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Viagens e turismo: dos cenários imaginados às realidades disruptivas.

Viajes y turismo: desde scenarios imaginados hasta realidades disruptivas

Resumo

Esse artigo abrange uma análise dos meus principais textos, produzidos ao longo dos últimos 30 anos. É uma tentativa de avaliar como esses textos interpretaram as diversas facetas do setor de viagens e turismo, desde o contexto internacional que influenciou a pesquisa e o ensino do turismo no Brasil, até as diversas características, positivas e negativas, dos cenários brasileiros em que o turismo teve um difícil e acidentado desenvolvimento, apesar do entusiasmo pueril que ainda cerca sua operação, gestão e até mesmo a pesquisa. São comentados alguns pontos críticos e as polêmicas que marcaram essas últimas décadas do turismo no Brasil, inclusive alguns de seus “mitos” ou “dogmas” que fazem parte de sua história. Finalmente, analisa-se como a pandemia da Covid-19 repentinamente truncou o sistema global de viagens e turismo, levando o imenso setor à sua maior crise desde a Segunda Guerra Mundial. O que fica evidente ao longo desses anos é a intensidade e velocidade das mudanças disruptivas, já detectadas nos textos das décadas de 1980 e 1990, que atingiram proporções cada vez mais impactantes ao longo do século XXI.

Palavras-chave
Turismo no Brasil; Hipermodernidade; Disrupção; COVID-19; Mudanças

RESUMEN

Este artículo cubre un análisis de mis textos principales producidos en los últimos 30 años. Es un intento de evaluar cómo estos textos interpretaron las diferentes facetas del sector de viajes y turismo, desde el contexto internacional que influyó en la investigación y la enseñanza del turismo en Brasil, hasta las diferentes características, positivas y negativas, de los escenarios brasileños en los que el turismo ha tenido un desarrollo difícil y lleno de baches, a pesar del entusiasmo pueril que aún rodea su operación, gestión e incluso investigación. Se comentan algunos puntos críticos y las controversias que han marcado estas últimas décadas de turismo en Brasil, incluidos algunos de sus "mitos" o "dogmas" que forman parte de su historia. Finalmente, analiza cómo la pandemia de Covid-19 ha truncado repentinamente el sistema global de viajes y turismo, llevando al inmenso sector a su mayor crisis desde la Segunda Guerra Mundial. Lo que es evidente a lo largo de estos años es la intensidad y la velocidad de los cambios disruptivos, ya detectados en los textos de los años 1980 y 1990, que alcanzaron proporciones cada vez más impactantes a lo largo del siglo XXI.

Palabras clave
Turismo en Brasil; Hipermodernidad; Ruptura; COVID-19; Cambios

Abstract

This article covers an analysis of my main papers, produced over the last 30 years. It is an attempt to evaluate how these texts interpreted the different facets of the travel and tourism sector, from the international context that influenced tourism research and teaching in Brazil, to the different characteristics, positive and negative, of the Brazilian scenarios in whichtourism has had a difficult and bumpy development, despite the puerile enthusiasm that still surrounds its operation, management, and even research. Some critical points and the controversies that have marked these last decades of tourism in Brazil are commented on, including some of its “myths” or “dogmas” that are part of its history. Finally, it looks at how the Covid-19 pandemic has suddenly truncated the global travel and tourism system, taking the immense sector to its biggest crisis since World War II. What is evident throughout these years is the intensity and speed of the disruptive changes, already detected in the papers of the 1980s and 1990s, which reached increasingly impacting proportions throughout the 21st century.

Keywords
Tourism in Brazil; Hypermodernity; Disruption; COVID-19; Changes

1 INTRODUÇÃO

O editor da RBTUR, Professor Glauber Eduardo de Oliveira Santos, convidou-me para escrever um ensaio sobre minhas pesquisas e experiências em turismo e suas relações com áreas afins numa seção da revista destinada a ensaios reflexivos e críticos, fundamentados em fontes abrangentes tais como política, cultura, economia, sociedade e na própria experiência acadêmica e profissional. Como parte da minha produção é composta por textos analíticos e prospectivos, pensei ser uma oportunidade para avaliar, considerando os anos decorridos, se os prognósticos aventados tiveram algum tipo de impacto na academia ou no mundo corporativo/institucional e qual a margem de compatibilidade deles com as realidades nacionais e internacionais ao longo desses anos. Em suma, quais as suas margens de acertos ou erros e qual sua relevância para a sociedade. Alguns textos foram escritos há três décadas e os recentes têm mais de dez anos, o que permite uma visão retrospectiva sobre os cenários, as tendências e as análises.

Não é o caso de analisar criticamente o conjunto da minha produção acadêmica até agora, pois seria cabotinismo avaliar a própria obra. Esse é um trabalho para outras pessoas, como no artigo Enforque analítico sobre as contribuições de Luiz Gonzaga Godoi Trigo para o turismo, escrito pelas pesquisadoras Melo, Costa e Sonaglio (2014)Melo, F. L. S; Costa, S. P. Sonaglio, K. E. Enfoque analítico sobre as contribuições de Luiz Gonzaga Godoi Trigo para o turismo. Cultur – Revista de Cultura e Turismo, 8 (1), 180-196.. O tema do presente artigo é a contextualização da conjuntura sociopolítica e acadêmica em que esses textos foram produzidos e a verificação de suas proposições objetivas no sentido de avaliar se as tendências e cenários propostos se confirmaram, pelo menos em parte.

