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Mobilidade, imobilidade e a-mobilidade: para discutir o Turismo em tempos de COVID-19

Movilidad, inmovilidad y a-movilidad: para discutir el Turismo en tiempos de COVID-19

Resumo

A Mobilidade tem sido revisitada em anos recentes, associada aos temas espaço, tempo, território e lugar, mas poucas vezes envolvendo o Turismo, mais diretamente. Analisar o Turismo sob o viés da Mobilidade amplia seu escopo teórico, entre outros ao permitir acrescentar a ele os conceitos imobilidade e a-mobilidade. Nesses termos, o presente artigo objetiva discutir as relações entre Turismo e a tríade Mobilidade, Imobilidade e A-mobilidade, revista tendo como pano de fundo a Pandemia da COVID-19 e as questões do isolamento social a ela associadas. Para tal introduz o conceito A-mobilidade, recorrendo a figura do panóptico como metáfora. Os procedimentos de investigação retomam revisão realizadas em bases de dados, em junho último, utilizando os termos <Turismo>, <Tourism>, <Coronavirus> e <Covid-19>, quando foi constatada a ausência da questão mobilidade, no corpus resultante da revisão inicial. No presente momento, retoma-se a questão conceito mobilidade. Encaminha-se que durante a Pandemia e no seu após imediato registrou-se uma crise da e na mobilidade, afetando de modo dramático as práticas turísticas. A crise insinua que os deslocamentos ganharão nova forma e conteúdo no futuro próximo, sem abandonarem a mobilidade.

Palavras-chave
Turismo; Mobilidade; Imobilidade; A-Mobilidade; COVID-19

Resumen

La Movilidad ha sido revisada en años recientes, asociada a los temas espacio, tiempo, territorio y lugar, pero pocas veces involucrando el Turismo, más directamente. Analizar el Turismo bajo el sesgo de la movilidad amplía su alcance teórico, entre otros al permitir añadir a él los conceptos inmovilidad y la-movilidad. En consecuencia, el presente artículo tiene por objeto debatir las relaciones entre Turismo y la triada Movilidad, Imovilidad y A-movilidad, revisada en el contexto de la pandemia de Covid-19 y las cuestiones de aislamiento social asociadas. Para ello introduce el concepto de movilidad, recurriendo a la figura del Panóptico como metáfora. Los procedimientos de investigación recogen revisiones realizadas en bases de datos, en junio pasado, utilizando los términos <Turismo>, <Tourism>, <Coronavirus> y <Covid-19>, cuando se constató la ausencia de la cuestión movilidad, en el corpus resultante de la revisión inicial. En la actualidad, se vuelve a plantear la cuestión del concepto de movilidad. Parece ser que durante la pandemia y después de ella se produjo una crisis de la y la movilidad, afectando de manera dramática a las prácticas turísticas. La crisis implica que los desplazamientos adquirirán nueva forma y contenido en un futuro próximo, sin abandonar la movilidad.

Palabras-chave
Turismo; Movilidad; Inmovilidad; A-Movilidad; COVID-19

Abstract

Mobility has been revisited in recent years, associated with the themes of space, time, territory and place, but rarely involving Tourism, more directly. Analyzing Tourism under the mobility bias, broadens its theoretical scope, among others, by allowing to add to it the concepts of immobility and a-mobility. In these terms, this article aims to discuss the relations between Tourism and the triad Mobility, Immobility and A-mobility, reviewed against the backdrop of the Covid-19 Pandemic and the issues of social isolation associated with it. To this end, it introduces the concept of a-mobility, using the figure of the Paroptic as a metaphor. The investigation procedures resume a review carried out in databases, last June, using the terms <Tourism>, <Tourism>, <Coronavirus> and <Covid-19>, when the absence of the mobility issue was observed, in the corpus resulting from the initial review. At the present time, the question of mobility is taken up again. It is going that during the Pandemic and its immediate aftermath there was a crisis of and in mobility, dramatically affecting tourist practices. The crisis implies that displacements will gain new form and content in the near future, without abandoning mobility.

Keywords
Tourism; Mobility; Immobility; A-Mobility; COVID-19

1 INTRODUÇÃO

A presença humana no Planeta é marcada pelos deslocamentos, em interação direta com movimentos da Natureza e das práticas culturais, estas abalizadas por questões socioideológica. Esses movimentos incentivam ao nomadismo, em tempos primevos, depois às viagens, para, por fim, falar-se em Turismo. Como parte do movimento ecossistêmico da Natureza, vírus e bactérias propagam-se mais intensamente em alguns períodos, levando a doenças que, se generalizadas, podem desencadear surtos [aumento repentino do número de casos em uma região], epidemias [surto que acontece em várias regiões] ou pandemias [epidemia que se espalha globalmente] (Matsuki, s.d.Matsuki, E. (s.d.). Surto, epidemia, pandemia e endemia - entenda qual é a diferença entre eles. Educação UOL. Recuperado de: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/surto-epidemia-pandemia-e-endemia-entenda-qual-e-a-diferenca-entre-eles.htm
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). Em termos de doenças, estabelecido seu paciente zero, o deslocamento será responsável por propagá-las para outros lugares, sendo exemplos significativos a varíola e outros processos virais que assolaram os povos ameríndios no século XVI, face a presença europeia.

No seu percurso de expansão, surto, epidemia e pandemia afetam o ambiente, as estruturas econômicas, as relações sociais e, em ato contínuo, o Turismo. Conforme a capacidade de resiliência das unidades societais às mudanças internas e/ou externas, as pandemias as afetarão em maior ou menor grau. As transformações, positivas e negativas, têm incluído possível impacto demográfico e efeitos decorrentes sobre os sistemas econômicos de produção, entre eles a cadeia produtiva das viagens e do lazer.

Em contexto atual, a Pandemia Covid-19 traz como novidade não só sua alta letalidade, mas a velocidade de sua circulação e contágio, com impactos socioculturais, políticos e turísticos, devido, entre outros, à globalização e ao consumo em massa, que geram grandes aglomerações. A [i]mobilidade de pessoas e do sistema produtivo decorrentes, apresentam-se em simultâneo como causa e consequência dos impactos sociais e econômicos gerados. Em outras palavras, significa dizer que os deslocamentos, os movimentos e as doenças sempre estiveram intrínsecos aos processos humanos, expressos em diferentes termos, significados e ênfases. O que ressalta a importância da análise de questões associadas à Mobilidade, considerando conceitos já consagrados na literatura, assim como possíveis desdobramentos e inferência a partir dos mesmos.

