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Intensidade do mal das folhas em plantas jovens e adultas de seis clones de seringueira na região do Vale do Ribeira: South American leaf blight intensity evaluated in six clones of young and adult rubber trees in the Vale do Ribeira region, São Paulo state, Brazil

Resumos

Clones de seringueira podem ter comportamento diferenciado, quanto à intensidade de sintomas causados por Microcyclus ulei, se estes são avaliados na idade jovem ou adulta, pela presença ou ausência de folhas maduras e ascoporos, concomitantemente com fluxos de folhas novas suscetíveis. Foi objetivo do presente trabalho avaliar seis clones de seringueira com um e oito anos de idade, quanto à intensidade de sintomas do mal das folhas, na região do Vale do Ribeira, Estado de São Paulo. Os resultados permitiram observar que os clones mais atingidos pela doença na fase jovem foram: FX 3864, RRIM 600, IAN 873 e IAN 717, na idade adulta os clones RRIM 600, IAN 717 e FX 3864. O clone IAN 873 teve uma das menores quantidades de doença na fase adulta, que pode ser explicado pela troca uniforme das folhas e um re-enfolhamento compacto numa época desfavorável ao patógeno, ocorrendo o fenômeno da evitação ou evasão no tempo.

Microcyclus ulei; incidência; evitação; evasão no tempo


Rubber tree clones present different intensity of symptoms, depending on their age. This is mostly clearly seen inthe presence or absence of old leaves with ascopores, corresponding to flows of new and susceptible leaves. The objective of this work was to evaluate the intensity of symptoms of South American leaf blight (SALB) in six rubber tree clones, one and eight years old, in the Vale do Ribeira region, São Paulo state. The results showed that clones FX 3864, RRIM 600, IAN 873 and IAN 717 suffered more attacks when young, and RRIM 600, IAN 717 and FX 3864 when adult. The clone IAN 873 showed the smallest amounts of disease in the adult phase, due to uniform change in the leaves and a compact flow of new leaves, which happened during a season that was unfavorable to pathogen infection, presenting the phenomenon of avoidance or evasion in time.

Microcyclus ulei; incidence; avoidance; evasion


RESEARCH ARTICLE ARTIGO

Intensidade do mal das folhas em plantas jovens e adultas de seis clones de seringueira na região do Vale do Ribeira

South American leaf blight intensity evaluated in six clones of young and adult rubber trees in the Vale do Ribeira region, São Paulo state, Brazil

Edson Luiz FurtadoI; José O.M. MentenII; José Raimundo PassosIII

IDepartamento de Produção Vegetal, Universidade Estadual de São Paulo - UNESP, Cx. Postal 237, 18603-970, Botucatu, SP, Brasil

IIDepartamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola, ESALQ, Universidade de São Paulo, Cx. Postal 09, 13418-900, Piracicaba, SP, Brasil

IIIDepartamento de Bioestatística, Universidade Estadual de São Paulo - UNESP, Cx. Postal 237, 18603-970, Botucatu, SP, Brasil

RESUMO

Clones de seringueira podem ter comportamento diferenciado, quanto à intensidade de sintomas causados por Microcyclus ulei, se estes são avaliados na idade jovem ou adulta, pela presença ou ausência de folhas maduras e ascoporos, concomitantemente com fluxos de folhas novas suscetíveis. Foi objetivo do presente trabalho avaliar seis clones de seringueira com um e oito anos de idade, quanto à intensidade de sintomas do mal das folhas, na região do Vale do Ribeira, Estado de São Paulo. Os resultados permitiram observar que os clones mais atingidos pela doença na fase jovem foram: FX 3864, RRIM 600, IAN 873 e IAN 717, na idade adulta os clones RRIM 600, IAN 717 e FX 3864. O clone IAN 873 teve uma das menores quantidades de doença na fase adulta, que pode ser explicado pela troca uniforme das folhas e um re-enfolhamento compacto numa época desfavorável ao patógeno, ocorrendo o fenômeno da evitação ou evasão no tempo.

Palavras chave: Microcyclus ulei, incidência, evitação, evasão no tempo.