2 O CONTEXTO

As linhas condutoras dos textos são englobadas principalmente pelas questões de formação profissional e cultural para os setores de serviços nas sociedades atuais, com suas mudanças e seus desafios inovadores. O contexto histórico ocorreu em uma das bolhas otimistas do século XX, para ser mais preciso, na última onda de análises favoráveis e pretensamente globalizantes sobre as grandes tendências mundiais. Mesmo com meu ceticismo garantido pelas pesquisas feitas sobre a pós-modernidade ao longo do mestrado (1988-1991 – sim, na época eram quatro anos para o mestrado), entrei na onda embalado pela leitura de best sellers como Megatrends 2000 – Dez novas tendências de transformação da sociedade nos anos 1990 (Naisbitt & Aburdene, 1990Naisbitt, J.; Aburdene, P. (1990). Megatrends 2000: dez novas tendências de transformação da sociedade nos anos 1990. São Paulo: Amana-Key.); do sofisticado World Travel and Tourism Review: Indicators, trends and forecasts 1991 (Ritchie & Hawkins, 1991Ritchie, J. R. B.; Hawkins, D. E. (Eds.). (1991). World travel and tourism review: indicators, trends and forecasts. Wallingford [Inglaterra]: C.A.B. International.); e do otimismo exagerado de O desafio mundial, de Jean-Jacques Servain-Schreber que se mostrou bastante equivocado ao afirmar “emprego já não é o problema: o complexo educativo interno de formação exige, para responder às necessidades humanas do sistema informático, mais trabalhadores do que as linhas de montagem são capazes de dar vazão” (Servain-Schreber, 1980Servain-Schreber, J. J. (1980). O desafio mundial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira., p. 341). A desindustrialização, o aumento da informalização (ou precarização do trabalho) e as novas relações possibilitadas pelas redes sociais marcaram o século XXI e geraram uma atmosfera tóxica: “E nem mudou a nossa sociedade sibarítica. Após a Guerra fria, ela piorou. Em ambos os lados do Atlântico. Mais corrupta, introvertida, conformista, intolerante, isolacionista, presunçosa. Menos equitativa.” (Le Carré, 1996Le Carré, J. (1996). Nosso jogo. Rio de Janeiro: Record. , p. 77). O otimismo filosófico-científico de Marx, Comte, Freud e Darwin acabou nas violências das guerras mundiais e revoluções totalitárias do século 20. Um século depois, o difuso otimismo ocidental do “fim da história”, calcado na “vitória” do liberalismo ocidental ao final da guerra fria (1989-1991), inaugurou o século XXI com inéditos atentados terroristas fundamentalistas islâmicos e incertezas regionais e globais. O recrudescimento do fundamentalismo religioso (islâmico, judaico, cristão e outros) rapidamente contaminou várias culturas. A ascensão do conservadorismo e, nos piores cenários, do reacionarismo político, cultural e moral, teve como base comunicacional as redes sociais e os smart phones que possibilitaram trocas de informações, verdadeiras ou falsas, e a disseminação de emoções primitivas do ser humano como o medo e o ódio. Entre “choques das civilizações” (Huntington, 1996Huntington, S. (1996). O choque de civilizações e a recomposição da ordem mundial. São Paulo: Objetiva. ), “choques do futuro” (Toffler, 1970Toffler, A. (1970). Furure shock. New York [Estados Unidos]: Bantam Books.) e hiper-modernidades (Lipovetsky & Charles, 2004), o mundo tornou-se idealmente plano.

É essa tripla convergência - de novos jogadores, num novo campo de jogo, desenvolvendo novos processos e hábitos para a colaboração horizontal – que constitui, a meu ver, a força mais significativa a moldar a economia e a política globais neste início do século XXI. O fato de tanta gente ter todas essas ferramentas de colaboração ao seu dispor, aliado à possibilidade de acessar, por meios dos motores de busca e da web, bilhões de páginas de dados brutos, vai garantir que a próxima geração de inovações venha de todos os cantos da Terra Plana. Toda a comunidade global logo poderá tomar parte de descobertas de todos os tipos, e o grau de inovação atingirá patamares jamais vistos antes.

(Friedman, 2005Friedman, T. L. (2005). O mundo é plano. São Paulo: Objetiva., p. 210).

Essa “terra plana” não é a idealizada pelos defensores do planisfério achatado, porém tampouco legou uma sociedade mais pacífica ou equitativa nos moldes da celebrada globalização, que tanto seduziu alguns analistas no início do século 21.

A convergência das novas tecnologias gerou a consolidação e a concentração de capital em algumas empresas e grupos de domínio político, tecnológico e cultural, além da precarização do trabalho em vários lugares do mundo. Umberto Eco ampliou o espectro da crítica afirmando que “as redes sociais dão o direito à palavra a uma ‘legião de imbecis’ que antes falavam apenas ‘em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade’” (Agenzia Nazionale Stampa Associata, 2015Agenzia Nazionale Stampa Associata. (2015). Redes sociais deram voz a legião de imbecis, diz Umberto Eco. UOL Notícias. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2015/06/11/redes-sociais-deram-voz-a-legiao-de-imbecis-diz-umberto-eco.jhtm
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noti...
).

3 A SITUAÇÃO BRASILEIRA

O primeiro texto que publiquei na área de turismo saiu nos anais do Congresso Internacional da AMFORT, realizado em São Paulo, em 1990. Reler esse texto traz uma frustração profissional, não porque estaria desatualizado, mas porque poderia ter sido escrito recentemente:

As causas dos problemas não são difíceis de encontrar. Estrutura urbana precária, violência no trânsito, assaltos, miséria explícita nas ruas, tráfico de drogas, violência policial e farta propaganda de tudo isso na imprensa internacional. ... Nossa infraestrutura está em péssimas condições. Técnicos do Ministério dos Transportes estimam que serão necessários 9 bilhões de dólares para recuperar a malha rodoviária e ferroviária do país. Cerca de 50 mil pessoas morrem anualmente em acidentes em nossas estradas e ruas mal conservadas. A navegação de cabotagem e fluvial para carga e passageiros é precária ou inexistente. As praias estão atulhadas de empreendimentos imobiliários desorganizados que expulsam a população nativa, destroem a natureza e oferecem imóveis muitas vezes inferiores. A violência urbana cresce em vários níveis.

(Trigo, 1990Trigo, L. G. G. (1998). A sociedade pós-industrial e o profissional em turismo. Campinas, SP: Papirus., p. 90)

O título desse capítulo foi ambicioso: O turismo na década de 1990, escrito com base nas grandes análises conjunturais propostas pelos já citados Naisbitt, Aburdene, Ritchie e Hawkins. O grande problema do texto é que, passadas três décadas, a realidade brasileira não apenas se manteve, como também piorou em vários sentidos. Desde aquela época tive visões críticas sobre o setor de viagens, turismo, entretenimento e hospitalidade, tentando analisar os ganhos e as perdas, as oportunidades e as ameaças que o setor enfrentava e produzia na sociedade em geral. O trecho acima é paradigmático por detectar problemas estruturais que se mantém e, em alguns casos - como na questão ambiental - estão mais evidenciados pelas políticas predatórias federais impostas desde 2019.

Minha concepção do desenvolvimento do turismo foi sempre liberal. O fato de ter estudado a pós-modernidade no mestrado na PUC-Campinas e defendido a inserção do Brasil nas realidades internacionais emergentes deixava clara minha opção social-democrata. Alguns trechos da dissertação, defendida em 1991 e publicada em 1993, repetiram o prognóstico crítico de 1990. A partir da sexta edição, em 2000, atualizei o texto com algumas características do meu pensamento fortalecidas com experiências profissionais e acadêmicas, especialmente as pesquisas realizadas ao longo do doutorado.

Quem trabalha com turismo não pode ser etnocentrista ou pregar um nacionalismo excludente. O turismo é um campo no qual a diversidade cultural e a abertura às novas experiências fazem parte do cotidiano. [...] Não se pode isolar o país ou uma região no momento em que a internacionalização da economia e da cultura acontecem em vários pontos do planeta. ... Para garantir a estabilidade e a liberdade nas sociedades democráticas, todo autoritarismo deve ser combatido com rigor, não importa de que lado do espectro ideológico se localize. Este é um dos desafios contemporâneos, principalmente em países com democracias recentes como o Brasil. Sem estabilidade econômica, política e social, dificilmente setores produtivos serão desenvolvidos, principalmente o turismo.