Retomando o conceito <Mobilidade>, percebe-se que esta palavra-conceito não foi utilizada com maior ênfase em temas associados ao Turismo, até anos recentes (Kunz, 2015Kunz, J. G. (2015). As mobilidades turísticas como objeto de pesquisa: Um panorama dos periódicos estrangeiros (2000-2014). Revista Rosa dos Ventos – Turismo e Hospitalidade, 7(3), p. 377-391. Recuperado de: http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/rosadosventos/article/view/3665
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). A sua introdução como objeto de pesquisa nas Ciências Sociais reportaria aos últimos 20 anos, o que reforça a atualidade da pesquisa em e com a Mobilidade, seja ela abordada como conceito, como prática e/ou como metáfora. John Urry (2016)Urry, J. (2016). Globalizando o olhar do turista. Plural,23(2), p. 142-155. https://www.revistas.usp.br/plural/article/download/125105/122178/237284
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rememora que, quando publicou “O olhar do turista”, em 1990, o mundo apenas iniciava a compreender plenamente a globalização, a Internet era uma novidade e seria difícil, naquele momento, imaginar de maneira ampla todos os seus impactos sobre as unidades societais. Segundo ele, talvez mais importante, a Internet “[...] transformou as práticas comunicacionais ‘em movimento’ [...]”, o que levaria a uma “[...] notável ‘compressão espaço-temporal’.” (p. 142), alterando percepções e vivência. A globalização leva à Pós-Modernidade como sua expressão cultural, que não só considera as novas relações espaço-temporais, mas também a aceleração em termos de movimento (Jameson, 2001Jameson, F. (2001). Cultura do dinheiro. Vozes.; 1998Jameson, F. et al. (1998). Estudios Culturales. Reflexiones sobre el multiculturalismo. Paidós.; 1997Jameson, F. (1997). Sementes do tempo. Ática.; 1995Jameson, F. (1995). As marcas do visível. Graal.; 1992a; 1992b; Harvey, 1992Harvey, D. (1992). A condição pós-moderna. Loyola.).1 1 As datas destas referências, centradas na década de 1990, reforçam o período em que as discussões sobre movimento, via estudos associados à Pós-Modernidade, chegam ao Brasil.

Em tempos correlatos ou subsequentes, outros autores trazem a Mobilidade sob a concepção do movimento como liberdade e velocidade sem atrito, o que levaria a qualificar modos de vida (Leed 1991Leed, E. J. (1991). The Mind of the Traveler: From Gilgamesh to Global Tourism. Basic Books.; Urry, 2007Urry, J. (2007). Mobilities. Polity Press.; Rosa & Scheuerman, 2009Rosa, H., & William, E. S. (2009). High-speed Society: Social Acceleration, Power and Modernity. Pennsylvania: Pennsylvania State University Press.). Em texto de 2006, Gastal já chamava a atenção para a mobilidade como atávica ao ser humano, desde os nomadismos ancestrais. Destacava, ainda, tratar-se de elemento constitutivo do Turismo, o qual, no momento da sua escrita, ainda receberia pouca atenção nas práticas acadêmicas, centradas no receptivo [planejamento dos destinos] e organização da demanda para comercialização mais eficiente. A pesquisadora seguia, naquele momento, teóricos como Featherstone (1997)Featherstone, M. (1997). O Desmanche da cultura: globalização, pós-modernismo e identidade. Studio Nobel, Sesc., Ianni (1996) e Maffesoli (2001)Maffesoli, M. (2008). Michel Maffesoli: o imaginário é uma realidade. Revista FAMECOS, 8(15), p. 74-82. https://doi.org/10.15448/1980-3729.2001.15.3123
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.

Tratar de uma mobilidade intensificada, sem fronteiras e veloz, como presente nos estudos mais recentes [já citados] encaminha sua contraparte, a imobilidade, a ser considerada como categoria de análise. O que, nesse contexto, leva a duas questões: [1] de que as redes de mobilidade se reafirmam entre o fluxo e fixo, priorizando o primeiro, mas incorporando o segundo como análise para explicar a constituição de lugar; e [2] de que as formas móveis de trabalho, moradia e, principalmente, de Turismo e de turista, são parte da extensão teórica da Mobilidade, na qual podem ser analisadas, não como derivação, mas como objetos particulares de estudo (De Sá, 2020bDe Sá, F. Z. (2020b). A Mobilidade do quarteto instrumental Yangos: Dos fluxos às redes. Turismo, Território e Música. [Dissertação de Mestrado em Turismo e Hospitalidade, Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul, Brasil].). Ainda nesse contexto, é possível abranger uma terceira categoria, a-mobilidade.

Considerando tais cenários, o presente artigo tem por objetivo discutir as relações entre Turismo e a tríade Mobilidade, Imobilidade e A-mobilidade, revista tendo como pano de fundo a Pandemia Covid-19 e as questões do isolamento social a ela associadas. Os procedimentos de investigação retomam pesquisa realizada em bases de dados, em junho último, quando constatou-se a ausência da palavra mobilidade ou assemelhadas nos artigos então publicados a partir da Pandemia Covid-19 (De Sá, 2020aDe Sá, F. Z. (2020a). Mobilidade da produção científica sobre Turismo e Covid-19. Revista Rosa dos Ventos – Turismo e Hospitalidade, 12(3), p. 1-12. Recuperado de http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/rosadosventos/article/view/8858/pdf
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). Estranha-se, pois, historicamente as “[...] pandemias são recorrentes e as doenças, mais leves ou mais pesadas, sempre acompanharam os deslocamentos humanos” (Gastal, 2020Gastal, S. A. (2020). Turismo em tempos de COVID-19: Perguntas fortes, respostas fracas. Cenário – Revista Interdisciplinar em Turismo e Território, 8(14), p. 101-109. https://doi.org/10.26512/revistacenario.v8i14.32167
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, p. 106). Da Peste Negra, passando pela Gripe Espanhola e pelo Ebola, inclusive neste jovem século 21, doenças como a Sars, Mers e agora a Covid-19 foram, senão geradas, disseminadas pelos deslocamentos (Gössling, Scott & Hall, 2020Gössling, S., Scott, D., & Hall, C. M. (2020). Pandemics, tourism and global change: a rapid assessment of COVID-19. Journal of Sustainable Tourism, p. 1-20. https://doi.org/10.1080/09669582.2020.1758708
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).

Isso posto, o presente artigo divide-se em cinco partes, abordando, após a presente Introdução, os procedimentos teórico-metodológicos, a seguir discutindo-se teorizações sobre a Mobilidade e suas derivações. Segue-se a descrição das relações da Mobilidade com a história das pandemias e o Turismo para, por fim, propor o panóptico como metáfora para introduzir a discussão sobre a A-Mobilidade, antes de encaminhar as considerações não-finais, possíveis no atual momento.

