 2017).

A produção da cana-de-açúcar está localizada principalmente em duas áreas da região, uma situada mais ao norte, nos municípios de Santa Cruz Cabrália e Eunápolis, apresentando pouca representatividade, e outra na parte mais ao sul, nos municípios de Medeiros Neto, Caravelas, Lajedão e Ibirapuã, com maior representatividade (SEMA; LIMA, 2011SEMA - Secretaria do Meio Ambiente; LIMA - Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente. Avaliação Ambiental Estratégica dos Planos de Expansão da Silvicultura de Eucalipto e Biocombustíveis no Extremo Sul da Bahia. 2011. 481 pp. Disponível em: http://www.lima.coppe.ufrj.br/images/documentos/projetos/03_diagnosti.pdf. Aceso em: 10 fev. 2021.
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).

Já a produção de café, originou-se a partir da experiência de produtores capixabas (SILVA et al., 2017SILVA et al. Colheita e pós-colheita do café conilon. In: FERRÃO, R. G. et al. Café Conilon. Vitória, Espírito Santo. 2017. p. 495-507. Disponível em: http://portalcoffea.com/wp-content/uploads/2018/11/Livro-Cafe-Conilon-2a-Edicao.pdf. Acesso em: 14 mar. 2021.
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). Inicialmente esses agricultores ocuparam as áreas destinadas à pecuária e tornaram a produção de café uma das culturas que mais apresenta procura de terras na região (MALINA, 2013MALINA, L. L. A territorialização do monopólio no setor celulósico-papeleiro: a atuação da Veracel Celulose no Extremo Sul da Bahia. 2013. Dissertação (Mestrado em Geografia Humana) - Universidade de São Paulo, São Paulo. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-18022014-152910/pt-br.php. Acesso em: 10 fev. 2021.
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). Eles foram atraídos pelos baixos investimentos quanto ao custo das terras, fato que promoveu um desempenho satisfatório na produção do café conilon nessa região (VEGRO et al., 2017VEGRO, C. L. R.; SANTOS, E. H.; LEME, P. H. Mercado e Comercialização do Café Conilon. In: FERRÃO, R. G. et al (ed.). Café conilon. Vitória - ES: INCAPER, 2017. p. 601-620. Disponível em: http://biblioteca.incaper.es.gov.br/digital/handle/123456789/3114. Acesso em: 10 out. 2022.
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). Esses produtores são beneficiados pela tecnologia desenvolvida pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER) e pela Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel (COOABRIEL) (IBGE, 2016IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A geografia do café: dinâmica territorial da produção agropecuária. Rio de Janeiro: IBGE. 2016. E-book (36 p.). ISBN 978-85-240-4401-4. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=299002. Acesso em: 10 jan. 2021.
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), que são instituições que dão suporte aos produtores de café conilon do Espírito Santo. Assim, os municípios da RESB se tornaram os principais produtores de café conilon da Bahia.

Cabe frisar ainda que o estabelecimento e o desenvolvimento dessas culturas na RESB também são atribuídas as características ligadas ao clima, ao solo, a disponibilidade hídrica, bem como as mudanças promovidas nos sistemas de produção agrícola, a capacitação dos profissionais responsáveis pela assistência técnica e a organização social envolvida no processo produtivo (DOMPIERI et al., 2020DOMPIERI, M. H. G. et al., 2020. Análise do avanço e retração de cultivos agrícolas no extremo sul da Bahia, a partir do modelo Shift-Share. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 51, n. 3, p. 9-24, jul./set. 2020. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/218597/1/5373.pdf. Acesso em: 10 maio 2021.
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).

Embora seja notável o aumento das áreas de produção da cana-de-açúcar e do café na RESB e sua importância para a mesma, há uma escassez de estudos sobre esse fenômeno e sua interação com fatores socioeconômicos. Nesse sentido, a justificativa desse trabalho consiste em verificar a dinâmica da expansão da cana-de-açúcar e do café na RESB e sua contribuição para a elaboração de políticas públicas voltadas para o ordenamento territorial da região. E o seu objetivo consiste em analisar a dinâmica espacial e temporal das monoculturas da cana-de-açúcar e do café na RESB e sua relação com índices socioeconômicos locais.

MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo deste trabalho consiste nos principais municípios produtores da cana-de-açúcar e do café da RESB, localizada na porção sul do estado da Bahia, fazendo fronteira ao sul com o norte do estado Espírito Santo, à oeste com o Estado de Minas Gerais, ao norte com as regiões econômicas baianas Sudoeste e Litoral Sul e à leste com as margens do Oceano Atlântico (SEI, 2019SEI- Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia. Regiões Econômicas: Estado da Bahia. 2019. Disponível em: https://www.sei.ba.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2600&Itemid=661. Acesso em: 10 jun. 2021.
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).

Este estudo utilizou dados referentes ao período de 1988 a 2019 e sua escolha se deveu a disponibilidade de dados da Produção Municipal Agrícola (PAM), na base de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É importante destacar que todas as variáveis desse estudo foram analisadas dentro desse período. Porém, não foi possível conciliar as datas de todas as variáveis devido à ausência de dados nos diferentes bancos de dados.

Primeiramente, foi realizado um levantamento dos principais produtos agrícolas da RESB para a elaboração da sua matriz agrícola, a fim de apresentar o contexto em que ocorre a expansão da cana-de-açúcar e do café e para elucidar a atual relevância das culturas em estudo na RESB. Para isso, foram considerados os principais produtos agrícolas para o ano de 2019; porém não foram contempladas nessa análise as áreas destinadas à produção de eucalipto. A elaboração da matriz agrícola da região foi feita com base em dados de área plantada das diversas culturas produzidas na RESB e do seu percentual de ocupação.

Para análise sobre a expansão da cana-de-açúcar e do café foram utilizados dados de área plantada (ha) e de produção (t). Os dados foram obtidos a partir da Produção Agrícola Municipal (PAM), junto à base de dados do IBGE.

O mapeamento da expansão do café e da cana-de-açúcar foi elaborado com apoio do software livre QGIS, versão 3.10.14 LTR (Long term release repository). Foi adotado o Sistema de Coordenadas no DATUM SIRGAS 2000, código EPSG 31984. Foram adquiridos arquivos no formato shapefile da base cartográfica contínua do Brasil, na escala 1:250.000, versão 2019, junto ao IBGE. A análise dos mapas foi realizada a partir da categorização dos dados no software QGIS para evidenciar os principais municípios produtores de café e cana-de-açúcar na região.

Para análise socioeconômica foram utilizados dados do Produto Interno Bruto (PIB) e do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), e calculadas suas taxas de crescimento a partir da década de 1990.

Os valores do PIB foram obtidos junto ao Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA) para os anos 1999, 2009 e 2018, pois não foram encontrados dados referentes ao PIB a partir de 1988. Além disso, foram obtidos dados sobre as atividades agropecuárias que contribuem para o PIB por municípios para o ano de 2018 na Plataforma Geográfica Interativa do IBGE.

Foram obtidos dados de IDHM dos municípios da RESB para os anos 1991, 2000 e 2010. Não foi possível obter dados para anos anteriores a década de 1990, pois o IDHM foi publicado pela primeira vez em 1990. Esses dados foram obtidos junto a Plataforma de Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil (PNUD). O IDHM é calculado a partir da média geométrica dos IDHMs da longevidade, da educação e da renda. Para análise do mesmo, foi adotada a classificação do PNUD/IPEA (2013), considerando-o como: Muito Baixo IDHM (entre 0,000-0,499), Baixo IDHM (entre 0,500-0,599), Médio IDHM (entre 0,600-0,699), Alto IDHM (entre 0,700- 0,799) e Muito Alto IDHM (entre 0,800-1,000).