(Trigo, 2003Trigo, L. G. G. (2003). Turismo e qualidade: tendências contemporâneas. Campinas, SP: Papirus., p. 72-73).

Na segunda década do século XXI, mais uma vez a democracia brasileira se vê ameaçada pelo espectro do autoritarismo de direita, em contraposição a um presumido (mas não efetivado) autoritarismo de esquerda dos últimos governos. Relendo esses textos percebo como avançamos em alguns setores - gastronomia, hotelaria, privatização dos aeroportos...- e estagnamos, ou até mesmo retrocedemos, em outros.

Meu texto mais importante e citado foi a tese de doutorado defendida na faculdade de Educação da Unicamp, em 1996, sendo o livro publicado em 1998, com mais de 330 citações no Google Acadêmico. Na tese, retomo a questão das sociedades pós-industriais, relacionando seus conceitos e métodos de análise com a formação profissional nas áreas ligadas ao prazer, como lazer, turismo e hotelaria, e pondero sobre a área de entretenimento, tema de minha livre docência na ECA-USP em 2003. A estrutura desta última é uma longa discussão sobre a evolução do trabalho nas sociedades de serviços ou pós-industriais e como preparar pessoas para essas áreas aos níveis técnico e superior (tecnologia, bacharelado e licenciatura). O núcleo da tese foi resumido em 12 afirmações assim resumidas:

  • O ponto inicial para a formação profissional em turismo, de acordo com Jafari e Ritchie, é que deve ser ensinado de maneira transdisciplinar.

  • O turismo é uma das especialidades da ciência; sua formação se dá em pleno contexto das mudanças globais (1990) e o foco do trabalho é na educação e não no simples treinamento de habilidades turísticas.

  • E educação em turismo ainda possui vários problemas a serem equacionados mas evoluiu consideravelmente em sua curta história acadêmica.

  • Ainda existe, em alguns lugares, resistência à compreensão de que a qualidade dos serviços turísticos, dos padrões de segurança, lucratividade e eficiência depende em boa parte da formação profissional séria e continuada.

  • É necessária a colaboração entre academia e o mercado para melhorar o nível de ambos.

  • O computador, assim como as novas tecnologias em geral, é um facilitador de aprendizado e de outras atividades humanas (profissional, lúdica etc.). A educação deve se centrar na capacidade do aluno pensar e se expressar claramente, resolver problemas e tomar decisões. Educação de qualidade é fundamental nas sociedades pós-industriais.

  • A perspectiva humanista é fundamental na formação profissional, o ser humano é mais importante que capital ou tecnologia. (Trigo, 1998Trigo, L. G. G. (1998). A sociedade pós-industrial e o profissional em turismo. Campinas, SP: Papirus., p. 199).

Quase um quarto de século depois, em pleno contexto da hipermodernidade (Lipovetsky & Charles, 2004Lipovetsky, G.; Charles, S. (2004). Os tempos hipermodernos. São Paulo: Barcarolla.), após as séries de atentados terroristas que abalaram o turismo internacional entre 2001 e 2003, a crise econômica bancária de 2007/2008 e a série de falências de instituições financeiras e empresariais ligadas a viagens e turismo, o núcleo dessa tese não só permanece vigente no que se refere à formação profissional, mas também alguns pontos - como a importância da informática e do humanismo - são fundamentais para o planejamento, operação e gestão das atividades de lazer e turismo. A fragmentação do turismo em várias atividades relacionadas (hospitalidade, eventos, entretenimento, gastronomia, lazer, cultura, artes, esportes e toda uma segmentação) realizou-se tanto no mercado como na academia. Essa é uma tendência apontada por teóricos internacionais - como Jafar Jafari - e percebida em vários países onde o setor de serviços ligados ao prazer tornou-se importante para a economia, tanto em regiões mais desenvolvidas quanto em áreas mais pobres, porém com investimentos significativos em viagens e turismo (Jamaica, sudeste asiático, Colômbia, Peru, África do Sul etc.).

4 O LADO CRÍTICO

A configuração dos setores de viagem e turismo na segunda década do século XXI apresenta realidades díspares. Existe a consolidação global de um turismo de massa apoiado em uma rede de operadoras, agências de viagem, portais de serviços ligados a transportes, hospitalidade, entretenimento e lazer em geral. Algumas áreas geográficas do planeta sofrem com o inédito fenômeno do overtourism, resultado do barateamento de tarifas, ascensão das viagens como símbolo de status ou aventuras amplamente divulgadas pelas redes sociais, e pela articulação digital de serviços financeiros acoplados a programas de fidelização ou milhagem que facilitam acessos a vários tipos de viagens, eventos e outras promoções que implicam deslocamento físico.

A concentração de renda em alguns países (Estados Unidos, Rússia, Índia, Brasil, China etc.) gerou uma classe de super-ricos que demandam serviços e produtos exclusivos, gerando as viagens de alto luxo. Essa exclusividade estende-se aos eventos esportivos ou artísticos que contam com camarotes e acessos especiais cujas elevadas tarifas são bancadas por empresas privadas ou cidadãos com condições financeiras altamente privilegiadas.

Além do turismo de massa e de luxo, outras segmentações surgiram de acordo com faixas etárias, recursos econômicos, estilos de vida, preferências e suscetibilidades. Diversidade e individualização convivem com a massificação e a padronização existentes em centros de consumo do prazer como shoppings, parques temáticos, arenas esportivas, centros culturais e artísticos.

Apesar das melhorias das condições de vida em vários países desenvolvidos, ainda persistem as mazelas históricas da humanidade: miséria estrutural, injustiça social e concentração de renda, epidemias, falta de políticas públicas abrangentes e a exploração institucionalizada do ser humano. Essa exploração atinge muitas vezes o âmago da condição humana, ou seja, sua dignidade e seu caráter. Os grandes fluxos turísticos podem gerar riquezas, renda e empregos, mas também podem acentuar a exploração econômica, cultural, política ou sexual das comunidades envolvidas. A zona cinzenta do turismo sexual tem relações com viagens, eventos, negócios e turismo. Estudos acadêmicos têm sido produzidos, especialmente na Ásia e Europa, sobre as relações entre viagens, sexo e diversidade. Porém, fora do mundo acadêmico ainda não há uma consciência ampla dessa problemática, especialmente nos países autoritários e/ou mais pobres.

Na literatura internacional há dois exemplos relevantes sobre turismo e sexualidade. Michel HouellebecqOuellebecq, M. (2002). Plataforma. Rio de Janeiro: Record., o polêmico escritor francês contemporâneo, publicou, em 2001, Plataforma. A obra descreve uma (fictícia) operação comercial de resorts especializados em turismo sexual na Ásia e Pacífico. Seu romance ganhou relevância após os atentados terroristas islâmicos em Bali, Indonésia, em outubro de 2002. Mais de 200 turistas morreram e centenas ficaram feridos nas explosões de duas casas noturnas repletas de turistas. A similaridade entre os fatos e o romance garantiu a Houellebecq uma publicidade considerável.