2 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

Mesmo que os procedimentos anteriores não sejam o foco do presente artigo, especialmente por já tornados públicos no artigo intitulado “Mobilidade da Produção Científica sobre Turismo e Covid-19” (De Sá, 2020aDe Sá, F. Z. (2020a). Mobilidade da produção científica sobre Turismo e Covid-19. Revista Rosa dos Ventos – Turismo e Hospitalidade, 12(3), p. 1-12. Recuperado de http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/rosadosventos/article/view/8858/pdf
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), considera-se importante retomá-los, para sustentar a argumentação em desdobramento, agora desenvolvida. A revisão bibliográfica realizada em junho de 2020 percorreu as bases de dados Scopus, Spell, Scielo, ScienceDirect e Taylor&Francis, utilizando os termos <Turismo>, <Tourism>, <Coronavirus> e <Covid-19>, consolidando 194 resultados. Recortando para incluir apenas periódicos direcionados ao Turismo e que tivessem a área nas palavras-chave, restaram 10 artigos, com autores representando cerca de vinte países [Gössling, Scott & Hall, 2020Gössling, S., Scott, D., & Hall, C. M. (2020). Pandemics, tourism and global change: a rapid assessment of COVID-19. Journal of Sustainable Tourism, p. 1-20. https://doi.org/10.1080/09669582.2020.1758708
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; Hall, Scott & Gössling, 2020Gössling, S., Scott, D., & Hall, C. M. (2020). Pandemics, tourism and global change: a rapid assessment of COVID-19. Journal of Sustainable Tourism, p. 1-20. https://doi.org/10.1080/09669582.2020.1758708
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; Everingham & Chassagne, 2020Everingham, P., & Chassagne, N. (2020). Post Covid-19 ecological and social reset: moving away from capitalist growth models towards tourism as Buen Vivir. Tourism Geographies – An International Journal of Tourism Space, Place and Environment, p. 1-13. https://doi.org/10.1080/14616688.2020.1762119
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; Wen, Wang, Kozak, Liu & Hou, 2020Wen, J., Wang, W., Kozak, M., Liu, X., & Hou, H. (2020). Many brains are better than one: the importance of interdisciplinary studies on COVID-19 in and beyond tourism. Tourism Recreation Research, p. 1-5. https://doi.org/10.1080/02508281.2020.1761120
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; Galvani, Lew & Sotelo Perez, 2020Galvani, A., Lew, A., & Perez, M. S. (2020). COVID-19 is expanding global consciousness and the sustainability of travel and tourism. Tourism Geographies – An International Journal of Tourism Space, Place and Environment, p. 1-11. https://doi.org/10.1080/14616688.2020.1760924
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; Chen, Huang & Li, 2020Chen, H., Huang, X., & Li, Z. (2020). A content analysis of Chinese news coverage on Covid-19 and tourism. Current Issues in Tourism, p. 1-9. https://doi.org/10.1080/13683500.2020.1763269
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; Brouder, Teoh, Salazar, Mostafanezhad, Pung, Lapointe, Desbiolles, Haywood, Hall & Clause, 2020Brouder, P., Teoh, S., Salazar, N., Mostafanezhad, M., Pung, J., Lapointe, D., Desbiolles, F., Haywood, M., Hall, C. M. & Clausen, H. B. (2020). Reflections and discussions: tourism matters in the new normal post COVID-19. Tourism Geographies – An International Journal of Tourism Space, Place and Environment, 1-13. https://doi.org/10.1080/14616688.2020.1770325
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; Dube, Nhamo & Chikodzi, 2020Dube, K., Nhamo, G., & Chikodzi, D. (2020). Covid-19 cripples global restaurant and hospitality industry. Current Issues in Tourism, p. 1-5. https://doi.org/10.1080/13683500.2020.1773416
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; Lew, Cheer, Haywood, Brouder & Salazar, 2020Lew, A., Cheer, J., Haywood, M., Brouder, P., & Salazar, N. (2020). Visions of travel and tourism after the global Covid-19 transformation of 2020. Tourism Geographies – An International Journal of Tourism Space, Place and Environment, p. 1-13. https://doi.org/10.1080/14616688.2020.1770326
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; Foo, Chin, Tan & Phuah, 2020Foo, L-P., Chin, M-Y., Tan, K-L., & Phuah, K-T. (2020). The impact of Covid-19 on tourism industry in Malaysia. Current Issues in Tourism, p. 1-6. https://doi.org/10.1080/13683500.2020.1777951
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] (De Sá, 2020aDe Sá, F. Z. (2020a). Mobilidade da produção científica sobre Turismo e Covid-19. Revista Rosa dos Ventos – Turismo e Hospitalidade, 12(3), p. 1-12. Recuperado de http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/rosadosventos/article/view/8858/pdf
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).

A mesma revisão constatou que, além dos termos <Covid-19>, <Pandemia> e <Turismo>, as palavras-chave mais presentes nos artigos elencados foram sustainable, crisis, resilience, global, travel e future. Constata-se, portanto, três situações: [1] os estudos na área do Turismo não priorizam investigar questões de saúde, em específico as doenças e suas relações com as viagens; [2] em todos os artigos a abordagem centra-se em revisar as teorias pré-existentes, buscando preencher as lacunas a elas impostas pela Pandemia; e [3] a palavra mobilidade ou assemelhadas, não são citadas, nem mesmo no decorrer dos textos (De Sá, 2020aDe Sá, F. Z. (2020a). Mobilidade da produção científica sobre Turismo e Covid-19. Revista Rosa dos Ventos – Turismo e Hospitalidade, 12(3), p. 1-12. Recuperado de http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/rosadosventos/article/view/8858/pdf
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).

Partindo das revisões teóricas – a anterior e a realizada no âmbito deste artigo –, ambas permitem inferir que o Turismo ainda carece de estudos que entendam a Mobilidade como parte de sua produção social, cultural e econômica e que, portanto, afeta ativamente as suas estruturas, por um lado reforçando-as, mas outro as fragilizando, como nos casos pandêmicos de saúde pública. Portanto, no prosseguimento do estudo, ora apresentado, analisa-se o Turismo e suas relações com a Mobilidade, o que leva a se discutir como decorrentes, os conceitos Imobilidade e A-Mobilidade. Levanta-se, como cenário, o atual estado da arte nos estudos sobre Mobilidade, para a seguir introduzir o panóptico como metáfora da A-mobilidade, ou seja, dos confinamentos impostos em tempos de pandemias, recorrente na história humana.

Neste momento da pesquisa, o estudo centra-se em teorias já consagradas pelas áreas da Sociologia (Urry, 1995Urry, J. (1995). Consuming places. Routledge., 2000Urry, J. (2000). Sociology beyond societies: Mobilities for the twenty-first century. Routledge., 2001Urry, J. (2001). O olhar do turista: lazer e viagem nas sociedades contemporâneas. Studio Nobel., 2004Urry, J. (2004). The ‘system’ of automobility. Theory, Culture and Society, 21(1), p. 25-39.; Sheller, 2014Sheller, M. (2014). The new mobilities paradigma for a live sociology. Current Sociology Review, 62(6), p. 789-811. ), da Geografia (Cresswell, 2010Cresswell, T. (2010). Towards a politics of mobility. Environment and Planning D: Society and Space, 28(2), p. 17-31. https://journals.sagepub.com/doi/10.1068/d11407
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; Haesbaert, 1995Haesbaert, R. (1995). “Gaúchos” no Nordeste: Modernidade, des-territorialização e identidade. 1995. 387f. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade de São Paulo, São Paulo., 2007Haesbaert, R. (2007). Território e multiterritorialidade: Um debate. Revista GEOgraphia, 9(17), p. 19-46. http://periodicos.uff.br/geographia/article/view/13531/8731
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, 2014Haesbaert, R. (2014). O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. (8. ed.). Bertrand.) e do Turismo (Allis, 2016Allis, T. (2016). Em busca das mobilidades turísticas. Plural – Revista de Ciências Sociais, 23(2), p. 94-117. http://www.revistas.usp.br/plural/article/view/125112
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; Kunz, 2015Kunz, J. G. (2015). As mobilidades turísticas como objeto de pesquisa: Um panorama dos periódicos estrangeiros (2000-2014). Revista Rosa dos Ventos – Turismo e Hospitalidade, 7(3), p. 377-391. Recuperado de: http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/rosadosventos/article/view/3665
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; Freire-Medeiros & Telles; Allis, 2018Freire-Medeiros, B., Telles, F., & Allis, T. (2018). Por uma teoria social on the move. Revista Tempo Social, 30(2), p. 1-16. Recuperado de: https://www.revistas.usp.br/ts/article/view/142654/142048
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). Em cada área de estudo, a Mobilidade é analisada nas suas transversalidades e caracterizações teórico-metodológicas específicas. As diversas abordagens levam a crer que o estudo da Mobilidade se coloca como de importância e destaque nas primeiras décadas do século XXI, como anteriormente já colocado. Para o presente estudo será ressaltado o tratamento dispensado pela Sociologia e pela Geografia, sem desconsiderar outras visões sobre o tema, porém priorizando aquelas que discutam o Turismo ou tenham em seu contexto conceitos relacionados. No Turismo, os autores que discutem aspectos da Mobilidade recorrem a Urry, Sheller e Cresswell, razão pela qual, para fins do presente resgate teórico, priorizam-se estes, em detrimento de outros que poderiam também integrar com pertinência o atual momento da pesquisa.