ABSTRACT

Rubber tree clones present different intensity of symptoms, depending on their age. This is mostly clearly seen inthe presence or absence of old leaves with ascopores, corresponding to flows of new and susceptible leaves. The objective of this work was to evaluate the intensity of symptoms of South American leaf blight (SALB) in six rubber tree clones, one and eight years old, in the Vale do Ribeira region, São Paulo state. The results showed that clones FX 3864, RRIM 600, IAN 873 and IAN 717 suffered more attacks when young, and RRIM 600, IAN 717 and FX 3864 when adult. The clone IAN 873 showed the smallest amounts of disease in the adult phase, due to uniform change in the leaves and a compact flow of new leaves, which happened during a season that was unfavorable to pathogen infection, presenting the phenomenon of avoidance or evasion in time.

Keywords:Microcyclus ulei, incidence, avoidance, evasion.

INTRODUÇÃO

Dentre as espécies de plantas laticíferas sobressaem as do gênero Hevea, da família Euphorbiaceae, tanto pela quantidade como pela qualidade de látex produzido. No Brasil, os plantios comerciais se iniciaram em 1927 em Fordlândia PA e em 1934 em Belterra PA. Fora do seu habitat natural, plantações foram iniciadas no Estado de São Paulo em 1917 e 1940 (Gonçalves et al. 1991), e na Bahia em 1926, mais destinados à observação e ao sombreamento do cacaueiro do que para a exploração de látex (Dean,1989).

As folhas da seringueira são formadas durante o período de atividade apical, bastante variável. Sob condições favoráveis, na região amazônica, forma-se uma brotação nova a cada 30 a 45 dias (Moraes, 1982), prazo que se estende por até 60 dias no planalto paulista (Camargo, 1967). Durante o período juvenil das plantas, a longevidade das folhas podem ultrapassar um ano sob condições normais. Na espécie Hevea brasiliensis (Wild. ex. A. Juss) Muell. Arg., a partir do terceiro ano de idade, após a formação da copa, o fluxo de folhas passa a apresentar periodicidade anual, caracterizada pela senescência e queda de folhas, seguida de um fluxo uniforme de brotações. As plantas podem ficar totalmente desfolhadas entre duas a seis semanas, sendo a duração e a intensidade dependente da constituição genética, deficiência hídrica, nutrição e ataque de patógenos (Holliday, 1970; Chee & Holliday, 1986).

O hábito decíduo é importante para a seringueira, uma vez que protege as plantas contra os fungos endêmicos de folhas, pois o inóculo não poderia sobreviver ao período hibernal. Langford (1945) chamou a atenção que em regiões úmidas da América Central este fenômeno é negativo, pois faz com que se concentre o tecido suscetível e isto faz com que o inóculo multiplique e, consequentemente, a intensidade dos sintomas do mal das folhas causada por Microcyclus ulei (Henn.)Arx.

Quanto ao hábito fenológico das plantas adultas, os clones obtidos do cruzamento de H. brasiliensis com H. benthamiana Muell. Arg. tendem a apresentar senescência tardia, escalonada e sem uniformidade (Moraes, 1982; Furtado, 1990). Os híbridos de H. brasiliensis com H. pauciflora Muell. Arg. apresentam queda e emissão de novos lançamentos durante o ano todo. O desfolhamento uniforme do clone é uma característica muito importante, pois proporciona a redução do inóculo localizado nas folhas velhas e uniformiza as brotações (Medeiros, 1976; Chee & Wastie, 1980; Furtado, 1990).

Um dos problemas nos programas de melhoramento foi a seleção precoce em viveiros de seleção e jardins clonais, sendo que o caráter deciduifólio das plantas não foi considerado uma das formas de defesa (evitação ou evasão no tempo), muito útil como medida adicional para o controle do mal das folhas não foi considerada ou sequer identificada e explorada (Menten, 1990; Furtado, 1990; 2007).

Menten (1990) apontou que um dos principais métodos de controle de doença se dá através de mecanismos de defesa da própria planta, as quais apresentam uma série de vantagens em relação às outras opções de controle, principalmente referente aos aspectos econômicos, ecológicos e práticos. A seringueira adulta atinge de 20 a 25 metros de altura, o que dificulta a aplicação de fungicidas ou desfolhantes com equipamentos convencionais, encarecendo sobremaneira o custo do tratamento (Furtado, 2007).