Outro romance que analisa criticamente a exploração sexual em resorts é Bem-vindos ao paraíso, publicado em 2016 pela jamaicana Nicole Dennis-Benn (2016). Vencedora do Lambda Literary Award, a história é contada por uma personagem feminina. O cotidiano das pessoas humildes que vivem no entorno dos projetos turísticos de ilhas como a Jamaica é descrito com detalhes. A frágil condição das mulheres é retratada com propriedade, haja vista seu sofrimento com os preconceitos locais acrescidos das influências do turismo elitizado dos resorts, vizinhos de suas vilas precárias.

A literatura crítica sobre o turismo existe na maior parte dos países da OECD, englobando temas como justiça social, meio ambiente, planejamento sustentável, questões culturais, saúde pública e temas emergentes. Em termos acadêmicos brasileiros, parte das pesquisas se concentra em planejamento, gestão e análise de projetos turísticos, públicos ou privados. Nesses casos, os modelos propostos se situam nos moldes do liberalismo com suas nuances mais conservadoras ou progressistas. Há ainda temas mais específicos concentrados em mobilidade, urbanismo, questões artísticas e culturais, entretenimento, questões étnicas e de diversidade.

Poucas pesquisas se situam no campo estrito do marxismo. Em geral as fontes teóricas são liberais, com suas diversas nuances metodológicas e epistemológicas. Apenas duas obras específicas de turismo se destacam por uma análise pretensamente mais crítica a autores antigos como Dóris Ruschmann, Mário Beni, Marutschka Moesch, Mario Petrocchi e eu mesmo.

Helton Ricardo Ouriques (2005)Ouriques, Helton Ricardo. (2005). A produção do turismo: fetichismo e dependência. Campinas, SP: Alínea. escreveu A produção do turismo: fetichismo e dependência, em que faz inferências superficiais sobre a pós-modernidade, analisando essa produção teórica baseado em conceitos marxistas clássicos, sem considerar as mudanças ocorridas no Brasil e no mundo, o que deixou o texto obsoleto e inócuo, com pouco impacto e raras citações.

O pesquisador Helio Hintze (2013)Hintze, Helio. (2013). Espetáculos e invisibilidades do discurso legitimador do turismo (Tese de doutorado). Disponível em Biblioteca Digital USP. https://doi.org/10.11606/T.91.2013.tde-04102013-164505
https://doi.org/10.11606/T.91.2013.tde-0...
fez um trabalho mais sistemático e profundo em sua tese de doutorado Espetáculos e invisibilidades do discurso legitimador do turismo, na qual analisa as diversas teorias sobre o turismo com rigor epistemológico, compreendendo os paradoxos e contradições inerentes à área e aos nossos tempos e, propondo ao final, “novos” estudos críticos que têm a ver com propostas dos autores por ele analisados. Infelizmente a tese não foi publicada na forma de livro, mas está disponível na Biblioteca Digital da USP (www.teses.usp.br).

Nas áreas de geografia, meio ambiente, antropologia, história, artes, sociologia e política surgem artigos e teses com uma visão mais à esquerda ou progressista, complementando as pesquisas feitas pelos turismólogos, hoteleiros, estudiosos do lazer e do entretenimento.

5 AS POLÊMICAS

A civilização ocidental resiste, historicamente, à fruição inocente dos prazeres, sem culpa, sem vergonha e sem pecado. Nascido no contexto judaico-cristão e greco-romano, o Ocidente idealizou uma moral marcada pelo “vigiar e punir”, pela ética do trabalho e seus sacrifícios, pelo purismo aristocrático-burguês da era Vitoriana, pelas fogueiras inquisitoriais ibéricas e pela circunspecção eslava. As colônias tropicais foram um canal de escape para os delírios e ganâncias dos colonizadores, afinal “não existe pecado do lado debaixo do Equador”. Soldados, exploradores, comerciantes, religiosos e funcionários públicos ergueram essa “Roma dos trópicos”, segundo Darcy Ribeiro em referência ao Brasil, com a força de trabalho dos índios, dos negros escravos e, posteriormente, dos imigrantes de vários países.

No contexto econômico e cultural da América Latina, o Brasil apresenta especificidades marcantes, como apontam os clássicos de Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro, Ariano Suassuna, Gilberto Freire, ou de analistas mais recentes como Lilia M. Schwarcz, Laurentino Gomes, Eliane Brum e novos(as) escritores(as) que renovam a literatura nacional.

Entre a malemolência tropical e a rígida moral cristã trazida da Europa medieval, o Brasil desenvolveu sofisticados esquemas de dissimulação, hipocrisia, tergiversação, falácias, manipulações, distorções e, finalmente, fake news. O turismo brasileiro foi marcado por ser elitista e discricionário, em uma sociedade na qual senhores e escravos foram os polos normais de convivência durante 300 anos. Mesmo após a abolição da escravatura, as relações servis continuaram vigentes em todo o Brasil rural e em parte do país que começava o processo de industrialização e de prestação de serviços.

Como em vários campos do conhecimento, o turismo desenvolveu seus “mitos”, fundamentalismos e excentricidades, seja no mercado, seja no setor público ou na academia.

O caldo cultural brasileiro mescla o nacionalismo romântico, o elitismo calcado no estrangeiro “desenvolvido”, o populismo de várias matizes políticas e a crescente onda de ostentação e arrogância protagonizadas pelas pretensas elites e inflamada pelas redes sociais. Nesse caldo eclético, o turismo é um dos temas idealizados pelas classes dominantes para ser desenvolvido, assim como os setores de comunicações, design ou moda.

As linhas de pesquisa que sempre explorei foram educação, cultura, entretenimento e questões sociais ligadas ao turismo. São temas pluralistas e nem sempre consensuais. Uma das polêmicas que vivenciei foi sobre a regulamentação da profissão de turismólogo. Essa era uma bandeira da década de 1970, quando os cursos de turismo foram criados no Brasil. Meio século depois, essa polêmica tem a mesma validade da teoria da Terra Plana: - a regulamentação é impossível em áreas complexas e fragmentadas como viagens e turismo. Felizmente o assunto saiu de pauta e hoje raramente é lembrado. Foi uma das lutas inúteis da área. Publiquei vários textos a respeito em livros (ex.: Trigo & Panosso, 2009Trigo, L. G. G. (2000). A importância da educação para o turismo. In: Lage, B. H. G.; Milone, P. C. (Eds.). Turismo: teoria e prática (pp. 243-255). São Paulo: Atlas., p. 181), revistas acadêmicas, blogs e revistas do trade. Indico para leitura dois de meus textos mais recentes sobre o tema: Trigo (2012)Trigo, L. G. G. (2012). "Regulamentação" do turismólogo - enganos e engodos. Hotelier News. Disponível em: https://hoteliernews.com.br/noticias/luiz-trigo-regulamentacao-do-turismologo-enganos-e-engodos-5855
https://hoteliernews.com.br/noticias/lui...
e Trigo (2015)Trigo, L. G. G. (2015). Regulamentação profissional em turismo: um erro histórico. Turismo: Estudos e Práticas, 4(2), 96-106..