Para análise da dinâmica populacional foram coletados dados sobre a população urbana e rural entre os anos 1980 e 2010 na base de dados do IBGE. A análise foi realizada a partir da interpretação dos dados referentes ao cálculo do percentual das populações urbana e rural nesse período.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Matriz agrícola e expansão da cana-de-açúcar e do café na RESB

Os principais produtos agrícolas produzidos em 2019 na RESB foram: banana, borracha, cacau, café, cana-de-açúcar, coco, feijão, laranja, mamão, mandioca, maracujá, melancia, milho, palmito, pimenta-do-reino e urucum.

Analisando a matriz agrícola (Figura 1) da região nota-se que a cana-de-açúcar (33%) ocupa o primeiro lugar em termos de área plantada; o café (27%) ocupa a segunda posição, e a terceira posição é ocupada pelo cacau (19%) e o restante refere-se a outros cultivos agrícolas. Assim, a região se destaca na produção agrícola de cana-de-açúcar e de café, sendo a produção total deste da espécie Coffea canephora.

Figura 1
Percentual de área plantada (ha) dos produtos agrícolas da Região Extremo Sul da Bahia

Comparando os valores de 2019 com anos anteriores, verifica-se que a cana-de-açúcar e o café vêm se expandindo desde 1988 (Figura 2), tanto em termos da área plantada (hectares) quanto de produção (toneladas). Essa expansão justifica-se em função das políticas macroeconômicas e do aumento das demandas nacional e internacional, que impulsionaram o setor agrícola a partir da década de 1990 (EMBRAPA, 2018EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Visão 2030: O futuro da agricultura brasileira. Brasília: Embrapa, 2018. p. 212. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1090820/visao-2030-o-futuro-da-agricultura-brasileira. Acesso em: 14 maio 2021.
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).

Figura 2
Área plantada (ha) e quantidade (t) de Cana-de-açúcar (A), Café (B) e Cacau (C) produzidos na Região Extremo Sul da Bahia

Em contrapartida, verificou-se a redução da área plantada e da produção de cacau, antes considerado o principal produto agrícola da região. Apesar da RESB ter contribuído para a cacauicultura baiana, juntamente com o pólo Ilhéus-Itabuna, perdeu força frente aos investimentos dos grandes madeireiros e pecuaristas oriundos do Espírito Santo e de Minas Gerais (CERQUEIRA NETO, 2013CERQUEIRA NETO, S. P. G. Construção geográfica do Extremo Sul da Bahia. Revista de Geografia, Recife, v. 30, n. 1, p. 246-264, 2013.) e também devido ao ataque da lavoura cacaueira pela vassoura de bruxa.

Os dados indicam que o crescimento da área plantada e produção da cana-de-açúcar na RESB ocorre desde 1996 e 1997, respectivamente. A explicação para esse crescimento está associada ao fato de que o Brasil se tornou o maior produtor mundial de cana-de-açúcar a partir da década de 1980, principalmente em função do aumento do consumo interno de açúcar pela industrialização brasileira e pelo surgimento do etanol como nova demanda energética (DIAS, 2021DIAS, F. F. Alguns elementos sobre a cadeia produtiva da cana-de-açúcar no Brasil. Revista Geosul, Florianópolis, v. 36, n. 79, p. 116-142, mai./ago. 2021. https://doi.org/10.5007/2177-5230.2021.e73805.
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).

A partir de 1988, houve crescimento no aporte de área para plantio de café, com uma taxa de crescimento superior a 1.000% até 2019. Apesar das intensas secas que ocorreram na Bahia em anos anteriores a 2014, a RESB apresentou aumento na produtividade, principalmente em função da adesão dos produtores aos clones mais produtivos, à renovação das áreas antigas, ao aprimoramento no tratamento fitossanitário, ao melhoramento tecnológico e as melhorias no espaçamento das áreas de cultivo (CONAB, 2014CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra brasileira (safra 2014): café. v. 1, (3), 11-12, 2014. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/cafe/boletim-da-safra-de-cafe?start=30. Acesso em: 10 out. 2021.
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, p. 12). Isso revela que a estrutura voltada para o arranjo produtivo de café conilon do Espírito Santo é um fator positivo para os avanços da cafeicultura da RESB.