Medeiros & Bahia (1971) já chamavam a atenção para a necessidade de selecionar clones de seringueira com base no seu comportamento fenológico, cujo controle do mal das folhas se daria por " escape" , cujo termo evasão seria melhor aplicado (Pereira, 1988; Menten, 1990), já que escape significa a não ocorrência da doença em determinado indivíduo ou órgão da planta por estes tecidos não terem recebido o inóculo do patógeno, ou seja, sem ocorrer a inoculação (Robinson, 1976). Pereira (1988), estudando o comportamento de progênies do cultivar FX 25, observou que apesar de suscetíveis ao patógeno, as plantas conseguiam evitá-lo, em função do hábito caduco das folhas. Esta autora lembra que este fenômeno é diferente da evasão que é um princípio geral de controle, no qual se efetua a defesa das plantas via plantio em locais inóspitos ao patógeno, onde o inóculo não seja infectivo, raro ou ausente (Menten, 1986).

Pereira (1988) apontou que o hábito fenológico da maioria dos clones é pouco estudado e muito variável de região para região. Com este conhecimento, mesmo um clone sendo altamente suscetível poderia ser recomendado para plantio, desde que este fator lhe seja favorável.

Objetivou-se no presente trabalho avaliar seis clones de seringueira, em idade jovem (um ano) e em idade adulta (oito anos), quanto à intensidade de sintomas do mal das folhas.

MATERIAL E MÉTODOS

As coletas de dados foram realizadas na Fazenda Umuarama, município de Registro SP, a uma altitude média de 52 m, localizada a uma latitude de 24º 24’S e longitude de 47º 45’W. Dados históricos regionais mostraram que a temperatura variou de 24,9ºC em fevereiro, a 17,6ºC, em julho, com uma média anual de 21,2ºC. A precipitação pluvial média ficou em 1.742 mm por ano, se concentrando no período de dezembro a março e com as menores precipitações no período de julho e agosto, formando um excedente anual de 724 mm. O solo predominante é do tipo Podzólico Amarelo Álico, de textura argilosa a muito argilosa, com drenagem moderada. O relevo oscila de ondulado a fortemente ondulado, com baixadas sujeitas a acúmulo de água e formação de várzeas. O seringal é constituído de maciços monoclonais, cobrindo as encostas e topos dos morros, oriundos de mudas enxertadas no próprio local.

Os clones avaliados foram: FX 3844: Clone secundário desenvolvido pela Cia. Ford, resultando do cruzamento dos clones primários de H. brasiliensis: AVROS 183 (Sumatra) e FB 45 (Ford Belém); FX 3864: Clone secundário desenvolvido pela Cia. Ford, resultando do cruzamento dos clones primários de H. brasiliensis: PB 86 (Malásia) e FB 38 (Ford Belém); FX 2261: Clone secundário desenvolvido pela Cia. Ford, resultando do cruzamento dos clones primários de H. brasiliensis: F 1619 (Fordlândia) e AVROS 183 (Sumatra). IAN 873: Clone secundário desenvolvido pelo antigo Instituto Agronômico do Norte, resultando do cruzamento dos clones primários de H. brasiliensis: PB 86 (Malásia) e F 1717 (Fordlândia); IAN 717: Clone secundário desenvolvido pelo antigo Instituto Agronômico do Norte, resultando do cruzamento dos clones primários de H. brasiliensis e H. benthamiana: PB 86 (Malásia) e F 4542 (Fordlândia), respectivamente; RRIM 600: Clone secundário desenvolvido pelo " Rubber Research Insitutute of Malayasia" , resultando do cruzamento dos clones primários de H. brasiliensis: TJ (Tjir = Tjirandji) 1 (Libéria) e PB 86 (Malásia). A alta produção é o ponto de destaque desse clone em todos os países onde foi testado (Gonçalves et al. 1991)e foi utilizado no presente estudo como padrão de suscetibilidade.