Algumas ideias se cristalizaram ao longo dos anos e tornaram-se “dogmas” ou “mitos”, beirando o emocional e tendendo para o obscurantismo. Amós Oz propõe que “entre os antídotos para o fanatismo estão o humor, o ceticismo e a argumentatividade. Também uma certa propensão à jocosidade.” (OZ, 2016, p. 28). Em um capítulo de livro publicado em 2000, faço considerações sobre a necessidade, os problemas e as carências da educação em hospitalidade, turismo e lazer. Critico frases feitas e repetidas pelo senso comum da época como “turismo se aprende na prática”, “lucro é pecado e o mercado é do diabo”, “no Brasil fala-se português”, ”globalização é perdição”, “turismo é um sacerdócio”, “o potencial turístico do Brasil é fantástico”, etc. Esse senso comum brasileiro, assim como acontece em outros países, com suas especificidades culturais e geográficas, em geral articula-se com os bolsões preconceituosos da ignorância ou com grupos minoritários conservadores, incluindo nessa denominação as pessoas consideradas “de esquerda”, porém com raízes dogmáticas religiosas ou ideologias marcadas por um sindicalismo corporativista nacionalista que, afinal, resvala para posições conservadoras.

A história do turismo no Brasil é caracterizada por um lento desenvolvimento atrelado aos picos de sucesso ou às crises da economia ao longo dos anos. Um país distante dos grandes centros emissores ocidentais e orientais, bastante fechado ao mundo durante décadas entremeadas de ditaduras (1930-1945; 1964-1985) e governos democráticos que nem sempre chegavam ao final dos mandatos presidenciais (Collor e Dilma). Seu ciclo de desenvolvimento acentuado, a partir dos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, sofreu a crise econômica devastadora de 2014/2015 e a crise sanitária, econômica e política de 2020, originada pelo novo coronavírus, o Covid-19.

As dificuldades brasileiras se mesclam às crises globais motivadas pelos mais variados motivos, todas atingindo, direta ou indiretamente, a cadeia de negócios ligadas ao lazer e ao turismo: terrorismo fundamentalista islâmico, crises econômicas ou políticas, ascensão das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs), surgimento de novos segmentos de consumo, valorização do hedonismo e da ostentação real e virtual além, é óbvio, das novas pandemias que surgiram nas últimas décadas. Todas essas mudanças e crises mostram a volatilidade dos cenários de negócios globais, aumentam a velocidade das mudanças e os ciclos de obsolescência dos produtos e serviços, provocam incertezas e angústia face aos novos desafios locas e regionais e causam uma sensação de que “tudo que é sólido desmancha no ar” (Berman, 1986Berman, M. (1986). Tudo que é sólido desmancha no ar. São Paulo: Companhia das Letras.).

Em meio às mudanças políticas que levaram vários governos para a direita do espectro político (EUA, Hungria, Itália, Brasil, Reino Unido, Turquia) no final da década de 2010; à disrupção e fragmentação de ideias, projetos e cenários; à forte ascensão econômica e política da China; às denúncias de poluição e ações predatórias causadas pelo overtourism (uma palavra nova para um problema também inédito); e às preocupações geradas pela competitividade destrutiva e concentradora de riquezas de um neoliberalismo exacerbado, surgiu um fator patogênico mutante que paralisou a economia global em geral, em 2020, e afetou diretamente o setor de viagens e turismo: a Covid-19.

Mesmo com todas essas mudanças e incertezas – ou exatamente por causa delas - se eu tiver de eleger um texto representativo dos meus trabalhos acadêmicos relacionados à educação e formação profissional, seleciono o trecho a seguir, que encerra um capítulo de livro que considero fundamental em minha obra:

O que garante a inserção no mercado é a formação sólida, profunda e permanente, a ética, o constante aperfeiçoamento das habilidades, a seriedade profissional, o respeito aos prazos, orçamentos e obrigações. Em um mundo que entra no século XX! Com muitas dificuldades, dúvidas e novas oportunidades, os profissionais precisam se orientar pelo fluxo contínuo de mudanças e pelos novos modelos que surgem. Ainda resta muito para se entender a dinâmica das novas sociedades pós-industriais. As mudanças tecnológicas estão longe de atingir um patamar de estabilização. Vivemos em um mundo revolucionário e o medo é uma carga inútil que apenas nos dificulta o salto para o futuro. Charles Handy diz que ‘a única certeza que podemos ter é a certeza das mudanças’; portanto, outra certeza que podemos inferir dessa premissa é a de que os próximos anos serão muito emocionantes, desafiadores e até mesmo divertidos, para os que entenderem a lógica dessas mudanças.

(Trigo, 2000Trigo, L. G. G. (2000). A importância da educação para o turismo. In: Lage, B. H. G.; Milone, P. C. (Eds.). Turismo: teoria e prática (pp. 243-255). São Paulo: Atlas., p. 255).

6 ENFIM, O APOCALIPSE HIPERMODERNO

Depois da fome, o segundo maior inimigo da humanidade era representado pela peste e pelas doenças infecciosas, Cidades fervilhando de gente, conectadas por um fluxo incessante de comerciantes, funcionários e peregrinos, eram ao mesmo tempo o fundamento da civilização humana e o terreno ideal para a proliferação de agentes patogênicos. Em consequência, as pessoas da antiga Atenas ou na Florença medieval viviam suas vidas conscientes de que poderiam adoecer e morrer em dias, ou que subitamente poderia irromper uma epidemia e destruir toda a sua família numa única investida”

(Harari, 2016Harari, Y. N. (2016). Homo Deus: uma breve história do amanhã. São Paulo: Companhia das Letras. https://doi.org/10.17104/9783406704024
https://doi.org/10.17104/9783406704024...
, p. 16)

A ‘morte vermelha’ devastava havia muito o país. Nenhuma pestilência jamais fora tão fatal, ou tão hedionda. O sangue era seu Avatar e seu sinete – a vermelhidão e o horror do sangue.

(Poe, 2012Poe, E. A. (2012). Contos de imaginação e mistério. São Paulo: Tordesilhas. , p. 143).

Em meio ao frenesi do capitalismo turbinado, ao consumo desenfreado e às hordas turísticas devorando as paisagens, como diria Jost Krippendorf, um ator mutante paralisou paulatinamente, em questão de semanas, a economia da maior parte do mundo. A distopia surgiu na forma de uma versão nova de um velho inimigo da humanidade: o vírus. Não foi um colapso econômico-financeiro mundial, uma revolta da inteligência artificial ao estilo Matrix ou Terminator, uma guerra termonuclear global, uma invasão alienígena ou uma sequência de atos terroristas que obrigaram o mundo a parar e se reorganizar. Foi um vírus parecido com o da gripe, algo que acompanha a humanidade desde seus primórdios. Um vírus inédito (apesar de ser da família coronavírus, foi uma mutação peculiar) altamente contagioso, de rápida propagação e baixa letalidade, que simplesmente colapsa os sistemas de saúde e os serviços funerários nas regiões onde encontra ambiente favorável à sua pestilência seletiva. Suas principais vítimas são idosos, doentes crônicos ou pobres que não têm condições de se proteger com isolamento eficiente, sem boa alimentação e condições ideais de higiene. Porém várias pessoas mais jovens e com boa saúde também pereceram devido às complicações da doença, demonstrando que não é uma simples “gripezinha” ou um inocente “resfriado”.