3 CENÁRIO TEÓRICO: MOBILIDADE

E pur si muove!”.

Reza a lenda que esta seria a frase murmurada por Galileu, depois de renegar suas teorias sobre o heliocentrismo, perante Tribunal de Inquisição, na primeira metade do século XVII. Desde então e especialmente a partir de várias teorizações contemporâneas em diferentes áreas do conhecimento, o movimento não se reduz aquele dos corpos celestes, sendo possível afirmar que mesmo internamente no Planeta Terra, tudo está em movimento. Rápido ou vagaroso, intenso ou suave, visível ou invisibilizado, o movimento se desdobra. Considerada a teoria da complexidade como proposta por Morin (2005)Morin, E. (2005). Ciência com consciência. Tradução de Maria Alexandre e Maria Dória. (8. ed.) Bertrand., somos parte do movimento universal, terrestre, biológico, comunitário e familiar. Caminhamos, nos deslocamos, nos des[re]territorializamos, turistamos. Sem movimento, mas principalmente sem deslocamento, não teríamos Turismo [mesmo reconhecendo que, para se constituir, o fenômeno envolva outros aspectos]. Considerar o movimento como concepção anterior ao deslocamento, coloca as discussões conceituais sobre o Turismo em outro patamar teórico.

Deslocamento, do latim des-locare – colocar para fora do lugar pressupõe a ação do movimento/movimentar-se a outro lugar, diferente do atual, seja ele um atrativo turístico, uma cidade, um país, podendo dar-se em especificações na forma de viagens, de nomadismos ou de migrações, entre outros (Cresswell, 2006Cresswell, T. (2006). On the move: Mobility in the modern Western World. Routledge.). O deslocamento pode ser desenhado como a prática cotidiana do movimento, carregada de significado e significações, que induzam o sujeito a se colocar para fora do lugar onde esteja. Outra situação imbricada ao deslocamento é o signo do lugar, questão ligada ao sedentarismo, como um fixo no espaço, denotado de ligação sociocultural e de pertencimento.

Deslocamento leva à mobilidade, como sucessores do movimento. O movimento pressupõe a passagem do tempo e a transversalidade do espaço, mas é no deslocamento que a conectividade entre dois lugares é de fato conotada pelo espaço e pelo tempo (Cresswell, 2006Cresswell, T. (2006). On the move: Mobility in the modern Western World. Routledge.). Para Cresswell, o movimento envolve a concepção de deslocamento, porém, abstraído de poder e de significado; já o deslocamento seria o ato carregado da estratégia e de implicações sociais, que leva a mobilidade. Ou seja, o movimento antecede ao deslocamento, que por sua vez é anterior à mobilidade, porém, os dois primeiros colocam-se como essenciais para entender o que se segue.

Questionando a mobilidade, busca-se mais uma vez por raízes etimológicas no latim em mobilis, que significa estar em movimento ou o que pode ser movido, deslocado, ou seja, num sentido de certa forma passivo; e movere, significando o deslocar, o colocar-se em mobilidade, motu proprio. Etimologicamente, encaminha-se a possibilidade de sujeitos e estruturas estarem móveis, i-móveis ou a-móveis.

Nesse contexto, o estar em movimento e o estar em deslocamento são categorias da Mobilidade para o Turismo. Estar em movimento relaciona-se ao estar em e no fluxo, onde aparentemente tudo se move e produz em certa camada as relações turísticas, seja a conectividade com o lugar, seja com a economia local. Sennett (2019)Sennett, R. (2006). A cultura do novo capitalismo. Record., sem necessariamente ater-se ao Turismo, mas o utilizando para exemplificar seu pensamento sobre consumo, escreve que “[...] o turista que viaja de uma cidade clonada para outra, visitando as mesmas lojas, comprando em cada uma delas os mesmos produtos [...] o fato é que viajou: para o consumidor, o estímulo está no próprio processo de movimento” (p. 137, grifo dos autores). Ou seja, o sujeito em movimento e em deslocamento está também produzindo fluxos, conectividades e relações, mesmo que seja o consumo por simples consumo.

Na relação entre movimento e deslocamento, Kaufmann (2004)Kaufmann, V., Bergman, M. M., & Joye, D. (2004). Motility: mobility as capital. Internacional Journal of Urban and Regional Research, 28(4), p. 745-756. https://doi.org/10.1111/j.0309-1317.2004.00549.x
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diz que a facilidade do movimento está associada à motilidade, ou seja, a capacidade e facilidade das entidades [pessoas, empresas, objetos] em se moverem no espaço social e geográfico ou como a maneira pela qual as entidades acessam e se apropriam da capacidade da mobilidade socioespacial. Assim, a mobilidade está além do deslocamento de e para, sendo a motilidade essa facilidade, mesmo que essa pressuponha outras dinâmicas.

Pela complexidade das questões envolvidas, Sheller e Urry (2006)Sheller, M., & Urry, J. (2006). The new mobilities paradigm. Environment and Planning A, 38(1), p. 207-226. https://doi.org/10.1068/2Fa37268
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e Cresswell (2006)Cresswell, T. (2006). On the move: Mobility in the modern Western World. Routledge. 2 2 Ressalta-se aqui que as bases teóricas de muitos autores, como Tim Coles, Colin Hall, Scott Cohen e até mesmo Kevin Hannam derivam a partir de Sheller e Urry, analisando a Mobilidade como mudança paradigmática, entre outras discussões. E, portanto, alguns não se fazem presente nessa revisão. defendem a Mobilidade como mudança epistemológica e paradigmática de técnicas, práticas e métodos, que ocorrem no interior das Ciências Sociais. A Mobilidade, vista por esse viés, preocupa-se em mapear e compreender tanto os movimentos em grande escala de pessoas, objetos, capitais e informações em todo o mundo, como também os processos locais de transporte diário, movimento através do espaço público e as viagens materializadas no âmbito da vida cotidiana (Sheller & Urry, 2006Sheller, M., & Urry, J. (2006). The new mobilities paradigm. Environment and Planning A, 38(1), p. 207-226. https://doi.org/10.1068/2Fa37268
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).

O estudo da Mobilidade converge aos conceitos espaço, território e lugar, tempo e movimento, nas dicotomias sedentário e nômade (Sheller & Urry, 2006Sheller, M., & Urry, J. (2006). The new mobilities paradigm. Environment and Planning A, 38(1), p. 207-226. https://doi.org/10.1068/2Fa37268
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). Nessa dialógica, não somente estão sendo questionados os fixos territoriais e sedentários, mas também os fundamentos nômades e de fluxos, para pensar a contemporaneidade. A discussão da fragmentação e do desencaixe espaço-temporal, unidas nas redes de poder e controle, coloca-se como “[...] o que antes fazia parte de um aqui e agora conjugado, passa a se dissociar espacialmente.” (Haesbaert, 2014Haesbaert, R. (2014). O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. (8. ed.). Bertrand., p. 156). A espacialidade e a temporalidade “[...] não representam o movimento, mas só podem ser representadas em movimento [...]” (Jameson, 2006Jameson, F. (1992). O inconsciente político: a narrativa como ato socialmente simbólico. Ática., p. 40, grifo do autor). Questionar tais conceitos está no cerne da discussão do novo paradigma de mobilidade, conforme os teóricos citados. O que, neste entrelaçamento, permite associar a Mobilidade a aspectos teóricos e práticos vividos e concebidos na contemporaneidade.