Estes clones encontram-se na Fazenda Umuarama tanto em jardim clonal como em plantio definitivo. No primeiro, as plantas jovens, com um ano de idade, se encontravam dispostas em blocos, um ao lado do outro, no espaçamento de 1,0 x 1,0 m, em número de cinco ruas por clone, perfazendo um total de 250 plantas cada, aproximadamente. No plantio adulto, as plantas se encontram em blocos monoclonais, dispersos pela propriedade, em espaçamento 7,0 x 3,0 m, que possuíam um número médio de 600 árvores por talhão.

As avaliações foram efetuadas no período de dois anos consecutivos. As coletas dos folíolos em plantas jovens seguiram uma periodicidade quinzenal, colhendo-se 30 folíolos novos e 10 folíolos velhos, estes em menor número para possibilitar a coleta mesmo nos cultivares mais suscetíveis; em 10 plantas marcadas. No plantio definitivo, as amostragens tiveram uma periodicidade semanal, coletando-se os folíolos caídos em cestos previamente confeccionados com tela plástica do tipo sombrite, de boca quadrada, com dimensões de 1,0 x 1,0 m, por 0,5 m de profundidade, metodologia modificada de Lima (1987), previamente instaladas no local, em número de quatro cestos por clone, distribuídos ao acaso, nas entrelinhas, em cada talhão. Todos os folíolos caídos dentro dos mesmos e ou coletados nas plantas jovens foram recolhidos separadamente, por clone, embalados em sacos de papel e transportados ao laboratório. Anotações de campo foram efetuadas quanto às fases fenológicas, presença ou ausência de brotação nova, re-enfolhamento e intensidade de desfolha, de acordo com a escala diagramática de Gomes et al. (1982), modificada por Furtado (1990).

A doença foi quantificada a partir dos folíolos coletados e classificados nos diferentes estádios de desenvolvimento, apresentando ou não sintomas característicos do mal das folhas, em cada fase (jovem maduro e senescente) e esporulação do patógeno: conidial ou estromática. Os resultados foram expressos em percentagem de folíolos jovens lesionados (PFJL), percentagem de folíolos velhos lesionados (PFVL) e número de lesões em folíolos jovens e velhos (NLJ e NLV, respectivamente) presentes em discos de 2,0 cm2 de área do folíolo, retirados da parte central dos mesmos com um vazador de rolha metálico.

Com os dados em proporção acumulados de incidência (PFLV e PFLJ) e intensidade de sintomas (NLJ e NLV), determinou-se a correlação existente entre os métodos de avaliação, tanto por idade dos folíolos como por fase da cultura, visando à escolha da melhor variável para os estudos posteriores acerca do progresso da doença no tempo, nas duas idades e possíveis comparações entre elas.

As comparações entre clones, em diferentes fases, foram efetuadas através da análise de regressão entre os dados acumulados de doença (y) e o tempo (x), expresso em dias, comparados segundo o modelo de regressão linear simples (Y = a + bx + ui). As taxas de crescimento (r) e taxas de acúmulo de doença (TAD) e os valores do inóculo inicial (xo), de cada cultivar em cada fase foram comparadas entre si através do teste de Bonferroni e teste t. A análise estatística dos dados e a verificação da autocorrelação, entre os resíduos obtidos, foi efetuada através do sistema de análises SAS.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Relações entre as variáveis estudadas

As análises dos resultados das plantas jovens demonstram que as variáveis estão relacionadas linearmente entre si, com valores de b variando de 0,86 a 1,09, para os dados totais e de 0,82 a 1,19 entre PFVL*PFJL entre os seis cultivares estudados. Os dados obtidos para FX 3844 (b = 0,0259) distanciaram destes valores, devido a baixa intensidade de doença apresentada por este clone (Tabela 1 e 2). Nos resultados das plantas adultas, as variáveis se relacionam por modelos não lineares: logarítmico natural, exponencial ou de potenciação. FX 2261 apresentou um modelo semelhante ao modelo obtido para RRIM 600 e IAN 873 e IAN 717, para a relação de PFVL*PFJL. Como os valores do coeficiente de correlação estiveram sempre acima de 0,90, tornou-se possível fazer estimativas a partir de uma variável, através do modelo adequado, independente do clone e da idade da planta.