A redução da área plantada (ha) e da produção de café em 2019 em relação ao ciclo anterior resulta da erradicação das lavouras pouco produtivas (BRAINER, 2019, pBRAINER, M. S. C. P. Analise de aspectos da produção e mercado de café. Caderno Setorial ETENE, Fortaleza. n. 106, dez. 2019. Disponível em: https://www.bnb.gov.br/s482-dspace/bitstream/123456789/223/1/2019_CDS_106.pdf. Acesso em: 20 fev. 2022.
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. 6). Isso pode ser explicado pelas perdas econômicas causadas pelo ataque de pragas como a broca da haste e pelas intempéries climáticas, que causaram estresse fisiológico e prejudicaram a formação dos frutos do cafeeiro (CONAB, 2019CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra brasileira (safra 2019): café. v. 1, (1), 37, 2019. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/cafe/boletim-da-safra-de-cafe?start=30. Acesso em: 10 out. 2021.
https://www.conab.gov.br/info-agro/safra...
, p. 37).

Mapeamento da área plantada (ha) e da produção (t) de cana-de-açúcar e café dos municípios da RESB

O mapeamento da expansão das plantações de cana-de-açúcar (Figura 3) indica que em 1988 apenas os municípios de Santa Cruz Cabrália e Porto Seguro apontavam como principais produtores de cana-de-açúcar, embora outros municípios apresentassem uma área plantada inferior a 2.000 ha. Já em 1998, esses municípios perderam destaque, cedendo lugar para outros municípios produtores, como: Mucuri, Medeiros Neto, Nova Viçosa e Caravelas, seguidos do município de Eunápolis.

Figura 3
Expansão da área plantada (ha) e da produção (t) da cana-de-açúcar na RESB (1988-2019)

O deslocamento da produção da cana-de-açúcar para os municípios da porção sul da RESB formou um polo de produção dessa cultura que se consolidou até 2019, incluindo os municípios de: Caravelas, Mucuri, Ibirapuã, Nova Viçosa, Lajedão e Medeiros Neto. Esses 6 municípios, juntamente com Santa Cruz Cabrália, correspondem aos principais municípios produtores de cana-de-açúcar da RESB.

A RESB engloba quatro das sete usinas de produção de etanol da Bahia (Figura 4) (UNIÃO NACIONAL DA BIOENERGIA, 2020UNIÃO NACIONAL DA BIOENERGIA. Usinas/ Destilarias no mundo. 2020. Disponível em: https://www.udop.com.br/index.php?item=unidades&cn=am&id_pais=1. Acesso em: 28 dez. 2021.
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). Essa expansão de área plantada ocorreu próximo as áreas onde foram instaladas as usinas de produção de etanol hidratado e anidro, pois seis dos sete municípios maiores produtores de cana-de-açúcar da RESB estão localizados no entorno dessas usinas. Assim, a presença de usinas de produção de etanol na RESB (UNIÃO NACIONAL DA BIOENERGIA, 2020UNIÃO NACIONAL DA BIOENERGIA. Usinas/ Destilarias no mundo. 2020. Disponível em: https://www.udop.com.br/index.php?item=unidades&cn=am&id_pais=1. Acesso em: 28 dez. 2021.
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) contribui para que essa região se torne um polo de produção de biocombustíveis.

Figura 4
Usinas de produção de etanol nos municípios da Região Extremo Sul da Bahia

Essa tendência pode ser verificada em outras regiões produtoras de cana-de-açúcar, como a Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, onde os municípios que concentram a produção de cana-de-açúcar possuem usinas instaladas em seus territórios ou estão localizados no entorno das mesmas (MATOS; MARAFON, 2018MATOS, P. F.; MARAFON, G. J. O setor sucroenergético no Brasil: efeitos e contradições. In: MARAFON, G. J.; ARIAS, L. Q.; SÁNCHEZ, M. A. (org.), Parte I- Estudos territoriais no Brasil e na Costa Rica (online). Rio de Janeiro, 2018. p. 41-59. https://doi.org/10.7476/9788575114995.0003
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).