Avançando na presente discussão, para Urry (2000)Urry, J. (2000). Sociology beyond societies: Mobilities for the twenty-first century. Routledge. a Mobilidade está no fluido, mas também no estático, pois, por exemplo, mesmo estando no interior de um prédio, que seria um lugar aparentemente imóvel, há energias e fluxos a perpassá-lo. Ou seja, tudo está em movimento, a todo o momento, mesmo que aos nossos sentidos isso não seja reconhecível. Analisar por tal perspectiva, permite associar que “[...] um tipo de mobilidade tem sempre impacto sobre o outro.” (Lemos, 2009Lemos, A. (2009). Cultura da mobilidade. Revista FAMECOS – mídia, cultura e tecnologia, 16(40), p. 28-35., p. 29), ou seja, a mobilidade, a imobilidade e a a-mobilidade estão em tensão a cada movimento/deslocamento realizado. A a-mobilidade, ao contrário da mobilidade e da imobilidade, não se constitui como amarra [mooring], ou em uma parada num fluxo de movimento. A parada, no movimento [i-mobilidade], mantem-se impregnada do imaginário, do discurso e da prática móvel, o que vale para o Turismo.

Para um melhor entendimento é necessário retomar a relação espaço-tempo, o território e o lugar, revisitados como questões imbricadas. A Mobilidade, não está desassociada do espaço e do tempo, pois funcionam como agentes de sua produção social (Cresswell, 2006Cresswell, T. (2006). On the move: Mobility in the modern Western World. Routledge.). Harvey (1992)Harvey, D. (1992). A condição pós-moderna. Loyola. explica que “[...] o espaço e o tempo são categorias básicas da existência humana. E, no entanto, raramente discutimos seu sentido; tendemos a tê-los por certos e lhes damos atribuições do senso comum ou auto evidentes.” (p.187). Ou seja, o senso comum tende a ver espaço e tempo como naturais quando, na verdade, ambos são construções culturais. Se construções culturais, é importante destacar que cada época [sensibilidade] cria a sua relação com os conceitos, o que também impõe que a Mobilidade esteja impregnada de discursos e práticas associada.

Se as relações de poder e o significado são parte do processo da Mobilidade, elas também afetarão a tríade mobilidade, imobilidade e a-mobilidade. A relação espaço-temporal unida ao território e ao lugar impõe analisa-los por meio dos seus fluxos e fixos, os quais reconstroem associações, antes modernas. Em outras palavras, a imobilidade [i-móvel] deriva-se da concepção de estagnação e estatização do movimento, associada a locais materialmente fixos, como aeroportos, rodoviárias, ferroviárias, residências, prédios, etc., causando a fixação nos lugares [sujeitos-fixos]. A imobilidade significa o movimento contra o movimento. Já a a-mobilidade [a-móvel] apresenta-se como afastamento e separação do movimento e do contra movimento, não impedindo a mobilidade. Trata-se de um contexto estranho e desconhecido ao movimento e ao deslocamento. Para que o a-móvel retome o movimento e o deslocamento, precisará expandir-se temporal e espacialmente.

Nessa perspectiva, o Turismo não é apenas uma forma de Mobilidade como outra forma qualquer, uma vez que esta o constitui intrinsicamente. Como dito por Hannam, Butler and Paris (2014)Hannam, K., Butler, G., & Paris, C. M. (2014). Developments and key issues in tourism mobilities. Annals of Tourism Research, 44(1), p. 171-185. Recuperado de: https://eprints.mdx.ac.uk/17470/1/Pre-Proof%20Draft%20Developments%20and%20Key%20Issues%20in%20Tourism%20Mobilities-%20Annals%20of%20Tourism%20Research.pdf
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, “[...] as mobilidades envolvem a movimentação de pessoas, a movimentação de toda uma gama de coisas materiais, e o movimento de pensamentos e fantasias mais intangíveis.” (p. 172), logo, mobilidades turísticas não se diferenciam teoricamente do já incorporado aos conceitos de Turismo, mas podem redirecioná-lo. Partindo desse pressuposto, a Mobilidade analisada como objeto teórico do Turismo necessita da incorporação da macro e da micro política, por via do deslocamento, posicionada em relações de poder [apropriação e dominação] as quais os sujeitos estão submetidos. As relações de poder são definidoras do e para o deslocamento, pois são elas que ditam quais sistemas da mobilidade serão necessários para que tal ocorra. Como Sheller (2018)Sheller, M. (2018). Theorizing mobility justice. Revista Tempo Social, 30(2), p. 17-34. https://www.scielo.br/pdf/ts/v30n2/1809-4554-ts-30-02-17.pdf
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nos explica, “[...] os sistemas são culturalmente moldados e politicamente governados por regimes de mobilidade que governam quem e o que pode se mover (ou ficar parado), quando, onde, como e em que condições.” (p. 19, tradução dos autores).

Nessa relação, estão adicionadas duas situações específicas, as quais o Turismo teoricamente já incorporou: [1] o imaginário, enquanto processo e produção do coletivo para o individual, o qual [re]cria as relações de poder estruturadas para se tornarem estruturas de poder institucionalizadas e dominantes que determinam o discurso e a prática do movimento e do deslocamento; [2] as estruturas [infra e super] que modelam as unidades societais criam o efeito do imaginário, partindo do poder do discurso e da prática, mas incorporando não só a mobilidade, mas também a imobilidade e a a-mobilidade, pois analisar o movimento puro, não está acrescido de relações significantes.

Retomando, conceitualmente o estar em deslocamento seria próprio do sujeito do Turismo, o estranho que adentra novos territórios e [des][re]territorializa as suas práticas cotidianas. Já o estar em mobilidade pode vir associado ao deslocamento e ao movimento, mas ressaltando as relações de poder [dominação e apropriação] que estão intrínsecas, como também ao estar estagnado temporariamente em um local [imobilidade] ou, ainda, ao estar afastado, separado do movimento e do deslocamento, por longo período [a-mobilidade]. A imobilidade integra o processo de mobilidade; a a-mobilidade se distancia e desprega dela. Portanto, para analisar o Turismo e a sua relação com a Mobilidade em momentos de crise, é necessário trazer à discussão os conceitos de imobilidade e, para além dela, considerar a a-mobilidade. Faz-se um parêntese aqui, a um rápido resgate das doenças que historicamente estiveram presentes nos movimentos humanos [e na sua interrupção], para a seguir retomar o panóptico como metáfora do confinamento em tempos de pandemia, questionando tratar-se nestes termos de uma imobilidade ou de uma a-mobilidade.