Para as comparações adotou-se a variável percentagem de folíolos lesionados (PFVL), pela facilidade na obtenção dos dados nas avaliações e devido à alta correlação. O papel da quantificação da doença é o de fornecer dados quantitativos e qualitativos dos sintomas apresentados, por meios de parâmetros simples que possam ser usados na medida da prevalência e severidade de determinada doença. A medida adequada do crescimento e desenvolvimento do patógeno permite avaliar a resistência do hospedeiro, ou seja, os sintomas avaliados refletem quantitativamente o crescimento do patógeno no hospedeiro (Parlevliet, 1979). Vários trabalhos podem ser citados, como o efetuado por Camargo et al. (1967), visando conhecer a ecologia do sistema Hevea - M. ulei em plantas jovens na região do Vale do Paraíba, estado de São Paulo. Rocha & Vasconcelos (1979) estimaram a incidência do mal das folhas da seringueira, no litoral da Bahia, procedendo à contagem dos folíolos caídos devido à infecção por M. ulei. Pereira (1988) utilizou também a incidência para quantificar a doença em quatro cultivares de seringueira na região do Vale do Ribeira. Dentre os métodos de quantificação, aquele que é mais fácil de ser mensurado é a incidência, dada pela percentagem de folíolos lesionados (Furtado, 1990).

A incidência, como medida mais acurada e mais fácil de se determinar do que a severidade, muitas vezes é preferida e utilizada para estimar a segunda. Vários trabalhos foram efetuados visando verificar correlações entre elas. Rayner (1961) demonstrou que existe uma relação exponencial entre a percentagem de folhas com ferrugem e o número de lesões por folha de cafeeiro atacada por Hemileia vastatrix Berk. e Br. Gonçalves (1968) avaliou o comportamento de oito cultivares de seringueira em cinco regiões tradicionais na exploração da cultura, avaliando-os por quatro tipos de reação em função do número de lesões estromáticas. Peralta et al. (1990), além de se preocuparem com a quantificação da doença, apontam para as necessidades de se determinar os parâmetros monocíclicos e da evolução da doença no tempo. Na cultura da seringueira, esta metodologia tem sido empregada para estudos epidemiológicos (Bergamin Filho, 1984; Gasparotto, 1988; Parizzi, 1991) e avaliação da resistência de clones (Pereira, 1988; Furtado, 1990).

Comportamento dos clones quanto à intensidade de doença em duas idades distintas

Verificou-se o comportamento dos clones quanto ao desenvolvimento da epidemia em função do tempo para os dois anos considerados, utilizando-se da variável PFVL, para as plantas jovens e adultas, em seis cultivares comerciais (Figura 1; Tabela 3 e 4). Pelos resultados da Figura 1 e análises dos valores do intercepto (a ou alfa) e de paralelismo das retas (b ou beta) da Tabela 3, para o primeiro ano, pôde-se verificar que não houve diferença significativa entre os valores obtidos para os diferentes cultivares nas plantas jovens. Nas plantas adultas, os menores valores de alfa foram observados em RRIM 600, IAN 717 e FX 3864. Quanto aos valores obtidos para b, ou taxa de aumento da doença em função do tempo, verificou-se que FX 3844, padrão de resistência, apresentou o menor valor enquanto RRIM 600 o maior valor; mas, estatisticamente igual aos valores registrados em IAN 873, IAN 717, FX 3864 e RRIM 600. Nas plantas adultas os menores valores da taxa foram para FX 3844 e IAN 873. Os clones IAN 717 e RRIM 600 apresentaram as maiores taxas.


A Tabela 4 contém os resultados referentes ao segundo ano, onde pode ser verificado que RRIM 600 e IAN 717, com os menores valores da interseção a para as plantas adultas, não havendo diferença para plantas jovens. Os valores de b, apesar de cinco vezes maior que o ano anterior, para FX 3844, manteve-se menor que os obtidos pelos demais cultivares; FX 2261, ficou em segundo lugar com uma taxa mais de dez vezes maior que FX 3844. Os demais cultivares (FX 3864, IAN 873, IAN 717 e RRIM 600) se assemelharam entre si, com os maiores valores da taxa de aumento da doença, no plantio jovem. Nos resultados referentes ao plantio adulto, o menor valor da taxa foi obtido por FX 3844, repetindo a performance obtida no jardim clonal, seguido por IAN 873 e FX 2261. FX 3864, IAN 717 e RRIM 600 que apresentaram valores maiores.