O mapeamento da expansão das áreas plantadas de café na RESB para os anos 1988, 1998, 2008 e 2019 (Figura 5) indica que, em 1988, apenas os municípios de Guaratinga, Itamaraju e Itanhém tiveram área plantada superior a 500 hectares, com destaque para o município de Itamaraju, em termos de produção de café.

Figura 5
Mapeamento da expansão da área plantada (ha) e produção (t) de café na Região Extremo Sul da Bahia (1988-2019)

Em 1998, o município de Itamaraju se mantém no cenário de principal produtor de café juntamente com o município de Prado, seguidos dos municípios de Itabela, Guaratinga, Jucuruçu, Itanhém e Teixeira de Freitas. Os dois municípios mantêm a posição de destaque em termos de área plantada de café em 2008, juntamente com o município de Itabela.

Em 2019, Prado e Itamaraju consolidam-se como os municípios que apresentam maior área plantada de café, seguidos pelos municípios de Eunápolis, Porto Seguro, Itabela e Teixeira de Freitas, totalizando os seis principais municípios produtores de café na RESB.

Salienta-se que, no período em análise, embora as culturas da cana-de-açúcar e do café estejam presentes na maioria dos munícipios da RESB concomitantemente, as maiores áreas plantadas para cada cultura concentram-se em municípios diferentes, não havendo munícipios com destaque em maior número de áreas plantadas para ambos monocultivos. Essa especialização produtiva em alguns lugares pode ocorrer devido a imposição de regras sobre as relações de produção por parte do mercado internacionalizado (TOLEDO, 2017TOLEDO, M. R. Especialização regional produtiva e a atual organização da agricultura no Brasil. Geografia, Londrina. v. 26. n. 2, p. 98-115. Jul./dez. 2017. http://dx.doi.org/10.5433/2447-1747.2017v26n2p98.
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). Isso significa que devido ao fato da demanda mundial pela cana-de-açúcar e café, isso impulsiona a sua produção em áreas produtoras dessas culturas.

Um fato observado no cenário de expansão da cana-de-açúcar e do café trata-se da concentração dos principais municípios produtores em determinadas zonas da RESB. Foi observada a formação de um núcleo localizado ao sul da região para a produção da cana-de-açúcar, próximo as usinas de etanol, e outra zona onde se concentram os municípios produtores de café. Essa distribuição espacial dos principais municípios produtores revela a não concorrência entre a produção das duas culturas, uma vez que o município que se destaca na produção da cana-de-açúcar não se destaca na produção do café.

Produto Interno Bruto (PIB) dos municípios produtores da cana-de-açúcar e do café da RESB

Analisando o percentual de contribuição da atividade agropecuária dos municípios da RESB para o PIB municipal entre 1999 e 2009, verificou-se que a maioria apresentou valores superiores aos percentuais de contribuição da agropecuária para o PIB da Bahia e do Brasil. Isso revela a importância da participação da agropecuária para o PIB da RESB (Tabela 1).

Tabela 1
PIB a preços correntes (em mil reais) dos municípios produtores de cana-de-açúcar e café da Região Extremo Sul da Bahia (1999- 2018)

Os municípios que apresentam maior taxa de crescimento entre 1999 e 2018 para o PIB total da região são: Ibirapuã, Porto Seguro, Eunápolis, Santa Cruz Cabrália, Teixeira de Freitas e Itapebi. Verifica-se que Eunápolis e Teixeira de Freitas apresentam um mercado aberto a outras atividades econômicas, pois receberam distritos industriais, principalmente voltados para o ramo madeireiro e de produção de papel e celulose, em 1993 e 1998, respectivamente (DIAS, 2019DIAS, M. S. Geografia histórica, cidade e memória: Narrativas que revelam a formação territorial de Itabatã (BA). 209 f. 2019. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade do Espírito Santo, Espírito Santo, 2019. Disponível em: http://repositorio.ufes.br/bitstream/10/11389/1/tese_13144_MAIARA%20DIAS%20-%20VERS%c3%83O%20FINAL.pdf. Acesso em: 30 nov. 2021.
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).