4 MOBILIDADE E PANDEMIAS

O Turismo apresenta uma sintonia muito fina com fatos sociais e/ou econômicos. Tal sintonia apresentou-se bastante explícita, para ficar em apenas um exemplo, no após 9/11, que afetou a atividade e a prática, ao ponto de imobilizar os turistas por algum tempo, não apenas nos Estados Unidos, mas no mundo. (Korstanje & Tarlow, 2012Korstanje, M. E., & Tarlow, P. (2012). Being lost: tourism, risk and vulnerability in the post-‘9/11’entertainment industry.Journal of Tourism and Cultural Change,10(1), p. 22-33. https://doi.org/10.1080/14766825.2011.639455
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; Korstanje & Clayton, 2012Korstanje, M. E., & Clayton, A. (2012). Tourism and terrorism: conflicts and commonalities.Worldwide Hospitality and Tourism Themes, 4(1), p. 8-25. https://doi.org/10.1108/17554211211198552
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; Steiner, 2007Steiner, C. (2007). Political instability, transnational tourist companies and destination recovery in the Middle East after 9/11.Tourism and Hospitality Planning & Development,4(3), p. 169-190. https://doi.org/10.1080/14790530701733421
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; Bonham, Edmonds & Mak, 2006Bonham, C., Edmonds, C., & Mak, J. (2006). The impact of 9/11 and other terrible global events on tourism in the United States and Hawaii.Journal of Travel Research,45(1), p. 99-110. https://doi.org/10.1177/2F0047287506288812
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; Edmonds & Mak, 2006Edmonds, C. M., & Mak, J. (2006). Terrorism and tourism in the Asia Pacific region: is travel and tourism in a new world after 9/11?. Recuperado de: https://www.eastwestcenter.org/system/tdf/private/ECONwp086.pdf?file=1&type=node&id=32107
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). Sum e So (2004)Sum, N.-L., & So, M.-C. (2004). The paradox of a tourist centre: Hong Kong as a site of play and a place of fear. In: Sheller, M., & Urry, J. (2004). Tourism Mobilities: Places to play, places in play. Routledge. relembram que após o impacto do 9/11 no Turismo e na lógica global, a SARS, primeiramente detectada no sul da China, esteve relacionada a barreira imposta para o Turismo como uma ‘área proibida’, na qual as práticas de mobilidade foram [re]vistas e os discursos, ainda que discriminatórios, alimentaram certo imaginário de medo da população. Um olhar mais amplo poderia demonstrar como outras crises, doenças e desastres, i-mobilizaram viajantes e práticas turísticas, seja qual fosse o formato de mobilidade praticado nos períodos em simultâneo a elas.

Em termos de doenças, Faraldo e Rodriguez-López (2013)Faraldo, & Rodríguez-López, (2013). Introducción a la história del turismo. Alianza Editorial. lembram Otsi como o proto viajante europeu. O corpo mumificado, datado de milhares de anos, permitiu que arqueólogos estudassem as roupas usadas por ele, do que se alimentara antes de sua morte, assim como suas doenças, que viajavam com ele (Gastal, 2020Gastal, S. A. (2020). Turismo em tempos de COVID-19: Perguntas fortes, respostas fracas. Cenário – Revista Interdisciplinar em Turismo e Território, 8(14), p. 101-109. https://doi.org/10.26512/revistacenario.v8i14.32167
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). Segundo a mesma autora, na Idade Média os peregrinos à Compostela carregavam a Peste Negra em seus corpos e vestes. Em outro momento, a “[...] Cólera apresentaria grandes surtos na primeira metade do século XIX, espalhando-se à medida que transportes como o trem e o barco a vapor aceleravam o número e a velocidade dos deslocamentos.” (p. 106). Já a Varíola tem seu mapa de propagação associado às grandes navegações do século XVI, e a Gripe Espanhola, para ficar apenas em alguns casos, chegou ao Brasil “[...] a bordo do navio Demerara, onde pessoas haviam morrido durante a viagem.” (p. 107).

Assim como as Américas, também a Europa teve sua história moldada pelas doenças e pragas (Zenker & Kock, 2020Zenker, S. & Kock, F. (2020). The Coronavirus pandemic – A critical discussion of a tourism research agenda. Tourism Management, 81, p. 1-3. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2020.104164
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), ao causarem enormes impactos demográficos, desafiando nos seus efeitos os sistemas de produção e a capacidade das unidades societais em se adaptarem e regenerarem em presença de mudanças externas incontroláveis (Hall, Scott & Gössling, 2020Gössling, S., Scott, D., & Hall, C. M. (2020). Pandemics, tourism and global change: a rapid assessment of COVID-19. Journal of Sustainable Tourism, p. 1-20. https://doi.org/10.1080/09669582.2020.1758708
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). Nos exemplos trazidos por Gastal (2020)Gastal, S. A. (2020). Turismo em tempos de COVID-19: Perguntas fortes, respostas fracas. Cenário – Revista Interdisciplinar em Turismo e Território, 8(14), p. 101-109. https://doi.org/10.26512/revistacenario.v8i14.32167
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estão implícitas as relações nômade/sedentário por três vieses: [1] o nômade, na sua versão tradicional, por meio do movimento e do deslocamento carregava consigo possíveis doenças, sintomáticas ou assintomáticas, criando desdobramentos ecossistêmico por onde passasse; [2] os peregrinos, que por via da dor e do sofrimento, buscavam na imobilidade dos santuários a purificação para suas doenças, muitas vezes decorrentes da sedentarização e da a-mobilidade dos sujeitos no espaço urbano medieval; [3] o trem, o navio e depois o avião, em modalidades cada vez mais sofisticadas e rápidas, transformam a produção social e as relações espaço-temporais, ampliando o entendimento de mobilidade, mas também de a-mobilidade, na expansão temporal e espacial a que induzem os sujeitos.

Os deslocamentos tendem a transformar as doenças em pandemias, quando invadem novos territórios, rompendo barreiras e construindo, na mobilidade, um novo meio de produção social. Com isso, as doenças afetam estruturas, relações sociais e unidades societais, bem como ao Turismo. Faraldo e Rodríguez-López (2013)Faraldo, & Rodríguez-López, (2013). Introducción a la história del turismo. Alianza Editorial. associam doenças e viagens não só na expansão de malefícios, mas também quando os deslocamentos têm por motivação a busca da saúde. Reportam aos romanos da Idade Clássica, passando pelos prazeres e benefícios das águas termais redescobertos na Idade Média e, depois, nas estâncias hidrominerais francesas. Neste último caso, é possível lembrar a tuberculose, que levava os doentes ao que pode ser caracterizado como a-mobilidade, nos sanatórios e casas de saúde, onde permaneciam por longos períodos, isolados do mundo exterior3 3 A a-mobilidade criada pela Tuberculose, nos sanatórios, é brilhantemente tratada por Thomas Mann, no livro A Montanha Mágica (São Paulo: Companhia da Letras, 2016). .

Outra situação colocada por Faraldo e Rodríguez-López (2013)Faraldo, & Rodríguez-López, (2013). Introducción a la história del turismo. Alianza Editorial. é o higienismo, como alternativa à i-mobilidade das estruturas urbanas, que impediam boas práticas sanitárias. Assim, a fuga para locais junto à natureza, para as águas termais e minerais, para o campo e para as montanhas, práticas não raro elitistas, porque não permitia acesso a grande parte da população, viés que apenas recentemente começou a receber maior atenção nos estudos acadêmicos. Tais reflexões trazem importantes aportes para repensar a prática turística durante e/ou após a pandemia contemporânea. Historicamente, a elite tem a possibilidade de continuar móvel mesmo em situações de crise, enquanto a periferia [metafórica e empírica] é colocada em i-mobilidade no primeiro momento. Caso a pandemia se prolongue, a periferia poderá ficar a-mobilizada no seu isolamento, lhe sendo permitido o deslocamento e o movimento somente quando por alguma urgência (Vieira & Gastal, 2018Vieira, J. P., & Gastal, S. A. (03 a 06 de setembro de 2018). Turismo, cidades e periferia: Interfaces. VI Colóquio Internacional sobre Comércio e Cidade, Porto Alegre. Recuperado de: http://www.labcom.fau.usp.br/wp-content/uploads/2020/04/ANAIS_26Julho_yuri2-1.pdf
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).