Sem medicação com eficácia comprovada (até a elaboração deste artigo em junho 2020) contra a Covid-19 ou vacinas, a humanidade ficou refém de uma escolha atroz: praticar o isolamento social para diminuir a velocidade de contágio e paralisar amplos setores da economia, ou deixar a população se contaminar naturalmente, manter a vida quase “normal”, esperando a “imunização de manada” restabelecer o equilíbrio da saúde pública. Essa segunda opção mostrou-se desastrosa no norte da Itália e em ouros poucos locais onde foi testada, fazendo com que as autoridades determinassem o isolamento social ou até mesmo o lockdown, com medidas restritivas mais severas, com as consequências econômicas decorrentes. Assim, desemprego elevado, quedas abruptas em vários setores de consumo, concordatas e falências, quedas de receitas de produtos e serviços e uma recessão com período variável em cada região forjaram a sombra que pairou sobre a humanidade ao longo de 2020, sem contar a lenta e penosa recuperação que demoraria ainda outros meses ou anos.

Patógenos letais não são novidades para a humanidade. O terror epidemiológico tem longa história e alguns de seus ciclos memoráveis são a peste negra (ou peste bubônica), no século XIV (com picos entre 1347 e 1351); as epidemias de varíola, gripe, tuberculose, sífilis, tifo que devastaram as populações nativas das Américas e das ilhas do Pacífico entre os séculos XVI e XVIII; a gripe espanhola entre 1918 e 1920; o ebola, conhecido desde a década de 1970 e extremamente parecido com a “morte vermelha” de Poe; a epidemia de HIV nos anos 1980 e 1990; as ondas de gripes com complicações respiratórias como SARS-COV (2002, China), H5N1 (2005, gripe aviária), H1N1 (2009, gripe suína), MERS-COV (2012), H7N9 (2013) e a Covid-19, em 2020.

O estrago geral que as crises econômicas de 2008/2009, as primeiras epidemias de gripe e os atentados terroristas do início do século XXI não provocaram, foi deflagrado em poucas semanas pelo novo vírus. Desde sua descoberta oficial em Wuhan, na China, no final de dezembro de 2019, até meados de março de 2020, a expansão explosiva do Covid-19 foi paralisando paulatinamente os sistemas de saúde, os sistemas internacionais de viagens aéreas, marítimas e terrestres, o comércio, o setor de eventos e diversões públicas, a produção industrial e agrícola e, consequentemente, as bolsas de valores e os sistemas financeiros nos principais polos de produção e consumo de riquezas do planeta.

Desde a Segunda Guerra Mundial o sistema econômico mundial não vivenciava uma série de paralisações e quedas no consumo, nos investimentos, nas viagens e na produção de bens e serviços. Poucos segmentos ganharam com os isolamentos ou quarentenas determinadas pelos governos em boa parte do mundo, especialmente nas grandes e médias cidades. Entre os segmentos afortunados na pandemia estão ensino a distância, entretenimento online, plataformas para trabalho remoto, nutrição e saúde, telemedicina, planos de saúde e seguro de vida, alimentação, telefonia e internet banda larga, produtos de limpeza e destinados ao pessoal da área de saúde. Entre os perdedores estão (em ordem de prejuízos) os setores de eletrodomésticos, produtos e serviços de moda e beleza, academias de ginástica, cinema/teatro, eventos, hotéis, restaurantes e viagens e turismo (Estadão, seção Economia & Negócios, 17/04/2020). Desde o início do ano a onda de paralisações iniciada na China estendeu-se para a Ásia em geral, Oceania, Europa, África e Américas, onde teve efeitos mais letais nos Estados Unidos, o país mais rico e poderoso do mundo. Como se observa na lista acima, o setor de lazer, turismo e entretenimento foi dos mais afetados e com mais tempo para conseguir uma paulatina recuperação, a não ser que os medicamentos e as vacinas sejam produzidos rapidamente e permitam imunizar a maior parte da população.

Nessa crise as palavras como randômico, imponderável, disruptivo, híbrido, dinâmico, imprevisível e distópico, usadas para caracterizar facetas das sociedades líquidas (Bauman), pós-modernas (Lyotard) ou hipermodernas (Lipovetsky), tiveram seus sentidos ampliados pelo caos instalado ao longo de 2020, prolongado em vários lugares devido às complicações locais para gestão e controle da pandemia.

No turismo, um dos setores mais atingidos foi o de cruzeiros marítimos. Cerca de 300 navios (a maioria das quatro principais empresas: Carnival Cruises, Royal Caribbean Cruise Lines, Norwegian Cruise Line e MSC) de cruzeiros, além dos navios de exploração e turismo, cruzeiros fluviais e ferry boats de passageiros, tiveram a sua operação suspensa na totalidade a partir de março de 2020. Com o cancelamento dos cruzeiros programados e a queda das vendas de novas viagens, as empresas deixaram de obter recursos, demitiram ou colocaram a maior parte dos funcionários de terra ou embarcados em licença não remunerada, mas continuaram a ter despesas com os barcos estacionados por um longo período. Segundo estimativas, cada navio parado custa entre um a três milhões de dólares por mês, valor necessário para garantir a manutenção prévia e evitar a deterioração das instalações e sistemas eletro-eletrônicos de bordo. Algo similar aconteceu com as companhias aéreas, empresas rodoviárias e ferroviárias, shopping centers, centros de entretenimento, áreas de eventos, parques temáticos, hotéis e resorts. Apesar de não terem a totalidade de suas operações paralisadas, tiveram quedas significativas em suas vendas, em torno de 40 a 90 por cento.

Em maio de 2020, a FGV Projetos lançou o documento Impacto Econômico do Covid-19: Propostas para o turismo brasileiro (FGV, 2020FGV. (2020). Impacto econômico do Covid-19: propostas para o turismo brasileiro. Disponível em: https://fgvprojetos.fgv.br/sites/fgvprojetos.fgv.br/files/01.covid19_impactoeconomico_v09_compressed_1.pdf
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), no qual delineava o início da abertura da economia em maio, a retomada gradual das viagens domésticas entre setembro e outubro de 2020, a estabilização das viagens de negócios e eventos a partir de fevereiro de 2021 e a volta do turismo internacional a partir de meados de 2021 (outros analistas postergam a data para 2023). Essas análises abrangeram principalmente os setores de hospitalidade, transportes, bares e restaurantes, agenciamento e operação de viagens, aluguel de imóveis e atividades recreativas. O agenciamento e a organização de viagens foram o setor mais atingido, seguido de transportes rodoviário e aéreo. Bares e restaurantes foram menos afetados, mas ainda assim contam com uma queda média de quase 60% na produção. A projeção das perdas econômicas do turismo, em comparação ao PIB de 2019, totalizaram R$ 116,7 bilhões no biênio 2020/2021, uma queda de 21,5% na produção total do período. Foram consideradas medidas para ajudar o setor tais como auxílios públicos, especialmente para o setor aéreo; revisão de contratos de concessão; crédito facilitado às pequenas e médias empresas; redirecionamento dos recursos e esforços para promoção de destinos domésticos; além do crédito para os consumidores.