Assim, o crescimento do PIB da região entre 1996 e 2010 deve-se ao aumento da exportação de celulose e papel e a contribuição do setor industrial voltado para a produção de álcool (LEONEL, 2016LEONEL, M. S. Extremo Sul da Bahia: caracterização socioeconômica e os impactos da expansão do setor de base florestal. 2016. Tese (Doutorado em Economia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional) - Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/FACE-ADBH5J. Acesso em: 14 maio 2022.
https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/...
). Ele observa que a RESB sofreu uma transformação estrutural deixando de receber somente a contribuição de atividades agropecuárias e recebendo também a contribuição de fábricas e empresas de vários setores econômicos. Logo, a contribuição da produção da cana-de-açúcar e do café para o PIB ocorre no mesmo contexto onde há também incremento industrial voltado para a indústria de celulose e papel.

Os dados referentes a contribuição das atividades agropecuárias para os municípios da RESB em 2018 (Figura 6) revelam que entre os sete principais municípios produtores de cana-de-açúcar, o município de Caravelas, que ocupa o primeiro lugar no ranking dos principais produtores de cana-de-açúcar da RESB, foi o único que recebeu maior contribuição do PIB a partir da cana-de-açúcar. Os demais (Medeiros Neto, Lajedão, Mucuri, Ibirapuã e Teixeira de Freitas) receberam uma contribuição maior relacionada a produção de bovinos e aos produtos florestais (Nova Viçosa).

Figura 6
Atividades agropecuárias importantes para o PIB dos municípios da Região Extremo Sul da Bahia

É possível que isso tenha alguma relação com o fato da cana-de-açúcar ser uma cultura temporária, sendo necessários investimentos em outros produtos. Além disso, por ser uma cultura anual, a cana-de-açúcar pode ter um reflexo menor sobre o PIB se comparado à silvicultura do eucalipto, que possui um ciclo de cerca de cinco a sete anos.

Já o café apresentou uma contribuição maior para o PIB em cinco municípios da região: Eunápolis, Itabela, Porto Seguro, Itamaraju e Prado. Isso indica que a cafeicultura se trata de uma atividade relevante para a economia local e que os municípios produtores de café possuem especialização na cafeicultura. Considerando que o café é uma cultura perene, pode-se explicar sua representação para o PIB municipal nos principais municípios produtores de café.

De forma semelhante, no Mato Grosso, embora a produção e beneficiamento da cana-de-açúcar tenha um importante incremento, sua participação no PIB não é significativa quando comparada aos demais setores, pois, mesmo tendo incorporado o valor da produção de etanol hidratado em 2009, o impacto da cana-de-açúcar no PIB permaneceu abaixo de 2% no Estado (AZEVEDO JÚNIOR et al., 2021).

Em relação à contribuição da cafeicultura para o PIB no estado do Espírito Santo, verifica-se que essa foi a maior atividade agropecuária que contribuiu para o valor adicionado bruto agropecuária por regiões rurais em 2018 (IBGE, 2020IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. PIB dos Municípios 2018 - Atividades agropecuárias mais importantes. Rio de Janeiro: IBGE, 2020. E-book (16 p.) ISBN 978-65-87201-39-9. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/contas-nacionais/9088-produto-interno-bruto-dos-municipios.html?edicao=29720&t=resultados. Acesso em: 11 ago. 2022.
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/eco...
). Comparando com os dados da RESB quanto ao alcance de maiores patamares econômicos relacionados a contribuição do café para o PIB dessa região, pode-se verificar que tal cultura mostra-se bastante eficaz para a economia local.

Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) dos municípios produtores da cana-de-açúcar e do café da RESB

Os principais municípios produtores de cana-de-açúcar e de café da RESB (Tabela 2) apresentaram crescimento no IDHM entre os anos 1991 e 2010. Analisando as taxas de crescimento do IDHM de cada um dos municípios da RESB, verificou-se que elas foram superiores as taxas de crescimento estadual e nacional no mesmo período, salvo exceção de Medeiros Neto e Lajedão. Isso indica que a região recebeu influência da expansão da cana-de-açúcar e do café para os principais municípios produtores e para os municípios vizinhos.