Considera-se, portanto, que se a pandemia Covid-19, por um lado, inscreve-se em uma série histórica, por outro apresenta como novidade a força global e generalizada de seus impactos, imobilizando as unidades societais, a economia e, com maior virulência, a cultura e o Turismo. A propagação foi tão rápida, que Gössling, Scott e Hall (2020)Gössling, S., Scott, D., & Hall, C. M. (2020). Pandemics, tourism and global change: a rapid assessment of COVID-19. Journal of Sustainable Tourism, p. 1-20. https://doi.org/10.1080/09669582.2020.1758708
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levantam a suspeita de que a mesma teria ocorrido em um único dia. A mobilidade, acelerada e intensa, teve como impacto a a-mobilidade dos sujeitos e das unidades societais. Assim, o que em 2019 era denominado de overtourism e/ou de turismofobia, agora é substituído pelo non-Tourism (Gössling, Scott & Hall, 2020Gössling, S., Scott, D., & Hall, C. M. (2020). Pandemics, tourism and global change: a rapid assessment of COVID-19. Journal of Sustainable Tourism, p. 1-20. https://doi.org/10.1080/09669582.2020.1758708
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). Ou, como é possível indicar, no viés do a-Turismo como a negação e a privação momentânea do Turismo presencial, a exigir novos conceitos ou revisitação a conceitos estabelecidos para pleno entendimento do momento Covid-19.

5 A-MOBILIDADE: PANÓPTICO COMO METÁFORA

Foucault (1987, 1999)Foucault, M. (1999). Vigiar e Punir: História da violência nas prisões. (27 ed.) Vozes. busca no projeto arquitetônico do presídio Panóptico de Bentham [Figura 1], a imagem para discutir visibilidade, invisibilidade e violência. Nesse presídio, a relação imposta é a de controle dos detentos a partir de uma torre central, as celas envidraçadas distribuídas circularmente a sua volta, como instrumento de disciplina e controle. O filósofo o descreve, dizendo que: “Eis as medidas que se faziam necessárias, segundo um regulamento do fim do século XVII, quando se declarava a peste numa cidade.” (p. 219). Ao estabelecer a ligação da cidade que passa por pestilência com o panóptico, Foucault (1999)Foucault, M. (1999). Vigiar e Punir: História da violência nas prisões. (27 ed.) Vozes. destaca o espaço recortado como “[...] imóvel, fixado. Cada qual se prende a seu lugar. E, caso se mexa, corre perigo de vida, por contágio ou punição [pena de morte]” (p. 219).

Figura 1
Panóptico de Bentham

A cidade, submetida ao regime de quarenta [isolamento e/ou distanciamento] no decorrer de alguma epidemia, induz a exclusão e banimento da doença e de quem a porte. Como hoje, há sujeitos aprisionados em suas residências, em um espaço recortado, imóvel e fixo, privados da sua mobilidade física. O lugar torna-se a prisão, i-móvel, para que a disciplina e a ordem [relações de poder] se estabeleçam para o bem do sujeito, em nome do evitar-se possível imobilidade perpétua do corpo. As saídas de casa, pouco permitidas, eram supervisionadas e relatadas ao síndico da rua, que passava de casa em casa, comunicando-se através das janelas com os moradores, para saber da situação interior. As possíveis mortes, reclamações e irregularidades eram repassadas, até chegar ao prefeito, em registro permanente das atividades.

Essa relação entre cidade, epidemia e movimento, pode ser vista na Pandemia Covid-19, como a força de dominação do vírus que se propaga e se alastra sem distinção entre as vítimas, aprisionando os sujeitos em suas residências. Nesse contexto, a casa como estrutura imóvel se torna em:

[...] espaço fechado, recortado, vigiado em todos os seus pontos, onde os indivíduos estão inseridos num lugar fixo, onde os menores movimentos são controlados, onde todos os acontecimentos são registrados, onde um trabalho ininterrupto de escrita liga o centro e a periferia, onde o poder é exercido sem divisão, segundo uma figura hierárquica contínua, onde cada indivíduo é constantemente localizado, examinado e distribuído entre os vivos, os doentes e os mortos - isso tudo constitui um modelo compacto do dispositivo disciplinar

(Foucault, 1999Foucault, M. (1999). Vigiar e Punir: História da violência nas prisões. (27 ed.) Vozes., p. 221).

O habitar é modificado pela imposição da peste que determina ao sujeito as suas condições, o seu lugar e as possíveis relações. A mobilidade é impedida, não imobilizando totalmente os sujeitos, mas a extensão do tempo pandêmico transformando a imobilidade em a-mobilidade. O interior do habitar se isola em si, indiferente a mobilidade que passa se dar como sinônimo de doença. Impedem-se deslocamentos curtos e, mais ainda, os de longo curso, dominando e subjugando os sujeitos, os viajantes, os turistas (Foucault, 1999Foucault, M. (1999). Vigiar e Punir: História da violência nas prisões. (27 ed.) Vozes.).

O autor ainda diz que o panóptico tende a funcionar como uma “[...] máquina de dissociar o para ver-ser visto: no anel periférico é totalmente visto, sem nunca ver; da torre central, vê-se tudo, sem nunca ser visto.” (Foucault, 1999Foucault, M. (1999). Vigiar e Punir: História da violência nas prisões. (27 ed.) Vozes., p. 225). Trazendo essa relação de Foucault para a atual pandemia, pode-se inferir que na periferia [as celas] estão os sujeitos, no lugar fixo, na residência, privados do ver e mesmo do ser visto, não podendo estabelecer relações sociais presenciais com outros sujeitos e estruturas. Na versão contemporânea, a única maneira de ver-ser visto são as janelas-alegóricas estabelecidas pelo e no território cibernético. A socialização sem a presença física, é mediada por lives, redes sociais, roleplayers, vídeo-chamadas, etc. Ou seja, o contato entre as pessoas não se dá pela comunicação direta, mas mediado por ela; na mediação e pela mediação, cria-se a distância entre os interlocutores, o seu isolamento (Gastal, 2006Gastal, S. A. (2006). Alegorias Urbanas: O passado como subterfúgio. Papirus.). É dessa maneira, que a torre central [Internet], tudo vê, nunca é vista, apenas pressentida, impondo e disciplinando os sujeitos que nela querem ver-ser vistos.

Foucault (1999)Foucault, M. (1999). Vigiar e Punir: História da violência nas prisões. (27 ed.) Vozes. ainda coloca o princípio da masmorra invertida, ou seja, trancar, privar de luz e esconder. No panóptico como metáfora do contemporâneo, os sujeitos trancam-se – privam-se da mobilidade – em suas prisões particulares, estabelecendo as possíveis relações na vida em vidro4 4 Ver Um Dia de Vidro (2011), disponível em https://www.youtube.com/watch?v=eA8dZ-i3xIo. não fisicamente presenciais, mas pelo e no território cibernético. Se privados da mobilidade física, os sujeitos criam suas mobilidades virtuais, o que em outros termos, leva como decorrência, ao apagamento das relações sociais na sua forma tradicional e presencial.