Leonel Andrade, presidente da CVC Corp., declarou, em abril de 2020, que o movimento similar ao de 2019, será alcançado apenas em 2023, significando uma retomada lenta e árdua para o turismo nacional e internacional. Andrade assumiu a CVC em março de 2020, em plena crise da empresa, marcada pela falência da Avianca Brasil, uma importante parceira do grupo, além dos problemas contábeis do balanço de 2019, que comprometeram os resultados positivos do período. Essa crise antecedeu a Covid-19, que apenas aprofundou as incertezas para o grupo.

O SEBRAE publicou, em maio de 2020, o documento intitulado Comportamento os viajantes: Importante para a retomada do turismo (SEBRAE, 2020SEBRAE. (2020. Comportamento os viajantes: importante para a retomada do turismo. Disponível em: https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/comportamentos-dos-viajantes-importante-para-a-retomada-do-turismo,877fac0d29cc1710VgnVCM1000004c00210aRCRD
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). O texto foi dividido nos temas saúde, família, hiperconexão, confiança, humanização e sustentabilidade. Foram diretrizes genéricas, sem objetividade ou detalhes operacionais significativos, um exemplo da incerteza que se instalou no mundo durante os primeiros meses da pandemia da Covid-19.

A WTTC (World Travel & Tourism Council) estimou em cerca de 100 milhões o número de empregos eliminados na crise da pandemia e alertou os países do G-20 sobre a gravidade da crise (WTTC, 2020aWTTC. (2020a). WTTC now estimates over 100 million jobs losses in the Travel & Tourism sector and alerts G20 countries to the scale of the crisis. Disponível em: https://wttc.org/News-Article/WTTC-now-estimates-over-100-million-jobs-losses-in-the-Travel-&-Tourism-sector-and-alerts-G20-countries-to-the-scale-of-the-crisis
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). A organização declarou em sua página na Web que “estamos em território desconhecido, nosso setor foi especialmente exposto e luta por sua sobrevivência”. (WTTC, 2020bWTTC. (2020b). WTTC Members COVID-19 Hub. Disponível em: https://wttc.org/en-gb/COVID-19/Member-Hub
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). Isso demonstra o grau de incerteza que cercou a pandemia duramente os primeiros meses. Essa dúvida deveu-se ao desconhecimento das especificidades do vírus e de como a pandemia se desenvolveria nas diversas regiões geográficas do planeta. Além disso, pouco se sabia sobre como os diversos governos administrariam a crise e do modo como a infraestrutura local facilitaria ou dificultaria os procedimentos para controlar a pandemia.

Para comparar, a WTTC aponta que a extensão dos danos causados pela SARS à economia em geral e ao turismo em particular, em 2003 girou em torno de 30 a 50 bilhões de dólares A China teve uma redução de 25% no setor de viagens e turismo, com uma perda de 2,8 milhões de empregos, e o país demorou 16 meses para recuperar as atividades. Com relação à crise do H1N1, em 2009, houve um impacto estimado entre 45 e 55 bilhões de dólares, sendo que só o México teve perdas de US$ 5 bilhões apenas no turismo. Em 2020, o coronavírus já se encontra bem mais disseminado que a SARS e a H1N1 em seus respectivos picos. A Covid-19 teve um impacto global calculado em US$ 2,7 trilhões e provocou a eliminação de 100 milhões de empregos, sendo a Ásia-Pacífico, Europa e América do Norte as regiões mais atingidas, em ordem decrescente (WTTC, 2020aWTTC. (2020a). WTTC now estimates over 100 million jobs losses in the Travel & Tourism sector and alerts G20 countries to the scale of the crisis. Disponível em: https://wttc.org/News-Article/WTTC-now-estimates-over-100-million-jobs-losses-in-the-Travel-&-Tourism-sector-and-alerts-G20-countries-to-the-scale-of-the-crisis
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).

Enquanto as companhias aéreas brasileiras retomaram aos poucos os voos a partir de maio/junho de 2020, a Argentina suspendeu todos os voos nacionais e internacionais até setembro de 2020, em uma operação de isolamento similar ao de países como Austrália e Nova Zelândia, entre outros que optaram por maiores cuidados para controlar a pandemia em seus territórios. Eduardo Sanovicz, presidente da ABEAR (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) e professor da EACH-USP, declarou ser impossível fazer projeções ou previsões, pois o nível de incerteza e desconhecimento das variáveis envolvidas na crise (epidemiológicas, virológicas, econômicas, logísticas, geográficas, políticas...) dificulta entender algo inédito na história.

Em meio a centenas de lives, consultorias a distância, coachs em agonia e analistas buscando clientes e fama, várias hipóteses surgiram tentando adivinhar como seria o mundo pós Covid-19. Ficou claro nas diversas entrevistas que quem mais estava informado sobre a crise menos fazia prognósticos, pois sabia a imponderabilidade e o grande número de variáveis com dados desconhecidos ou apenas parcialmente levantados. Covid-19 foi um “cisne negro” devastador, a primeira distopia do século XXI a paralisar o planeta, reduzindo brutalmente a mobilidade e a participação de pessoas em eventos, feiras, viagens, comemorações e festas fabulosas. Para algumas pessoas e instituições, foi um momento para refletir sobre o desenvolvimento caótico hodierno e como se reorganizar para o futuro. Para outras, foi uma oportunidade desperdiçada, uma crise que deixou muitos prejuízos, mal entendidos e pouco aprendizado, devido à ignorância ou ao egoísmo.

No Brasil, a crise sanitária e econômica foi potencializada pela crise política e social, protagonizada pelo presidente Jair Bolsonaro que, numa sequência de fatos desastrosos, proferiu ofensas preconceituosas à China e à Organização Mundial de Saúde, agência da Organização das Nações Unidas, baseado em teorias de conspiração pueris e em fake news distribuídas nas redes sociais por meio de robôs dirigidos pelo chamado “gabinete de ódio” do governo, formado por parentes e cúmplices do presidente, ato que levou à abertura de inquérito pelas autoridades judiciárias.