Tabela 2
IDHM dos principais municípios produtores da cana-de-açúcar e do café da Região Extremo Sul da Bahia (1991-2010)

Analisando a posição ocupada pelos principais municípios produtores da cana-de-açúcar da RESB quanto a taxa de crescimento do IDHM, verifica-se que entre os principais municípios produtores de cana-de-açúcar que lideram o ranking de produção estão Mucuri e Caravelas. Em contraste, os municípios de Medeiros Neto e Lajedão assumem as posições inferiores. Entre os principais produtores de café que apresentaram maior taxa de crescimento do IDHM estão Prado e Itabela e os que apresentaram menor taxa de crescimento são Teixeira de Freitas e Eunápolis.

Ao verificar a contribuição dos Índices de Renda, Longevidade e Educação para o crescimento do IDHM desses municípios, é perceptível que todos obtiveram crescimento entre 1999 e 2010.

Os IDHMs de renda e de longevidade da RESB apresentaram crescimento, sendo classificados em médio e alto, respectivamente. Entretanto, o IDHM de Educação é classificado como muito baixo e baixo. Isso significa que apesar do crescimento no IDHM, alguns municípios principais produtores de cana-de-açúcar e do café não trouxeram avanços nas diversas esferas sociais, demandando maiores investimentos em políticas públicas voltadas para a educação.

O estudo do perfil educacional dos trabalhadores rurais merece atenção, pois a educação é determinante para a questão salarial dos mesmos. Um estudo realizado sobre o mercado de trabalho do setor sucroalcooleiro no Brasil indica que apesar do crescimento do número de anos de estudos dos trabalhadores, o mesmo ainda é baixo, conforme escala do IDHM (MORAES, 2007MORAES, M. A. F. D., 2007. Indicadores do Mercado de Trabalho do Sistema Agroindustrial da Cana-de-Açúcar do Brasil no Período 1992-2005. Estudos Econômicos (São Paulo), v. 37, 875-902, 2007. https://doi.org/10.1590/S0101-41612007000400007.
https://doi.org/10.1590/S0101-4161200700...
).

População nos municípios produtores de cana-de-açúcar e café na RESB

O crescimento populacional na RESB ocorre desde 1980 e permanece nas décadas subsequentes, acompanhando a tendência do Brasil. No final dos anos 1990, o início da expansão da cana-de-açúcar e do café na RESB, visando torna-la um pólo de produção de biocombustível e a fim de impulsionar a produção de café conilon da Bahia. Além disso, o desenvolvimento do turismo e da eucaliptocultura nesse período podem ter exercido uma pressão sobre a região (ALMEIDA, 2008ALMEIDA, T. M. et al. Reorganização socioeconômica no extremo sul da Bahia decorrente da introdução da cultura do eucalipto. Sociedade e Natureza (Online), Uberlândia. v. 20. n. 2, dec. 2008. Access on https://doi.org/10.1590/S1982-45132008000200001
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). Tais atividades podem, juntas, ter fomentado esse crescimento populacional na RESB.

Além do crescimento da população total, houve também aumento da população urbana em detrimento da população rural em toda a região. Isso reflete que as atividades econômicas realizadas no campo não foram suficientes para a fixação da população na zona rural (Tabela 3).

Tabela 3
Dinâmica populacional urbana e rural dos principais municípios produtores de cana-de-açúcar e café da Região Extremo Sul da Bahia