O privar de luz pode ser entendido como a a-mobilidade, em que os sujeitos estão impedidos de sair para o exterior, porém carregam consigo o holofote da torre central [Internet] como o único meio de, ao ver, serem vistos [e vigiados] na sua vida em vidro. Ao estarem afastados de suas relações sociais presenciais, os sujeitos a-mobilizados, estabelecem no território cibernético, liames entre outros sujeitos.

Nesse viés, a mudança paradigmática da mobilidade é ampliada, pois se anteriormente à pandemia ela já fora revista por meio de novas práticas, no momento atual apresenta outras dinâmicas. Ou seja, a mobilidade teorizada como produção social está aparentemente a-mobilizada, privada do movimento e do deslocamento na lógica global. Pois, o realce do território cibernético transforma a mobilidade numa produção social online, em que as celas periféricas se realocam e transportam os sujeitos para o holofote da torre central, que os hipnotiza, [des][re]territorializa e cria multiterritorialidade. A torre central, por outro lado, funciona como o esquema disciplinar, no qual cria meio para suportar, disciplinar e entre-laçar os sujeitos a-mobilizados, dando a entender que tal não seria a privação de liberdade, mas seu contrário. Herrera (2006)Herrera, C. G. (2006). El panóptico moderno.Revista de filosofía - A Parte Rei,46, p. 1-11. Recuperado de: http://serbal.pntic.mec.es/~cmunoz11/godina46.pdf
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ainda acrescenta que, no que denomina tecnologia de vigilância videográfica, o alcance dos olhos eletrônicos é muito mais penetrante e onipresente, ao permitir a identificação e localização ativa das pessoas. Ao contrário do de Bentham, o “[...] nosso panóptico é uno e se apresenta como um bem em todo sentido.” (p. 7).

Em presença de pandemias, outros tipos de mobilidade [no presente momento, a videográfica] são acionados, para burlar a i-mobilidade. Haveria aqueles, por outro lado, que a aceitam e até a veem como um bem, tornando-se voluntariamente a-móveis. Para o sujeito a-mobilizado, os realces e as novas apropriações do virtual como forma de mobilidade podem ser percebidos como zona de conforto. Para o Turismo, a mobilidade virtual ainda carece de apropriação e de novos olhares, permitindo questionar como os Turismos reagirão a este novo paradigma.

6 CONSIDERAÇÕES NÃO-FINAIS

Do ponto de vista do sujeito a-mobilizado no seu habitar, a mobilidade se dá no território cibernético, onde ele viaja e movimenta-se. Esse território funciona como certa fuga do cotidiano empírico, que mesmo impondo outras formas panópticas de dominação, contraditoriamente coloca o confinamento como escape.

Na a-mobilidade causada pela pandemia, o lugar do habitar se vê desafiado [1] pela pulsão-errante do nomadismo que ativa no sujeito a-mobilizado o desejo de sair, de fugir, de relacionar; [2] pelo sedentarismo do sujeito, aprisionado e a-mobilizado, no seu total conforto e territorializado. Nessas visões, o sujeito nômade está a-mobilizado no lugar existencial do seu habitar, lugar de onde é possível a ele desterritorializar-se apenas virtualmente. Por outro lado, o sujeito sedentário está no lugar que, para si, é de extremo conforto e territorialização, subjetivamente enraizado em sua imobilidade.

O nomadismo tem migrado para o território cibernético, assim como o momento de encontro. Essa dinâmica, já presente no pré pandemia, parece ter sido ampliada, ou até mesmo potencializada pelas novas relações impostas. As formas de habitar o território cibernético e de ocupar o tempo pertencem a ações da mobilidade, mas também as maneiras de fuga desse território para o entre-laçar com outros territórios possíveis. É importante considerar que o território cibernético, como característica, carrega desigualdades e está, também, submetido a relações de poder. Tal questão, entretanto, necessita de maior aprofundamento teórico.

Nessa visão, retoma-se o a-Turismo, a negação e a privação momentânea do Turismo presencial, que exige ver a atividade no inverso da forma como era tratada, antes desse momento. Se no pós-pandemia o Turismo continuar sendo pensado, executado e desenvolvido pelo viés do sedentarismo e da i-mobilidade dos seus atrativos, equipamentos e modais, ele continuará refém das práticas anteriores, associadas ao capitalismo, patriarcalismo e colonialismo (Gastal, 2020Gastal, S. A. (2020). Turismo em tempos de COVID-19: Perguntas fortes, respostas fracas. Cenário – Revista Interdisciplinar em Turismo e Território, 8(14), p. 101-109. https://doi.org/10.26512/revistacenario.v8i14.32167
https://doi.org/10.26512/revistacenario....
). E, numa visão pessimista, indicar que em tempo talvez não muito distante, estejamos novamente a nos referir à turismofobia e ao overtourism.

O fim da pandemia COVID-19 parece longe de chegar a bom termo, encerrando seu circuito devastador (Zenker & Kock, 2020Zenker, S. & Kock, F. (2020). The Coronavirus pandemic – A critical discussion of a tourism research agenda. Tourism Management, 81, p. 1-3. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2020.104164
https://doi.org/10.1016/j.tourman.2020.1...
). Afinal, o contato e a proximidade humana fazem parte da humanização, mesmo em presença do vírus, supondo-se que tão logo seja possível, os deslocamentos e a movimentação de sujeitos retornarão. No atual momento, o Turismo não deveria estar sendo pensado pelo viés da imobilidade ou da estagnação, porque, dessa maneira, não se reerguerá tão facilmente no possível pós-pandemia. Afinal, o território cibernético ainda possibilita formas de Turismo, mesmo que não as tradicionais, mas impondo novas visões, novas técnicas e práticas. Talvez assim, o Turismo retome a mobilidade como sua gênese, com maiores fluxos do que no momento anterior a COVID-19, mas mobilizando menor volume de capital. O fixo turístico poderá estar no território cibernético, na estrutura que o sustenta e permite os movimentos de sujeitos e informações. Mesmo sem deslocamentos empirizados, haverá mobilidade do sujeito por novos territórios cibernéticos, criando-se ali novos percursos por novos lugares de encontro.

  • 1
    As datas destas referências, centradas na década de 1990, reforçam o período em que as discussões sobre movimento, via estudos associados à Pós-Modernidade, chegam ao Brasil.
  • 2
    Ressalta-se aqui que as bases teóricas de muitos autores, como Tim Coles, Colin Hall, Scott Cohen e até mesmo Kevin Hannam derivam a partir de Sheller e Urry, analisando a Mobilidade como mudança paradigmática, entre outras discussões. E, portanto, alguns não se fazem presente nessa revisão.
  • 3
    A a-mobilidade criada pela Tuberculose, nos sanatórios, é brilhantemente tratada por Thomas Mann, no livro A Montanha Mágica (São Paulo: Companhia da Letras, 2016).
  • 4
    Ver Um Dia de Vidro (2011), disponível em https://www.youtube.com/watch?v=eA8dZ-i3xIo.
  • Como citar: De Sá, F. Z.; Gastal, S. A. (2021). Mobilidade, imobilidade e a-mobilidade: para discutir o turismo em tempos de COVID-19. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, 15 (1), 2144. http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v15i1.2144
  • Nota

    Traduzido pela Bruna Tronca.

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Editado por

Editor:

Glauber Eduardo de Oliveira Santos.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Mar 2021
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2021

Histórico

  • Recebido
    29 Jul 2020
  • Aceito
    04 Dez 2020
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