Comparando os valores de b nas duas fases da cultura, no primeiro ano de avaliação: plantio jovem e plantio adulto, nos dois anos consecutivos, observou-se um ordenamento dos cultivares em três grupos de similaridade no jardim clonal: FX 3844, como taxa baixa, FX 2261, FX 3864, IAN 873 e IAN 717, com taxa moderada e RRIM 600, como taxa alta. Os plantios adultos formaram cinco grupos: I-FX 3844 e IAN 873; II-FX 2261; III-FX 3864; IV-RRIM 600 e V-IAN 717. Foram observados quatro grupos de similaridade, no plantio adulto, no segundo ano: I-FX 3844; II-FX 2261 e IAN 873; III-FX 3864 e IAN 717 e IV-RRIM 600.

Um fato a se destacar é a mudança de comportamento do clone IAN 873 em função da idade das plantas, ficando em segundo (b =0,00227) e terceiro grupo (b =0,00214) no jardim clonal quando comparado ao padrão suscetível RRIM 600, e classificado no primeiro (b =0,00025) e segundo grupo (b =0,00036) no plantio adulto, quando comparado ao padrão resistente FX 3844. A diferença de comportamento de FX 2261 surgiu (com b =0,00140 e 0,00158, em jardim clonal, 0,00073 e 0,00046, no plantio adulto), porém, não de forma tão acentuada como foi observado no IAN 873.

Observa-se pela Figura 1 que os clones RRIM 600 (padrão suscetível) e FX 3844 (padrão resistente) mantiveram seu comportamento, apresentando as maiores e menores taxas de crescimento da doença, respectivamente, tanto no jardim clonal como nas plantas adultas. Apenas no primeiro ano de avaliação, IAN 717 apresentou a taxa maior e a mudança de comportamento mais acentuada foi em relação ao IAN 873, que teve uma intensidade de doença maior no jardim clonal, comparável com padrão suscetível e uma menor intensidade no plantio adulto, comparando-se com o padrão resistente.

Na idade adulta, os diferentes clones estudados apresentaram diferenças marcantes quanto a retenção das folhas velhas na copa, durante o re-enfolhamento, nos dois anos considerados: FX3844: 15 e 0 %; FX 3864: 20 e 15%; FX 2261: 0 e 0%, IAN 873: 0 e 0%, IAN 717 : 27 e 50%; RRIM 600: 0 e 0%. Os clones que desfolharam completamente também apresentaram diferentes períodos de hibernação, ou seja, período distinto em que as plantas ficaram desfolhadas: FX 2261, 29 e sete dias, e IAN 873, 73 e 22 dias, respectivamente.

Segundo Parlevliet (1981), o mecanismo de defesa das plantas podem ser classificados sobre três aspectos: resistência, tolerância e evitação. Esta última, menos conhecida e explorada, se manifesta quando a planta utiliza mecanismos herdáveis para reduzir ou impedir o contacto com o patógeno. Além da resistência, o caráter deciduifólio das plantas adultas de seringueira deve ser considerado, pois em determinados ambientes consiste uma forma de defesa adicional, muito útil parao manejo do mal das folhas (Pereira, 1988; Menten, 1990).

A utilização da regressão linear simples entre a percentagem de folíolos lesionados e o tempo foi adequado no presente estudo, obtendo os valores de a (intercepto da reta com o eixo das ordenadas), aqui denominados de inóculo inicial, e de b (tangente do ângulo formado entre as retas e eixo das abcissas), aqui denominado de taxa de crescimento da doença, cujo teste estatístico permitiu diferenciar os clones estudados. Assim, o clone de menor inóculo inicial foi FX 3844 no segundo ano considerado. Os demais clones não apresentaram diferenças entre si no jardim clonal. No plantio adulto, os clones apresentaram uma maior variação: os maiores valores do inóculo inicial: RRIM 600, FX 3864 e IAN 717, nos dois anos considerados. As maiores taxas de doença: RRIM 600, IAN 717, FX 3864 e IAN 873, no plantio jovem. No plantio adulto: RRIM 600, IAN 717, FX 3864. Dessa forma, através de uma análise epidemiológica, pode-se verificar o nível de resistência de cultivares com base no valor de r (taxa aparente de infecção) e de xo (inóculo inicial), preconizados por Vanderplank (1963). Menor será o aumento da quantidade de doença no tempo, quanto menor for o valor de r, representando a dificuldade de desenvolvimento do patógeno nos tecidos do hospedeiro.