Diante disso, a expansão de commodities agrícolas no Brasil (para fins de exportação), fomenta a integração da economia brasileira ao mercado internacional, podendo representar um risco para a segurança alimentar da população brasileira (FLEXOR et al., 2022FLEXOR, G.; KATO, K.; LEITE, S. P. Transformações na agricultura brasileira e os desafios para a segurança alimentar e nutricional no século XXI. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2022. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/52399. Acesso em: 12 out. 2022.
https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict...
). Essa situação pode ser explicada pelo fato de que o desenvolvimento dos projetos voltados para o agronegócio tem maior contribuição para os aspectos econômicos regionais, em detrimento das questões sociais. Um exemplo disso por ser visto em um trabalho realizado sobre os conflitos socioambientais na RESB, que traz dados sobre diversos problemas inerentes a concentração fundiária da região (FERREIRA et al., 2019FERREIRA, C. L. R.; PEREIRA, K. A.; LOGAREZZI, A. J. M. Territorialização no extremo sul da Bahia e conflitos socioambientais: disputando modelos de educação e desenvolvimento. Geosul, Florianópolis, v. 34, n. 71, p. 739-764, abr. 2019. http://doi.org/10.5007/1982-5153.2019v34n71p739
https://doi.org/10.5007/1982-5153.2019v3...
).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A RESB apresentou transformações quanto ao desenvolvimento das atividades agrícolas no período estudado em função de fatores internos (condições edafoclimáticas, disponibilidade de área para expansão agrícola) e externos (regulação de políticas de apoio à expansão agrícola, influência de regiões próximas produtoras de cana-de-açúcar e do café e as demandas de mercado).

Verificou-se que as culturas da cana-de-açúcar e do café tem apresentado crescimento em termos de área e produção desde os anos 1988, e que 13 dos 21 municípios da RESB ocupam posição de principais produtores da cana-de-açúcar (Caravelas, Mucuri, Medeiros Neto, Lajedão, Ibirapuã, Nova Viçosa e Santa Cruz Carbália) e do café (Prado, Itamaraju, Porto Seguro, Eunápolis, Teixeira de Freitas e Itabela).

Alguns dos municípios que produzem cana-de-açúcar na RESB se destacam no ranking dos principais municípios produtores dessa cultura na Bahia, sendo que a proximidade das usinas produtoras de etanol em Minas Gerais cria uma demanda para as áreas produtoras de cana-de-açúcar na RESB, a exemplo da cidade de Serra dos Aimorés, pertencente a mesorregião mineira do Vale do Mucuri, onde localiza-se a Destilaria de Álcool Serra dos Aimorés (DASA).

No caso do café, há uma forte influência do Espírito Santo para a busca de novas áreas para expansão dessa cultura devido, principalmente, à facilidade econômica para a aquisição de terras. Devido a isso, a RESB se destaca como a única região produtora do café conilon na Bahia.

Apesar da importância econômica da cana-de-açúcar e do café para os principais municípios produtores, em 2018 foi possível concluir que também existem outras atividades significativas para a RESB e para o incremento do PIB na mesma. No caso da cana-de-açúcar, a consolidação da agroindústria do etanol pode impulsionar a contribuição para o PIB. E embora esse setor tenha enfraquecido pela pandemia da COVID-19 e tenha que enfrentar o desafio da tendência mundial quanto ao crescimento dos veículos elétricos, espera-se que a retomada da produção de etanol ocorra de forma gradativa, considerando que sua produção é voltada principalmente para abastecer o mercado interno (VIDAL, 2020VIDAL, F. Produção e mercado de etanol. Caderno Setorial ETENE, 2020. Disponível em: https://www.bnb.gov.br/s482-dspace/handle/123456789/1196. Acesso em: 20 out. 2022.
https://www.bnb.gov.br/s482-dspace/handl...
).

Em contrapartida, os impactos da produção da cana-de-açúcar e do café no IDHM dos municípios produtores indicam que, apesar do aumento, é necessário realizar investigações mais profundas sobre os potenciais impactos para a sociedade e para o ambiente.

Conclui-se ainda que, quanto à distribuição espacial dos produtores de cana-de-açúcar e de café, houve alterações nos principais municípios produtores quando comparado à área ocupada por essas culturas em relação as demais. Esse fato é corroborado pela análise realizada sobre a matriz agrícola da RESB, em que foi identificou-se que as áreas ocupadas pela cana-de-açúcar e pelo café vem se destacando em detrimento da cacauicultura.

REFERÊNCIAS

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    15 Ago 2022
  • Aceito
    09 Nov 2022
  • Publicado
    10 Mar 2023
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