O próprio presidente defendeu publicamente que a pandemia era inofensiva, uma mera “gripezinha”; demitiu o ministro da Saúde em meio à crise, por ter elevada popularidade graças ao trabalho correto que fazia em conjunto com governadores os estados; desautorizou médicos e sanitaristas renomados, provocando confusão entre parte da população mais pobre ou menos informada. Diante disso figurou entre os piores líderes mundiais no combate ao novo coronavírus, segundo a imprensa internacional, e as incertezas geradas pelo chefe do poder executivo prejudicaram consideravelmente o combate efetivo à pandemia.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS – “VOCÊ NÃO PODE PREVER O FUTURO, MAS PODE CRIÁ-LO”

A frase de Peter Drucker (Cohen, 2008Cohen, W. A. (2008). Uma aula com Drucker. Rio de Janeiro: Elsevier/Campus., p. 133) continua válida. Há alguns princípios éticos, fundamentos teóricos de gestão, economia e governança, procedimentos logísticos e operacionais que abrangem produtos e serviços no mundo e mantêm os rumos sólidos de empresas, governos e instituições, mesmo em tempos de crises profundas. A dinâmica randômica atual gera crises em meio à imprevisibilidade ocasionada pela evolução tecnológica disruptiva, pela instabilidade econômica e financeira, pela fragmentação e diversidade de movimentos políticos e culturais, estilísticos e artísticos. Se as mudanças são abruptas e estruturais, as variáveis são tantas e, muitas delas, inéditas. Assim, não adianta meramente apostar ou fiar-se em ideologias e tendências com cronograma fechado. Não existe previsão a não ser os fluxos de informações gerados pelos big data dos grandes portais de serviços que coletam quantitativamente informações e tentam traçar possíveis caminhos de consumo, comportamento em geral, saúde, intenção de voto etc.

Fundamental é traçar alicerces sólidos de formação profissional, cidadã e pessoal (formar o caráter da pessoa) para que, nos diversos cenários possíveis, das oportunidades às crises, as pessoas tenham equilíbrio para aproveitar as boas chances ou minimizar os danos causados pelo imprevisto. Ninguém previu a internet, por exemplo; alguns previram uma nova epidemia de gripe com complicações respiratórias, mas ninguém deu atenção. Mesmo no ápice da pandemia de Covid-19 havia gente que não acreditava na doença ou no vírus. O 11 de Setembro de 2001 foi um raio no céu azul (quase literalmente), mas os traços de descontentamento e violência no islamismo radical eram evidentes há décadas. Muita gente se enganou com golpes envolvendo derivativos, criptomoedas, “correntes” disfarçadas de oportunidades de negócios, sem contar os engodos políticos e religiosos.

Por isso uma boa formação deve dar as bases éticas e intelectuais para possibilitar competências profissionais e cidadãs sólidas e, concomitantemente, prevenir contra crendices, irracionalismos ou simplesmente golpes de má-fé aos quais todos estamos sujeitos se não tivermos prudência e discernimento, equilíbrio emocional e maturidade existencial. Não se pode prever o futuro, mas é possível preparar-se para diversas situações por meio de planejamento dinâmico e estratégico.

Em 2020, o overtourism, a poluição ambiental e os congestionamentos causados pelo intenso fluxo de viajantes foram temporariamente controlados pela pandemia. É mais um aviso crucial de que a interação brutal entre humanos e a natureza causa mutações perigosas. Na China há concentração abusiva de gente e animais nos mercados de animais vivos, selvagens ou domésticos; criação intensiva de animais para abate ao redor do mundo; devastação predatória de florestas, águas e biomas fundamentais para o equilíbrio ecológico e preservação de qualidade de vida.

Essa interrupção radical de nossos ritmos excruciantes e frenéticos, mesmo que temporária, serviu para pensarmos algumas questões básicas da vida. Haverá mudanças e elas já estão em curso. Algumas foram mais profundas, outras foram mera acomodação. Tendências emergentes (como EaD, teleconferências) foram consolidadas. Alguns vícios permanecerão, pois nem todos aprendem com as crises ou oportunidades; há uma parcela de imbecis (como denominaria Umberto Eco) que se opõe à racionalidade e deixam seu egoísmo obscurecer seus juízos éticos e de valores.

O turismo não é desvinculado da economia, do meio ambiente, da sociedade, da política e da cultura. Turismo é um dos prazeres que a vida oferece no imenso campo do lazer e do hedonismo, mas depende dessa complexa interação e articulação para se desenvolver em parâmetros aceitáveis de sustentabilidade. Turismo é fruto da cultura, da civilização, da capacidade de fruir os prazeres sem culpa, sem medo ou vergonha. Mas também deve, assim como toda política econômica e social, cuidar para que a justiça social não seja apenas uma frase de efeito de governos ou instituições.

A extrema concentração de riquezas no mundo, os problemas ambientais e geopolíticos que aumentaram o número de refugiados e empobrecidos, as devastações de florestas e outros ecossistemas, são fruto de exploração predatória e egoísta dos recursos naturais e humanos. As crises cíclicas do último século mostram a teia de questões que desafia a humanidade desde seus primórdios, mas que foram potencializadas pelas novas tecnologias de informação e comunicação e pelos novos processos de gestão, controle e governança. A conscientização da diversidade étnica e cultural promove o respeito e a tolerância que todos merecem. Há uma luta perene para garantir ou ampliar os direitos de cidadania em cada região e os direitos humanos em geral.

Após cada crise sempre há mudanças e resistências geradas por diversos motivos. Para muitos, ainda é difícil adaptar-se à constância e à intensidade das transformações que vivemos e das ainda mais profundas - e talvez catastróficas - que viveremos nos próximos anos. Teremos cada vez mais tecnologia e capacidade de controle da sociedade por meio de big-data, algoritmos, câmeras de vigilância externas e sensores internos para monitorar nossos corpos - o desejo totalitário é de controlar corpos e mentes.

A única maneira de contrabalançar a tecnocracia burocrática e centralizadora é desenvolver, concomitantemente aos avanços científicos e tecnológicos, a ética e a justiça, a defesa das liberdades individuais e a pluralidade das diversas culturas e estilos de vida. O conhecimento será sempre fundamental para garantir níveis excelentes de segurança, qualidade, conforto, saúde e prazer. Isso vale para todos os setores da sociedade e da economia, especialmente para serviços destinados à fruição prazerosa da existência, como o turismo. Nesse sentido, o que era importante para a formação de profissionais no século XX continua a ser relevante, mas acrescido de outras habilidades necessárias para enfrentar os novos mundos que, periodicamente, surgem. A única constante é a mudança.

No entanto, enquanto o mundo provocar o interesse e curiosidade nas pessoas, o ato de viajar continuará forte no imaginário, na vontade e nos desejos, apesar – ou por causa – dos perigos que a vida nos inspira. A aventura supera o medo. As mudanças superam a imaginação. O prazer – Eros - deve sempre superar a castração, a morte - Tânatos.

  • Como citar: Trigo, L. G. G. (2020). Viagens e turismo: dos cenários imaginados às realidades disruptivas. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, 14 (3), p. 1 - 13, set./dez. http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v14i3.2107

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Out 2020
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2020

Histórico

  • Recebido
    20 Maio 2020
  • Aceito
    14 Jul 2020
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