A preocupação com o controle do mal das folhas, uma doença potencialmente perigosa para a heveicultura mundial, sempre foi muito grande. Diversas técnicas foram adaptadas ou desenvolvidas com essa finalidade e vários métodos de controle foram recomendados nos últimos anos (Langford, 1945; Hilton, 1955; Holliday, 1970; Chee, 1980; Bergamin, 1982; Furtado, 2007). No entanto, a maioria destes métodos não conseguiu eliminar definitivamente o patógeno ou reduzí-lo a níveis mínimos. Vastas regiões de plantio brasileiras ainda sofrem altas perdas na produção de látex, em função da severidade da doença.

O comportamento decíduo é uma característica bastante importante, na escolha dos cultivares para plantios comerciais pois a troca uniforme das folhas, ocasiona a eliminação sistemática do inóculo primário, presente nas lesões estromáticas do fungo nas folhas mais velhas, interrompendo o ciclo do patógeno de forma bastante eficiente e sem custos (Furtado, 1990). O manejo da hibernação foi apontado como estratégico para o controle da doença, por diversos autores (Rocha, 1972; Ortolani et al., 1983; Furtado, 1990; Furtado 2007).

Bergamin Filho (1982) apontou como um dos erros históricos no melhoramento da seringueira, do ponto de vista epidemiológico, foi a utilização de cultivares previamente resistentes de H. benthamiana, que transmitiram aos híbridos o hábito irregular na troca de folhas. Experiências realizadas na Malásia mostraram que o manejo da hibernação possibilitou o controle por " avoidance" , ou evitação de: Colletotrichum gloeosporioides, Oidium heveae, ácaro e trips, efetuado por desfolha induzida por aplicação do ácido cacodílico (1,5 kg/ha), garantindo uma desfolha de 98% em 15 dias após a aplicação (Rao, 1970). Podemos considerar que comportamento do clone IAN 873, sem uso de nenhum agente desfolhante, ou seja, de forma natural trocou suas folhas, o que possibilitou baixa intensidade do mal das folhas em dois anos consecutivos, devendo ser um caráter duradouro que poderemos denominar de evasão no tempo ou mesmo de evitação, demonstrado no presente estudo.

Os clones plantados na região litorânea de São Paulo também devem possuir resistência ao mal das folhas, agindo como um segundo fator para reduzir o nível de infecção, como foi o clone FX 3844, no presente estudo. Ao se recomendar clones para esta região, deve-se evitar cultivares oriundos de H. benthamiana (IAN 717) e dar preferência aos cultivares nacionais de H. brasiliensis, como: FX3844 resistente, IAN 873, que demonstrou claramente a mudança em sua classificação na fase adulta, sendo suscetível, porém com evitação (ou evasão no tempo), FX 2261 (com evasão parcial no tempo). Outros clones devem ser estudados na região, visando a seleção na fase adulta para um bom potencial produtivo e troca uniforme das folhas, além dos estudos com relação a estabilidade fenotípica do caráter, descrito no presente trabalho, e relações dos fatores climáticos com a troca de folhas e período de hibernação.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao produtor de borracha e plantador de seringueira Sr. Marcos Simões da Costa (in memoriam), que dedicou sua vida ao incentivo a heveicultura na região do Vale do Ribeira e nos permitiu a utilização da área; à Empresa Brasileira de pesquisa Agropecuária - EMBRAPA e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq pelo apoio financeiro.

Recebido 18 Abril 2007

Aceito 19 Março 2008

Autor para correspondência: Edson Luiz Furtado, e-mail: elfurtado@fca.unesp.br

TPP 7043

Editor Associado: Luadir Gasparotto

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Maio 2008
  • Data do Fascículo
    Abr 2008

Histórico

  • Aceito
    19 Mar 2008
  • Recebido
    18 Abr 2007
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